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SUMÁRIO


1. APRESENTAÇÃO .................................................................................................10
2. OBJETIVOS ..........................................................................................................15
2.1 Objetivo geral ......................................................................................................15
2.2 Objetivo específico ..............................................................................................15
3. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................16
4. MÉTODOS E TÉCNICAS PARA CONSTRUÇÃO DO LIVRO...............................17
4.1 Pesquisa bibliográfica .........................................................................................17
4.2 Entrevistas...........................................................................................................17
4.3 Observação participante......................................................................................19
5. HIPÓTESE ............................................................................................................22
6. REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................23
6.1 Políticos e futebol ................................................................................................23
6.2 A cobertura esportiva pela imprensa...................................................................25
6.2.1 O que é imparcialidade?...................................................................................27
6.3 Características da torcida do Distrito Federal......................................................29
6.3.1. Inferno Verde...................................................................................................31
6.3.2 Jovem Ense......................................................................................................32
6.4 Estruturas dos times............................................................................................34
6.4.1. Gama...............................................................................................................35
6.4.2. Brasiliense.......................................................................................................35
6.4.3. Ceilândia .........................................................................................................36
6.4.4. Paranoá...........................................................................................................37
6.4.5. Dom Pedro II ...................................................................................................38
6.4.6. CEUB ..............................................................................................................38
6.5 Estrutura dos estádios.........................................................................................40
6.5.1. Mané Garrincha...............................................................................................41
6.5.2. Bezerrão..........................................................................................................42
6.5.3. Serejão (Boca do Jacaré)................................................................................43
6.5.4. Pelezão ...........................................................................................................45
7. DIAGNÓSTICO .....................................................................................................47
7.1. Particularidades do futebol candango ................................................................47
7.2. Ministério Público ...............................................................................................48
8. CONCLUSÃO........................................................................................................51
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................53
ANEXOS ...................................................................................................................59
10



1. APRESENTAÇÃO




         O presente Trabalho de Conclusão de Curso pretende, por meio da

elaboração de um livro, fazer um diagnóstico do futebol no Distrito Federal,

mostrando os bastidores e a influência dos políticos na estrutura administrativa dos

times.


         Para isso, é importante ressaltar que esporte e política sempre estiveram

bastante vinculados não só no Brasil como em todo o mundo. O futebol é a prática

esportiva mais popular do planeta. Para se ter uma idéia de seu potencial, a FIFA

possui mais países filiados do que a própria ONU, conforme afirma David Yallop

(1998). De acordo com Yallop, a Copa do Mundo de 1998, realizada na França, teve

uma audiência acumulada de 40 bilhões de espectadores, que acompanharam as

partidas pela televisão, o que representa mais de cinco vezes a população da Terra.

Para chegar a esse valor, foram somadas as audiências de todos os jogos. Esse

número comprova a força que tem o esporte. Logo, para o autor Victor Andrade de

Melo, “o futebol é, sem sombra de dúvida, a manifestação cultural mais universal e

acessível ao público” (apud CARRANO, 2000, p.12). Outros dados também

impressionam: “a movimentação financeira do futebol em 1998 atingiu o patamar dos

255 bilhões de dólares, além de oferecer mais de 150 milhões de empregos indiretos

e diretos no mundo”. (YALLOP, 1998, p.10) O compromisso financeiro gerado com a

entrada de patrocinadores na década de 70 contribuiu para o grande comércio em

que se transformou o futebol. Sobre isso, Paulo César Carrano afirma: “o futebol não

é mais amador, mas sim, um produto.” (2000, p.108)
11



        Ao se fazer uma análise do desenvolvimento da modalidade no país, nota-se

uma grande influência política, principalmente após o golpe militar de 1964, quando

“a política do ‘pão e circo’ fazia uso do futebol para nos fazer esquecer as mazelas

de um regime militar de exceção que torturava jovens”. (MELO, apud CARRANO,

2000, p.23) No entanto, este envolvimento, conforme escreve David Yallop, é datado

desde a década de 30. O falecido jornalista e técnico da Seleção Brasileira, João

Saldanha, escreveu sobre a precariedade do desporto brasileiro. Sobre isso, diz:

“somos, sem dúvida alguma, o país mais atrasado em matéria de organização

esportiva que existe na face da terra”. (1963, p.151) Falecido em 1990, na Itália, foi

uma das vítimas do governo militar. Segundo Yallop (1998, p.86-88) às vésperas da

Copa do Mundo de 1970, realizada no México, João Saldanha não aceitou

intromissão na escolha do plantel do Brasil, por parte do presidente Emílio

Garrastazu Médici, e acabou sendo demitido do cargo. Isso demonstra as relações

entre os governantes e a Seleção Brasileira. Porém, com o passar dos anos, essa

relação ganhou ramificações, atingindo diversos patamares no Brasil. Políticos ou

pessoas que pretendem ingressar na vida pública passaram a investir nas equipes e

“[...] muitos políticos utilizam-se do futebol para amealhar votos, investindo em

alguns times em períodos eleitorais, deixando os à mingua, depois das eleições[...]”,

diz Jocimar Daolio (apud CARRANO, 2000, p.37).


        É importante ressaltar que, atualmente, isso se tornou uma das maiores

relações de interesse presente no país – o político que aproveita do futebol para

autopromoção e o futebol que se utiliza da política para obter resultado. A

abordagem de ambas as situações e suas implicações serão analisadas no decorrer

do livro. Quando a sustentabilidade dessa relação não entra em questão, ambas as

partes podem ser beneficiadas. Como exemplo, pode-se citar o retorno recebido
12



pelo presidente de honra da Associação Desportiva São Caetano, Luiz Olinto

Tortorello1, ex-prefeito da cidade de São Caetano do Sul, em São Paulo, em nome

da sua contribuição para que o time chegasse a ingressar à Série “A” do

Campeonato Brasileiro de Futebol.


         De acordo com o mestre em Administração Paulo Henrique Azevêdo, que

fez uma dissertação sobre a administração dos clubes de futebol do DF, a prefeitura

Municipal de São Caetano do Sul exerceu um papel fundamental na estrutura, e no

posterior desenvolvimento do clube. A construção de toda a sede social foi

possibilitada devido a uma área concedida por comodato pela prefeitura. Além disso,

o município concede transporte, alimentação e campos de treinamento para as

categorias de base do clube (infantil e juvenil), e também colocou a disposição o

estádio municipal Anacleto Campanella.


         Por vezes, a relação entre política e futebol acontece de forma ilícita. O ex-

narrador Osmar Santos chegou afirmar: “o que me deixa revoltado é o

aproveitamento político do Esporte”. (MATTIUSSI, 2004, p.166) A falta de

transparência em casos envolvendo ex-políticos e diretores de clubes, como Zezé

Perrella2, no Cruzeiro, Eurico Miranda3, no Vasco da Gama, e até mesmo o ex-

presidente Fernando Collor de Mello4, no CSA (Centro Sportivo Alagoano), que

utilizaram os times com objetivos políticos, dá margem a questionar a credibilidade

desse processo. O presidente do Vitória-BA, Paulo Carneiro, e o presidente do

Bahia, Marcelo Guimarães, que nas eleições no ano de 2002 concorreram ao cargo



1
  Ex-Prefeito de São Caetano do Sul no ano (1989-1992/ 1997-2000/2001-2004). Falecido em 17 de
Dezembro de 2004
2
  Ex-Deputado Federal, no período de 1999 até 2002. Candidatou-se ao Senado Federal em 2002 e
ficou em 4º Lugar nas eleições.
3
  Ex-Deputado Federal (1999 – 2002)
4
  Ex-Presidente da República (1990-1992). Sofreu impeachment no meio do seu mandado
13



de deputado Estadual e não foram eleitos, também são personagens que

comprovam a relação existente entre futebol e política.


            Porém, o envolvimento de políticos no futebol não é uma peculiaridade

brasileira. Para contextualizar a presença mundial de pessoas que usaram o esporte

com fins eleitorais pode-se citar o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi5. De

acordo com o autor do livro Como o futebol explica o mundo, Franklin Foer, no

transcorrer dos últimos 20 anos, o proprietário do AC Milan construiu um vasto

império, que vai desde ramo imobiliário até os meios de comunicação. O time

passou para o seu gerenciamento no ano de 1978 trazendo para o proprietário

status e lhe dando maior visibilidade de forma que em “oito anos depois de comprar

o clube, em 1986, ele fez com que o sucesso o levasse aos pináculos do poder,

tornando-se primeiro-ministro, cargo que agora ocupa pela segunda vez”. (2004,

p.152)


            É possível perceber que não é exclusividade de Brasília, a honra ou o

descrédito de ter políticos envolvidos com o futebol. Mas em linhas gerais, até por

ser uma cidade nova, conseqüentemente uma praça emergente do esporte, a

Capital do País tem a peculiaridade de não ter clubes tradicionais ou até

centenários, que em locais como Rio e São Paulo, são considerados instituições

pelo que representam para o futebol, para a torcida, para a cidade e para o estado.

No DF, onde os clubes não têm grande identidade com torcedores e os dirigentes

não são antigos sócios, nota-se maior presença de políticos no meio futebolístico.

Há de se reconhecer, que em certas ocasiões, foram eles os responsáveis por

colocar o futebol candango em evidência. Outro fato importante, porém não tão



5
    Primeiro-Ministro da Itália
14



emblemático, que explicaria a grande participação de políticos no esporte local, seria

o fato de a cidade ser o centro do poder brasileiro, onde a política está presente.


        A excelente campanha realizada pelo Brasiliense Futebol Clube de

Taguatinga na Copa do Brasil de 2002, onde conquistou o vice-campeonato, pode

ser avaliada como um marco na história do futebol do DF. O time, hoje considerado

um dos fenômenos do futebol nacional, além de ser gerenciado pelo senador

cassado Luiz Estevão, alcançou enorme popularidade em um curto espaço de

tempo. Um retorno em tão pequeno prazo, paralelo ao fato de pessoas envolvidas

no futebol também investirem na política – como é o caso do Agrício Braga, ex-

presidente da Sociedade Esportiva do Gama – levou-se ao desenvolvimento do

principal questionamento: o envolvimento político é benéfico ou prejudicial para o

futebol brasiliense? Qual a garantia desse processo?


        Para esclarecer a indagação, este trabalho, baseado em uma vasta

pesquisa de campo, no qual são avaliados os elementos que compõem o cenário

esportivo local, busca um esclarecimento mais transparente sobre essa relação,

apresentando a estrutura das equipes, dos estádios e a cobertura da mídia.
15



2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral



         O presente Trabalho de Conclusão de Curso se constitui da elaboração de

um livro sobre o futebol do Distrito Federal, que por meio de uma ampla pesquisa,

aborde a atuação de políticos locais no gerenciamento do esporte, questionando se

essa participação é benéfica ou prejudicial ao futebol como um todo, e ainda, se é

sustentável ou não.


2.2 Objetivo específico



         Descobrir as características e peculiaridades do futebol brasiliense por meio

de uma análise da cobertura da imprensa, dos torcedores, dos políticos e dos

estádios. A análise destes elementos é necessária para fornecer maiores subsídios

para o completo entendimento do momento o qual o futebol do Distrito Federal

passa.
16




3. JUSTIFICATIVA



       O investimento político tem contribuído para uma maior visibilidade do

futebol brasiliense na mídia, proveniente de uma melhoria na qualidade do

espetáculo. Atualmente, o Distrito Federal é uma das cinco unidades da Federação

que possuem times nas três divisões (Séries “A”, “B” e “C”) do campeonato

Brasileiro. Tomando como base a idéia citada anteriormente, torna-se necessário

compreender qual o grau de sustentabilidade desse processo, questionando se o

crescimento pode ser considerado gradativo ou não. Outros aspectos a serem

abordados são as constantes ações do Ministério Público do DF sobre o repasse de

verbas aos clubes por parte do governo e ao arrendamento do estádio Serejão. As

denúncias de lavagem de dinheiro e evasão de divisas por parte dos dirigentes

acabam por contribuir para o aumento da desconfiança e a falta de credibilidade,

afugentando possíveis interessados em realizar parcerias com os clubes.


       Dessa forma, a importância de se escrever um livro é dotar o público,

interessado nesse esporte, de uma publicação que analise criticamente as relações

existentes no futebol do DF, uma vez que se nota uma bibliografia escassa acerca

desse tema. Outro fator importante é saber se as relações existentes contribuem ou

prejudicam o seu desenvolvimento.
17



4. MÉTODOS E TÉCNICAS PARA CONSTRUÇÃO DO LIVRO

4.1 Pesquisa bibliográfica


        Para a construção do livro, foi realizada pesquisa bibliográfica, que apontou

referências tanto no campo do Jornalismo Esportivo a partir de livros como: Futebol

paixão e política, de Paulo César Carrano; Como eles roubaram o jogo, do autor

David Yallop; Como o futebol explica o mundo, de Franklin Foer, entre outras

publicações que contribuíram substancialmente com informações pertinentes. Além

disso, foi fundamental para a realização da pesquisa, entender o conceito de política

a partir da obra de Noberto Bobbio.


        Devido ao fato do tema não possuir uma vasta bibliografia, uma vez que não

são encontrados nos acervos das bibliotecas livros sobre o futebol do DF, a

captação de informações ocorreu de duas formas. A primeira foi a pesquisa de

notícias nos sites dos clubes, das torcidas organizadas e dos principais jornais

brasilienses. A coleta de informações nesses locais serviu como base teórica para o

presente trabalho. Para Manzo, a bibliografia pertinente “oferece meios para definir,

resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas

onde os problemas não se cristalizaram suficientemente”. (MANZO, 1971, p.32) Já a

autora Lakatos afirma a cerca do que se pode atingir com a pesquisa bibliográfica:

                     a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito
                     sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob um novo
                     enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras. (LAKATOS;
                     MARCONI, 2001, p.183)



4.2 Entrevistas


        Outra forma adotada para a captação de informações foi por meio de

entrevistas. Lakatos e Marconi (2001, p.195) definem entrevista como “um encontro
18



de duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de

determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional”. A forma

de entrevista escolhida para o desenvolvimento do trabalho foi a não-estruturada.

Para o autor Izequias Estevam dos Santos (2001, p.223), a entrevista não

estruturada caracteriza-se pelo fato do entrevistado não estar obrigado a obedecer

qualquer tipo de roteiro preestabelecido, sendo que o entrevistador tem grande

liberdade para formular suas perguntas. Já o autor Ander-Egg, adiciona três

modalidades nesse tipo de entrevista. Dessas três, será utilizada somente a

entrevista focalizada, que para o autor pode ser definida como:

                     um roteiro de tópicos relativos ao problema que se vai estudar e o
                     entrevistador tem liberdade de fazer as perguntas que quiser: sonda as
                     razões e motivos, dá esclarecimentos, não obedecendo, a rigor uma
                     estrutura formal. (ANDER-EGG, 1978, p. 110).

        O autor afirma também que para a realização desta modalidade de

entrevista são necessárias habilidade e perspicácia por parte do entrevistador.


        A pesquisa tem como objetivo ouvir diversos segmentos envolvidos direta ou

indiretamente com o futebol (chefes de torcidas, comentaristas, narradores,

jornalistas, presidentes de times e políticos). Dessa forma, o trabalho será

fundamentado com base nos seguintes interlocutores:


        Foram ouvidos os seguintes políticos: Agrício Braga Filho, José Roberto

Arruda, Luiz Estevão, Wagner Marques e Weber Magalhães.


        A crônica esportiva brasiliense é um meio de grande importância para a

compreensão da cena futebolística local, uma vez que os jornalistas fazem um

acompanhamento constante de jogos e campeonatos. Nesse segmento, foram

entrevistados: Carlos Alberto Remo, comentarista da rádio OK FM, da TV Record e

ex-técnico de algumas equipes do futebol local, Edu Carvalho, narrador da rádio OK
19



FM, Gustavo Mariani, jornalista do Jornal de Brasília especialista na história do

futebol local, Jorge Martins, presidente da Associação Brasiliense de Cronistas

Desportivos – ABCD, Roberto Naves, jornalista do Correio Braziliense, Márcio

Ferreira, narrador e radialista da Cultura Fm, Marcos Paulo Lima, jornalista do Jornal

de Brasília, Maurício Leandro, narrador da rádio Jovem Pan AM, Marcelo Agner,

editor de esportes do Jornal de Brasília, José Cruz, jornalista do Correio Braziliense,

Marta Ferreira, na época jornalista do Jornal de Brasília.


        Além dos indivíduos já citados, foram entrevistados o promotor Sérgio Bruno

Cabral, o ex-administrador do Mané Garrincha, Wander Wilson Marques, o

presidente da Torcida Inferno Verde, Hamilton Tatu, o chefe da torcida Jovem Ense,

Augusto Carvalho, e o historiador José Ricardo de Almeida.


        Em um primeiro momento, o trabalho foi dividido em duas partes. Na fase

inicial os cronistas esportivos foram perguntados, em sua maioria, a respeito da

estrutura do futebol candango atual. Na fase final foi dada ênfase nos políticos, que

foram confrontados com as informações colhidas pelas conversas com os cronistas

e com a pesquisa bibliográfica realizada.


        A ordem de entrevistas, no entanto, não seguiu uma seqüência lógica, sendo

alcançada mediante a disponibilidade de cada entrevistado.



4.3 Observação participante


        Com o intuito de analisar características que estão presentes no futebol do

DF, foram feitas observações sobre o comportamento das torcidas e da infra-

estrutura dos estádios. O processo utilizado foi a observação participante, definida

por Lakatos e Marconi (2001, p.194) como: “consiste na participação real do
20



pesquisador com a comunidade ou grupo. Ele se incorpora ao grupo, confunde-se

com ele.”


        Essa participação proporcionou uma visão mais apurada dos fatos, uma vez

que há um contato direto com o objeto estudado. Lakatos e Marconi citam a

importância de realizar tal procedimento. Para elas, o pesquisador “fica tão próximo

quanto um membro do grupo que está estudando e participa das atividades normais

deste.” (LAKATOS; MARCONI, 2001 p.194)


        A análise das torcidas por meio de entrevistas e observação participante

artificial tornou-se necessária para entender o real motivo do comportamento dos

torcedores nos estádios do DF.


        Segundo Lakatos e Marconi (2001), a observação participante pode ser

apresentada de duas formas: natural e artificial. Na natural, o observador pertence à

mesma comunidade ou grupo que investiga. Na artificial, o observador integra-se ao

grupo com a finalidade de obter informações.


        A observação participante foi fundamental para vivência dos problemas

organizacionais relacionados aos estádios, como: cambistas, desorganização na

venda de ingressos, entradas fechadas, falta de informações e organização nas filas

para entrada no estádio, preços diferenciados para torcedores de times rivais.


        Para fazer uma pesquisa de campo mais específica, foram ouvidas as

torcidas Inferno Verde, do Gama, e Jovem Ense, do Brasiliense. Delimitando o

campo de ação nessas duas entidades notou-se formas peculiares sobre

características da torcida do DF.
21



        Foi constatado, por meio de observação, que a ida ao estádio em dia de

jogos é considerada uma forma de lazer e não uma manifestação de paixão pelo

time.


