SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
Baixar para ler offline
S 16                Radu AS, Levi M




Capítulo 4
Anticorpos contra o citoplasma de neutrófilos*
Antineutrophil cytoplasmic antibodies

                                            ARI STIEL RADU 1 , MAURICIO LEVI 1


Resumo                                                         Abstract
A descoberta do marcador sorológico denominado                 The discovery of the serological markers known as antineutrophil
anticorpo anticitoplasma de neutrófilos revolucionou o         cytoplasmic antibodies revolutionized the diagnosis and follow-
diagnóstico e o seguimento das vasculites pulmonares,          up treatment of the various forms of pulmonary vasculitis, especially
especialmente da granulomatose de Wegener. Seu padrão          that of Wegener's granulomatosis. The antineutrophil cytoplasmic
pode ser citoplasmático e perinuclear. Sua titulação auxilia   antibodies pattern can be cytoplasmic or perinuclear. Determination
no diagnóstico e no seguimento das vasculites pulmonares.      of antineutrophil cytoplasmic antibodies titers aids the diagnosis
                                                               and follow-up treatment of pulmonary vasculitis.

Descritores: Vasculite/diagnóstico; Pneumopatias/diag-         Keywords: Vasculitis/diagnosis; Lung diseases/diagnosis; Wegener's
nóstico; Granulomatose de Wegener/diagnóstico; Anticorpos      granulomatosis/diagnosis; Antibodies, antineutrophil cytoplasmic/
anticitoplasma de neutróficos/uso diagnostico; Anticorpos      diagnostic use; Antibodies, antineutrophil cytoplasmic/blood;
anticitoplasma de neutrófilos/sangue; Marcadores               Biological markers; Enzyme-linked immunosorbent assay/ methods;
biológicos; ELISA/métodos; Neutrófilos/imunologia              Neutrophils/immunology


INTRODUÇÃO                                                     HISTÓRICO

    As vasculites sistêmicas são um grupo de                       A primeira descrição deste marcador surgiu no início
doenças raras. Seu diagnóstico representa um                   da década de 1980, com o relato da presença de IgG
desafio clínico de grande importância, pois permite            contra componentes do citoplasma de polimor-
um tratamento precoce e direcionado para estas                 fonucleares neutrófilos no soro de 8 pacientes.(1) Estes
situações potencialmente graves. Da mesma forma,               pacientes apresentavam quadro clínico de glomeru-
o acompanhamento evolutivo destas patologias                   lonefrite necrotizante segmentar pauciimune associada
depende de dados clínicos e/ou laboratoriais que               a manifestações sistêmicas. Neste sentido, um estudo
permitam diferenciar atividade de remissão. No                 multicêntrico realizado na Holanda e Dinamarca(2)
entanto, o quadro clínico inicial das vasculites é             demonstrou o valor da detecção de ANCA por imuno-
comumente inespecífico, exigindo a espera de uma               fluorescência, no diagnóstico e acompanhamento de
confirmação histológica para o seu diagnóstico.                portadores de granulomatose de Wegener (GW). Esta
Além disso, as recidivas da doença costumam                    descoberta marcou o início do estudo dos ANCA nas
apresentar-se de forma também incaracterística                 vasculites e certamente representou um dos maiores
tanto do ponto de vista clínico quanto laboratorial.           avanços no diagnóstico e estudo destas patologias. Os
Assim sendo, a descoberta de anticorpos contra o               autores detectaram ANCA em 25/27 portadores de GW
citoplasma de neutrófilos (ANCA),(1,2) um marcador             ativa contra 4/32 com a doença em remissão. Não foi
sorológico possivelmente específico para as vascu-             observado qualquer teste falso-positivo no grupo
lites sistêmicas, produziu grande impacto na litera-           controle, que incluía diversos pacientes com vasculites
tura médica internacional. Desde então, vários con-            variadas, glomerulonefrites, doenças do conectivo e
sensos internacionais foram realizados, com o                  doenças granulomatosas. O teste foi considerado
objetivo de padronizar técnicas e difundir conheci-            altamente específico para GW e parecia ter relação com
mentos atualizados sobre o papel desses anticorpos             a atividade da doença.
nas vasculites e outras doenças.



* Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP) Brasil.
1. Doutor em Reumatologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP) Brasil.



J Bras Pneumol. 2005; 31(Supl 1):S16-S20
Anticorpos contra o citoplasma de neutrófilos                                                                 S 17




PADRÕES DE ANCA                                          enzimática pode produzir lesão tecidual e degradação
                                                         de bactérias fagocitadas. Sua localização é intracelular
    Estes anticorpos foram inicialmente detectados       no polimorfonuclear neutrófilo em repouso; no
por imunofluorescência (IF). A detecção de ANCA          entanto, pode ser liberada após estímulo, permitindo
foi considerada específica para a GW ou a poliar-        a formação de imunecomplexos com o anticorpo
terite microscópica.(3) No entanto, posteriormente,      específico. Inicialmente, estudos ultra-estruturais
ANCA foi demonstrado em associação com número            observaram a presença desse antígeno apenas no
crescente de situações clínicas, tais como poli-         interior dos grânulos azurófilos, porém outros autores
arterite nodosa,(4) arterite de células gigantes,(5)     conseguiram demonstrá-lo expresso na membrana
vasculite de Churg-Strauss (6), certas formas de         celular.(15) O epitopo antigênico encontra-se na super-
glomerulonefrite necrotizante rapidamente pro-           ficie da molécula e depende de sua estrutura terciária
gressiva,(7) bem como doenças fora do espectro           intacta para o reconhecimento pelo anticorpo.
clínico das vasculites.(8-10) Essas divergências foram       O padrão pANCA, por sua vez, representa uma
parcialmente esclarecidas com a constatação da           maior variedade de especificidades antigênicas
existência de pelo menos dois padrões de IF              como a mieloperoxidase (MPO), elastase, lactofer-
distintos: o padrão clássico (cANCA) (Figura 1) e o      rina e catepsina G. (16,17) No entanto, na população
padrão perinuclear (pANCA). Enquanto o cANCA             com vasculite de pequenos vasos ou com glome-
parece ser específico para GW, o pANCA pode ser          rulonefrite, a MPO parece ser o principal alvo dos
observado em grande variedade de situações clíni-        anticorpos.(18) O padrão perinuclear é, na realidade,
cas. Nos portadores de vasculites observou-se que        conseqüência de um artefato técnico causado pela
pANCA ocorre mais freqüentemente em pacientes            fixação dos polimorfonucleares neutrófilos com o
com doença limitada aos rins ou nos casos de             etanol, levando à redistribuição das enzimas
poliarterite microscópica. Apesar destas associações     citoplasmáticas solúveis e nucleofílicas. Se o
clínicas divergentes, os dois padrões de IF são          polimorfonuclear neutrófilo for fixado com forma-
causados por uma resposta auto-imune igualmente          lina ao invés de etanol, as proteínas permanecem
dirigida contra enzimas de grânulos azurófilos de        no citoplasma da célula produzindo IF indireta com
neutrófilos humanos.                                     padrão clássico. A MPO também tem uma impor-
    O neutrófilo humano possui dois tipos de grâ-        tante atividade bactericida catalisando a formação
nulos citoplasmáticos: os azurófilos ou primários        intracelular de produtos tóxicos como HOCl, H2O2
e os grânulos específicos ou secundários que             e radicais do oxigênio. Além disso, produtos deri-
podem ser mobilizados separadamente. Os grânulos         vados da MPO podem pavimentar o caminho da
azurófilos, cujos constituintes são alvo de reconhe-     proteólise induzida pelas proteases serínicas através
cimento pelos ANCA, são extremamente bem equi-           da sua capacidade de inativar a alfa1-antitripsina,
pados para matar e digerir microorganismos. Entre        que é uma importante inibidora de proteases. (19)
os tipos de enzimas que são encontradas em seu               Mais recentemente, foi descrito o padrão atípico
interior temos: hidrolases ácidas, enzimas microbi-      de ANCA que representa reação à lactoferrina,
cidas, mieloperoxidase e lisosima, proteinases neu-
tras (elastase, catepsina G e proteinase 3 - PR3).
    Estas enzimas podem ser liberadas para o meio
extracelular, onde mantêm sua atividade proteolí-
tica ao redor do processo inflamatório. Dentre elas,
as proteinases neutras são consideradas as mais
ativas, tendo importante ação, tanto na proteólise
do colágeno, como na estimulação in vitro de linfóci-
tos B para a produção de anticorpos.(12)
    O padrão cANCA decorre de anticorpos contra a
PR3.(13) Esta enzima tem alta capacidade de digerir a
elastina e produzir enfisema em hamsters. (14) Na
verdade, esta proteína de 229 aminoácidos tem
estrutura muito semelhante à da elastase e possui        Figura 1 - Anticorpo anticitoplasma de neutrófilo clássico
também atividade antimicrobiana. Sua atividade           (ANCAc) visualizado através de imunofluosrescência.


