Em consequência do desenvolvimento tecnológico da segunda metade do século XX, Astronomia sofre tão grande mudança nos seus métodos que ela deixa o seu aspecto de ciência de observação para se tornar, também, uma nova ciência experimental, onde aparecem inúmeros ramos. O avanço do conhecimento em Astronomia possibilitou estabelecer conjecturas sobre a origem do Universo que teria surgido através do Big Bang, identificar a existência de um enorme buraco negro no centro da Via Láctea, a descoberta da água em Marte, o rebaixamento de Plutão para planeta anão, a existência de exoplanetas similar à Terra fora do sistema solar, bem como a descoberta de matéria e energia escura no Universo.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
A ciência e os avanços no conhecimento sobre o universo
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A CIÊNCIA E OS AVANÇOS NO CONHECIMENTO SOBRE O UNIVERSO
Fernando Alcoforado*
A primeira grande revolução na história da Ciência ocorreu com a quebra do paradígma
geocêntrico cuja teoria elaborada pelo astrônomo grego Claudio Ptolomeu no início da
Era Cristã defendia a tese de que a Terra está no centro do Sistema Solar, e os demais
astros orbitam ao redor dela, inclusive o Sol. Segundo Ptolomeu, os astros estariam
fixados sobre esferas concêntricas e girariam com velocidades distintas. Após 14
séculos, a teoria geocêntrica foi contestada pelo astrônomo e matemático polonês
Nicolau Copérnico, que elaborou outra estrutura do Sistema Solar, o heliocentrismo.
Conforme Copérnico, a Terra e os demais planetas se movem ao redor de um ponto
vizinho ao Sol, sendo este, o verdadeiro centro do Sistema Solar. A teoria heliocêntrica
foi aperfeiçoada e comprovada por Galileu Galilei, Kepler e Isaac Newton. Atualmente,
é a teoria mais aceita na comunidade científica (Ver CROWE, Michael J. Theories of
the World from Antiquity to the Copernican Revolution. Mineola, NY: Dover
Publications, Inc, 1990).
A partir dos estudos de Copérnico e Galileu Galilei, o Universo se tornou cada vez mais
conhecido graças ao uso de telescópios cada vez mais poderosos e às viagens espaciais.
A Astronomia, que é a ciência que estuda o Universo, os corpos que o constituem, as
posições relativas que ocupam, as leis que governam seus movimentos e a evolução que
experimentam ao longo do tempo, contribuiu significativamente para o avanço do
conhecimento sobre o Universo (Ver AGUIAR, Marcus. Tópicos de Mecânica Clássica.
Campinas: UNICAMP, 2010. Disponível no website
<http://sites.ifi.unicamp.br/aguiar/files/2014/10/top-mec-clas.pdf>). Galileo
Galilei construiu sua luneta ou telescópio, como se chamaria mais tarde, que
possibilitou descobrir os quatro satélites maiores de Júpiter e sua revolução livre em
torno do planeta, além de fazer a primeira indicação dos anéis de Saturno e as manchas
solares. Johannes Kepler deu um passo à frente ao formular as leis do movimento
planetário, afirmando que os planetas giram ao redor do Sol em órbitas elípticas a
diferentes velocidades, e que suas distâncias relativas com respeito ao Sol estão
relacionadas com seus períodos de revolução. Isaac Newton expandiu ainda mais o
conhecimento sobre o Universo estabelecendo um princípio singelo para explicar as leis
de Kepler sobre o movimento planetário: a força de atração entre o Sol e os planetas (lei
da gravitação universal).
A espectroscopia estelar, a construção dos grandes telescópios que sempre
proporcionaram avanços e descobertas incríveis do Universo, a substituição do olho
humano pelas fotografias e os objetivos de sistematização e classificação fizeram a
Astronomia evoluir mais nestes últimos cinquenta anos do que nos cinco milênios de
toda sua história. Em consequência do desenvolvimento tecnológico da segunda metade
do século XX, Astronomia sofre tão grande mudança nos seus métodos que ela deixa o
seu aspecto de ciência de observação para se tornar, também, uma nova ciência
experimental, onde aparecem inúmeros ramos. O avanço do conhecimento em
Astronomia possibilitou estabelecer conjecturas sobre a origem do Universo que teria
surgido através do Big Bang, identificar a existência de um enorme buraco negro no
centro da Via Láctea, a descoberta da água em Marte, o rebaixamento de Plutão para
planeta anão, a existência de exoplanetas similar à Terra fora do sistema solar, bem
como a descoberta de matéria e energia escura no Universo.
