Mini-curso desenvolvido para VI Semana de Psicologia: Diálogos da Multiplicidade - Formação do Psicólogo. Este evento foi realizado pelo PET-Psicologia/UFES nos dias 2, 3 e 4/setembro de 2014
2. O que vamos ver hoje?
A. Breve histórico sobre a GT
B. Aspectos epistemológicos e teóricos
C. Função e papel do terapeuta
D. Técnicas e procedimentos psicoterápicos
3. A. Breve histórico
Friedrich (Fritz) Salomon Perls (1893-1970)
• Nascido em Berlin, de origem judaica
• Jovem rebelde, engajada nos círculos intelectuais e
boêmios
• A família queria que fosse advogado
• Fez parte do Exército alemão na I Guerra
• Estudou medicina > Psiquiatra
4. A. Breve histórico
Friedrich (Fritz) Salomon Perls (1893-1970)
• Após se formar, trabalhou com Kurt Goldstein
• Trabalhos com soldados com problemas neurológicos
• Contato insatisfatório com Freud ,fez análise com Reich
• Casou com Laura em 1930
• Fugiu para Holanda e África do Sul por causa do Nazismo em 1933
5. A. Breve histórico
Friedrich (Fritz) Salomon Perls (1893-1970)
• Escreve Ego, Fome e Agressão em 1942
• Propõe uma revisão da teoria e do método da Psicanálise
• Foram para NY em 1946
• Publicação de Gestalt Therapy em 1951 com Ralph Hefferline e
Paul Goodman
6. A. Breve histórico
GT além de Fritz Perls
• Publicação de Gestalt Therapy em 1951 com Robert Hefferline e
Paul Goodman
Dois volumes – Teórico e Prático
1. Goodman > sistematizou as anotações de Perls
2. Hefferline > experimentos com estudantes na Univ. de Columbia
7. A. Breve histórico
GT além de Fritz Perls
• 1952: Instituto de NY
• 1953: Instituto de Cleveland e workshops nos EUA
• Rachas com o grupo de Cleveland
Segunda geração da GT
• Joseph Zinker, Erving e Miriam Polster
8. A. Breve histórico
Novamente Fritz Perls...
• 1956: Fritz separa de Laura, se muda para Miami e conhece
Marty Fromm
• 1959: Fritz se separa de Marty e se muda para Califórnia
• Influência da contra cultura, experiências com LSD, viagens
pelo mundo, conhece o zen budismo
9. A. Breve histórico
Novamente Fritz Perls...
• 1969: publica Sonhos e existência e Dentro e fora da lata de lixo
• Instituto de Esalen fica por conta de Dick Price, Claudio Naranjo,
Bob Hall e Jack Downing
• Instituto em Vancouver Island, Canadá
• Teddy Lyons, Barry Stevens, Janet Lederman e outros saem de
Esalen e vão para o Canadá
10. A. Breve histórico
Novamente Fritz Perls...
• Viaja para a Europa, volta doente
• 1970: morre de ataque cardíaco;
autópsia revela câncer de pâncreas
11. A. Breve histórico
Como ficou a GT além de Fritz Perls?!?
1. West Coast Gestalt (Califórnia)
2. East Coast Gestlat (Cleveland)
• 1970: Erving e Miriam Polster fundam um centro de treinamento
em La Jolla, Califórnia
• Erving e Miriam publicam Gestalt-Terapia Integrada
• Avanços nos conceitos de contato e limite
12. B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira, 2009; Yontef, 1993)
• Fritz Perls recebeu treinamento como psiquiatra e psicanalista .
• Laura Perls fez doutorado em Psicologia da Gestalt e formação
em psicanálise.
• Laura teve contato com as ideias de von Ehrenfels, Wertheimer,
Koffka, Kohler, Buber e Tillich.
13. B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira, 2009; Yontef, 1993)
GESTALT = todo, estrutura, forma, organização
• Todo é maior que a soma das partes
• Todo > Parte | Parte > Todo
• O campo perceptivo se organiza de maneira espontânea,
formando conjuntos estruturados e significantes.