                                                                         J Bras Pneumol. 2005; 31(Supl 1):S16-S20
S 18               Radu AS, Levi M




catepsina G e outros antígenos diferentes da PR3.         os ANCA. Testes de ELISA utilizando anticorpos
Este padrão tem importância clínica já que a confusão     monoclonais contra a PR3 ou a mieloperoxidase
deste padrão com o padrão cANCA é uma das                 passaram a ser amplamente utilizados. Atualmente
principais causas de testes falso-positivos. Neste        existem diferentes testes de ELISA com diferentes
sentido, várias doenças fora do espectro das vasculites   substratos sendo utilizados nos diversos laborató-
podem apresentar ANCA positivo. A artrite reumatóide,     rios. Isto levou à necessidade de se elaborar um
a síndrome de Felty, a colangite esclerosante, a hepa-    consenso internacional para padronizar as técnicas
tite crônica ativa desenvolvem ANCA, geralmente em        de detecção de ANCA.(24)
baixos títulos e IF atípica. Nestes casos o padrão de         Hoje está claro que, à semelhança do que é
IF é conseqüência de múltiplas reatividades a vários      observado com os fatores antinúcleo nas doenças
antígenos dos grânulos neutrofílicos, bem como a          auto-imunes, existe toda uma classe de auto-
antígenos nucleares e citosólicos.(20) Da mesma forma,    anticorpos que reagem com enzimas mielóides nas
pacientes com infecções crônicas ou menor defesa          vasculites sistêmicas e glomerulonefrites. Estes
contra invasão bacteriana, como portadores de fibrose     anticorpos expressam-se por diferentes padrões de
cística, RCUI e bronquiectasias, produzem ANCA diri-      fluorescência quando se utiliza o polimorfonuclear
gido contra a BPI (bacterial permeability-increasing      neutrófilo como substrato. Apesar de uma sensibi-
protein), que também é produto de grânulos azurófilos.    lidade relativamente baixa para a GW e poliarterite
                                                          microscópica, particularmente nas formas localiza-
TÉCNICAS DE DETECÇÃO                                      das ou em remissão,(25) o teste de IF continua sendo
                                                          o padrão ouro da investigação inicial destes anti-
    A IF indireta é o teste mais utilizado para de-       corpos. Na experiência dos autores, a variedade
tecção de ANCA. Embora seja um teste rápido e             de anticorpos envolvidos nesta resposta auto-
barato sua interpretação traz algumas dificuldades.       imune exige que sua pesquisa seja iniciada por
Padrões atípicos são observados com certa fre-            um teste abrangente, como a IF indireta. A especi-
qüência e precisam ser diferenciados de ANCA              ficidade antigênica deve, no entanto, ser confir-
verdadeiro.(21) Sua detecção é uma das principais         mada por testes de ELISA. Os testes de ELISA são
causas de ANCA falso-positivos. A presença conco-         particularmente úteis nos casos de ANCA em baixos
mitante de fator antinúcleo dificulta a interpre-         títulos, na diferenciação de fluorescência atípica
tação dos achados de IF indireta. Pacientes com           de ANCA verdadeiro, na presença concomitante de
fator antinúcleo positivo devem ser avaliados com         anticorpos anti-nucleares(26) e na detecção de aMPO
cautela na interpretação dos resultados de ANCA           em casos de glomerulonefrites ou síndrome
por IF indireta.(22) O método é semiquantitativo, o       pulmão-rim. Vale ressaltar que muito embora o
que dificulta a avaliação de variações no curso da        padrão cANCA seja altamente específico para a
doença e carece de sensibilidade para baixos títulos      presença de anti-PR3, existem algumas exceções
de anticorpos.(23)                                        como alguns soros anti-MPO que produzem IF
    Por esses motivos vários ensaios de fase sólida       clássica por motivos ainda não esclarecidos. (19)
foram desenvolvidos para a detecção de ANCA.(23)          Assim sendo, o consenso internacional de ANCA(24)
A sensibilidade e especificidade do ensaio depen-         sugere que a pesquisa destes anticorpos na
dem da pureza do extrato utilizado. Inicialmente          monitorização terapêutica e no diagnóstico de
foram descritos testes de ELISA utilizando extrato        casos suspeitos de GW, vasculite de Churg-Strauss,
total de polimorfonucleares neutrófilos como antí-        poliarterite microscópica e sua variante renal
geno. Estes testes tinham baixa especificidade e          limitada (GN crescêntica pauciimune) seja sempre
foram abandonados. Da mesma forma, a utilização           realizada com a associação do teste de IF e teste
de extratos um pouco mais puros, como grânulos            de ELISA anti-PR3 e anti-MPO.
primários isolados de polimorfonucleares neutró-
filos, permitiu pouca melhora na especificidade.(23)      SENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADE DOS
    Os principais epitopos da PR3 e da MPO são            TESTES
conformacionais, motivo pelo qual apenas recen-
temente investigadores conseguiram produzir PR3              A sensibilidade e especificidade de um teste
e MPO recombinante com atividade enzimática e             depende da técnica utilizada para a detecção e da
epitopos imunorreativos ideais para a ligação com         população estudada.


J Bras Pneumol. 2005; 31(Supl 1):S16-S20
Anticorpos contra o citoplasma de neutrófilos                                                                S 19




    Com relação à técnica, de acordo com o relatado      é mais comum nos pacientes com doença limitada
acima, é necessária a detecção de ANCA por IF            aos rins. Entre estes dois extremos encontramos
associada à detecção de anticorpos anti-PR3 e anti-      pacientes que podem apresentar tanto cANCA
MPO por ELISA, para se obter boa especificidade e        quanto pANCA. Dessa forma, pode se dizer que as
sensibilidade no diagnóstico de vasculites sistêmicas.   enfermidades ANCA-positivas (independentemente
No entanto, em nosso meio, testes de ELISA anti-         do padrão de fluorescência) cursam, clinicamente,
corpos PR3 e anti-MPO nem sempre estão disponí-          dentro de um espectro contínuo que varia de uma
veis. Nestes casos a presença de cANCA pode ser          doença limitada aos rins até formas sistêmicas
considerada bastante específica, muito embora sua        generalizadas.(28) A presença de um marcador soro-
sensibilidade não ultrapasse os 70% a 80%.(25) A         lógico comum sugere que este grupo de doenças
presença de pANCA pode ser pouco específica mas          possa compartilhar aspectos fisiopatogênicos. Por
passa a ter valor clínico na suspeita clínica de         outro lado, a relação entre pANCA e doenças fora
vasculite ou em casos de glomerulonefrite crescêntica.   do espectro das vasculites sistêmicas não está
    Com relação à população de estudo, é preciso         totalmente esclarecida.
lembrar da grande confusão que existe na literatura
no que se refere à classificação das vasculites.         ANCA NO ACOMPANHAMENTO
Alguns autores consideram a poliarterite nodosa          TERAPÊUTICO DAS VASCULITES
como uma das doenças ANCA-positivas. Outros,
no entanto, consideram vasculites ANCA-positivas             Além de sua aplicabilidade no diagnóstico das
apenas a própria GW a poliarterite microscópica,         vasculites, tem-se observado que os títulos de ANCA
a síndrome de Churg-Strauss e formas mais limita-        acompanham a atividade de doença. (29) Já está
das destas doenças. Estas doenças compartilham           estabelecido que os títulos deste anticorpo não se
um envolvimento predominante-mente capilar e             alteram com a presença de infecção intercorrente e
venular, às vezes com envolvimento de arteríolas         que a IF tende a se negativar na doença em remis-
e a presença precoce de um infiltrado neutrofílico       são. Estudos prospectivos(30) demonstram que um
nos vasos. O envolvimento de vasos maiores pode          aumento nos níveis séricos de ANCA geralmente
ocorrer em alguns pacientes mas, por definição,          precede recidivas da doença. Isto vale para testes
envolvimento simultâneo de vasos pequenos não            de ELISA anti-PR3 e anti-MPO, mas também para
ocorre na poliarterite nodosa. Assim sendo, de acordo    os testes de IF (com menor sensibilidade).
com esta definição, casos de poliarterite nodosa             No entanto, este não é um achado universal.
clássica não produzem ANCA. (26)                         Existem casos nos quais a recidiva ocorre sem um
    A maior parte dos estudos de portadores de           prévio aumento de ANCA e alguns casos raros nos
GW ativa demonstra cANCA em cerca de 70% a               quais os títulos não caem após remissão da doença,
80% dos casos e pANCA em cerca de 10% dos                muito embora estes pacientes tenham tendência a
casos. Na poliarterite microscópica ou na glomeru-       pior prognóstico renal ao longo dos anos. Além disso,
lonefrite crescêntica, 60% possuem pANCA e 30%           este aumento dos ANCA pode anteceder muito a
deles cANCA. Pacientes com síndrome de Churg-            recidiva clínica, não justificando um imediato aumen-
Strauss têm ANCA c ou p em cerca de 30% dos              to nas doses de drogas imunossupressoras potencial-
casos. A sensibilidade do método é ainda menor           mente tóxicas. Portanto, conclui-se que, muito embora
em casos de doença em fase de remissão ou nas            a avaliação seriada de ANCA seja bastante útil no
formas localizadas. Assim sendo, um teste de ANCA        acompanhamento terapêutico dos portadores de
negativo nunca afasta a presença de vasculite.           vasculites sistêmicas, a decisão terapêutica deve basear-
    Na verdade, existe certa sobreposição entre os       se em aspectos clínicos e laboratoriais associados.
pacientes portadores de cANCA e pANCA.(27) Nos por-          Em resumo: ANCAs são um grupo de anticorpos
tadores de vasculites e glomerulonefrites, observou-     contra enzimas neutrofílicas extremamente úteis no
se que cANCA‚ se associa com o acometimento de           diagnóstico de vasculites sistêmicas de pequenos
pulmão, vias aéreas superiores e rins, particular-       vasos e certas glomerulonefrites necrotizantes; o
mente naqueles com formação de granulomas e              padrão clássico é altamente específico para a GW,
extensa doença extra-renal. O padrão pANCA,              enquanto que o padrão perinuclear ocorre nas
também pode ser observado nestes doentes, porém          vasculites de pequenos vasos, glomerulonefrites


