1. Industria de Construção Naval:
Avanços e Desafios Tecnológicos do
Setor
James Weiss
Instituto de Pesquisas Tecnológicas
Agosto de 2014
2. 1. Uma indústria Global
O navio é um bem de capital de
alto valor agregado
Produção sob encomenda, intensiva
em mão de obra
Inúmeros encadeamentos setoriais
Atende a necessidades específicas de
armadores (empresas de navegação)
As maiores empresas de construção
naval competem entre si em muitos
países diferentes
Os grandes compradores fazem
comparações internacionais acerca
da qualidade, preços e prazos de
entrega dos navios a serem
adquiridos
A maior parte das atividades é
geograficamente concentrada e os
mercados regionais são atendidos
numa perspectiva global
3. Porte de Estaleiros e Mercados Atendidos
Escala de Produção Mercado Tipos de Embarcações
Grande Porte
Transporte Marítimo Navios Mercantes Oceânicos
Prospecção e Produção de
Petróleo e Gás no Mar
Plataformas offshore e sondas
de perfuração
Marinha de Guerra Navios Militares
Médio Porte
Apoio Marítimo Supply Vessels, Rebocadores
Navios de serviço
Transporte de cabotagem Navios Mercantes de
cabotagem, Ferry boats
Pequeno Porte
Transporte Fluvial Comboios de barcaças e
Empurradores
Embarcações marítimas de
pequeno porte
Barcos de pesca, lanchas,
barcos de recreio
4. Presença do Estado
A produção de navios é considerada
estratégica pelos seguintes motivos:
i) uma frota própria representa
uma vantagem comparativa no
mercado internacional;
ii) uma frota própria é essencial em
situações de defesa e segurança
nacional;
iii) a indústria naval gera muitas
externalidades positivas (nível de
emprego e encadeamentos
setoriais, entre outros).
Por essas razões, muitos países adotam
formas de estímulo econômico e
subsídios à construção naval
Prevalece uma forte presença do
Estado na coordenação e no
financiamento da construção naval
em todo o mundo
5. Inovação Tecnológica
A indústria militar é grande indutora
da inovação tecnológica nessa
indústria
• O projeto naval é condição
essencial para a inovação e
para que os produtores
tenham controle as
aquisições de máquinas,
equipamentos marítimos e
materiais
• A vida útil de um navio é de
aproximadamente 20 anos
Em média, o ciclo completo de
produção de um navio oceânico é
de cerca de 2 anos
7. 2. A Construção Naval no Mundo
• A produção mundial passou por um longo ciclo de
expansão entre 2001 e 2011
• Produção total em 2012:
– 135 milhões de DWT, apenas de navios comerciais
Aproximadamente 95,2 milhões de CGT
– Faturamento estimado: US$ 185 Bilhões
• Esses números não consideram:
• A construção naval de uso militar
• A construção de plataformas e sondas offshore
• As embarcações abaixo de 100 GT
9. O mercado mundial
• A demanda mundial é cíclica e instável
• Alta volatilidade de preços
Diversos fatores induzem a demanda mundial:
• o crescimento do comércio internacional,
• o envelhecimento da frota mundial,
• o aumento das restrições internacionais de
segurança à navegação
• e a expansão das atividades de exploração de
petróleo no mar em todos continentes.
16. Posição do Brasil na Produção Mundial
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Japão
Coreia
China
Alemanha
Europa
Brasil
Lloyd's Register of Shipping's "World Fleet Statistics"
Tonelagem
Produzida
(1000 GT)
17. Posição Competitiva da Construção Naval Brasileira
(1975-85)
Produção Nacional por País (1000 GT)
Ano Japão Coreia Brasil Alemanha
1975 16991 410 295 2848
1976 15868 814 407 2227
1977 11708 562 380 1973
1978 6307 604 442 1253
1979 4697 495 665 818
1980 6094 522 729 722
1981 8400 929 716 1060
1982 8163 1401 500 958
1983 6670 1539 259 1134
1984 9711 1473 271 882
1985 9503 2620 581 920
18. 3. Condicionantes da Competitividade
A construção naval competitiva se concretiza de duas
formas:
• Em complexos industriais envolvendo a indústria pesada
e a indústria de bens de capital: Coréia, Japão, China
• Dentro de clusters dedicados a atender nichos de
mercado: Itália, Finlândia, Noruega
• O custo de produção é fator determinante da
competitividade
• Segmentação global, diferenciação e especialização
mantém importantes produtores em diversos locais do
mundo: esses produtores atingem volumes de produção
adequados ao controle de custos
20. Cadeia de valor da Construção Naval
20
Atividades Primárias
Infra-estrutura da Empresa (1-11%)
Compras
Logística
de
Insumos
Operações
Custos de Mão de
Obra:
Batimento de Quilha
(4-11%)
Lançamento
(5-12%)
Materiais Adquiridos
(63-70%)
Logística
do Produto
Entrega:
(2-4%)
Marketing e Vendas
Contrato inicial
(1-2%)
Assinatura de
Contrato
(1-2%)
Serviço
Pós-
venda
Atividades
deApoio
Administração de Recursos Humanos
Desenvolvimento de Tecnologia (0,1 – 0,3%)
Margem
CHO, D.S.; PORTER, M.E. Changing global industry leadership: the case of shipbuilding.