14. B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira, 2009; Yontef, 1993)
GESTALT = todo, estrutura, forma, organização
• Todo é maior que a soma das partes
• Música > instrumentos, notas musicais, harmonia, letra
• Todo holístico > tudo conectado entre si, fazendo parte, em
essência , da mesma coisa
15. B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira, 2009; Yontef, 1993)
• Identificação de padrões
• Figura / Fundo
• Atenção intencional, consciente > flutuação dinâmica do
processo de formação figura e fundo
• Novos estímulos espontaneamente se combinam para formar
estruturas que são distintas do fundo.
16. B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira, 2009; Yontef, 1993)
• Laura trabalhava com Kurt Goldstein na Univ. de Frankfurt >
pesquisas com soldados que sofreram danos neurológicos
• Além da prática médica, Goldstein também dava palestras sobre
filosofia e gostava muito das ideias holísticas de Jam Smuts.
• A teoria organísmica de Goldstein sofre forte influência de Smuts
• O organismo é uma entidade que se autorregula > homeostase
17. B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira, 2009; Yontef, 1993)
O organismo é uma entidade que se autorregula
Ser humano na sua completude organísmica
• Kurt Lewin | Estudo da percepção > Estudo da pessoa
• Causa-efeito > Interconexões, emergências e dissoluções
• CPT = f(P,A) | Comportamento entendido no contexto
• Campo fenomênico é a totalidade de fatos co-existentes,
interdependentes em dado momento
18. B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira, 2009; Yontef, 1993; Williams,
2006)
ORIENTALISMO
• Era comum na década de 1940 a influência de filosofias e
religiões orientais entre os intelectuais.
• Paul Weisz fazia parte do primeiro que se formou em NY e
apresentou o Zen Budismo para Fritz Perls.
• Laura Perls e Paul Goodman tinham afinidade pelo Taoísmo.
19. Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido,
Na busca do tao, todos os dias algo é deixado para trás.
E cada vez menos é feito
até se atingir a perfeita não-ação.
Quando nada é feito, nada fica por fazer.
Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
E não interferindo.
Tao Te Ching (道德經), Cap. 48
21. B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira, 2009; Yontef, 1993; Williams,
2006)
• “O Zen aponta diretamente para o
coração humano, vê sua natureza e o
tornar Buda.” Bodhidharma
• Fritz Perls gostava da atitude não-moralista do
Zen Budismo como um “antídoto” para a coerção
social.
• Consciência ativa (Zen) > Consciência presente
22. B. Aspectos epistemológicos e
teóricos
(Baisser, 1977; Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira,
2009; Yontef, 1993; Williams, 2006)
• Paradoxo (Zen) > Teoria
Paradoxal da Mudança (GT)
• “A mudança ocorre quando
uma pessoa se torna o que é,
não quando tenta converter-se
no que não é” (Beisser, 1977,
p. 110) > ser aquilo que é
Estudar o Zen é estudar a si mesmo.
Estudar a si mesmo
é se esquecer de si mesmo.
Esquecer de si mesmo
é estar uno com todas as coisas.
Mestre Dogen
23. B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Baisser, 1977; Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira, 2009; Yontef,
1993; Williams, 2006)
• KOAN (anedotas) | Monge e mestre no jardim > iluminação; Peixe
e água; comer açúcar
• Ser o fazer > experiência ativa, direta da realidade
• Ilusão do ego > experiência do todo
• Epoché, descrição, horizontalização de valores
• Wertheimer: “eu quero” > “a situação exige”
• Consciência presente evita hábitos não saudáveis e
condicionamentos
24. B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Baisser, 1977; Monteiro Júnior, 2010; Walker, 2008; Moreira, 2009; Yontef,
1993; Williams, 2006)
Em resumo, as influências direcionam para...
• Repletos de experiências passadas contidas que não há lugar para
novas experiências
• Vazio, não saber, não ter sentido > indiferença criativa, suspensão de
pré-concepções (epoché?)
• Papéis em conflito: DEVER SER x É
• Racionalização > Respostas externas
• Experimentação > Respostas internas
•Estruturas > Processos | Adaptando-se ao ambiente
26. B. Aspectos epistemológicos e
teóricos
(Perls, Hefferline & Goodman, 1951/1994; Perls & Goodman,
1980; Steven, 1977; Tobin, 1977)
Tudo em ordem!
O que sinto?
Como me sinto?
