O documento descreve uma pesquisa sobre a adesão de alunos matriculados em escolas municipais de Brumadinho ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) em comparação com a venda de alimentos em "barzinhos escolares". A pesquisa analisou dados de 21 escolas e concluiu que 59,1% das escolas vendiam alimentos, sendo que os itens vendidos eram majoritariamente inadequados do ponto de vista nutricional. A adesão ao PNAE foi de 85,98% dos alunos.
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Adesão PNAE versus venda alimentos barzinhos escolares Brumadinho MG
1. Adesão dos alunos matriculados nas Escolas Municipais de Brumadinho ao Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) versus venda de alimentos em “barzinhos
escolares”, em Brumadinho, Minas Gerais.
Vanessa Ferreira de Andrade1
1
Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, Pós-graduada em
Nutrição Clínica, Especialista em Nutrição Clínica, Nutricionista Responsável Técnica pelo
Programa de Alimentação Escolar (PNAE) da Prefeitura Municipal de Brumadinho – MG.
Introdução
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) garante a alimentação escolar
dos alunos de toda a educação básica matriculados em escolas públicas e filantrópicas.
Seu objetivo é atender as necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanência
em sala de aula, contribuindo para o crescimento, o desenvolvimento, a aprendizagem e o
rendimento escolar dos estudantes, bem como promover a formação de hábitos
alimentares saudáveis (FNDE, 2011).
Em 2010, segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE), foram atendidos 45,6 milhões de alunos com investimento de 3.034 milhões de
reais em alimentação escolar (FNDE2, 2011). O orçamento do programa para 2011 é de 3,1
bilhões de reais para beneficiar 45,6 milhões de estudantes. Existe uma política diferencial
que consiste no repasse de um valor monetário maior, destinado às escolas indígenas e
quilombolas, sustentado no reconhecimento da precariedade das condições de saúde e
nutrição entre estas populações (GIORDANI, 2010).
Mesmo ocupando um lugar de destaque entre as políticas sociais, o PNAE não tem
sido alvo de avaliações contínuas, que permitiriam reorientá-lo, reformulá-lo ou mesmo
reforçá-lo, de maneira a otimizar os recursos utilizados (STURION, 2005).
Quanto ao consumo efetivo dos alimentos distribuídos pelo Programa, os dados da
Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição mostraram que, pouco mais de 40% dos alunos
consumiam todos os dias a refeição oferecida, sendo que os índices de consumo se
reduziam com o aumento da renda familiar; ademais, evidenciou-se que, mesmo entre os
alunos mais pobres, a participação no Programa era baixa, ou seja, em torno de 57%
(PNSN, 1990).
Segundo estudo de Sturion et al. (2005), a maior freqüência de consumo de alimentos
nas cantinas comerciais existentes nas escolas são inversamente associadas à adesão
diária ao Programa e a maioria (70%) dos escolares que afirmou não participar do Programa
freqüentava unidades de ensino que apresentavam cantinas escolares.
De acordo com o trabalho de Flávio et al. (2004), a maioria das crianças (68%) relatou
consumir apenas a alimentação escolar, pela inexistência de cantinas ou lanchonetes nas
escolas (FLAVIO, et al., 2004).
Estudos demonstram que os alimentos das cantinas escolares são muito energéticos,
ricos em açúcares, gorduras, sal, corantes artificiais, (PERRY et al., 2004; OPAS, 1997;
BARANOWSKI, at al., 2000; CHAPMAN et al, 2006), possuem valor nutricional mínimo e
gordura saturada (GROSS, 2004), indicando a preferência dos estudantes pelos mesmos.
Há forte influência do marketing de produtos alimentícios, o que requer atenção no
planejamento dos cardápios da alimentação escolar, bem como no processo de
regulamentação das cantinas e no controle dos alimentos provenientes de casa (BRASIL,
2005).