In: PORTER, M.E. (Ed.) Competition in global industries. Boston: H Business School Press, 1986.
Marge de lucro: 1-3%
21. Fatores de Competitividade
• A liderança de mercado nessa indústria passa por
etapas bem definidas:
– Mercado protegido
– Desenvolvimento da indústria correlata e de apoio
– Liderança em custos – Controle das Estruturas de Custos
de Produção
– Segmentação de mercado e diferenciação global
• A produção dos estaleiros modernos é cada vez mais
dependente de fornecedores especializados
22. Estruturas de Custos de Produção de Estaleiros
Estaleiro Europeu Típico
Aço
15%
Maquinário
15 – 18,75%
Sistemas marítimos
e acessórios
37,5 – 45%
Produção
estaleiro
~ 25%
Materiais:
11,25%
(Aço: 3 ,75%)
Sub -
contratados
7,5%
Turn key
15%
Sistemas
marítimos
41,25%
Produção do
estaleiro
~ 25%
Aço
13 – 16,25%
Maquinário
13 – 16,25%
Sistemas marítimos
e acessórios
32,5 – 39%
Produção
do estaleiro
~ 35%
Embarcação de apoio offshore típico
Navio container típico
Navio de passageiros típico
Exemplos do Aker Yards ,
Fonte: Kanerva , 2004
Componentes e Materiais Adquiridos: (65- 75%)
23. Custo dos Componentes Adquiridos
• Para navios mais simples (petroleiros e graneleiros)
os custos de componentes, máquinas e
equipamentos atingem valores da ordem de 65% dos
custos totais de produção
• Para navios mais complexos (navios de cruzeiro e
PSVs) os custos de componentes adquiridos de
fornecedores podem superar 75% dos custos totais
de construção
• A tecnologia de máquinas e equipamentos navais
atualmente é dominada por fabricantes europeus
24. Estrutura de Custos no Brasil
Projeto
Produção
local
existente:
~42,9%
Produção
local
Viável:
~3,9%
Componentes
Importados:
~14,3%
•Aço
•Tintas
•Caldeiras
•Quadros elétricos
•Etc.
•Hélices
•Âncoras
•Ar-condicionado
•Compressores
•Etc.
•Motor principal
•Motor auxiliar
•Bombas de carga
•Sistemas de navegação
•Etc.
Mão-de-obra:
~20%
Custos
indiretos
15%
Componentes e Materiais Adquiridos: ~ 65% dos Custos
Baseado em dados da TRANSPETRO
Estimativas de Custos para os Navio Petroleiros Transpetro
É muito difícil ser uma indústria montadora que deve importar grandes volumes
de componentes no Brasil!
25. O Complexo Industrial da Construção Naval
• A competitividade da indústria de construção
depende de uma complexa coordenação de
encadeamentos setoriais:
– Tecnologia de Projeto
– Engenharia de produção
– Siderurgia e metalurgia
– Máquinas e equipamentos industriais
– Mecânica pesada
– Equipamentos eletrônicos e Sistemas de controle
26. 26
HIDRODINÂMICA
DO NAVIO
PROPULSÃO
MANOBRABILIDADE
ELETRÕNICA
CONTROLES
NAVEGAÇÃO
TECNOLOGIA DE
PROJETO E
CONSTRUÇÃO
PESADA
MOTORES
EIXOS
TRANSMISSÕES
INDUSTRIA DE
MÁQUINAS E
EQUIPAMENTOS
QUADROS
ELÉTRICOS
GERADORES
CONVERSORES
NAVIPEÇAS
CIÊNCIA
PESQUISA
MILITAR
INDÚSTRIA
MECÂNICA
PESADA
ENGENHARIA
DE
PRODUÇÃO
ENGENHARIA
NAVAL
GOVERNO
LIGAS METÁLICAS
AÇO NAVAL
CHAPAS GROSSAS
PERFIS
METALURGIA
E
SIDERURGIA
ESTALEIRO
SUPRIMENTOS
CONSTRUÇÃO
MONTAGEM
PROJETO
NAVAL
HIDRODINÂMICA
ESTRUTURAS
INTEGRAÇÃO DE
SISTEMAS
ARMADORES
TRANSPORTES
MARÍTIMOS
AFRETAMENTO
APOIO MARÍTIMO
FINANCIAMENTO
PODER DE COMPRA
INCENTIVOS
ECONÔMICOS
ENGENHEIROS
MÃO DE OBRA
TÉCNICA
QUALIFICADA
COMPLEXO INDUSTRIAL
DA CONSTRUÇÃO
NAVAL
SOCIEDADES
CLASSIFICADORAS
COMPANHIAS
DE SEGUROS
SISTEMA LOGÍSTICO
NACIONAL/ PORTOS
27. Avanços na Industria Brasileira
• Volume de encomendas significativo: orçamento
total do programa PROMEF é R$ 11,2 bilhões para a
construção de 49 navios e 20 comboios hidroviários
(2014)
• Os estaleiros brasileiros empregam diretamente 78
mil pessoas e geram mais 300 mil empregos na rede
de fornecedores de equipamentos e serviços
• Produção diversificada: navios, barcos de apoio
marítimo, FPSOs e plataformas offshore, navios
