Criança de 2 anos apresenta febre há 5 dias, exantema há 4 dias, 2 episódios de vômito e diarreia há 1 dia
Ao exame físico apresenta lesões eritematosas na pele, fissuras labiais, língua hiperemiada e edema de mãos e pés
Dentre as hipóteses diagnósticas, a doença de Kawasaki é a mais provável devido aos principais achados clínicos presentes: exantema, conjuntivite, alterações de
1. Leonardo Esteves Ramos
Thiago dos Santos Batista
Orientadora: Luciana Sugai
Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF
www.paulomargotto.com.br
06/10/2008
2. Anamnese
VPS, masculino, 2 anos e 11 meses, branco, natural e
procedente do Gama – DF
Admissão: 18/09/2008
QP: “Febre há 5 dias”
3. HDA:
Paciente apresenta há 5 dias febre contínua,
de 39-40 °C, diária, que cede parcialmente com
uso de anti-térmico.
Apresenta exantema, há 4 dias em genitália,
e posteriormente, surgiram em membros
inferiores e superiores há 3 e 2 dias,
respectivamente.
Apresentou 2 episódios de vômitos/dia pós-
prandiais há 3 dias, que persistem até a admissão,
Apresentou diarréia líquida pastosa há 1 dia.
4. Revisão de Sistemas:
Ap. Respiratório: Apresentou “forte gripe” há 1 mês
(coriza, febre e adinamia).
Ap. Gastrointestinal: Apresenta obstipação crônica
desde o nascimento, apresentando tenesmo
5. Antecedentes Pessoais:
Mãe GIII PIII A0. Não fez pré-natal na
gestação do paciente. Sem intercorrências na
gestação e no parto.
Criança nasceu de parto normal a termo. Peso
ao Nascer: 3000g. Chorou ao nascer.
Aleitamento materno exclusivo até o 6º mês.
Desmame com 1 ano e 6 meses.
Desenvolvimento Neuropsicomotor preservado.
6. Antecedentes Patológicos:
Sem história de internação prévia, cirurgias,
transfusões ou trauma
Nega alergias. Cartão Vacinal completo
Antecedentes Familiares
Irmãos saudáveis (primogênito: 4 anos e caçula:
11 meses). Pais são saudáveis, não
consangüíneos e não tabagistas
7. Hábitos de vida
Dieta atual: 4 refeições/dia, alimentação da
casa, completa. Come verduras e legumes.Faz
uso de leite de vaca desde o 7º mês de vida
Moradia: Casa de alvenaria, 4 cômodos, com
saneamento básico completo, energia elétrica.
Moram 4 pessoas. Possui 1 cão de estimação
8. EXAME FÍSICO
REG, choroso , normocorado, hidratado, eupnéico,
febril (38°C), acianótico e anictérico
Pele: Lesões eritemo-maculosas, hiperemiadas em
face, genitália e membros superiores e inferiores
Linfonodos: palpáveis, com aumento discreto, em
cadeia cervical posterior bilateralmente
Olhos: hiperemia conjuntival bilateral
Oroscopia: hiperemia e fissuras labiais, língua
hiperemiada . Dentes com bom estado de conservação
9. AR: simétrico, sem retrações, boa expansibilidade.
MVF presentes com roncos bilaterais. FR:
28irpm
ACV: Precórdio calmo, Ictus cordis invisível e
impalpável. R.C.R em 2T, B.N.F sem sopros. FC:
100bpm
Abdome: Globoso, RHA +, normotenso, indolor a
palpação, s/ VMG e/ou massas palpáveis
Extremidades: Edema de mãos e pés (++/4+)
SNC: sem sinais de irritação meníngea
11. Resumo
2 anos de idade
Febre há 5 dias
Exantema há 4 dias
2 episódios de Vômitos
Diarréia há 1 dia
Linfonodos cervicais palpáveis
Fissuras Labiais e Língua hiperemiada
Edema em Mãos e Pés (++/4+)
20. HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS
Escarlatina
Sarampo
Enterovirose
Eritema Infeccioso
Síndrome de Steven-Johnson
Síndrome do Choque Tóxico
Doença de Kawasaki
Rash cutâneo
Edema de extremidades
Hiperemia conjuntival bilateral
Lesões em cavidade oral
Febre persistente
Linfonodomegalia cervical
VHS alto
21. Doença de Kawasaki
É uma doença multissistêmica de etiologia
DESCONHECIDA, caracterizada por vasculite de
pequenos e médios vasos.
Pode associar-se ao comprometimento das artérias
CORONÁRIAS, que pode ser assintomático ou levar à
morte súbita ou IAM
23. Etiologia
Agente etiológico desconhecido.
Forte suspeita de etiologia INFECCIOSA.
Presença de forte estimulação do sistema imune.
Predisposição genética
Semelhança com choque tóxico -> superantígenos ?
24. Patologia
Vasculite grave dos vasos sanguíneos, predileção pelas
artérias de médio calibre, em especial as coronárias;
Maior complicação;
Histopatológico:
Edema de células endoteliais e da musculatura lisa;
Infiltrado inflamatório
(PMN, macrófagos, linfócitos (T-CD8) e plasmócitos (IgA).