        Cabe ressaltar que foram encontrados, durante a pesquisa, casos claros de

políticos que procuram autopromoção por meio do financiamento de torcidas

organizadas da cidade.


        A infra-estrutura dos estádios do DF pode ser considerada apropriada

levando-se em conta apenas o campeonato local e a capacidade de lotação. No

entanto, para jogos nacionais, e no que diz respeito à organização, há falta de

adequação e violação do Estatuto do Torcedor.
22




5. HIPÓTESE


       A entrada de políticos no futebol do DF é vista com ressalvas pelo narrador

da rádio OK, Edu Carvalho. Para ele, “Brasília é o centro das atenções. Os políticos

se aproveitam muito do futebol. Acho que eles entram para ter benefícios e não para

ajudar o futebol”. Partindo dessa premissa, este trabalho de conclusão de curso irá

considerar que o envolvimento dos políticos no futebol também pode atender

interesses particulares, conforme afirma Jocimar Daolio (apud CARRANO, 2000,

37): “muitos políticos utilizam-se do futebol para amealhar votos, investindo em

alguns times em períodos eleitorais, deixando os à míngua depois das eleições.”


       É necessário lembrar que para alguns entrevistados a entrada de políticos

só é possível devido à fragilidade existente na administração e na captação de

recursos do futebol brasiliense, como cita o ex-presidente e atual superintendente do

Gama, Wagner Marques.
23




6. REFERENCIAL TEÓRICO


6.1 Políticos e futebol




        Apesar de ser um verbete freqüentemente usado, o conceito de político é

abstraído de forma negativa. O político muitas vezes tem a sua imagem vinculada a

uma pessoa que usa de esperteza e astúcia em cargo público para se beneficiar. Na

definição do dicionário Houaiss, político é aquele “que exerce ou persegue influência

administrativa em nível federal, estadual, municipal.”


        A palavra politicagem é definida pelo dicionário Houaiss como política de

interesses pessoais, de troca de favores ou de realizações insignificantes.


        A criação da Câmara Legislativa, em 1990, de acordo com o jornalista do

Jornal de Brasília, Gustavo Mariani, estimulou o aparecimento de pessoas que se

utilizam do futebol com fins eleitorais, uma vez que ocorreram disputas políticas em

nível local, a fim de se obter uma vaga de deputado distrital, na recém-criada

Câmara. O fenômeno pode ser compreendido pelo fato de Brasília ser a sede

administrativa do país. Contudo, nos últimos anos percebesse um maior

envolvimento de políticos no futebol candango.


        Para realizar a pesquisa que culminou na produção do livro, foram

abordados os seguintes políticos: Agrício Braga Filho, José Roberto Arruda, Luiz

Estevão, Sérgio Lisboa (Serjão), Wagner Marques e Weber Magalhães. Políticos

como Izalci Lucas, Paulo Octávio, e Júnior Brunelli, e ex-políticos como Tadeu Roriz

e César Lacerda, foram apenas citados no transcorrer da narrativa.
24



         Agrício Braga exerce o mandato de Deputado Distrital, milita no futebol há

décadas, já foi presidente do Gama e Secretário de Esporte e Lazer. O político

afirma que sua entrada na vida pública foi necessária para abrir a porta do Gama

para patrocínios, sobre isso diz: “colocaram na minha cabeça que se eu entrasse na

política poderia ter um trânsito melhor e foi o que fiz, dando certo num primeiro

momento”.


         O deputado federal José Roberto Arruda, não tem um passado vinculado ao

esporte, contudo envolveu-se com a Sociedade Esportiva do Gama quando o clube

foi rebaixado no ano de 1999, devido à transferência de pontos do caso Sandro

Hiroshi6. Muitos torcedores do clube, como Hamilton Tatu, alegam que Arruda

aproveitou-se do caso para ter maior visibilidade. No entanto, o deputado afirma: “eu

nunca fui diretor de clube, nunca fui cartola e nem quero ser”, fazendo uma clara

referência de que o seu envolvimento restringe-se no caso Gama, citado acima, e na

liberação de recursos para a melhoria da modalidade.


         Luiz Estevão, senador cassado em 2000, funda um mês após perder o

mandato, o Brasiliense Futebol Clube de Taguatinga. O ex-senador afirma que não

tem mais pretensões políticas, porém seu comprometimento com o time e sua ampla

biografia política o tornam personagem do livro.


         Sérgio Lisboa, ex-secretário adjunto da Secretária de Esporte e Lazer,

ganhou visibilidade em 2003, sendo goleiro do time da ARUC. Já exerceu a função

de presidente do Conselho Deliberativo do Gama. Lisboa jamais possuiu um


6
 Foi descoberto que o atleta do São Paulo tinha adulterado a certidão de nascimento para poder
disputar torneios das categorias de base, isso fez que o STDJ – Superior Tribunal de Justiça
Desportiva – retirasse os pontos conquistados pela equipe paulista e os acrescentarem aos clubes
que disputaram as partidas. Esta medida prejudicou diretamente o Gama na luta para se manter na
elite do futebol brasileiro, uma fez que o Botafogo foi um dos beneficiados com esses pontos.
25



mandato parlamentar. Empresário e dono do Ceilândia, especula-se, que ele

pretende disputar uma vaga na Câmara Legislativa nas eleições de 2006.


        Wagner Marques, dirigente do Gama, tentou ingressar na Câmara

Legislativa em 1998, por uma imposição partidária, que necessitava de um candidato

com propostas voltadas para o esporte local. Todavia, não obteve sucesso. Ex-

Secretário de Esporte e Lazer, o dirigente foi mais uma pessoa ligada ao esporte a

tentar ingressar na vida pública.


        Por fim, foi entrevistado o secretário de Esporte e Lazer, Weber Magalhães,

que se candidatou a deputado federal na eleição de 2002, e afirmou que suas

pretensões políticas são a de ingressar na Câmara em 2006.



6.2 A cobertura esportiva pela imprensa


        A cobertura dos jogos e do dia-a-dia dos times de futebol do Distrito Federal

passou a ter destaque no começo da década de 1990, período em que a crônica

esportiva do Distrito Federal ganhou em estrutura e em quantidade de radialistas e

jornalistas. Apesar de ganhar força a cada ano, a mídia esportiva brasiliense tem

características peculiares e ainda não pode ser comparada a de grandes centros.

Diferentemente de cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, onde a imprensa,

principalmente no que diz respeito às rádios e programas televisivos, não é

submetida a dirigentes de futebol, Brasília ostenta políticos e dirigentes por trás de

equipes de transmissão esportiva – talvez pela falta de interesse por parte de

investidores e patrocinadores.


        “Os Guerreiros de Futebol de Brasília”, a equipe de rádio comandada pelo

veterano radialista Marcelo Ramos da Rádio Capital, foram os precursores no
26



quesito cobertura do futebol de Brasília. Há mais de dez anos acompanhando o

esporte local, Ramos viu outras rádios se interessarem por transmitir partidas de

times do DF. A grande quantidade de emissoras que cobrem jogos locais chega a

impressionar cronistas de outros estados. Atualmente, pelo menos cinco rádios

realizam transmissões ao vivo a partir dos estádios da capital federal.


        A presença de políticos continua sendo evidente. Grande parte dos

programas de rádio e televisão veiculados na mídia local é supervisionada por

equipes de propriedade de dirigentes, como Agrício Braga Filho e Serjão


        Há alguns anos, não havia mercado de trabalho para um radialista ou

jornalista que se interessava por ser setorista de esporte no DF.


        Com a ascensão de clubes como o Gama e o Brasiliense, o mercado dos

cronistas esportivos, apesar de restrito, vem crescendo na capital do país. No século

XXI é uma realidade a posição de profissionais que trabalham exclusivamente

acompanhando o dia-a-dia de times do futebol local.


        Para Edu Carvalho, narrador da Rádio OK, a imprensa local tem bons

profissionais. “Acredito que a nossa imprensa, hoje em dia, tem grandes

profissionais que querem realmente fazer um grande trabalho. Mas, infelizmente, fica

comprometida e faz de conta que não está sabendo das coisas”.


        Ao acompanhar transmissões de partidas de futebol por rádios locais, o

ouvinte tem a oportunidade de verificar que em algumas ocasiões, os profissionais

tendem a defender interesses. Essa característica pode ser associada à visibilidade

que o futebol proporciona, algo que gera interesse nos políticos de cada vez mais se

envolverem com a cobertura jornalística do futebol brasiliense.
27



           Os dois principais jornais da cidade, Jornal de Brasília e o Correio

Braziliense, são exemplos de meios de comunicação que zelam pela qualidade e

informam os leitores de forma clara, não omitindo informações e nem preservando

dirigentes de críticas. O momento atual dos jornais impressos é dos melhores, e até

considerado o auge, em termos das editorias de esporte. Profissionais qualificados

integram as equipes de ambos os jornais acima citados.



6.2.1 O que é imparcialidade?


           O dicionário Houaiss define imparcialidade como “caráter ou qualidade do

que é imparcial; equidade, isenção”.


           Na visão do jornalista Eugênio Bucci7, o conceito imparcialidade é entendido

por independência editorial a manutenção da autonomia de um repórter para realizar

a apuração, investigação, edição e difusão de toda informação relevante ao público,

a medida que “o jornalismo cumpre uma função social antes de ser um negócio, que

a objetividade e o equilíbrio são valores que alicerçam a boa reportagem.” (BUCCI,

2001, p.30) O conceito de independência está presente em diversos códigos de

ética como o da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Nacional de

Editores de Revistas8 (ANER), que entre os princípios éticos recomendados pela

entidade destaca:


           “1 - Manter a independência editorial trabalhando exclusivamente para o

leitor;




7
    Presidente da Radiobrás
8
    Disponível em: http://www.aner.org.br/conteudo/1/artigo1100-1.htm Acesso em: 22 set. 2005
28



        4 -    Assegurar ao leitor as diferentes versões de um fato e as diversas

tendências de opinião da sociedade sobre esse fato.”


        Os itens citados acima reforçam a idéia de que nenhum outro interesse, seja

ele político ou financeiro, deveria prejudicar essa missão. Bucci (2001, p.30)

complementa: “o jornalismo tem meios assegurados para fazer prevalecer sobre os

melindres comerciais e para dar a notícia que deve ser dada”. Contudo, apesar de

possuir mecanismo de autodefesa, alguns veículos de comunicação e alguns

jornalistas “se antecipam na servidão aos governantes” (BUCCI, 2001, p.57).


        Porém, este conceito, que pode ser sinônimo de imparcialidade, no

entendimento do professor de Telejornalismo da UERJ, Antônio Brasil9, é uma meta

utópica importante para o jornalismo, pois “ela funciona como uma direção, uma

espécie de bússola profissional”. O professor reforça que tal idéia é inalcançável:

“ignorar as próprias convicções em nome do jornalismo é muito mais perigoso”. O

pensamento do professor Antônio Brasil também é compartilhado pelo jornalista

português Carlos Fino10, primeiro jornalista a noticiar o início da Guerra do Golfo.

Fino defende que não se deve exercer a neutralidade: “o jornalista tem de se

envolver emocionalmente, mas, é claro, precisa também encontrar o caminho do

equilíbrio e ouvir os dois lados.”


        O professor da UERJ, André Lázaro11, acredita que a verdade jornalística

pela busca da justiça consiste em “ouvir as diferentes partes envolvidas, ser justo

com seus argumentos, mas também admitir que temos interesses”. Dessa forma,


9
  Disponível em http://www2.uerj.br/~emquest/emquestao81/imparcialidade.htm Acesso em 22 de
setembro de 2005
10
   Disponível em http://www2.uerj.br/~emquest/emquestao81/imparcialidade.htm Acesso em 22 de
setembro de 2005
11
   Disponível em http://www2.uerj.br/~emquest/emquestao81/imparcialidade.htm Acesso em 22 de
setembro de 2005
29



Lázaro afirma que o jornalista irá obter melhores resultados quando for justo, porque

nunca haverá neutralidade ou imparcialidade em sua cobertura.


           De acordo com o código de ética da Federação Nacional dos Jornalistas12

(FENAJ).


           Art. 9 - É dever do jornalista:

a) Divulgar todos os fatos que sejam de interesse público.

b) Lutar pela liberdade de pensamento e expressão.


           Art. 10. O jornalista não pode:

b) Submeter-se a diretrizes contrárias à divulgação correta da informação.

c) Frustrar a manifestação de opiniões divergentes ou impedir o livre debate.

(FENAJ)



6.3 Características da torcida do Distrito Federal


           De acordo com o presidente da Torcida Jovem Ense, Augusto Carvalho, o

Distrito Federal apresenta uma peculiaridade quanto ao aspecto torcida. O

fenômeno ocorre pelo fato de haver pessoas que ingressam no estádio somente

para acompanhar a partida e não para torcer pelas equipes.


           Na torcida do Brasiliense, especialmente, poucos são os aficionados que

tentam incentivar a equipe, sendo apenas meros espectadores, que ficam

impassíveis no estádio.


           Não se pode desconsiderar, ainda, que os dois maiores times do DF

possuem torcidas organizadas – como exemplo se pode citar a Inferno Verde, do

12
     Disponível em http://www.fenaj.org.br/leis.php?id=21 Acesso em 22 de setembro de 2005
30



Gama, e a Jovem Ense, do Brasiliense –, assim como não se pode esquecer de

ressaltar que grande parte de ambas as torcidas são formadas pela classe menos

favorecida economicamente, e que são muitas as histórias de torcedores que

recebem benefícios para torcer a favor de determinado time.


        A torcida de Brasília é segmentada e não atuante. A segmentação se

caracteriza pela presença de dois perfis de torcedores: os que vão aos jogos nos

finais de semana apenas como um programa de lazer e os que fazem parte das

torcidas organizadas, comparecendo às partidas uniformizados, com bandeiras,

faixas e cantando “gritos de guerra”.


        Dentre os torcedores casuais, ou seja, que vão apenas em busca de um

entretenimento, nota-se a falta de apego pelo time, demonstrada principalmente pela

falta de incentivo aos jogadores e de entusiasmo.


        Outro ponto característico é a grande quantidade de camisas de outros times

brasileiros nos estádios. Esse conceito é comum em cidades do norte e nordeste do

país, onde não há presença dos clubes das grandes cidades na primeira divisão

nacional, o que leva os torcedores a buscarem um time que esteja em maior

evidência.


        No caso do DF, outro fator deve ser apontado para a falta de identidade. No

futebol, a identificação com as agremiações locais não é tão representativa. O fato

do esporte na cidade ser recente pode explicar a questão. Não houve grandes

clubes que conquistaram títulos nacionais importantes e ainda falta um aspecto

relevante para a identificação: a rivalidade.
31



        Nas torcidas organizadas também ocorre um fenômeno particular. Apesar de

serem bancadas por políticos (o que pode ser constatado também em outros

estados), o que se ouve das torcidas são poucos aplausos e músicas de apoio, e

muitos xingamentos.


        O número de pessoas que integram as torcidas é baixo. A falta de interesse

pode ser explicada pelo fato de muitos torcedores apoiarem um outro clube, de fora

do estado, o que afasta a possibilidade de integração a uma torcida organizada.



6.3.1. Inferno Verde




        No dia 15 de dezembro de 1998 moradores de Samambaia, Gama e Núcleo

Bandeirante fundam Torcida Inferno Verde. A idéia, no entanto já tinha sido

estudada no ano de 1997.


        A criação dessa torcida surgiu três dias antes de sua fundação “oficial”, ou

seja, no dia 12 de dezembro que foi véspera da última partida do quadrangular da

série “B”, entre Gama e Londrina. O objetivo seria o de aglutinar torcedores da

cidade do Gama, bem como de outras cidades do Entorno.


        Após inúmeras discussões, os integrantes da torcida, entre eles, Hamilton

Teixeira dos Santos (Tatu), atual presidente, colocaram em votação duas propostas

de nomes (Inferno Verde e Fúria Verde). A designação Inferno Verde, uma

homenagem para uma torcida organizada do estado de Goiás, extinta em 1996, foi

escolhida pela maioria dos presentes na reunião.
32



        No entanto, a estréia da Inferno Verde ocorreu fora do Estádio Walmir

Campello Bezerra, o Bezerrão. A primeira partida foi no Estádio Mané Garrincha, a

torcida já marcava sua presença            pela empolgação e entusiasmo nas

arquibancadas, mesmo não tendo, inicialmente, um grande número de adeptos na

vitória que deu ao Gama o título da Série “B”. A entrada da equipe na elite do futebol

nacional, fez com que, em pouco tempo, ocorresse um grande número de filiações.

A torcida possui, segundo o seu site – torcidagama1.hpg.ig.com.br –, 12 distritos,

divididos por localização. O total é de quase 3000 filiados, sendo que deste número

cerca de 1200 possuem a carteirinha de sócios e têm desconto em materiais

esportivos e em viagens da equipe.


        O presidente e fundador da torcida, Hamilton Tatu, diz que a torcida não

recebe nenhum auxílio de custo do clube. Para ele, “torcer tem um preço elevado e

esse preço é a torcida que paga”. No entanto, segundo Tatu, o senador Paulo

Octávio auxilia na confecção de camisas e em algumas passagens para o grupo ir

aos jogos. Em troca, o nome do senador está presente nas faixas da torcida.


        Tatu aponta como a maior virtude da torcida gamense, o apoio ao clube: “no

meu entender o maior patrimônio que o clube tem é a sua torcida organizada. O

verdadeiro torcedor sempre irá apoiar o Gama, independente do Gama estar bem ou

mal”.



6.3.2 Jovem Ense




        “El, el, el, torcida aluguel” é o canto das torcidas adversárias quando

disputam jogos contra o Brasiliense. O estigma surgiu quando os torcedores
33



passaram a ter inúmeros incentivos para freqüentar o estádio de uma equipe recém-

criada. Fundada em 23 de agosto de 2002, a Jovem Ense, surgia com o propósito

de ser uma torcida jovem que incentivasse o time do Brasiliense.


       Ao contrário das torcidas de equipes com tradição, a maioria dos

espectadores, que freqüentam o Estádio Boca do Jacaré, não costuma incentivar o

time durante as partidas. Porém, um grupo de 40, 50 torcedores se distinguem do

resto do estádio. Entoando cânticos e gritos de guerra, pulando, tocando

instrumentos musicais como tambores, soltando fogos e fumaça amarela, esta

minoria empurra o time durante os noventa minutos do jogo. “Nosso pensamento é o

de vibrar durante todo o jogo”, afirmar o líder da Jovem Ense, Agusto Carvalho.


       Ex-Vascaíno, Carvalho afirma que sua paixão pelo Brasiliense surgiu

quando foi assistir a um jogo do time em 2000. “Já assisti a jogos do Taguatinga, do

Gama... mudei para o Brasiliense, pois estava mais próximo”. Augusto gostaria que

as pessoas torcessem pelas equipes da cidade onde moram. A tradição, segundo

ele, é adquirida em longo prazo, com a criação da empatia pelo clube.


