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Como crer em Deus com simplicidade 
Cecílio Elias Netto (Piracicaba, 14-Nov-2014) 
Sempre se disse que Deus fala através das crianças e dos pequeninos. Passei a acreditar nisso. Pois, um dia, 
vi a primogênita na varanda da casa, graciosa e iluminada nos seus límpidos 12 anos. O pai — vivendo seu 
tempo de descrenças e vacilações — aproximou-se em silêncio. E deteve-se, vendo a filha com os olhos 
pregados nos céus de uma noite azulada, um oceano de estrelas. Ao ver o pai, a menina sorriu, suspirou e 
disse: “Como é possível alguém não acreditar em Deus?”. 
A simplicidade daquilo inquietou-me, como uma profunda e inesperada reflexão teológica. A menina entendia o 
mistério com simplicidade comovedora. E sua compreensão ficou palpitando-me no cérebro e no coração, o pai 
da menina. Perturbavam-me, ainda, aquelas tolas e inúteis clássicas perguntas, mães da filosofia: “De onde 
vim? Para onde vou?” O homem é o único ser vivo do mundo que sabe de seu próprio fim, que irá morrer. 
Desconhece o quando e o como. Inquieta-se com os porquês. Mas sabe que, da morte, não escapará. Mesmo 
assim, sabendo-se finito, vive como imortal. 
Desde o colégio, Lavoisier trouxe-me problemas existenciais. Pois, na vida, tudo se me complicou ao saber que, 
“na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Ora, filosofei capenga, mas agoniadamente: se 
nada se cria é, então, por já estar tudo criado. Portanto, o papel ou a missão do homem é descobrir o que já 
existe. Não seria, então, a ciência, apenas e nada mais do que isso: a descoberta do que está encoberto? O 
cientista, pois, não inventa e nada cria: apenas descobre. 
E essa reflexão enviou-me, também, ao universo da arte. Como falar-se, então, em criação artística? Não 
seriam, apenas, descobertas as maravilhosas composições na pintura, na música, na literatura? O pintor 
reproduziu ou descobriu imagens. O músico impregnou-se da harmonia de sons já existentes. O escritor nada 
mais fez do que captar o que existia. Confesso ter sido quase enlouquecedor esse processo de raciocínio e de 
reflexão. 
Há alguns bons anos, a Carta aos Artistas, de João Paulo II, apanhou-me com uma luz reveladora. Com 
simplicidade, ele dizia que Deus expira e o homem inspira. Portanto, a inspiração humana — quando o homem 
busca o belo, o bom, a verdade — capta a expiração de Deus. Coincidia de certa forma, com Lavoisier: nada se 
cria nada se perde tudo se transforma. A expiração de Deus, absorvida pela inspiração do homem, transforma o 
mundo. 
Desisti, então, de filosofar sobre temas cujas respostas podem estar na simplicidade das coisas. Fica mais fácil. 
E consegue-se fazer, da vida, uma história mais sensível, mais bonita, mais verdadeiramente humana. A 
contemplação do ritmo do mundo leva quase que às mesmas conclusões espirituais dos primitivos. Se há uma 
expiração permanente de Deus, há, também, as suas impressões digitais. Retorna-se, assim, aos “olhos de ver, 
ouvidos de ouvir”. 
Comecei, nos últimos anos, a falar coisas que espantam amigos, parentes, conhecidos, parecendo ridículas 
para eles. Por exemplo, a feijoada. Ao encher meu prato com aquele feijão com tranqueiras, costumo f alar: “Eis 
a prova de que Deus existe”. Pensam que brinco ou que enlouqueci. E não é nada disso. Feijoada é expiração 
de Deus, inspirada pelas sofridas e famintas negras escravas. Não tendo quase o comer, Deus ter-lhes-ia 
inspirado: “Mulheres, não se lamentem. Estão vendo isso que vocês jogam fora, pés, rabos, orelhas de porcos? 
Juntem tudo isso com o feijão, coloquem seu tempero e vejam o que acontece”. E aconteceu o milagre da 
feijoada. 
E a pipoca? O homem — antes de Prometeu nos dar o fogo — não sabia o que fazer com o milho. Deus 
expirou, o nosso ancestral inspirou: “Deixe ao sol, sobre uma pedra”. E o milho estourou. E ficou fácil e delicioso 
de comer. E ainda é. Mas e o sal, na pipoca? Elementar, caro Watson. No mar, o homem reclamava da água 
salgada, não sabendo o que fazer com ela. Deus expirou: “Não reclame. Deixe a água secar e aparecerão uns 
cristaizinhos”. E surgiu o sal. Que trouxe sabores novos à comida, à feijoada e à pipoca. Tudo, pois, se 
transforma. Porque já existia. 
Deus expirou o arco-íris e o homem o inspirou, aprendendo a fazer cores. Deus expirou a música — no canto 
dos pássaros, no farfalhar das árvores, no rumorejar dos rios — e Mozart, e Beethoven, e Bach inspiraram 
aquela expiração. Tudo, pois, está criado, sementes que se vão transformando a partir da boa vontade dos 
homens. Descobrir o que está coberto, eis a grande aventura humana, quando nos tornamos parceiros de 
Deus. 
Com nossas cegueiras e surdezes, julgamo-nos criadores. E o somos. Criadores do barulho, do ódio, do caos, 
da desordem. Isso não estava encoberto. É nosso. 