                                                                         J Bras Pneumol. 2005; 31(Supl 1):S16-S20
S 20                  Radu AS, Levi M




necrotizantes e outras doenças fora do espectro das                 14. Kao RC, Wehner NG, Skubitz KM, Gray BH, Hoidal JR.
                                                                          Proteinase 3. A distinct human polymorphonuclear
vasculites; padrões atípicos ocorrem com certa
                                                                          leukocyte proteinase that produces emphysema in hamsters.
freqüência em uma série de situações clínicas e devem                     J Clin Invest. 1988;82(6):1963-73.
ser diferenciados do ANCA verdadeiro; a detecção                    15. Csernok E, Ludemann J, Gross WL, Bainton DF. Ultrastructural
de ANCA deve ser realizada com a associação de                            localization of proteinase 3, the target antigen of anti-
                                                                          cytoplasmic antibodies circulating in Wegener’ s
testes de IF com testes de ELISA anti-PR3 e anti-                         granulomatosis. Am J Pathol. 1990;137(5):1113-20.
MPO; ANCAs são úteis no acompanhamento evolutivo                    16. Gallicchio MC, Savige JA. Detection of anti-myeloperoxidase
das vasculites, porém a decisão terapêutica deve se                       and anti-elastase antibodies in vasculitides and infections.
basear na associação de achados clínicos e labora-                        Clin Exp Immunol. 1991;84(2):232-7.
                                                                    17. Lesavre P, Chen N, NusbaumP, Mecarelli L, Noel LH.
toriais.                                                                  Antineutrophil cytoplasm antibodies (ANCA) with
                                                                          antilactoferrin activity in vasculitis [abstract]. Kidney Int.
REFERÊNCIAS                                                               1990;37(1):442. [Presented at American Society of
                                                                          Nephrology; 1989 Dec 3-6; Washington, DC].
                                                                    1 8 . Lee SS, Adu D, Thompson RA. Anti-myeloperoxidase
 1. Davies DJ, Moran JE, Niall JF, Ryan GB. Segmental                     antibodies in systemic vasculitis. Clin Exp Med. 1990;
    necrotising glomerulonephritis with antineutrophil                    79(1):41-6.
    antibody: possible arbovirus aetiology? Br Med J (Clin          19. Wiik A. Rational use of ANCA in the diagnosis of vasculitis.
    Res Ed). 1982;285(6342):606.                                          Rheumatology (Oxford). 2002;41(5):481-3.
 2. Van Der Woude FJ, Rasmussen N, Lobatto S, Wiik A,               20. Pradhan VD, Badakere SS, Iyer YS, Kumar R, Almeida AF. A
    Permin H, Van Es LA, et al. Autoantibodies against                    study of anti-neutrophil cytoplasm antibodies in systemic
    neutrophils and monocytes: tool for diagnosis and                     vasculitis and other related disorders. J Postgrad Med.
    marker of disease activity in Wegener’s granulomatosis.               2003;49(1):5-9; discussion 9-10.
    Lancet. 1985;1(8426):425-9.                                     21. Wong RC, Silvestrini RA, Savige JA, Fulcher EM, Benson EM.
 3. Neutrophil cytoplasmic autoantibodies and Wegener's                   Diagnostic value of classical and atypical antineutrophil
    granulomatosis. Lancet. 1989;1(8632):269-30.                          cytoplasmic antibody (ANCA) immunofluoresence patterns.
 4. Guillevin L, Visser H, Oksman F, Pourrat J. Antineutrophil            J Clin Pathol. 1999;52(2):124-8.
    cytoplasmic antibodies in polyarteritis nodosa related to       2 2 . Christenson VD, Dooley MA, Allen NB. Discrimination
    hepatitis B virus [letter]. Arthritis Rheum. 1990;33                  of antineutrophil antibodies from antinuclear antibod-
    (12):1871-2.                                                          ies using immunofluorescence on neutrophils and HL60
 5. Bosh X, Font J, Mirapeix E, Cid MC, Revert L, Ingelmo                 cells. J Rheumatol. 1991;18(4):575-9.
    L. Antineutrophil cytoplasmic antibodies in giant cell          23. Kallenberg CG, Rasmussen N. Solid phase assay for ANCA.
    arteritis [letter]. J Rheumatol. 1991;18(5):787-8.                    Neth J Med. 1990;36(3-4):132-6.
 6. Gaskin G, Ryan JJ, Rees AJ, Pusey CD. Anti-myeloperoxidase      24. Savige J, Gillis D, Benson E, Davies D, Esnault V, Falk RJ, et
    antibodies in vasculitis: relationship to ANCA and clinical           al. International Consensus Statement on Testing and
    diagnosis. APMIS. 1990;19(Suppl):33.                                  Reporting of Antineutrophil Cytoplasmic Antibodies (ANCA).
 7. Falk RJ, Jenneette JC. Anti-neutrophil cytoplasmic                    Am J Clin Pathol. 1999;111(4):507-13.
    autoantibodies with specificity for myeloperoxidase in          25. Radu AS, Bueno C, Bonfa ESDO, Cossermelli W. Comparação
    patients with systemic vasculitis and idiopatic necrotizing           entre as técnicas de imunofluorescência e ELISA com extrato
    and crescentic glomerulonephritis. N Engl J Med. 1988;                total de neutrófilos e com grânulos primários para a detecção
    31825):1651-7                                                         de anticorpos contra o citoplasma de neutrófilos (ANCA).
 8. Davenport A, Grant PJ. False positive autoantibodies in               Rev Hosp Clin Fac Med S Paulo. 1995;50(2):65-70.
    HIV infection [letter]. Lancet. 1990;336(8710):317-8.           26. Merkel PA, Polisson RP, Chang YC, Skates SJ, Niles JL.
 9. Meyer O, Papo T, Piette MF, Kahn MF, Godeau P. Detection              Prevalence of antineutrophil cytoplasmic antibodies in a
    and clinical implication of antineutrophil cytoplasmic                large inception cohort of patients with connective tissue
    antibodies (ANCA) in 33 cases of relapsing polychondritis             disease. Ann Intern Med. 1997;126(11):866-73.
    [abstract]. Arthritis Rheum. 1990;33(Suppl 5):89.               27. Goldschmeding R, Tervaert JW, Gans RO, Dolman KM, Van
10. Saxon A, Shanahan F, Landers C, Gans T, Targan S. A distinct          der Ende ME, Kuizinga MC, et al. Different immunological
    subset of antineutrophil cytoplasmic antibodies is associated         specificities and disease associations of c-ANCA and p-ANCA.
    with inflamatory bowel disease. J Allergy Clin Immunol.               Neth J Med.1990;36(3-4):114-6.
    1990;86(2):202-10.                                              28. Falk RJ, Jennette JC. Wegener's granulomatosis, systemic
11. Venning MC, Quinn A, Broomhead V, Bird AG. Antibodies                 vasculitis, and antineutrophil cytoplasmic autoantibodies.
    directed against neutrophils (cANCA and pANCA) are of                 Annu Rev Med. 1991;42:459-69.
    distinct diagnostic value in systemic vasculitis. Q J Med.      29. Egner W, Chapel HM. Titration of antibodies against
    1990;77(284):1287-96.                                                 neutrophil cytoplasmic antigens is useful in monitoring
12. Baggiolini M, Bretz U, Dewald B, Feigenson ME. The                    disease activity in systemic vasculitides. Clin Exp Immunol.
    polymorphonuclear leukocyte. Agents Actions. 1978;8(1-                1990;82(2):244-9.
    2):3-10.                                                        30. Boomsa MM, Stegeman CA, Van der Leij W, Oost W, Hermans
13. Bini P, Gabay JE, Teitel A, Melchior M, Zhou JL, Elkon KB.            OJ, Kallenberg CG, et al. Prediction of relapses in Wegener´s
    Antineutrophil cytoplasmic autoantibodies in Wegener´s                granulomatosis by measurement of antineutrophil
    granulomatosis recognize conformational epitope(s) on                 cytoplasmic antibody levels. A prospective study. Arthritis
    proteinase 3. J Immunol. 1992;149(4):1409-15.                         Rheum. 2000;43(9):2025-33.


