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Ano I - Número 1                                                       Jornal do CACC - Medicina UFRJ




                       A Bula                                                ©


Calourada

O CACC teve a
                            CACC no 1º Congresso da ANEL
oportunidade de
realizar mais uma
calourada, saiba mais.

Pág. 4

Opressões

A Bula convida os
alunos a fazer uma
reflexão sobre as
opressões na sociedade.

Pág. 5                      Estudantes de todo país no congresso da ANEL (pág. 11)


Greve na UFRJ

Informe-se sobre a
                            E o Entulho do HU?
greve dos funcionários
da UFRJ que ocorreu
nos últimos meses.

Pág. 8

Coluna Cultural

CACC inaugura sua
coluna cultural com
textos sobre literatura
e filmes clássicos.

Pág. 7                      Entulho ao lado do Hospital Universitário, presente há mais de 9 meses (pág. 6)

                              Nessa edição temos também
Nota: As matérias publi-
cadas neste jornal são de
                              • Confira o relato da Bula sobre o Programa de Educação Médica. (pág. 9)
inteira responsabilidade      • Todo médico está destinado a trabalhar em um consultório? (pág. 12)
de seus autores e não ex-     • Na coluna do aluno o assunto é a Supervia. (pág. 13)
pressam, necessariamen-       • Charges e palavras cruzadas! (pág. 14)
te, a posição do CACC.


http://www.medicinaufrj.com                     cacc@medicinaufrj.com                 Segundo semestre de 2011   1
Ano I - Número 1                                                      Jornal do CACC - Medicina UFRJ

    Editorial                                                                     Expediente
                                                                                  Integrantes do CACC
         Você está diante da segunda      quase que de papel e onde muitas        André (M2)
    edição d’A Bula sob a gestão 2010-    vezes faltam médicos e insumos          Angela (M3)
    2011 do CACC, sendo que esta é        básicos. Nossos dois últimos mi-        Arthur Oliveira (M2)
    a primeira edição impressa (a ou-     nistros da saúde afirmam que o          Daniela (M3)
                                                                                  Gabriel D. Marinho (M4)
    tra se encontra no blog do CA).       problema da saúde é de gestão.
                                                                                  Gabriel Keller (M3)
    Nossa proposta d’A Bula passa por     Com tantas regionalidades/espe-         Gabriel Fernandes (M2)
    trazer à tona alguns temas que não    cificidades da experiência brasi-       Gustavo Treistman (M10)
    se desatualizam com tanta rapidez     leira em saúde, será mesmo que o        Guilherme Tritany (M4)
    ao longo do ano e que influenciam     problema é que todos os gestores        Heloísa Calazans (M9)
    nosso cotidiano enquanto estu-        de todas as unidades de saúde do        Ingrid Antunes (M9)
    dantes, futuros médicos, jovens e     Brasil durante todos esses anos         Isis Altgott (M10)
    cidadãos. Dada a pluralidade de       foram incompetentes?! Estamos           Joana (M2)
    ideias no movimento estudantil,       sendo seduzidos pela falácia de         Jorge (M12)
                                                                                  Marcella (M3)
    não temos a pretensão de apre-        gerir a miséria enquanto a popu-
                                                                                  Rafael Castro (M7)
    sentar verdades inquestionáveis       lação não vem avançando con-            Raquel Chaves (M3)
    e nem de sermos a voz fidedigna       cretamente na melhoria da sua           Thiago (Thico) (M4)
    de todos os estudantes individual-    qualidade de vida, para além até        Stefan Gundelach (M4)
    mente. A Bula é aberta a contri-      da atenção à saúde. A velha “nova
    buições de quaisquer estudantes       solução” assumiu o nome este ano        Diagramação
    e sobre os temas que forem con-       de Empresa Brasileira de Serviços       Gabriel D. Marinho
    siderados relevantes para os mes-     Hospitalares S.A., mas o nome é
    mos. Nossa pretensão é romper         o que menos importa. Ela já foi         Layout
                                                                                  Eloísa Fróes
    com a inércia política da medici-     Fundação Estatal de Direto Priva-
    na da UFRJ para que construamos       do, por exemplo, mas sem grandes
    juntos os horizontes que almeja-      alterações em sua essência.            a lógica neoliberal na educação
    mos para a saúde, para o ensino             Na educação, um corte de 30      da mesma forma que na saúde,
    e para a prática médica. Os temas     milhões no orçamento no início         fortalecendo a gestão privada e
    e o teor dos textos escritos pela     do ano. O Programa de Reestru-         desviando recursos públicos para
    gestão são fruto do acúmulo das       turação e Expansão das Univer-         essa esfera.
    reuniões que são abertas a voz e      sidades Federais (Reuni), que                Será que esse é o único ca-
    voto de todo e qualquer estudante.    expandiu significativamente as         minho possível? Será que esse é o
    Portanto, a construção do CACC é      vagas para a universidade e criou      melhor caminho possível? Melhor
    aberta à semelhança do seu jornal.    cursos que perecem pela falta de       pra quem? Hoje vivemos uma
    Sinta-se em casa e venha construir    infra-estrutura, como a medicina       mobilização dos servidores de 47
    conosco!                              dos nossos colegas da Macaé, e         universidades federais, inclusive
         É importante pontuarmos          nos faz competir no CCS por salas      da UFRJ, reivindicando reajustes
    algumas questões que são desdo-       de aula, possui recursos limitadís-    salariais atrasados, combatendo
    bramentos dos anos anteriores e       simos. O ano de 2012 não é o fim       a proposta da presidenta Dilma
    que possuem reflexos na UFRJ e        do mundo, mas o fim do repasse         Rousseff de congelamento dos sa-
    na medicina. A “saúde” vai bem        orçamentário referente a esse pro-     lários pelos próximos dez anos e
    e o paciente vai mal. O subfinan-     grama. Ainda este ano, o governo       se posicionando contrariamente
    ciamento da saúde é bem concre-       deve aprovar o novo Plano Nacio-       às privatizações. Temos os fóruns
    to. Muitos de nós assistiram de       nal de Educação, que definirá as       de saúde e de educação que têm se
    perto a novela do HUCFF, cujo         diretrizes para as políticas públi-    articulado para lutar por uma ou-
    primeiro capítulo é a metade de       cas de educação dos próximos dez       tra lógica para os direitos sociais,
    um edifício que sequer foi acaba-     anos (2011-2020). Com relação          de forma a contemplar os anseios
    da, passou por cenas dramáticas       ao PNE anterior, sofremos uma          populares. E nós ainda achamos
    que envolveram o fechamento do        profunda derrota com o veto de         que não tem jeito?! Que estamos
    hospital em 2008 e o abalo da es-     FHC sobre os 7% do PIB propos-         sozinhos? Que não há nada a fa-
    trutura em 2010 e teve um recen-      tos para a educação. Ela se refletiu   zer? Essas são apenas algumas
    te capítulo que foi a implosão da     na distância em relação à meta         questões que nos dizem respeito
    “perna-seca”. A realidade precária    de erradicação do analfabetismo        e que perpassam esta edição d’A
    do nosso HU corresponde à dos         e inclusive em relação à meta de       Bula. A gestão do CACC e o Con-
    demais 45 hospitais universitários    ampliação do acesso ao ensino          selho Editorial desejam a todos
    brasileiros e de outras unidades de   superior (menos de metade da           uma boa leitura!
    saúde, a exemplo das UPAs, feitas     prevista). O novo PNE aprofunda


2     Segundo semestre de 2011                cacc@medicinaufrj.com                      http://www.medicinaufrj.com
Ano I - Número 1                                                                    Jornal do CACC - Medicina UFRJ

 balancete Anual | Março de 2010 a Abril de 2011
                              Entradas                                                             Saídas
                 Loja do CA-CCS                        R$32.767,70                   Loja do CA-CCS                       R$24.661,36
                 Aluguel da Xerox                      R$11.850,00                   Salário da Jussara                   R$10.353,00
               Aluguel de Armários                     R$2.500,00                           Sky                            R$720,00
 Reembolsos de Passagens/Atividades Acadêmicas         R$2.983,00           Reforma no CA do Subsolo (Eliseu)             R$3.928,50
                                                                         Participação nas Atividades da DENEM:
    Repasse do Marcílio por Festa na Prefeitura         R$300,00               ROEX, CENEPES, COBEM,                      R$5.190,99
                                                                        Seminário de Educação Médica e COBREM
                                                                      Calouradas Abril 2010-1, Agosto 2010-2 e 2011-1:
         Patrocínio Nilsão Camisas 2010-1              R$1.000,00                                                         R$3.339,59
                                                                        Festa de Recepção, Camisas, Canetas e Pastas
      Vendas das Camisas da Copa do Mundo              R$4.420,00              Recarga do Celular do CACC                  R$300,00
         Lucro da Festa da Copa do Mundo                R$218,50                 Material para Sala do CCS                 R$111,35
               Entrada Festa Junina                    R$1.001,40                Investimento Festa Junina                R$1.010,91
          Entrada Dia Nacional do Samba                R$1.700,00         Investimento no Dia Nacional do Samba           R$1.602,40
                                                                       Contribuições: Festa Bota-Fora M12 e Sexta de
                      Total                          R$58.740,60                           Samba
                                                                                                                           R$950,00

                                                                               Semana Acadêmica do CACC                   R$1.645,04
                                                                      Pequenos Consertos: Sofá, Fechadura do 8º Andar
                                                                                                                           R$483,30
                                                                                    e Dreno do Split
                                                                                           Total                         R$54.296,44

 Comitê de Intercâmbio
      A Faculdade de Medicina da UFRJ é a única do estado do           para as crianças do IPPMG. E seguem aqui relatos de alunos
Rio de Janeiro a dispor de um comitê local da IFMSA, presente          que já realizaram um intercâmbio internacional IFMSA con-
em mais de 35 escolas médicas por todo o Brasil e 97 países            tando sobre suas experiências!
no mundo. O comitê local-UFRJ busca desenvolver projetos                    Interessado em participar de uma campanha ou projeto
sociais em nosso meio social e universitário, e mantém ativo           do comitê? Vale pontos para conseguir a vaga de intercâmbio!
o programa de intercâmbios internacionais da IFMSA dentro              Acesse o site da IFMSA-Brazil (www.ifmsabrazil.org), conheça
da UFRJ.                                                               o nosso trabalho, e venha falar sobre suas ideias com a gente.
      No ano passado, foi celebrado o Dia Mundial da AIDS em                Nosso e-mail de contato é:
um evento com exibição de filme temático e palestras sobre a                 ifmsaufrj@gmail.com
AIDS no mundo e os tratamentos atuais. Em março deste ano,
com o apoio dos alunos do CCS, foram distribuídos 160 brindes                                                              Fabrício Kury
de páscoa (incluindo chocolate e brinquedos) numa campanha                                                        Presidente do LC UFRJ

      Relato do Intercambista                                                 Mas é claro que deveria aproveitar mais do Egito, o que
                                                                       já é mais que pensado pela organização do comitê local. Rece-
      Egito foi pra lá que fui!! E qual foi a razão de ter escolhi-    bemos uma planilha com o itinerário completo do mês inteiro.
do esse país? Pois não pude escolher outros por já estar na fase       Eles não deixavam tempo vago quando estávamos fora do está-
de vagas remanescentes. Mas digo com muita alegria que não             gio. Nosso único trabalho era preparar a bolsa com documento
me arrependi. E, ainda, se alguém vier me perguntar sobre qual         e dinheiro, e esperar que um integrante fosse nos pegar, levar
país deveria fazer intercâmbio, sem dúvida nenhuma respon-             ao local pretendido (na maioria da vezes eles também partici-
deria Egito.                                                           pavam ). Nesse esquema pude conhecer todos, ou pelo menos
      Assim que cheguei ao hospital, o médico coordenador en-          quase todos, os pontos turístico do Egito, não só Cairo ( cida-
carregado dos intercambistas me deu atenção e se preocupou             de onde fiquei). Visitei as pirâmides junto com a esfinge, andei
com minhas acomodações no alojamento do hospital. Além                 de camelo, museu do Cairo onde estão as múmias, ao bazar de
dele, os médicos com os quais tive contato foram muito aten-           Khan el Khalili,fui ao mar vermelho onde pude fazer mergulho
ciosos. Desde o médico mais atarefado da emergência que ain-           de cilindro, Alexandria e sua biblioteca, Luxor e Assuã com seus
da nos dava tarefas a cumprir, passando pelo cirurgião que nos         templos.
mostrava partes importantes da cirurgia a qual era o cirurgião                Fiz novas amizades, árabes, paulistas, inglesas, que sei que
principal, indo a oncologista que nos deixou preparar a sessão         não os esquecerei. Nada faltou nesta viagem. Tudo isso pela
de quimioterapia de uma paciente e de nos explicar a conduta           IFMSA!
em relação a analgesia dos pacientes terminais, e acabando com
o endoscopista e os ultrassonografistas que passo a passo nos                            Lúcia Arce, intercambista que viajou para o Egito
mostravam cada estrutura.



http://www.medicinaufrj.com                                cacc@medicinaufrj.com                          Segundo semestre de 2011           3
Ano I - Número 1                                                                   Jornal do CACC - Medicina UFRJ


    Uma recepção de calouros diferenciada
          Passar no vestibular e entrar na
    universidade é uma sensação ímpar
    – principalmente se for a universi-
    dade federal que você queria! Nesse
    momento, criam-se muitas expecta-
    tivas para o novo curso, visualizam-
    se a projeção acadêmica e a nova
    vida social que se seguirá – toda uma
    gama de novidades que instigam a
    disposição do recém-chegado uni-
    versitário.
          Imagine você, com todo esse
    rebuliço interno, que um universi-
    tário vai ter que esperar meio ano,
    literalmente, para poder entrar na
    universidade? É o que acontece com
    nossos estudantes que iniciam o cur-              Ato-Festa pela Retirada do Entulho do HUCFF, durante a Calourada Unificada com o DCE
    so no segundo semestre: no início do
    ano, férias maravilhosas, em maio,           sentação da gestão atual do CACC               anos, e o café-da-manhã seguido de
    ele nunca desejou tão ardentemente           e o primeiro caso clínico de tantos            um debate sobre as formas opres-
    ter aula!                                    com os quais eles (os calouros) vão            sões instaladas na sociedade, como
          As aulas do segundo semestre           se deparar. No entanto, essa primeira          a repressão às mulheres, aos homos-
    deste ano estavam marcadas para              atividade não foi semelhante àquelas           sexuais e aos negros. Na semana se-
    começarem dia 8 de agosto. Por ini-          desenvolvidas no curso, durante a              guinte, fechamos com uma festa no
    ciativa do Centro Acadêmico Carlos           apresentação procurou-se dar aten-             Elizeu, integrando os calouros e seus
    Chagas, foi decidido convocar os             ção especial à situação econômica              veteranos.
    novos alunos da medicina uma se-             e social dos pacientes, entendendo                  Os novos estudantes do primei-
    mana antes para situá-los dentro da          essa como determinante de sua saú-             ro período aproveitaram o evento,
    universidade, seja na localização do         de. Além disso, foram organizados              marcando presença na maior parte
    bloco B do CCS, onde passarão boa            grupos de discussão sobre saúde,               das atividades, participando de sua
    parte do seu ciclo básico, como no           educação e educação médica. Ao                 primeira experiência em âmbito aca-
    âmbito do funcionamento da UFRJ.             longo da semana foram realizadas               dêmico e perguntando avidamen-
          Inicialmente, havia muita in-          outras atividades: a visita-guiada, na         te sobre o que os esperava naquele
    certeza da viabilidade de realizar           qual os alunos conheceram o Hospi-             período(as aulas do Manel já faziam
    as atividades dessa semana, mas os           tal Universitário, o CCS, o bandeijão          sucesso entre eles antes mesmo da
    calouros apoiaram e a calourada              e todos os demais locais que se tor-           aula deles começarem!) e sobre o fa-
    deu certo. No primeiro dia, a apre-          narão tão familiares nos próximos              migerado material de padrinho.
                                                                                                     A calourada foi bem-sucedida
                                                                                                graças aos esforços de membros mui-
                                                                                                to dedicados do CACC e também
                                                                                                graças aos calouros que se fizeram
                                                                                                presentes nas atividades montadas
                                                                                                especialmente para eles.
                                                                                                     A gestão Lutar é Preciso agrade-
                                                                                                ce aos estudantes do primeiro perí-
                                                                                                odo por virem à universidade antes
                                                                                                do previsto e deseja boas-vindas aos
                                                                                                novos estudantes de medicina da
                                                                                                Universidade Federal do Rio de Ja-
                                                                                                neiro, conhecida humildemente por
                                                                                                nós como a melhor universidade do
                                                                                                Brasil!