Para Gross & Cinelli (2004), um dos fatores que prejudica o consumo da alimentação
escolar é a permissão da venda de alimentos “competitivos”. A facilidade de acesso por
parte dos escolares a esses tipos de alimentos contribui para uma menor aceitação e
adesão à alimentação escolar, podendo provocar desvios nutricionais que interferem no
crescimento e no desenvolvimento (Gross, 2004). A alta ingestão de alimentos
industrializados e de valor nutricional reduzido tem sido relacionada ao aumento da
adiposidade em crianças (TRICHES, 2005; CAROBA, 2002).
1
2. Essa prática de consumo de alimentos oriundos de casa ou de cantinas revela-se,
portanto, preocupante para o alcance das metas do PNAE, que, mais do que um Programa
de suplementação alimentar, deve ser visto como um importante instrumento de educação
nutricional e um canal para resgatar hábitos alimentares saudáveis (WEIS et al., 2004).
Boog (2004), em seu estudo sobre a contribuição da educação nutricional para a
construção da segurança alimentar, ressalta que os alimentos consumidos na escola, sejam
procedentes da alimentação escolar, de lanches trazidos de casa ou comprados em
cantinas, devem ser igualmente saudáveis.
De acordo com documento da II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional, realizada em 2004, a cantina, como parte do ambiente escolar, poderia ser vista
como um espaço educativo importante para estimular o consumo de determinados
alimentos, influenciando escolhas saudáveis em função do que está exposto à venda
(BRASIL, 2005).
Tendo como base essas considerações, o presente estudo tem o objetivo de verificar
o nível de adesão dos alunos matriculados na rede municipal de ensino da Prefeitura
Municipal de Brumadinho ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e
correlacionar estes dados à venda de alimentos em “barzinhos escolares” “BE’s”, ou seja,
estabelecimentos que comercializam alimentos na unidade de ensino.
Material e Métodos
Os dados analisados neste trabalho integram pesquisa de natureza quali-
quantitativa. A coleta de dados sobre a venda de alimentos em “barzinho escolar” (“BE”) foi
realizada durante o período de junho a agosto de 2010 e a coleta sobre a adesão ao PNAE,
nos dias letivos entre 23 e 31 de março de 2011.
A pesquisa baseou-se em uma amostra de conveniência composta de todas as
escolas públicas municipais. Para os dados sobre a venda de alimentos em “BE”,
considerou-se n=22 e sobre a adesão ao PNAE, considerou-se n=21. Houve diferença de 01
escola entre os dados coletados, pois no final de 2010, 01 das escolas foi agregada a outra.
A coleta de informações foi realizada pela Responsável Técnica do PNAE de
Brumadinho. Os Coordenadores das Escolas enviaram à Secretaria Municipal de Educação
de Brumadinho, os dados relacionados à venda de alimentos em “BE” e o número de alunos
que se alimentam das refeições produzidas pela Escola. Com relação ao “BE”, os
Coordenadores descreveram todos os alimentos e bebidas que eram vendidos com os
respectivos ingredientes e, em se tratando de adesão à alimentação escolar, os Diretores
enviaram relatório contendo o número de alunos por dia que se alimentaram das refeições
produzidas pela Escola.
Análise estatística foi realizada com o Epiinfo, de domínio público, e envolveu tabelas
de freqüência, média e desvio-padrão e comparações com qui-quadrado e teste-t de
student, ANOVA ou Mann-Whitney de acordo com a característica das variáveis. Foi
considerado o nível de significância estatística de 5%.
Resultados e discussão
A amostra de Escolas que participaram do estudo sobre a adesão ao Programa de
Alimentação Escolar foram 19 (90,47%) e o número de alunos foram 4737 (85,98%). A
dimensão da amostra (intervalo de confiança), segundo avaliação utilizada pelo Epiinfo,
apresentou-se satisfatória (>99% de confiança).
A amostra de Escolas que participaram do estudo sobre a venda de alimentos em
“barzinhos escolares” foi de 100% (n=21 escolas). A dimensão da amostra (intervalo de
confiança), segundo avaliação utilizada pelo Epiinfo, apresentou-se satisfatória (>99% de
confiança).
