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Carta a um Ministro (CtaM) Resumo Tese de Frei Inácio Dellazari.
        Já sabemos que o caminho privilegiado para chegarmos ao coração de Francisco são os seus Escritos.
Através da CtaM vamos nos aproximar mais do coração de Francisco (Fco). E estudaremos a Carta através da
janela “Fraternidade”.


        A intenção central será a de colher a imagem de Fco como Guia humano e espiritual. Na verdade é uma
tentativa de chegar a Francisco, ao seu coração, através da CtaM.

       I: Contexto da carta a um Ministro (CtaM).

       1. Contexto da Ordem á luz da CtaM.
       Através da própria carta é possível saber qundo foi escrita e traçar as características gerais da Ordem.

         1.1. Origem e evolução do projeto evangélico revelado a Fco pelo Altíssimo.
         Na origem do movimento franciscano está a experiência de conversão de Fco de Assis. Onde está o
nascedouro da sua vida. Esta experiência foi compreendida por Fco como o resultado da iniciativa de Deus em
sua vida: “Dominus ita dedit mihi fratri Francisco incipere faciendi poenitentiam”(Test 1). Esta experiência
de conversão Fco a fez, inicialmente, sozinho, diz: “o Senhor concedeu a mim!” Estamos nos anos 1204-1208.
        Depois desse período de mais ou menos 4 anos, no qual Fco se encontrava sozinho diante do chamado de
Deus, sucedeu o segundo momento importante de sua vida que é a chegada dos irmãos. Assim o interpreta Fco:
“E depois que o Senhor me deu irmãos” (Test 14). É a segunda vez que o Senhor concede a Fco. Assim Fco
mesmo se coloca na origem como instrumento de uma obra de Deus e na origem de uma fraternidade também
de Deus, Dom dele, do Senhor.
        Em torno de 1209, já com 11 irmãos, Fco escreve com „breves e simples palavras‟ o projeto inicial de
vida, composta de expressões do Evangelho (1Cel 32). Vão a Roma pedir ao Papa aprovação dessa vida. O
Papa abençoa seu pedido e envia (1Cel 33). Desta maneira Fco confiou o projeto inspirado por Deus à
aprovação do Papa, à Igreja. A Fraternidade desde o seu início vem marcada pela característica eclesial. Esta é
a novidade e o elemento distintivo deste movimento de tantos outros existentes na mesma época. Diz Esser:
“...a novidade que distanciou Fco e os seus frades de todos os fenômenos contemporâneos afins: a sua
fidelidade à ortodoxia e a sua devoção de matriz eclesial”( Il Test, 133).
        Fco está convencido que recebeu uma missão divina (Dominus dedit mihi – O Altíssimo me revelou) e
pede a confirmação do Papa para viver esse projeto.
        Retornando de Roma viveram como peregrinos e forasteiros, com o exemplo e com breves sermões
anunciavam a paz e penitência (Test 23; Rb 6,3; Rb 9,4). Quando interrogados de onde vinham e quem eram
respondiam: somos penitentes da cidade de Assis‟ (3C 37,7).
        No primeiro decênio de vida a Fraternidade cresceu rapidamente. Isto deveu-se principalmente à pessoa
de Fco. Eles, conforme Giacomo de Vitry, “imitam claramente a forma de vida da Igreja Primitiva e a vida
dos Apóstolos. São enviados dois a dois a pregar” (p. 1423.24.25). Aceitam todos os livres nas suas fileiras
(Jacques de Vitry, p. 1425). Esta expansão aconteceu sem uma devida formação, pois ainda não havia
Noviciado, o qual foi introduzido só em 1220.
        O crescimento numérico dos frades exigiu uma nova organização da fraternidade. Essa é dividida em
Províncias (1217), tendo à frente um Ministro. Sua função é estabelecida na Rnb 4,1-6 e Rb 10,1-7. Esta
divisão em Províncias é algo novo na época de Francisco. Mostra, assim, sua capacidade de adaptação a
situações novas! Enquanto aumentava o número de frades, a legislação da fraternidade sofria transformações.
Disto fala Fco na CtaM. O termo deste processo foi 1223, ano no qual foi aprovada a Regra definitiva (Solet
annuere, 23.11.1223).
        A CtaM foi escrita quando a Ordem se encontrava nesse período histórico no qual já está dividida em
Províncias, Fco era guia dos Irmãos através dos Ministros, mas ainda não havia uma legislação definitiva.




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1.2. Os Capítulos. Característica fundamental do movimento franciscano, impressa por Fco, foi a
condição de „itinerantes neste mundo‟. Fundamentado no seguimento de Cristo que „foi pobre e peregrino‟, Fco
enviava os frades dois a dois pelo mundo para anunciar a paz e a penitência para a remissão dos pecados (1Cel
29; ainda: Rnb 9,13; 15,1; 14,1; 16,5). O Capítulo e a vocação itinerante devem ser compreendidos juntos. O
Capítulo, na origem da Ordem, representou a instituição que reunia a Fraternidade itinerante.
        Dos Escritos de Fco a ctaM é aquele que mais contém referências à função dos capítulos. Na Rnb vem
dito que o Capítulo é a ocasião para tratar das coisas que se referem ao serviço de Deus (18,1). Sobre os
Capítulos nos fala Jacques de Vitry: “Uma vez por ano, os homens desta Ordem se encontram num lugar
combinado para se alegrar no Senhor e comer juntos: e é de grande proveito para todos. Valendo-se do
auxílio de conselheiros corretos e virtuosos, redigem, promulgam e levam à aprovação do Senhor Papa
santas instituições; em seguida, se separam novamente por um ano e se espalham através da Lombardia,
Toscana, Apúlia e Sicília” (p. 1422).
        Também na LTC 57, 1-3; 1Cel 39, 2. O que estes textos nos dizem sobre o Capítulo? Numa
fraternidade itinerante eles representavam o elo de união e a ocasião, o novo e qualificado impulso da dispersão
pelo mundo, dois a dois. Com alegria os irmãos retornavam aos Capítulos. Fco estabelecia laços espirituais e
afetivos entre os frades. Isto os mantinha unidos espiritualmente. Assim, os Capítulos reuniam os frades
dispersos e, ao mesmo tempo, enviava-os pelo mundo, nas diferentes regiões. Eram ainda ocasião de reflexão
sobre a práxis da fraternidade, experimentadas no dia-a-dia da missão. Confrontavam a prática com o ideal
proposto pela Regra; adaptações eram feitas, sempre de acordo com as necessidades reais das novas situações
da fraternidade. Ainda: representavam o momento do encontro com Fco. O Santo ouvia, encorajava e
admoestava os irmãos. Em suma, os capítulos eram a expressão da participação de todos no concretizar da
Regra. Eram momentos onde a Fraternidade, animada por Fco, re-elaborava as normas de vida; juntos agiam na
concretização do ideal evangélico de vida.

       1.3. Data da CtaM. Considerando o conteúdo da carta e o que foi dito acima, podemos dizer com
segurança que ela foi escrita entre os anos 1217 e 1223. Não antes de 1217, data que marca a divisão da Ordem
em Províncias, nem depois de 1223, data da aprovação da Regra.

        1.4. Origem da carta. O que motiva Fco a escrever esta carta é a situação real de um Ministro: vive em
dificuldades no exercício de sua missão entre os irmãos. Dirige-se, por isso, a Fco. Este lhe responde refletindo
sobre os problemas que lhe afligem a alma e sobre os problemas pelos quais passa a Fraternidade. É uma carta
que nasce da realidade da vida dos frades e está orientada para esta mesma realidade: pretende ser a orientação
do Evangelho, que é a Regra e a vida, para a real situação de vida da Fraternidade.