                                                                                                                  Arthur Oliveira (M2)
                   Debate sobre Opressões durante a Recepção dos Calouros de Medicina 2011/1



4      Segundo semestre de 2011                        cacc@medicinaufrj.com                             http://www.medicinaufrj.com
Ano I - Número 1                                                         Jornal do CACC - Medicina UFRJ
                                                                                      Se pararmos para refletir na
Novas cores à calourada:                                                        real gênese do preconceito, anali-
                                                                                samos que as relações entre pessoas
                                                                                do mesmo sexo foram sempre um
Você perpetua opressões?                                                        perigo para ideologia dominante
                                                                                feudal ou burguesa. Afinal, “como
      Quando o semestre começa,         dos a ouvir de “professores-cientis-    poderia um homem não ‘querer’
logo aguardamos nossos novos co-        tas” que a atração pelo mesmo sexo      exercer toda a sua potencialidade de
legas chegarem, preparando o ve-        se dá porque há indivíduos com um       macho-alfa de ‘dominar as mulheres
lho ritual de celebração e vitória, o   desvio-padrão em uma curva popu-        e ter herdeiros’?” Faço uma ressalva
trote. É sem dúvida um espaço de        lacional de Gauss1. Bem, pensemos,      que o preconceito contra as lésbicas
aceitação, recepção calorosa dentro     se estamos falando de um erro, ele      se dá em outros formatos, e em mui-
da universidade, em que todos são       poderia ser consertado, não? Se não     tos casos está associado ao machis-
iguais e rapidamente inseridos em       for possível, por que não eliminá-      mo. Logo, vale na mesma moeda:
um novo grupo social, amável e re-      lo? Outros ainda apontariam que         “como pode a mulher assumir um
confortante. Adoraria que esse boni-    os gays optam por sua sexualidade.      comportamento tido como mascu-
to quadro representasse a realidade.    Bem, será que os homossexuais não       lino e dominante?”. As lésbicas são
      A verdade é que, hoje, em mui-    têm problemas suficientes para real-    ainda colocadas dentro da fantasia
tas faculdades pelo país, o que há é    mente escolherem agir contra uma        sexual masculina, atribuindo mais
um grupo de colegas – consciente        ampla opressão heterossexual?           uma vez a mulher e seu corpo ao
ou inconscientemente – promoven-              Outra questão é que em uma        usufruto do homem.
do repressão e criando uma falsa        sociedade desigual, a homofobia               A falta de visão de muitos os
hierarquia, assim que o trote come-     e o silêncio em relação ao tema         cega, a questão nunca foi a origem
ça. Para a maior parte dos alunos       contribuem todos os dias para o         da sexualidade, mas sim a sua sim-
aquele evento normalmente passa         aumento da desigualdade social.         ples e inegável existência, aliada ao
em branco, esquecido em alguma          Como? Enquanto a maioria dos ho-        reconhecimento de que somos to-
memória nostálgica profunda, mas,       mossexuais da classe média e alta       dos seres humanos iguais. Vamos
para outros, em especial aqueles que    podem de alguma maneira exercer         resumir; os homossexuais existem,
se destacam na diferença, só resta      sua afetividade e sexualidade dentro    e eles têm o direito de não serem
um pensamento negativo.                 do chamado mercado “pink”: nas          punidos, recriminados, oprimidos
      Algo que, com certeza afeta a     boates, na Farme com seus restau-       de nenhuma forma em nenhuma
entrada dessas pessoas na faculdade     rantes caros, em cruzeiros e viagens    situação, assim como qualquer ser
é a naturalização de diversas formas    gays e em todos os estabelecimentos     humano. Se tanto ouvimos que a
de preconceito, como machismo e a       “gay friendly”, a maior parte da po-    UFRJ é a melhor do Brasil, que o
homofobia, que acompanham a prá-        pulação – pobre, negra – não pode       Fundão é uma mina de excelência
tica dos trotes do início ao fim. Se    sequer “sair do armário”, e quando      acadêmica, que iremos todos vingar
fizermos uma análise rápida sobre       saí vai a guetos, muito diferentes do   como grandes médicos, peço então
esses acontecimentos, veremos que       que a classe média está acostumada.     que agora parem e reflitam: que
muitas vezes há uma confusão entre      Observa-se isso fortemente no local     opressões você perpetua?
liberdade sexual e opressão sexual,     de trabalho, em que o único posto             Gostaríamos que todos enten-
já que as mulheres são colocadas em     reservado às travestis é a prostitui-   dessem, não devemos sentir vergo-
posição submissa e homossexuais         ção, e gays e lésbicas, muitas vezes,   nha pelo comportamento de nossos
são alvos de constantes piadinhas.      ocupam funções inferiores receben-      colegas, o que devemos fazer é não
Episódios lastimáveis dessas práti-     do menores salários. Enquanto isso,     permitir que, mesmo nas pequenas
cas não faltam como o “rodeio das       um pequeno setor da sociedade se        ações, continuem fazendo mal se-
gordas” realizado na USP.               apropria do tema e ganha dinheiro,      mestre a semestre àqueles que aden-
      Como o tema da homofobia          muito dinheiro com isso, através do     tram a faculdade! É por tudo isso
tem sido levantado recentemente,        mercado e das paradas gays, que         que hoje o CACC defende: “Não
convido-os para uma breve reflexão      sofrem uma despolitização e uma         existe educação melhor que não
sobre esse comportamento. Primei-       mercantilização brutal.                 combata a homofobia!”
ro, é importante entender que du-             Além disso, todos os dias pes-
rante a sua história – sim, sempre      soas são agredidas e assassinadas       1
                                                                                    A distribuição normal ou de Gauss é uma
existiram homossexuais – os gays        por terem uma outra orientação          distribuição da estatística. Nela, atribui-se
foram compreendidos como um             sexual. Este ano, as estimativas mos-   média, e a partir dessa há uma maioria cen-
desvio, um erro, sendo chamados         tram que uma pessoa LGBT é assas-       tral, como ‘distribuição normal’, e uma mino-
frequentemente de imorais, pecado-      sinada a cada 36hs no Brasil. Uma       ria periférica com ‘desvio-padrão’.
res e pervertidos. Atualmente, essa     violência que está enraizada no seio
lógica se reproduz até mesmo em         da sociedade e que não podemos                           Gabriel Marinho (M4)
sala de aula, quando somos obriga-      mais permitir.                                               Isis Altgott (M10)


http://www.medicinaufrj.com                      cacc@medicinaufrj.com                   Segundo semestre de 2011               5
Ano I - Número 1                                                         Jornal do CACC - Medicina UFRJ


    Parabéns entulho pelos 9 meses de vida!
          No dia 19 de dezembro de              Em maio, surgiram boatos             certo, esta não será curta. É por isso
    2010 ele nasceu, era uma manhã         que nosso titânico colega seria re-       que, convoco todos agora a levantar
    límpida e muito bonita. Como se        movido do seu lugar de origem             as mãos aos céus e agradecer pelo
    tratava de um filho planejado foi      pela Cruz Vermelha, logo vimos            nosso pequeno grande milagre de
    tudo muito rápido, algum choro no      que havia algo de errado. Afinal,         manter tal estrutura por tanto tem-
    início – era quase uma ambulância      como poderia uma instituição bem          po, parabéns Reitoria! Comemore
    de tanto que gritava –, mas logo       capacitada que atua/atuou em dife-        conosco!
    tudo era fumaça, e ele surgira. Pa-    rentes desastres mundiais, que tem
    recia uma obra de arte, de tão belo,   princípios tão nobres e bem-vindos              No dia 19 de agosto, com o ani-
    monolítico e poderoso, seu futuro      na nossa universidade, atrever-se a       versário do entulho, o CACC, com
    prometia.                              removê-lo. Sem dúvida, ao se depa-        o DCE, realizou uma manifestação
          Largando de mão a nostalgia,     rar com a figura tão carismática que      na forma de Ato-Festa, que contou
    o que nos dá mais prazer, hoje, é      é nosso companheiro não tiveram           com centenas de participantes, pe-
    observarmos o crescimento de nos-      coragem de prosseguir. Bem, aqui          dindo a retirada imediata do entu-
    so filho, se desenvolvendo, abrigan-   fica o pedido para a Cruz Verme-          lho, a seguinte carta foi também foi
    do toda sorte de fauna e bolores, se   lha; não se engane, nós amamos o          entregue no mesmo dia na posse do
    tornando um microcosmo de rica         entulhinho e queremos que ele fi-         diretor da faculdade de medicina.
    diversidade manancial – urubus,        que bem aí.                               O entulho foi leiloado, – pelo valor
    ratos, cobras, etc. É sem dúvida um         Hoje, escrevo essa carta para        irrisório de R$1,00 – e sua retirada
    lugar de bem-estar e saúde, que ain-   comemorar o 9º aniversário mensal         começou fora dos prazos, mas está
    da ousa ser ecologicamente correto.    do nosso querido companheiro e            se dando de forma regular. Atenta-
    É por isso que acreditamos em sua      desejar-lhe uma longa vida e mui-         mos que enquanto não houver mais
    valorização e lutaremos com todas      to sucesso em sua empreitada em           entulho devemos ficar atentos e con-
    as forças para a sua manutenção.       nossa universidade, e, se tudo der        tinuar exigindo sua retirada.

         Nota de Indignação à Negligência da Reitoria e da Prefeitura da UFRJ
                                   em relação ao Entulho do HUCFF
          No final de dezembro de 2010,    remanescente. Não bastasse isso, por      completará 8 meses de existência,
    devido a uma situação emergencial      muitos meses o entulho se manteve no      dado esse contexto, temos uma per-
    – abalo na estrutura do prédio, fru-   mesmo local, sem que nenhuma solu-        gunta: Como podemos acreditar que,
    to da falta de manutenção do espaço    ção fosse apresentada à comunidade        aqueles que devem prezar por educa-
    –, a parte inutilizada do HUCFF foi    acadêmica. Em abril de 2011, recebe-      ção e saúde, vão nos oferecer um novo
    demolida a fim de preservar a porção   mos a informação, através do site da      hospital de ensino, se o local destina-
    útil de nosso hospital. Embora reco-   universidade, que esta teria feito um     do à sua construção continua destru-
    nheçamos o planejamento absurdo        acordo com a Cruz Vermelha para           ído, obstruído e somente causando
    que isso representa, pulverizando      a retirada do material, e que isso se     problemas?
    toneladas de investimento público      daria em menos de 6 meses. Estamos              Então, como representantes dos
    em poucos segundos, todos tínhamos     em agosto, passados mais de 5 meses,      alunos da UFRJ, o CACC, em con-
    o sentimento de que era uma ação       ninguém se prontificou a começar a        junto com o DCE, decidiu dizer um
    inevitável e que traria muito mais     retirada, o que nos leva a crer que ela   basta. Um basta à negligência da
    benefícios que malefícios à comuni-    não ocorrerá em breve.                    reitoria e da prefeitura, que nos tra-
    dade universitária. A promessa da            Os problemas que o entulho          ta – alunos, funcionários e usuários
    construção de um novo hospital, mais   gera ficam cada vez mais claros, há       – como lixo, nos mantendo em meio
    moderno, em menor escala, melhor       relatos de animais percorrendo o local    ao entulho com um hospital em pés-
    preparado para o atendimento de        e de focos de doenças infecciosas, que    simas condições para a assistência à
    alta complexidade, significaria não    evidenciam a insalubridade presen-        saúde.
    menos que uma oportunidade de re-      te – lembrando que estamos lidando              Portanto, exigimos da recém-
    ver e refazer o como pensamos saúde    com um hospital. Além disso, a pró-       eleita reitoria uma resposta, através
    e que tipo de universidade estamos     pria estrutura atrai pessoas que che-     de licitação ou doação pública, para
    querendo construir.                    gam aos destroços com o objetivo de       esse problema: A necessidade da reti-
          Porém, pouco sabíamos. Duran-    coletar material para revender, o que     rada imediata do entulho!
    te o planejamento para a demolição     se soma às questões de segurança que
    do prédio, não foi incluído o inves-   persistem no campus do fundão.                        Centro Acadêmico Carlos
    timento para a retirada do entulho           No dia 19 de agosto o entulho                           Chagas (CACC)


6     Segundo semestre de 2011                 cacc@medicinaufrj.com                         http://www.medicinaufrj.com
Ano I - Número 1                                                         Jornal do CACC - Medicina UFRJ

coluna cultural                                   Filmes
      Caros futuros colegas de profissão: gos-
taria de vos apresentar nessa coluna um es-
critor que considero essencial para o desen-
volvimento da capacidade de observação da
alma humana, atributo que tem especial im-
portância no exercício da Arte da Medicina.
      O escritor russo Fiódor Mikháilovitch
Dostoievski (1821-1881) assusta e fascina lei-
tores há mais de um século. Assusta os menos
chegados a livros espessos pois os grandes ro-
mances do escritor o são em duas acepções:
grandiosos e com elevado número de pági-
nas. Já em relação à fascinação, podemos pas-
sar infinitas páginas dissertando a respeito.
      Seu estilo chiaroscuro, definido como
Realismo Psicológico (tal qual nosso titâni-
co Machado de Assis) não se limita a escolas
literárias. Sua literatura aborda o homem de            Taxi Driver (1976)             Bonequinha de Luxo (1961)
seu tempo e trata de sua problemática social
(Miséria material e moral, crime, prostitui-       Quatro indicações ao Oscar.         Dois Oscar: trilha sonora e
ção), ideológica (niilismo, ateísmo, suicídio),                                        música.
psicológica (sonhos, delírios, obsessão, lou-      Diretor: Martin Scorsese. Touro
cura) e até patologias (tuberculose, epilepsia,    Indomável (1980), Gangues de        Diretor: Blake Edwards. Victor
febres). Quanto à questão das patologias, a        Nova Iorque (2002), A ilha do       ou Vitória? (1982) e A pantera
tuberculose durante o século XIX na era pré-       Medo (2010).                        cor de rosa (1978).
antibiótica era uma doença temida, letal e as-
sustadoramente comum, e é descrita de forma        Sinopse: Jovem taxista de Nova      Sinopse: Uma jovem socialite
precisa nas obras de Dostoievski. O escritor       York que vê em suas mãos a          de Nova York se interessa por
sofria de epilepsia, e retrata fielmente a do-     possibilidade de atropelar toda     um rapaz que muda para o seu
ença em diversos personagens, como Smier-          sujeira, sexo e violência de sua    prédio.
diakov (Os irmãos Karamazov), Michkin (O           cidade.
idiota), Múrin (A senhoria), Stavroguin (Os                                            Porque assistir: Porque a Holly te
demônios).                                         Porque assistir: Porque a música    encanta, porque até o gato te cha-
      A principal preocupação de Dostoievski       te seduz, porque ela repete toda    ma atenção, porque existe graça
é desnudar a psique de cada personagem que         hora no filme e faz você cantaro-   mesmo na loucura alheia, porque
cria, mostrando seus conflitos existenciais        lá-la por um bom tempo. Porque      não é um filme de mulherzi-
e lutas interiores, coexistência de bondade e      não é sempre que se vê Robert de    nha, porque vale muito a pena
sordidez no mesmo ser, aniquilando perspec-        Niro abusando da interpretação,     conhecer esse café da manha a la
tivas maniqueístas típicas do Romantismo,          abusando dos olhares, de cada       Tiffany.
pintando o fantástico da realidade através de      fala, usando o personagem para
personagens humanos – demasiado huma-              te conduzir por toda uma Nova       Repare: Na sociedade americana
nos ­ a ponto de exercerem elevado poder
     –                                             York. Porque não é sempre que se    em seu way of live ao som de
catártico sobre o leitor.                          vê uma mente ir se deformando       Moon River.
      Dostoievski já prenuncia elementos da        tão claramente num filme.
psicanálise freudiana em praticamente todas                                            Frase: “Faça um favor? Só me
as suas obras, principalmente em Niétotchka        Repare: No olhar no taxista         leve para casa quano eu estiver
Niezvanova (prenúncio do Complexo Edi-             Travis que vai se transformando     bêbada. Apenas quando eu esti-
piano e das teorias acerca da sexualidade in-      junto com sua mente.                ver realmente bêbada.”
fantil) e Memórias do subsolo (psicologia do
inconsciente).                                     Frase: “Está falando comigo? Está                       Os cinéfilos
      Para os que tiverem interesse na leitura     falando comigo? Está falando           Convidamos todos para o
do escritor, recomendo fortemente os livros        comigo? Então com quem diabos
da Editora 34, da Coleção Leste, que possuem       você está falando? Está falando
                                                                                               CINE-CACC!
                                                                                         Toda Terça-Feira às 16h30
as melhores traduções e notas de rodapé.           de mim? Pois eu sou a única pes-
                                                                                       A programação se encontra no
                                                   soa aqui. Com quem você pensa
                                                                                           mural do CA do CCS!
                Carolina M. de Oliveira (M4)       que está falando?”