2
3. Tabela 1 – Freqüência sobre Modalidade de Ensino, Localidade e Número de Escolas avaliadas
sobre venda de alimentos em “BE”
Variáveis N (%)#
Modalidade de Ensino da Escola
Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) 6 (27,3)
Outras 16 (72,7)
Localidade em que pertence a Escola
Zona Rural 13 (59,1)
Sede 9 (40,9)
Escolas que possuem “BE” e localizam-se na Sede 4 (30,77)
Escolas que possuem “BE” e localizam-se na Zona Rural 9 (69,23)
Número de escolas que possuem “BE”
Escolas que possuem “BE” 13 (59,1)
Escolas que não possuem “BE” 9 (40,9)
Escolas que não possuem “BE” e são EMEI’s 6 (66,66)
Escolas que não possuem “BE” e são escolas pertencentes a outras modalidades de ensino 3 (33,34)
De acordo com a tabela 1, pode-se observar que cerca de 27,3% das Escolas que
participaram do estudo eram de Educação Infantil (crianças de 4 meses a 5 anos) e,
aproximadamente 59,1% das escolas, localizam-se na zona rural do município de
Brumadinho. Cerca de 69,23% das Escolas que possuem “BE” pertencem à zona rural.
A maior parte das escolas que participaram do estudo possuía venda de alimento
nas escolas (59,1%). Sendo que, das Escolas que não possuem “BE”, 66,66% são Escolas
Municipais de Educação Infantil (EMEI).
Houve significância estatística entre a escola não possuir “BE” e ser EMEI (Man-
Whitney p-value 0,0007 e ANOVA p-value 0,0001).
Não há estudo na literatura para comparar os dados encontrados.
Tabela 2 – Freqüência de distribuição de itens alimentares vendidos em “BE” nas Escolas Avaliadas
Variáveis N (%)#
Itens vendidos em “BE”
Total de itens 92
Número de Escolas que vendem 0 item no “BE” 9 (40,9)
Número de Escolas que vendem 1 itens no “BE” 1 (4,5)
Número de Escolas que vendem 3 itens no “BE” 3 (13,6)
Número de Escolas que vendem 6 itens no “BE” 2 (9,1)
Número de Escolas que vendem 7 itens no “BE” 2 (9,1)
Número de Escolas que vendem 9 itens no “BE” 1 (4,5)
Número de Escolas que vendem 10 itens no “BE” 1 (4,5)
Número de Escolas que vendem 11 itens no “BE” 1 (4,5)
Número de Escolas que vendem 13 itens no “BE” 2 (9,1)
Total de itens adequados 60 (62,21)
Número de Escolas que vendem 0 item adequado no “BE” 9 (40,9)
Número de Escolas que vendem 1 item adequado no “BE” 3 (13,6)
Número de Escolas que vendem 3 itens adequados no “BE” 2 (9,1)
Número de Escolas que vendem 4 itens adequados no “BE” 1 (4,5)
Número de Escolas que vendem 5 itens adequados no “BE” 4 (18,2)
Número de Escolas que vendem 6 itens adequados no “BE” 1 (4,5)
Número de Escolas que vendem 9 itens adequados no “BE” 1 (4,5)
Número de Escolas que vendem 12 itens adequados no “BE” 1 (4,5)
Total de itens inadequados 32 (37,79)
Número de Escolas que vendem 0 item inadequado no “BE” 11 (50)
Número de Escolas que vendem 1 item inadequado no “BE” 1 (4,5)
Número de Escolas que vendem 2 item inadequados no “BE” 6 (27,3)
Número de Escolas que vendem 3 item inadequados no “BE” 2 (9,1)
Número de Escolas que vendem 5 item inadequados no “BE” 1 (4,5)
Número de Escolas que vendem 8 item inadequados no “BE” 1 (4,5)
Número de Escolas versus perfil de alimentos vendidos em “barzinhos escolares”
Número de Escolas que vendem alimentos que contem calorias vazias 5 (22,73)
Número de Escolas que vendem alimentos que contem cálcio 6 (27,27)
Número de Escolas que vendem bolo com ingredientes adequados 6 (27,27)
Número de Escolas que vendem bolo com ingredientes inadequados 1 (4,55)
Número de Escolas que vendem salgados com ingredientes adequados 9 (40,91)
Número de Escolas que vendem salgados com ingredientes inadequados 7 (31,82)
Número de Escolas que vendem Alimentos ricos em fibra 2 (9,09)
Número de Escolas que vendem biscoitos com ingredientes adequados 2 (9,09)
Número de Escolas que vendem biscoitos com ingredientes inadequados 1 (4,55)
Número de Escolas que vendem pães com ingredientes adequados 7 (31,82)
Número de Escolas que vendem pães com ingredientes inadequados 2 (9,09)
3
4. Número de Escolas que vendem bebidas com ingredientes adequados 4 (18,18)
Número de Escolas que vendem bebidas com ingredientes inadequados 1 (4,55)
Número de Escolas que vendem picolés com ingredientes adequados 1 (4,55)
Número de Escolas que vendem picolés com ingredientes inadequados 3 (13,64)
Segundo a tabela 2, houve um total de 92 itens de alimentos que foram vendidos em
“BE”. O mínimo, médio, máximo e moda do número de itens vendidos nas Escolas foram,
respectivamente, 1 item, 7,07 itens, 13 itens e 3 itens.