O que me lembra?
O que (não) estou fazendo?
Mãos à obra!
Cumprindo com a necessidade
Equilíbrio
Sensação
Percepção
Emoção
Contato
Mobilização Figura
Ação
CICLO DE EXPERIÊNCIA
27. Contato
Desconforto / desagradável
Interromper contato,
desconsideração da figura
Perda do movimento
Figura / Fundo
O que está
presente que
gera sofrimento?
O que falta?
(Sintoma diz)
Como nos
relacionamos
com o ambiente?
Quais as soluções
possíveis?
B. Aspectos epistemológicos e
teóricos
(Galli, 2009; Perls, Hefferline & Goodman, 1951/1994)
28. Ciclo de Contato e de
Saúde
“Que pena que a resistência
seja, quase sempre, uma
opção pelo mais difícil, mas
que, naquele momento, nos
parece o mais viável ou o
mais fácil.” (Ribeiro, 2007,
78)
B. Aspectos epistemológicos e teóricos
(Perls, Hefferline & Goodman, 1951/1994; Polster & Polster, 1979;
Ribeiro, 1997)
29. C. Função e papel do
terapeuta
ESCOLAS TRADICIONAIS
Por que esta pessoa é desse jeito?
GESTALT-TERAPIA
Como é a experiência de vida desta pessoa agora?
30. C. Função e papel do
terapeuta
Opa! Peraí!!!
Então o passado não é importante
na GT!?
• Passado deixa marcas
• Foco em como o passado afeta a vida
hoje, como afeta o encontro EU-TU
QUANDO VOCÊ CONTA O QUE ACONTECEU NO DIA
EM QUE TIROU UMA FOTO VOCÊ MUDA OS FATOS?
31. O insight acontece no lugar de encontro
entre terapeuta e cliente no presente
O insight acontece espontaneamente na
relação entre terapeuta e cliente
C. Função e papel do
terapeuta
O passado se foi
A vida é AQUI-E-AGORA
O futuro é uma possibilidade
32. O INSTRUMENTO mais importante em GT é o terapeuta
O TERAPEUTA É UMA PESSOA
Neutralidade
Objetividade
Analítico
Interação
Empatia
Compreensão
Respeito
Desafio
C. Função e papel do
terapeuta
33. C. Função e papel do
terapeuta
DOIS PRINCÍPIOS IMPORTANTES
1. A pessoa é responsável pelas suas escolhas a ações
2. As escolhas são limitadas pelo contexto/ambiente
Aumentar a consciência (awareness)
Sentimentos
Reações
Emoções
Ações
QUAL É O PAPEL QUE VOCÊ DESEMPENHA NA SUA VIDA?
QUAIS SÃO SUAS OPÇÕES?
34. C. Função e papel do
terapeuta
FORMAS DE SER-NO-MUNDO
• O que experimentamos ao longo da vida?
• Quais são nossas pendências?
• O que deixamos para trás sem resolver?
• Como nos adaptamos a essas experiências?
• Como nos construímos a partir dessas experiências?
35. C. Função e papel do
terapeuta
NOSSAS PENDÊNCIAS/DÍVIDAS COM O PASSADO
SE APRESENTAM NA RELAÇÃO COM O TERAPEUTA
• Hábitos, cristalização dos processos de resistência
• Aprender com a experiência
• Apreciar a totalidade de nosso ser
• Acompanhando o processo/desenvolvimento do self
36. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Fagan, 1980; Yontef & Jacobs, 2010)
Quando fazer psicoterapia?
1. Quando falhamos em aprender com nossas experiências
2. Quando nossas habilidades de autorregulação não nos permitem
ir além de padrões não-adaptativos
3. Quando temos dificuldades para lidar com crises
4. Quando nos sentimos ineficientes para lidar com o outro
5. Quando sentimos necessidade de orientação para nosso
crescimento pessoal
37. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Fagan, 1980; Yontef & Jacobs, 2010)
Qual o foco da GT?
• Auxiliar à pessoa a se tornar consciente (aware) de como
evita aprender com as experiências, de como inibições na
área de contato limitam o acesso à experiência necessária
para o aumento da consciência (awareness)
• Aumentar a consciência em relação a alguns aspectos
• Melhorar a percepção/conscientização sobre padrões
automáticos
38. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Fagan, 1980; Yontef & Jacobs, 2010)
Qual o foco da GT?