J Bras Pneumol. 2005; 31(Supl 1):S16-S20

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Hiperresponsividade brônquica
Hiperresponsividade brônquicaHiperresponsividade brônquica
Hiperresponsividade brônquicaFlávia Salame
 
Caso25 aspergilose pulmonar
Caso25 aspergilose pulmonarCaso25 aspergilose pulmonar
Caso25 aspergilose pulmonarFlávia Salame
 
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e Dermatomiosite
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e DermatomiositeEsclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e Dermatomiosite
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e DermatomiositeFlávia Salame
 
Pneumopatias Intersticiais
Pneumopatias IntersticiaisPneumopatias Intersticiais
Pneumopatias IntersticiaisFlávia Salame
 
Fibrose Pulmonar Idiopática
Fibrose Pulmonar IdiopáticaFibrose Pulmonar Idiopática
Fibrose Pulmonar IdiopáticaFlávia Salame
 
Doenças Pulmonares Intersticiais
Doenças Pulmonares IntersticiaisDoenças Pulmonares Intersticiais
Doenças Pulmonares IntersticiaisFlávia Salame
 
Fibrose pulmonar idiopática
Fibrose pulmonar idiopáticaFibrose pulmonar idiopática
Fibrose pulmonar idiopáticaruiantoninho
 
Módulo de micoses pulmonares paracoccidioidomicoses
Módulo de micoses pulmonares paracoccidioidomicosesMódulo de micoses pulmonares paracoccidioidomicoses
Módulo de micoses pulmonares paracoccidioidomicosesFlávia Salame
 
Guia prático FPI
Guia prático FPIGuia prático FPI
Guia prático FPIRocheAds
 
Pneumonias adquiridas na comunidade
Pneumonias adquiridas na comunidadePneumonias adquiridas na comunidade
Pneumonias adquiridas na comunidadeFlávia Salame
 
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas Superiores
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas SuperioresCorrelação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas Superiores
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas SuperioresFlávia Salame
 
Fibrose pulmonar idiopática
Fibrose pulmonar idiopáticaFibrose pulmonar idiopática
Fibrose pulmonar idiopáticaFlávia Salame
 
Sindrome hepatopulmonar
Sindrome hepatopulmonarSindrome hepatopulmonar
Sindrome hepatopulmonarFlávia Salame
 
Pneumopatias intersticiais conceitos iniciais
Pneumopatias intersticiais  conceitos iniciaisPneumopatias intersticiais  conceitos iniciais
Pneumopatias intersticiais conceitos iniciaisFlávia Salame
 
Diretrizes brasileiras doencas_intersticiais_final_mar_2012
Diretrizes brasileiras doencas_intersticiais_final_mar_2012Diretrizes brasileiras doencas_intersticiais_final_mar_2012
Diretrizes brasileiras doencas_intersticiais_final_mar_2012Flávia Salame
 

Mais procurados (20)

Hiperresponsividade brônquica
Hiperresponsividade brônquicaHiperresponsividade brônquica
Hiperresponsividade brônquica
 
Aspergilose sbpt 2009
Aspergilose   sbpt 2009Aspergilose   sbpt 2009
Aspergilose sbpt 2009
 
Caso25 aspergilose pulmonar
Caso25 aspergilose pulmonarCaso25 aspergilose pulmonar
Caso25 aspergilose pulmonar
 
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e Dermatomiosite
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e DermatomiositeEsclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e Dermatomiosite
Esclerose Sistêmica Progressiva e Polimiosite e Dermatomiosite
 
Pneumopatias Intersticiais
Pneumopatias IntersticiaisPneumopatias Intersticiais
Pneumopatias Intersticiais
 
Fibrose Pulmonar Idiopática
Fibrose Pulmonar IdiopáticaFibrose Pulmonar Idiopática
Fibrose Pulmonar Idiopática
 
Doenças Pulmonares Intersticiais
Doenças Pulmonares IntersticiaisDoenças Pulmonares Intersticiais
Doenças Pulmonares Intersticiais
 
Fibrose pulmonar idiopática
Fibrose pulmonar idiopáticaFibrose pulmonar idiopática
Fibrose pulmonar idiopática
 
Doença Pulmonar Intersticial
Doença Pulmonar IntersticialDoença Pulmonar Intersticial
Doença Pulmonar Intersticial
 
Módulo de micoses pulmonares paracoccidioidomicoses
Módulo de micoses pulmonares paracoccidioidomicosesMódulo de micoses pulmonares paracoccidioidomicoses
Módulo de micoses pulmonares paracoccidioidomicoses
 
Guia prático FPI
Guia prático FPIGuia prático FPI
Guia prático FPI
 
Pneumonias adquiridas na comunidade
Pneumonias adquiridas na comunidadePneumonias adquiridas na comunidade
Pneumonias adquiridas na comunidade
 
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas Superiores
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas SuperioresCorrelação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas Superiores
Correlação entre Asma e Doenças de Vias Aéreas Superiores
 
Fibrose pulmonar idiopática
Fibrose pulmonar idiopáticaFibrose pulmonar idiopática
Fibrose pulmonar idiopática
 
Tuberculose
TuberculoseTuberculose
Tuberculose
 
Churg strauss
Churg straussChurg strauss
Churg strauss
 
Aspergilose
Aspergilose   Aspergilose
Aspergilose
 
Sindrome hepatopulmonar
Sindrome hepatopulmonarSindrome hepatopulmonar
Sindrome hepatopulmonar
 
Pneumopatias intersticiais conceitos iniciais
Pneumopatias intersticiais  conceitos iniciaisPneumopatias intersticiais  conceitos iniciais
Pneumopatias intersticiais conceitos iniciais
 
Diretrizes brasileiras doencas_intersticiais_final_mar_2012
Diretrizes brasileiras doencas_intersticiais_final_mar_2012Diretrizes brasileiras doencas_intersticiais_final_mar_2012
Diretrizes brasileiras doencas_intersticiais_final_mar_2012
 

Semelhante a ANCA na Diagnóstico de Vasculites

Laboratório em Reumatologia
Laboratório em ReumatologiaLaboratório em Reumatologia
Laboratório em ReumatologiaPaulo Alambert
 
Laboratório em Reumatologia
Laboratório em ReumatologiaLaboratório em Reumatologia
Laboratório em Reumatologiapauloalambert
 
sindromes-de-mononucleose INFECTOLOGIA MEDICA
sindromes-de-mononucleose INFECTOLOGIA MEDICAsindromes-de-mononucleose INFECTOLOGIA MEDICA
sindromes-de-mononucleose INFECTOLOGIA MEDICABelinha Donatti
 
3bc4b07dac08a35c8a3870f452b23ec9
3bc4b07dac08a35c8a3870f452b23ec93bc4b07dac08a35c8a3870f452b23ec9
3bc4b07dac08a35c8a3870f452b23ec9Taina Silva
 