Houve um total de 60 itens adequados (62,21%) que eram vendidos nas Escolas. O
mínimo, médio, máximo e moda do número de itens vendidos nas Escolas foram,
respectivamente, 3 itens, 4,61 itens, 12 itens e 5 itens.
Dos itens adequados, houve: 6 escolas que vendiam alimentos que continha cálcio
(iogurte, leite com achocolatado, leite fermentado); 6, que vendiam bolo com ingredientes
adequados (bolo de simples, bolo de cenoura); 9, que vendiam salgados com ingredientes
adequados (pastel assado, torta de frango, empada assada, esfirra de carne); 2, que
vendiam alimentos ricos em fibras (barra de cereais); 2, que vendiam biscoitos com
ingredientes adequados (polvilho, biscoito de angu, biscoito de fubá de canjica, torta de
legumes de liquidificador); 7, que vendiam pães com ingredientes adequados (pão de queijo,
pão com olho de carne moída, sanduíche natural, pão de cebola com recheio de frango, pão
de cebola); 4, que vendiam bebidas com ingredientes adequados (suco de laranja, de
cenoura, de beterraba, de limão, de couve, melancia); 1, que vendia picolés com
ingredientes adequados (picolé de fruta simples).
Houve um total de 32 itens inadequados (37,79%) que eram vendidos nas Escolas.
O mínimo, médio, máximo e moda do número de itens vendidos nas Escolas foram,
respectivamente, 1 itens, 2,46 itens, 2 itens e 5 itens.
Dos itens inadequados, houve: 7 escolas que vendiam salgados com ingredientes
inadequados (cachorro quente, enrolado de salsicha, pastel frito, frituras em geral); 5, que
vendiam alimentos que contem calorias vazias (gelatina, bombom, chicletes, bala); 3, que
vendiam picolés e sorvetes com ingrediente impróprio (picolés e sorvete com gordura trans);
1, que vendia bolo com ingredientes inadequados (bolos com cobertura de chocolate); 1,
que vendia biscoito com ingredientes inadequados (alto teor de sódio); 2, que vendiam pães
com ingredientes inadequados (misto quente); 1, que vendia bebidas com ingredientes
inadequados (refrigerante, suco artificial).
Este resultado encontrado, pode ser confirmado segundo estudo de Muniz, et al.
(2007), entre os alimentos mais citados pelos alunos comprados na escola, a pipoca foi
mencionada por 73,2% alunos, seguida pelos salgados, principalmente, coxinha e pastel, e
pela bolacha. Com relação às preferências alimentares, os alunos relataram preferência ao
cachorro quente (24,3%), bolacha (22,8%), refrigerante (13,6%) e bolo recheado (12,1%).