       Um dos pré-requisitos para se filiar à torcida é gostar do time. Além disso, é

necessário comparecer aos jogos. Nenhuma forma de mensalidade é cobrada, nem

de taxa para filiação e manutenção nos quadros da torcida. Na parte administrativa,

não existe levantamento sobre a quantidade de filiadas. O dinheiro para compra de

material vem do patrocínio de algumas empresas e de um político, o deputado

distrital Júnior Brunelli, que financia o transporte para a torcida. O chefe da Jovem

Ense ainda cita que outros políticos o procuraram para estampar seus nomes nas

faixas e bandeiras. No entanto, ele desprezou o apoio por se tratar de uma prática

meramente eleitoreira e que na visão dele interferiria na relação da torcida com
34



Brunelli, que apóia a Jovem Ense desde 2002. “É uma pessoa que entrou há alguns

anos com o intuito de ajudar a torcida”.


        Paralelamente aos patrocínios, percebe-se que o presidente do Brasiliense

também contribui. “No Brasil todas as torcidas são ajudadas”, com esses dizeres o

presidente da organizada, Augusto Carvalho, justifica o auxílio de Luiz Estevão a

Jovem Ense. Para ele o estigma criado pode ser explicado como inveja de torcidas

rivais com as torcidas do Brasiliense. “Se a oposição não tem uma pessoa como o

Luiz Estevão que nos ajude, eu não posso fazer nada”. Contudo, Carvalho ressalta

que o dirigente auxilia dando ingressos e, em alguns casos, financiando as viagens

para os torcedores, fato este que ocorreu na Copa do Brasil de 2002. Luiz Estevão,

no entanto, afirma que existe uma relação distante entre a diretoria do Brasiliense e

as torcidas organizadas. “O clube não deve interferir na questão da torcida. Quanto

mais distante ela estiver da direção, melhor. Dessa maneira, a torcida pode ter

autonomia para criticar a equipe”.


        A situação da Jovem Ense é um pouco diferente do que ocorre com a

Inferno Verde. Os integrantes da torcida do Gama sempre se mostraram atuantes

nas questões que envolvam o time.




6.4 Estruturas dos times


        Para compreender o atual momento futebolístico do DF, faz-se necessário

analisar a estrutura dos principais times. Além disso, foi realizado um resgate da

história do futebol candango, em que foi verificado que a relação de dependência

dos clubes não é uma questão recente, podendo ser notada desde o início da

criação da cidade por meio das equipes financiadas pelas construtoras e outras
35



instituições como a Associação Comercial de Brasília e o Centro de Ensino Unificado

de Brasília (CEUB). Outro fator de suma importância para a pesquisa foi descobrir

que os praticantes são trabalhadores com pouco poder aquisitivo, o que leva os

clubes aterem uma estrutura convalescida.




6.4.1. Gama



        A Sociedade Esportiva do Gama foi fundada em 15 de novembro de 1975

por um grupo de desportistas. Vencedora do campeonato brasiliense de 1979, sua

realidade era de completa instabilidade financeira. O time não possuía dinheiro para

salários, comprar material esportivo e treinar.


        Entretanto, com a entrada do trio de investidores composto por Wagner

Marques, Luis Rodrigues e Agrício Braga, no ano de 1992, a equipe se transforma

numa das forças do futebol local conquistando durante a década de 5 títulos

candangos, chegando inclusive a disputar o campeonato brasileiro da primeira

divisão. A ascensão pode ser explicada pela injeção de capital do trio. Os salários

passaram a ser pagos em dia, mais recursos foram captados e um centro de

treinamento foi construído para melhorar as condições físicas e técnicas dos atletas.

O fato acaba por gerar uma sensível melhoria no campeonato local. Atualmente a

equipe está na Série “B” do campeonato brasileiro.



6.4.2. Brasiliense


        Fundado em 1º de agosto de 2000, um mês após a cassação do mandato de

senador de Luiz Estevão, o Brasiliense Futebol Clube de Taguatinga apresenta uma
36



trajetória marcante no cenário local e nacional. Tendo o aporte financeiro do ex-

senador, que é empresário, o time conquistou vários títulos nesses 5 anos de

existência. Em 2002, a equipe sagra-se vice-campeã da Copa do Brasil e campeã da

Série “C” do campeonato brasileiro. Bicampeã do campeonato local em 2004/2005.

Campeão da “Série B” do campeonato brasileiro em 2004. Atualmente a equipe está

na elite do futebol brasileiro, disputando a primeira divisão da competição nacional.

O grande questionamento feito em relação ao time é no caso do diretor-presidente

do time, Luiz Estevão, rever sua posição de não atuar politicamente e ingressar

novamente num cargo eletivo. Como ficaria o Brasiliense, os investimentos

continuariam sendo realizados?




6.4.3. Ceilândia


        Há menos de dois anos, o Ceilândia era apenas mais um time do Distrito

Federal, que vivia na penúria financeira e não possuía estrutura para disputar

campeonatos em condição de igualdade com equipes como Gama e Brasiliense.

Antes de 2004, o time jamais tinha chegado à fase final do campeonato brasiliense.

Porém, no ano de 2004, o clube passa a ser administrado por Sérgio Lisboa

(Serjão), ex-goleiro da ARUC, ex-membro do conselho deliberativo do Gama e ex-

secretário adjunto de Esporte e Lazer, que implementa a gestão profissional no time.

Com uma folha salarial orçada em 113 mil reais e com profissionais gabaritados, o

Gato, apelido do time, conquista o vice-campeonato brasilense em 2005 e chega até

as quartas-de-final do campeonato brasileiro da Série “C”.


        Serjão, como é popularmente conhecido, queixa-se da falta de apoio que o

clube recebe por parte de empresas e políticos. O fato comprova a fragilidade
37



administrativa do futebol candango, no qual as agremiações dependem da influência

e do dinheiro investido pelos seus “donos” para sobreviver, como é o caso do

Ceilândia de Sérgio Lisboa.

6.4.4. Paranoá


        O time do Paranoá surgiu em meados de 2004, com o dirigente Eduardo

Pedrosa, irmão da deputada Eliana Pedrosa. Houve evolução considerável no

futebol do clube. Além dos bons patrocinadores, o time com a força política pode se

estabelecer no futebol candango, no período. Contudo, o irmão da deputada

abandonou o projeto de transformar o time em uma das forças do futebol local em

junho de 2005. O auxílio de Pedrosa girava em torno de R$ 45 mil mensais. Ele

arcava com a folha de pagamento dos atletas, transporte e viagens. A crise do

Paranoá se agravou quando a Companhia Energética de Brasília (CEB), principal

patrocinadora da equipe, ainda não liberou recursos para o pagamento de salários.


        Porém, a equipe, teoricamente, não ficaria sem um mecenas. No lugar

deixado por Pedrosa iria assumir o secretário de Agricultura e deputado distrital

licenciado, Pedro Passos. Ele teria se responsabilizado por investir no clube e trazer

novos patrocínios.


        Porém, durante a participação do Paranoá na Série “C” do Brasileiro de

2005, Passos não deu apoio financeiro ao clube. Em certo momento da competição,

a diretoria do Paranoá anunciou que não iria viajar ao Paraná para enfrentar o

Londrina porque não tinha condições financeiras. A equipe seguiu para disputar a

partida, depois que Weber Magalhães e o presidente da FMF, Fábio Simão, tiraram

dinheiro do próprio bolso para pagar as despesas do clube, que foi eliminado nos

pênaltis, após empatar o jogo no interior paranaense.
38




6.4.5. Dom Pedro II



        O Esporte Clube Dom Pedro II é um time que se destaca no contexto que

envolve o futebol candango. Com uma baixa folha salarial, a equipe tem uma história

imersa em dificuldades que, surpreendentemente, são superadas. Tal esforço tem

impedido o desaparecimento do time. A profissionalização ocorreu em 1996, antes a

equipe disputava campeonatos amadores. Em 1998, o D.Pedro conquista o vice-

campeonato do campeonato brasiliense, a posição dá ao clube o direito de jogar, no

mesmo ano, a Série “C” do Brasileiro. Por ser uma divisão pouco prestigiada e

marcada, predominantemente, pela falta de incentivos financeiros, a direção não

consegue arcar com a folha salarial do time. A saída é pedir auxílio ao presidente do

Anapolina e deputado Pedro Canêdo, segundo informa o jornalista do Jornal de

Brasília, Gustavo Mariani, no texto “A Rota de Dom Pedro II”, em 12 de julho de

2003.


        Em 2005 o clube disputou a primeira divisão do futebol local e o seu

presidente, Cléver Rafael, arcou com 25 mil reais para pagar as despesas do time,

conforme destaca a matéria do Jornal de Brasília “Seis clubes pagaram para jogar

no turno”.



6.4.6. CEUB


        No ano de 1968, surgiu no futebol candango uma equipe que teve um

período de vida muito curto, criado por um grupo de universitários do Centro de

Ensino Unificado de Brasília (CEUB), o time de mesmo nome teve um grande

destaque, tanto no cenário local, como nacional. O time conquistou o Campeonato
39



Brasiliense em 1973 e, neste mesmo ano, também participou do Campeonato

Brasileiro, ocupando a 33º posição. Nos dois anos seguintes, em 1974 e 1975, o

time também disputou o Brasileiro, terminando na 37ª e 31ª colocação,

respectivamente.


         O ano de 1976 foi de grande destaque para a equipe. Por ironia do destino,

também foi o ano de sua despedida. A ameaça de não ter tempo suficiente para se

realizar um campeonato brasiliense antes do prazo de indicação do vencedor para

disputar o Brasileiro fez a CBD sugerir a realização de um torneio seletivo. A

Federação acatou a idéia e realizou uma curta competição entre as quatro melhores

equipes da época. O vencedor desta competição se sagraria campeão brasiliense e,

também, seria o representante da cidade no cenário nacional. O quadrangular foi

vencido pelo Brasília causando indignação ao CEUB, que encerrou suas atividades

futebolísticas.


         Mais tarde, uma questão política, não muito clara, fez o então presidente da

CBD, Heleno Nunes, tirar a vaga do time do Brasília.


         A Associação Atlética Ponte Preta, de Campinas (SP), mais tarde ganhou a

vaga deixada pelo time do Distrito Federal. Segundo o Jornalista Gustavo Mariani13,

a transferência da vaga envolve um acordo político de tentativa de fortalecimento do

partido Arena, oposição do MDB no Estado, representado pelo então senador,

Orestes Quércia14.




13
   Entrevista realizada no Jornal de Brasília no dia 22 de abril de 2004
14
   Vereador (1964 - 1966), Deputado Estadual (1967 - 1968), Prefeito (1969 - 1972), Senador (1975
- 1983), Vice-governador (1984 – 1988). Todos os cargos públicos são por São Paulo
40



6.5 Estrutura dos estádios


                                                     A estrutura dos estádios deixa a desejar
                                         Augusto Carvalho, Presidente da Torcida Jovem Ense




        A análise dos estádios faz-se necessária, pois foi verificado no transcorrer

da pesquisa que muitos campos do Distrito Federal receberam melhorias em sua

estrutura. No entanto, não são todos os estádios que passaram por reformas, tão

pouco algum tipo de benfeitoria. Algumas reformas podem ser explicadas pela força

política de cada clube que, por meio de influência, conseguem obter benefícios no

setor. Outro fator diagnosticado no decorrer do livro são as denúncias de fraude nas

licitações para contratação de serviços de manutenção, ou no contrato de

arrendamento dos estádios.


        Foram considerados quatro estádios. O Mané Garrincha, estádio que goza

de maior estrutura no DF, o Walmir Campelo Bezerra (Bezerrão), situado no Gama,

o Elmo Serejo de Farias (Serejão), na cidade de Taguatinga e o Pelezão que

durante as décadas de 60 e 70 foi o principal campo da cidade, mas está

abandonado. Outros campos da cidade como: Abadião, na Ceilândia, Adonir

Guimarães, em Planaltina, Agostinho Lima, situado em Sobradinho, Juscelino

Kubitschek, no Paranoá, Metropolitana localizado no Núcleo Bandeirante, Joaquim

Roriz (Rorizão), na Samambaia, Cave, no Guará e o Chapadinha em Brazlândia,

foram apenas citados a título de referência no transcorrer do livro.
41



6.5.1. Mané Garrincha



            O maior e mais moderno estádio do DF foi inaugurado no dia 10 de março

de 1974 com uma partida entre CEUB e Corinthians, vencida pelo time paulista por 2

a 1. De acordo com o editor do caderno Torcida do Jornal de Brasília, Marcelo

Agner15, sua construção foi fruto da tendência de se construir vários estádios pelo

Brasil, na década de 70. Em pouco tempo, desbancou o estádio Pelezão, tornando-

se o principal campo da cidade.


            O estádio possui uma capacidade estimada em 53 mil lugares. Entretanto, o

campo não costuma receber partidas com freqüência. Segundo o ex-administrador

do estádio, Wander Wilson Marques16, a exclusão do campo do Mané Garrincha dos

jogos, envolvendo futebol profissional, é reflexo do alto custo gerado pelo

deslocamento das equipes sediadas nas cidades-satélites, assim como das torcidas.


            No ano de 2005 o estádio recebeu alguns jogos da primeira divisão do

Campeonato Brasiliense e do Campeonato Brasileiro da 1ª Divisão. Além disso, foi

realizado o jogo entre Brasil e Chile, válido pelas eliminatórias da Copa do Mundo de

2006.


            Para se adequar às normas impostas pela Confederação Sul-Americana de

Futebol (Conmebol), entidade que organiza e administra os campeonatos do

continente, o estádio teria de passar por uma série de reformas para se adaptar às

normas internacionais. As obras custariam R$ 4,9 milhões para os cofres do

Governo do Distrito Federal. No entanto, devido a brigas entre poderes,

principalmente devido ao processo de licitação – que rendeu investigações do

15
     Entrevista realizada no Jornal de Brasília no dia 13 maio de 2004
16
     Entrevista realizada na Administração do Estádio Mané Garrincha no dia 22 de abril de 2004
42



Ministério Público, que apontaram irregularidades no edital da obra – não houve

tempo suficiente para a realização da reforma. Logo, o estádio não está adequado

ao Estatuto do Torcedor.



6.5.2. Bezerrão


           No dia 9 de outubro de 1977, na data de aniversário da cidade do Gama, foi

inaugurado o estádio Valmir Campelo Bezerra, mais conhecido como Bezerrão. No

primeiro jogo realizado no local, O Gama perdeu por 3 a 1 para o Botafogo. O campo

é o local onde a Sociedade Esportiva do Gama manda a maioria dos seus jogos.

Com instalações precárias, o estádio passa no ano de 2001, por uma série de

benfeitorias a mando do então Secretário de Esporte e Lazer, Agrício Braga.

Todavia, o estádio não possui instalações dignas tanto para a imprensa quanto para

jogadores e para a torcida.


           Em dezembro de 2001, o governador Joaquim Roriz anunciou um ambicioso

projeto desenvolvido pelo arquiteto paulista Ruy Ohtake, a pedido do então

deputado Federal Paulo Octávio17. A proposta, orçada em R$ 40 milhões, pretendia

fazer do estádio uma arena esportiva multiuso. A capacidade seria aumentada em

22 mil torcedores. O estádio passaria dos atuais 20 mil para 42 mil lugares. O novo

nome do Bezerrão seria Estádio Comunitário do Gama. No ano de 2003, existia até

recursos alocados (R$ 9,4 milhões em verbas federais e outros R$ 4,92 milhões dos

cofres do GDF), mas a licitação não aconteceu.


           O contrato para a reforma do estádio Bezerrão foi assinado pelo governador

Joaquim Roriz, no dia 11 de agosto de 2005, pois o Tribunal de Contas do Distrito


17
     Atualmente exerce o mandato de Senador da República, eleito para esse cargo em 2002
43



Federal (TCDF) concluiu que a empresa Estacon, vencedora da concorrência, não

teria atendido ao edital para a reforma. Dessa maneira, o TCDF ordenou que a

Novacap não assinasse o contrato de R$ 51 milhões enquanto a situação não fosse

regularizada. Ao contrário do projeto inicial, o Bezerrão poderá comportar depois da

reforma, 35 mil torcedores. Apesar da redução da capacidade, o custo da obra

aumentou para R$ 51,7 milhões ao Governo do Distrito Federal.


            O deputado federal José Roberto Arruda18 lembra que foi o responsável pela

emenda no Congresso Nacional que garantiu o orçamento para a reforma do

estádio. Contudo, ele não poupa críticas ao projeto aprovado para a reforma. “O

projeto do Rui Ohtake não é o que eu gostaria. É desproporcional ao tamanho da

obra. Eu queria fazer o projeto do arquiteto Ariomar, ele é um arquiteto do próprio

Gama. Custaria dez vezes menos e seria muito mais útil. Esse projeto está pronto.

Foi feito de graça. Infelizmente optaram pelo outro, o que eu acho um erro”, criticou

Arruda.


            Outro fator verificado na pesquisa foi à ingerência da Administração regional

do Gama em relação ao estádio, mesmo não havendo nenhum contrato de

arrendamento do estádio para o time do Gama é a direção do clube que administra o

campo e faz a cessão de uso para outros clubes.



6.5.3. Serejão (Boca do Jacaré)



            No mês de abril de 1978 é inaugurado o estádio Elmo Serejo Farias, em

Taguatinga. O nome do estádio é uma homenagem ao ex-governador do Distrito

Federal.

18
     Entrevista realizada no gabinete do deputado no dia 25 de outubro de 2005
44



            Grandes clubes brasileiros já se apresentaram no local, que desde a década

de 1970, ficou conhecido popularmente como Serejão. No jogo de abertura, o time

juvenil do Fluminense venceu o Taguatinga Esporte Clube por 4 a 1.


            O campo foi a casa da extinta equipe do Taguatinga, sendo abandonado

após desaparecimento do time, por mais de dois anos. Em certo momento, o estádio

foi ocupado por uma empresa que sorteava prêmios através da realização de jogos

de bingo. Chegou até a ser ocupado por uma feira. Até que em 2000, o empresário

Luiz Estevão o arrendou junto à Administração de Taguatinga.


            O cartola investiu inicialmente cerca de R$ 600 mil na reforma do estádio,

que passa então a ser o campo de jogo do recém criado Brasiliense Futebol Clube

de Taguatinga. O estádio recebe estrutura, com área de imprensa, tribuna de honra

e cadeiras cobertas. Recebe novas arquibancadas no lado contrário às cabines de

rádio, aumentando a capacidade para 32 mil pessoas, reparos nas arquibancadas já

existentes, nos vestiários e ganha novo gramado.


            Entretanto, o Ministério Público do Distrito Federal (MPDF) constatou

irregularidades no arrendamento do estádio e determinou que o contrato que o

Brasiliense mantinha com a Administração Regional de Taguatinga fosse anulado. O

promotor Sérgio Bruno19 afirma que a autorização que o governo concedeu ao clube

para tomar posse do estádio público não tem validade, pelo fato de não ter ocorrido

licitação.


            Além disso, o estádio foi interditado depois que um laudo do Corpo de

Bombeiros do Distrito Federal apontou irregularidades no local. A determinação de

interditar o Serejão partiu da 17ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do DF (TJDF),

19
     Entrevista realizada por telefone no dia 14 de setembro de 2005
45



depois que a Promotoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público do DF

entrou com pedido de liminar contra o Brasiliense, solicitando a interdição do estádio

por falta de condições de segurança para o torcedor. A decisão foi tomada no dia 28

de outubro de 2005, dois dias antes da partida entre Brasiliense e Botafogo,

marcada para Taguatinga. O presidente do clube transferiu o jogo para o Mané

Garrincha.