       2. A carta a um Ministro no contexto das Cartas de Fco.

        Fco foi guia também através de cartas. Não quis ser escritor. Considera-se “ignorans et idiota”
(iletrado – CtaO 39). Escreve, por quê? “Sendo servo de todos, tenho por obrigação servir e ministrar a
todos as odoríferas palavras de meu Senhor. Por isso, considerando em meu espírito que não posso visitar a
cada um pessoalmente por causa da enfermidade e fraqueza do meu corpo, resolvi transmitir-vos por meio
da presente carta e de mensageiros as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Palavra do Pai, e as
palavras do Espírito Santo, que são espírito e vida (Jo 6,64)” (2ctaF 2-3). Entre outros elementos, Fco fala da
sua missão itinerante, e mostra que ele mesmo não se pertence.
        Internamente Fco se sente impelido a anunciar as palavras do Senhor, que na sua experiência, são como
um suave perfume. Dessa palavra Fco fez-se servo e transformou-se num apóstolo. Esse zelo apostólico
manifesta-se em Fco como uma obrigação. Este anúncio era feito nas suas andanças, na pregação itinerante. A
doença e a fraqueza impediram-no. O desejo de continuar anunciando as palavras e a vida do Senhor continuou
vivo dentro de Fco (ardia dentro dele). Esta é a razão do escrever cartas. É o anúncio escrito.
        Com o objetivo de ampliar a compreensão da figura de Fco, a seguir veremos como Fco se relaciona
com todas as pessoas, com os frades e seu modo de se relacionar com uma pessoa só. Isto, através das cartas (o
foco é o de buscar o ser e o agir de Fco).




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2.1. Fco diante de todas as pessoas. Nas „cartas circulares‟ percebe-se que, com a sua conversão, não se
afastou do mundo ou das pessoas de seu tempo (ver 2ctaF,1; ctaGov,1).
        A forma e a ordem de Fco nomear as pessoas segundo sua condição social revelam um conhecimento da
organização social e um interesse por cada pessoa ou classe de pessoas. Isto transparece na Rnb 23,7. Fco vê a
pessoa concreta. Nada de anonimato (na 2Cel 89: ocupa-se com a situação de uma pessoa concreta! e 90 Fco é
apresentado como resposta para todos, através da sua atitude). Esta relação é um dever e um direito missionário
para Fco.
        A via ou a mística que Fco propõe e segue emergiu da sua experiência de fé, que ele viveu
apaixonadamente (2ctaF, 54-56). Vê-se que não é um programa criado pela inteligência, mas experimentado a
partir da fé. Fco entendeu o valor que cada pessoa tem para Deus. Deseja que todos façam a experiência do
quanto o Senhor é suave (bom) (2ctaF, 16).
        O modo como Fco se apresenta é característica sua: como servo menor: “Frei Francisco, servo e súdito
de todos estes, com reverente submissão, deseja a verdadeira paz do céu e sincera caridade no
Senhor”(2ctaF,1); “Frei Francisco, vosso pequenino e desprezível servo no Senhor, deseja saúde e
paz”(ctaG,1).
        Esta sua atitude de menor aparece claramente quando ele se inclui nas exortações que faz. Usa habemus,
faciamus, diligamus, debemus (Ex. Adm 6). Não é só anúncio para os outros, mas ele mesmo se inclui nos
destinatários. Contudo, quando se refere àqueles que não fazem penitência e que querem permanecer no pecado,
não se inclui: “vede, ó cegos, ó iludidos pelos vossos inimigos” (ex.: 2CatF 69).

       2.2. Fco diante dos Frades. Cartas à Ordem. Fco tinha uma capacidade singular de discernimento e um
sentido das situações (cf. ex.: 2Cel 57). Diante de situações e compromissos diferentes, as exigências devem
também ser diferentes: “Especialmente os religiosos, que renunciaram ao mundo, são obrigados a fazer mais
e maiores coisas, mas sem deixar (cf. Lc 11,42) estas” (2ctaF, 36 – ler 32-36).
       Diante dos Irmãos, Fco mantém a mesma sua atitude de menor e servo de todos (CtaO, 3 e 38-39).
Nomeia cada frade segundo sua condição, mas com um detalhe significativo: acrescenta uma sua
qualidade/virtude: “e a todos os ministros e custódios, aos humildes sacerdotes da mesma fraternidade em
Cristo e a todos os irmãos simples e obedientes, aos primeiros e aos últimos”(CtaO, 2). Este termo in Christo
humilibus, considerando a compreensão de Fco da Eucaristia como prolongamento do mistério da Encarnação
que se atualiza sobre o altar nas mãos do sacerdote - mistério da humildade de Deus -, e como sacramento no
qual Deus continua se humilhando na história, tem um significado muito profundo. De fato, é o que diz nos vv.
23-29.
       Aqui Fco revela a sua capacidade de olhar em profundidade (olhar contemplativo) e perceber aquilo que
é fundamental na vida de cada frade. Da mesma forma acontece quando nomeia “todos os irmãos simples e
obedientes”. No Elogio das Virtudes “a pura e santa simplicidade” é apresentada como aquela virtude que
confunde toda a sabedoria da carne e a obediência, irmã da santa caridade (v. 3), que confunde todos os desejos
dos sentidos e da carne (maquinações) e traz o corpo mortificado na sujeição ao espírito e na obediência ao seu
irmão e faz o homem submisso a todos os homens deste mundo (EV 10.14-15; “Eu vim para servir e não para
ser servido”!). Tanto a obediência como a simplicidade vem contrapostas ao espírito da carne, isto é, à
tendência interna pecaminosa da pessoa, ao espírito que mantém a pessoa fechada egoisticamente a si mesma.
Associando as virtudes da simplicidade e da obediência a todos os frades, Fco está se referindo à identidade
fundamental do frade menor de obedecer à voz do Espírito do Senhor que santifica o coração da pessoa,
mantendo-o unido às outras na obediência mútua.
       A partir dessa singular forma de Fco nomear irmãos sacerdotes e todos os outros frades, unindo aos
primeiros a virtude da humildade e a todos os outros as virtudes da simplicidade e da obediência, pode-se
compreender o modo como Fco olhava para cada irmão. Ele os vê a partir da vocação divina, da condição
fundamental de criaturas de Deus, que encontram na humildade, na obediência e na simplicidade de Cristo o
modelo para responder ao chamado: seguir as pegadas de NSJC.
        Francisco que caracteriza-se pela sua forma humana e terna de relacionar-se, no final da CtaO assume
uma atitude enérgica, firme e decidida (v 44-46)
        Francisco está enfrentando uma situação da qual Jacques de Vitry se referia em na carta escrita no ano
de 1220. O número crescente dos irmãos, o problema de vagar pelo mundo de forma não evangélica, em
resumo, uma vida em contradição com o ideal prometido. Esse texto da CtaO parece ser o texto que contém as


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palavras mais duras de S. Francisco. Convém, no entanto, notar que Francisco começa fazendo uma confissão
pública (vv.38-39); segue-se o pedido ao ministro geral que a Regra seja observada (v. 40-42); no seguinte
Francisco promete observar a Regra e cuidar que os que com ele estão também observem a Regra (43); segue o
momento das palavras duras que dirige aos que não querem observar a disciplina da Regra (v. 44-46); segue a
sua atitude característica de reconhecer-se o menor de todos, “inútil e indigna criatura do Senhor Deus" (v. 47).
Observando a seqüência Francisco termina na mesma atitude que começou, ou seja, o reconhecimento de
pecador e indigna criatura do Senhor. Entre dois momentos em que se reconhece indigno diante de Deus e dos
irmãos, introduz uma admoestação dura contra os que não fazem “caso da disciplina da Regra".

         Francisco admoesta, mesmo com palavras duras, sem faltar com a caridade. Ele coloca-se como o
primeiro destinatário da própria admoestação, reconhecendo-se um dos irmãos, para num segundo momento
dirigir também aos outros. Essa forma de agir foi em Francisco uma atitude de vida, atitude que lhe dava
autoridade diante dos irmãos.