Tabela 3 – Freqüência sobre adesão ao Programa de Alimentação Escolar
Variáveis N (%)#
Nº de Escolas Participaram
Participaram 19 (90,48)
Não Participaram 2 (9,52)
Localidade das Escolas que participaram
Zona Rural 10 (57,14)
Sede 9 (42,86)
Modalidade de Ensino das Escolas que participaram
Escola Municipal de Educação Infantil 6 (31,58)
Outras 13 (68,42)
Alunos que aderem ao PNAE
Média de Alunos Total Geral 3922,4 (83,81)
Média Total Zona Rural 1675,8 (42,72)
Média Total Sede 2246,6 (57,28)
Porcentagem de Alunos que Aderem ao PNAE
Geral 83,81%
Somente alunos da Zona Rural 85,85%
Somente alunos da Sede 81,97%
Somente Alunos pertencentes às Escolas de Educação Infantil 90,77%
Levantamento o número de escolas x margem de porcentagem de adesão ao PNAE
4
5. 100% dos alunos que aderem ao PNAE 2 (10,52)
90 a 99,99% dos alunos que aderem ao PNAE 5 (26,3)
80 a 89,99% dos alunos que aderem ao PNAE 7 (36,82)
70 a 79,99% dos alunos que aderem ao PNAE 2 (10,52)
60 a 69,99% dos alunos que aderem ao PNAE 2 (10,52)
50 a 59,99% dos alunos que aderem ao PNAE 1 (5,26)
Participaram da pesquisa sobre a adesão da alimentação escolar, 90,48% das
Escolas Municipais. Destas, 57,14% pertenciam à localidade rural do município e 68,42%
são Escolas que não oferecem educação infantil aos alunos.
Todas as Escolas Municipais da Prefeitura de Brumadinho oferecem alimentação
gratuita aos alunos, através do PNAE. Foi detectado que o percentual médio de alunos que
aderiram ao PNAE foi 83,81%, sendo que destes, 57,28% pertencem às Escolas da sede do
município.
Comparando-se apenas entre alunos da zona rural, a porcentagem de adesão ao
PNAE das localidades pertencentes à zona rural foi maior (85,85%) se comparado à sede
(81,97%).
Cerca de 36,82% das Escolas (7 escolas), há porcentagem de adesão ao PNAE de
80 a 89,9%. Aproximadamente 26,3% das Escolas (5 escolas), há porcentagem de adesão
ao PNAE de 90 a 99,99%. As Escolas (n=2) onde houve adesão de 100% foram escolas de
educação de jovens e adultos e de educação infantil.
A média de adesão às Escolas apenas de Educação Infantil chegou à 90,77%.
Pode-se observar que a média geral de aceitação (83,81%) da alimentação escolar
oferecida pelas escolas da Prefeitura Municipal de Brumadinho está acima de estudos
realizados por outros autores. Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição em
1990 mostraram que, pouco mais de 40% dos alunos consumiam todos os dias a refeição
oferecida (PNSN, 1990). Segundo Sturion (2005), verificou-se que 46% dos alunos
consomem diariamente a alimentação oferecida na escola. Em uma pesquisa realizada pelo
FNDE, em 2001, a adesão diária dos alunos à alimentação escolar foi referida
satisfatoriamente por 76,1% dos pesquisados (BRASIL, 2005). Em pesquisa desenvolvida
por Flávio et al. (2004), que também objetivou avaliar a aceitação e a adesão à alimentação
escolar, 72% dos alunos tinham o hábito de consumir a alimentação oferecida pela escola.
Foi realizada correlação estatística entre adesão ao programa e os demais itens
tabulados. Contudo, apenas houve correlação estatística significativa entre percentual de
adesão ao PNAE e a Escola ser de Educação Infantil (chi-square 0,0307 p-value).
Conclusões
A amostra deste estudo foi satisfatória (>99,9% de confiança), demonstrando que os
dados analisados possuem significância estatística. Houve correlação estatística
significativa entre a Escola possuir a modalidade Educação Infantil e: 1. não possuir
barzinho; 2. porcentagem elevada de adesão ao programa de alimentação escolar. Isso nos
leva a concluir que a Escola que possui modalidade de ensino do tipo Educação Infantil, por
não possuir “BE” e, consequentemente, não ter acesso à venda de alimentos, o índice de
adesão ao PNAE é alto (90,77%).