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                                                                                       “produzindo”.
     A Bula Entrevista                                                                       E aqueles que hoje não “pro-
                                                                                       duzem” mais, os aposentados, tam-
    E a greve dos servidores?                                                          bém estão com seu futuro em risco.
                                                                                       A aposentadoria do funcionalismo
    Texto baseado em entrevista com Fábio Marinho, Funcionário da                      passa à previdência privada a partir
    UFRJ e participante do Comando de Greve da Categoria.                              da Reforma da Previdência realiza-
                                                                                       da em 2003, pelo governo Lula, e
          Quando eu me formar gostaria        futuros, como nós.                       hoje no limitante PL 1992/07 que
    de prestar um concurso público, ter             Ao perguntar da pauta de           está pra ser aprovado. Cria mais
    um bom salário, ter uma aposenta-         reivindicações, Fábio aponta: “Há        desigualdade entre homens e mu-
    doria integral e ter direito de falar     várias reivindicações que pra vocês      lheres, passando a considerar a
    e me organizar caso eu e meus co-         fica difícil de entender pois são mui-   aposentadoria por tempo de servi-
    legas estejam sendo prejudicados.         to específicas (do próprio funcio-       ço (que é determinado pelo gêne-
    Mas temo que este pequeno sonho,          nalismo), mas as questões centrais       ro) fazendo com que as mulheres
    que meus pais por exemplo tive-           pra vocês são o congelamento no          recebam uma aposentadoria me-
    ram o privilégio de vivenciar (ain-       investimento no serviço público (PL      nor que a dos homens. Além disso,
    da que em parte), esteja gravemente       549/09), a previdência complemen-        retira a integralidade da aposenta-
    ameaçado. - privilégio este fruto de      tar (Pl 1992/07) e a demissão por        doria, comprometendo a vida dos/
    muitas lutas ao longo de nossa his-       “insuficiência” (PL 248/98), projetos    as aposentados/as.
    tória (esses singelos direitos), e hoje   que tramitam hoje em caráter de ur-            Há ainda outro ponto impor-
    são gastos aparentemente supérfluos       gência no Congresso.” Ele me expli-      tante: Fábio coloca a questão da
    no nosso país e no mundo.                 ca cada uma delas.                       privatização dos Hospitais Univer-
          Digo isso após procurar en-               O PL 549/09 está nos termos        sitários com o PL 1749/11 (reedi-
    tender porque os técnico-adminis-         da Lei de Responsabilidade Fiscal e      ção da MP 520, decreto aprovado
    trativos da UFRJ e de tantas outras       impede no âmbito de todo o fun-          por Lula no seu último dia de man-
    universidades e serviços públicos         cionalismo público (dos três po-         dato e que perdeu o prazo pra ser
    estão se mobilizando e encontram-         deres, nas três esferas do governo)      aprovado). A criação da empresa
    se há quase dois meses em greve.          qualquer aumento dos “gastos” por        brasileira de serviços hospitalares
    Para isso, discutimos no CACC a           10 anos (isso inclui obras, infra-       (EBSERH), que ao lado de diversos
    questão e pude acompanhar uma             estrutura, reformas e folha de pa-       outros projetos privatistas da saú-
    reunião do Comando Local de               gamento). Nossas universidades           de, acaba com o sistema RJU (Re-
    Greve e uma das Assembleias que           estarão limitadas a um desenvolvi-       gime Jurídico Único) transforman-
    votou pela manutenção da greve            mento cada vez mais precarizado e        do todos/as os/as trabalhadores/as
    num momento delicado, o qual              condições de trabalho muito pio-         dos hospitais universitários em ce-
    colocarei mais a frente. Além disso       res. A abertura de concursos pú-         letistas (ou seja, sem estabilidade,
    fui conversar com o técnico-admi-         blicos será impossível, assim como       sem autonomia, com previdência
    nistrativo Fábio Marinho, que vem         aumentos e até reajustes salariais.      privada, etc etc etc).
    construindo a luta na UFRJ junto          Isso significa, segundo Fábio, o               Ao acompanhar as reuniões
    com outros trabalhadores da nossa         congelamento dos salários e de           dos trabalhadores em greve surgi-
    universidade. Ele me contou que a         qualquer reajuste salarial, ou seja,     ram ainda algumas questões. Na
    FASUBRA (Federação de Sindica-            se a economia crescer o salário não      assembleia do dia 14 de junho, que
    tos de Trabalhadores em Educação          cresce. E se o PIB tiver resultado       estive presente, havia uma questão
    das Universidade Brasileiras) deci-       negativo, os salários ficam compro-      delicada pra resolver. O Coman-
    diu pela greve no dia 06 de junho,        metidos.                                 do Nacional de Greve (CNG) que
    e a UFRJ entrou no dia 14. Só que               Outra questão é a estabilidade     reúne os sindicatos das universi-
    a greve não começou em junho,             do serviço público que será troca-       dades em greve havia tirado um
    nem mesmo este ano. Fábio conta           da por cumprimento de metas de           indicativo de sair da greve. Mas
    que a categoria negocia o reajuste        desempenho, um desempenho na             na verdade isso não era um reflexo
    salarial e correção nas distorções        lógica empresarial e que possibi-        do movimento nas universidades.
    da carreira desde 2007, última gre-       lita perseguições políticas, tanto       A direção de ainda grande parte
    ve, mas que no entanto só garantiu        no que tange ao próprio direito          dos sindicatos das universidades
    um reajuste parcelado, ou seja, a         de organização dos trabalhadores         compõe a CUT (Central Única dos
    perda salarial foi corrigida paulati-     quanto à autonomia dos mesmos            Trabalhadores), e esta Central tem
    namente até 2010 e hoje o funcio-         no seu trabalho. Fábio avalia que        hoje como principal estratégia de
    nalismo público encontra ainda vá-        os trabalhadores em greve hoje, se       mobilização a negociação com o
    rios projetos de lei que prejudicam       esta lei estivesse já em vigor, esta-    Governo. Negociação é uma coi-
    diretamente a carreira dos atuais         riam com seus postos de trabalho         sa boa, e o movimento hoje vem
    servidores públicos e também dos          abalados, visto que não estariam         lutando pra negociar com o go-


8      Segundo semestre de 2011                   cacc@medicinaufrj.com                        http://www.medicinaufrj.com
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verno e obter conquistas nas suas       além de não negociar, o governo         tismo e evasão escolar esdrúxulas.
condições de trabalho. Mas o que        ainda mantem uma chantagem com          E o mais considerável disso tudo, é
há de mal nesses dirigentes então?      os movimentos sociais em luta co-       que 2/3 das metas do PNE de 2001-
Na Assembleia que participei ficou      locando que não negocia com quem        2010 sequer foram cumpridas, já se
bem claro pra mim. Enquanto os          está em greve. Ameaça ainda que há      previa 7% do PIB, foram alcançados
trabalhadores em geral queriam se       um prazo, tentando agilizar a saída     apenas 4%, e o governo ainda pro-
manter na greve, os dirigentes do       da greve, mesmo com mãos vazias.        mete a mesma meta para mais algu-
Sintufrj tinham acabado de voltar       Este prazo estaria definido pela vo-    mas gerações a nossa frente...
da reunião do CNG e votado contra       tação no Congresso do orçamento               Hoje, se ficarmos de braços
a decisão da maioria (que tinha de-     de 2012, que será realizada no final    cruzados esperando a roda viva
cidido manter a greve na assembleia     do mês de agosto. A argumentação        girar, minha melhor perspectiva é
anterior) e queriam suspender mais      do governo é que não há verba para      ter dois ou três empregos celetis-
uma vez naquela reunião que lotou       atender as reivindicações de todos      tas, com uma previdência privada e
o auditório Quinhentão com o argu-      os trabalhadores em greve. Mas a        com minha liberdade limitada pela
mento de que era preciso negociar       grande questão é a prioridade do        demissão imotivada. Caso os traba-
com o governo. De fato, os trabalha-    governo. Enquanto se paga 49,15%        lhadores não permaneçam na luta,
dores querem negociar, senão não        do orçamento federal pra dívida         como a greve que acontece na UFRJ
fariam greve. Mas qual era e qual       pública (ou seja, pros banqueiros       e outras dezenas de universidades
é a perspectiva de negociação com       e empresários), 2,92 % é investido      federais, nossas universidades esta-
o governo? Pouca, muito pouca. O        em educação e 3,53% em saúde. E         rão limitadas a um desenvolvimen-
sindicato está na mesa de negocia-      o novo Plano Nacional de Educa-         to cada vez mais precarizado e con-
ção desde março, em que antes da        ção ainda prevê apenas 7% do PIB        dições de trabalho muito piores. Por
entrada na greve já haviam ocorrido     para a educação, como meta para         isso apoiamos a luta dos servidores
4 reuniões de “negociação”. Mas em      só 2020, além de manter políticas       e também nós não podemos nos
nenhuma delas nada foi apresenta-       de financiamento ao ensino privado      furtar de lutar contra todas essas
do ao movimento. Nem mesmo as           (sustentando os grandes empresá-        medidas que comprometem nosso
pautas das “antigas” reivindicações     rios da educação) e um descaso com      futuro.
de 2007. Por isso mesmo o movi-         a população mais marginalizada,
mento decidiu pela greve. E agora,      com metas de combate ao analfabe-                          Isis Altgott (M10)



Os desafios do PEM
             Introdução                     Mudanças no M1 a Caminho            articulado aos conteúdos de discipli-
                                                                                nas do básico e outro muito ligado a
      O Programa de Educação Mé-              Embora tenha sido criado ba-      aspectos da clínica e que podem ser
dica (PEM) teve início em 2008,         sicamente para adequar o currículo      trabalhados no ciclo profissional.
principalmente a partir da urgência     ao aumento do internato, o Progra-      Sobre a anatomia, uma professora
apresentada pelo MEC de que todas       ma de Educação Médica (PEM) tem         da ginecologia apontou quais con-
as escolas médicas brasileiras pas-     potencial para encaminhar soluções      teúdos normalmente precisam ser
sem a ter 2 anos de internato, e não    para algumas de nossas demandas.        retomados na sua disciplina, no
apenas 1 ano e meio como na UFRJ.       O texto aponta alguns de seus avan-     M9, porque os alunos em geral já
Isso significa que os conteúdos antes   ços, entraves e perspectivas.           esqueceram. Criaram-se propostas
ministrados em 4 anos e meio terão                                              de inclusão, como a inserção pre-
um semestre a menos, gerando uma                     Conteúdos                  coce na atenção primária à saúde.
dificuldade com a distribuição da                                               Houve recentemente uma oficina
carga horária. Nas primeiras reuni-           Foi considerada necessária a      que levantou questões orientadoras
ões que discutiriam o M1 já foi con-    contribuição de docentes da área        para os professores identificarem os
senso a necessidade de redimensio-      clínica sobre os conteúdos essenciais   conteúdos essenciais.
nar e integrar os conteúdos, isso já    e professores como Gil Salles, Ricar-
trouxe alguma espectativa de trazer     do Amorim, Maria Lúcia Pimentel                        Formato
mudanças significativas em nosso        e Lúcia Azevedo, do departamento
currículo, que sabemos ter muitos       de clínica médica, se integraram.             Surgiram duas propostas cen-
problemas. Como todos sabem, a          Houve apontamentos específicos de       trais: a do prof. Manoel, seria se-
maior quantidade de superposições       algumas disciplinas que podem ser-      quencial e hierarquizada de acordo
de conteúdos ocorre entre a biologia    vir como experiência e exemplo. Em      com a crescente complexidade da
celular, a bioquímica e a biofísica.    bioquímica foram identificados dois     estrutura estudada; a do prof. Cris-
                                        grupos de conteúdos: um bastante        tiano, semelhante aos Programas


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Ano I - Número 1                                                           Jornal do CACC - Medicina UFRJ
     Curriculares      Interdepartamentais    norteadores dessa integração, que         desestimulante ou excessivamente
     (PCIs), com a abordagem em para-         julgamos importantes para expandí-        exigente. Mas o quanto estamos des-
     lelo dos conteúdos comuns das dis-       la a todas as disciplinas.                perdiçando de oportunidade?
     ciplinas. Na tentativa de fundi-las, o         No dia 09/08, após mais de um             Além disso, o método cientí-
     prof. Manoel se comprometeu em           ano de reuniões, foi apresentada          fico com que temos (um precário)
     organizar os conteúdos de bioquí-        uma proposta-síntese das discus-          contato é aquele originado a partir
     mica, biofísica e biologia molecular     sões sobre o M1. Nas duas primeiras       do pensamento de Descartes, com a
     em uma sequência e o prof. Cristiano     semanas letivas haverá aulas sobre        dúvida sistemática e decomposição
     ficou de organizar os conteúdos de       “moléculas da vida”. O M1 terá três       do problema em pequenas partes.
     histologia, anatomia e embriologia a     PCIs: da célula (bioquímica, biologia     Ele representou um grande avanço
     partir dos cinco processos celulares     celular, biologia molecular, anatomia,    em relação à produção de conheci-
     básicos presentes na morfogênese e       histologia, embriologia e genética),      mentos prévia e ainda possui enorme
     esboçar um PCI.                          hemolinfopoiético (bioquímica, his-       validade nas ciências biológicas. No
           Houve propostas menores: “áre-     tologia, imunologia e embriologia) e      entanto, muito do conhecimento em
     as verdes” - momentos para os alunos     tegumentar (histologia, embriologia       saúde é transversal a várias áreas do
     poderem se dedicar a atividades como     e bioquímica). Será acrescida a disci-    conhecimento, inclusive das ciências
     estudo em grupo ou independente;         plina Atenção Primária à Saúde. Foi       humanas, que possuem outros méto-
     espaço para atividades práticas e es-    apontado o norte de diversificar as       dos de formulação. É importante que
     tudos dirigidos; discutir a avaliação    atividades e estimular a busca ativa      essa discussão seja introduzida nos
     (sem avanços); aulas teóricas para a     do conhecimento pelo aluno. Obser-        PINCs, sobretudo naqueles que não
     turma toda e divisão para as demais      vamos na proposta um esforço para         são da área básica (clínicos, de epide-
     atividades (já acontece em algumas       romper fronteiras entre as áreas do       miologia, de educação médica...).
     disciplinas, como o PCI de urinário);    conhecimento, mas lembramos que                 Membros do CACC colocaram
     pós-graduandos atuando como tuto-        uma integração efetiva exige superar      na reunião em que houve aponta-
     res/monitores nos grupos. A última       o caráter meramente paralelo das au-      mentos sobre pesquisa a urgência de
     proposta reforça a demanda de co-        las dessas áreas. Nos PCIs que temos      se atualizar a divulgação das oportu-
     brarmos que todos os envolvidos nas      hoje, cada área tem suas aulas e inclu-   nidades de PINC, que em sua maio-
     atividades estejam cientes do projeto    sive suas provas próprias, com poucas     ria dependem da busca particular
     político-pedagógico, combatendo a        iniciativas de transmissão e avaliação    dos alunos e passam desapercebidos
     fragmentação do conhecimento.            do conhecimento que nos preparem          pela maioria. Foi lembrada a expe-
           Algumas disciplinas se expuse-     para a dura realidade: o paciente não     riência dos mini-cursos de bioquí-
     ram mais, como bioquímica e genéti-      é dividido em gavetinhas.                 mica no fim do período, em que são
     ca. O prof. Amílcar se comprometeu                                                 apresentadas as linhas de pesquisa.
     em remover as sobreposições do pro-       Pesquisa, Método Centífico e PINC        Os alunos, porém, apontaram que a
     grama de genética do M2 (ainda há                                                  concentração dos mini-cursos no fi-
     sobreposição de genética com biofísi-          Foi manifestada em uma reu-         nal do período - momento em que há
     ca) e afirmou que os conteúdos pode-     nião do Programa de Educação Mé-          várias provas, seminários e afins - os
     rão se incorporar a bioquímica e bio-    dica (PEM) a preocupação que os           tornaram pouco atrativos diante das
     logia celular no M1. As atividades da    alunos aprendam a trabalhar com           várias outras responsabilidades.
     bioquímica ainda são pouco diversas:     método científico e utilizar bases de
     raras atividades práticas (como o tra-   dados. Achamos que é preciso avan-              Próximos Passos do PEM
     balho com estrutura de proteínas no      çar nessa discussão. Como seria mais
     bloco 1) e uma bateria de aulas expo-    proveitoso para os alunos se, em to-            Após uma focalização na M1, os
     sitivas e EDs. No entanto, os blocos     dos os PINCs que participassem, lhes      docentes sentiram falta de algo que já
     2, 3 e 4 vêm avançando na integração     fosse garantido um panorama das li-       vinha sendo apontado pela gestão do
     básico-clínico e foi criado no segundo   nhas de pesquisa que seu laboratório      CACC em reuniões e em conversas
     semestre de 2010 um bloco de pales-      desenvolve e um contato permanente        particulares com professores: a falta
     tras que abordaram, em geral, temas      com a totalidade da linha de pesquisa     de um projeto político-pedagógico
     relacionados com a clínica. Assim        em que estivessem inseridos! É uma        (PPP) claro e condizente com o mo-
     como as mudanças em genética, a          perspectiva um pouco mais traba-          mento em que vivemos. A partir de
     iniciativa conquistou muito pouco o      lhosa para alunos e bem mais para os      agora a prioridade será a discussão de
     alunado. Achamos que, em parte, por      professores, mas tem chances de se        exemplos de PPP escolas médicas do
     concorrer com diversas atividades de     tornar realidade se contarmos com         Brasil, de forma a embasar uma nova
     fim de período. Sugeriu-se como for-     o apoio massivo daqueles que o CA         síntese, agora de maior peso para o
     ma de integração que professores do      representa. Entendemos que às vezes       currículo como um todo: o projeto
     clínico coordenem a discussão de ca-     é mais cômodo fazer um PINC “frau-        político-pedagógico da FM-UFRJ.
     sos clínicos em disciplinas do básico.   de”, ainda mais se houver a compen-
     Existem algumas iniciativas pontuais,    sação através de uma bolsa, em meio                                 André (M2)
     mas ainda não há princípios comuns       a um currículo por vezes confuso,                           Ingrid Antunes (M9)