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As viagens espaciais voltadas para a busca do conhecimento do Universo contribuíram
para muitas invenções no século XX como, por exemplo, os foguetes, cápsulas espaciais
e satélites artificiais. Adicionalmente, podem ser citados os microchips (usados em
todos os aparelhos eletrônicos criados graças aos computadores de assistência de voo
espacial), termômetros (capazes de medir a temperatura usada em astronáutica para
monitorar e localizar o nascimento de estrelas), aparelhos invisíveis (materiais
cerâmicos transparentes que foram criados como proteção contra uma possível radiação
solar), objetos sem fio (que podem funcionar sem o uso de cabo de alimentação criado
graças à tecnologia desenvolvida para naves espaciais), “joysticks” (ferramenta utilizada
nos jogos de vídeo empregada pela primeira vez no Apollo Lunar Rover, uma nave
espacial), televisão por satélite (sinais de satélite projetados e melhorados para reduzir a
interferência desde o envio do sinal de satélite com uma qualidade muito melhorada),
detectores de fumaça (criado para a pesquisa astronáutica que foi uma grande invenção
que tem salvado muitas vidas em qualquer espaço público), filtros para a água
(primeiros tecidos de purificação de água projetados para uso por astronautas no espaço
que, mais tarde, resultaram em filtros conhecidos de nossas casas), isolantes (criados
para nave espacial usados em materiais refletores e, depois, empregados em edificações)
e roupa de astronauta (tipo de tecido que tem sua origem nos trajes desenhados para
astronautas).
Outro grande avanço do conhecimento em Astronomia ocorreu, mais recentemente, com
a descoberta de que o Universo é composto de 73% de matéria escura e 23% de energia
escura, enquanto o restante composto por galáxias, estrelas, planetas, etc.corresponde a
4% de todo o Universo (Ver PANEK, Richard. The 4% Universe. Boston e New York:
Mariner Books, 2011). As hipóteses da matéria e energia escuras é um modelo
cosmológico recente, que entrou em cena para quebrar o paradigma relacionado com o
modelo cosmológico padrão, dado que diversos resultados observacionais apontavam
uma grande falha nas previsões tomando por base este modelo. A primeira das duas
hipóteses a surgir foi a de matéria escura, com Fritz Zwicky, em 1933. Por seus
resultados, a velocidade das galáxias era tal que sua atração gravitacional, calculada a
partir da sua massa visível, era insuficiente para se formar um sistema ligado, tal qual se
observava. Zwicky propôs, então, que existia uma porção de matéria extra que não era
visível: a “matéria escura”.
Em 1970, um grupo de astrônomos, liderados pela astrônoma Vera Rubin, fez uma série
de medidas muito precisas que abalaram de vez as anteriores estruturas teóricas
cosmológicas. Tais medidas indicavam que a velocidade de rotação nas galáxias, a
partir de certo ponto, era aproximadamente constante e não decrescia com o inverso da
raiz quadrada do raio, tal qual previa a física newtoniana. Então, a ideia de matéria
escura surgiu com mais vigor e seriedade, sendo uma pesquisa de fronteira nos dias de
hoje. Na década de 1990, duas equipes independentes de astrofísicos voltaram seus
olhos para distantes supernovas (nome dado aos corpos celestes surgidos após as
explosões de estrelas com mais de 10 massas solares, que produzem objetos
extremamente brilhantes, os quais declinam até se tornarem invisíveis, passadas
algumas semanas ou meses) para calcular a desaceleração. Para sua surpresa, eles
descobriram que a expansão do Universo não estava diminuindo, e sim acelerando.
Algo devia estar superando a força de gravidade, que é consequência de uma nova
forma de matéria que os cientistas chamaram de “energia escura” que também não foi
detectada até agora e a teoria atual não consegue explicar. A matéria escura atrai e a
energia escura repele, ou seja, a matéria escura é usada para explicar uma atração
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gravitacional maior do que a esperada, enquanto a energia escura é usada para explicar
uma atração gravitacional negativa.
Sobre a questão da energia e matéria escura, há o fato novo de que a Energia Escura
estaria comendo a Matéria Escura. Isto significa dizer que o espaço pode se tornar mais
vazio. Uma sugestão tentadora que a matéria escura pode estar mudando lentamente
para a energia escura foi descoberto por uma equipe de cosmólogos no Reino Unido e
Itália. Enquanto a natureza específica da interação que dirige a conversão não é
conhecida, o processo poderia ser responsável pela desaceleração do crescimento das
galáxias e outras estruturas em larga escala no Universo através dos últimos oito bilhões
de anos. Se a conversão continuar no ritmo atual, o destino último do Universo como
um lugar frio, escuro e vazio poderia vir mais cedo do que o esperado. Os cosmólogos
Valentina Salvatelli, Najla Said e Alessandro Melchiorri, da Universidade de Roma,
juntamente com David Wands e Marco Bruni na Universidade de Portsmouth
informaram que a conversão de matéria escura em energia escura é muito lento (Ver o
artigo A Energia Escura está comendo a Matéria Escura? de Riis Bachega disponível
no website <http://www.universoracionalista.org/a-energia-escura-esta-comendo-a-
materia-escura/>). Se continuar no ritmo atual, todo o Universo terá decaído em energia
escura em cerca de 100 bilhões de anos. Se a energia escura está crescendo e matéria
escura está evaporando, vamos acabar com um grande e vazio no Universo com quase
nada nele.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br