Comparando-se a outros estudos, o índio geral de adesão da alimentação escolar
oferecida gratuitamente aos alunos é alto (83,81%). Contudo, apesar de este índice ser
elevado, os resultados obtidos neste estudo mostram a necessidade de analisar os motivos
da recusa voluntária dos escolares à alimentação escolar.
A grande variedade de itens adquiridos ao programa pode ser justificativa deste alto
percentual de adesão. Semanalmente, as Escolas possuem acesso a variados itens de
gêneros alimentícios. Os alunos de período parcial (alunos permanecem na escola em meio
horário – manhã, tarde ou noite) possuem itens variados de hortifrutigranjeiros (frutas - 3
tipos; folhosos – 5 tipos; vegetais do grupo A – 5 tipos; vegetais do grupo B – 3 tipos;
vegetais do grupo C – 2 tipos; ovos), gêneros alimentícios não-perecíveis (35 itens), leite
pasteurizado, carnes resfriadas (isca bovina, isca suína, filet de peito de frango e carne
5
6. moída). Já as Escolas de tempo integral (alunos permanecem dois turnos nas escolas), os
folhosos são aumentados para 7 tipos; o vegetal B e as frutas para 5 tipos. Os demais
gêneros alimentícios, a variedade é a mesma do período parcial. Para os alunos do
berçário, há dois tipos de frutas exclusivas para este público alvo.
Dessa forma, espera-se que o presente estudo possa contribuir para investigações
mais profundas a respeito do consumo alimentar dos beneficiários do programa, como
também, contribuir para a reformulação do mesmo.
Referências Bibliográficas
GIORDANI, RCF; GIL, LP; AUZANI, SCS. Políticas públicas em contextos escolares
indígenas: repensando a alimentação escolar. Espaço Ameríndio, Porto Alegre, v. 4, n. 2, p.
25-51, jul./dez. 2010.
STURION, GL; SILVA MV; OMETTO, AMH; FURTUOSO, MCO; PIPITONE, MAP. Fatores
condicionantes da adesão dos alunos ao Programa de Alimentação Escolar no Brasil. Rev.
Nutr. vol.18 no.2 Campinas Mar./Apr. 2005.
PNSN - Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição. Pesquisa Nacional de Saúde e
Nutrição: resultados preliminares [mimeografado]. Brasília;1990.
CAROBA, DCR. A escola e o consumo alimentar de adolescentes matriculados na rede
pública de ensino [dissertação]. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
da Universidade de São Paulo; 2002.
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Relatório de atividades
[Internet]. Brasília: MEC; 2011. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/index.php/programas-
alimentacao-escolar.
FNDE2 - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Relatório de atividades
[Internet]. Brasília: MEC; 2011. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/index.php/ae-dados-
estatisticos
MUNIZ VM; CARVALHO AT. O Programa Nacional de Alimentação Escolar em município do
estado da Paraíba: um estudo sob o olhar dos beneficiários do Programa. Rev. Nutr.,
Campinas, 20(3):285-296, maio/jun., 2007
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Avaliação do impacto distributivo e
elaboração de sistemática de monitoramento do PNAE. Brasília; 2005 [acesso 20 dez 2005].
Disponível em: http:// www.fnde.gov.br/apresentacoes/apresentacao 01//Html
FLÁVIO EF, Barcelos MFP, Lima AL. Avaliação química e aceitação da merenda escolar de
uma escola estadual de Lavras, MG. Ciênc Agrotec. 2004; 28(4):841-7.
WEIS B, Whitaker W, Chaim NA, Belik W. Manual de gestão eficiente da merenda escolar
[acesso 25 ago 2004]. Disponível em: http: //www. fomezero.org.br
TRICHES RM, Giugliani ERJ. Obesidade, práticas alimentares e conhecimentos de nutrição
em escolares. Rev Saúde Pública. 2005; 39(4):541-7.
GROSS SM, Cinelli B. Coordinated School Health Program and dietetics professionals:
partners in promoting healthful eating. J Am Diet Assoc. 2004; 104(5):793-8.