10      Segundo semestre de 2011                   cacc@medicinaufrj.com                        http://www.medicinaufrj.com
Ano I - Número 1                                                        Jornal do CACC - Medicina UFRJ


1º Congresso da ANEL: O novo
pede passagem
     Aconteceu na Universidade          ritmo de crescimento da última
Federal Rural do Rio de Janeiro,        década demoraremos 59 anos para
entre os dias 23 a 26 de junho o 1º     chegar a 30% (que era a meta para
Congresso da ANEL (Assembleia           2010). Para podermos comparar, a
Nacional dos Estudantes – Livre).       Argentina tem 40% dos jovens no
A ANEL foi fundada em 2009 e            ensino superior, e a Bolívia 20,6%.
tinha como objetivo ser uma enti-       Logo vemos que educação não
dade alternativa à UNE, uma vez         tem sido prioridade de nenhum de
que esta esta que já foi tão impor-     nossos governantes.
tante para o Brasil hoje só defende          Mas para além de apontar
os interesses do governo e esquece      os problemas existentes, também
dos estudantes. A ideia é construir     foram pensadas ações para lutar
um movimento estudantil diferen-        por melhorias. Por isso foi tira-
te, que seja próximo de cada estu-      do no Congresso à realização de
dantes, onde haja democracia para       uma jornada de luta em defesa de
que todos possam se expressar e         10% do PIB para a educação, que
que seja independente politica-         acontecerá entre os dias 17 a 24 de            Cartaz/Adesivo da campanha do
financeiramente de governos e           agosto, que terminará com uma                       1º Congresso da Anel 2011
reitorias.                              grande marcha a Brasília, para fa-
     Durante 4 dias cerca de 1.700      zer essa exigência diretamente ao      nas chopadas, em “brincadeiras
estudantes de todo o Brasil discu-      governo. Também será iniciada          inofensivas” que acabam por criar
tiram de maneira muito viva quais       uma campanha por mais verbas           um pano de fundo ideológico para
os problemas que enfrentamos no         para a saúde pública e contra as       a legitimação da violência e segre-
dia-a-dia das salas de aula, quais as   ameaças de privatização que esta       gação. Por conta disso a ANEL se
soluções para enfrentá-los e como       sofre hoje.                            coloca na linha de frente no com-
o movimento estudantil deve se               Outro ponto interessante do       bate as opressões e dará uma bata-
organizar para isso. Logo de cara       congresso foi chegarmos à conclu-      lha contra isso em cada local em
dava pra perceber que os mesmos         são de que as lutas estudantis não     que atua.
problemas se repetem em cada            estão isoladas da busca por outra           Por fim, aqueles que foram ao
canto deste país. Falta de assis-       forma de se pensar a sociedade,        congresso puderam presenciar que
tência estudantil (poucas bolsas,       para que esta seja menos desigual      ao contrário do que tentam nos
bandejões insuficientes, etc), bi-      e com amplas oportunidades a           dizer todos os dias o movimento
bliotecas defasadas, infraestrutura     todos, e que assim torna-se ne-        estudantil não desapareceu. Ele
precária, Hospitais Universitários      cessário apoiar as lutas dos traba-    segue e está se fortalecendo mui-
com poucos insumos, leitos vazios,      lhadores por melhores salários e       to. Demos um passo importante
ameaça de privatização, entre ou-       condições de trabalho, sejam dos       na superação dos problemas que
tros problemas, evidenciaram que        bombeiros do Rio de Janeiro ou         temos que se expressava bastante
existe um problema crônico de fal-      os professores do ensino básico de     na ausência de uma entidade na-
ta de verba para a educação. Muito      todo o Brasil.                         cional que defendesse as reivindi-
também foi discutido sobre como              O Congresso também foi            cações dos estudantes, no entanto
os governos não tem feito nada          marcado por uma forte luta con-        ainda temos muito o que fazer.
para mudar essa situação. Durante       tra toda a forma de opressão. Ao       Agora temos que garantir que as
todo o governo Lula, por exemplo,       contrário da propaganda oficial,       resoluções e campanhas tiradas
o investimento em educação ficou        o Brasil não é um país de todos, e     no Congresso sejam colocadas em
sempre em torno de 4,5% do PIB          o machismo, o racismo e a homo-        prática. Àqueles que querem man-
(bem diferente dos 7% prometidos        fobia seguem se expressando com        ter as coisas como estão para que
durante a campanha eleitoral). No       muita força, seja com as agressões     possam tirar proveito disso temos
inicio deste ano, o governo Dilma       que são cotidianamente realiza-        um recado a dar: saiam do nosso
cortou 3,1 bilhões de reais da pasta    das seja com salários mais baixos      caminho, pois o novo pede passa-
de educação. O número de jovens         que recebem esses setores. Infeliz-    gem.
no ensino superior ainda é muito        mente isso também se reflete nas
baixo (14,4%). Se mantivermos o         escolas e universidades, nos trotes,            Gustavo Treistman (M10)


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Ano I - Número 1                                                         Jornal do CACC - Medicina UFRJ


     Estou condenado a um consultório?
           A pedido do jornal A Bula, fui     musicais” nas enfermarias com os       Social1, fundar uma companhia que
     convidado a escrever sobre algu-         pacientes escondido dos olhares de     trabalha com saúde, seja visando
     mas opções alternativas ao lugar-        reprovação da galera do 9D. Isso me    ao lucro como à uma visando so-
     comum do médico na sociedade.            permitiu ter uma visão de mundo        cial – de preferência ambos, como
     Durante a faculdade, escutamos ex-       que se estendia além dos papéis re-    é o caso das B-Corps, L3C’s e outras
     plicitamente ou implicitamente que       ducionistas geralmente impostos,       corporações com uma nova concep-
     vamos trabalhar em um cenário de         assim como levantar perguntas in-      ção de impacto social e financeiro, o
     hospital, clínica, consultório do pai,   teressantes, como por exemplo por-     médico pode escrever projetos que
     dando milhares de plantões e a vida      quê não lemos Paulo Freire durante     misturam arte e saúde, cinema e
     de repente se passa inteiramente         a nossa formação, mas aprendemos       literatura, e tentar que tais projetos
     dentro de um prédio onde entra-          a constituição bioquímica dos cál-     sejam implementados pelo Progra-
     mos pela manhã e saímos à noite,         culos renais (Hidroxiapatita e etc)?   ma de Saúde da Família no SUS. O
     cansados e esperando tudo começar        Se você não acha isso estranho, caro   médico pode trabalhar na fronteira
     novamente.                               leitor, ou se realmente concorda que   dos direitos humanos ou com os
           Mas não é só isso. Não precisa     é mais importante saber tal infor-     Millenium Development Goals das
     ser só isso. O médico possui, e isso é   mação do que discutir Paulo Freire,    Nações Unidas, como consultor ou
     algo que senti aqui em Nova Iorque       cuidado: você está no caminho para     advisor. Organização Mundial de
     como no Brasil, um respeito e ad-        se tornar alguém extremamente de-      Saúde, Organização Pan-America
     miração sem igual. Sua experiência       sinteressante e incapaz de enxergar    de Saúde, o medico pode tudo pois
     é muito valorizada, sua voz levada       possibilidades além do lugar co-       suas qualificações são muito deseja-
     acima de tantas outras na hora de        mum.                                   das. Tudo vai depender da sua visão
     importantes decisões. Mas para                 Em 9 meses de New York Uni-      de mundo, quais são seus sonhos,
     ilustrar meu ponto, permita-me           versity, escutei o nome de Paulo       se eles se estendem além de você ou
     contar um pouco da história que          Freire dezenas de vezes e menção       se contentam com o famoso nascer
     hoje me traz ao jornal dos estudan-      ao “Pedagogia do Oprimido” outras      crescer casar reproduzir e morrer.
     tes de medicina.                         tantas... na UFRJ nenhuma, exceto            Isso são só algumas possibilida-
                                                                                     des que vão além do lugar-comum.
                                                                                     Existem tantas outras possíveis,
                                                                                     que fica até engraçado pensar que
                                                                                     a medicina se reduz ao consultório,
                                                                                     ao Samaritano ou a botar botox em
                                                                                     gente rica. Saúde é um campo fasci-
                                                                                     nante e amplo, pois os determinan-
                                                                                     tes de saúde e doença são de mesma
                                                                                     natureza, passando por decisões de
                                                                                     estado, pela economia local e ma-
                                                                                     cro, por educação, por informação
                                                                                     e inclusão, por dignidade humana;
                                                                                     besteira achar que saúde não possui
                                                                                     raízes fortes no contexto social que
                                                                                     nos circunda. Shakespeare escreveu
                                                                                     que nós somos do tamanho dos
                                                                                     nossos sonhos, e nessa perspectiva a
           Durante a faculdade inteira,       nos corredores do NUTES onde es-       pergunta se torna qual é o tamanho
     nunca me encaixei muito bem nos          perança ainda resta!                   das suas aspirações. O que o médi-
     estereótipos médicos, não dava mo-            Mas deixemos tal assunto para     co pode fazer além do consultório?
     nitoria, resisti bravamente à força      outras cartas; voltemos ao tema de     - mudar o mundo.
     bitolante e biologizante do currícu-     interesse, qual mundo existe para
     lo, nunca vi um episódio completo        o médico além do carimbo, e mais                 Alexandre Carvalho, M.D.
     de House ou de outras séries médi-       importante, além dos papéis espera-
     cas (chatíssimo, que me desculpem        dos? Só para começar, o médico que     1
                                                                                      (ver Bill Drayton e seu Echoing Green
     os fãs); preferia a companhia de li-     tem idéias criativas para promover     http://www.echoinggreen.org ou mes-
     bertinos literários, via filmes esqui-   mudanças sistêmicas e sustentáveis,    mo o Acumen Fund http://www.acu-
     sitos, minha poesia fluía sem parar,     escaláveis e replicáveis pode entrar   menfund.org)
     ficava até as 20h fazendo “rounds        no mundo do Empreendedorismo


12      Segundo semestre de 2011                  cacc@medicinaufrj.com                      http://www.medicinaufrj.com
Ano I - Número 1                                                          Jornal do CACC - Medicina UFRJ
                                                                                  intenso que dá pra pegar no ar.
coluna do Aluno                                                                   Aquelas tias, meio gordas, sebentas,
                                                                                  que ficam resmungando baixinho,
Supervia, superlegal                                                              só esperando a oportunidade de
                                                                                  arranjar um barraco por qualquer
                                                                                  coisa. Eu tenho medo.
                                                                                        Atualmente não pode mais,
                                                                                  por lei, ter culto no trem. Mas an-
                                                                                  tigamente era complicado. Não vou
                                                                                  entrar nesse assunto.
                                                                                        Agora, o comércio. Aaaaah, o
                                                                                  comércio. É lindo, faz inveja a qual-
                                                                                  quer Wall Street. É ali que o capita-
                                                                                  lismo selvagem acontece. É ali que a
                                                                                  magia da economia tem lugar. É ali
                                                                                  que cê pode conseguir um latão de
                                                                                  Antártica, uma caneta-calendário,
                                                                                  um isqueiro-lanterna ou um picolé
                                                                                  Moleca de goiaba, leite condensado,
                                                                                  limão ou maracujá. E o poder aqui-
                                                                                  sitivo, hein? Rapaz, com R$ 1.00,
                                                                                  sim, um simples real, você é rei. Dá
     Trem da Supervia lotado: Créditos de http://emptyencore.wordpress.com/       pra comprar uns 3 amendoins, 2 pa-
                                                                                  çocas, 23 balas Juquinha, uma esco-
      Não sei quantos de vocês que       tive o prazer de pegar um trem, mas      va de dente, um cinto, e um Super
estão lendo isso andam de trem no        imagino que o primeiro pensamen-         Bonder falso. Cara, eu ainda não sei
Rio de Janeiro. Mas aqueles que an-      to de todo mundo é de que aquilo         o que não se vende no trem. Tem
dam sabem que é uma experiência          vai desmontar. A segunda coisa em        desde fantoche até chave de fenda,
única.                                   que se pensa é na família, nos filhos,   desde pomada-cura-tudo até ioiô.
      Obviamente não é “única” no        nas coisas boas da vida, e em tudo       Tem tudo mesmo.
sentido de “uma vez só na vida in-       mais que parece que você tá deixan-            Agora completando, a essência
teira”, e sim no sentido de “não exis-   do pra trás quando entra no vagão.       do trem é que ele é a cara do subúr-
te nada igual”. Antes fosse, né.         Tudo, eu disse TUDO num trem foi         bio. Sim, se tem um ramal da Su-
      Rapaz, andar de trem pode ter      especialmente construído pra ba-         pervia próximo de você, parabéns,
várias vantagens, eu até moro mui-       lançar e fazer barulho.                  você é suburbano, que legal. Aquilo
to próximo a uma estação, pra mim              Deixando de lado a parte es-       cheira a malandragem suburbana. É
é uma mão na roda, mas cacete, é         trutural, o que há de mais interes-      a lei do mais esperto, sabe como é.
uma coisa cheia de... peculiaridades.    sante no trem é uma questão cultu-       Uma vez eu tava andando na esta-
O trem não é só um transporte. Não       ral. Aliás, mais que cultural, o trem    ção depois de desembarcar, só que
não, senhores. Não é só uma coisa        é quase um ecossistema, sei lá. Pe-      eu tava andando muito perto do
que te leva pra lugares em troca do      gando trem com regularidade você         trem em movimento. Resultado?
preço da passagem. É uma feira am-       reconhece várias coisas bem, “inte-      Tomei um tapão na cabeça de um
bulante, é uma sauna sobre trilhos,      ressantes”.                              desses caras pendurados na porta
é uma apurrinhação automóvel, é                Bem, eu sempre pego o trem         (sim, o trem tem gente pendurada
um pedacinho do subúrbio, que se         na parte da tarde, ali, na hora do       na porta, a era do surfista de trem
mexe.                                    rush. Pego o Japeri lotado, sem ar       já passou). Eu realmente vacilei, até
      A alma do subúrbio carioca         condicionado. Que tortura, cara.         porque mesmo que eu tenha mora-
treme com a passagem do trem.            Chega a ser cômico. Eu gostaria de       do na Baixada Fluminense minha
E não é tremer de emoção não, é          olhar pra minha expressão de der-        vida toda, eu sou lerdo. Mas eu ri
porque essa budega se treme toda         rota nessas horas. Tá todo mundo         na hora, levei na brincadeira, não
mesmo. Ô trocinho bambo, parece          suado, meio fedendo. Se você não         doeu, e se eu estivesse de boné não
um chocalho. Os vagões parecem           sua, não tem problema, você pega o       teria sido um tapa, e sim um furto.
caminhões de gado. Aliás, o povo         suor dos outros, porque a essa altura          Porém, existem as coisas boas,
que pega trem parece gado mesmo,         você é obrigado a estar tão grudado      o trem é relativamente rápido, não
com aquela expressão bovina de           nas pessoas, que seus espermatozói-      pega engarrafamento (apesar de
cansaço, se balançando junto com         des (no meu caso, que sou homem)         atrasar às vezes), e tem o vagão do
os milhões de metais desgraçados         achariam o caminho sozinhos para         pagode, né.
que fazem aquele barulho dos infer-      uma fecundação feliz.
nos. Não lembro a primeira vez que             O mau humor no trem é tão                                  Carlos (M8)


http://www.medicinaufrj.com                       cacc@medicinaufrj.com                 Segundo semestre de 2011          13
Ano I - Número 1                                                                     Jornal do CACC - Medicina UFRJ

      espaço para passatempos

                            A                                           C

            1                                                      B            D

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                4                                                           H