6.5.4. Pelezão


        Na segunda metade da década de 1960 foi construído o Estádio Nacional de

Brasília, conhecido por Pelezão. O começo da história do estádio foi marcado por

partidas de times locais, como construtoras e associações amadoras de cidades-

satélites, que se destacavam na época em que o futebol candango não era

profissionalizado.


        Ainda na década de 60 o Pelezão recebe amistosos da Seleção Brasiliense

contra grandes equipes do futebol brasileiro, como o Santos, de Pelé; o Botafogo, de

Garrincha e o Cruzeiro, de Tostão. No último ano da carreira do craque Garrincha,

que em 1969 vestia a camisa do Flamengo, o estádio, de acordo com a matéria do

Jornal de Brasília “Poucos momentos de glória”, alcançou o maior momento

futebolístico da cidade.


        Na metade da década de 80, o histórico Pelezão., com capacidade estimada

em 20 mil lugares foi desativado. Mais tarde, em 1996, a Federação Metropolitana

de Futebol vende o estádio para a Paulo Octávio Investimentos Imobiliários.
46



            O promotor do Ministério Público do DF Sérgio Bruno Cabral20 afirma que a

venda do Pelezão, ocorrida em 1996, foi irregular, “eles fizeram uma troca com a

iniciativa privada. A destinação do terreno foi mudada para shopping center e os

donos são a Paulo Octávio e a Via Engenharia. Quem fez a troca foi a Federação,

que tinha o Weber à frente”, disse.


            José Cruz relata que acompanhou os passos da transferência da área do

estádio (localizada em terra da União) para o setor privado. Ele afirma que a FMF,

que na época era gerenciada por Tadeu Roriz e Weber Magalhães, rateou o dinheiro

entre os clubes. “O patrimônio que eles receberam – tanto o dinheiro, como as salas

e apartamentos – não entrou no patrimônio do Brasília, do Gama, do Sobradinho ou

do Planaltina. Entrou no bolso dos dirigentes. Essa é a verdade”, garante.


            Weber Magalhães explica que era vice-presidente da Federação, quando o

estádio Pelezão acumulava cerca de R$ 1 milhão em dívidas. Ele destaca que o

imóvel, pertencente à Federação, seria leiloado. Porém, depois de uma proposta da

iniciativa privada de trocar o estádio por imóveis, além de quitar as dívidas, fez a

FMF ceder, “os imóveis que pertencem à Federação continuam com a Federação.

São 10 ou 12 lojas à disposição. Alguns foram doados para clubes e os clubes

venderam”.


            Atualmente, o Pelezão serve de abrigo para moradores sem-teto. Mas existe

um projeto para demolir o estádio. Porém, por enquanto, não há planos para

construir outra edificação no terreno.




20
     Entrevista realizada por telefone no dia 14 de setembro de 2005
47



7. DIAGNÓSTICO

7.1. Particularidades do futebol candango


            O modelo administrativo dos clubes do Distrito Federal mostra a grande

dependência existente entre os times e seus financiadores. A proximidade dos

dirigentes junto ao governo do DF facilita a articulação para a captação de recursos

e a viabilização de projetos, seja ele de ordem esportiva, como o pagamento da

folha salarial, seja ele de ordem estrutural, como a reforma dos estádios. Logo, nota-

se que para um time prosperar é necessário além de dinheiro para investimento uma

proximidade, um alinhamento, com o governo para poder usufruir de maiores

recursos, provenientes de patrocínios de empresas estatais (BRB, Caesb e CEB) ou

receber verbas por meio da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL).


            O repasse de verbas é uma constante em outros estados e municípios

brasileiros. José Roberto Arruda21 cita o apoio do então governador goiano Maguito

Vilella para o desenvolvimento do Goiás. Já Paulo Henrique Azevêdo cita em sua

tese sobre a administração dos clubes do DF o caso da prefeitura de São Caetano

do Sul que auxiliou o time da cidade A.D. São Caetano.


            Outro ponto desfavorável encontrado foi à falta de apoio de grandes

empresas industriais ou comerciais que possam apoiar ou patrocinar os clubes. A

título de exemplo, pode-se citar o patrocínio do Café do Sítio na camisa da

Sociedade Esportiva do Gama. Durante anos a empresa foi uma das fontes de

receita do clube, expondo sua logomarca nas partes da frente e de trás da camisa.




21
     Entrevista realizada no gabinete do deputado no dia 25 de outubro de 2005
48



            A questão pode ser explicada por uma acomodação dos dirigentes na

captação de mais recursos, pois já se sabe que as agremiações recebem verbas

para a manutenção do plantel.


            Autor da idéia na época a qual era secretário, o deputado distrital Agrício

Braga acreditava que o investimento causaria resultados em longo prazo para o

esporte. Ele explica que o aporte financeiro acarretaria na melhoria do espetáculo,

trazendo um maior público para os estádios e despertando o interesse de empresas.

No entanto, a idéia, pelo menos por enquanto, não trouxe o efeito esperado. “Os

dirigentes se acomodaram. Achavam que era obrigação do governo prover

recursos”, diz Agrício22.




7.2. Ministério Público


            A distribuição de recursos públicos para o financiamento das práticas

desportivas profissionais é proibida de acordo com a Constituição Federal, podendo

ser realizada somente em casos específicos. Ao receberem recursos provenientes

do DF os clubes estão infringindo o art. 217:


            É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais,

como direito de cada um, observados:


            II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do

desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto

rendimento. (Constituição Federal, 1988)




22
     Entrevista realizada na Distribuidora Jardim no dia 21 de setembro de 2005
49



        Dessa maneira o repasse de dinheiro vem sendo investigado pelo Ministério

Público do DF. Na interpretação da promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio

Público e Social (Prodep), a SEL, gerenciada por Weber Magalhães, decide “ao seu

bel prazer”, quais os casos específicos cujos recursos vão ser alocados. Para poder

receber esse benefício, é indispensável que a entidade que venha a ser auxiliada

não tenha fins lucrativos. No caso do Brasiliense e Gama isso não ocorre, conforme

está citado na ação civil pública.


        O Brasiliense “é uma sociedade comercial com fins lucrativos, conforme a

própria natureza jurídica da sociedade já deixa claro (Sociedade Comercial Limitada)

e está expresso na Cláusula Terceira do respectivo Contrato Social (DOC. 11).”


        Já o Gama “apenas com a verba de publicidade dada pelo Banco de Brasília

– BRB, o Gama recebeu nos anos de 2003 a 2005 o valor de R$ 3.475.896,00 (três

milhões, quatrocentos e setenta e cinco mil, oitocentos e noventa e seis reais) (DOC.

13).”


        Somado a isso, nota-se que não ocorre prestação de contas do dinheiro que

foi repassado aos clubes conforme destaca a referida ação.


        O fato revela-se de maior gravidade quando verifica-se (fl. 35) que no

presente exercício já foi realizado um ajuste entre a FMF, a Secretaria de Fazenda e

a Secretaria de Esportes, resultando num repasse que pode chegar aos R$ 800 mil,

fl. 36, não obstante a ausência das prestações de contas referentes ao exercício de

2000, já comentada anteriormente. Sendo assim, a Secretaria de Esportes não

deveria firmar novos ajustes antes de esclarecidas todas as dúvidas quanto à boa

versação dos recursos públicos concedidos. (DOC. 16)
50



       A suspensão do repasse de benefícios para a então FMF já havia sido

solicitada conforme informa o Tribunal de Contas do DF, no Processo Nº 173/02.

Cabe ressaltar que o processo também foi citado na ação civil pública.


       O financiamento do futebol pelo governo pode ser amplamente questionável

quanto a utilização de recursos públicos para entidades que não prestam contas do

mesmo, não ocorrendo a transparência necessária.
51



8. CONCLUSÃO



          O futebol profissional de Brasília vive um momento de transição histórico,

essencial para a definição do futuro do esporte na cidade. No contexto atual, a

evidência é dada ao Brasiliense, time que chegou a Série “B” do Campeonato

Brasileiro, ganhou o Candangão 2004 e 2005, está atualmente na Série “A” do

Brasileirão. O problema é justamente a consolidação dos recursos. Apesar da

equipe possuir boa estrutura, caso os investimentos não sejam feitos, poderá haver

um futuro incerto para clubes e profissionais que fazem parte de toda essa

organização.


          O Gama mostra que essa preocupação com a estrutura se faz necessária. A

equipe que disputou a Série “A” do Campeonato Brasileiro está em franca

decadência. Caiu para a Série “C”, conseguiu voltar para a segunda divisão, mas fez

um péssimo campeonato, obtendo a permanência na Série “B” deste ano na última

rodada.


          A presença dos políticos no futebol do Distrito Federal, por vezes, é

prejudicial. Mesmo com uma melhoria do espetáculo nos últimos anos, a decadência

do futebol é cada ver maior. Visões políticas, empresariais e comerciais deterioram,

cada vez mais, as estruturas do futebol. A politicagem tomou conta do esporte e

pode acabar, de forma repentina, com a paixão criada nos últimos anos. A

visibilidade na mídia de nada ajuda o futebol quando as equipes não têm liberdade

para questionar os times e o campeonato. A melhor forma seria manter a isenção

das instituições com os políticos, uma vez que os cartolas da bola continuam

mandando nos departamentos de futebol, comprando jogadores quaisquer,
52



mudando esquemas táticos, pressionando e demitindo técnicos, invadindo vestiários

e ainda coagindo jogadores.


          Como essa isenção não é possível na conjuntura atual, basta esperar que os

bons momentos do futebol brasiliense se estendam o máximo possível. Caso Luiz

Estevão mantenha sua posição de não atuar politicamente, a possibilidade de haver

pelo menos um time disputando campeonatos nacionais com maior destaque é

grande.
53



9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Dissertação

AZEVÊDO, Paulo Henrique. A administração dos clubes de futebol profissional do
Distrito Federal em face a nova legislação esportiva brasileira. UnB. Brasília: 2002

Livros

ANDER-EGG, Ezequiel. Introducción a las técnicas de investigación social: para
trabajadores sociales. 7. ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978.

BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

CARRANO, Paulo César R (org). Futebol: paixão e política. Rio de Janeiro: DP&A,
2000.

COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2003.

FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

FOER, Franklin. Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a
globalização. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina Andrade. Fundamentos de metodologia
científica. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001.

MANHÃES, Eduardo Dias. Política de Esportes no Brasil. 2. ed. São Paulo: Graal,
2002.

MANZO, Abelardo J. Manual para la preparación de monografias: una guía para
presentar informes y tesis. Buenos Aires: Humanitas, 1971.

MATTIUSSI, Paulo. Osmar Santos: o milagre da vida. São Paulo: Sapienza, 2004.

NOGUEIRA, Armando. A ginga e o jogo: todas as emoções das melhores crônicas.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.

SANTOS, Izequias Estevam dos. Textos selecionados de métodos e técnicas de
pesquisa científica. 3. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2001.

SALDANHA, João. Os subterrâneos do Futebol. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1963.

YALLOP, David A. Como eles roubaram o jogo: segredos dos subterrâneos da Fifa .
Tradução de Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Record, 1998.
54




Sites


AMARAL, Paulo. No Mané Garrincha, torcida dança e espera goleada. 04 set. 2005
Disponível em:
<http://www.gazetaesportiva.net/copa/copa2006/notas.php?id_nota=3796>. Acesso
em: 27 set. 2005.

AMARAL, Paulo. Ao ritmo do Fala Mansa, Brasil goleia Chile e carimba passaporte.
Site Gazeta Esportiva, 04 set. 2005. Disponível em:
<http://www.gazetaesportiva.net/copa/copa2006/notas.php?id_nota=3802>. Acesso
em: 27 set. 2005.


ARQUIVO DE CLUBES – Futebol Distrito Federal. Disponível em:
<http://www.arquivodeclubes.com/df/>. Acesso em: 03 abr. 2004

BARBOSA, Cida. Campo da Esperança. Correio Braziliense, 20 dez. 2001.
Disponível em: <http://www2.correioweb.com.br/cw/2001-12-20/mat_25454.
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BOLA NA ÁREA – O Arquivo do Futebol. Disponível em:
<http://www.bolanaarea.hpg.ig.com.br/gal_estaduais_distrito_federal.htm>. Acesso
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BRASILIENSE FUTEBOL CLUBE DE TAGUATINGA. Disponível em:
<http://www.eta.com.br/brasiliense/>. Acesso em: 28 abr. 2004.

BRASILIENSE FUTEBOL CLUBE DE TAGUATINGA. Disponível em:
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CAMARA DOS DEPUTADOS. Disponível em: <http://www.camara.gov.br>. Acesso
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CÂMARA LEGISLATIVA DO DF - Disponível em: <http://www.cl.df.gov.br>. Acesso
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CORREIO WEB. Após três anos, reforma do Bezerrão sai do papel. Correio Web.
Disponível em:
<http://noticias.correioweb.com.br/ultimas2005/materias.php?id=2647832&sub=Distri
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DEMOCRACIA. Disponível em:
<http://democracia.com.br/parlamentares/parladados.asp?t=3&d=2&cp=610&tipo=3
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55




FIBRA. Disponível em:
<http://www.fibra.org.br/M012/M0122011.asp?txtID_PRINCIPAL=12>. Acesso em:
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FILHO, Mário Simas. Caminho de Volta. Isto É. 21 jun. 2002. Disponível em:
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FOLHA ON LINE. Saiba mais sobre José Roberto Arruda. Disponível em:
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em: <http://www.gazetaesportiva.net/copa/copa2006/notas.php?id_nota=3819 >.
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em:
<http://www.jornaldebrasilia.com.br/WebComponents/conteudo.php?Ac=Tor&IdEdica
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JORNAL DE BRASÍLIA. Paranoá segue na Disputa. Jornal de Brasília. Disponível
em:
<http://www.jornaldebrasilia.com.br/WebComponents/conteudo.php?Ac=Tor&IdEdica
o=881&IdNoticia=9>. Acesso em: 30 out. 2005.

JORNAL DE BRASÍLIA. Paranoá perde principal patrocinador. Disponível em:
<http://www.jornaldebrasilia.com.br/WebComponents/conteudo.php?Ac=Tor&IdEdica
o=831&IdNoticia=24>. Acesso em: 29 set. 2005.

JORNAL DE BRASÍLIA. Seis clubes pagaram para jogar no turno. Jornal de Brasília.
Disponível em:
<http://www.jornaldebrasilia.com.br/WebComponents/conteudo.php?Ac=Tor&IdEdica
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Disponível em: <http://www.estadao.com.br/agestado/politica/2000/jun/04/162.htm>.
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56




LUIZ, Edson. Descoberta envolve Luiz Estevão na operação Anaconda. Estado de
São Paulo. Disponível em:
<http://www.copa.esp.br/agestado/noticias/2003/nov/26/202.htm>. Acesso em: 26
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MARQUES, Hugo. Polícia Federal investiga juiz e delegados. . Disponível em:
<http://www.dpf.gov.br/DCS/clipping/2004/dezembro/01-12-2004NAC.htm>. Acesso
em: 05 ago. 2005.

MARIANI, Gustavo. A Rota de Dom Pedro II. Jornal de Brasília. 12 jun. 2003.
Disponível em: <http://www.jornaldebrasilia.com.br/WebComponents/
conteudo.php?Ac=Tor&IdEdicao=86&IdNoticia=18 >. Acesso em: 27 jul. 2005.

MONTEIRO, Tânia. Justiça bloqueia bens do grupo OK, de Luiz Estevão. Disponível
em: <http://www.copa.esp.br/agestado/noticias/2002/mai/23/317.htm>. Acesso em:
ago. 2005


SOCIEDADE ESPORTIVA DO GAMA. Disponível em:
<http://www.gamagol.com.br/>. Acesso em: 23 abr. 2004.

SOCIEDADE ESPORTIVA DO GAMA. Disponível em:
<http://www.gamagol.com.br/>. Acesso em: 14 ago. 2005.

TORCIDA INFERNO VERDE. Disponível em: <http://www.infernoverde.com/>.
Acesso em: 13 maio 2004.

TORCIDA INFERNO VERDE. Disponível em <http://www.infernoverde.com/>.
Acesso em: 30 set. 2005.


Entrevistas


AGNER, Marcelo. Editor do caderno torcida do Jornal de Brasília, 13/05/04. Local:
Jornal de Brasília. Meio: fita de vídeo.

ALMEIDA, José Ricardo de. Historiador, 28/05/04. Meio: correio eletrônico

ARRUDA, José Roberto. Deputado Federal, 25/10/05. Meio: fita K-7

CARVALHO, Augusto. Presidente da Torcida Jovem Ense, 09/09/2005. Local:
Ambulatório do Hospital de Base. Meio: Gravador Mp3

CARVALHO, Edu. Narrador da rádio OK, 20/03/04. Local: Estádio Bezerrão. Meio:
fita K-7.

CRUZ, José. Repórter do Correio Braziliense, 30/09/2005. Local: Redação do
Correio Braziliense. Meio: fita. K-7
57




ESTEVÃO, Luiz. Presidente do Brasiliense, ex-senador, 11/06/04. Meio: telefone

ESTEVÃO, Luiz. Presidente do Brasiliense, ex-senador, 03/10/05. Meio: Telefone

FERNANDES, Sérgio Bruno Cabral. Ex-promotor de Defesa do Patrimônio Público
do Ministério Público do DF, promotor do júri de Samambaia, 14/09/2005. Meio:
telefone

FERREIRA, Márcio. Narrador da rádio Planalto, 20/03/04. Local: Estádio Bezerrão.
Meio: fita.K-7.

FERREIRA, Marta. Repórter do Jornal de Brasília, 25/05/04. Local: Jornal de
Brasília. Meio: fita de vídeo

FILHO, Agrício Braga. Deputado distrital, 21/09/05. Local: Distribuidora Jardim. Meio:
Gravador Mp3

LEANDRO, Maurício. Narrador da rádio Jovem Pan, 20/03/04. Local: Estádio
Bezerrão. Meio: fita.K-7.

LIMA, Marcos Paulo. Repórter do Jornal de Brasília, 20/05/04. Local: Jornal de
Brasília. Meio fita de vídeo.

MAGALHÃES, Weber. Secretário de Esporte e Lazer do Distrito Federal,
15/09/2005. Local: Secretaria de Esporte e Lazer do DF. Meio: fita. K-7

MANHÃES, Eduardo Dias. Sociólogo, 01/06/04. Local: IESB. Meio: fita de vídeo

MARIANI, Gustavo. Jornalista do Jornal de Brasília, 22/04/04. Local: Jornal de
Brasília. Meio: fita de vídeo.

MARQUES, Wagner. Ex-presidente da Sociedade Esportiva do Gama, 11/08/2005.
Local: Escritório do Gama. Meio: fita. K-7

MARQUES, Wander Wilson. Ex-administrador do Estádio Mané Garrincha, 22/04/04.
Local: Estádio Mané Garrincha. Meio: fita de vídeo

MARTINS, Jorge. Presidente da Associação Brasiliense de Cronistas Desportivos
(ABCD), 06/04/04. Local: sede da ABCD (Estádio Mané Garrincha). Meio: fita de
vídeo. Pág. 26

NAVES, Roberto. Repórter do Correio Braziliense, 13/04/04. Local: Correio
Braziliense. Meio: fita de vídeo.