        2.3. Fco diante de pessoas particulares. Estas cartas mostram a capacidade que o Santo tinha de manter
uma relação interpessoal. Exemplo disso são a ctaL, a ctaM, a ctaA. Estas cartas mostram a sua relação
fraterno-maternal: respeita a consciência individual, ouve com atenção as dificuldades e sabe entender a
situação do confrade e sabe se colocar à sua disposição.

       II: Francisco guia humano e espiritual

       1. Situação existencial do Ministro, que é a situação de toda Fraternidade.

        1.1. O problema e a sua origem.
        O problema crucial que o Ministro vive é sintetizado por Fco pelo “impedimentum amare Dominum
Deum”: „coisas que te impedem de amar o Senhor Deus‟ (v. 2). Esse parece ser o problema fundamental que
fez o Ministro escrever a Fco pedindo ajuda. É uma situação que o Ministro vive com muita intensidade, pois
pretende até abandonar a fraternidade e ir a um eremitério.
        A origem das dificuldades que o Ministro encontra no amor do Senhor se situa no contexto da
fraternidade, da qual ele foi constituído ministro e, como servo, tem a obrigação de “animar e exortar
espiritualmente os irmãos” e cuidar para que nenhum se perca “por sua culpa e mau exemplo” porque deverá
“prestar contas no dia do juízo perante Nosso Senhor Jesus Cristo”(Rnb 4,6).
        Fco, radicalizando o problema, disse ao ministro: “Tudo deves ter como graça, até mesmo se te
açoitarem” e ainda “bem como aqueles que te opuserem obstáculo, irmãos ou outros” (v. 2). Dessas palavras
de Fco podemos concluir que a origem do problema do ministro se encontra no difícil relacionamento na
fraternidade com alguns irmãos. Parece que houve um conflito que repercutiu negativamente na vida do
ministro. Ele vive numa situação de dificuldades de aceitar esses mesmos irmãos assim como são, pois diz Fco:
“Não queiras da parte deles outra coisa, a não ser o quanto o Senhor te conceder” (6), como também “e não
queiras que sejam cristãos melhores” (v. 7).
        A proposta de solução que o ministro sugere a Fco é de salvar o seu relacionamento com Deus
abandonando os irmãos e passar a viver num eremitério. Isto é fácil deduzir quando Fco diz:“E considera isto
mais do que um eremitério” (v. 8).

        1.2. Significado do problema. Ao centralizar o problema na questão do «amor do Senhor», o ministro
revela ter consciência daquilo que é fundamental em sua vida, conforme s. Fco:
        “Mas na santa caridade que é Deus (cf. 1Jo 4,16), rogo a todos os irmãos, tanto aos ministros como
aos outros, que, removido todo impedimento e todo cuidado e postergada toda preocupação, do melhor modo
que puderem, esforcem-se por servir, amar, honrar e adorar o Senhor Deus com o coração limpo e com a
mente pura, pois é isto que ele deseja acima de tudo” (Rnb 22, 26). O mesmo é dito em Rnb 23, 10 e 11.
        O ministro vive numa situação na qual encontra dificuldades „no amor do Senhor Deus‟ e aqui Fco pede
para remover tudo aquilo que impede de amar ao Senhor. Parece que o ministro tem uma consciência clara da
sua missão e é exatamente por isso que entra em crise. É porque busca viver com sinceridade a vocação pessoal
que entra num conflito existencial.


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No Testamento Fco deixa perceber que no processo de sua conversão passou por dois momentos
significativos. O primeiro consiste na „graça de iniciar uma vida de penitência (“Dominus ita dedit mihi Fratri
Francisco incipere faciendi poenitentiam”); o segundo momento aconteceu quando da chegada dos irmãos (“et
postquam Dominus dedit mihi de fratribus”). Por esta situação está passando o ministro. Ele recebeu uma
chamada pessoal divina e está sendo convidado a viver essa vocação no serviço aos irmãos, que também são
dons como o é a vocação pessoal inicial. O problema do ministro surge quando ele não mais consegue integrar
esses dois momentos numa única resposta.
        Fco consegue ajudar o ministro porque ele viveu essa poenitentiam concedida pelo Senhor. Ele tem todas
as condições para ajudar o ministro a compreender a situação existencial-espiritual. Veja bem: concedida pelo
Senhor! Não somos nós, por nós, apoiados em nós, que somos capazes do amor, e do amor maior!

        1.3. Textos que refletem situações semelhantes à do ministro. Estes textos nos dirão que a realidade
vivida pelo ministro não era única na Ordem, mas que se insere no contexto da vida dos frades, contudo,
guiados por Fco, buscavam viver o Evangelho de NSJC. Fco repetir-se-á nestes textos. Teremos uma
compreensão mais ampla do pensamento do Santo e da sua maneira de agir com os irmãos. Veremos os textos
mais significativos.
        a) “Pois, quem prefere sofrer perseguição a separar-se de seus irmãos permanece verdadeiramente na
perfeita obediência, porque expõe a sua vida (cf. Jo 15,13) em favor dos seus irmãos” (Adm 3,9).
        Aqui Fco reflete sobre a relação súdito x superior e aplica o que na ctaM diz ao ministro. Para ambos a
perfeita obediência consiste em permanecer junto com os irmãos, mesmo que custe sofrimento e perseguição.
Nós, muitas vezes, quando a relação fica difícil... pedimos transferência! Fco não concorda.
        b) “E cuidem todos os irmãos, tanto os ministros e servos como os demais, para não se perturbarem
ou se irritarem por causa do pecado ou do mal do outro, porque o demônio quer, por causa do pecado de um
só, corromper a muitos, mas ajudem espiritualmente, como melhor puderem, aquele que pecou, porque não
são os sadios que precisam de médico, mas os enfermos (cf. Mt 9,12; Mc 2,17)” (Rnb 5,7-8).
        Trata-se dos irmãos que pecam, que também é a realidade da ctaM. Fco repete a citação bíblica de Mt
9,12. Na ctaM, no v. 15 Fco pede para „guardar o máximo de segredo‟, „não difamá-lo‟; aqui Fco pede para
„não turbar-se ou irar-se‟ mas para „ajudar espiritualmente‟.
        c) Outros textos: Rnb 22,3-4; Adm 11,1-3; 9,2-3. A partir destes textos podemos perceber que a
situação do ministro é uma questão para toda a fraternidade. A atitude de Fco em relação aos que pecam é
idêntica.

       2. Resposta humana de Fco. Quais são as características humanas de Fco enquanto guia, qual o seu
modo de ser, como ele foi irmão. Aqui vamos procurar resgatar a figura histórica de Fco. Veremos como Fco
foi uma resposta humana diante do ministro na sua maneira de ser (qualidades na maneira de ser) e agir (refere-
se à ação desenvolvida).

       2.1. Características humanas da pessoa de Fco.

        a) Disponibilidade. Fco, no início da carta, oferece-se a si mesmo ao ministro: “Dico tibi, sicut
possum”. É uma expressão que por mais vezes se repete nos Escritos. É o jeito de Fco se dar e de querer ser
correspondido. Esta expressão é usada na ctaO, onde Fco fala das Palavras e objetos de culto, pede: “venerem-
nos o melhor que possam (sicut possunt); na Rnb 5,8, referindo-se aos irmãos que pecaram, diz: “mas do
melhor modo que possam -sicut melius possunt - ajudem espiritualmente aquele que pecou”; ainda na Rnb
22,26: “removido todo impedimento e todo cuidado e postergada toda preocupação, do melhor modo que
possam - melius possunt - trabalhem por servir, amar, adorar e honrar ao Senhor Deus com coração limpo...”
(cf. Rnb 22,27).
        O “sicut possum” revela como Fco se colocava totalmente à disposição das pessoas e, numa atitude de
total entrega, buscava responder aos apelos dos irmãos necessitados. Da mesma forma, Fco pede que os irmãos
se entreguem totalmente, que removam todo impedimento e assim se disponham, sem reservas, às suas
solicitações. Essa disposição inicial de Fco na ctaM representa a condição de abertura de um diálogo, a