                5                                     G            12




                                                                    I

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                                                                                                                    Cynthia B. (M12)
            7                            J

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            9                                                      13

           10



     1. Hipertrofia da pele perianal, geralmente em resposta a processo inflamatório
     crônico.
     2. Cefalosporina de 1ª geração de uso parenteral.
     3. Efeito adverso comum nos ARVs.
     4. Lesão dermatológica inlfematória inespecífica.
     5. (?) Nigricans: alteração dermatológica associada a resistência insulínica.
     6. Vacina com microorganismos inativados que atua na imunização contra 3 difer-            Carlos Latuff, latuff2.deviantart.com/
     entes agentes.
     7. Osso da pelve.
     8. Ciclo das (?): via alternativa de oxidação da glicose 6-fosfato.
     9. Estreitamento.
     10. Hormônio secretado pelo tecido adiposo que atua na regulação da glicemia e no
     catabolismo de ácidos graxos.
     11. Tríade de (?): associada à hipertensão intra-craniana.
     12. Centro Acadêmico de Medicina da UFRJ.
     13. Vírus da Imunodeficiência Humana.

     A. Leishmaniose visceral.
     B. Reflexo de (?): geralmente presente nos 1os anos de vida..
     C. (?) mediana: “linha média”.
     D. Um dos ossos do tarso.
     E. Evacuação de fezes em locais inapropriados (Ex.: roupa), freqëntemente associado
     em crianças à constipação.
     F. Sinal de irritação meníngea.
     G. Cirurgia de Thal- (?): tratamento cirúrgico da acalásia.
     H. Síndrome de hipersecreção hormonal que pode ser causa se síndrome de Túnel                         www.humortadela.com.br
     do carpo.




                                                                                               André Dahmer, www.malvados.com.br


14         Segundo semestre de 2011                         cacc@medicinaufrj.com                       http://www.medicinaufrj.com

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Primeira edição do jornal do CACC