Antibióticos - Seminario UFPB - Prof Evanizio Roque
Antibióticos - Seminario UFPB - Prof Evanizio RoqueAntibióticos - Seminario UFPB - Prof Evanizio Roque
Antibióticos - Seminario UFPB - Prof Evanizio RoqueBarbara Queiroz
 
Pregabalina protege neuronios de acao pro inflamatoria de linfocitos t encefa...
Pregabalina protege neuronios de acao pro inflamatoria de linfocitos t encefa...Pregabalina protege neuronios de acao pro inflamatoria de linfocitos t encefa...
Pregabalina protege neuronios de acao pro inflamatoria de linfocitos t encefa...Grupo de Pesquisa em Nanoneurobiofisica
 
Lúpus matheus e angelita final
Lúpus matheus e angelita finalLúpus matheus e angelita final
Lúpus matheus e angelita finalMatheus Pires
 
Arterites e vasculites de interesse cirúrgico
Arterites e vasculites de interesse cirúrgicoArterites e vasculites de interesse cirúrgico
Arterites e vasculites de interesse cirúrgicogisa_legal
 
Introdução metodologia- pibic-joyce 30-08
Introdução   metodologia- pibic-joyce 30-08Introdução   metodologia- pibic-joyce 30-08
Introdução metodologia- pibic-joyce 30-08Fabiano Muniz
 
A importância do exame do líquor para o diagnóstico neurológ
A importância do exame do líquor para o diagnóstico neurológA importância do exame do líquor para o diagnóstico neurológ
A importância do exame do líquor para o diagnóstico neurológDr. Rafael Higashi
 
Febre, Inflamação e Infecção
Febre, Inflamação e Infecção Febre, Inflamação e Infecção
Febre, Inflamação e Infecção StefanyTeles3
 

Semelhante a ANCA na Diagnóstico de Vasculites (20)

Laboratório em Reumatologia
Laboratório em ReumatologiaLaboratório em Reumatologia
Laboratório em Reumatologia
 
Laboratório
LaboratórioLaboratório
Laboratório
 
Laboratório
LaboratórioLaboratório
Laboratório
 
Laboratório em Reumatologia
Laboratório em ReumatologiaLaboratório em Reumatologia
Laboratório em Reumatologia
 
Virologia Clínica Parte 4 Diagnóstico Laboratorial [Profa.Zilka]
Virologia Clínica Parte 4 Diagnóstico Laboratorial [Profa.Zilka]Virologia Clínica Parte 4 Diagnóstico Laboratorial [Profa.Zilka]
Virologia Clínica Parte 4 Diagnóstico Laboratorial [Profa.Zilka]
 
sindromes-de-mononucleose INFECTOLOGIA MEDICA
sindromes-de-mononucleose INFECTOLOGIA MEDICAsindromes-de-mononucleose INFECTOLOGIA MEDICA
sindromes-de-mononucleose INFECTOLOGIA MEDICA
 
Imunoensaios cap 5
Imunoensaios cap 5Imunoensaios cap 5
Imunoensaios cap 5
 
3bc4b07dac08a35c8a3870f452b23ec9
3bc4b07dac08a35c8a3870f452b23ec93bc4b07dac08a35c8a3870f452b23ec9
3bc4b07dac08a35c8a3870f452b23ec9
 
Churg strauss
Churg straussChurg strauss
Churg strauss
 
Antibióticos - Seminario UFPB - Prof Evanizio Roque
Antibióticos - Seminario UFPB - Prof Evanizio RoqueAntibióticos - Seminario UFPB - Prof Evanizio Roque
Antibióticos - Seminario UFPB - Prof Evanizio Roque
 
Pregabalina protege neuronios de acao pro inflamatoria de linfocitos t encefa...
Pregabalina protege neuronios de acao pro inflamatoria de linfocitos t encefa...Pregabalina protege neuronios de acao pro inflamatoria de linfocitos t encefa...
Pregabalina protege neuronios de acao pro inflamatoria de linfocitos t encefa...
 
Diagnostico lupus
Diagnostico lupusDiagnostico lupus
Diagnostico lupus
 
Eletroforese de proteinas séricas
Eletroforese de proteinas séricasEletroforese de proteinas séricas
Eletroforese de proteinas séricas
 
Lúpus matheus e angelita final
Lúpus matheus e angelita finalLúpus matheus e angelita final
Lúpus matheus e angelita final
 
Arterites e vasculites de interesse cirúrgico
Arterites e vasculites de interesse cirúrgicoArterites e vasculites de interesse cirúrgico
Arterites e vasculites de interesse cirúrgico
 
Introdução metodologia- pibic-joyce 30-08
Introdução   metodologia- pibic-joyce 30-08Introdução   metodologia- pibic-joyce 30-08
Introdução metodologia- pibic-joyce 30-08
 
Laboratório
LaboratórioLaboratório
Laboratório
 
A importância do exame do líquor para o diagnóstico neurológ
A importância do exame do líquor para o diagnóstico neurológA importância do exame do líquor para o diagnóstico neurológ
A importância do exame do líquor para o diagnóstico neurológ
 
Febre, Inflamação e Infecção
Febre, Inflamação e Infecção Febre, Inflamação e Infecção
Febre, Inflamação e Infecção
 
TOXOPLAMOSE
TOXOPLAMOSETOXOPLAMOSE
TOXOPLAMOSE
 

Mais de Flávia Salame

TCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios BásicosTCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios BásicosFlávia Salame
 
Insuficiência Respiratória
Insuficiência RespiratóriaInsuficiência Respiratória
Insuficiência RespiratóriaFlávia Salame
 
Doenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais PulmonaresDoenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais PulmonaresFlávia Salame
 
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDALesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDAFlávia Salame
 
Teste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da TuberculoseTeste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da TuberculoseFlávia Salame
 
Distúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do SonoDistúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do SonoFlávia Salame
 
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-baseGasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-baseFlávia Salame
 
Distúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básicoDistúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básicoFlávia Salame
 
Manual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição MédicaManual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição MédicaFlávia Salame
 
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010Flávia Salame
 
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificadoCronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificadoFlávia Salame
 
Micoses pulmonares uea
Micoses pulmonares ueaMicoses pulmonares uea
Micoses pulmonares ueaFlávia Salame
 
7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoria7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoriaFlávia Salame
 

Mais de Flávia Salame (20)

TCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios BásicosTCAR de tórax: Princípios Básicos
TCAR de tórax: Princípios Básicos
 
Derrames Pleurais
Derrames PleuraisDerrames Pleurais
Derrames Pleurais
 
Insuficiência Respiratória
Insuficiência RespiratóriaInsuficiência Respiratória
Insuficiência Respiratória
 
Silicose
SilicoseSilicose
Silicose
 
Asma ocupacional
Asma ocupacionalAsma ocupacional
Asma ocupacional
 
Asbestose
AsbestoseAsbestose
Asbestose
 
Doenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais PulmonaresDoenças Ocupacionais Pulmonares
Doenças Ocupacionais Pulmonares
 
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDALesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
Lesão Cavitária Pulmonar em paciente SIDA
 
Teste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da TuberculoseTeste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
Teste Xpert para diagnóstico da Tuberculose
 
Distúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do SonoDistúrbios Respiratórios do Sono
Distúrbios Respiratórios do Sono
 
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-baseGasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
Gasometria Arterial- Distúrbios do Equilíbrio Ácido-base
 
Acido base pucsp
Acido base pucspAcido base pucsp
Acido base pucsp
 
Distúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básicoDistúrbios do equilíbrio ácido-básico
Distúrbios do equilíbrio ácido-básico
 
Manual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição MédicaManual de Prescrição Médica
Manual de Prescrição Médica
 
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
Guia Antimicrobianos do HUPE - EURJ - 2010
 
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificadoCronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
Cronograma de aulas_teóricas-01-2014(2)-modificado
 
Micoses pulmonares uea
Micoses pulmonares ueaMicoses pulmonares uea
Micoses pulmonares uea
 
7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoria7 insuficiencia respiratoria
7 insuficiencia respiratoria
 
