O documento compara a crise política e econômica atual do Brasil com a República de Weimar na Alemanha antes da ascensão do nazismo. Afirma que o Brasil, assim como a Alemanha na época, enfrenta uma grave crise que pode levar ao aumento da violência política e ao enfraquecimento das instituições democráticas. Defende a renúncia do atual governo e a formação de um governo provisório para convocar novas eleições e evitar uma possível guerra civil.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Brasil em Crise
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O BRASIL RUMO AO INEVITÁVEL CONFRONTO POLÍTICO E SOCIAL?
Fernando Alcoforado*
Guardadas as devidas proporções, é muito grande a semelhança entre o Brasil atual e a
Alemanha da República de Weimar de 1919 a 1933 no que concerne à gravidade das
crises econômica, política e social. Cabe observar que a República de Weimar,
celebrada na cidade de Weimar em 1919, foi o período da história alemã compreendido
entre o fim da 1ª Guerra Mundial e a ascensão do partido nazista ao poder. Os
acontecimentos históricos deste período resultaram da reação de setores da sociedade
alemã à derrota na 1ª Guerra Mundial e influenciaram a eclosão da 2ª Guerra Mundial.
A existência da República de Weimar pode ser dividida em três fases: 1) uma fase de
instabilidade política e econômica, entre 1919 e 1923; 2) uma fase de recuperação e
estabilização, entre 1923 e 1929; e, 3) uma nova fase de crise devastadora, decorrente
da quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929 que levou à ascensão do nazismo, entre
1929 e 1933.
Na primeira fase, em substituição ao Kaiser Guilherme II, que renunciou após a derrota
alemã na 1ª Guerra Mundial, sobe ao poder Friedrich Ebert, do Partido Social
Democrata, que tem como primeira grande tarefa impedir que a Alemanha não se
fragmente em meio a várias revoltas locais. Na Alemanha, há entre o povo sentimentos
de revolta, desânimo, desespero e desilusão provocados pelas absurdas exigências de
compensação feitas pelos países vitoriosos na 1ª Guerra Mundial e a consequente crise
econômica, social e política delas resultantes. O país perdeu todo seu império
ultramarino na África, Ásia e Oceania, partes de seu próprio território e ficou impedido
de reconstituir suas forças armadas. Além disso, teve importantes recursos econômicos
tomados, como as minas da região do Ruhr e ainda foi forçado a pagar dívidas de guerra
de um montante absurdo.
Para piorar a situação, uma crise econômica sem precedentes explode em meados da
década de 1920, resultando em um cenário de hiperinflação e desemprego generalizado.
Paralelamente a esta situação, ocorreu a Revolução Alemã de 1918-1919 com o objetivo
de formar uma República Socialista nos moldes soviéticos. Soldados e trabalhadores
alemães tentaram tomar o poder em Berlim sob a liderança dos comunistas Rosa
Luxemburgo e Karl Liebknecht. As forças revolucionárias foram esmagadas e vários
líderes foram presos e executados, inclusive Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.
Ainda nesta primeira fase houve uma série de tentativas de golpe de Estado devido à
instabilidade política.
Na segunda fase, a partir de 1923, a Alemanha vivenciou um período de estabilidade
política e econômica graças à aproximação com grupos capitalistas norte-americanos,
que passaram a investir na Alemanha. A estabilidade econômica alcançada melhorou os
salários dos trabalhadores, além de diminuir as taxas de desemprego. Porém, como estes
investimentos atrelavam a economia alemã à Bolsa de Nova Iorque, a crise de 1929
atingiu profundamente a Alemanha. Na terceira fase, iniciada em 1929, a débâcle
econômica resultante do “crack” da Bolsa de Nova Iorque, fez com que o número de
desempregados atingisse na Alemanha 5 milhões de trabalhadores. Esta situação levou
ao descrédito os socialdemocratas que governavam a Alemanha, fato este que abriu o
caminho nas eleições de 1932 para a ascensão dos nazistas.