OLIVEIRA, Petronilo. Repórter do Jornal de Brasília, 19/10/05. Local: IESB

REMO, Carlos Alberto. Comentarista rádio OK, 20/03/04. Local: Estádio Bezerrão.
Meio: fita.K-7.
58



TATU, Hamilton. Presidente da Torcida Inferno Verde, 14/08/2005. Local: Conic.
Meio: Gravador Mp3
59



  ANEXOS

Figura 1. Capa

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O futebol candango e a influência política: um diagnóstico

  • 1. SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO .................................................................................................10 2. OBJETIVOS ..........................................................................................................15 2.1 Objetivo geral ......................................................................................................15 2.2 Objetivo específico ..............................................................................................15 3. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................16 4. MÉTODOS E TÉCNICAS PARA CONSTRUÇÃO DO LIVRO...............................17 4.1 Pesquisa bibliográfica .........................................................................................17 4.2 Entrevistas...........................................................................................................17 4.3 Observação participante......................................................................................19 5. HIPÓTESE ............................................................................................................22 6. REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................23 6.1 Políticos e futebol ................................................................................................23 6.2 A cobertura esportiva pela imprensa...................................................................25 6.2.1 O que é imparcialidade?...................................................................................27 6.3 Características da torcida do Distrito Federal......................................................29 6.3.1. Inferno Verde...................................................................................................31 6.3.2 Jovem Ense......................................................................................................32 6.4 Estruturas dos times............................................................................................34 6.4.1. Gama...............................................................................................................35 6.4.2. Brasiliense.......................................................................................................35 6.4.3. Ceilândia .........................................................................................................36 6.4.4. Paranoá...........................................................................................................37 6.4.5. Dom Pedro II ...................................................................................................38 6.4.6. CEUB ..............................................................................................................38 6.5 Estrutura dos estádios.........................................................................................40 6.5.1. Mané Garrincha...............................................................................................41 6.5.2. Bezerrão..........................................................................................................42 6.5.3. Serejão (Boca do Jacaré)................................................................................43 6.5.4. Pelezão ...........................................................................................................45 7. DIAGNÓSTICO .....................................................................................................47 7.1. Particularidades do futebol candango ................................................................47 7.2. Ministério Público ...............................................................................................48 8. CONCLUSÃO........................................................................................................51 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................53 ANEXOS ...................................................................................................................59
  • 2. 10 1. APRESENTAÇÃO O presente Trabalho de Conclusão de Curso pretende, por meio da elaboração de um livro, fazer um diagnóstico do futebol no Distrito Federal, mostrando os bastidores e a influência dos políticos na estrutura administrativa dos times. Para isso, é importante ressaltar que esporte e política sempre estiveram bastante vinculados não só no Brasil como em todo o mundo. O futebol é a prática esportiva mais popular do planeta. Para se ter uma idéia de seu potencial, a FIFA possui mais países filiados do que a própria ONU, conforme afirma David Yallop (1998). De acordo com Yallop, a Copa do Mundo de 1998, realizada na França, teve uma audiência acumulada de 40 bilhões de espectadores, que acompanharam as partidas pela televisão, o que representa mais de cinco vezes a população da Terra. Para chegar a esse valor, foram somadas as audiências de todos os jogos. Esse número comprova a força que tem o esporte. Logo, para o autor Victor Andrade de Melo, “o futebol é, sem sombra de dúvida, a manifestação cultural mais universal e acessível ao público” (apud CARRANO, 2000, p.12). Outros dados também impressionam: “a movimentação financeira do futebol em 1998 atingiu o patamar dos 255 bilhões de dólares, além de oferecer mais de 150 milhões de empregos indiretos e diretos no mundo”. (YALLOP, 1998, p.10) O compromisso financeiro gerado com a entrada de patrocinadores na década de 70 contribuiu para o grande comércio em que se transformou o futebol. Sobre isso, Paulo César Carrano afirma: “o futebol não é mais amador, mas sim, um produto.” (2000, p.108)
  • 3. 11 Ao se fazer uma análise do desenvolvimento da modalidade no país, nota-se uma grande influência política, principalmente após o golpe militar de 1964, quando “a política do ‘pão e circo’ fazia uso do futebol para nos fazer esquecer as mazelas de um regime militar de exceção que torturava jovens”. (MELO, apud CARRANO, 2000, p.23) No entanto, este envolvimento, conforme escreve David Yallop, é datado desde a década de 30. O falecido jornalista e técnico da Seleção Brasileira, João Saldanha, escreveu sobre a precariedade do desporto brasileiro. Sobre isso, diz: “somos, sem dúvida alguma, o país mais atrasado em matéria de organização esportiva que existe na face da terra”. (1963, p.151) Falecido em 1990, na Itália, foi uma das vítimas do governo militar. Segundo Yallop (1998, p.86-88) às vésperas da Copa do Mundo de 1970, realizada no México, João Saldanha não aceitou intromissão na escolha do plantel do Brasil, por parte do presidente Emílio Garrastazu Médici, e acabou sendo demitido do cargo. Isso demonstra as relações entre os governantes e a Seleção Brasileira. Porém, com o passar dos anos, essa relação ganhou ramificações, atingindo diversos patamares no Brasil. Políticos ou pessoas que pretendem ingressar na vida pública passaram a investir nas equipes e “[...] muitos políticos utilizam-se do futebol para amealhar votos, investindo em alguns times em períodos eleitorais, deixando os à mingua, depois das eleições[...]”, diz Jocimar Daolio (apud CARRANO, 2000, p.37). É importante ressaltar que, atualmente, isso se tornou uma das maiores relações de interesse presente no país – o político que aproveita do futebol para autopromoção e o futebol que se utiliza da política para obter resultado. A abordagem de ambas as situações e suas implicações serão analisadas no decorrer do livro. Quando a sustentabilidade dessa relação não entra em questão, ambas as partes podem ser beneficiadas. Como exemplo, pode-se citar o retorno recebido
  • 4. 12 pelo presidente de honra da Associação Desportiva São Caetano, Luiz Olinto Tortorello1, ex-prefeito da cidade de São Caetano do Sul, em São Paulo, em nome da sua contribuição para que o time chegasse a ingressar à Série “A” do Campeonato Brasileiro de Futebol. De acordo com o mestre em Administração Paulo Henrique Azevêdo, que fez uma dissertação sobre a administração dos clubes de futebol do DF, a prefeitura Municipal de São Caetano do Sul exerceu um papel fundamental na estrutura, e no posterior desenvolvimento do clube. A construção de toda a sede social foi possibilitada devido a uma área concedida por comodato pela prefeitura. Além disso, o município concede transporte, alimentação e campos de treinamento para as categorias de base do clube (infantil e juvenil), e também colocou a disposição o estádio municipal Anacleto Campanella. Por vezes, a relação entre política e futebol acontece de forma ilícita. O ex- narrador Osmar Santos chegou afirmar: “o que me deixa revoltado é o aproveitamento político do Esporte”. (MATTIUSSI, 2004, p.166) A falta de transparência em casos envolvendo ex-políticos e diretores de clubes, como Zezé Perrella2, no Cruzeiro, Eurico Miranda3, no Vasco da Gama, e até mesmo o ex- presidente Fernando Collor de Mello4, no CSA (Centro Sportivo Alagoano), que utilizaram os times com objetivos políticos, dá margem a questionar a credibilidade desse processo. O presidente do Vitória-BA, Paulo Carneiro, e o presidente do Bahia, Marcelo Guimarães, que nas eleições no ano de 2002 concorreram ao cargo 1 Ex-Prefeito de São Caetano do Sul no ano (1989-1992/ 1997-2000/2001-2004). Falecido em 17 de Dezembro de 2004 2 Ex-Deputado Federal, no período de 1999 até 2002. Candidatou-se ao Senado Federal em 2002 e ficou em 4º Lugar nas eleições. 3 Ex-Deputado Federal (1999 – 2002) 4 Ex-Presidente da República (1990-1992). Sofreu impeachment no meio do seu mandado
  • 5. 13 de deputado Estadual e não foram eleitos, também são personagens que comprovam a relação existente entre futebol e política. Porém, o envolvimento de políticos no futebol não é uma peculiaridade brasileira. Para contextualizar a presença mundial de pessoas que usaram o esporte com fins eleitorais pode-se citar o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi5. De acordo com o autor do livro Como o futebol explica o mundo, Franklin Foer, no transcorrer dos últimos 20 anos, o proprietário do AC Milan construiu um vasto império, que vai desde ramo imobiliário até os meios de comunicação. O time passou para o seu gerenciamento no ano de 1978 trazendo para o proprietário status e lhe dando maior visibilidade de forma que em “oito anos depois de comprar o clube, em 1986, ele fez com que o sucesso o levasse aos pináculos do poder, tornando-se primeiro-ministro, cargo que agora ocupa pela segunda vez”. (2004, p.152) É possível perceber que não é exclusividade de Brasília, a honra ou o descrédito de ter políticos envolvidos com o futebol. Mas em linhas gerais, até por ser uma cidade nova, conseqüentemente uma praça emergente do esporte, a Capital do País tem a peculiaridade de não ter clubes tradicionais ou até centenários, que em locais como Rio e São Paulo, são considerados instituições pelo que representam para o futebol, para a torcida, para a cidade e para o estado. No DF, onde os clubes não têm grande identidade com torcedores e os dirigentes não são antigos sócios, nota-se maior presença de políticos no meio futebolístico. Há de se reconhecer, que em certas ocasiões, foram eles os responsáveis por colocar o futebol candango em evidência. Outro fato importante, porém não tão 5 Primeiro-Ministro da Itália
  • 6. 14 emblemático, que explicaria a grande participação de políticos no esporte local, seria o fato de a cidade ser o centro do poder brasileiro, onde a política está presente. A excelente campanha realizada pelo Brasiliense Futebol Clube de Taguatinga na Copa do Brasil de 2002, onde conquistou o vice-campeonato, pode ser avaliada como um marco na história do futebol do DF. O time, hoje considerado um dos fenômenos do futebol nacional, além de ser gerenciado pelo senador cassado Luiz Estevão, alcançou enorme popularidade em um curto espaço de tempo. Um retorno em tão pequeno prazo, paralelo ao fato de pessoas envolvidas no futebol também investirem na política – como é o caso do Agrício Braga, ex- presidente da Sociedade Esportiva do Gama – levou-se ao desenvolvimento do principal questionamento: o envolvimento político é benéfico ou prejudicial para o futebol brasiliense? Qual a garantia desse processo? Para esclarecer a indagação, este trabalho, baseado em uma vasta pesquisa de campo, no qual são avaliados os elementos que compõem o cenário esportivo local, busca um esclarecimento mais transparente sobre essa relação, apresentando a estrutura das equipes, dos estádios e a cobertura da mídia.
  • 7. 15 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral O presente Trabalho de Conclusão de Curso se constitui da elaboração de um livro sobre o futebol do Distrito Federal, que por meio de uma ampla pesquisa, aborde a atuação de políticos locais no gerenciamento do esporte, questionando se essa participação é benéfica ou prejudicial ao futebol como um todo, e ainda, se é sustentável ou não. 2.2 Objetivo específico Descobrir as características e peculiaridades do futebol brasiliense por meio de uma análise da cobertura da imprensa, dos torcedores, dos políticos e dos estádios. A análise destes elementos é necessária para fornecer maiores subsídios para o completo entendimento do momento o qual o futebol do Distrito Federal passa.
  • 8. 16 3. JUSTIFICATIVA O investimento político tem contribuído para uma maior visibilidade do futebol brasiliense na mídia, proveniente de uma melhoria na qualidade do espetáculo. Atualmente, o Distrito Federal é uma das cinco unidades da Federação que possuem times nas três divisões (Séries “A”, “B” e “C”) do campeonato Brasileiro. Tomando como base a idéia citada anteriormente, torna-se necessário compreender qual o grau de sustentabilidade desse processo, questionando se o crescimento pode ser considerado gradativo ou não. Outros aspectos a serem abordados são as constantes ações do Ministério Público do DF sobre o repasse de verbas aos clubes por parte do governo e ao arrendamento do estádio Serejão. As denúncias de lavagem de dinheiro e evasão de divisas por parte dos dirigentes acabam por contribuir para o aumento da desconfiança e a falta de credibilidade, afugentando possíveis interessados em realizar parcerias com os clubes. Dessa forma, a importância de se escrever um livro é dotar o público, interessado nesse esporte, de uma publicação que analise criticamente as relações existentes no futebol do DF, uma vez que se nota uma bibliografia escassa acerca desse tema. Outro fator importante é saber se as relações existentes contribuem ou prejudicam o seu desenvolvimento.
  • 9. 17 4. MÉTODOS E TÉCNICAS PARA CONSTRUÇÃO DO LIVRO 4.1 Pesquisa bibliográfica Para a construção do livro, foi realizada pesquisa bibliográfica, que apontou referências tanto no campo do Jornalismo Esportivo a partir de livros como: Futebol paixão e política, de Paulo César Carrano; Como eles roubaram o jogo, do autor David Yallop; Como o futebol explica o mundo, de Franklin Foer, entre outras publicações que contribuíram substancialmente com informações pertinentes. Além disso, foi fundamental para a realização da pesquisa, entender o conceito de política a partir da obra de Noberto Bobbio. Devido ao fato do tema não possuir uma vasta bibliografia, uma vez que não são encontrados nos acervos das bibliotecas livros sobre o futebol do DF, a captação de informações ocorreu de duas formas. A primeira foi a pesquisa de notícias nos sites dos clubes, das torcidas organizadas e dos principais jornais brasilienses. A coleta de informações nesses locais serviu como base teórica para o presente trabalho. Para Manzo, a bibliografia pertinente “oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente”. (MANZO, 1971, p.32) Já a autora Lakatos afirma a cerca do que se pode atingir com a pesquisa bibliográfica: a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob um novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras. (LAKATOS; MARCONI, 2001, p.183) 4.2 Entrevistas Outra forma adotada para a captação de informações foi por meio de entrevistas. Lakatos e Marconi (2001, p.195) definem entrevista como “um encontro
  • 10. 18 de duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional”. A forma de entrevista escolhida para o desenvolvimento do trabalho foi a não-estruturada. Para o autor Izequias Estevam dos Santos (2001, p.223), a entrevista não estruturada caracteriza-se pelo fato do entrevistado não estar obrigado a obedecer qualquer tipo de roteiro preestabelecido, sendo que o entrevistador tem grande liberdade para formular suas perguntas. Já o autor Ander-Egg, adiciona três modalidades nesse tipo de entrevista. Dessas três, será utilizada somente a entrevista focalizada, que para o autor pode ser definida como: um roteiro de tópicos relativos ao problema que se vai estudar e o entrevistador tem liberdade de fazer as perguntas que quiser: sonda as razões e motivos, dá esclarecimentos, não obedecendo, a rigor uma estrutura formal. (ANDER-EGG, 1978, p. 110). O autor afirma também que para a realização desta modalidade de entrevista são necessárias habilidade e perspicácia por parte do entrevistador. A pesquisa tem como objetivo ouvir diversos segmentos envolvidos direta ou indiretamente com o futebol (chefes de torcidas, comentaristas, narradores, jornalistas, presidentes de times e políticos). Dessa forma, o trabalho será fundamentado com base nos seguintes interlocutores: Foram ouvidos os seguintes políticos: Agrício Braga Filho, José Roberto Arruda, Luiz Estevão, Wagner Marques e Weber Magalhães. A crônica esportiva brasiliense é um meio de grande importância para a compreensão da cena futebolística local, uma vez que os jornalistas fazem um acompanhamento constante de jogos e campeonatos. Nesse segmento, foram entrevistados: Carlos Alberto Remo, comentarista da rádio OK FM, da TV Record e ex-técnico de algumas equipes do futebol local, Edu Carvalho, narrador da rádio OK
  • 11. 19 FM, Gustavo Mariani, jornalista do Jornal de Brasília especialista na história do futebol local, Jorge Martins, presidente da Associação Brasiliense de Cronistas Desportivos – ABCD, Roberto Naves, jornalista do Correio Braziliense, Márcio Ferreira, narrador e radialista da Cultura Fm, Marcos Paulo Lima, jornalista do Jornal de Brasília, Maurício Leandro, narrador da rádio Jovem Pan AM, Marcelo Agner, editor de esportes do Jornal de Brasília, José Cruz, jornalista do Correio Braziliense, Marta Ferreira, na época jornalista do Jornal de Brasília. Além dos indivíduos já citados, foram entrevistados o promotor Sérgio Bruno Cabral, o ex-administrador do Mané Garrincha, Wander Wilson Marques, o presidente da Torcida Inferno Verde, Hamilton Tatu, o chefe da torcida Jovem Ense, Augusto Carvalho, e o historiador José Ricardo de Almeida. Em um primeiro momento, o trabalho foi dividido em duas partes. Na fase inicial os cronistas esportivos foram perguntados, em sua maioria, a respeito da estrutura do futebol candango atual. Na fase final foi dada ênfase nos políticos, que foram confrontados com as informações colhidas pelas conversas com os cronistas e com a pesquisa bibliográfica realizada. A ordem de entrevistas, no entanto, não seguiu uma seqüência lógica, sendo alcançada mediante a disponibilidade de cada entrevistado. 4.3 Observação participante Com o intuito de analisar características que estão presentes no futebol do DF, foram feitas observações sobre o comportamento das torcidas e da infra- estrutura dos estádios. O processo utilizado foi a observação participante, definida por Lakatos e Marconi (2001, p.194) como: “consiste na participação real do