  • 1. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ A Bula © Calourada O CACC teve a CACC no 1º Congresso da ANEL oportunidade de realizar mais uma calourada, saiba mais. Pág. 4 Opressões A Bula convida os alunos a fazer uma reflexão sobre as opressões na sociedade. Pág. 5 Estudantes de todo país no congresso da ANEL (pág. 11) Greve na UFRJ Informe-se sobre a E o Entulho do HU? greve dos funcionários da UFRJ que ocorreu nos últimos meses. Pág. 8 Coluna Cultural CACC inaugura sua coluna cultural com textos sobre literatura e filmes clássicos. Pág. 7 Entulho ao lado do Hospital Universitário, presente há mais de 9 meses (pág. 6) Nessa edição temos também Nota: As matérias publi- cadas neste jornal são de • Confira o relato da Bula sobre o Programa de Educação Médica. (pág. 9) inteira responsabilidade • Todo médico está destinado a trabalhar em um consultório? (pág. 12) de seus autores e não ex- • Na coluna do aluno o assunto é a Supervia. (pág. 13) pressam, necessariamen- • Charges e palavras cruzadas! (pág. 14) te, a posição do CACC. http://www.medicinaufrj.com cacc@medicinaufrj.com Segundo semestre de 2011 1
  • 2. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ Editorial Expediente Integrantes do CACC Você está diante da segunda quase que de papel e onde muitas André (M2) edição d’A Bula sob a gestão 2010- vezes faltam médicos e insumos Angela (M3) 2011 do CACC, sendo que esta é básicos. Nossos dois últimos mi- Arthur Oliveira (M2) a primeira edição impressa (a ou- nistros da saúde afirmam que o Daniela (M3) Gabriel D. Marinho (M4) tra se encontra no blog do CA). problema da saúde é de gestão. Gabriel Keller (M3) Nossa proposta d’A Bula passa por Com tantas regionalidades/espe- Gabriel Fernandes (M2) trazer à tona alguns temas que não cificidades da experiência brasi- Gustavo Treistman (M10) se desatualizam com tanta rapidez leira em saúde, será mesmo que o Guilherme Tritany (M4) ao longo do ano e que influenciam problema é que todos os gestores Heloísa Calazans (M9) nosso cotidiano enquanto estu- de todas as unidades de saúde do Ingrid Antunes (M9) dantes, futuros médicos, jovens e Brasil durante todos esses anos Isis Altgott (M10) cidadãos. Dada a pluralidade de foram incompetentes?! Estamos Joana (M2) ideias no movimento estudantil, sendo seduzidos pela falácia de Jorge (M12) Marcella (M3) não temos a pretensão de apre- gerir a miséria enquanto a popu- Rafael Castro (M7) sentar verdades inquestionáveis lação não vem avançando con- Raquel Chaves (M3) e nem de sermos a voz fidedigna cretamente na melhoria da sua Thiago (Thico) (M4) de todos os estudantes individual- qualidade de vida, para além até Stefan Gundelach (M4) mente. A Bula é aberta a contri- da atenção à saúde. A velha “nova buições de quaisquer estudantes solução” assumiu o nome este ano Diagramação e sobre os temas que forem con- de Empresa Brasileira de Serviços Gabriel D. Marinho siderados relevantes para os mes- Hospitalares S.A., mas o nome é mos. Nossa pretensão é romper o que menos importa. Ela já foi Layout Eloísa Fróes com a inércia política da medici- Fundação Estatal de Direto Priva- na da UFRJ para que construamos do, por exemplo, mas sem grandes juntos os horizontes que almeja- alterações em sua essência. a lógica neoliberal na educação mos para a saúde, para o ensino Na educação, um corte de 30 da mesma forma que na saúde, e para a prática médica. Os temas milhões no orçamento no início fortalecendo a gestão privada e e o teor dos textos escritos pela do ano. O Programa de Reestru- desviando recursos públicos para gestão são fruto do acúmulo das turação e Expansão das Univer- essa esfera. reuniões que são abertas a voz e sidades Federais (Reuni), que Será que esse é o único ca- voto de todo e qualquer estudante. expandiu significativamente as minho possível? Será que esse é o Portanto, a construção do CACC é vagas para a universidade e criou melhor caminho possível? Melhor aberta à semelhança do seu jornal. cursos que perecem pela falta de pra quem? Hoje vivemos uma Sinta-se em casa e venha construir infra-estrutura, como a medicina mobilização dos servidores de 47 conosco! dos nossos colegas da Macaé, e universidades federais, inclusive É importante pontuarmos nos faz competir no CCS por salas da UFRJ, reivindicando reajustes algumas questões que são desdo- de aula, possui recursos limitadís- salariais atrasados, combatendo bramentos dos anos anteriores e simos. O ano de 2012 não é o fim a proposta da presidenta Dilma que possuem reflexos na UFRJ e do mundo, mas o fim do repasse Rousseff de congelamento dos sa- na medicina. A “saúde” vai bem orçamentário referente a esse pro- lários pelos próximos dez anos e e o paciente vai mal. O subfinan- grama. Ainda este ano, o governo se posicionando contrariamente ciamento da saúde é bem concre- deve aprovar o novo Plano Nacio- às privatizações. Temos os fóruns to. Muitos de nós assistiram de nal de Educação, que definirá as de saúde e de educação que têm se perto a novela do HUCFF, cujo diretrizes para as políticas públi- articulado para lutar por uma ou- primeiro capítulo é a metade de cas de educação dos próximos dez tra lógica para os direitos sociais, um edifício que sequer foi acaba- anos (2011-2020). Com relação de forma a contemplar os anseios da, passou por cenas dramáticas ao PNE anterior, sofremos uma populares. E nós ainda achamos que envolveram o fechamento do profunda derrota com o veto de que não tem jeito?! Que estamos hospital em 2008 e o abalo da es- FHC sobre os 7% do PIB propos- sozinhos? Que não há nada a fa- trutura em 2010 e teve um recen- tos para a educação. Ela se refletiu zer? Essas são apenas algumas te capítulo que foi a implosão da na distância em relação à meta questões que nos dizem respeito “perna-seca”. A realidade precária de erradicação do analfabetismo e que perpassam esta edição d’A do nosso HU corresponde à dos e inclusive em relação à meta de Bula. A gestão do CACC e o Con- demais 45 hospitais universitários ampliação do acesso ao ensino selho Editorial desejam a todos brasileiros e de outras unidades de superior (menos de metade da uma boa leitura! saúde, a exemplo das UPAs, feitas prevista). O novo PNE aprofunda 2 Segundo semestre de 2011 cacc@medicinaufrj.com http://www.medicinaufrj.com
  • 3. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ balancete Anual | Março de 2010 a Abril de 2011 Entradas Saídas Loja do CA-CCS R$32.767,70 Loja do CA-CCS R$24.661,36 Aluguel da Xerox R$11.850,00 Salário da Jussara R$10.353,00 Aluguel de Armários R$2.500,00 Sky R$720,00 Reembolsos de Passagens/Atividades Acadêmicas R$2.983,00 Reforma no CA do Subsolo (Eliseu) R$3.928,50 Participação nas Atividades da DENEM: Repasse do Marcílio por Festa na Prefeitura R$300,00 ROEX, CENEPES, COBEM, R$5.190,99 Seminário de Educação Médica e COBREM Calouradas Abril 2010-1, Agosto 2010-2 e 2011-1: Patrocínio Nilsão Camisas 2010-1 R$1.000,00 R$3.339,59 Festa de Recepção, Camisas, Canetas e Pastas Vendas das Camisas da Copa do Mundo R$4.420,00 Recarga do Celular do CACC R$300,00 Lucro da Festa da Copa do Mundo R$218,50 Material para Sala do CCS R$111,35 Entrada Festa Junina R$1.001,40 Investimento Festa Junina R$1.010,91 Entrada Dia Nacional do Samba R$1.700,00 Investimento no Dia Nacional do Samba R$1.602,40 Contribuições: Festa Bota-Fora M12 e Sexta de Total R$58.740,60 Samba R$950,00 Semana Acadêmica do CACC R$1.645,04 Pequenos Consertos: Sofá, Fechadura do 8º Andar R$483,30 e Dreno do Split Total R$54.296,44 Comitê de Intercâmbio A Faculdade de Medicina da UFRJ é a única do estado do para as crianças do IPPMG. E seguem aqui relatos de alunos Rio de Janeiro a dispor de um comitê local da IFMSA, presente que já realizaram um intercâmbio internacional IFMSA con- em mais de 35 escolas médicas por todo o Brasil e 97 países tando sobre suas experiências! no mundo. O comitê local-UFRJ busca desenvolver projetos Interessado em participar de uma campanha ou projeto sociais em nosso meio social e universitário, e mantém ativo do comitê? Vale pontos para conseguir a vaga de intercâmbio! o programa de intercâmbios internacionais da IFMSA dentro Acesse o site da IFMSA-Brazil (www.ifmsabrazil.org), conheça da UFRJ. o nosso trabalho, e venha falar sobre suas ideias com a gente. No ano passado, foi celebrado o Dia Mundial da AIDS em Nosso e-mail de contato é: um evento com exibição de filme temático e palestras sobre a ifmsaufrj@gmail.com AIDS no mundo e os tratamentos atuais. Em março deste ano, com o apoio dos alunos do CCS, foram distribuídos 160 brindes Fabrício Kury de páscoa (incluindo chocolate e brinquedos) numa campanha Presidente do LC UFRJ Relato do Intercambista Mas é claro que deveria aproveitar mais do Egito, o que já é mais que pensado pela organização do comitê local. Rece- Egito foi pra lá que fui!! E qual foi a razão de ter escolhi- bemos uma planilha com o itinerário completo do mês inteiro. do esse país? Pois não pude escolher outros por já estar na fase Eles não deixavam tempo vago quando estávamos fora do está- de vagas remanescentes. Mas digo com muita alegria que não gio. Nosso único trabalho era preparar a bolsa com documento me arrependi. E, ainda, se alguém vier me perguntar sobre qual e dinheiro, e esperar que um integrante fosse nos pegar, levar país deveria fazer intercâmbio, sem dúvida nenhuma respon- ao local pretendido (na maioria da vezes eles também partici- deria Egito. pavam ). Nesse esquema pude conhecer todos, ou pelo menos Assim que cheguei ao hospital, o médico coordenador en- quase todos, os pontos turístico do Egito, não só Cairo ( cida- carregado dos intercambistas me deu atenção e se preocupou de onde fiquei). Visitei as pirâmides junto com a esfinge, andei com minhas acomodações no alojamento do hospital. Além de camelo, museu do Cairo onde estão as múmias, ao bazar de dele, os médicos com os quais tive contato foram muito aten- Khan el Khalili,fui ao mar vermelho onde pude fazer mergulho ciosos. Desde o médico mais atarefado da emergência que ain- de cilindro, Alexandria e sua biblioteca, Luxor e Assuã com seus da nos dava tarefas a cumprir, passando pelo cirurgião que nos templos. mostrava partes importantes da cirurgia a qual era o cirurgião Fiz novas amizades, árabes, paulistas, inglesas, que sei que principal, indo a oncologista que nos deixou preparar a sessão não os esquecerei. Nada faltou nesta viagem. Tudo isso pela de quimioterapia de uma paciente e de nos explicar a conduta IFMSA! em relação a analgesia dos pacientes terminais, e acabando com o endoscopista e os ultrassonografistas que passo a passo nos Lúcia Arce, intercambista que viajou para o Egito mostravam cada estrutura. http://www.medicinaufrj.com cacc@medicinaufrj.com Segundo semestre de 2011 3
  • 4. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ Uma recepção de calouros diferenciada Passar no vestibular e entrar na universidade é uma sensação ímpar – principalmente se for a universi- dade federal que você queria! Nesse momento, criam-se muitas expecta- tivas para o novo curso, visualizam- se a projeção acadêmica e a nova vida social que se seguirá – toda uma gama de novidades que instigam a disposição do recém-chegado uni- versitário. Imagine você, com todo esse rebuliço interno, que um universi- tário vai ter que esperar meio ano, literalmente, para poder entrar na universidade? É o que acontece com nossos estudantes que iniciam o cur- Ato-Festa pela Retirada do Entulho do HUCFF, durante a Calourada Unificada com o DCE so no segundo semestre: no início do ano, férias maravilhosas, em maio, sentação da gestão atual do CACC anos, e o café-da-manhã seguido de ele nunca desejou tão ardentemente e o primeiro caso clínico de tantos um debate sobre as formas opres- ter aula! com os quais eles (os calouros) vão sões instaladas na sociedade, como As aulas do segundo semestre se deparar. No entanto, essa primeira a repressão às mulheres, aos homos- deste ano estavam marcadas para atividade não foi semelhante àquelas sexuais e aos negros. Na semana se- começarem dia 8 de agosto. Por ini- desenvolvidas no curso, durante a guinte, fechamos com uma festa no ciativa do Centro Acadêmico Carlos apresentação procurou-se dar aten- Elizeu, integrando os calouros e seus Chagas, foi decidido convocar os ção especial à situação econômica veteranos. novos alunos da medicina uma se- e social dos pacientes, entendendo Os novos estudantes do primei- mana antes para situá-los dentro da essa como determinante de sua saú- ro período aproveitaram o evento, universidade, seja na localização do de. Além disso, foram organizados marcando presença na maior parte bloco B do CCS, onde passarão boa grupos de discussão sobre saúde, das atividades, participando de sua parte do seu ciclo básico, como no educação e educação médica. Ao primeira experiência em âmbito aca- âmbito do funcionamento da UFRJ. longo da semana foram realizadas dêmico e perguntando avidamen- Inicialmente, havia muita in- outras atividades: a visita-guiada, na te sobre o que os esperava naquele certeza da viabilidade de realizar qual os alunos conheceram o Hospi- período(as aulas do Manel já faziam as atividades dessa semana, mas os tal Universitário, o CCS, o bandeijão sucesso entre eles antes mesmo da calouros apoiaram e a calourada e todos os demais locais que se tor- aula deles começarem!) e sobre o fa- deu certo. No primeiro dia, a apre- narão tão familiares nos próximos migerado material de padrinho. A calourada foi bem-sucedida graças aos esforços de membros mui- to dedicados do CACC e também graças aos calouros que se fizeram presentes nas atividades montadas especialmente para eles. A gestão Lutar é Preciso agrade- ce aos estudantes do primeiro perí- odo por virem à universidade antes do previsto e deseja boas-vindas aos novos estudantes de medicina da Universidade Federal do Rio de Ja- neiro, conhecida humildemente por nós como a melhor universidade do Brasil! Arthur Oliveira (M2) Debate sobre Opressões durante a Recepção dos Calouros de Medicina 2011/1 4 Segundo semestre de 2011 cacc@medicinaufrj.com http://www.medicinaufrj.com
  • 5. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ Se pararmos para refletir na Novas cores à calourada: real gênese do preconceito, anali- samos que as relações entre pessoas do mesmo sexo foram sempre um Você perpetua opressões? perigo para ideologia dominante feudal ou burguesa. Afinal, “como Quando o semestre começa, dos a ouvir de “professores-cientis- poderia um homem não ‘querer’ logo aguardamos nossos novos co- tas” que a atração pelo mesmo sexo exercer toda a sua potencialidade de legas chegarem, preparando o ve- se dá porque há indivíduos com um macho-alfa de ‘dominar as mulheres lho ritual de celebração e vitória, o desvio-padrão em uma curva popu- e ter herdeiros’?” Faço uma ressalva trote. É sem dúvida um espaço de lacional de Gauss1. Bem, pensemos, que o preconceito contra as lésbicas aceitação, recepção calorosa dentro se estamos falando de um erro, ele se dá em outros formatos, e em mui- da universidade, em que todos são poderia ser consertado, não? Se não tos casos está associado ao machis- iguais e rapidamente inseridos em for possível, por que não eliminá- mo. Logo, vale na mesma moeda: um novo grupo social, amável e re- lo? Outros ainda apontariam que “como pode a mulher assumir um confortante. Adoraria que esse boni- os gays optam por sua sexualidade. comportamento tido como mascu- to quadro representasse a realidade. Bem, será que os homossexuais não lino e dominante?”. As lésbicas são A verdade é que, hoje, em mui- têm problemas suficientes para real- ainda colocadas dentro da fantasia tas faculdades pelo país, o que há é mente escolherem agir contra uma sexual masculina, atribuindo mais um grupo de colegas – consciente ampla opressão heterossexual? uma vez a mulher e seu corpo ao ou inconscientemente – promoven- Outra questão é que em uma usufruto do homem. do repressão e criando uma falsa sociedade desigual, a homofobia A falta de visão de muitos os hierarquia, assim que o trote come- e o silêncio em relação ao tema cega, a questão nunca foi a origem ça. Para a maior parte dos alunos contribuem todos os dias para o da sexualidade, mas sim a sua sim- aquele evento normalmente passa aumento da desigualdade social. ples e inegável existência, aliada ao em branco, esquecido em alguma Como? Enquanto a maioria dos ho- reconhecimento de que somos to- memória nostálgica profunda, mas, mossexuais da classe média e alta dos seres humanos iguais. Vamos para outros, em especial aqueles que podem de alguma maneira exercer resumir; os homossexuais existem, se destacam na diferença, só resta sua afetividade e sexualidade dentro e eles têm o direito de não serem um pensamento negativo. do chamado mercado “pink”: nas punidos, recriminados, oprimidos Algo que, com certeza afeta a boates, na Farme com seus restau- de nenhuma forma em nenhuma entrada dessas pessoas na faculdade rantes caros, em cruzeiros e viagens situação, assim como qualquer ser é a naturalização de diversas formas gays e em todos os estabelecimentos humano. Se tanto ouvimos que a de preconceito, como machismo e a “gay friendly”, a maior parte da po- UFRJ é a melhor do Brasil, que o homofobia, que acompanham a prá- pulação – pobre, negra – não pode Fundão é uma mina de excelência tica dos trotes do início ao fim. Se sequer “sair do armário”, e quando acadêmica, que iremos todos vingar fizermos uma análise rápida sobre saí vai a guetos, muito diferentes do como grandes médicos, peço então esses acontecimentos, veremos que que a classe média está acostumada. que agora parem e reflitam: que muitas vezes há uma confusão entre Observa-se isso fortemente no local opressões você perpetua? liberdade sexual e opressão sexual, de trabalho, em que o único posto Gostaríamos que todos enten- já que as mulheres são colocadas em reservado às travestis é a prostitui- dessem, não devemos sentir vergo- posição submissa e homossexuais ção, e gays e lésbicas, muitas vezes, nha pelo comportamento de nossos são alvos de constantes piadinhas. ocupam funções inferiores receben- colegas, o que devemos fazer é não Episódios lastimáveis dessas práti- do menores salários. Enquanto isso, permitir que, mesmo nas pequenas cas não faltam como o “rodeio das um pequeno setor da sociedade se ações, continuem fazendo mal se- gordas” realizado na USP. apropria do tema e ganha dinheiro, mestre a semestre àqueles que aden- Como o tema da homofobia muito dinheiro com isso, através do tram a faculdade! É por tudo isso tem sido levantado recentemente, mercado e das paradas gays, que que hoje o CACC defende: “Não convido-os para uma breve reflexão sofrem uma despolitização e uma existe educação melhor que não sobre esse comportamento. Primei- mercantilização brutal. combata a homofobia!” ro, é importante entender que du- Além disso, todos os dias pes- rante a sua história – sim, sempre soas são agredidas e assassinadas 1 A distribuição normal ou de Gauss é uma existiram homossexuais – os gays por terem uma outra orientação distribuição da estatística. Nela, atribui-se foram compreendidos como um sexual. Este ano, as estimativas mos- média, e a partir dessa há uma maioria cen- desvio, um erro, sendo chamados tram que uma pessoa LGBT é assas- tral, como ‘distribuição normal’, e uma mino- frequentemente de imorais, pecado- sinada a cada 36hs no Brasil. Uma ria periférica com ‘desvio-padrão’. res e pervertidos. Atualmente, essa violência que está enraizada no seio lógica se reproduz até mesmo em da sociedade e que não podemos Gabriel Marinho (M4) sala de aula, quando somos obriga- mais permitir. Isis Altgott (M10) http://www.medicinaufrj.com cacc@medicinaufrj.com Segundo semestre de 2011 5