Uma das características desta fase são os constantes conflitos de rua entre nazistas e
comunistas. Com o apoio de capitalistas industriais, que se opunham aos comunistas, os
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nazistas se aproveitaram da crise política do país e fizeram de Hitler o Chanceler da
Alemanha, em 1933. Neste mesmo ano, com o incêndio do Reichstag sendo apontado
como ação dos comunistas, Hitler pôs na ilegalidade o Partido Comunista e depois o
Partido Social Democrata. A morte do então presidente Hindenburg, em 1934,
contribuiu para a ascensão de Adolf Hitler ao poder como chefe único do Estado e do
governo, o Führer, iniciando desta forma a organização do Terceiro Reich.
O filme “Ovo da Serpente” (1977), de Ingmar Bergman é a melhor reprodução
cinematográfica do surgimento do nazismo na Alemanha. A obra retrata uma sociedade
à beira do caos econômico e político e demonstra como, sob essas circunstâncias, é
possível ver os contornos do nascente movimento nazista. O filme “O Ovo da
Serpente” retratou com muita fidelidade os primeiros passos da sociedade alemã que, já
dividida, desembocaria nas mãos do nazismo a partir de 1933. No filme “O Ovo da
Serpente” já se podia ver, dez anos antes da subida dos nazistas ao poder, um fantasma
rondando a Alemanha e pressupor que em meio à desordem, à crise econômica e ao
vácuo político, uma semente de radicalismo e violência estava para surgir. Muitas vezes
o ovo da serpente foi utilizado como metáfora para exprimir a constatação de um mal
em processo de elaboração, em incubação. Nele, no ovo da serpente, no seu
desenvolvimento, pode-se acompanhar a lenta e inexorável evolução do monstro que
estava sendo criado, o nazismo.
Guardadas as devidas proporções, pode-se afirmar que a crise econômica, política e
social que enfrenta o Brasil na atualidade é bastante semelhante à que ocorreu na
Alemanha da República de Weimar. Como a Alemanha de Weimar, o Brasil vive uma
crise econômica devastadora, está em desintegração como organização econômica,
social e política, é um país dividido, está em desordem e existe um vazio de poder
graças à falência e desmoralização das instituições políticas. A incapacidade do governo
brasileiro e das instituições políticas em geral de oferecer respostas eficazes para
superação das crises econômica, política e social em que se debate a nação brasileira já
está contribuindo para o aumento da violência política no Brasil.
Da mesma forma que as SA (milícias nazistas) e grupos paramilitares comunistas
surgiram e se confrontaram com extrema violência na Alemanha durante a República de
Weimar após a 1ª Guerra Mundial, o mesmo já está acontecendo no Brasil no momento
atual como o que ocorreu no dia de hoje (17/02/2016) no Fórum da Barra Funda em São
Paulo onde se confrontaram partidários do lulopetismo e seus oponentes. As milícias
petistas já existem, denominadas por Lula como o “exército” de Stédile, líder do MST,
para combater seus inimigos políticos com o uso da violência nos moldes das milícias
chavistas que estão aterrorizando a Venezuela.
O Brasil já está vivenciando, infelizmente, a anarquia descrita por Ralf Dahrendorf em
seu livro, que escreveu em 1985, chamado A Lei e a Ordem (Editora Instituto Liberal,
1997). Ralf Dahrendorf afirmou que anarquia é definida como ausência generalizada de
respeito às normas sociais que costuma anteceder os regimes totalitários. O Brasil
caminha, infelizmente, para a anarquia descrita por Ralf Dahrendorf. A incapacidade do
governo brasileiro e das instituições políticas em geral de oferecer respostas eficazes
para superação das crises econômica, política e social em que se debate a nação
brasileira contribui para o desrespeito às normas sociais e para o aumento da violência
política no Brasil. Sem a solução desses problemas, o País entrará em convulsão política
e social abrindo caminho para o estabelecimento de regimes de exceção.
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A continuidade da situação vivida atualmente pelo Brasil é, portanto, insustentável
abrindo caminho para um tempo de catástrofe no País. Só há um caminho para evitar a
convulsão política e social no Brasil que seria a destituição ou a renúncia conjunta de
Dilma Rousseff e Michel Temer e a formação de um governo provisório composto por
respeitáveis figuras públicas que teria a incumbência de convocar uma nova Assembleia
Constituinte para reordenar a vida nacional, buscar o consenso do País na solução da
crise econômica e social, evitar a escalada da violência no Brasil e realizar novas
eleições gerais no País. Este seria o caminho para evitar uma luta fratricida ou uma
guerra civil no Brasil.
* Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).