João da Cruz e Sousa nasceu em Florianópolis no século XIX e foi considerado o mestre do simbolismo brasileiro. Sua obra "Missal" de 1893 marcou o início do simbolismo no Brasil, apesar de ter recebido pouca atenção na época. A poesia de Cruz e Sousa se caracteriza pelo uso de imagens, sons e contrastes para sugerir significados ao invés de expressá-los diretamente.
2. João da Cruz e Sousa,
considerado o mestre do
simbolismo brasileiro, nasceu em
Desterro, hoje cidade de
Florianópolis – SC. Filho de
escravos alforriados, nasceu livre.
Foi criado como filho adotivo do
Marechal-de-Campo Guilherme
Xavier de Sousa e Clarinda
Fagundes de Sousa, de quem
herdou o sobrenome.
3. “Missal” foi publicada em 1893 e
marcou o início do Simbolismo no
Brasil. Missal só não passou
despercebida, enquanto obra, por
força de uma pequena parte da crítica
e de um público ainda mais restrito. O
mérito só veio com o tempo e com o
reconhecimento da genialidade de
seu autor. Os textos de Missal são
escritos em prosa, cabe lembrar que
a poesia brasileira praticamente
desconhecia a prosa entre suas
publicações, poucos ou quase
ninguém havia lido Charles
Baudelaire (um dos iniciadores do
Simbolismo), o que gerou um certo
estranhamento quanto a Missal.
5. A musicalidade, repetição quanto ao jogo de verbos, de
substantivos e de adjetivos, todos produzindo e
sugerindo imagens sinestésicas.
“Torvo, trêmulo e triste na noite, esse bêbado que eu via
constantemente à porta dos cafés e dos teatros, parara em
frente do cais deserto, na alta, profunda hora solitária.
Espadaúdo, de grande estatura, ombros fortes como um
cossaco, costumava sempre bater a cidade em marchas
vertiginosas, na andadura bamba dos ébrios, indo pernoitar
depois ali, perto das vagas, amigas eternas de sua nevrose..”
6. “O seu aspecto, ao mesmo tempo piedoso e feroz,
traduzia a expressão terrível que deixa o bronze
inflamado da Dor calcinando naturezas nervosas e
violentas.”
Jogo de Contrastes e de antíteses
“E a luz do astro noturno e branco, da Verônica do Azul,
congelada de mágoas, envolvia a face atormentada do bêbado
como num longo sudário de piedades eternas…”
7. Apreço pela temática da noite
“Nos límpidos espaços nem um movimento, um frêmito
leve de aragem perturbava a harmoniosa tranqüilidade
da noite clara, por entre os finos rendilhados prateados
das estrelas.”
“Um luar baço, enevoado, de quando em quando
brilhava, abria, rasgando as nuvens, num clarão que
iluminava amplas fachas do céu de um tom esverdeado,
como folhagens tenras e frescas laçadas pela chuva.”
8. Os poemas de Cruz e Sousa abandonam o significado
explícito e lógico para buscar a ilogicidade e a
sugestão vaga, regras, aliás, de fundamental
importância para a poética simbolista. A multiplicidade
de imagens e de sonoridades gera uma explosão
sensorial no leitor, conduzindo-o a um estado de
espanto geral e de choque diante do inusitado. As
imagens, aparentemente inconciliáveis, múltiplas e
repetidas, despertam um psiquismo intenso. Essa
fusão de abstrações cria o sensorialismo simbolista.
9. Podemos entender que “Bêbado” é ,senão, a
representação do poeta Simbolista. Este bêbado que “
gesticulava e falava [...] proferia palavras[...] confusas”
um ser nebuloso que possui a “alma sem humor”, uma
névoa em seu entendimento (razão), “visões de
sonâmbulo” é como o poeta simbolista, que há de vagar
sozinho, com as suas visões oblíquas, do alto da sua
torre de marfim, distante das pessoas e suas visões
comuns acerca da vida e todas as coisas do mundo.
“E ele gesticulava e falava, movia os braços, proferia
palavras ásperas e confusas, como os tartamudos.”
10. “Um desses seres tenebrosos, quase sinistros, a quem
faltou um pouco de graça, um pouco de ironia e riso para
florir e iluminar a vida.”
“Porque o álcool, pondo uma névoa no entendimento,
apaga, desfaz a ação presente das idéias e fá-las recuar
ao passado, levantando e fazendo viver, trazendo à flor do
espírito, indecisamente, embora, as perspectivas, as
impressões e sensações do passado.”
11. CAPOBIANCO, Juan Marcello. Cruz e Sousa em 1893:
A incompreensão crítica de Missal e Broquéis.. UFF.
Revista Philologus, Ano 20, N° 58 – Supl.: Anais do VI
SINEFIL. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr.2014
CLEMENTE, Elvo. Elementos Simbolistas em Missal e
Broquéis. Puc- RS. 1993.
CRUZ E SOUSA, João da. PÉREZ, José (org.). Missal,
Evocações. In: Cruz e Sousa: Prosa. 2 ed. São Paulo :
Cultura, 1945. v. 2. pp.5-126. (Série Clássica Brasileiro-
Portuguesa, Os mestres da língua, 14).