  • 12. 20 pesquisador com a comunidade ou grupo. Ele se incorpora ao grupo, confunde-se com ele.” Essa participação proporcionou uma visão mais apurada dos fatos, uma vez que há um contato direto com o objeto estudado. Lakatos e Marconi citam a importância de realizar tal procedimento. Para elas, o pesquisador “fica tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando e participa das atividades normais deste.” (LAKATOS; MARCONI, 2001 p.194) A análise das torcidas por meio de entrevistas e observação participante artificial tornou-se necessária para entender o real motivo do comportamento dos torcedores nos estádios do DF. Segundo Lakatos e Marconi (2001), a observação participante pode ser apresentada de duas formas: natural e artificial. Na natural, o observador pertence à mesma comunidade ou grupo que investiga. Na artificial, o observador integra-se ao grupo com a finalidade de obter informações. A observação participante foi fundamental para vivência dos problemas organizacionais relacionados aos estádios, como: cambistas, desorganização na venda de ingressos, entradas fechadas, falta de informações e organização nas filas para entrada no estádio, preços diferenciados para torcedores de times rivais. Para fazer uma pesquisa de campo mais específica, foram ouvidas as torcidas Inferno Verde, do Gama, e Jovem Ense, do Brasiliense. Delimitando o campo de ação nessas duas entidades notou-se formas peculiares sobre características da torcida do DF.
  • 13. 21 Foi constatado, por meio de observação, que a ida ao estádio em dia de jogos é considerada uma forma de lazer e não uma manifestação de paixão pelo time. Cabe ressaltar que foram encontrados, durante a pesquisa, casos claros de políticos que procuram autopromoção por meio do financiamento de torcidas organizadas da cidade. A infra-estrutura dos estádios do DF pode ser considerada apropriada levando-se em conta apenas o campeonato local e a capacidade de lotação. No entanto, para jogos nacionais, e no que diz respeito à organização, há falta de adequação e violação do Estatuto do Torcedor.
  • 14. 22 5. HIPÓTESE A entrada de políticos no futebol do DF é vista com ressalvas pelo narrador da rádio OK, Edu Carvalho. Para ele, “Brasília é o centro das atenções. Os políticos se aproveitam muito do futebol. Acho que eles entram para ter benefícios e não para ajudar o futebol”. Partindo dessa premissa, este trabalho de conclusão de curso irá considerar que o envolvimento dos políticos no futebol também pode atender interesses particulares, conforme afirma Jocimar Daolio (apud CARRANO, 2000, 37): “muitos políticos utilizam-se do futebol para amealhar votos, investindo em alguns times em períodos eleitorais, deixando os à míngua depois das eleições.” É necessário lembrar que para alguns entrevistados a entrada de políticos só é possível devido à fragilidade existente na administração e na captação de recursos do futebol brasiliense, como cita o ex-presidente e atual superintendente do Gama, Wagner Marques.
  • 15. 23 6. REFERENCIAL TEÓRICO 6.1 Políticos e futebol Apesar de ser um verbete freqüentemente usado, o conceito de político é abstraído de forma negativa. O político muitas vezes tem a sua imagem vinculada a uma pessoa que usa de esperteza e astúcia em cargo público para se beneficiar. Na definição do dicionário Houaiss, político é aquele “que exerce ou persegue influência administrativa em nível federal, estadual, municipal.” A palavra politicagem é definida pelo dicionário Houaiss como política de interesses pessoais, de troca de favores ou de realizações insignificantes. A criação da Câmara Legislativa, em 1990, de acordo com o jornalista do Jornal de Brasília, Gustavo Mariani, estimulou o aparecimento de pessoas que se utilizam do futebol com fins eleitorais, uma vez que ocorreram disputas políticas em nível local, a fim de se obter uma vaga de deputado distrital, na recém-criada Câmara. O fenômeno pode ser compreendido pelo fato de Brasília ser a sede administrativa do país. Contudo, nos últimos anos percebesse um maior envolvimento de políticos no futebol candango. Para realizar a pesquisa que culminou na produção do livro, foram abordados os seguintes políticos: Agrício Braga Filho, José Roberto Arruda, Luiz Estevão, Sérgio Lisboa (Serjão), Wagner Marques e Weber Magalhães. Políticos como Izalci Lucas, Paulo Octávio, e Júnior Brunelli, e ex-políticos como Tadeu Roriz e César Lacerda, foram apenas citados no transcorrer da narrativa.
  • 16. 24 Agrício Braga exerce o mandato de Deputado Distrital, milita no futebol há décadas, já foi presidente do Gama e Secretário de Esporte e Lazer. O político afirma que sua entrada na vida pública foi necessária para abrir a porta do Gama para patrocínios, sobre isso diz: “colocaram na minha cabeça que se eu entrasse na política poderia ter um trânsito melhor e foi o que fiz, dando certo num primeiro momento”. O deputado federal José Roberto Arruda, não tem um passado vinculado ao esporte, contudo envolveu-se com a Sociedade Esportiva do Gama quando o clube foi rebaixado no ano de 1999, devido à transferência de pontos do caso Sandro Hiroshi6. Muitos torcedores do clube, como Hamilton Tatu, alegam que Arruda aproveitou-se do caso para ter maior visibilidade. No entanto, o deputado afirma: “eu nunca fui diretor de clube, nunca fui cartola e nem quero ser”, fazendo uma clara referência de que o seu envolvimento restringe-se no caso Gama, citado acima, e na liberação de recursos para a melhoria da modalidade. Luiz Estevão, senador cassado em 2000, funda um mês após perder o mandato, o Brasiliense Futebol Clube de Taguatinga. O ex-senador afirma que não tem mais pretensões políticas, porém seu comprometimento com o time e sua ampla biografia política o tornam personagem do livro. Sérgio Lisboa, ex-secretário adjunto da Secretária de Esporte e Lazer, ganhou visibilidade em 2003, sendo goleiro do time da ARUC. Já exerceu a função de presidente do Conselho Deliberativo do Gama. Lisboa jamais possuiu um 6 Foi descoberto que o atleta do São Paulo tinha adulterado a certidão de nascimento para poder disputar torneios das categorias de base, isso fez que o STDJ – Superior Tribunal de Justiça Desportiva – retirasse os pontos conquistados pela equipe paulista e os acrescentarem aos clubes que disputaram as partidas. Esta medida prejudicou diretamente o Gama na luta para se manter na elite do futebol brasileiro, uma fez que o Botafogo foi um dos beneficiados com esses pontos.
  • 17. 25 mandato parlamentar. Empresário e dono do Ceilândia, especula-se, que ele pretende disputar uma vaga na Câmara Legislativa nas eleições de 2006. Wagner Marques, dirigente do Gama, tentou ingressar na Câmara Legislativa em 1998, por uma imposição partidária, que necessitava de um candidato com propostas voltadas para o esporte local. Todavia, não obteve sucesso. Ex- Secretário de Esporte e Lazer, o dirigente foi mais uma pessoa ligada ao esporte a tentar ingressar na vida pública. Por fim, foi entrevistado o secretário de Esporte e Lazer, Weber Magalhães, que se candidatou a deputado federal na eleição de 2002, e afirmou que suas pretensões políticas são a de ingressar na Câmara em 2006. 6.2 A cobertura esportiva pela imprensa A cobertura dos jogos e do dia-a-dia dos times de futebol do Distrito Federal passou a ter destaque no começo da década de 1990, período em que a crônica esportiva do Distrito Federal ganhou em estrutura e em quantidade de radialistas e jornalistas. Apesar de ganhar força a cada ano, a mídia esportiva brasiliense tem características peculiares e ainda não pode ser comparada a de grandes centros. Diferentemente de cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, onde a imprensa, principalmente no que diz respeito às rádios e programas televisivos, não é submetida a dirigentes de futebol, Brasília ostenta políticos e dirigentes por trás de equipes de transmissão esportiva – talvez pela falta de interesse por parte de investidores e patrocinadores. “Os Guerreiros de Futebol de Brasília”, a equipe de rádio comandada pelo veterano radialista Marcelo Ramos da Rádio Capital, foram os precursores no
  • 18. 26 quesito cobertura do futebol de Brasília. Há mais de dez anos acompanhando o esporte local, Ramos viu outras rádios se interessarem por transmitir partidas de times do DF. A grande quantidade de emissoras que cobrem jogos locais chega a impressionar cronistas de outros estados. Atualmente, pelo menos cinco rádios realizam transmissões ao vivo a partir dos estádios da capital federal. A presença de políticos continua sendo evidente. Grande parte dos programas de rádio e televisão veiculados na mídia local é supervisionada por equipes de propriedade de dirigentes, como Agrício Braga Filho e Serjão Há alguns anos, não havia mercado de trabalho para um radialista ou jornalista que se interessava por ser setorista de esporte no DF. Com a ascensão de clubes como o Gama e o Brasiliense, o mercado dos cronistas esportivos, apesar de restrito, vem crescendo na capital do país. No século XXI é uma realidade a posição de profissionais que trabalham exclusivamente acompanhando o dia-a-dia de times do futebol local. Para Edu Carvalho, narrador da Rádio OK, a imprensa local tem bons profissionais. “Acredito que a nossa imprensa, hoje em dia, tem grandes profissionais que querem realmente fazer um grande trabalho. Mas, infelizmente, fica comprometida e faz de conta que não está sabendo das coisas”. Ao acompanhar transmissões de partidas de futebol por rádios locais, o ouvinte tem a oportunidade de verificar que em algumas ocasiões, os profissionais tendem a defender interesses. Essa característica pode ser associada à visibilidade que o futebol proporciona, algo que gera interesse nos políticos de cada vez mais se envolverem com a cobertura jornalística do futebol brasiliense.
  • 19. 27 Os dois principais jornais da cidade, Jornal de Brasília e o Correio Braziliense, são exemplos de meios de comunicação que zelam pela qualidade e informam os leitores de forma clara, não omitindo informações e nem preservando dirigentes de críticas. O momento atual dos jornais impressos é dos melhores, e até considerado o auge, em termos das editorias de esporte. Profissionais qualificados integram as equipes de ambos os jornais acima citados. 6.2.1 O que é imparcialidade? O dicionário Houaiss define imparcialidade como “caráter ou qualidade do que é imparcial; equidade, isenção”. Na visão do jornalista Eugênio Bucci7, o conceito imparcialidade é entendido por independência editorial a manutenção da autonomia de um repórter para realizar a apuração, investigação, edição e difusão de toda informação relevante ao público, a medida que “o jornalismo cumpre uma função social antes de ser um negócio, que a objetividade e o equilíbrio são valores que alicerçam a boa reportagem.” (BUCCI, 2001, p.30) O conceito de independência está presente em diversos códigos de ética como o da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Nacional de Editores de Revistas8 (ANER), que entre os princípios éticos recomendados pela entidade destaca: “1 - Manter a independência editorial trabalhando exclusivamente para o leitor; 7 Presidente da Radiobrás 8 Disponível em: http://www.aner.org.br/conteudo/1/artigo1100-1.htm Acesso em: 22 set. 2005
  • 20. 28 4 - Assegurar ao leitor as diferentes versões de um fato e as diversas tendências de opinião da sociedade sobre esse fato.” Os itens citados acima reforçam a idéia de que nenhum outro interesse, seja ele político ou financeiro, deveria prejudicar essa missão. Bucci (2001, p.30) complementa: “o jornalismo tem meios assegurados para fazer prevalecer sobre os melindres comerciais e para dar a notícia que deve ser dada”. Contudo, apesar de possuir mecanismo de autodefesa, alguns veículos de comunicação e alguns jornalistas “se antecipam na servidão aos governantes” (BUCCI, 2001, p.57). Porém, este conceito, que pode ser sinônimo de imparcialidade, no entendimento do professor de Telejornalismo da UERJ, Antônio Brasil9, é uma meta utópica importante para o jornalismo, pois “ela funciona como uma direção, uma espécie de bússola profissional”. O professor reforça que tal idéia é inalcançável: “ignorar as próprias convicções em nome do jornalismo é muito mais perigoso”. O pensamento do professor Antônio Brasil também é compartilhado pelo jornalista português Carlos Fino10, primeiro jornalista a noticiar o início da Guerra do Golfo. Fino defende que não se deve exercer a neutralidade: “o jornalista tem de se envolver emocionalmente, mas, é claro, precisa também encontrar o caminho do equilíbrio e ouvir os dois lados.” O professor da UERJ, André Lázaro11, acredita que a verdade jornalística pela busca da justiça consiste em “ouvir as diferentes partes envolvidas, ser justo com seus argumentos, mas também admitir que temos interesses”. Dessa forma, 9 Disponível em http://www2.uerj.br/~emquest/emquestao81/imparcialidade.htm Acesso em 22 de setembro de 2005 10 Disponível em http://www2.uerj.br/~emquest/emquestao81/imparcialidade.htm Acesso em 22 de setembro de 2005 11 Disponível em http://www2.uerj.br/~emquest/emquestao81/imparcialidade.htm Acesso em 22 de setembro de 2005
  • 21. 29 Lázaro afirma que o jornalista irá obter melhores resultados quando for justo, porque nunca haverá neutralidade ou imparcialidade em sua cobertura. De acordo com o código de ética da Federação Nacional dos Jornalistas12 (FENAJ). Art. 9 - É dever do jornalista: a) Divulgar todos os fatos que sejam de interesse público. b) Lutar pela liberdade de pensamento e expressão. Art. 10. O jornalista não pode: b) Submeter-se a diretrizes contrárias à divulgação correta da informação. c) Frustrar a manifestação de opiniões divergentes ou impedir o livre debate. (FENAJ) 6.3 Características da torcida do Distrito Federal De acordo com o presidente da Torcida Jovem Ense, Augusto Carvalho, o Distrito Federal apresenta uma peculiaridade quanto ao aspecto torcida. O fenômeno ocorre pelo fato de haver pessoas que ingressam no estádio somente para acompanhar a partida e não para torcer pelas equipes. Na torcida do Brasiliense, especialmente, poucos são os aficionados que tentam incentivar a equipe, sendo apenas meros espectadores, que ficam impassíveis no estádio. Não se pode desconsiderar, ainda, que os dois maiores times do DF possuem torcidas organizadas – como exemplo se pode citar a Inferno Verde, do 12 Disponível em http://www.fenaj.org.br/leis.php?id=21 Acesso em 22 de setembro de 2005
  • 22. 30 Gama, e a Jovem Ense, do Brasiliense –, assim como não se pode esquecer de ressaltar que grande parte de ambas as torcidas são formadas pela classe menos favorecida economicamente, e que são muitas as histórias de torcedores que recebem benefícios para torcer a favor de determinado time. A torcida de Brasília é segmentada e não atuante. A segmentação se caracteriza pela presença de dois perfis de torcedores: os que vão aos jogos nos finais de semana apenas como um programa de lazer e os que fazem parte das torcidas organizadas, comparecendo às partidas uniformizados, com bandeiras, faixas e cantando “gritos de guerra”. Dentre os torcedores casuais, ou seja, que vão apenas em busca de um entretenimento, nota-se a falta de apego pelo time, demonstrada principalmente pela falta de incentivo aos jogadores e de entusiasmo. Outro ponto característico é a grande quantidade de camisas de outros times brasileiros nos estádios. Esse conceito é comum em cidades do norte e nordeste do país, onde não há presença dos clubes das grandes cidades na primeira divisão nacional, o que leva os torcedores a buscarem um time que esteja em maior evidência. No caso do DF, outro fator deve ser apontado para a falta de identidade. No futebol, a identificação com as agremiações locais não é tão representativa. O fato do esporte na cidade ser recente pode explicar a questão. Não houve grandes clubes que conquistaram títulos nacionais importantes e ainda falta um aspecto relevante para a identificação: a rivalidade.
  • 23. 31 Nas torcidas organizadas também ocorre um fenômeno particular. Apesar de serem bancadas por políticos (o que pode ser constatado também em outros estados), o que se ouve das torcidas são poucos aplausos e músicas de apoio, e muitos xingamentos. O número de pessoas que integram as torcidas é baixo. A falta de interesse pode ser explicada pelo fato de muitos torcedores apoiarem um outro clube, de fora do estado, o que afasta a possibilidade de integração a uma torcida organizada. 6.3.1. Inferno Verde No dia 15 de dezembro de 1998 moradores de Samambaia, Gama e Núcleo Bandeirante fundam Torcida Inferno Verde. A idéia, no entanto já tinha sido estudada no ano de 1997. A criação dessa torcida surgiu três dias antes de sua fundação “oficial”, ou seja, no dia 12 de dezembro que foi véspera da última partida do quadrangular da série “B”, entre Gama e Londrina. O objetivo seria o de aglutinar torcedores da cidade do Gama, bem como de outras cidades do Entorno. Após inúmeras discussões, os integrantes da torcida, entre eles, Hamilton Teixeira dos Santos (Tatu), atual presidente, colocaram em votação duas propostas de nomes (Inferno Verde e Fúria Verde). A designação Inferno Verde, uma homenagem para uma torcida organizada do estado de Goiás, extinta em 1996, foi escolhida pela maioria dos presentes na reunião.
  • 24. 32 No entanto, a estréia da Inferno Verde ocorreu fora do Estádio Walmir Campello Bezerra, o Bezerrão. A primeira partida foi no Estádio Mané Garrincha, a torcida já marcava sua presença pela empolgação e entusiasmo nas arquibancadas, mesmo não tendo, inicialmente, um grande número de adeptos na vitória que deu ao Gama o título da Série “B”. A entrada da equipe na elite do futebol nacional, fez com que, em pouco tempo, ocorresse um grande número de filiações. A torcida possui, segundo o seu site – torcidagama1.hpg.ig.com.br –, 12 distritos, divididos por localização. O total é de quase 3000 filiados, sendo que deste número cerca de 1200 possuem a carteirinha de sócios e têm desconto em materiais esportivos e em viagens da equipe. O presidente e fundador da torcida, Hamilton Tatu, diz que a torcida não recebe nenhum auxílio de custo do clube. Para ele, “torcer tem um preço elevado e esse preço é a torcida que paga”. No entanto, segundo Tatu, o senador Paulo Octávio auxilia na confecção de camisas e em algumas passagens para o grupo ir aos jogos. Em troca, o nome do senador está presente nas faixas da torcida. Tatu aponta como a maior virtude da torcida gamense, o apoio ao clube: “no meu entender o maior patrimônio que o clube tem é a sua torcida organizada. O verdadeiro torcedor sempre irá apoiar o Gama, independente do Gama estar bem ou mal”. 6.3.2 Jovem Ense “El, el, el, torcida aluguel” é o canto das torcidas adversárias quando disputam jogos contra o Brasiliense. O estigma surgiu quando os torcedores