Sdra consenso vm
Sdra consenso vmSdra consenso vm
Sdra consenso vm
 
Sdra fmrpusp
Sdra fmrpuspSdra fmrpusp
Sdra fmrpusp
 

ANCA na Diagnóstico de Vasculites

  • 1. S 16 Radu AS, Levi M Capítulo 4 Anticorpos contra o citoplasma de neutrófilos* Antineutrophil cytoplasmic antibodies ARI STIEL RADU 1 , MAURICIO LEVI 1 Resumo Abstract A descoberta do marcador sorológico denominado The discovery of the serological markers known as antineutrophil anticorpo anticitoplasma de neutrófilos revolucionou o cytoplasmic antibodies revolutionized the diagnosis and follow- diagnóstico e o seguimento das vasculites pulmonares, up treatment of the various forms of pulmonary vasculitis, especially especialmente da granulomatose de Wegener. Seu padrão that of Wegener's granulomatosis. The antineutrophil cytoplasmic pode ser citoplasmático e perinuclear. Sua titulação auxilia antibodies pattern can be cytoplasmic or perinuclear. Determination no diagnóstico e no seguimento das vasculites pulmonares. of antineutrophil cytoplasmic antibodies titers aids the diagnosis and follow-up treatment of pulmonary vasculitis. Descritores: Vasculite/diagnóstico; Pneumopatias/diag- Keywords: Vasculitis/diagnosis; Lung diseases/diagnosis; Wegener's nóstico; Granulomatose de Wegener/diagnóstico; Anticorpos granulomatosis/diagnosis; Antibodies, antineutrophil cytoplasmic/ anticitoplasma de neutróficos/uso diagnostico; Anticorpos diagnostic use; Antibodies, antineutrophil cytoplasmic/blood; anticitoplasma de neutrófilos/sangue; Marcadores Biological markers; Enzyme-linked immunosorbent assay/ methods; biológicos; ELISA/métodos; Neutrófilos/imunologia Neutrophils/immunology INTRODUÇÃO HISTÓRICO As vasculites sistêmicas são um grupo de A primeira descrição deste marcador surgiu no início doenças raras. Seu diagnóstico representa um da década de 1980, com o relato da presença de IgG desafio clínico de grande importância, pois permite contra componentes do citoplasma de polimor- um tratamento precoce e direcionado para estas fonucleares neutrófilos no soro de 8 pacientes.(1) Estes situações potencialmente graves. Da mesma forma, pacientes apresentavam quadro clínico de glomeru- o acompanhamento evolutivo destas patologias lonefrite necrotizante segmentar pauciimune associada depende de dados clínicos e/ou laboratoriais que a manifestações sistêmicas. Neste sentido, um estudo permitam diferenciar atividade de remissão. No multicêntrico realizado na Holanda e Dinamarca(2) entanto, o quadro clínico inicial das vasculites é demonstrou o valor da detecção de ANCA por imuno- comumente inespecífico, exigindo a espera de uma fluorescência, no diagnóstico e acompanhamento de confirmação histológica para o seu diagnóstico. portadores de granulomatose de Wegener (GW). Esta Além disso, as recidivas da doença costumam descoberta marcou o início do estudo dos ANCA nas apresentar-se de forma também incaracterística vasculites e certamente representou um dos maiores tanto do ponto de vista clínico quanto laboratorial. avanços no diagnóstico e estudo destas patologias. Os Assim sendo, a descoberta de anticorpos contra o autores detectaram ANCA em 25/27 portadores de GW citoplasma de neutrófilos (ANCA),(1,2) um marcador ativa contra 4/32 com a doença em remissão. Não foi sorológico possivelmente específico para as vascu- observado qualquer teste falso-positivo no grupo lites sistêmicas, produziu grande impacto na litera- controle, que incluía diversos pacientes com vasculites tura médica internacional. Desde então, vários con- variadas, glomerulonefrites, doenças do conectivo e sensos internacionais foram realizados, com o doenças granulomatosas. O teste foi considerado objetivo de padronizar técnicas e difundir conheci- altamente específico para GW e parecia ter relação com mentos atualizados sobre o papel desses anticorpos a atividade da doença. nas vasculites e outras doenças. * Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP) Brasil. 1. Doutor em Reumatologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP) Brasil. J Bras Pneumol. 2005; 31(Supl 1):S16-S20
  • 2. Anticorpos contra o citoplasma de neutrófilos S 17 PADRÕES DE ANCA enzimática pode produzir lesão tecidual e degradação de bactérias fagocitadas. Sua localização é intracelular Estes anticorpos foram inicialmente detectados no polimorfonuclear neutrófilo em repouso; no por imunofluorescência (IF). A detecção de ANCA entanto, pode ser liberada após estímulo, permitindo foi considerada específica para a GW ou a poliar- a formação de imunecomplexos com o anticorpo terite microscópica.(3) No entanto, posteriormente, específico. Inicialmente, estudos ultra-estruturais ANCA foi demonstrado em associação com número observaram a presença desse antígeno apenas no crescente de situações clínicas, tais como poli- interior dos grânulos azurófilos, porém outros autores arterite nodosa,(4) arterite de células gigantes,(5) conseguiram demonstrá-lo expresso na membrana vasculite de Churg-Strauss (6), certas formas de celular.(15) O epitopo antigênico encontra-se na super- glomerulonefrite necrotizante rapidamente pro- ficie da molécula e depende de sua estrutura terciária gressiva,(7) bem como doenças fora do espectro intacta para o reconhecimento pelo anticorpo. clínico das vasculites.(8-10) Essas divergências foram O padrão pANCA, por sua vez, representa uma parcialmente esclarecidas com a constatação da maior variedade de especificidades antigênicas existência de pelo menos dois padrões de IF como a mieloperoxidase (MPO), elastase, lactofer- distintos: o padrão clássico (cANCA) (Figura 1) e o rina e catepsina G. (16,17) No entanto, na população padrão perinuclear (pANCA). Enquanto o cANCA com vasculite de pequenos vasos ou com glome- parece ser específico para GW, o pANCA pode ser rulonefrite, a MPO parece ser o principal alvo dos observado em grande variedade de situações clíni- anticorpos.(18) O padrão perinuclear é, na realidade, cas. Nos portadores de vasculites observou-se que conseqüência de um artefato técnico causado pela pANCA ocorre mais freqüentemente em pacientes fixação dos polimorfonucleares neutrófilos com o com doença limitada aos rins ou nos casos de etanol, levando à redistribuição das enzimas poliarterite microscópica. Apesar destas associações citoplasmáticas solúveis e nucleofílicas. Se o clínicas divergentes, os dois padrões de IF são polimorfonuclear neutrófilo for fixado com forma- causados por uma resposta auto-imune igualmente lina ao invés de etanol, as proteínas permanecem dirigida contra enzimas de grânulos azurófilos de no citoplasma da célula produzindo IF indireta com neutrófilos humanos. padrão clássico. A MPO também tem uma impor- O neutrófilo humano possui dois tipos de grâ- tante atividade bactericida catalisando a formação nulos citoplasmáticos: os azurófilos ou primários intracelular de produtos tóxicos como HOCl, H2O2 e os grânulos específicos ou secundários que e radicais do oxigênio. Além disso, produtos deri- podem ser mobilizados separadamente. Os grânulos vados da MPO podem pavimentar o caminho da azurófilos, cujos constituintes são alvo de reconhe- proteólise induzida pelas proteases serínicas através cimento pelos ANCA, são extremamente bem equi- da sua capacidade de inativar a alfa1-antitripsina, pados para matar e digerir microorganismos. Entre que é uma importante inibidora de proteases. (19) os tipos de enzimas que são encontradas em seu Mais recentemente, foi descrito o padrão atípico interior temos: hidrolases ácidas, enzimas microbi- de ANCA que representa reação à lactoferrina, cidas, mieloperoxidase e lisosima, proteinases neu- tras (elastase, catepsina G e proteinase 3 - PR3). Estas enzimas podem ser liberadas para o meio extracelular, onde mantêm sua atividade proteolí- tica ao redor do processo inflamatório. Dentre elas, as proteinases neutras são consideradas as mais ativas, tendo importante ação, tanto na proteólise do colágeno, como na estimulação in vitro de linfóci- tos B para a produção de anticorpos.(12) O padrão cANCA decorre de anticorpos contra a PR3.(13) Esta enzima tem alta capacidade de digerir a elastina e produzir enfisema em hamsters. (14) Na verdade, esta proteína de 229 aminoácidos tem estrutura muito semelhante à da elastase e possui Figura 1 - Anticorpo anticitoplasma de neutrófilo clássico também atividade antimicrobiana. Sua atividade (ANCAc) visualizado através de imunofluosrescência. J Bras Pneumol. 2005; 31(Supl 1):S16-S20