  • 6. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ Parabéns entulho pelos 9 meses de vida! No dia 19 de dezembro de Em maio, surgiram boatos certo, esta não será curta. É por isso 2010 ele nasceu, era uma manhã que nosso titânico colega seria re- que, convoco todos agora a levantar límpida e muito bonita. Como se movido do seu lugar de origem as mãos aos céus e agradecer pelo tratava de um filho planejado foi pela Cruz Vermelha, logo vimos nosso pequeno grande milagre de tudo muito rápido, algum choro no que havia algo de errado. Afinal, manter tal estrutura por tanto tem- início – era quase uma ambulância como poderia uma instituição bem po, parabéns Reitoria! Comemore de tanto que gritava –, mas logo capacitada que atua/atuou em dife- conosco! tudo era fumaça, e ele surgira. Pa- rentes desastres mundiais, que tem recia uma obra de arte, de tão belo, princípios tão nobres e bem-vindos No dia 19 de agosto, com o ani- monolítico e poderoso, seu futuro na nossa universidade, atrever-se a versário do entulho, o CACC, com prometia. removê-lo. Sem dúvida, ao se depa- o DCE, realizou uma manifestação Largando de mão a nostalgia, rar com a figura tão carismática que na forma de Ato-Festa, que contou o que nos dá mais prazer, hoje, é é nosso companheiro não tiveram com centenas de participantes, pe- observarmos o crescimento de nos- coragem de prosseguir. Bem, aqui dindo a retirada imediata do entu- so filho, se desenvolvendo, abrigan- fica o pedido para a Cruz Verme- lho, a seguinte carta foi também foi do toda sorte de fauna e bolores, se lha; não se engane, nós amamos o entregue no mesmo dia na posse do tornando um microcosmo de rica entulhinho e queremos que ele fi- diretor da faculdade de medicina. diversidade manancial – urubus, que bem aí. O entulho foi leiloado, – pelo valor ratos, cobras, etc. É sem dúvida um Hoje, escrevo essa carta para irrisório de R$1,00 – e sua retirada lugar de bem-estar e saúde, que ain- comemorar o 9º aniversário mensal começou fora dos prazos, mas está da ousa ser ecologicamente correto. do nosso querido companheiro e se dando de forma regular. Atenta- É por isso que acreditamos em sua desejar-lhe uma longa vida e mui- mos que enquanto não houver mais valorização e lutaremos com todas to sucesso em sua empreitada em entulho devemos ficar atentos e con- as forças para a sua manutenção. nossa universidade, e, se tudo der tinuar exigindo sua retirada. Nota de Indignação à Negligência da Reitoria e da Prefeitura da UFRJ em relação ao Entulho do HUCFF No final de dezembro de 2010, remanescente. Não bastasse isso, por completará 8 meses de existência, devido a uma situação emergencial muitos meses o entulho se manteve no dado esse contexto, temos uma per- – abalo na estrutura do prédio, fru- mesmo local, sem que nenhuma solu- gunta: Como podemos acreditar que, to da falta de manutenção do espaço ção fosse apresentada à comunidade aqueles que devem prezar por educa- –, a parte inutilizada do HUCFF foi acadêmica. Em abril de 2011, recebe- ção e saúde, vão nos oferecer um novo demolida a fim de preservar a porção mos a informação, através do site da hospital de ensino, se o local destina- útil de nosso hospital. Embora reco- universidade, que esta teria feito um do à sua construção continua destru- nheçamos o planejamento absurdo acordo com a Cruz Vermelha para ído, obstruído e somente causando que isso representa, pulverizando a retirada do material, e que isso se problemas? toneladas de investimento público daria em menos de 6 meses. Estamos Então, como representantes dos em poucos segundos, todos tínhamos em agosto, passados mais de 5 meses, alunos da UFRJ, o CACC, em con- o sentimento de que era uma ação ninguém se prontificou a começar a junto com o DCE, decidiu dizer um inevitável e que traria muito mais retirada, o que nos leva a crer que ela basta. Um basta à negligência da benefícios que malefícios à comuni- não ocorrerá em breve. reitoria e da prefeitura, que nos tra- dade universitária. A promessa da Os problemas que o entulho ta – alunos, funcionários e usuários construção de um novo hospital, mais gera ficam cada vez mais claros, há – como lixo, nos mantendo em meio moderno, em menor escala, melhor relatos de animais percorrendo o local ao entulho com um hospital em pés- preparado para o atendimento de e de focos de doenças infecciosas, que simas condições para a assistência à alta complexidade, significaria não evidenciam a insalubridade presen- saúde. menos que uma oportunidade de re- te – lembrando que estamos lidando Portanto, exigimos da recém- ver e refazer o como pensamos saúde com um hospital. Além disso, a pró- eleita reitoria uma resposta, através e que tipo de universidade estamos pria estrutura atrai pessoas que che- de licitação ou doação pública, para querendo construir. gam aos destroços com o objetivo de esse problema: A necessidade da reti- Porém, pouco sabíamos. Duran- coletar material para revender, o que rada imediata do entulho! te o planejamento para a demolição se soma às questões de segurança que do prédio, não foi incluído o inves- persistem no campus do fundão. Centro Acadêmico Carlos timento para a retirada do entulho No dia 19 de agosto o entulho Chagas (CACC) 6 Segundo semestre de 2011 cacc@medicinaufrj.com http://www.medicinaufrj.com
  • 7. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ coluna cultural Filmes Caros futuros colegas de profissão: gos- taria de vos apresentar nessa coluna um es- critor que considero essencial para o desen- volvimento da capacidade de observação da alma humana, atributo que tem especial im- portância no exercício da Arte da Medicina. O escritor russo Fiódor Mikháilovitch Dostoievski (1821-1881) assusta e fascina lei- tores há mais de um século. Assusta os menos chegados a livros espessos pois os grandes ro- mances do escritor o são em duas acepções: grandiosos e com elevado número de pági- nas. Já em relação à fascinação, podemos pas- sar infinitas páginas dissertando a respeito. Seu estilo chiaroscuro, definido como Realismo Psicológico (tal qual nosso titâni- co Machado de Assis) não se limita a escolas literárias. Sua literatura aborda o homem de Taxi Driver (1976) Bonequinha de Luxo (1961) seu tempo e trata de sua problemática social (Miséria material e moral, crime, prostitui- Quatro indicações ao Oscar. Dois Oscar: trilha sonora e ção), ideológica (niilismo, ateísmo, suicídio), música. psicológica (sonhos, delírios, obsessão, lou- Diretor: Martin Scorsese. Touro cura) e até patologias (tuberculose, epilepsia, Indomável (1980), Gangues de Diretor: Blake Edwards. Victor febres). Quanto à questão das patologias, a Nova Iorque (2002), A ilha do ou Vitória? (1982) e A pantera tuberculose durante o século XIX na era pré- Medo (2010). cor de rosa (1978). antibiótica era uma doença temida, letal e as- sustadoramente comum, e é descrita de forma Sinopse: Jovem taxista de Nova Sinopse: Uma jovem socialite precisa nas obras de Dostoievski. O escritor York que vê em suas mãos a de Nova York se interessa por sofria de epilepsia, e retrata fielmente a do- possibilidade de atropelar toda um rapaz que muda para o seu ença em diversos personagens, como Smier- sujeira, sexo e violência de sua prédio. diakov (Os irmãos Karamazov), Michkin (O cidade. idiota), Múrin (A senhoria), Stavroguin (Os Porque assistir: Porque a Holly te demônios). Porque assistir: Porque a música encanta, porque até o gato te cha- A principal preocupação de Dostoievski te seduz, porque ela repete toda ma atenção, porque existe graça é desnudar a psique de cada personagem que hora no filme e faz você cantaro- mesmo na loucura alheia, porque cria, mostrando seus conflitos existenciais lá-la por um bom tempo. Porque não é um filme de mulherzi- e lutas interiores, coexistência de bondade e não é sempre que se vê Robert de nha, porque vale muito a pena sordidez no mesmo ser, aniquilando perspec- Niro abusando da interpretação, conhecer esse café da manha a la tivas maniqueístas típicas do Romantismo, abusando dos olhares, de cada Tiffany. pintando o fantástico da realidade através de fala, usando o personagem para personagens humanos – demasiado huma- te conduzir por toda uma Nova Repare: Na sociedade americana nos ­ a ponto de exercerem elevado poder – York. Porque não é sempre que se em seu way of live ao som de catártico sobre o leitor. vê uma mente ir se deformando Moon River. Dostoievski já prenuncia elementos da tão claramente num filme. psicanálise freudiana em praticamente todas Frase: “Faça um favor? Só me as suas obras, principalmente em Niétotchka Repare: No olhar no taxista leve para casa quano eu estiver Niezvanova (prenúncio do Complexo Edi- Travis que vai se transformando bêbada. Apenas quando eu esti- piano e das teorias acerca da sexualidade in- junto com sua mente. ver realmente bêbada.” fantil) e Memórias do subsolo (psicologia do inconsciente). Frase: “Está falando comigo? Está Os cinéfilos Para os que tiverem interesse na leitura falando comigo? Está falando Convidamos todos para o do escritor, recomendo fortemente os livros comigo? Então com quem diabos da Editora 34, da Coleção Leste, que possuem você está falando? Está falando CINE-CACC! Toda Terça-Feira às 16h30 as melhores traduções e notas de rodapé. de mim? Pois eu sou a única pes- A programação se encontra no soa aqui. Com quem você pensa mural do CA do CCS! Carolina M. de Oliveira (M4) que está falando?” http://www.medicinaufrj.com cacc@medicinaufrj.com Segundo semestre de 2011 7
  • 8. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ “produzindo”. A Bula Entrevista E aqueles que hoje não “pro- duzem” mais, os aposentados, tam- E a greve dos servidores? bém estão com seu futuro em risco. A aposentadoria do funcionalismo Texto baseado em entrevista com Fábio Marinho, Funcionário da passa à previdência privada a partir UFRJ e participante do Comando de Greve da Categoria. da Reforma da Previdência realiza- da em 2003, pelo governo Lula, e Quando eu me formar gostaria futuros, como nós. hoje no limitante PL 1992/07 que de prestar um concurso público, ter Ao perguntar da pauta de está pra ser aprovado. Cria mais um bom salário, ter uma aposenta- reivindicações, Fábio aponta: “Há desigualdade entre homens e mu- doria integral e ter direito de falar várias reivindicações que pra vocês lheres, passando a considerar a e me organizar caso eu e meus co- fica difícil de entender pois são mui- aposentadoria por tempo de servi- legas estejam sendo prejudicados. to específicas (do próprio funcio- ço (que é determinado pelo gêne- Mas temo que este pequeno sonho, nalismo), mas as questões centrais ro) fazendo com que as mulheres que meus pais por exemplo tive- pra vocês são o congelamento no recebam uma aposentadoria me- ram o privilégio de vivenciar (ain- investimento no serviço público (PL nor que a dos homens. Além disso, da que em parte), esteja gravemente 549/09), a previdência complemen- retira a integralidade da aposenta- ameaçado. - privilégio este fruto de tar (Pl 1992/07) e a demissão por doria, comprometendo a vida dos/ muitas lutas ao longo de nossa his- “insuficiência” (PL 248/98), projetos as aposentados/as. tória (esses singelos direitos), e hoje que tramitam hoje em caráter de ur- Há ainda outro ponto impor- são gastos aparentemente supérfluos gência no Congresso.” Ele me expli- tante: Fábio coloca a questão da no nosso país e no mundo. ca cada uma delas. privatização dos Hospitais Univer- Digo isso após procurar en- O PL 549/09 está nos termos sitários com o PL 1749/11 (reedi- tender porque os técnico-adminis- da Lei de Responsabilidade Fiscal e ção da MP 520, decreto aprovado trativos da UFRJ e de tantas outras impede no âmbito de todo o fun- por Lula no seu último dia de man- universidades e serviços públicos cionalismo público (dos três po- dato e que perdeu o prazo pra ser estão se mobilizando e encontram- deres, nas três esferas do governo) aprovado). A criação da empresa se há quase dois meses em greve. qualquer aumento dos “gastos” por brasileira de serviços hospitalares Para isso, discutimos no CACC a 10 anos (isso inclui obras, infra- (EBSERH), que ao lado de diversos questão e pude acompanhar uma estrutura, reformas e folha de pa- outros projetos privatistas da saú- reunião do Comando Local de gamento). Nossas universidades de, acaba com o sistema RJU (Re- Greve e uma das Assembleias que estarão limitadas a um desenvolvi- gime Jurídico Único) transforman- votou pela manutenção da greve mento cada vez mais precarizado e do todos/as os/as trabalhadores/as num momento delicado, o qual condições de trabalho muito pio- dos hospitais universitários em ce- colocarei mais a frente. Além disso res. A abertura de concursos pú- letistas (ou seja, sem estabilidade, fui conversar com o técnico-admi- blicos será impossível, assim como sem autonomia, com previdência nistrativo Fábio Marinho, que vem aumentos e até reajustes salariais. privada, etc etc etc). construindo a luta na UFRJ junto Isso significa, segundo Fábio, o Ao acompanhar as reuniões com outros trabalhadores da nossa congelamento dos salários e de dos trabalhadores em greve surgi- universidade. Ele me contou que a qualquer reajuste salarial, ou seja, ram ainda algumas questões. Na FASUBRA (Federação de Sindica- se a economia crescer o salário não assembleia do dia 14 de junho, que tos de Trabalhadores em Educação cresce. E se o PIB tiver resultado estive presente, havia uma questão das Universidade Brasileiras) deci- negativo, os salários ficam compro- delicada pra resolver. O Coman- diu pela greve no dia 06 de junho, metidos. do Nacional de Greve (CNG) que e a UFRJ entrou no dia 14. Só que Outra questão é a estabilidade reúne os sindicatos das universi- a greve não começou em junho, do serviço público que será troca- dades em greve havia tirado um nem mesmo este ano. Fábio conta da por cumprimento de metas de indicativo de sair da greve. Mas que a categoria negocia o reajuste desempenho, um desempenho na na verdade isso não era um reflexo salarial e correção nas distorções lógica empresarial e que possibi- do movimento nas universidades. da carreira desde 2007, última gre- lita perseguições políticas, tanto A direção de ainda grande parte ve, mas que no entanto só garantiu no que tange ao próprio direito dos sindicatos das universidades um reajuste parcelado, ou seja, a de organização dos trabalhadores compõe a CUT (Central Única dos perda salarial foi corrigida paulati- quanto à autonomia dos mesmos Trabalhadores), e esta Central tem namente até 2010 e hoje o funcio- no seu trabalho. Fábio avalia que hoje como principal estratégia de nalismo público encontra ainda vá- os trabalhadores em greve hoje, se mobilização a negociação com o rios projetos de lei que prejudicam esta lei estivesse já em vigor, esta- Governo. Negociação é uma coi- diretamente a carreira dos atuais riam com seus postos de trabalho sa boa, e o movimento hoje vem servidores públicos e também dos abalados, visto que não estariam lutando pra negociar com o go- 8 Segundo semestre de 2011 cacc@medicinaufrj.com http://www.medicinaufrj.com
  • 9. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ verno e obter conquistas nas suas além de não negociar, o governo tismo e evasão escolar esdrúxulas. condições de trabalho. Mas o que ainda mantem uma chantagem com E o mais considerável disso tudo, é há de mal nesses dirigentes então? os movimentos sociais em luta co- que 2/3 das metas do PNE de 2001- Na Assembleia que participei ficou locando que não negocia com quem 2010 sequer foram cumpridas, já se bem claro pra mim. Enquanto os está em greve. Ameaça ainda que há previa 7% do PIB, foram alcançados trabalhadores em geral queriam se um prazo, tentando agilizar a saída apenas 4%, e o governo ainda pro- manter na greve, os dirigentes do da greve, mesmo com mãos vazias. mete a mesma meta para mais algu- Sintufrj tinham acabado de voltar Este prazo estaria definido pela vo- mas gerações a nossa frente... da reunião do CNG e votado contra tação no Congresso do orçamento Hoje, se ficarmos de braços a decisão da maioria (que tinha de- de 2012, que será realizada no final cruzados esperando a roda viva cidido manter a greve na assembleia do mês de agosto. A argumentação girar, minha melhor perspectiva é anterior) e queriam suspender mais do governo é que não há verba para ter dois ou três empregos celetis- uma vez naquela reunião que lotou atender as reivindicações de todos tas, com uma previdência privada e o auditório Quinhentão com o argu- os trabalhadores em greve. Mas a com minha liberdade limitada pela mento de que era preciso negociar grande questão é a prioridade do demissão imotivada. Caso os traba- com o governo. De fato, os trabalha- governo. Enquanto se paga 49,15% lhadores não permaneçam na luta, dores querem negociar, senão não do orçamento federal pra dívida como a greve que acontece na UFRJ fariam greve. Mas qual era e qual pública (ou seja, pros banqueiros e outras dezenas de universidades é a perspectiva de negociação com e empresários), 2,92 % é investido federais, nossas universidades esta- o governo? Pouca, muito pouca. O em educação e 3,53% em saúde. E rão limitadas a um desenvolvimen- sindicato está na mesa de negocia- o novo Plano Nacional de Educa- to cada vez mais precarizado e con- ção desde março, em que antes da ção ainda prevê apenas 7% do PIB dições de trabalho muito piores. Por entrada na greve já haviam ocorrido para a educação, como meta para isso apoiamos a luta dos servidores 4 reuniões de “negociação”. Mas em só 2020, além de manter políticas e também nós não podemos nos nenhuma delas nada foi apresenta- de financiamento ao ensino privado furtar de lutar contra todas essas do ao movimento. Nem mesmo as (sustentando os grandes empresá- medidas que comprometem nosso pautas das “antigas” reivindicações rios da educação) e um descaso com futuro. de 2007. Por isso mesmo o movi- a população mais marginalizada, mento decidiu pela greve. E agora, com metas de combate ao analfabe- Isis Altgott (M10) Os desafios do PEM Introdução Mudanças no M1 a Caminho articulado aos conteúdos de discipli- nas do básico e outro muito ligado a O Programa de Educação Mé- Embora tenha sido criado ba- aspectos da clínica e que podem ser dica (PEM) teve início em 2008, sicamente para adequar o currículo trabalhados no ciclo profissional. principalmente a partir da urgência ao aumento do internato, o Progra- Sobre a anatomia, uma professora apresentada pelo MEC de que todas ma de Educação Médica (PEM) tem da ginecologia apontou quais con- as escolas médicas brasileiras pas- potencial para encaminhar soluções teúdos normalmente precisam ser sem a ter 2 anos de internato, e não para algumas de nossas demandas. retomados na sua disciplina, no apenas 1 ano e meio como na UFRJ. O texto aponta alguns de seus avan- M9, porque os alunos em geral já Isso significa que os conteúdos antes ços, entraves e perspectivas. esqueceram. Criaram-se propostas ministrados em 4 anos e meio terão de inclusão, como a inserção pre- um semestre a menos, gerando uma Conteúdos coce na atenção primária à saúde. dificuldade com a distribuição da Houve recentemente uma oficina carga horária. Nas primeiras reuni- Foi considerada necessária a que levantou questões orientadoras ões que discutiriam o M1 já foi con- contribuição de docentes da área para os professores identificarem os senso a necessidade de redimensio- clínica sobre os conteúdos essenciais conteúdos essenciais. nar e integrar os conteúdos, isso já e professores como Gil Salles, Ricar- trouxe alguma espectativa de trazer do Amorim, Maria Lúcia Pimentel Formato mudanças significativas em nosso e Lúcia Azevedo, do departamento currículo, que sabemos ter muitos de clínica médica, se integraram. Surgiram duas propostas cen- problemas. Como todos sabem, a Houve apontamentos específicos de trais: a do prof. Manoel, seria se- maior quantidade de superposições algumas disciplinas que podem ser- quencial e hierarquizada de acordo de conteúdos ocorre entre a biologia vir como experiência e exemplo. Em com a crescente complexidade da celular, a bioquímica e a biofísica. bioquímica foram identificados dois estrutura estudada; a do prof. Cris- grupos de conteúdos: um bastante tiano, semelhante aos Programas http://www.medicinaufrj.com cacc@medicinaufrj.com Segundo semestre de 2011 9