  • 25. 33 passaram a ter inúmeros incentivos para freqüentar o estádio de uma equipe recém- criada. Fundada em 23 de agosto de 2002, a Jovem Ense, surgia com o propósito de ser uma torcida jovem que incentivasse o time do Brasiliense. Ao contrário das torcidas de equipes com tradição, a maioria dos espectadores, que freqüentam o Estádio Boca do Jacaré, não costuma incentivar o time durante as partidas. Porém, um grupo de 40, 50 torcedores se distinguem do resto do estádio. Entoando cânticos e gritos de guerra, pulando, tocando instrumentos musicais como tambores, soltando fogos e fumaça amarela, esta minoria empurra o time durante os noventa minutos do jogo. “Nosso pensamento é o de vibrar durante todo o jogo”, afirmar o líder da Jovem Ense, Agusto Carvalho. Ex-Vascaíno, Carvalho afirma que sua paixão pelo Brasiliense surgiu quando foi assistir a um jogo do time em 2000. “Já assisti a jogos do Taguatinga, do Gama... mudei para o Brasiliense, pois estava mais próximo”. Augusto gostaria que as pessoas torcessem pelas equipes da cidade onde moram. A tradição, segundo ele, é adquirida em longo prazo, com a criação da empatia pelo clube. Um dos pré-requisitos para se filiar à torcida é gostar do time. Além disso, é necessário comparecer aos jogos. Nenhuma forma de mensalidade é cobrada, nem de taxa para filiação e manutenção nos quadros da torcida. Na parte administrativa, não existe levantamento sobre a quantidade de filiadas. O dinheiro para compra de material vem do patrocínio de algumas empresas e de um político, o deputado distrital Júnior Brunelli, que financia o transporte para a torcida. O chefe da Jovem Ense ainda cita que outros políticos o procuraram para estampar seus nomes nas faixas e bandeiras. No entanto, ele desprezou o apoio por se tratar de uma prática meramente eleitoreira e que na visão dele interferiria na relação da torcida com
  • 26. 34 Brunelli, que apóia a Jovem Ense desde 2002. “É uma pessoa que entrou há alguns anos com o intuito de ajudar a torcida”. Paralelamente aos patrocínios, percebe-se que o presidente do Brasiliense também contribui. “No Brasil todas as torcidas são ajudadas”, com esses dizeres o presidente da organizada, Augusto Carvalho, justifica o auxílio de Luiz Estevão a Jovem Ense. Para ele o estigma criado pode ser explicado como inveja de torcidas rivais com as torcidas do Brasiliense. “Se a oposição não tem uma pessoa como o Luiz Estevão que nos ajude, eu não posso fazer nada”. Contudo, Carvalho ressalta que o dirigente auxilia dando ingressos e, em alguns casos, financiando as viagens para os torcedores, fato este que ocorreu na Copa do Brasil de 2002. Luiz Estevão, no entanto, afirma que existe uma relação distante entre a diretoria do Brasiliense e as torcidas organizadas. “O clube não deve interferir na questão da torcida. Quanto mais distante ela estiver da direção, melhor. Dessa maneira, a torcida pode ter autonomia para criticar a equipe”. A situação da Jovem Ense é um pouco diferente do que ocorre com a Inferno Verde. Os integrantes da torcida do Gama sempre se mostraram atuantes nas questões que envolvam o time. 6.4 Estruturas dos times Para compreender o atual momento futebolístico do DF, faz-se necessário analisar a estrutura dos principais times. Além disso, foi realizado um resgate da história do futebol candango, em que foi verificado que a relação de dependência dos clubes não é uma questão recente, podendo ser notada desde o início da criação da cidade por meio das equipes financiadas pelas construtoras e outras
  • 27. 35 instituições como a Associação Comercial de Brasília e o Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB). Outro fator de suma importância para a pesquisa foi descobrir que os praticantes são trabalhadores com pouco poder aquisitivo, o que leva os clubes aterem uma estrutura convalescida. 6.4.1. Gama A Sociedade Esportiva do Gama foi fundada em 15 de novembro de 1975 por um grupo de desportistas. Vencedora do campeonato brasiliense de 1979, sua realidade era de completa instabilidade financeira. O time não possuía dinheiro para salários, comprar material esportivo e treinar. Entretanto, com a entrada do trio de investidores composto por Wagner Marques, Luis Rodrigues e Agrício Braga, no ano de 1992, a equipe se transforma numa das forças do futebol local conquistando durante a década de 5 títulos candangos, chegando inclusive a disputar o campeonato brasileiro da primeira divisão. A ascensão pode ser explicada pela injeção de capital do trio. Os salários passaram a ser pagos em dia, mais recursos foram captados e um centro de treinamento foi construído para melhorar as condições físicas e técnicas dos atletas. O fato acaba por gerar uma sensível melhoria no campeonato local. Atualmente a equipe está na Série “B” do campeonato brasileiro. 6.4.2. Brasiliense Fundado em 1º de agosto de 2000, um mês após a cassação do mandato de senador de Luiz Estevão, o Brasiliense Futebol Clube de Taguatinga apresenta uma
  • 28. 36 trajetória marcante no cenário local e nacional. Tendo o aporte financeiro do ex- senador, que é empresário, o time conquistou vários títulos nesses 5 anos de existência. Em 2002, a equipe sagra-se vice-campeã da Copa do Brasil e campeã da Série “C” do campeonato brasileiro. Bicampeã do campeonato local em 2004/2005. Campeão da “Série B” do campeonato brasileiro em 2004. Atualmente a equipe está na elite do futebol brasileiro, disputando a primeira divisão da competição nacional. O grande questionamento feito em relação ao time é no caso do diretor-presidente do time, Luiz Estevão, rever sua posição de não atuar politicamente e ingressar novamente num cargo eletivo. Como ficaria o Brasiliense, os investimentos continuariam sendo realizados? 6.4.3. Ceilândia Há menos de dois anos, o Ceilândia era apenas mais um time do Distrito Federal, que vivia na penúria financeira e não possuía estrutura para disputar campeonatos em condição de igualdade com equipes como Gama e Brasiliense. Antes de 2004, o time jamais tinha chegado à fase final do campeonato brasiliense. Porém, no ano de 2004, o clube passa a ser administrado por Sérgio Lisboa (Serjão), ex-goleiro da ARUC, ex-membro do conselho deliberativo do Gama e ex- secretário adjunto de Esporte e Lazer, que implementa a gestão profissional no time. Com uma folha salarial orçada em 113 mil reais e com profissionais gabaritados, o Gato, apelido do time, conquista o vice-campeonato brasilense em 2005 e chega até as quartas-de-final do campeonato brasileiro da Série “C”. Serjão, como é popularmente conhecido, queixa-se da falta de apoio que o clube recebe por parte de empresas e políticos. O fato comprova a fragilidade
  • 29. 37 administrativa do futebol candango, no qual as agremiações dependem da influência e do dinheiro investido pelos seus “donos” para sobreviver, como é o caso do Ceilândia de Sérgio Lisboa. 6.4.4. Paranoá O time do Paranoá surgiu em meados de 2004, com o dirigente Eduardo Pedrosa, irmão da deputada Eliana Pedrosa. Houve evolução considerável no futebol do clube. Além dos bons patrocinadores, o time com a força política pode se estabelecer no futebol candango, no período. Contudo, o irmão da deputada abandonou o projeto de transformar o time em uma das forças do futebol local em junho de 2005. O auxílio de Pedrosa girava em torno de R$ 45 mil mensais. Ele arcava com a folha de pagamento dos atletas, transporte e viagens. A crise do Paranoá se agravou quando a Companhia Energética de Brasília (CEB), principal patrocinadora da equipe, ainda não liberou recursos para o pagamento de salários. Porém, a equipe, teoricamente, não ficaria sem um mecenas. No lugar deixado por Pedrosa iria assumir o secretário de Agricultura e deputado distrital licenciado, Pedro Passos. Ele teria se responsabilizado por investir no clube e trazer novos patrocínios. Porém, durante a participação do Paranoá na Série “C” do Brasileiro de 2005, Passos não deu apoio financeiro ao clube. Em certo momento da competição, a diretoria do Paranoá anunciou que não iria viajar ao Paraná para enfrentar o Londrina porque não tinha condições financeiras. A equipe seguiu para disputar a partida, depois que Weber Magalhães e o presidente da FMF, Fábio Simão, tiraram dinheiro do próprio bolso para pagar as despesas do clube, que foi eliminado nos pênaltis, após empatar o jogo no interior paranaense.
  • 30. 38 6.4.5. Dom Pedro II O Esporte Clube Dom Pedro II é um time que se destaca no contexto que envolve o futebol candango. Com uma baixa folha salarial, a equipe tem uma história imersa em dificuldades que, surpreendentemente, são superadas. Tal esforço tem impedido o desaparecimento do time. A profissionalização ocorreu em 1996, antes a equipe disputava campeonatos amadores. Em 1998, o D.Pedro conquista o vice- campeonato do campeonato brasiliense, a posição dá ao clube o direito de jogar, no mesmo ano, a Série “C” do Brasileiro. Por ser uma divisão pouco prestigiada e marcada, predominantemente, pela falta de incentivos financeiros, a direção não consegue arcar com a folha salarial do time. A saída é pedir auxílio ao presidente do Anapolina e deputado Pedro Canêdo, segundo informa o jornalista do Jornal de Brasília, Gustavo Mariani, no texto “A Rota de Dom Pedro II”, em 12 de julho de 2003. Em 2005 o clube disputou a primeira divisão do futebol local e o seu presidente, Cléver Rafael, arcou com 25 mil reais para pagar as despesas do time, conforme destaca a matéria do Jornal de Brasília “Seis clubes pagaram para jogar no turno”. 6.4.6. CEUB No ano de 1968, surgiu no futebol candango uma equipe que teve um período de vida muito curto, criado por um grupo de universitários do Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB), o time de mesmo nome teve um grande destaque, tanto no cenário local, como nacional. O time conquistou o Campeonato
  • 31. 39 Brasiliense em 1973 e, neste mesmo ano, também participou do Campeonato Brasileiro, ocupando a 33º posição. Nos dois anos seguintes, em 1974 e 1975, o time também disputou o Brasileiro, terminando na 37ª e 31ª colocação, respectivamente. O ano de 1976 foi de grande destaque para a equipe. Por ironia do destino, também foi o ano de sua despedida. A ameaça de não ter tempo suficiente para se realizar um campeonato brasiliense antes do prazo de indicação do vencedor para disputar o Brasileiro fez a CBD sugerir a realização de um torneio seletivo. A Federação acatou a idéia e realizou uma curta competição entre as quatro melhores equipes da época. O vencedor desta competição se sagraria campeão brasiliense e, também, seria o representante da cidade no cenário nacional. O quadrangular foi vencido pelo Brasília causando indignação ao CEUB, que encerrou suas atividades futebolísticas. Mais tarde, uma questão política, não muito clara, fez o então presidente da CBD, Heleno Nunes, tirar a vaga do time do Brasília. A Associação Atlética Ponte Preta, de Campinas (SP), mais tarde ganhou a vaga deixada pelo time do Distrito Federal. Segundo o Jornalista Gustavo Mariani13, a transferência da vaga envolve um acordo político de tentativa de fortalecimento do partido Arena, oposição do MDB no Estado, representado pelo então senador, Orestes Quércia14. 13 Entrevista realizada no Jornal de Brasília no dia 22 de abril de 2004 14 Vereador (1964 - 1966), Deputado Estadual (1967 - 1968), Prefeito (1969 - 1972), Senador (1975 - 1983), Vice-governador (1984 – 1988). Todos os cargos públicos são por São Paulo
  • 32. 40 6.5 Estrutura dos estádios A estrutura dos estádios deixa a desejar Augusto Carvalho, Presidente da Torcida Jovem Ense A análise dos estádios faz-se necessária, pois foi verificado no transcorrer da pesquisa que muitos campos do Distrito Federal receberam melhorias em sua estrutura. No entanto, não são todos os estádios que passaram por reformas, tão pouco algum tipo de benfeitoria. Algumas reformas podem ser explicadas pela força política de cada clube que, por meio de influência, conseguem obter benefícios no setor. Outro fator diagnosticado no decorrer do livro são as denúncias de fraude nas licitações para contratação de serviços de manutenção, ou no contrato de arrendamento dos estádios. Foram considerados quatro estádios. O Mané Garrincha, estádio que goza de maior estrutura no DF, o Walmir Campelo Bezerra (Bezerrão), situado no Gama, o Elmo Serejo de Farias (Serejão), na cidade de Taguatinga e o Pelezão que durante as décadas de 60 e 70 foi o principal campo da cidade, mas está abandonado. Outros campos da cidade como: Abadião, na Ceilândia, Adonir Guimarães, em Planaltina, Agostinho Lima, situado em Sobradinho, Juscelino Kubitschek, no Paranoá, Metropolitana localizado no Núcleo Bandeirante, Joaquim Roriz (Rorizão), na Samambaia, Cave, no Guará e o Chapadinha em Brazlândia, foram apenas citados a título de referência no transcorrer do livro.
  • 33. 41 6.5.1. Mané Garrincha O maior e mais moderno estádio do DF foi inaugurado no dia 10 de março de 1974 com uma partida entre CEUB e Corinthians, vencida pelo time paulista por 2 a 1. De acordo com o editor do caderno Torcida do Jornal de Brasília, Marcelo Agner15, sua construção foi fruto da tendência de se construir vários estádios pelo Brasil, na década de 70. Em pouco tempo, desbancou o estádio Pelezão, tornando- se o principal campo da cidade. O estádio possui uma capacidade estimada em 53 mil lugares. Entretanto, o campo não costuma receber partidas com freqüência. Segundo o ex-administrador do estádio, Wander Wilson Marques16, a exclusão do campo do Mané Garrincha dos jogos, envolvendo futebol profissional, é reflexo do alto custo gerado pelo deslocamento das equipes sediadas nas cidades-satélites, assim como das torcidas. No ano de 2005 o estádio recebeu alguns jogos da primeira divisão do Campeonato Brasiliense e do Campeonato Brasileiro da 1ª Divisão. Além disso, foi realizado o jogo entre Brasil e Chile, válido pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2006. Para se adequar às normas impostas pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), entidade que organiza e administra os campeonatos do continente, o estádio teria de passar por uma série de reformas para se adaptar às normas internacionais. As obras custariam R$ 4,9 milhões para os cofres do Governo do Distrito Federal. No entanto, devido a brigas entre poderes, principalmente devido ao processo de licitação – que rendeu investigações do 15 Entrevista realizada no Jornal de Brasília no dia 13 maio de 2004 16 Entrevista realizada na Administração do Estádio Mané Garrincha no dia 22 de abril de 2004
  • 34. 42 Ministério Público, que apontaram irregularidades no edital da obra – não houve tempo suficiente para a realização da reforma. Logo, o estádio não está adequado ao Estatuto do Torcedor. 6.5.2. Bezerrão No dia 9 de outubro de 1977, na data de aniversário da cidade do Gama, foi inaugurado o estádio Valmir Campelo Bezerra, mais conhecido como Bezerrão. No primeiro jogo realizado no local, O Gama perdeu por 3 a 1 para o Botafogo. O campo é o local onde a Sociedade Esportiva do Gama manda a maioria dos seus jogos. Com instalações precárias, o estádio passa no ano de 2001, por uma série de benfeitorias a mando do então Secretário de Esporte e Lazer, Agrício Braga. Todavia, o estádio não possui instalações dignas tanto para a imprensa quanto para jogadores e para a torcida. Em dezembro de 2001, o governador Joaquim Roriz anunciou um ambicioso projeto desenvolvido pelo arquiteto paulista Ruy Ohtake, a pedido do então deputado Federal Paulo Octávio17. A proposta, orçada em R$ 40 milhões, pretendia fazer do estádio uma arena esportiva multiuso. A capacidade seria aumentada em 22 mil torcedores. O estádio passaria dos atuais 20 mil para 42 mil lugares. O novo nome do Bezerrão seria Estádio Comunitário do Gama. No ano de 2003, existia até recursos alocados (R$ 9,4 milhões em verbas federais e outros R$ 4,92 milhões dos cofres do GDF), mas a licitação não aconteceu. O contrato para a reforma do estádio Bezerrão foi assinado pelo governador Joaquim Roriz, no dia 11 de agosto de 2005, pois o Tribunal de Contas do Distrito 17 Atualmente exerce o mandato de Senador da República, eleito para esse cargo em 2002
  • 35. 43 Federal (TCDF) concluiu que a empresa Estacon, vencedora da concorrência, não teria atendido ao edital para a reforma. Dessa maneira, o TCDF ordenou que a Novacap não assinasse o contrato de R$ 51 milhões enquanto a situação não fosse regularizada. Ao contrário do projeto inicial, o Bezerrão poderá comportar depois da reforma, 35 mil torcedores. Apesar da redução da capacidade, o custo da obra aumentou para R$ 51,7 milhões ao Governo do Distrito Federal. O deputado federal José Roberto Arruda18 lembra que foi o responsável pela emenda no Congresso Nacional que garantiu o orçamento para a reforma do estádio. Contudo, ele não poupa críticas ao projeto aprovado para a reforma. “O projeto do Rui Ohtake não é o que eu gostaria. É desproporcional ao tamanho da obra. Eu queria fazer o projeto do arquiteto Ariomar, ele é um arquiteto do próprio Gama. Custaria dez vezes menos e seria muito mais útil. Esse projeto está pronto. Foi feito de graça. Infelizmente optaram pelo outro, o que eu acho um erro”, criticou Arruda. Outro fator verificado na pesquisa foi à ingerência da Administração regional do Gama em relação ao estádio, mesmo não havendo nenhum contrato de arrendamento do estádio para o time do Gama é a direção do clube que administra o campo e faz a cessão de uso para outros clubes. 6.5.3. Serejão (Boca do Jacaré) No mês de abril de 1978 é inaugurado o estádio Elmo Serejo Farias, em Taguatinga. O nome do estádio é uma homenagem ao ex-governador do Distrito Federal. 18 Entrevista realizada no gabinete do deputado no dia 25 de outubro de 2005
  • 36. 44 Grandes clubes brasileiros já se apresentaram no local, que desde a década de 1970, ficou conhecido popularmente como Serejão. No jogo de abertura, o time juvenil do Fluminense venceu o Taguatinga Esporte Clube por 4 a 1. O campo foi a casa da extinta equipe do Taguatinga, sendo abandonado após desaparecimento do time, por mais de dois anos. Em certo momento, o estádio foi ocupado por uma empresa que sorteava prêmios através da realização de jogos de bingo. Chegou até a ser ocupado por uma feira. Até que em 2000, o empresário Luiz Estevão o arrendou junto à Administração de Taguatinga. O cartola investiu inicialmente cerca de R$ 600 mil na reforma do estádio, que passa então a ser o campo de jogo do recém criado Brasiliense Futebol Clube de Taguatinga. O estádio recebe estrutura, com área de imprensa, tribuna de honra e cadeiras cobertas. Recebe novas arquibancadas no lado contrário às cabines de rádio, aumentando a capacidade para 32 mil pessoas, reparos nas arquibancadas já existentes, nos vestiários e ganha novo gramado. Entretanto, o Ministério Público do Distrito Federal (MPDF) constatou irregularidades no arrendamento do estádio e determinou que o contrato que o Brasiliense mantinha com a Administração Regional de Taguatinga fosse anulado. O promotor Sérgio Bruno19 afirma que a autorização que o governo concedeu ao clube para tomar posse do estádio público não tem validade, pelo fato de não ter ocorrido licitação. Além disso, o estádio foi interditado depois que um laudo do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal apontou irregularidades no local. A determinação de interditar o Serejão partiu da 17ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do DF (TJDF), 19 Entrevista realizada por telefone no dia 14 de setembro de 2005