  • 3. S 18 Radu AS, Levi M catepsina G e outros antígenos diferentes da PR3. os ANCA. Testes de ELISA utilizando anticorpos Este padrão tem importância clínica já que a confusão monoclonais contra a PR3 ou a mieloperoxidase deste padrão com o padrão cANCA é uma das passaram a ser amplamente utilizados. Atualmente principais causas de testes falso-positivos. Neste existem diferentes testes de ELISA com diferentes sentido, várias doenças fora do espectro das vasculites substratos sendo utilizados nos diversos laborató- podem apresentar ANCA positivo. A artrite reumatóide, rios. Isto levou à necessidade de se elaborar um a síndrome de Felty, a colangite esclerosante, a hepa- consenso internacional para padronizar as técnicas tite crônica ativa desenvolvem ANCA, geralmente em de detecção de ANCA.(24) baixos títulos e IF atípica. Nestes casos o padrão de Hoje está claro que, à semelhança do que é IF é conseqüência de múltiplas reatividades a vários observado com os fatores antinúcleo nas doenças antígenos dos grânulos neutrofílicos, bem como a auto-imunes, existe toda uma classe de auto- antígenos nucleares e citosólicos.(20) Da mesma forma, anticorpos que reagem com enzimas mielóides nas pacientes com infecções crônicas ou menor defesa vasculites sistêmicas e glomerulonefrites. Estes contra invasão bacteriana, como portadores de fibrose anticorpos expressam-se por diferentes padrões de cística, RCUI e bronquiectasias, produzem ANCA diri- fluorescência quando se utiliza o polimorfonuclear gido contra a BPI (bacterial permeability-increasing neutrófilo como substrato. Apesar de uma sensibi- protein), que também é produto de grânulos azurófilos. lidade relativamente baixa para a GW e poliarterite microscópica, particularmente nas formas localiza- TÉCNICAS DE DETECÇÃO das ou em remissão,(25) o teste de IF continua sendo o padrão ouro da investigação inicial destes anti- A IF indireta é o teste mais utilizado para de- corpos. Na experiência dos autores, a variedade tecção de ANCA. Embora seja um teste rápido e de anticorpos envolvidos nesta resposta auto- barato sua interpretação traz algumas dificuldades. imune exige que sua pesquisa seja iniciada por Padrões atípicos são observados com certa fre- um teste abrangente, como a IF indireta. A especi- qüência e precisam ser diferenciados de ANCA ficidade antigênica deve, no entanto, ser confir- verdadeiro.(21) Sua detecção é uma das principais mada por testes de ELISA. Os testes de ELISA são causas de ANCA falso-positivos. A presença conco- particularmente úteis nos casos de ANCA em baixos mitante de fator antinúcleo dificulta a interpre- títulos, na diferenciação de fluorescência atípica tação dos achados de IF indireta. Pacientes com de ANCA verdadeiro, na presença concomitante de fator antinúcleo positivo devem ser avaliados com anticorpos anti-nucleares(26) e na detecção de aMPO cautela na interpretação dos resultados de ANCA em casos de glomerulonefrites ou síndrome por IF indireta.(22) O método é semiquantitativo, o pulmão-rim. Vale ressaltar que muito embora o que dificulta a avaliação de variações no curso da padrão cANCA seja altamente específico para a doença e carece de sensibilidade para baixos títulos presença de anti-PR3, existem algumas exceções de anticorpos.(23) como alguns soros anti-MPO que produzem IF Por esses motivos vários ensaios de fase sólida clássica por motivos ainda não esclarecidos. (19) foram desenvolvidos para a detecção de ANCA.(23) Assim sendo, o consenso internacional de ANCA(24) A sensibilidade e especificidade do ensaio depen- sugere que a pesquisa destes anticorpos na dem da pureza do extrato utilizado. Inicialmente monitorização terapêutica e no diagnóstico de foram descritos testes de ELISA utilizando extrato casos suspeitos de GW, vasculite de Churg-Strauss, total de polimorfonucleares neutrófilos como antí- poliarterite microscópica e sua variante renal geno. Estes testes tinham baixa especificidade e limitada (GN crescêntica pauciimune) seja sempre foram abandonados. Da mesma forma, a utilização realizada com a associação do teste de IF e teste de extratos um pouco mais puros, como grânulos de ELISA anti-PR3 e anti-MPO. primários isolados de polimorfonucleares neutró- filos, permitiu pouca melhora na especificidade.(23) SENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADE DOS Os principais epitopos da PR3 e da MPO são TESTES conformacionais, motivo pelo qual apenas recen- temente investigadores conseguiram produzir PR3 A sensibilidade e especificidade de um teste e MPO recombinante com atividade enzimática e depende da técnica utilizada para a detecção e da epitopos imunorreativos ideais para a ligação com população estudada. J Bras Pneumol. 2005; 31(Supl 1):S16-S20
  • 4. Anticorpos contra o citoplasma de neutrófilos S 19 Com relação à técnica, de acordo com o relatado é mais comum nos pacientes com doença limitada acima, é necessária a detecção de ANCA por IF aos rins. Entre estes dois extremos encontramos associada à detecção de anticorpos anti-PR3 e anti- pacientes que podem apresentar tanto cANCA MPO por ELISA, para se obter boa especificidade e quanto pANCA. Dessa forma, pode se dizer que as sensibilidade no diagnóstico de vasculites sistêmicas. enfermidades ANCA-positivas (independentemente No entanto, em nosso meio, testes de ELISA anti- do padrão de fluorescência) cursam, clinicamente, corpos PR3 e anti-MPO nem sempre estão disponí- dentro de um espectro contínuo que varia de uma veis. Nestes casos a presença de cANCA pode ser doença limitada aos rins até formas sistêmicas considerada bastante específica, muito embora sua generalizadas.(28) A presença de um marcador soro- sensibilidade não ultrapasse os 70% a 80%.(25) A lógico comum sugere que este grupo de doenças presença de pANCA pode ser pouco específica mas possa compartilhar aspectos fisiopatogênicos. Por passa a ter valor clínico na suspeita clínica de outro lado, a relação entre pANCA e doenças fora vasculite ou em casos de glomerulonefrite crescêntica. do espectro das vasculites sistêmicas não está Com relação à população de estudo, é preciso totalmente esclarecida. lembrar da grande confusão que existe na literatura no que se refere à classificação das vasculites. ANCA NO ACOMPANHAMENTO Alguns autores consideram a poliarterite nodosa TERAPÊUTICO DAS VASCULITES como uma das doenças ANCA-positivas. Outros, no entanto, consideram vasculites ANCA-positivas Além de sua aplicabilidade no diagnóstico das apenas a própria GW a poliarterite microscópica, vasculites, tem-se observado que os títulos de ANCA a síndrome de Churg-Strauss e formas mais limita- acompanham a atividade de doença. (29) Já está das destas doenças. Estas doenças compartilham estabelecido que os títulos deste anticorpo não se um envolvimento predominante-mente capilar e alteram com a presença de infecção intercorrente e venular, às vezes com envolvimento de arteríolas que a IF tende a se negativar na doença em remis- e a presença precoce de um infiltrado neutrofílico são. Estudos prospectivos(30) demonstram que um nos vasos. O envolvimento de vasos maiores pode aumento nos níveis séricos de ANCA geralmente ocorrer em alguns pacientes mas, por definição, precede recidivas da doença. Isto vale para testes envolvimento simultâneo de vasos pequenos não de ELISA anti-PR3 e anti-MPO, mas também para ocorre na poliarterite nodosa. Assim sendo, de acordo os testes de IF (com menor sensibilidade). com esta definição, casos de poliarterite nodosa No entanto, este não é um achado universal. clássica não produzem ANCA. (26) Existem casos nos quais a recidiva ocorre sem um A maior parte dos estudos de portadores de prévio aumento de ANCA e alguns casos raros nos GW ativa demonstra cANCA em cerca de 70% a quais os títulos não caem após remissão da doença, 80% dos casos e pANCA em cerca de 10% dos muito embora estes pacientes tenham tendência a casos. Na poliarterite microscópica ou na glomeru- pior prognóstico renal ao longo dos anos. Além disso, lonefrite crescêntica, 60% possuem pANCA e 30% este aumento dos ANCA pode anteceder muito a deles cANCA. Pacientes com síndrome de Churg- recidiva clínica, não justificando um imediato aumen- Strauss têm ANCA c ou p em cerca de 30% dos to nas doses de drogas imunossupressoras potencial- casos. A sensibilidade do método é ainda menor mente tóxicas. Portanto, conclui-se que, muito embora em casos de doença em fase de remissão ou nas a avaliação seriada de ANCA seja bastante útil no formas localizadas. Assim sendo, um teste de ANCA acompanhamento terapêutico dos portadores de negativo nunca afasta a presença de vasculite. vasculites sistêmicas, a decisão terapêutica deve basear- Na verdade, existe certa sobreposição entre os se em aspectos clínicos e laboratoriais associados. pacientes portadores de cANCA e pANCA.