O documento discute a ensinabilidade e aprendizagem da filosofia. A filosofia pode ser ensinada se houver clareza sobre o que é filosofia e se o professor estiver atento a alguns alertas como o ato de filosofar, a história da filosofia e a criatividade. A aprendizagem da filosofia não segue métodos, mas o filósofo é um aprendiz constante em busca do saber. A especificidade da filosofia está no trabalho com conceitos por meio do pensamento conceitual, caráter
3. 1. da “ensinabilidade” da1. da “ensinabilidade” da
filosofiafilosofia
Sim, é possível. Mas devemos ter
clareza de que filosofia falamos.
E precisamos estar atentos a
alguns alertas...
4. 1. da “ensinabilidade” da1. da “ensinabilidade” da
filosofiafilosofia
Três alertas ao professor:
Atenção ao filosofar como
ato/processo;
Atenção à história da filosofia;
Atenção à criatividade: recusa da
tradição para emergência do novo
5. 1. da “ensinabilidade” da1. da “ensinabilidade” da
filosofiafilosofia
O filósofo espanhol Fernando Savater,
em As Perguntas da Vida, apresenta
quatro premissas sobre o ensino de
filosofia, às quais todo professor
precisa estar atento:
6. 1. da “ensinabilidade” da1. da “ensinabilidade” da
filosofiafilosofia
“primeira, que não existe ‘a’ filosofia,
mas ‘as’ filosofias e, sobretudo, o
filosofar (...) Há uma perspectiva
filosófica (em face da perspectiva
científica ou artística), mas felizmente
ela é multifacetada (...)”
Savater, As Perguntas da Vida
7. 1. da “ensinabilidade” da1. da “ensinabilidade” da
filosofiafilosofia
“segunda, que o estudo da filosofia não
é interessante porque a ela se
dedicaram talentos extraordinários
como Aristóteles ou Kant, mas esses
talentos nos interessam porque se
ocuparam dessas questões de amplo
alcance que são tão importantes
para nossa própria vida humana,
racional e civilizada (...)”
Savater, As Perguntas da Vida
8. 1. da “ensinabilidade” da1. da “ensinabilidade” da
filosofiafilosofia
“terceira, que até os melhores filósofos
disseram absurdos notórios e
cometeram erros graves. Quem mais
se arrisca a pensar fora dos caminhos
intelectualmente trilhados corre mais
riscos de se equivocar, e digo isso
como elogio e não como censura
(...)”
Savater, As Perguntas da Vida
9. 1. da “ensinabilidade” da1. da “ensinabilidade” da
filosofiafilosofia
“quarta, que em determinadas
questões extremamente gerais
aprender a perguntar bem também é
aprender a desconfiar das respostas
demasiado taxativas (...)”
Savater, As Perguntas da Vida
10. É possível aprender filosofia?É possível aprender filosofia?
Se nos pomos de acordo sobre
a possibilidade de ensinar
filosofia, então precisamos
perguntar: alguém aprende,
quando ensinamos?
11. 2. da “aprendizibilidade” da2. da “aprendizibilidade” da
filosofiafilosofia
Pode até haver métodos para
ensinar, mas não há métodos
para aprender.
O método é uma máquina de
controle, mas a aprendizagem
está para além de qualquer
controle.
12. 2. da “aprendizibilidade” da2. da “aprendizibilidade” da
filosofiafilosofia
“Nunca se sabe de antemão como alguém vai aprender –
que amores tornam alguém bom em Latim, por meio de
que encontros se é filósofo, em que dicionários se
aprende a pensar. Os limites das faculdades se
encaixam uns nos outros sob a forma quebrada daquilo
que traz e transmite a diferença. Não há método para
encontrar tesouros nem para aprender, mas um violento
adestramento, uma cultura ou paideia que percorre
inteiramente todo o indivíduo (um albino em que nasce
o ato de sentir na sensibilidade, um afásico em que
nasce a fala na linguagem, um acéfalo em que nasce o
pensar no pensamento).”
Gilles Deleuze, Diferença e Repetição
13. 2. da “aprendizibilidade” da2. da “aprendizibilidade” da
filosofiafilosofia
o filósofo é sempre um aprendiz. Está mais
para o rato no labirinto, que precisa
aprender a saída; está mais para o sujeito
de dentro da caverna, que descobre sua
condição e procura a saída, do que para o
sujeito já fora da caverna, que contempla o
verdadeiro saber (a Idéia).
14. 4. da “aprendizibilidade” da4. da “aprendizibilidade” da
filosofiafilosofia
“Aprender vem a ser tão-somente o intermediário entre
não-saber e saber, a passagem viva de um ao outro.
Pode-se dizer que aprender, afinal de contas, é uma
tarefa infinita, mas esta não deixa de ser rejeitada
para o lado das circunstâncias e da aquisição, posta
para fora da essência supostamente simples do
saber como inatismo, elemento a priori ou mesmo
Idéia reguladora. E, finalmente, a aprendizagem está,
antes de mais nada, do lado do rato no labirinto, ao
passo que o filósofo fora da caverna considera
somente o resultado – o saber – para dele extrair os
princípios transcendentais.”
Gilles Deleuze, Diferença e Repetição
15. 2. da “aprendizibilidade” da2. da “aprendizibilidade” da
filosofiafilosofia
o filósofo é um buscador;
busca tão intensamente que
às vezes chega a pensar que encontrou
aquilo que buscará sempre
(com a licença poética de Fernando Pessoa...)