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possibilidade de escuta e a resposta encontrada da parte do ministro em Fco. Este deixa, assim, o ministro
dispor dele. Na ctaL o santo usa a expressão “sicut mater”!

       b) Decisão e firmeza: Fco escreve: “E aceita-o por verdadeira obediência para com Deus e para
comigo, pois estou certo de que é essa a verdadeira obediência”. Na ctaL ele diz: “do modo que melhor te
parecer agradar ao Senhor”, onde deixa a decisão a Leão. Aqui a solução é apresentada pronta e decidida.
Adiante, no versículo 8 diz: “E isto te valha mais do que a vida em eremitério”. Fco é categórico e decide pelo
ministro que viver entre os irmãos significa viver a obediência (= amar até dar-se!) e que andar num eremitério
não é a melhor solução.
       Esta firmeza aparece também em outros escritos: Test 14.20.25. Na Lp 113 e 114, CA 17 e 18: Quando
alguns irmãos sugerem seguir uma outra Regra, mostra que a Regra não é invenção dele, mas revelação de
Deus! Defende, com firmeza e decisão, o projeto do Senhor. É um zelador pelo dom recebido.

       c) Compreensão e bondade, tanto para com o ministro como para com os irmãos que pecam. É bom e
compreensivo. É esta coerência de vida que lhe dá autoridade no falar e lhe permite ser severo em alguns
momentos sem ferir o interlocutor. Este clima subjaz toda a epístola. A intenção sincera de Fco é a de que o
ministro supere a crise assumindo a situação difícil. Fco não quer que um dos irmãos se perca por falta de
compaixão e de misericórdia.

        d) Escuta e discernimento: a carta toda é fruto da capacidade de auscultar de Fco. A realidade do
ministro nos é conhecida porque Fco soube escutar o seu irmão, penetrar no íntimo dele e compreender o que ali
se passa, de que a alma está povoada. Através de Fco chegamos ao ministro e à sua situação.
        Esta mesma capacidade de escuta se estende a toda a Ordem. Os problemas que os ministros
enfrentavam nas suas províncias eram do conhecimento de Fco. Na nossa carta aparecem propostas de solução
(vv. 13-20) a problemas. Fco manifesta sua capacidade de ouvir, refletir sobre problemas conhecidos a partir
do critério maior que é o Evangelho: faz discernimento, e de propor soluções. Fco foi capaz de ajudar o ministro
a discernir e re-situar-se a partir da ótica da misericórdia porque ele mesmo passara por situações símiles:
- passou por momentos de dúvida: viver num ermo ou na itinerância (1Cel 35,5)
- antes de ouvir os outros ouvia os desígnios de Deus em si mesmo, a partir do plano amoroso do Pai (Test 1-3
e tb 1Cel 35,6).

        e) Acolhimento e realismo. Na visão de Fco, a fraternidade nasce a partir do acolhimento do outro, que é
dom de Deus. O acolhimento consiste numa resposta positiva a uma ação inicial de Deus, que doa irmãos. O
outro, pois, surge como epifania, como manifestação do amor de Deus. À pessoa compete a atitude de
reconhecimento e gratidão, sem jamais querer se apropriar daquele que é propriedade de Deus. A tendência à
apropriação daquilo que pertence a Deus foi uma preocupação constante de Fco (Adm 2). Isto é: querer saber
como o irmão deve ser! Onde fica a Sagrada Caridade para com o Sagrado diferente querido por Deus?
        Fco acolhe o ministro como irmão e fala-lhe do melhor modo que pode. Pede que acolha os irmãos como
são, sem pretender que sejam mais do que o Senhor doou: “E não queiras da parte deles outra coisa, a não ser
o quanto o Senhor te conceder”(v. 6). Esta atitude vivida por Fco fez os jovens estarem à vontade junto dele e
fez a fraternidade se formar. Cuidava de todos. Cada um tinha o seu lugar e valia: saídos de Deus. Pessoas de
todas as classes encontravam acolhida. Dessa compreensão nasce o respeito pela individualidade de cada um:
dom de Deus concedido a mim, a nós.
        Este projeto-Evangelho de Fco constitui-se num ideal que nenhum grupo humano consegue esgotar. Fco
tem consciência da grandeza de seu projeto, que é projeto de Deus. Tem também consciência da pequenez
humana diante deste ideal. Contudo, a pessoa deve persegui-lo, seguindo as pegadas de Cristo como „forasteiro
e peregrino neste mundo‟. Fco crê que a pessoa possa se colocar neste caminho de perfeição. Acredita na pessoa
humana, nas suas possibilidades. Acolhe os irmãos como são e não exige perfeição, que sejam cristãos
melhores. Crê na possibilidade de percorrer o caminho de perfeição.

         2.2. Ação desenvolvida por Fco - sua pedagogia - modo de agir:
        Aqui Francisco emerge como alguém que ajuda, numa situação concreta, a praticar o ideal da
fraternidade, que é o Evangelho. É importante salientar que Francisco tem consciência que foi ajudado e guiado


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pela mão de Deus. Ele foi educado e agora pode ser de ajuda (ex. Test 1-3). Francisco foi transformado porque
consentiu que Deus o conduzisse por um caminho diverso daquele escolhido por ele. Esta mudança exigiu muito
esforço e luta pessoal. Ele fala até em “amargo e doce”. Não foi sem sacrifícios. Conformar a sua vida com a
vontade de Deus, permitir ser guiado pelos caminhos do Senhor, exigiu que Francisco „fizesse violência‟
consigo (cf. 1Cel 17).
       O Ministro também está querendo abandonar uma real situação existencial. Está em tensão. Francisco
não pode concordar com ele, e começa a educá-lo.

        a) Aproveita situações educativas, formativas, que a CtaM nos ensina. Francisco faz o ministro ver que
a sua atual situação o ajuda para descobrir se:
        - vive sem nada de próprio (Adm 2),
        - vive na obediência (Adm 12),
        - tem paciência e humildade (quanta possui): Adm 13 - situação de vida para saber se somos ou não
pacientes. Interessante: ele não diz o que é a paciência, mas que uma das características dos irmãos seja a
paciência. Fco faz a gente se ouvir: quanta paciência você tem? E isto se experimenta na vida de fraternidade,
no dia-a-dia, em particular com as pessoas que nos desafiam, cuja visita nem sempre é como eu esperava,
         - tem PAZ: Adm 15: como saber se tenho paz? Vou saber isso quando tiver que sofrer tribulações.
Problemas de convivência ou tempos de guerra e perseguições. Quais são hoje pessoas de paz?
        Por amor de NSJC conservam a Paz na alma e no corpo.
        Promover a paz - deve-se amar muito, dar a vida. "Não violência ativa". Fco prepara para viver o difícil
- para carregar a cruz. Fazer a experiência de amar, viver o Evangelho, dar a vida. Aprende-se nas situações
reais da vida.
        - é irmão: Adm 14: há uma desarmonia. O relacionamento com Deus deve refletir no dos irmãos. Fco
trabalha o irmão melhorando a vida fraterna. Por causa do Evangelho, e a partir dele, é possível ser irmão! Eis
o anúncio = ser irmão. A relação com Deus se mostra, é anúncio na prática!
        Francisco provoca o Ministro: “E nisto quero reconhecer se tu amas o Senhor e a mim, servo dele e
teu” (CtaM 9). Então, permanecendo entre os irmãos que lhe causam sofrimento é que demonstrará se ama ao
Senhor e a Francisco. A situação que para o Ministro era um impedimento para amar ao Senhor, na visão de
Francisco é a situação de verificação se ama ou não o Senhor e a ele.