sonda
28. Problemas
• Instalação de estaleiros em diversos pontos do país
• Deseconomias de concentração industrial
• Privilegiou a abertura de estaleiros e a absorção de
mão de obra, especialmente não qualificada
• Dubiedade quanto à nacionalização de máquinas e
componentes
• Falta de base industrial competitiva em Metalurgia e
Siderurgia
• Falta de indústria relacionada: motores, propulsores,
componentes
29. Desafios
1. Desenvolver o projeto naval no país. Sem dominar o
projeto não há qualquer possibilidade de manutenção
dessa indústria no longo prazo
2. Integrar capacidade de engenharia à produção
3. Implementar tecnologias de construção eficientes
4. Controlar custos de produção e tempos de construção
5. Implementar Metalurgia e Siderurgia competitivas no
país
6. Desenvolver a indústria relacionada sob licença:
motores, propulsores e componentes
7. Desenvolver os mercados regionais de transportes
marítimos
30. Enfoque dos Planos Nacionais
• Os Planos Nacionais partiram da premissa que bastaria
incentivar a produção de estaleiros para alavancar a
indústria
– O enfoque foi atender ao “mercado interno”, numa indústria
tipicamente global
• Foram criados em períodos de elevada demanda mundial
com base em preços conjunturalmente elevados
– Mas a indústria é cíclica e os preços oscilam juntamente com a
demanda mundial
• Os tempos de maturação não foram suficientes para
permitir a constituição de uma sólida indústria
relacionada e de apoio
31. Os Planos Nacionais de Desenvolvimento
Ao longo da História recente, o Brasil implementou diferentes planos de expansão da
construção naval:
Plano para a Marinha Mercante e
Construção Naval
Governo Plano Nacional Meta
Programa de Reequipamento da
Frota Naval
Juscelino Kubitschek Plano de Metas 630.000 TDW
Plano da Construção Naval João Goulart Plano Trienal 583.300 TDW
Plano de Emergência para
Construção Naval
Arthur Costa e Silva PAEG 473.000 TPB
I Plano da Construção Naval Emílio Garrastazu Médici I PND 1.800.000 TPB
II Plano da Construção Naval Ernesto Geisel II PND 5.100.000 TPB
Plano Permanente da Construção
Naval
João Baptista Figueiredo II PND 1.098.558 TPB
Programa de Modernização e
Expansão da Frota da Transpetro
Luiz Inácio Lula da Silva PAC
Aquisição de petroleiros,
supply boats, plataformas e
sondas de produção de
petróleo
36. Estratégias das Empresas de Construção Naval
• Liderança de custos global – produção em larga escla
e vantagem de custo global: Japão (1960’s), Coreia
(1980’s), China (1990’s)
• Diferenciação global - diferenciação em
desempenho, tecnologia, qualidade, financiamento e
pontualidade de entrega: Europa, Japão, Coreia
• Segmentação global – especialização em tipos de
navios: Europa, Coreia
• Mercados Protegidos – Europa (1970’s), Países em
Desenvolvimento
40. Plano para a Marinha Mercante e
Construção Naval
Governo Plano Nacional Meta
Programa de Reequipamento da
Frota Naval
Juscelino Kubitschek Plano de Metas 630.000 TDW
Plano da Construção Naval João Goulart Plano Trienal 583.300 TDW
Plano de Emergência para
Construção Naval
Arthur Costa e Silva PAEG 473.000 TPB
I Plano da Construção Naval Emílio Garrastazu Médici I PND 1.800.000 TPB
II Plano da Construção Naval Ernesto Geisel II PND 5.100.000 TPB
Plano Permanente da Construção
Naval
João Baptista Figueiredo II PND 1.098.558 TPB
Programa de Modernização e
Expansão da Frota da Transpetro
Luiz Inácio Lula da Silva PAC
Aquisição de 146
embarcações
41.
42. Porter, M.E., Competition in Global Industries, ed. Porter, Michael E., 1986.
• Porter (1986) categorizou indústrias globais: são
setores em que a posição competitiva de uma
empresa em determinado país é afetada por sua
posição em outros países, e vice-versa.