  • 37. 45 depois que a Promotoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público do DF entrou com pedido de liminar contra o Brasiliense, solicitando a interdição do estádio por falta de condições de segurança para o torcedor. A decisão foi tomada no dia 28 de outubro de 2005, dois dias antes da partida entre Brasiliense e Botafogo, marcada para Taguatinga. O presidente do clube transferiu o jogo para o Mané Garrincha. 6.5.4. Pelezão Na segunda metade da década de 1960 foi construído o Estádio Nacional de Brasília, conhecido por Pelezão. O começo da história do estádio foi marcado por partidas de times locais, como construtoras e associações amadoras de cidades- satélites, que se destacavam na época em que o futebol candango não era profissionalizado. Ainda na década de 60 o Pelezão recebe amistosos da Seleção Brasiliense contra grandes equipes do futebol brasileiro, como o Santos, de Pelé; o Botafogo, de Garrincha e o Cruzeiro, de Tostão. No último ano da carreira do craque Garrincha, que em 1969 vestia a camisa do Flamengo, o estádio, de acordo com a matéria do Jornal de Brasília “Poucos momentos de glória”, alcançou o maior momento futebolístico da cidade. Na metade da década de 80, o histórico Pelezão., com capacidade estimada em 20 mil lugares foi desativado. Mais tarde, em 1996, a Federação Metropolitana de Futebol vende o estádio para a Paulo Octávio Investimentos Imobiliários.
  • 38. 46 O promotor do Ministério Público do DF Sérgio Bruno Cabral20 afirma que a venda do Pelezão, ocorrida em 1996, foi irregular, “eles fizeram uma troca com a iniciativa privada. A destinação do terreno foi mudada para shopping center e os donos são a Paulo Octávio e a Via Engenharia. Quem fez a troca foi a Federação, que tinha o Weber à frente”, disse. José Cruz relata que acompanhou os passos da transferência da área do estádio (localizada em terra da União) para o setor privado. Ele afirma que a FMF, que na época era gerenciada por Tadeu Roriz e Weber Magalhães, rateou o dinheiro entre os clubes. “O patrimônio que eles receberam – tanto o dinheiro, como as salas e apartamentos – não entrou no patrimônio do Brasília, do Gama, do Sobradinho ou do Planaltina. Entrou no bolso dos dirigentes. Essa é a verdade”, garante. Weber Magalhães explica que era vice-presidente da Federação, quando o estádio Pelezão acumulava cerca de R$ 1 milhão em dívidas. Ele destaca que o imóvel, pertencente à Federação, seria leiloado. Porém, depois de uma proposta da iniciativa privada de trocar o estádio por imóveis, além de quitar as dívidas, fez a FMF ceder, “os imóveis que pertencem à Federação continuam com a Federação. São 10 ou 12 lojas à disposição. Alguns foram doados para clubes e os clubes venderam”. Atualmente, o Pelezão serve de abrigo para moradores sem-teto. Mas existe um projeto para demolir o estádio. Porém, por enquanto, não há planos para construir outra edificação no terreno. 20 Entrevista realizada por telefone no dia 14 de setembro de 2005
  • 39. 47 7. DIAGNÓSTICO 7.1. Particularidades do futebol candango O modelo administrativo dos clubes do Distrito Federal mostra a grande dependência existente entre os times e seus financiadores. A proximidade dos dirigentes junto ao governo do DF facilita a articulação para a captação de recursos e a viabilização de projetos, seja ele de ordem esportiva, como o pagamento da folha salarial, seja ele de ordem estrutural, como a reforma dos estádios. Logo, nota- se que para um time prosperar é necessário além de dinheiro para investimento uma proximidade, um alinhamento, com o governo para poder usufruir de maiores recursos, provenientes de patrocínios de empresas estatais (BRB, Caesb e CEB) ou receber verbas por meio da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL). O repasse de verbas é uma constante em outros estados e municípios brasileiros. José Roberto Arruda21 cita o apoio do então governador goiano Maguito Vilella para o desenvolvimento do Goiás. Já Paulo Henrique Azevêdo cita em sua tese sobre a administração dos clubes do DF o caso da prefeitura de São Caetano do Sul que auxiliou o time da cidade A.D. São Caetano. Outro ponto desfavorável encontrado foi à falta de apoio de grandes empresas industriais ou comerciais que possam apoiar ou patrocinar os clubes. A título de exemplo, pode-se citar o patrocínio do Café do Sítio na camisa da Sociedade Esportiva do Gama. Durante anos a empresa foi uma das fontes de receita do clube, expondo sua logomarca nas partes da frente e de trás da camisa. 21 Entrevista realizada no gabinete do deputado no dia 25 de outubro de 2005
  • 40. 48 A questão pode ser explicada por uma acomodação dos dirigentes na captação de mais recursos, pois já se sabe que as agremiações recebem verbas para a manutenção do plantel. Autor da idéia na época a qual era secretário, o deputado distrital Agrício Braga acreditava que o investimento causaria resultados em longo prazo para o esporte. Ele explica que o aporte financeiro acarretaria na melhoria do espetáculo, trazendo um maior público para os estádios e despertando o interesse de empresas. No entanto, a idéia, pelo menos por enquanto, não trouxe o efeito esperado. “Os dirigentes se acomodaram. Achavam que era obrigação do governo prover recursos”, diz Agrício22. 7.2. Ministério Público A distribuição de recursos públicos para o financiamento das práticas desportivas profissionais é proibida de acordo com a Constituição Federal, podendo ser realizada somente em casos específicos. Ao receberem recursos provenientes do DF os clubes estão infringindo o art. 217: É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados: II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento. (Constituição Federal, 1988) 22 Entrevista realizada na Distribuidora Jardim no dia 21 de setembro de 2005
  • 41. 49 Dessa maneira o repasse de dinheiro vem sendo investigado pelo Ministério Público do DF. Na interpretação da promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep), a SEL, gerenciada por Weber Magalhães, decide “ao seu bel prazer”, quais os casos específicos cujos recursos vão ser alocados. Para poder receber esse benefício, é indispensável que a entidade que venha a ser auxiliada não tenha fins lucrativos. No caso do Brasiliense e Gama isso não ocorre, conforme está citado na ação civil pública. O Brasiliense “é uma sociedade comercial com fins lucrativos, conforme a própria natureza jurídica da sociedade já deixa claro (Sociedade Comercial Limitada) e está expresso na Cláusula Terceira do respectivo Contrato Social (DOC. 11).” Já o Gama “apenas com a verba de publicidade dada pelo Banco de Brasília – BRB, o Gama recebeu nos anos de 2003 a 2005 o valor de R$ 3.475.896,00 (três milhões, quatrocentos e setenta e cinco mil, oitocentos e noventa e seis reais) (DOC. 13).” Somado a isso, nota-se que não ocorre prestação de contas do dinheiro que foi repassado aos clubes conforme destaca a referida ação. O fato revela-se de maior gravidade quando verifica-se (fl. 35) que no presente exercício já foi realizado um ajuste entre a FMF, a Secretaria de Fazenda e a Secretaria de Esportes, resultando num repasse que pode chegar aos R$ 800 mil, fl. 36, não obstante a ausência das prestações de contas referentes ao exercício de 2000, já comentada anteriormente. Sendo assim, a Secretaria de Esportes não deveria firmar novos ajustes antes de esclarecidas todas as dúvidas quanto à boa versação dos recursos públicos concedidos. (DOC. 16)
  • 42. 50 A suspensão do repasse de benefícios para a então FMF já havia sido solicitada conforme informa o Tribunal de Contas do DF, no Processo Nº 173/02. Cabe ressaltar que o processo também foi citado na ação civil pública. O financiamento do futebol pelo governo pode ser amplamente questionável quanto a utilização de recursos públicos para entidades que não prestam contas do mesmo, não ocorrendo a transparência necessária.
  • 43. 51 8. CONCLUSÃO O futebol profissional de Brasília vive um momento de transição histórico, essencial para a definição do futuro do esporte na cidade. No contexto atual, a evidência é dada ao Brasiliense, time que chegou a Série “B” do Campeonato Brasileiro, ganhou o Candangão 2004 e 2005, está atualmente na Série “A” do Brasileirão. O problema é justamente a consolidação dos recursos. Apesar da equipe possuir boa estrutura, caso os investimentos não sejam feitos, poderá haver um futuro incerto para clubes e profissionais que fazem parte de toda essa organização. O Gama mostra que essa preocupação com a estrutura se faz necessária. A equipe que disputou a Série “A” do Campeonato Brasileiro está em franca decadência. Caiu para a Série “C”, conseguiu voltar para a segunda divisão, mas fez um péssimo campeonato, obtendo a permanência na Série “B” deste ano na última rodada. A presença dos políticos no futebol do Distrito Federal, por vezes, é prejudicial. Mesmo com uma melhoria do espetáculo nos últimos anos, a decadência do futebol é cada ver maior. Visões políticas, empresariais e comerciais deterioram, cada vez mais, as estruturas do futebol. A politicagem tomou conta do esporte e pode acabar, de forma repentina, com a paixão criada nos últimos anos. A visibilidade na mídia de nada ajuda o futebol quando as equipes não têm liberdade para questionar os times e o campeonato. A melhor forma seria manter a isenção das instituições com os políticos, uma vez que os cartolas da bola continuam mandando nos departamentos de futebol, comprando jogadores quaisquer,
  • 44. 52 mudando esquemas táticos, pressionando e demitindo técnicos, invadindo vestiários e ainda coagindo jogadores. Como essa isenção não é possível na conjuntura atual, basta esperar que os bons momentos do futebol brasiliense se estendam o máximo possível. Caso Luiz Estevão mantenha sua posição de não atuar politicamente, a possibilidade de haver pelo menos um time disputando campeonatos nacionais com maior destaque é grande.
  • 45. 53 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Dissertação AZEVÊDO, Paulo Henrique. A administração dos clubes de futebol profissional do Distrito Federal em face a nova legislação esportiva brasileira. UnB. Brasília: 2002 Livros ANDER-EGG, Ezequiel. Introducción a las técnicas de investigación social: para trabajadores sociales. 7. ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978. BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. CARRANO, Paulo César R (org). Futebol: paixão e política. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2003. FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2001. FOER, Franklin. Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a globalização. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001. MANHÃES, Eduardo Dias. Política de Esportes no Brasil. 2. ed. São Paulo: Graal, 2002. MANZO, Abelardo J. Manual para la preparación de monografias: una guía para presentar informes y tesis. Buenos Aires: Humanitas, 1971. MATTIUSSI, Paulo. Osmar Santos: o milagre da vida. São Paulo: Sapienza, 2004. NOGUEIRA, Armando. A ginga e o jogo: todas as emoções das melhores crônicas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. SANTOS, Izequias Estevam dos. Textos selecionados de métodos e técnicas de pesquisa científica. 3. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2001. SALDANHA, João. Os subterrâneos do Futebol. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1963. YALLOP, David A. Como eles roubaram o jogo: segredos dos subterrâneos da Fifa . Tradução de Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Record, 1998.
  • 46. 54 Sites AMARAL, Paulo. No Mané Garrincha, torcida dança e espera goleada. 04 set. 2005 Disponível em: <http://www.gazetaesportiva.net/copa/copa2006/notas.php?id_nota=3796>. Acesso em: 27 set. 2005. AMARAL, Paulo. Ao ritmo do Fala Mansa, Brasil goleia Chile e carimba passaporte. Site Gazeta Esportiva, 04 set. 2005. Disponível em: <http://www.gazetaesportiva.net/copa/copa2006/notas.php?id_nota=3802>. Acesso em: 27 set. 2005. ARQUIVO DE CLUBES – Futebol Distrito Federal. Disponível em: <http://www.arquivodeclubes.com/df/>. Acesso em: 03 abr. 2004 BARBOSA, Cida. Campo da Esperança. Correio Braziliense, 20 dez. 2001. Disponível em: <http://www2.correioweb.com.br/cw/2001-12-20/mat_25454. Htm>. Acesso em: 12 jul. 2005. BOLA NA ÁREA – O Arquivo do Futebol. Disponível em: <http://www.bolanaarea.hpg.ig.com.br/gal_estaduais_distrito_federal.htm>. Acesso em: 19 maio 2004. BRASILIENSE FUTEBOL CLUBE DE TAGUATINGA. Disponível em: <http://www.eta.com.br/brasiliense/>. Acesso em: 28 abr. 2004. BRASILIENSE FUTEBOL CLUBE DE TAGUATINGA. Disponível em: <http://www.brasiliensefc.com.br>. Acesso em: 03 ago. 2005. CAMARA DOS DEPUTADOS. Disponível em: <http://www.camara.gov.br>. Acesso em: 10 jul. 2005. CÂMARA LEGISLATIVA DO DF - Disponível em: <http://www.cl.df.gov.br>. Acesso em: 10 jul. 2005. CORREIO WEB. Após três anos, reforma do Bezerrão sai do papel. Correio Web. Disponível em: <http://noticias.correioweb.com.br/ultimas2005/materias.php?id=2647832&sub=Distri to>. Acesso em: 30 set. de 2005 DEMOCRACIA. Disponível em: <http://democracia.com.br/parlamentares/parladados.asp?t=3&d=2&cp=610&tipo=3 >. Acesso em: 14 ago. 2005.
  • 47. 55 FIBRA. Disponível em: <http://www.fibra.org.br/M012/M0122011.asp?txtID_PRINCIPAL=12>. Acesso em: 09 Ago. 2005. FILHO, Mário Simas. Caminho de Volta. Isto É. 21 jun. 2002. Disponível em: <http://www.terra.com.br/istoe/1708/brasil/1708_caminho_de_volta.htm>. Acesso em: 01 ago. 2005. FOLHA ON LINE. Saiba mais sobre José Roberto Arruda. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u20288.shl>. Acesso em: 28 Ago. 2005. GAZETA ESPORTIVA. Jornal Argentino compara Brasil atual ao de 70. Disponível em: <http://www.gazetaesportiva.net/copa/copa2006/notas.php?id_nota=3819 >. Acesso em: 19 set. 2005. GUEDES, Sylvio. Bezerrão vai ter que esperar. Jornal do Brasil, Informe DF, 19 fev. 2004. Disponível em: <http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp? NOTCod =106758 >. Acesso em: 11 jul. 2005. JORNAL DE BRASÍLIA. Estevão exige empenho total. Jornal de Brasília. Disponível em: <http://www.jornaldebrasilia.com.br/WebComponents/conteudo.php?Ac=Tor&IdEdica o=60&IdNoticia=18>. Acesso em: 14 ago. 2005. JORNAL DE BRASÍLIA. Paranoá segue na Disputa. Jornal de Brasília. Disponível em: <http://www.jornaldebrasilia.com.br/WebComponents/conteudo.php?Ac=Tor&IdEdica o=881&IdNoticia=9>. Acesso em: 30 out. 2005. JORNAL DE BRASÍLIA. Paranoá perde principal patrocinador. Disponível em: <http://www.jornaldebrasilia.com.br/WebComponents/conteudo.php?Ac=Tor&IdEdica o=831&IdNoticia=24>. Acesso em: 29 set. 2005. JORNAL DE BRASÍLIA. Seis clubes pagaram para jogar no turno. Jornal de Brasília. Disponível em: <http://www.jornaldebrasilia.com.br/WebComponents/conteudo.php?Ac=Tor&IdEdica o=705&IdNoticia=3>. Acesso em: 25 set. 2005. SENADO FEDERAL. Disponível em: <http://www.senado.gov.br>. Acesso em: 01 jul. 2005. LOPES, Elisabeth. Luiz Estevão. Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/agestado/politica/2000/jun/04/162.htm>. Acesso em: 07 ago. 2005.
  • 48. 56 LUIZ, Edson. Descoberta envolve Luiz Estevão na operação Anaconda. Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.copa.esp.br/agestado/noticias/2003/nov/26/202.htm>. Acesso em: 26 ago. 2005. MARQUES, Hugo. Polícia Federal investiga juiz e delegados. . Disponível em: <http://www.dpf.gov.br/DCS/clipping/2004/dezembro/01-12-2004NAC.htm>. Acesso em: 05 ago. 2005. MARIANI, Gustavo. A Rota de Dom Pedro II. Jornal de Brasília. 12 jun. 2003. Disponível em: <http://www.jornaldebrasilia.com.br/WebComponents/ conteudo.php?Ac=Tor&IdEdicao=86&IdNoticia=18 >. Acesso em: 27 jul. 2005. MONTEIRO, Tânia. Justiça bloqueia bens do grupo OK, de Luiz Estevão. Disponível em: <http://www.copa.esp.br/agestado/noticias/2002/mai/23/317.htm>. Acesso em: ago. 2005 SOCIEDADE ESPORTIVA DO GAMA. Disponível em: <http://www.gamagol.com.br/>. Acesso em: 23 abr. 2004. SOCIEDADE ESPORTIVA DO GAMA. Disponível em: <http://www.gamagol.com.br/>. Acesso em: 14 ago. 2005. TORCIDA INFERNO VERDE. Disponível em: <http://www.infernoverde.com/>. Acesso em: 13 maio 2004. TORCIDA INFERNO VERDE. Disponível em <http://www.infernoverde.com/>. Acesso em: 30 set. 2005. Entrevistas AGNER, Marcelo. Editor do caderno torcida do Jornal de Brasília, 13/05/04. Local: Jornal de Brasília. Meio: fita de vídeo. ALMEIDA, José Ricardo de. Historiador, 28/05/04. Meio: correio eletrônico ARRUDA, José Roberto. Deputado Federal, 25/10/05. Meio: fita K-7 CARVALHO, Augusto. Presidente da Torcida Jovem Ense, 09/09/2005. Local: Ambulatório do Hospital de Base. Meio: Gravador Mp3 CARVALHO, Edu. Narrador da rádio OK, 20/03/04. Local: Estádio Bezerrão. Meio: fita K-7. CRUZ, José. Repórter do Correio Braziliense, 30/09/2005. Local: Redação do Correio Braziliense. Meio: fita. K-7
  • 49. 57 ESTEVÃO, Luiz. Presidente do Brasiliense, ex-senador, 11/06/04. Meio: telefone ESTEVÃO, Luiz. Presidente do Brasiliense, ex-senador, 03/10/05. Meio: Telefone FERNANDES, Sérgio Bruno Cabral. Ex-promotor de Defesa do Patrimônio Público do Ministério Público do DF, promotor do júri de Samambaia, 14/09/2005. Meio: telefone FERREIRA, Márcio. Narrador da rádio Planalto, 20/03/04. Local: Estádio Bezerrão. Meio: fita.K-7. FERREIRA, Marta. Repórter do Jornal de Brasília, 25/05/04. Local: Jornal de Brasília. Meio: fita de vídeo FILHO, Agrício Braga. Deputado distrital, 21/09/05. Local: Distribuidora Jardim. Meio: Gravador Mp3 LEANDRO, Maurício. Narrador da rádio Jovem Pan, 20/03/04. Local: Estádio Bezerrão. Meio: fita.K-7. LIMA, Marcos Paulo. Repórter do Jornal de Brasília, 20/05/04. Local: Jornal de Brasília. Meio fita de vídeo. MAGALHÃES, Weber. Secretário de Esporte e Lazer do Distrito Federal, 15/09/2005. Local: Secretaria de Esporte e Lazer do DF. Meio: fita. K-7 MANHÃES, Eduardo Dias. Sociólogo, 01/06/04. Local: IESB. Meio: fita de vídeo MARIANI, Gustavo. Jornalista do Jornal de Brasília, 22/04/04. Local: Jornal de Brasília. Meio: fita de vídeo. MARQUES, Wagner. Ex-presidente da Sociedade Esportiva do Gama, 11/08/2005. Local: Escritório do Gama. Meio: fita. K-7 MARQUES, Wander Wilson. Ex-administrador do Estádio Mané Garrincha, 22/04/04. Local: Estádio Mané Garrincha. Meio: fita de vídeo MARTINS, Jorge. Presidente da Associação Brasiliense de Cronistas Desportivos (ABCD), 06/04/04. Local: sede da ABCD (Estádio Mané Garrincha). Meio: fita de vídeo. Pág. 26 NAVES, Roberto. Repórter do Correio Braziliense, 13/04/04. Local: Correio Braziliense. Meio: fita de vídeo. OLIVEIRA, Petronilo. Repórter do Jornal de Brasília, 19/10/05. Local: IESB REMO, Carlos Alberto. Comentarista rádio OK, 20/03/04. Local: Estádio Bezerrão. Meio: fita.K-7.
  • 50. 58 TATU, Hamilton. Presidente da Torcida Inferno Verde, 14/08/2005. Local: Conic. Meio: Gravador Mp3
  • 51. 59 ANEXOS Figura 1. Capa