        b) Promove a participação - nada de só ficar assistindo e comentando a vida da outra pessoa. Ser mãe e
não juiz. Promover e não condenar. Fazer crescer e não matar ou bitolar. É envolver o frade na solução de seus
próprios problemas e fazê-lo envolvendo-o na solução dos problemas dos demais. (A regra é de todos, CtaM
13). Jacques de Vitry: p.1422. Francisco convida o Ministro para, a partir da sua concreta experiência, ajudar
toda a Fraternidade, já no próximo Capítulo, na melhoria da Regra. Francisco quer submeter as suas idéias ao
parecer dos irmãos (cf. 2Cel 140, 12-15).

        c) Promove a restauração do que estava destruído. (Aqui o artista deve ser respeitado, pois foi Ele que
criou a pessoa!). É muito difícil restaurar! Não esquecer do Théos! „Não querer que o outro seja diferente. O
Senhor o fez e o deu!‟. Não imitar, mas que cada um seja ele mesmo e siga. Ouvir senão teremos boneco/as que
imitam e fazem o que os outros pensam e sugerem. Caridade respeitosa pela sagrada diferença. Francisco
experimentou em si a restauração que o Senhor foi operando. Não é de um momento para o outro. Acolhe as
pessoas como são, dons de Deus, sem delas se apropriar. Fco pede que o Ministro respeite cada irmão na sua
individualidade. E a partir do que são, através do amor e da misericórdia restaurar a imagem de criaturas de
Deus. Sua pedagogia consiste em colaborar com a obra de Deus, amando e respeitando os irmãos assim como
Deus os envia. Fco não rejeita e nem condena ninguém. Ele pretende reparar a imagem destruída ou em ruínas.

        d) Promove o „atrair‟ (Trahere): conquistar para o Senhor (CtaM 11 e PN 5). Amar para atrair. Que o
Ministro pelo amor atraia os outros ao Senhor. Para atrair é preciso mostrar que algo é gostoso. Fco para atrair
alguém até se fazia de palhaço: Ep 61. É não coagir, forçar. A liberdade do outro é respeitada, mas as
exigências são muitas para aquele que deve atrair (Fco atraía, Jesus atraía...). Esta pedagogia é indicada por
Fco, inclusive em relação aos ladrões que roubavam e assaltavam (Ep 66). Atrair os irmãos ladrões ao amor de
Deus.


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2.3. Em que caminho (via) Fco tenta colocar o Ministro?
       Está claro que tanto para Fco como para o Ministro é de fundamental importância “salvar o amor do
Senhor Deus”. Fco afirma que o amor do Senhor deve ser vivido na Fraternidade. Emergem dois pontos: a
presença dos irmãos na conversão de Fco e a dimensão fraterna da vida eremítica. O encontro com Deus
implica num encontro com os irmãos. Por fim, veremos que Fco pretende colocar o ministro na via da
obediência segundo o modelo de Jesus Cristo. Considerações, a partir da vivência de Fco.

         2.3.1. A presença do irmão na conversão de Fco: No Test, Fco divide a sua vida em dois momentos:
quando lhe era amargo olhar para leprosos e quando a amargura já fora transformada em doçura da alma e do
corpo. A pessoa do irmão leproso está colocada no centro do processo de conversão. A capacidade de olhar
para o rosto de um irmão é que marca a linha divisória de um tempo e de outro na vida de Francisco. E, assim,
começa como que um novo tempo, uma nova vida. A conversão de Francisco não significou uma separação da
pessoa, mas um encontro com a pessoa humana, sobretudo com as que estavam à margem da história de Assis.
Fco já tinha vivido encontros com pobres. Mas esse foi decisivo.
         O “exivi de saeculo” em Francisco correspondeu a uma mudança de comportamento em relação às
pessoas. Primeiro os combatia através da guerra, agora, depois de um combate consigo mesmo, buscando
obedecer a Deus, Francisco vê na capacidade de acolher e olhar para o rosto de irmãos a resposta aos apelos da
graça, que conduz (conduxit) ao encontro das pessoas. “A trajetória seguida da graça na conversão de
Francisco não é uma exceção; mas segue o modo usual da economia da sa1vação (cfr. Is 58, 1-12). Andar ao
encontro do/a irmão/ã, sobretudo do/a irmão/ã mais miserável, significa caminhar em direção de Deus. Cristo
nos espera sempre em cada pessoa que tenha necessidade de nós (Mt 25, 31-46).

        O plano de Deus revelou-se a Francisco também na chegada dos irmãos. Inicialmente Francisco apenas
quer viver o Evangelho. Com a chegada dos irmãos Francisco é chamado por Deus a orientar a sua vida não
segundo um projeto pessoal, mas segundo o mesmo projeto inicial de Deus, compreendido agora de uma forma
mais plena. O "E depois que o Senhor me deu irmãos" faz parte do "começar a fazer penitência”. Este processo
não é revelado num só momento, mas progressivamente por Deus. E será com os irmãos e através dos irmãos
que Deus continuará a revelar a Francisco o seu plano de amor, como o próprio Francisco continua dizendo:
"ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que deveria viver segundo a
forma do santo Evangelho” (Test 14-15). Com e através dos irmãos Fco deve continuar a ouvir o que Deus
queria dele e para os irmãos.
        Para S. Francisco, a vida de obediência ao Senhor implicou gradativamente uma profunda obediência
aos irmãos. Acolher o plano de Deus significou acolher os irmãos que o Senhor lhe enviou, e na obediência da
caridade seguir as pegadas daquele que foi o modelo de obediência a Deus. Na ctaM o empenho de Francisco é
o de colocar o ministro na via da obediência de Cristo, com a finalidade de resgatar as ovelhas perdidas,
morrendo para si mesmo e assim ganhando a vida eterna.

        2.3.2. Dimensão fraterna da vida eremítica. O ministro quer andar num eremitério e Francisco
compreende que é melhor para a alma do ministro permanecer entre os irmãos. A vida eremítica concebida por
Francisco é também vivida comunitariamente, na obediência recíproca. A forma da vida eremítica concebida
por Fco não se identifica com a dos anacoretas, mas supõe a vida fraterna-materna, inspirada em Lc 10, 38-42.
        O Ministro, mesmo vindo a abandonar a sua Fraternidade e indo para o eremitério, se encontraria
diante dos mesmos desafios evangélicos que enfrentava como ministro de uma província. Também ali no
eremitério seria chamado a viver a obediência a Deus na obediência recíproca entre as Martas e Marias. A
mesma vida que queria abandonar para amar a Deus encontraria no eremitério.

         2.3.3. Obediência a Deus na via de Jesus Cristo. Veremos agora a via espiritual que Fco, como guia
espiritual, propõe ao Ministro.

        a) No caminho da verdadeira obediência. Fco pede que o Ministro permaneça na sua fraternidade,
porque considera ser essa atitude a verdadeira obediência. Na Adm 3 reflete sobre isso. É a via percorrida por
Jesus: Jo 15,13. Tem maior amor aquele que é capaz de dar a sua vida pelos seus amigos (irmãos/ãs). Sua


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conseqüência é a perfeita obediência. Adm 8-9: amor, obediência, cruz, perfeita, verdadeira alegria.
Quem dá sua vida? - Quem tem amor maior. Obediência Perfeita = amor maior. Hoje existe o medo do
definitivo, medo de amar. É a estrada da profunda comunhão com Deus e os irmãos. Esta proposta não é de
Fco. É de Jesus Cristo.
Exigências do amor: doação, sacrifício, desprendimento, despojamento, perder-se, morte, cruz, martírio,
sofrimento... É Obediência perfeita: dar a vida pelo irmão, como Jesus o fez.
         Este amor não era amado. É amor eterno: sempre tem tempo para doação, e oportunidades. É um sofrer
conseqüências do Amor e não de injustiça. Não é um sofrer punição. É livre, por causa do Evangelho. Quando
Fco pede para “obedecer ao Senhor e a mim” pede para amar. Sem amor não há obediência e não se é capaz de
fazer nada com alegria. Fco quer colocar o Ministro na estrada do amor. Este amor distingue! Engraçado: o
mais difícil é aquilo no qual não acho significado.
         É preciso treinar o amor. Exige autoviolência. É caminho da porta estreita. Aqui ganhamos ou
perdemos nossa vida. Rnb 22, 2-4; Adm 6, 1-2: para isso é preciso ter muito amor. Amando aqueles que nos
perseguem amamos do mesmo modo que Cristo amou. É a via da porta estreita (Mt 7,14; Rnb 11, 13). Isto
exige esforço e luta consigo mesmo. Essa via foi percorrida por Fco que lutou consigo mesmo para transformar
o amargo em doçura da alma e do corpo. Deixar-se conduzir por Deus implica abandonar o próprio caminho.
Somente quem se dispõe a carregar a cruz no seguimento de Cristo conseguirá conformar o seu caminho com o
de Cristo. É um esvaziamento de si e disponibilidade a Deus.