17. 3. por que filosofia?3. por que filosofia?
podemos falar em 3 grandes
áreas do conhecimento
humano, fundamentais em
todo processo educativo:
as ciências;
as artes;
as filosofias
18. 3. por que filosofia?3. por que filosofia?
as ciências e as artes estão
garantidas nos currículos, mas
as filosofias nem sempre o
estão...
há uma especificidade da
filosofia que apenas ela pode
garantir na formação de
alguém
20. 4. a especificidade da4. a especificidade da
filosofiafilosofia
características da filosofia:
pensamento conceitual
caráter dialógico
crítica radical
21. 4. a especificidade da4. a especificidade da
filosofiafilosofia
o específico da filosofia é o
trabalho com o conceito;
podemos defini-la como a
atividade de criação de
conceitos
22. 4. a especificidade da4. a especificidade da
filosofiafilosofia
o conceito é uma forma
racional de equacionar um
problema ou problemas,
exprimindo uma visão
coerente do vivido
23. 4. a especificidade da4. a especificidade da
filosofiafilosofia
o conceito não é abstrato nem
transcendente, mas
imanente, uma vez que parte
necessariamente de
problemas experimentados
24. A aula de filosofia e oA aula de filosofia e o
trabalho com otrabalho com o
conceitoconceito
25. 5. Aula como oficina de5. Aula como oficina de
conceitosconceitos
pensando a filosofia como
atividade de criação de
conceitos, a aula de filosofia
deve ser como que uma
oficina de conceitos, onde
eles são experimentados,
criados, testados...
26. 5. Aula como oficina de5. Aula como oficina de
conceitosconceitos
Oficina de conceitos é experimentação:
“pensar é experimentar, mas a
experimentação é sempre o que se
está fazendo – o novo, o notável, o
interessante, que substituem a
aparência de verdade e que são
mais exigentes que ela.”
G. Deleuze & F. Guattari, O que é a filosofia?
27. 5. Aula como oficina de5. Aula como oficina de
conceitosconceitos
Etapas de trabalho numa
“oficina de conceitos”:
1.Sensibilização
2.Problematização
3.Investigação
4.Conceituação
28. 5. Aula como oficina de5. Aula como oficina de
conceitosconceitos
Sensibilização:
Trata-se de chamar a atenção
para o tema de trabalho,
criar uma empatia com ele,
isto é, fazer com que o
tema “afete” aos estudantes
29. 5. Aula como oficina de5. Aula como oficina de
conceitosconceitos
Problematização:
Trata-se de transformar o
tema em problema, isto é,
fazer com que ele suscite
em cada um o desejo de
buscar soluções
30. 5. Aula como oficina de5. Aula como oficina de
conceitosconceitos
Investigação:
Trata-se de buscar elementos
que permitam a solução do
problema. Uma investigação
filosófica busca os conceitos na
história da filosofia que podem
servir como ferramentas
31. 5. Aula como oficina de5. Aula como oficina de
conceitosconceitos
Conceituação:
Trata-se de recriar os
conceitos encontrados de
modo a equacionarem
nosso problema, ou mesmo
de criar novos conceitos
33. 6. a transversalidade da6. a transversalidade da
filosofiafilosofia
uma característica intrínseca da
filosofia é a transversalidade
a filosofia não se fecha em si
mesma, ensimesmada, mas
abre-se sempre a outrem, busca
a relação
ciências
filosofias
artes
34. 6. a transversalidade da6. a transversalidade da
filosofiafilosofia
não se cria conceito hoje, não se
produz filosofia, sem o recurso
da conexão com as artes e as
ciências. Embora sejam distintas
e independentes, elas se
retroalimentam e se fecundam
ciências
filosofias
artes
35. 6. a transversalidade da6. a transversalidade da
filosofiafilosofia
“O conceito não é paradigmático, mas
sintagmático; não é projetivo, mas conectivo;
não é hierárquico, mas vicinal; não é referente,
mas consistente. É forçoso, daí, que a filosofia, a
ciência e a arte não se organizem mais como os
níveis de uma mesma projeção e, mesmo, que
não se diferenciem a partir de uma matriz
comum, mas se coloquem ou se reconstituam
imediatamente numa independência respectiva,
uma divisão do trabalho que suscita entre elas
relações de conexão.”
G. Deleuze & F. Guattari, O que é a filosofia?
ciências
filosofias
artes
36. 6. a transversalidade da6. a transversalidade da
filosofiafilosofia
no entanto, no contexto de um
currículo disciplinar, a filosofia
não pode aparecer apenas
“transversalizada”;
sem a demarcação daquilo que
lhe é específico, não há
transversalidade possível...
ciências
filosofias
artes
37. 6. a transversalidade da6. a transversalidade da
filosofiafilosofia
Portanto, num currículo disciplinar
é importante que haja uma
disciplina de Filosofia, para
que ela possa contribuir de fato
com os Temas Transversais
ciências
filosofias
artes
38. A periculosidade daA periculosidade da
FilosofiaFilosofia
“Sabendo portá-la, toda
ferramenta é uma arma.”
Ani DiFranco
39. 7. a7. a periculosidadepericulosidade dada
filosofiafilosofia
“pensar suscita a indiferença geral. E
todavia não é falso dizer que é um
exercício perigoso. É somente
quando os perigos se tornam
evidentes que a indiferença cessa,
mas eles permanecem
freqüentemente escondidos, pouco
perceptíveis, inerentes à empresa.”
Deleuze e Guattari, O que é a Filosofia?
40. 7. a periculosidade da7. a periculosidade da
filosofiafilosofia
Não se ensina filosofia impunemente;
não se aprende filosofia
impunemente. A “oficina de
conceitos” é um local perigoso, de
onde podem brotar conceitos que
sejam ferramentas para mudar o
mundo