SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Ciência vs Religião
1. 1
O CONFLITO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO
Fernando Alcoforado*
Ao longo da história da humanidade, a relação entre ciência e religião foi marcada por
inúmeros conflitos. Enquanto a ciência se apoia na medição empírica a partir da
investigação para avançar no conhecimento científico daquilo que é tangível e palpável,
a religião se estrutura apoiado exclusivamente na fé. O conflito entre ciência e religião
se intensificou no século XVI, quando a Inquisição da Igreja Católica recrudesceu suas
atividades contra o avanço da ciência que colocava em xeque os dogmas religiosos.
A diferença entre religião e ciência é uma das grandes questões do mundo moderno. A
razão surge como único critério de verdade e as afirmações dogmáticas religiosas
passam a ser submetidas à reflexão, mediadas pela razão. Com isso, Deus foi sendo
descartado pela ciência como hipótese plausível, porque não é verificável pelas regras
da racionalidade científica. O grande físico Albert Einstein nunca havia deixado muito
claro sua visão sobre a religião, apesar de ser citado como autor da frase de que "a
ciência sem religião é manca, a religião sem a ciência é cega".
Uma carta inédita de Albert Einstein a Gutkind datada de 1954, ano anterior ao de sua
morte, traz pela primeira vez críticas contundentes do físico à religião. Segundo Albert
Einstein, a palavra Deus não é nada mais do que expressão e produto da fraqueza
humana para quem a Bíblia seria "uma coleção de lendas honoráveis, ainda que
primitivas" (Ver o texto Em carta inédita, Albert Einstein ataca Deus no website
<http://forum.antinovaordemmundial.com/Topico-em-carta-in%C3%A9dita-albert-
einstein-ataca-deus>).
Na carta a Gutkind, Einstein que era judeu não poupa nem a religião judaica. Para
Einstein, "a religião judaica, como todas as outras religiões, é uma encarnação das
superstições mais infantis". Einstein, um judeu que teve papel importante na criação do
Estado de Israel, diz a Gutkind também que não acredita que os judeus sejam um povo
"escolhido" por Deus. Não há dúvidas que à luz da ciência, a fé religiosa não tem mais
sentido, sobretudo quando procura explicar o Universo, a vida e as leis que os regulam.
Mas quando recuam até a origem do Universo, ciência e religião sempre se debateram
diante de uma grande divergência sobre como surgiu o Universo.
Segundo Paul Davies, físico britânico e professor de Filosofia Natural no Centro
Australiano de Astrobiologia na Universidade de Macquaire em Sydney, a primeira
questão concerne à criação ou à formação do Universo. Por quem e com que meios foi
criado o Universo? A resposta de todas as religiões é a de que foi um ato planificado de
uma divindade (Deus) que já existia anteriormente. A resposta da ciência é a de que o
Universo apareceu há aproximadamente quinze bilhões de anos devido a uma
gigantesca explosão, que popularmente ficou conhecida como Big Bang. Após o Big
Bang, o Universo deu início à sua expansão (Ver o artigo Pode a ciência crer em Deus?
disponível no website <http://super.abril.com.br/religiao/pode-ciencia-crer-deus-
438364.shtml>).
Paul Davies afirma que a maioria dos pesquisadores do Cosmos aceita que no momento
da criação do mundo o tempo e espaço estavam infinitamente distorcidos numa situação
que se chama singularidade. Essa singularidade também pode se chamar limite ou
fronteira do espaço e do tempo. Em outras palavras, em um estado de singularidade não
2. 2
existe absolutamente nada, nem espaço nem tempo. Isto significa dizer que, no estado
de singularidade, fica excluída a possibilidade de existência de tempo antes do Big
Bang. Da mesma forma, não existia o espaço vazio. O tempo e o espaço surgiram do
nada no momento da explosão.
Quando surgiu a teoria do Big Bang houve muita discussão entre os cientistas, pois
mesmo entre eles havia quem imaginasse que não aparecera, apesar de tudo, nenhuma
explicação para o surgimento repentino do Universo a partir do nada. E ninguém podia
também explicar de onde vieram a matéria e a energia que apareceram naquela hora.
Para muitos, dessa forma, continuou parecendo possível acreditar ainda em algo
semelhante à criação do Universo por Deus tal como descrita nos livros religiosos. A
chave do entendimento de todo esse conjunto está, entretanto, na Física Quântica.
Na perspectiva da Física Quântica, as partículas entram e saem da existência a todo o
tempo e o nada é tão instável que ele criou em nosso caso, o Universo. Paul Davies
afirma que há ainda outro mistério a explicar: por que o Universo tomou a forma e a
organização que hoje conhecemos? Segundo Davies, o estado do Universo
imediatamente após o Big Bang era tão extremo que era possível que os efeitos dos
“quanta” (partículas) tenham provocado a sua estruturação tal como a conhecemos
agora. Cálculos já realizados demonstram que muitas das peculiaridades do Cosmos,
que hoje ainda parecem misteriosas, têm explicação perfeitamente natural quando se
analisa com base nas leis da Física Quântica.
Cabe observar que o antigo conceito religioso de Deus, que tocou com o dedo um botão
qualquer e pôs em marcha todo o Universo, e agora se dedica a contemplar o
desenvolvimento de sua obra, ficou totalmente desacreditado pela Física Quântica e pela
nova Cosmologia. Segundo Lawrence Krauss, físico norte-americano, autor do livro A
Universe from nothing (Editora Simon & Schuster, New York, 2012), o nada produziu
não apenas um Universo, mas multiversos (universos diferentes) passados, presentes e
futuros. Esta tese se apoia na mecânica quântica que nos mostra que mesmo em um
espaço vazio, há partículas saindo do nada, constantemente. O Universo seria, portanto,
um acidente que aconteceu sem a supervisão de um ser superior, Deus.
No entanto, um ponto ainda permanece obscuro: se hoje temos leis que podem explicar
praticamente tudo, como explicar a existência dessas próprias leis? Mas são as próprias
leis da natureza e sua forma matemática que Paul Davies apresenta como demonstração
da existência de um plano que, durante muitos séculos, proporcionou aos teólogos os
argumentos indispensáveis para sustentar a existência de Deus como criador do
Universo hoje negado e demonstrado pela Física Quântica. Apesar de nos oferecer uma
explicação consistente para a origem do Universo, da matéria e da energia em que
ambas surgem do nada sem a necessidade de um Criador (Deus), a Física Quântica
precisa enfrentar o desafio de explicar também porque existem as leis da natureza.
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
3. 3
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S