        b) Caritativa obediência: obediência da caridade (lPd 1,22). Consiste no sacrifício da própria vontade a
Deus e no cumprimento do que o prelado ordena, agradando assim a Deus e ao próximo (Adm 3, 5-6).
Fundamenta-se em Jesus no Horto: "Não a minha, mas a tua vontade". Jesus sacrifica a sua vontade. Esta pode
ser disciplinada. Fco diz ao Ministro: „fica entre os irmãos e sacrifica a tua vontade a favor de Deus e de mim,
agradando assim a Deus e ao próximo‟. É um amor recíproco, onde ninguém é prior; um lava os pés do outro.
Ninguém precisa ter vergonha dos seus limites. Todos são caminheiros e ajudantes na jornada. “E nenhum
irmão faça mal a outro ou diga mal dele; muito pelo contrário, através da caridade do espírito, sirvam e
obedeçam uns aos outros (Gl 5,13) de boa vontade” (Rnb 5, 13-14).

         c) Peregrinar na fraternidade: Fco diz: “Se não buscar misericórdia, pergunta-lhe se quer obter
misericórdia” (10). A idéia é a de não esperar, mas de ir, movimentar-se ao encontro do irmão. Quem tem que
ter a iniciativa? Fco fez a experiência do Senhor que foi ao seu encontro, foi visitado pelo Senhor. O Senhor o
enviou entre os leprosos. Ali começou a fazer e a ter misericórdia por eles. Envia os frades aos outros.
         Assim como o Senhor todos os dias vem ao nosso encontro em humilde aparência (Adm 1, 16-18), Fco
se sente em missão para anunciar a vida do Filho.
         Os ministros, por sua vez, devem visitar (visitent) os frades espalhados nas províncias (Rnb 4, 1-2 e Rb
10,1), e "admoestá-los espiritualmente”. A dimensão itinerante do projeto evangélico de Francisco deve ser
vivido também dentro da fraternidade, na procura dos irmãos, na iniciativa em direção daquele que necessita de
misericórdia.
         Sempre é tempo para ser fraterno e viver o Evangelho e de ajudar o outro a vivê-lo.
         Beneditinos - esperavam as pessoas.
         Frades - vão ao encontro do povo. É como o comércio, não tem estação. Vai. A roça tem a sua estação.

        d) Viver 'sine próprio': caminho da desapropriação. Não querer que sejam cristãos melhores, não
perturbar-se, acolher o que o Senhor dá. Adm 11. O Ministro não permanece sereno diante do pecado do irmão.
Perturbar-se significa querer mais do que o Senhor concede! É também não aceitar a pessoa como é, mas querer
que seja de acordo com a minha própria vontade. Isso é apropriar-se; exigir que alguém seja aquilo que eu
desejo que fosse. É a via do total despojamento. Cristo veio a nós!
        É preciso sair da superficialidade dos relacionamentos - isto até os pagãos fazem: dar para receber! É
preciso entrar no caminho de Deus que é cortês: faz chover, brilhar o sol: não consegue querer mal. É fonte de
bem. Devemos participar do bem que Deus é: 2ctaF 26-27.
        e) Resgatar os que estão perdidos. Mt 9,12: os doentes precisam de médico; Rnb 5,7-8. O que fazer
com os que pecam?



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- misericórdia         - manter oculto - não difamar             - não envergonhar
- não perturbar-se     - não enraivecer-se      - ajudar espiritualmente.

        Francisco propõe que a missão de Jesus seja a missão da Fraternidade. A via na qual Francisco quer
colocar o ministro é a via de Cristo que veio a este mundo para salvar os pecadores e não para condená-los.
Tendo misericórdia dos irmãos que pecam o ministro segue as pegadas de Cristo que usou de misericórdia para
com os pecadores.

        Qual penitência dar ao que pecou? "Vai e não peques mais" (v. 20). Só dar esta penitência! Foi a única
que Cristo deu à Adúltera! É a penitência mais dura que Jesus deu!

         f) Regra de ouro; Mt 7,12: ctaM 17. Para Fco é norma de relacionamento entre os irmãos. Rnb 4, 4;
10,1; 6,2; Adm 18,1; 2ctaF 28-29. Assim, Fco transformou este versículo do Evangelho em norma de vida para
o amor recíproco na Fraternidade: colocar-se sempre na situação e nas condições do outro e agir com lógica
cristã. Fco fez assim.
         S. Francisco convida seus irmãos, através desse texto do Evangelho, a constantemente sair de si
mesmos e entrar no mundo do outro, fazendo suas as preocupações e necessidades dos irmãos. Significa
transformar o outro em sujeito de minhas atenções, vivendo o preceito do amor fraterno. Pode-se novamente
perceber o quanto para Francisco o “exivi de saeculo” significou um profundo encontro com a realidade de vida
dos irmãos, dando a vida pelos outros, a exemplo de Cristo. Foi um sair da lógica do século, de Assis e um
participar da lógica de Deus-Amor, revelado na pessoa de Jesus Cristo.

        g) Caminho da vida eterna: Rnb 22,1-4. Considerar tudo como graça. É o caminho das tribulações,
pancadas, morte... Este caminho foi realizado na perfeita obediência de Jesus com o Pai por amor a nós: é o
caminho do amor, de Deus. Este caminho das tribulações injustas é o caminho que conduz à vida eterna (Rnb
22, 3-4 e 2ctaF 11). A via das tribulações, do martírio, do sofrimento foi a via na qual Deus manifestou em
Jesus Cristo a plenitude do seu amor para com as pessoas, oferecendo-se “como sacrifício e hóstia no altar da
cruz” (2ctaF 11). Jesus Cristo conformou sua vontade com a do Pai que o enviou. Isto Ele fez não para si
mesmo, mas pelos nossos pecados (2ctaF 12-13). A vida eterna será conseqüência da resposta ao amor de
Deus. A vida eterna para Francisco é o próprio Deus: “Tu és nossa eterna vida” (LDA 6). O encontro com
Deus se dá pela via da completa expropriação da pessoa de si mesma e no oferecimento do corpo para carregar
a cruz de Cristo
        Neste caminho se promove a vida, se restaura, se forma e se acompanha. E há ressurreição. Fco tem
autoridade porque assim viveu.
        PENSAR: se S. Fco quisesse me colocar neste caminho, como eu reagiria? E Francisco pede para amar
o frade mais que a ele mesmo.
        Se o irmão que peca não tomar a iniciativa de pedir perdão o ministro não deve esperar passivamente,
mas dirigir-se a ele e pedir se não quer o perdão. A prática do amor exige um movimento em direção ao outro
para salvá-lo.

        III. Conteúdo espiritual teológico da CtaM

a) Graça e tribulações. Aqui se pode ver como as tribulações são momentos de graça.

b) Misericórdia e perdão:
      - Deus é misericórdia, que salva e perdoa;
      - A misericórdia e o perdão de Deus manifestados em Jesus Cristo
      - A Resposta humana:
      - procedimento do irmão que comete pecado
      - procedimento da fraternidade; - procedimento do Ministro.
                                                              Revisto na Festa de São Boaventura 2011.Jim.