  • 10. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ Curriculares Interdepartamentais norteadores dessa integração, que desestimulante ou excessivamente (PCIs), com a abordagem em para- julgamos importantes para expandí- exigente. Mas o quanto estamos des- lelo dos conteúdos comuns das dis- la a todas as disciplinas. perdiçando de oportunidade? ciplinas. Na tentativa de fundi-las, o No dia 09/08, após mais de um Além disso, o método cientí- prof. Manoel se comprometeu em ano de reuniões, foi apresentada fico com que temos (um precário) organizar os conteúdos de bioquí- uma proposta-síntese das discus- contato é aquele originado a partir mica, biofísica e biologia molecular sões sobre o M1. Nas duas primeiras do pensamento de Descartes, com a em uma sequência e o prof. Cristiano semanas letivas haverá aulas sobre dúvida sistemática e decomposição ficou de organizar os conteúdos de “moléculas da vida”. O M1 terá três do problema em pequenas partes. histologia, anatomia e embriologia a PCIs: da célula (bioquímica, biologia Ele representou um grande avanço partir dos cinco processos celulares celular, biologia molecular, anatomia, em relação à produção de conheci- básicos presentes na morfogênese e histologia, embriologia e genética), mentos prévia e ainda possui enorme esboçar um PCI. hemolinfopoiético (bioquímica, his- validade nas ciências biológicas. No Houve propostas menores: “áre- tologia, imunologia e embriologia) e entanto, muito do conhecimento em as verdes” - momentos para os alunos tegumentar (histologia, embriologia saúde é transversal a várias áreas do poderem se dedicar a atividades como e bioquímica). Será acrescida a disci- conhecimento, inclusive das ciências estudo em grupo ou independente; plina Atenção Primária à Saúde. Foi humanas, que possuem outros méto- espaço para atividades práticas e es- apontado o norte de diversificar as dos de formulação. É importante que tudos dirigidos; discutir a avaliação atividades e estimular a busca ativa essa discussão seja introduzida nos (sem avanços); aulas teóricas para a do conhecimento pelo aluno. Obser- PINCs, sobretudo naqueles que não turma toda e divisão para as demais vamos na proposta um esforço para são da área básica (clínicos, de epide- atividades (já acontece em algumas romper fronteiras entre as áreas do miologia, de educação médica...). disciplinas, como o PCI de urinário); conhecimento, mas lembramos que Membros do CACC colocaram pós-graduandos atuando como tuto- uma integração efetiva exige superar na reunião em que houve aponta- res/monitores nos grupos. A última o caráter meramente paralelo das au- mentos sobre pesquisa a urgência de proposta reforça a demanda de co- las dessas áreas. Nos PCIs que temos se atualizar a divulgação das oportu- brarmos que todos os envolvidos nas hoje, cada área tem suas aulas e inclu- nidades de PINC, que em sua maio- atividades estejam cientes do projeto sive suas provas próprias, com poucas ria dependem da busca particular político-pedagógico, combatendo a iniciativas de transmissão e avaliação dos alunos e passam desapercebidos fragmentação do conhecimento. do conhecimento que nos preparem pela maioria. Foi lembrada a expe- Algumas disciplinas se expuse- para a dura realidade: o paciente não riência dos mini-cursos de bioquí- ram mais, como bioquímica e genéti- é dividido em gavetinhas. mica no fim do período, em que são ca. O prof. Amílcar se comprometeu apresentadas as linhas de pesquisa. em remover as sobreposições do pro- Pesquisa, Método Centífico e PINC Os alunos, porém, apontaram que a grama de genética do M2 (ainda há concentração dos mini-cursos no fi- sobreposição de genética com biofísi- Foi manifestada em uma reu- nal do período - momento em que há ca) e afirmou que os conteúdos pode- nião do Programa de Educação Mé- várias provas, seminários e afins - os rão se incorporar a bioquímica e bio- dica (PEM) a preocupação que os tornaram pouco atrativos diante das logia celular no M1. As atividades da alunos aprendam a trabalhar com várias outras responsabilidades. bioquímica ainda são pouco diversas: método científico e utilizar bases de raras atividades práticas (como o tra- dados. Achamos que é preciso avan- Próximos Passos do PEM balho com estrutura de proteínas no çar nessa discussão. Como seria mais bloco 1) e uma bateria de aulas expo- proveitoso para os alunos se, em to- Após uma focalização na M1, os sitivas e EDs. No entanto, os blocos dos os PINCs que participassem, lhes docentes sentiram falta de algo que já 2, 3 e 4 vêm avançando na integração fosse garantido um panorama das li- vinha sendo apontado pela gestão do básico-clínico e foi criado no segundo nhas de pesquisa que seu laboratório CACC em reuniões e em conversas semestre de 2010 um bloco de pales- desenvolve e um contato permanente particulares com professores: a falta tras que abordaram, em geral, temas com a totalidade da linha de pesquisa de um projeto político-pedagógico relacionados com a clínica. Assim em que estivessem inseridos! É uma (PPP) claro e condizente com o mo- como as mudanças em genética, a perspectiva um pouco mais traba- mento em que vivemos. A partir de iniciativa conquistou muito pouco o lhosa para alunos e bem mais para os agora a prioridade será a discussão de alunado. Achamos que, em parte, por professores, mas tem chances de se exemplos de PPP escolas médicas do concorrer com diversas atividades de tornar realidade se contarmos com Brasil, de forma a embasar uma nova fim de período. Sugeriu-se como for- o apoio massivo daqueles que o CA síntese, agora de maior peso para o ma de integração que professores do representa. Entendemos que às vezes currículo como um todo: o projeto clínico coordenem a discussão de ca- é mais cômodo fazer um PINC “frau- político-pedagógico da FM-UFRJ. sos clínicos em disciplinas do básico. de”, ainda mais se houver a compen- Existem algumas iniciativas pontuais, sação através de uma bolsa, em meio André (M2) mas ainda não há princípios comuns a um currículo por vezes confuso, Ingrid Antunes (M9) 10 Segundo semestre de 2011 cacc@medicinaufrj.com http://www.medicinaufrj.com
  • 11. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ 1º Congresso da ANEL: O novo pede passagem Aconteceu na Universidade ritmo de crescimento da última Federal Rural do Rio de Janeiro, década demoraremos 59 anos para entre os dias 23 a 26 de junho o 1º chegar a 30% (que era a meta para Congresso da ANEL (Assembleia 2010). Para podermos comparar, a Nacional dos Estudantes – Livre). Argentina tem 40% dos jovens no A ANEL foi fundada em 2009 e ensino superior, e a Bolívia 20,6%. tinha como objetivo ser uma enti- Logo vemos que educação não dade alternativa à UNE, uma vez tem sido prioridade de nenhum de que esta esta que já foi tão impor- nossos governantes. tante para o Brasil hoje só defende Mas para além de apontar os interesses do governo e esquece os problemas existentes, também dos estudantes. A ideia é construir foram pensadas ações para lutar um movimento estudantil diferen- por melhorias. Por isso foi tira- te, que seja próximo de cada estu- do no Congresso à realização de dantes, onde haja democracia para uma jornada de luta em defesa de que todos possam se expressar e 10% do PIB para a educação, que que seja independente politica- acontecerá entre os dias 17 a 24 de Cartaz/Adesivo da campanha do financeiramente de governos e agosto, que terminará com uma 1º Congresso da Anel 2011 reitorias. grande marcha a Brasília, para fa- Durante 4 dias cerca de 1.700 zer essa exigência diretamente ao nas chopadas, em “brincadeiras estudantes de todo o Brasil discu- governo. Também será iniciada inofensivas” que acabam por criar tiram de maneira muito viva quais uma campanha por mais verbas um pano de fundo ideológico para os problemas que enfrentamos no para a saúde pública e contra as a legitimação da violência e segre- dia-a-dia das salas de aula, quais as ameaças de privatização que esta gação. Por conta disso a ANEL se soluções para enfrentá-los e como sofre hoje. coloca na linha de frente no com- o movimento estudantil deve se Outro ponto interessante do bate as opressões e dará uma bata- organizar para isso. Logo de cara congresso foi chegarmos à conclu- lha contra isso em cada local em dava pra perceber que os mesmos são de que as lutas estudantis não que atua. problemas se repetem em cada estão isoladas da busca por outra Por fim, aqueles que foram ao canto deste país. Falta de assis- forma de se pensar a sociedade, congresso puderam presenciar que tência estudantil (poucas bolsas, para que esta seja menos desigual ao contrário do que tentam nos bandejões insuficientes, etc), bi- e com amplas oportunidades a dizer todos os dias o movimento bliotecas defasadas, infraestrutura todos, e que assim torna-se ne- estudantil não desapareceu. Ele precária, Hospitais Universitários cessário apoiar as lutas dos traba- segue e está se fortalecendo mui- com poucos insumos, leitos vazios, lhadores por melhores salários e to. Demos um passo importante ameaça de privatização, entre ou- condições de trabalho, sejam dos na superação dos problemas que tros problemas, evidenciaram que bombeiros do Rio de Janeiro ou temos que se expressava bastante existe um problema crônico de fal- os professores do ensino básico de na ausência de uma entidade na- ta de verba para a educação. Muito todo o Brasil. cional que defendesse as reivindi- também foi discutido sobre como O Congresso também foi cações dos estudantes, no entanto os governos não tem feito nada marcado por uma forte luta con- ainda temos muito o que fazer. para mudar essa situação. Durante tra toda a forma de opressão. Ao Agora temos que garantir que as todo o governo Lula, por exemplo, contrário da propaganda oficial, resoluções e campanhas tiradas o investimento em educação ficou o Brasil não é um país de todos, e no Congresso sejam colocadas em sempre em torno de 4,5% do PIB o machismo, o racismo e a homo- prática. Àqueles que querem man- (bem diferente dos 7% prometidos fobia seguem se expressando com ter as coisas como estão para que durante a campanha eleitoral). No muita força, seja com as agressões possam tirar proveito disso temos inicio deste ano, o governo Dilma que são cotidianamente realiza- um recado a dar: saiam do nosso cortou 3,1 bilhões de reais da pasta das seja com salários mais baixos caminho, pois o novo pede passa- de educação. O número de jovens que recebem esses setores. Infeliz- gem. no ensino superior ainda é muito mente isso também se reflete nas baixo (14,4%). Se mantivermos o escolas e universidades, nos trotes, Gustavo Treistman (M10) http://www.medicinaufrj.com cacc@medicinaufrj.com Segundo semestre de 2011 11
  • 12. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ Estou condenado a um consultório? A pedido do jornal A Bula, fui musicais” nas enfermarias com os Social1, fundar uma companhia que convidado a escrever sobre algu- pacientes escondido dos olhares de trabalha com saúde, seja visando mas opções alternativas ao lugar- reprovação da galera do 9D. Isso me ao lucro como à uma visando so- comum do médico na sociedade. permitiu ter uma visão de mundo cial – de preferência ambos, como Durante a faculdade, escutamos ex- que se estendia além dos papéis re- é o caso das B-Corps, L3C’s e outras plicitamente ou implicitamente que ducionistas geralmente impostos, corporações com uma nova concep- vamos trabalhar em um cenário de assim como levantar perguntas in- ção de impacto social e financeiro, o hospital, clínica, consultório do pai, teressantes, como por exemplo por- médico pode escrever projetos que dando milhares de plantões e a vida quê não lemos Paulo Freire durante misturam arte e saúde, cinema e de repente se passa inteiramente a nossa formação, mas aprendemos literatura, e tentar que tais projetos dentro de um prédio onde entra- a constituição bioquímica dos cál- sejam implementados pelo Progra- mos pela manhã e saímos à noite, culos renais (Hidroxiapatita e etc)? ma de Saúde da Família no SUS. O cansados e esperando tudo começar Se você não acha isso estranho, caro médico pode trabalhar na fronteira novamente. leitor, ou se realmente concorda que dos direitos humanos ou com os Mas não é só isso. Não precisa é mais importante saber tal infor- Millenium Development Goals das ser só isso. O médico possui, e isso é mação do que discutir Paulo Freire, Nações Unidas, como consultor ou algo que senti aqui em Nova Iorque cuidado: você está no caminho para advisor. Organização Mundial de como no Brasil, um respeito e ad- se tornar alguém extremamente de- Saúde, Organização Pan-America miração sem igual. Sua experiência sinteressante e incapaz de enxergar de Saúde, o medico pode tudo pois é muito valorizada, sua voz levada possibilidades além do lugar co- suas qualificações são muito deseja- acima de tantas outras na hora de mum. das. Tudo vai depender da sua visão importantes decisões. Mas para Em 9 meses de New York Uni- de mundo, quais são seus sonhos, ilustrar meu ponto, permita-me versity, escutei o nome de Paulo se eles se estendem além de você ou contar um pouco da história que Freire dezenas de vezes e menção se contentam com o famoso nascer hoje me traz ao jornal dos estudan- ao “Pedagogia do Oprimido” outras crescer casar reproduzir e morrer. tes de medicina. tantas... na UFRJ nenhuma, exceto Isso são só algumas possibilida- des que vão além do lugar-comum. Existem tantas outras possíveis, que fica até engraçado pensar que a medicina se reduz ao consultório, ao Samaritano ou a botar botox em gente rica. Saúde é um campo fasci- nante e amplo, pois os determinan- tes de saúde e doença são de mesma natureza, passando por decisões de estado, pela economia local e ma- cro, por educação, por informação e inclusão, por dignidade humana; besteira achar que saúde não possui raízes fortes no contexto social que nos circunda. Shakespeare escreveu que nós somos do tamanho dos nossos sonhos, e nessa perspectiva a Durante a faculdade inteira, nos corredores do NUTES onde es- pergunta se torna qual é o tamanho nunca me encaixei muito bem nos perança ainda resta! das suas aspirações. O que o médi- estereótipos médicos, não dava mo- Mas deixemos tal assunto para co pode fazer além do consultório? nitoria, resisti bravamente à força outras cartas; voltemos ao tema de - mudar o mundo. bitolante e biologizante do currícu- interesse, qual mundo existe para lo, nunca vi um episódio completo o médico além do carimbo, e mais Alexandre Carvalho, M.D. de House ou de outras séries médi- importante, além dos papéis espera- cas (chatíssimo, que me desculpem dos? Só para começar, o médico que 1 (ver Bill Drayton e seu Echoing Green os fãs); preferia a companhia de li- tem idéias criativas para promover http://www.echoinggreen.org ou mes- bertinos literários, via filmes esqui- mudanças sistêmicas e sustentáveis, mo o Acumen Fund http://www.acu- sitos, minha poesia fluía sem parar, escaláveis e replicáveis pode entrar menfund.org) ficava até as 20h fazendo “rounds no mundo do Empreendedorismo 12 Segundo semestre de 2011 cacc@medicinaufrj.com http://www.medicinaufrj.com
  • 13. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ intenso que dá pra pegar no ar. coluna do Aluno Aquelas tias, meio gordas, sebentas, que ficam resmungando baixinho, Supervia, superlegal só esperando a oportunidade de arranjar um barraco por qualquer coisa. Eu tenho medo. Atualmente não pode mais, por lei, ter culto no trem. Mas an- tigamente era complicado. Não vou entrar nesse assunto. Agora, o comércio. Aaaaah, o comércio. É lindo, faz inveja a qual- quer Wall Street. É ali que o capita- lismo selvagem acontece. É ali que a magia da economia tem lugar. É ali que cê pode conseguir um latão de Antártica, uma caneta-calendário, um isqueiro-lanterna ou um picolé Moleca de goiaba, leite condensado, limão ou maracujá. E o poder aqui- sitivo, hein? Rapaz, com R$ 1.00, sim, um simples real, você é rei. Dá Trem da Supervia lotado: Créditos de http://emptyencore.wordpress.com/ pra comprar uns 3 amendoins, 2 pa- çocas, 23 balas Juquinha, uma esco- Não sei quantos de vocês que tive o prazer de pegar um trem, mas va de dente, um cinto, e um Super estão lendo isso andam de trem no imagino que o primeiro pensamen- Bonder falso. Cara, eu ainda não sei Rio de Janeiro. Mas aqueles que an- to de todo mundo é de que aquilo o que não se vende no trem. Tem dam sabem que é uma experiência vai desmontar. A segunda coisa em desde fantoche até chave de fenda, única. que se pensa é na família, nos filhos, desde pomada-cura-tudo até ioiô. Obviamente não é “única” no nas coisas boas da vida, e em tudo Tem tudo mesmo. sentido de “uma vez só na vida in- mais que parece que você tá deixan- Agora completando, a essência teira”, e sim no sentido de “não exis- do pra trás quando entra no vagão. do trem é que ele é a cara do subúr- te nada igual”. Antes fosse, né. Tudo, eu disse TUDO num trem foi bio. Sim, se tem um ramal da Su- Rapaz, andar de trem pode ter especialmente construído pra ba- pervia próximo de você, parabéns, várias vantagens, eu até moro mui- lançar e fazer barulho. você é suburbano, que legal. Aquilo to próximo a uma estação, pra mim Deixando de lado a parte es- cheira a malandragem suburbana. É é uma mão na roda, mas cacete, é trutural, o que há de mais interes- a lei do mais esperto, sabe como é. uma coisa cheia de... peculiaridades. sante no trem é uma questão cultu- Uma vez eu tava andando na esta- O trem não é só um transporte. Não ral. Aliás, mais que cultural, o trem ção depois de desembarcar, só que não, senhores. Não é só uma coisa é quase um ecossistema, sei lá. Pe- eu tava andando muito perto do que te leva pra lugares em troca do gando trem com regularidade você trem em movimento. Resultado? preço da passagem. É uma feira am- reconhece várias coisas bem, “inte- Tomei um tapão na cabeça de um bulante, é uma sauna sobre trilhos, ressantes”. desses caras pendurados na porta é uma apurrinhação automóvel, é Bem, eu sempre pego o trem (sim, o trem tem gente pendurada um pedacinho do subúrbio, que se na parte da tarde, ali, na hora do na porta, a era do surfista de trem mexe. rush. Pego o Japeri lotado, sem ar já passou). Eu realmente vacilei, até A alma do subúrbio carioca condicionado. Que tortura, cara. porque mesmo que eu tenha mora- treme com a passagem do trem. Chega a ser cômico. Eu gostaria de do na Baixada Fluminense minha E não é tremer de emoção não, é olhar pra minha expressão de der- vida toda, eu sou lerdo. Mas eu ri porque essa budega se treme toda rota nessas horas. Tá todo mundo na hora, levei na brincadeira, não mesmo. Ô trocinho bambo, parece suado, meio fedendo. Se você não doeu, e se eu estivesse de boné não um chocalho. Os vagões parecem sua, não tem problema, você pega o teria sido um tapa, e sim um furto. caminhões de gado. Aliás, o povo suor dos outros, porque a essa altura Porém, existem as coisas boas, que pega trem parece gado mesmo, você é obrigado a estar tão grudado o trem é relativamente rápido, não com aquela expressão bovina de nas pessoas, que seus espermatozói- pega engarrafamento (apesar de cansaço, se balançando junto com des (no meu caso, que sou homem) atrasar às vezes), e tem o vagão do os milhões de metais desgraçados achariam o caminho sozinhos para pagode, né. que fazem aquele barulho dos infer- uma fecundação feliz. nos. Não lembro a primeira vez que O mau humor no trem é tão Carlos (M8) http://www.medicinaufrj.com cacc@medicinaufrj.com Segundo semestre de 2011 13
  • 14. Ano I - Número 1 Jornal do CACC - Medicina UFRJ espaço para passatempos A C 1 B D 2 3 E F 4 H 5 G 12 I 6 Cynthia B. (M12) 7 J 8 11 9 13 10 1. Hipertrofia da pele perianal, geralmente em resposta a processo inflamatório crônico. 2. Cefalosporina de 1ª geração de uso parenteral. 3. Efeito adverso comum nos ARVs. 4. Lesão dermatológica inlfematória inespecífica. 5. (?) Nigricans: alteração dermatológica associada a resistência insulínica. 6. Vacina com microorganismos inativados que atua na imunização contra 3 difer- Carlos Latuff, latuff2.deviantart.com/ entes agentes. 7. Osso da pelve. 8. Ciclo das (?): via alternativa de oxidação da glicose 6-fosfato. 9. Estreitamento. 10. Hormônio secretado pelo tecido adiposo que atua na regulação da glicemia e no catabolismo de ácidos graxos. 11. Tríade de (?): associada à hipertensão intra-craniana. 12. Centro Acadêmico de Medicina da UFRJ. 13. Vírus da Imunodeficiência Humana. A. Leishmaniose visceral. B. Reflexo de (?): geralmente presente nos 1os anos de vida.. C. (?) mediana: “linha média”. D. Um dos ossos do tarso. E. Evacuação de fezes em locais inapropriados (Ex.: roupa), freqëntemente associado em crianças à constipação. F. Sinal de irritação meníngea. G. Cirurgia de Thal- (?): tratamento cirúrgico da acalásia. H. Síndrome de hipersecreção hormonal que pode ser causa se síndrome de Túnel www.humortadela.com.br do carpo. André Dahmer, www.malvados.com.br 14 Segundo semestre de 2011 cacc@medicinaufrj.com http://www.medicinaufrj.com