Vasos mais afetados: destruição lâmina interna;
↓ integridade Aneurisma
Recuperação: cicatrização fibrose estenose vaso
Infiltrado em tecidos não vasculares na fase aguda (miocárdio,
trato respiratório superior, pâncreas, rins, vias biliares);
25. Fases da Doença
Fase febril aguda: 1 a 2 semanas
Febre e outros sinais agudos da doença;
Fase subaguda: até a 4ª semana;
Febre e outros sinais agudos desaparecem, permanecem
irritabilidade, anorexia, irritação conjuntival;
Descamação, trombocitose, desenvolvimento aneurismas,
↑risco morte súbita;
Fase de convalescença: 6 a 8 semanas;
Sinais da doença desaparecem e VHS retorna ao normal;
27. Febre
• Etiologia desconhecida
• Persiste por 5 ou mais dias
• PRINCIPAL sinal (95 a 99%)
• Abrupta, alta, remitente; oscilante (38 a 40°C) e sem
defervescência completa
• Com ou sem rinorréia
• Dura > 30 dias se não tratada a doença
• Preditor de coronariopatia (se > 14 dias, risco maior)
28. Congestão Ocular•BILATERAL
•Presente em 88% dos
casos
•Aparece de 2 a 4 dias após
início do quadro
•Hiperemia; raramente
exsudativa
•Ausência de prurido e dor
•Pode haver uveíte anterior
•Regride de 1 a 2 semanas
29. Alteração dos
Lábios e Cavidade
Oral•Presente em 90% dos
casos
•Hiperemia,
ressecamento, fissuras,
crostas sanguinolentas,
descamação e
hemorragias dos
LÁBIOS
•LÍNGUA com
hiperemia e com
proeminência de papilas
- “Língua em framboesa
ou morango”
30. Exantema Polimorfo•Presente em 92% dos casos
•Surge entre 1°e 2° dia de febre
•Inicialmente no tronco e
posteriormente nas
extremidades
•Maculopapilar, morbiforme,
urticariforme e
escarlatiniforme
•Presença de vesículas e
bolhas torna o diagnóstico
POUCO PROVÁVEL
31. Alterações nas
extremidades
•Presente em 88 a 94% dos casos
•Eritema e edema endurado
palmoplantar
•Aparece dentro de 5 dias da
doença
•Descamação periungueal APÓS
10 a 15 dias do início do quadro
•Bastante CARACTERÍSTICO da
doença
32. Linfadenopatia
Cervical aguda não-supurativa
Presente em 50 a 75% dos casos
Uni ou bilateral
Varia de 1,5 a 7 cm de diâmetro
Gânglio firme, doloroso e não flutua
Desde o início da doença
Acompanha torcicolo e rigidez de nuca
33. Outros Sistemas
• GASTROINTESTINAIS: diarréia, vômito, dor
abdominal, íleo paralítico, disfunção hepática com
icterícia, hidropsia de vesícula biliar, pancreatite
• MUSCULOESQUELÉTICO: artrite, miosite, artralgia
• RESPIRATÓRIO: rinorréia, dispnéia, tosse, faringite
necrosante, otite média, pneumonia, efusão pleural
34. SNC: irritabilidade (lactentes), meningite asséptica,
paralisia facial, convulsão, hemiplegia, pleocitose do
LCR (25%)
URINÁRIO: piúria estéril, nefrite, IRA
OUTROS: uveíte, iridodociclite, hipoacusia, alopécia,
reativação do BCG, gangrena de extremidades,
necrose de supra-renal, orquite, hidrocele
36. Achados Laboratoriais Leucometria: normal ou ;↑
VHS, PCR e proteínas de fase aguda ;↑
Anemia normocítica;
Plaquetas: Normal na 1ª semana e na 2ª-3ª↑
semana;
FAN e FR-;
Piúria estéril, discreta elevação das enzimas
hepáticas e pleocitose do LCR podem estar
presentes;
Ecocardiograma: ao diagnóstico e após 2-3
semanas de doença Coronárias.
Se 2 primeiros exames normais: repetir ECO após 6-8 semanas;
Se 3 exames normais: repetir após um ano;
37. Tratamento
Fase Aguda:
Imunoglobulina EV 2g/kg por 10-12h;
AAS em altas doses (80-100mg/kg/24h)
de 6/6h VO até o 14° dia de doença;
Fase de Convalescença (14° dia ou 3-4 dias afebril):
AAS 3-5mg/kg/dia até 6-8 semanas após início da doença;
Terapia longo prazo no caso de anormalidades
Coronarianas:
AAS (3-5mg/kg/dia) + Dipiridamol 4-6mg/kg/dia
Alguns preferem usar warfarin em pacientes com risco potencial
para trombose;
Trombose Coronariana Aguda:
Fibrinolíticos (supervisão de especialista);
•Resposta rápida;
•↓ Prevalência de
doença coronariana;
38. Complicações e Prognostico
Complicações:
IAM (geralmente letal - 2%);
Doença coronariana (20%);
Artrite grave (30%);
Ausência de doença coronariana: recuperação
completa;
Doença coronariana: prognóstico variável;
50% dos aneurismas das artérias coronarianas têm resolução
ecocardiográfica 1 a 2 anos após a doença;