                                                                                                    10

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Carta ao ministro : resumo da tese de Inácio Dellazari

  • 1. Carta a um Ministro (CtaM) Resumo Tese de Frei Inácio Dellazari. Já sabemos que o caminho privilegiado para chegarmos ao coração de Francisco são os seus Escritos. Através da CtaM vamos nos aproximar mais do coração de Francisco (Fco). E estudaremos a Carta através da janela “Fraternidade”. A intenção central será a de colher a imagem de Fco como Guia humano e espiritual. Na verdade é uma tentativa de chegar a Francisco, ao seu coração, através da CtaM. I: Contexto da carta a um Ministro (CtaM). 1. Contexto da Ordem á luz da CtaM. Através da própria carta é possível saber qundo foi escrita e traçar as características gerais da Ordem. 1.1. Origem e evolução do projeto evangélico revelado a Fco pelo Altíssimo. Na origem do movimento franciscano está a experiência de conversão de Fco de Assis. Onde está o nascedouro da sua vida. Esta experiência foi compreendida por Fco como o resultado da iniciativa de Deus em sua vida: “Dominus ita dedit mihi fratri Francisco incipere faciendi poenitentiam”(Test 1). Esta experiência de conversão Fco a fez, inicialmente, sozinho, diz: “o Senhor concedeu a mim!” Estamos nos anos 1204-1208. Depois desse período de mais ou menos 4 anos, no qual Fco se encontrava sozinho diante do chamado de Deus, sucedeu o segundo momento importante de sua vida que é a chegada dos irmãos. Assim o interpreta Fco: “E depois que o Senhor me deu irmãos” (Test 14). É a segunda vez que o Senhor concede a Fco. Assim Fco mesmo se coloca na origem como instrumento de uma obra de Deus e na origem de uma fraternidade também de Deus, Dom dele, do Senhor. Em torno de 1209, já com 11 irmãos, Fco escreve com „breves e simples palavras‟ o projeto inicial de vida, composta de expressões do Evangelho (1Cel 32). Vão a Roma pedir ao Papa aprovação dessa vida. O Papa abençoa seu pedido e envia (1Cel 33). Desta maneira Fco confiou o projeto inspirado por Deus à aprovação do Papa, à Igreja. A Fraternidade desde o seu início vem marcada pela característica eclesial. Esta é a novidade e o elemento distintivo deste movimento de tantos outros existentes na mesma época. Diz Esser: “...a novidade que distanciou Fco e os seus frades de todos os fenômenos contemporâneos afins: a sua fidelidade à ortodoxia e a sua devoção de matriz eclesial”( Il Test, 133). Fco está convencido que recebeu uma missão divina (Dominus dedit mihi – O Altíssimo me revelou) e pede a confirmação do Papa para viver esse projeto. Retornando de Roma viveram como peregrinos e forasteiros, com o exemplo e com breves sermões anunciavam a paz e penitência (Test 23; Rb 6,3; Rb 9,4). Quando interrogados de onde vinham e quem eram respondiam: somos penitentes da cidade de Assis‟ (3C 37,7). No primeiro decênio de vida a Fraternidade cresceu rapidamente. Isto deveu-se principalmente à pessoa de Fco. Eles, conforme Giacomo de Vitry, “imitam claramente a forma de vida da Igreja Primitiva e a vida dos Apóstolos. São enviados dois a dois a pregar” (p. 1423.24.25). Aceitam todos os livres nas suas fileiras (Jacques de Vitry, p. 1425). Esta expansão aconteceu sem uma devida formação, pois ainda não havia Noviciado, o qual foi introduzido só em 1220. O crescimento numérico dos frades exigiu uma nova organização da fraternidade. Essa é dividida em Províncias (1217), tendo à frente um Ministro. Sua função é estabelecida na Rnb 4,1-6 e Rb 10,1-7. Esta divisão em Províncias é algo novo na época de Francisco. Mostra, assim, sua capacidade de adaptação a situações novas! Enquanto aumentava o número de frades, a legislação da fraternidade sofria transformações. Disto fala Fco na CtaM. O termo deste processo foi 1223, ano no qual foi aprovada a Regra definitiva (Solet annuere, 23.11.1223). A CtaM foi escrita quando a Ordem se encontrava nesse período histórico no qual já está dividida em Províncias, Fco era guia dos Irmãos através dos Ministros, mas ainda não havia uma legislação definitiva. 1
  • 2. 1.2. Os Capítulos. Característica fundamental do movimento franciscano, impressa por Fco, foi a condição de „itinerantes neste mundo‟. Fundamentado no seguimento de Cristo que „foi pobre e peregrino‟, Fco enviava os frades dois a dois pelo mundo para anunciar a paz e a penitência para a remissão dos pecados (1Cel 29; ainda: Rnb 9,13; 15,1; 14,1; 16,5). O Capítulo e a vocação itinerante devem ser compreendidos juntos. O Capítulo, na origem da Ordem, representou a instituição que reunia a Fraternidade itinerante. Dos Escritos de Fco a ctaM é aquele que mais contém referências à função dos capítulos. Na Rnb vem dito que o Capítulo é a ocasião para tratar das coisas que se referem ao serviço de Deus (18,1). Sobre os Capítulos nos fala Jacques de Vitry: “Uma vez por ano, os homens desta Ordem se encontram num lugar combinado para se alegrar no Senhor e comer juntos: e é de grande proveito para todos. Valendo-se do auxílio de conselheiros corretos e virtuosos, redigem, promulgam e levam à aprovação do Senhor Papa santas instituições; em seguida, se separam novamente por um ano e se espalham através da Lombardia, Toscana, Apúlia e Sicília” (p. 1422). Também na LTC 57, 1-3; 1Cel 39, 2. O que estes textos nos dizem sobre o Capítulo? Numa fraternidade itinerante eles representavam o elo de união e a ocasião, o novo e qualificado impulso da dispersão pelo mundo, dois a dois. Com alegria os irmãos retornavam aos Capítulos. Fco estabelecia laços espirituais e afetivos entre os frades. Isto os mantinha unidos espiritualmente. Assim, os Capítulos reuniam os frades dispersos e, ao mesmo tempo, enviava-os pelo mundo, nas diferentes regiões. Eram ainda ocasião de reflexão sobre a práxis da fraternidade, experimentadas no dia-a-dia da missão. Confrontavam a prática com o ideal proposto pela Regra; adaptações eram feitas, sempre de acordo com as necessidades reais das novas situações da fraternidade. Ainda: representavam o momento do encontro com Fco. O Santo ouvia, encorajava e admoestava os irmãos. Em suma, os capítulos eram a expressão da participação de todos no concretizar da Regra. Eram momentos onde a Fraternidade, animada por Fco, re-elaborava as normas de vida; juntos agiam na concretização do ideal evangélico de vida. 1.3. Data da CtaM. Considerando o conteúdo da carta e o que foi dito acima, podemos dizer com segurança que ela foi escrita entre os anos 1217 e 1223. Não antes de 1217, data que marca a divisão da Ordem em Províncias, nem depois de 1223, data da aprovação da Regra. 1.4. Origem da carta. O que motiva Fco a escrever esta carta é a situação real de um Ministro: vive em dificuldades no exercício de sua missão entre os irmãos. Dirige-se, por isso, a Fco. Este lhe responde refletindo sobre os problemas que lhe afligem a alma e sobre os problemas pelos quais passa a Fraternidade. É uma carta que nasce da realidade da vida dos frades e está orientada para esta mesma realidade: pretende ser a orientação do Evangelho, que é a Regra e a vida, para a real situação de vida da Fraternidade. 2. A carta a um Ministro no contexto das Cartas de Fco. Fco foi guia também através de cartas. Não quis ser escritor. Considera-se “ignorans et idiota” (iletrado – CtaO 39). Escreve, por quê? “Sendo servo de todos, tenho por obrigação servir e ministrar a todos as odoríferas palavras de meu Senhor. Por isso, considerando em meu espírito que não posso visitar a cada um pessoalmente por causa da enfermidade e fraqueza do meu corpo, resolvi transmitir-vos por meio da presente carta e de mensageiros as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Palavra do Pai, e as palavras do Espírito Santo, que são espírito e vida (Jo 6,64)” (2ctaF 2-3). Entre outros elementos, Fco fala da sua missão itinerante, e mostra que ele mesmo não se pertence. Internamente Fco se sente impelido a anunciar as palavras do Senhor, que na sua experiência, são como um suave perfume. Dessa palavra Fco fez-se servo e transformou-se num apóstolo. Esse zelo apostólico manifesta-se em Fco como uma obrigação. Este anúncio era feito nas suas andanças, na pregação itinerante. A doença e a fraqueza impediram-no. O desejo de continuar anunciando as palavras e a vida do Senhor continuou vivo dentro de Fco (ardia dentro dele). Esta é a razão do escrever cartas. É o anúncio escrito. Com o objetivo de ampliar a compreensão da figura de Fco, a seguir veremos como Fco se relaciona com todas as pessoas, com os frades e seu modo de se relacionar com uma pessoa só. Isto, através das cartas (o foco é o de buscar o ser e o agir de Fco). 2