Se CPT = f (P,Amb), o que é necessário para se ter consciência?
Autoconhecimento + Conhecimento do ambiente
Responsabilidade pelas escolhas > EU FAÇO
Autoaceitação > NESTE MOMENTO ESTOU ASSIM
Habilidade para fazer/manter contato > EU VIVO A EXPERIÊNCIA
39. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Fagan, 1980; Yontef & Jacobs, 2010)
Como deve ser a terapia?
• Introspecção racional
• Mudança comportamental
• Explicação / interpretação
• Relação
• Exploração
• Conscientização
40. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Fagan, 1980; Yontef & Jacobs, 2010)
Como deve ser a terapia?
O que a pessoa faz?
Como a pessoa faz?
Quando a pessoa faz? > Agora
Onde a pessoa faz? > Aqui
Entro em contato com memórias, sensações,
emoções, pensamentos AGORA.
EU PRECISO x EU DEVO x EU QUERO
41. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Polster & Polster, 1979; Yontef & Jacobs, 2010)
TIPOS DE ATENDIMENTO
1. Individual
2. Grupos
a) Casal
b) Família
c) Pequenos grupos
d) Grandes grupos
Mantendo o FOCO
Consciência (experiência direta)
.1
Contato (relacionamento) .2
Experimento (emergência) .3
42. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Yontef & Jacobs, 2010)
ESTRATÉGIAS PARA GRUPOS
1. Um-a-um
2. Interações entre membros
o Díades
o Grupos menores dentro de grupos maiores
3. Misto
43. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Yontef & Jacobs, 2010)
EXPERIMENTAÇÃO
• Criatividade nas intervenções
o “Tente isto e perceba sua experiência”
• Foco AQUI-E-AGORA
o Do que você tem consciência agora? O que você percebe
neste momento?
• Dramatização
• Transformar pensamento e emoções em ações
• Estimular criatividade e inovação
• Conectar níveis (biológico, emocional, racional, social)
44. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Yontef & Jacobs, 2010)
EXPERIMENTAÇÃO
• Mentalização, imaginação e fantasia
o Criação de metáforas devido a limitação da
verbalização
o Situações hipotéticas protegidas
• Consciência corporal
o Conscientização da respiração
o Processo “natural”, inerente à vida, adaptável,
acontece todo o tempo
o Conexão entre níveis
45. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Polster & Polster, 1979)
EXPERIMENTAÇÃO
• Experimento não é treino da habilidades
• Experimento é oportunidade de aprendizagem e desafio
1. Dramatização
2. Comportamento dirigido
3. Mentalização, imaginação e fantasias
4. Sonhos
5. Para-Casa
46. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Polster & Polster, 1979)
1. Dramatização
• Situações inacabadas do passado distante
o Refazer a cena
• Situações inacabadas do presente
o Representar pensamentos, emoções, sensações
• Representação de uma característica de si / meio
o Estereotipia / mudança de significados
• Representação de uma polaridade
o Experimentar opostos, integrar partes
47. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Polster & Polster, 1979)
2. Comportamento dirigido
• Identificar comportamento automático
o Repetir
o Exacerbar
• Como você se sente?
• Quais emoções surgem?
48. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Polster & Polster, 1979)
3. Mentalização, imaginação e fantasia
• Mentalização pode promover ações
• Assimilação de sentimentos
• Ampliar repertórios racionais, emocionais e comportamentais
• Contato com pessoas indisponíveis e/ou situações
inacabadas
• Nem sempre o paciente está a vontade para dramatizar
• Exploração do desconhecido / hipóteses
49. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Polster & Polster, 1979)
4. Sonhos
• Perls considerava o sonho um fenômeno de projeção e
como tal precisava ser reintegrado
• Contar o sonho no tempo presente
• Dramatizar o sonho
• Contar o sonho a partir da perspectiva de outro
personagem ou elemento da cena
50. D. Técnicas e procedimentos
psicoterápicos
(Polster & Polster, 1979)
5. Para-Casa
• Terapia além do espaçotempo terapêutico
• Experimentação em contextos ampliados
• Dirigir atenção para autonomia