BRASIL. Conferência Nacional de Segurança Alimentar. Alimentação e educação nutricional
nas escolas e creches. Brasília; 2005 [acesso 20 dez 2005]. Disponível em:
http://www.fomezero.gov.br/conferencia/Arquivos/Pdf/11-Alimentacao_Educacao.pdf
BOOG MCF. Contribuições da educação nutricional à construção da segurança alimentar.
Saúde Rev. 2004; 6(13):17-23.
PERRY C, Bishop DB, Taylor GR, Davis M, Story M, Gray C, et al. A randomized school trial
of environmental strategies to encourage fruit and vegetable consumption among children.
Health Educ Behav 2004; 31:65-76.
OPAS - ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Componentes educativos de
los programas para la promoción de la salud escolar. Rev Panam Salud Pública 1997;
2:209-14.
BARANOWSKI T, Mendelein J, Resnicow K, Frank E, Cullen K, Baranowski JJ. Physical
and nutrition in children and youth: an overview of obesity prevention. Prev Med 2000; 31:1-
CHAPMAN K, Nicholas P, Supramanian R. How much food advertising is there on Australian
television? Health Promot Int 2006; 21:172-80.
6
7. RESUMO EXPANDIDO
Adesão dos alunos matriculados nas Escolas Municipais de Brumadinho ao Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) versus venda de alimentos em “barzinhos
escolares”, em Brumadinho, Minas Gerais.
Vanessa Ferreira de Andrade1
1
Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, Pós-graduada em
Nutrição Clínica, Especialista em Nutrição Clínica, Nutricionista Responsável Técnica pelo
Programa de Alimentação Escolar (PNAE) da Prefeitura Municipal de Brumadinho – MG.
Introdução
O objetivo do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é atender as
necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanência em sala de aula (FNDE,
2011). Mesmo ocupando um lugar de destaque entre as políticas sociais, o PNAE não tem
sido alvo de avaliações contínuas (STURION, 2005).
Segundo estudo de Sturion et al. (2005), a maior freqüência de consumo de alimentos
nas cantinas comerciais existentes nas escolas são inversamente associadas à adesão
diária ao Programa e revela-se, portanto, preocupante para o alcance das metas do PNAE
(WEIS et al., 2004).
A cantina, como parte do ambiente escolar, poderia ser vista como um espaço
educativo importante para estimular o consumo de determinados alimentos, influenciando
escolhas saudáveis em função do que está exposto à venda (BRASIL, 2005).
Tendo como base essas considerações, o presente estudo tem o objetivo de verificar
o nível de adesão dos alunos matriculados na rede municipal de ensino da Prefeitura
Municipal de Brumadinho ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e
correlacionar estes dados à venda de alimentos em “barzinhos escolares” “BE’s”, ou seja,
estabelecimentos que comercializam alimentos na unidade de ensino.
Material e Métodos
Os dados analisados neste trabalho integram pesquisa de natureza quali-
quantitativa. A coleta de dados sobre a venda de alimentos em “barzinho escolar” (“BE”) e
sobre a adesão ao PNAE foi realizada, respectivamente, durante o período de junho a
agosto de 2010 e nos dias letivos entre 23 e 31 de março de 2011.
A pesquisa baseou-se em uma amostra de conveniência composta de todas as
escolas públicas municipais. Análise estatística foi realizada com o Epiinfo, foi considerado
nível de significância estatística de 5%.
Resultados e discussão
A dimensão da amostra (intervalo de confiança), segundo avaliação utilizada pelo
Epiinfo, apresentou-se satisfatória (>99% de confiança).
Pode-se observar que cerca de 27,3% das Escolas que participaram do estudo eram
de Educação Infantil (crianças de 4 meses a 5 anos). A maior parte das escolas que
participaram do estudo possuía venda de alimento nas escolas (59,1%). Sendo que, das
Escolas que não possuem “BE”, 66,66% são Escolas Municipais de Educação Infantil
(EMEI). Houve significância estatística entre a escola não possuir “BE” e ser EMEI (Man-
Whitney p-value 0,0007 e ANOVA p-value 0,0001). Não há estudo na literatura para
comparar os dados encontrados.