Fonte: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2014/11/ig_paulista/223015-como-crer-em-deus-com-simplicidade.html

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Como crer em Deus com simplicidade

  • 1. Como crer em Deus com simplicidade Cecílio Elias Netto (Piracicaba, 14-Nov-2014) Sempre se disse que Deus fala através das crianças e dos pequeninos. Passei a acreditar nisso. Pois, um dia, vi a primogênita na varanda da casa, graciosa e iluminada nos seus límpidos 12 anos. O pai — vivendo seu tempo de descrenças e vacilações — aproximou-se em silêncio. E deteve-se, vendo a filha com os olhos pregados nos céus de uma noite azulada, um oceano de estrelas. Ao ver o pai, a menina sorriu, suspirou e disse: “Como é possível alguém não acreditar em Deus?”. A simplicidade daquilo inquietou-me, como uma profunda e inesperada reflexão teológica. A menina entendia o mistério com simplicidade comovedora. E sua compreensão ficou palpitando-me no cérebro e no coração, o pai da menina. Perturbavam-me, ainda, aquelas tolas e inúteis clássicas perguntas, mães da filosofia: “De onde vim? Para onde vou?” O homem é o único ser vivo do mundo que sabe de seu próprio fim, que irá morrer. Desconhece o quando e o como. Inquieta-se com os porquês. Mas sabe que, da morte, não escapará. Mesmo assim, sabendo-se finito, vive como imortal. Desde o colégio, Lavoisier trouxe-me problemas existenciais. Pois, na vida, tudo se me complicou ao saber que, “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Ora, filosofei capenga, mas agoniadamente: se nada se cria é, então, por já estar tudo criado. Portanto, o papel ou a missão do homem é descobrir o que já existe. Não seria, então, a ciência, apenas e nada mais do que isso: a descoberta do que está encoberto? O cientista, pois, não inventa e nada cria: apenas descobre. E essa reflexão enviou-me, também, ao universo da arte. Como falar-se, então, em criação artística? Não seriam, apenas, descobertas as maravilhosas composições na pintura, na música, na literatura? O pintor reproduziu ou descobriu imagens. O músico impregnou-se da harmonia de sons já existentes. O escritor nada mais fez do que captar o que existia. Confesso ter sido quase enlouquecedor esse processo de raciocínio e de reflexão. Há alguns bons anos, a Carta aos Artistas, de João Paulo II, apanhou-me com uma luz reveladora. Com simplicidade, ele dizia que Deus expira e o homem inspira. Portanto, a inspiração humana — quando o homem busca o belo, o bom, a verdade — capta a expiração de Deus. Coincidia de certa forma, com Lavoisier: nada se cria nada se perde tudo se transforma. A expiração de Deus, absorvida pela inspiração do homem, transforma o mundo. Desisti, então, de filosofar sobre temas cujas respostas podem estar na simplicidade das coisas. Fica mais fácil. E consegue-se fazer, da vida, uma história mais sensível, mais bonita, mais verdadeiramente humana. A contemplação do ritmo do mundo leva quase que às mesmas conclusões espirituais dos primitivos. Se há uma expiração permanente de Deus, há, também, as suas impressões digitais. Retorna-se, assim, aos “olhos de ver, ouvidos de ouvir”. Comecei, nos últimos anos, a falar coisas que espantam amigos, parentes, conhecidos, parecendo ridículas para eles. Por exemplo, a feijoada. Ao encher meu prato com aquele feijão com tranqueiras, costumo f alar: “Eis a prova de que Deus existe”. Pensam que brinco ou que enlouqueci. E não é nada disso. Feijoada é expiração de Deus, inspirada pelas sofridas e famintas negras escravas. Não tendo quase o comer, Deus ter-lhes-ia inspirado: “Mulheres, não se lamentem. Estão vendo isso que vocês jogam fora, pés, rabos, orelhas de porcos? Juntem tudo isso com o feijão, coloquem seu tempero e vejam o que acontece”. E aconteceu o milagre da feijoada. E a pipoca? O homem — antes de Prometeu nos dar o fogo — não sabia o que fazer com o milho. Deus expirou, o nosso ancestral inspirou: “Deixe ao sol, sobre uma pedra”. E o milho estourou. E ficou fácil e delicioso de comer. E ainda é. Mas e o sal, na pipoca? Elementar, caro Watson. No mar, o homem reclamava da água salgada, não sabendo o que fazer com ela. Deus expirou: “Não reclame. Deixe a água secar e aparecerão uns cristaizinhos”. E surgiu o sal. Que trouxe sabores novos à comida, à feijoada e à pipoca. Tudo, pois, se transforma. Porque já existia. Deus expirou o arco-íris e o homem o inspirou, aprendendo a fazer cores. Deus expirou a música — no canto dos pássaros, no farfalhar das árvores, no rumorejar dos rios — e Mozart, e Beethoven, e Bach inspiraram aquela expiração. Tudo, pois, está criado, sementes que se vão transformando a partir da boa vontade dos homens. Descobrir o que está coberto, eis a grande aventura humana, quando nos tornamos parceiros de Deus. Com nossas cegueiras e surdezes, julgamo-nos criadores. E o somos. Criadores do barulho, do ódio, do caos, da desordem. Isso não estava encoberto. É nosso. Fonte: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2014/11/ig_paulista/223015-como-crer-em-deus-com-simplicidade.html