(27) Nos por- Em resumo: ANCAs são um grupo de anticorpos tadores de vasculites e glomerulonefrites, observou- contra enzimas neutrofílicas extremamente úteis no se que cANCA‚ se associa com o acometimento de diagnóstico de vasculites sistêmicas de pequenos pulmão, vias aéreas superiores e rins, particular- vasos e certas glomerulonefrites necrotizantes; o mente naqueles com formação de granulomas e padrão clássico é altamente específico para a GW, extensa doença extra-renal. O padrão pANCA, enquanto que o padrão perinuclear ocorre nas também pode ser observado nestes doentes, porém vasculites de pequenos vasos, glomerulonefrites J Bras Pneumol. 2005; 31(Supl 1):S16-S20
  • 5. S 20 Radu AS, Levi M necrotizantes e outras doenças fora do espectro das 14. Kao RC, Wehner NG, Skubitz KM, Gray BH, Hoidal JR. Proteinase 3. A distinct human polymorphonuclear vasculites; padrões atípicos ocorrem com certa leukocyte proteinase that produces emphysema in hamsters. freqüência em uma série de situações clínicas e devem J Clin Invest. 1988;82(6):1963-73. ser diferenciados do ANCA verdadeiro; a detecção 15. Csernok E, Ludemann J, Gross WL, Bainton DF. Ultrastructural de ANCA deve ser realizada com a associação de localization of proteinase 3, the target antigen of anti- cytoplasmic antibodies circulating in Wegener’ s testes de IF com testes de ELISA anti-PR3 e anti- granulomatosis. Am J Pathol. 1990;137(5):1113-20. MPO; ANCAs são úteis no acompanhamento evolutivo 16. Gallicchio MC, Savige JA. Detection of anti-myeloperoxidase das vasculites, porém a decisão terapêutica deve se and anti-elastase antibodies in vasculitides and infections. basear na associação de achados clínicos e labora- Clin Exp Immunol. 1991;84(2):232-7. 17. Lesavre P, Chen N, NusbaumP, Mecarelli L, Noel LH. toriais. Antineutrophil cytoplasm antibodies (ANCA) with antilactoferrin activity in vasculitis [abstract]. Kidney Int. REFERÊNCIAS 1990;37(1):442. [Presented at American Society of Nephrology; 1989 Dec 3-6; Washington, DC]. 1 8 . Lee SS, Adu D, Thompson RA. Anti-myeloperoxidase 1. Davies DJ, Moran JE, Niall JF, Ryan GB. Segmental antibodies in systemic vasculitis. Clin Exp Med. 1990; necrotising glomerulonephritis with antineutrophil 79(1):41-6. antibody: possible arbovirus aetiology? Br Med J (Clin 19. Wiik A. Rational use of ANCA in the diagnosis of vasculitis. Res Ed). 1982;285(6342):606. Rheumatology (Oxford). 2002;41(5):481-3. 2. Van Der Woude FJ, Rasmussen N, Lobatto S, Wiik A, 20. Pradhan VD, Badakere SS, Iyer YS, Kumar R, Almeida AF. A Permin H, Van Es LA, et al. Autoantibodies against study of anti-neutrophil cytoplasm antibodies in systemic neutrophils and monocytes: tool for diagnosis and vasculitis and other related disorders. J Postgrad Med. marker of disease activity in Wegener’s granulomatosis. 2003;49(1):5-9; discussion 9-10. Lancet. 1985;1(8426):425-9. 21. Wong RC, Silvestrini RA, Savige JA, Fulcher EM, Benson EM. 3. Neutrophil cytoplasmic autoantibodies and Wegener's Diagnostic value of classical and atypical antineutrophil granulomatosis. Lancet. 1989;1(8632):269-30. cytoplasmic antibody (ANCA) immunofluoresence patterns. 4. Guillevin L, Visser H, Oksman F, Pourrat J. Antineutrophil J Clin Pathol. 1999;52(2):124-8. cytoplasmic antibodies in polyarteritis nodosa related to 2 2 . Christenson VD, Dooley MA, Allen NB. Discrimination hepatitis B virus [letter]. Arthritis Rheum. 1990;33 of antineutrophil antibodies from antinuclear antibod- (12):1871-2. ies using immunofluorescence on neutrophils and HL60 5. Bosh X, Font J, Mirapeix E, Cid MC, Revert L, Ingelmo cells. J Rheumatol. 1991;18(4):575-9. L. Antineutrophil cytoplasmic antibodies in giant cell 23. Kallenberg CG, Rasmussen N. Solid phase assay for ANCA. arteritis [letter]. J Rheumatol. 1991;18(5):787-8. Neth J Med. 1990;36(3-4):132-6. 6. Gaskin G, Ryan JJ, Rees AJ, Pusey CD. Anti-myeloperoxidase 24. Savige J, Gillis D, Benson E, Davies D, Esnault V, Falk RJ, et antibodies in vasculitis: relationship to ANCA and clinical al. International Consensus Statement on Testing and diagnosis. APMIS. 1990;19(Suppl):33. Reporting of Antineutrophil Cytoplasmic Antibodies (ANCA). 7. Falk RJ, Jenneette JC. Anti-neutrophil cytoplasmic Am J Clin Pathol. 1999;111(4):507-13. autoantibodies with specificity for myeloperoxidase in 25. Radu AS, Bueno C, Bonfa ESDO, Cossermelli W. Comparação patients with systemic vasculitis and idiopatic necrotizing entre as técnicas de imunofluorescência e ELISA com extrato and crescentic glomerulonephritis. N Engl J Med. 1988; total de neutrófilos e com grânulos primários para a detecção 31825):1651-7 de anticorpos contra o citoplasma de neutrófilos (ANCA). 8. Davenport A, Grant PJ. False positive autoantibodies in Rev Hosp Clin Fac Med S Paulo. 1995;50(2):65-70. HIV infection [letter]. Lancet. 1990;336(8710):317-8. 26. Merkel PA, Polisson RP, Chang YC, Skates SJ, Niles JL. 9. Meyer O, Papo T, Piette MF, Kahn MF, Godeau P. Detection Prevalence of antineutrophil cytoplasmic antibodies in a and clinical implication of antineutrophil cytoplasmic large inception cohort of patients with connective tissue antibodies (ANCA) in 33 cases of relapsing polychondritis disease. Ann Intern Med. 1997;126(11):866-73. [abstract]. Arthritis Rheum. 1990;33(Suppl 5):89. 27. Goldschmeding R, Tervaert JW, Gans RO, Dolman KM, Van 10. Saxon A, Shanahan F, Landers C, Gans T, Targan S. A distinct der Ende ME, Kuizinga MC, et al. Different immunological subset of antineutrophil cytoplasmic antibodies is associated specificities and disease associations of c-ANCA and p-ANCA. with inflamatory bowel disease. J Allergy Clin Immunol. Neth J Med.1990;36(3-4):114-6. 1990;86(2):202-10. 28. Falk RJ, Jennette JC. Wegener's granulomatosis, systemic 11. Venning MC, Quinn A, Broomhead V, Bird AG. Antibodies vasculitis, and antineutrophil cytoplasmic autoantibodies. directed against neutrophils (cANCA and pANCA) are of Annu Rev Med. 1991;42:459-69. distinct diagnostic value in systemic vasculitis. Q J Med. 29. Egner W, Chapel HM. Titration of antibodies against 1990;77(284):1287-96. neutrophil cytoplasmic antigens is useful in monitoring 12. Baggiolini M, Bretz U, Dewald B, Feigenson ME. The disease activity in systemic vasculitides. Clin Exp Immunol. polymorphonuclear leukocyte. Agents Actions. 1978;8(1- 1990;82(2):244-9. 2):3-10. 30. Boomsa MM, Stegeman CA, Van der Leij W, Oost W, Hermans 13. Bini P, Gabay JE, Teitel A, Melchior M, Zhou JL, Elkon KB. OJ, Kallenberg CG, et al. Prediction of relapses in Wegener´s Antineutrophil cytoplasmic autoantibodies in Wegener´s granulomatosis by measurement of antineutrophil granulomatosis recognize conformational epitope(s) on cytoplasmic antibody levels. A prospective study. Arthritis proteinase 3. J Immunol. 1992;149(4):1409-15. Rheum. 2000;43(9):2025-33. J Bras Pneumol. 2005; 31(Supl 1):S16-S20