Houve um total de 92 itens de alimentos que foram vendidos em “BE”. Houve um
total de 60 itens adequados (62,21%). Dentre esses: alimentos que continham cálcio e ricos
em fibras; bolo, salgado, biscoito, pães, bebidas e picolés com ingredientes adequados.
Houve um total de 32 itens inadequados (37,79%). Dentre esses: salgados, picolés,
sorvetes, bolos, biscoitos, pães e bebidas com ingredientes inadequados, alimentos
contendo calorias vazias.
7
8. Participaram da pesquisa sobre a adesão da alimentação escolar, 90,48% das
Escolas Municipais. Destas, 68,42% são Escolas que não oferecem educação infantil aos
alunos.
Todas as Escolas Municipais da Prefeitura de Brumadinho oferecem alimentação
gratuita aos alunos, através do PNAE. Foi detectado que o percentual médio de alunos que
aderiram ao PNAE foi 83,81%. As Escolas (n=2) onde houve adesão de 100% foram
escolas de educação de jovens e adultos e de educação infantil. A média de adesão às
Escolas apenas de Educação Infantil chegou à 90,77%.
Pode-se observar que a média geral de aceitação (83,81%) da alimentação escolar
oferecida pelas escolas da Prefeitura Municipal de Brumadinho está acima de estudos
realizados por outros autores (PNSN, 40%; Sturion (2005), 46%; BRASIL (2005), 76,1%;
Flávio et al. (2004), 72%).
Foi realizada correlação estatística entre adesão ao programa e os demais itens
tabulados. Contudo, apenas houve correlação estatística significativa entre percentual de
adesão ao PNAE e a Escola ser de Educação Infantil (chi-square 0,0307 p-value).
Conclusões
A Escola que possui modalidade de ensino do tipo Educação Infantil, por não possuir
“BE” e, consequentemente, não ter acesso à venda de alimentos, o índice de adesão ao
PNAE é alto (90,77%). Comparando-se a outros estudos, o índio geral de adesão da
alimentação escolar oferecida gratuitamente aos alunos é alto (83,81%). Contudo, apesar de
este índice ser elevado, os resultados obtidos neste estudo mostram a necessidade de
analisar os motivos da recusa voluntária dos escolares à alimentação escolar. A grande
variedade de itens adquiridos ao programa pode ser justificativa deste alto percentual de
adesão.
Dessa forma, espera-se que o presente estudo possa contribuir para investigações
mais profundas a respeito do consumo alimentar dos beneficiários do programa, como
também, contribuir para a reformulação do mesmo.
Referências Bibliográficas
STURION, GL; SILVA MV; OMETTO, AMH; FURTUOSO, MCO; PIPITONE, MAP. Fatores
condicionantes da adesão dos alunos ao Programa de Alimentação Escolar no Brasil. Rev.
Nutr. vol.18 no.2 Campinas Mar./Apr. 2005.
PNSN - Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição. Pesquisa Nacional de Saúde e
Nutrição: resultados preliminares [mimeografado]. Brasília;1990.
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Relatório de atividades
[Internet]. Brasília: MEC; 2011. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/index.php/programas-
alimentacao-escolar.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Avaliação do impacto distributivo e
elaboração de sistemática de monitoramento do PNAE. Brasília; 2005 [acesso 20 dez 2005].
Disponível em: http:// www.fnde.gov.br/apresentacoes/apresentacao 01//Html
FLÁVIO EF, Barcelos MFP, Lima AL. Avaliação química e aceitação da merenda escolar de
uma escola estadual de Lavras, MG. Ciênc Agrotec. 2004; 28(4):841-7.
WEIS B, Whitaker W, Chaim NA, Belik W. Manual de gestão eficiente da merenda escolar
[acesso 25 ago 2004]. Disponível em: http: //www. fomezero.org.br
Vanessa Ferreira de Andrade
Rua Coronel Fulgêncio, nº373 apt 220, bairro São Lucas, Belo Horizonte-MG, Brasil, CEP
30240-340, telefone de contato: (31) 32258512, (31)97889580, (31)35713008, e-mail:
vanessafandrade@hotmail.com
8