  • 3. 2.1. Fco diante de todas as pessoas. Nas „cartas circulares‟ percebe-se que, com a sua conversão, não se afastou do mundo ou das pessoas de seu tempo (ver 2ctaF,1; ctaGov,1). A forma e a ordem de Fco nomear as pessoas segundo sua condição social revelam um conhecimento da organização social e um interesse por cada pessoa ou classe de pessoas. Isto transparece na Rnb 23,7. Fco vê a pessoa concreta. Nada de anonimato (na 2Cel 89: ocupa-se com a situação de uma pessoa concreta! e 90 Fco é apresentado como resposta para todos, através da sua atitude). Esta relação é um dever e um direito missionário para Fco. A via ou a mística que Fco propõe e segue emergiu da sua experiência de fé, que ele viveu apaixonadamente (2ctaF, 54-56). Vê-se que não é um programa criado pela inteligência, mas experimentado a partir da fé. Fco entendeu o valor que cada pessoa tem para Deus. Deseja que todos façam a experiência do quanto o Senhor é suave (bom) (2ctaF, 16). O modo como Fco se apresenta é característica sua: como servo menor: “Frei Francisco, servo e súdito de todos estes, com reverente submissão, deseja a verdadeira paz do céu e sincera caridade no Senhor”(2ctaF,1); “Frei Francisco, vosso pequenino e desprezível servo no Senhor, deseja saúde e paz”(ctaG,1). Esta sua atitude de menor aparece claramente quando ele se inclui nas exortações que faz. Usa habemus, faciamus, diligamus, debemus (Ex. Adm 6). Não é só anúncio para os outros, mas ele mesmo se inclui nos destinatários. Contudo, quando se refere àqueles que não fazem penitência e que querem permanecer no pecado, não se inclui: “vede, ó cegos, ó iludidos pelos vossos inimigos” (ex.: 2CatF 69). 2.2. Fco diante dos Frades. Cartas à Ordem. Fco tinha uma capacidade singular de discernimento e um sentido das situações (cf. ex.: 2Cel 57). Diante de situações e compromissos diferentes, as exigências devem também ser diferentes: “Especialmente os religiosos, que renunciaram ao mundo, são obrigados a fazer mais e maiores coisas, mas sem deixar (cf. Lc 11,42) estas” (2ctaF, 36 – ler 32-36). Diante dos Irmãos, Fco mantém a mesma sua atitude de menor e servo de todos (CtaO, 3 e 38-39). Nomeia cada frade segundo sua condição, mas com um detalhe significativo: acrescenta uma sua qualidade/virtude: “e a todos os ministros e custódios, aos humildes sacerdotes da mesma fraternidade em Cristo e a todos os irmãos simples e obedientes, aos primeiros e aos últimos”(CtaO, 2). Este termo in Christo humilibus, considerando a compreensão de Fco da Eucaristia como prolongamento do mistério da Encarnação que se atualiza sobre o altar nas mãos do sacerdote - mistério da humildade de Deus -, e como sacramento no qual Deus continua se humilhando na história, tem um significado muito profundo. De fato, é o que diz nos vv. 23-29. Aqui Fco revela a sua capacidade de olhar em profundidade (olhar contemplativo) e perceber aquilo que é fundamental na vida de cada frade. Da mesma forma acontece quando nomeia “todos os irmãos simples e obedientes”. No Elogio das Virtudes “a pura e santa simplicidade” é apresentada como aquela virtude que confunde toda a sabedoria da carne e a obediência, irmã da santa caridade (v. 3), que confunde todos os desejos dos sentidos e da carne (maquinações) e traz o corpo mortificado na sujeição ao espírito e na obediência ao seu irmão e faz o homem submisso a todos os homens deste mundo (EV 10.14-15; “Eu vim para servir e não para ser servido”!). Tanto a obediência como a simplicidade vem contrapostas ao espírito da carne, isto é, à tendência interna pecaminosa da pessoa, ao espírito que mantém a pessoa fechada egoisticamente a si mesma. Associando as virtudes da simplicidade e da obediência a todos os frades, Fco está se referindo à identidade fundamental do frade menor de obedecer à voz do Espírito do Senhor que santifica o coração da pessoa, mantendo-o unido às outras na obediência mútua. A partir dessa singular forma de Fco nomear irmãos sacerdotes e todos os outros frades, unindo aos primeiros a virtude da humildade e a todos os outros as virtudes da simplicidade e da obediência, pode-se compreender o modo como Fco olhava para cada irmão. Ele os vê a partir da vocação divina, da condição fundamental de criaturas de Deus, que encontram na humildade, na obediência e na simplicidade de Cristo o modelo para responder ao chamado: seguir as pegadas de NSJC. Francisco que caracteriza-se pela sua forma humana e terna de relacionar-se, no final da CtaO assume uma atitude enérgica, firme e decidida (v 44-46) Francisco está enfrentando uma situação da qual Jacques de Vitry se referia em na carta escrita no ano de 1220. O número crescente dos irmãos, o problema de vagar pelo mundo de forma não evangélica, em resumo, uma vida em contradição com o ideal prometido. Esse texto da CtaO parece ser o texto que contém as 3
  • 4. palavras mais duras de S. Francisco. Convém, no entanto, notar que Francisco começa fazendo uma confissão pública (vv.38-39); segue-se o pedido ao ministro geral que a Regra seja observada (v. 40-42); no seguinte Francisco promete observar a Regra e cuidar que os que com ele estão também observem a Regra (43); segue o momento das palavras duras que dirige aos que não querem observar a disciplina da Regra (v. 44-46); segue a sua atitude característica de reconhecer-se o menor de todos, “inútil e indigna criatura do Senhor Deus" (v. 47). Observando a seqüência Francisco termina na mesma atitude que começou, ou seja, o reconhecimento de pecador e indigna criatura do Senhor. Entre dois momentos em que se reconhece indigno diante de Deus e dos irmãos, introduz uma admoestação dura contra os que não fazem “caso da disciplina da Regra". Francisco admoesta, mesmo com palavras duras, sem faltar com a caridade. Ele coloca-se como o primeiro destinatário da própria admoestação, reconhecendo-se um dos irmãos, para num segundo momento dirigir também aos outros. Essa forma de agir foi em Francisco uma atitude de vida, atitude que lhe dava autoridade diante dos irmãos. 2.3. Fco diante de pessoas particulares. Estas cartas mostram a capacidade que o Santo tinha de manter uma relação interpessoal. Exemplo disso são a ctaL, a ctaM, a ctaA. Estas cartas mostram a sua relação fraterno-maternal: respeita a consciência individual, ouve com atenção as dificuldades e sabe entender a situação do confrade e sabe se colocar à sua disposição. II: Francisco guia humano e espiritual 1. Situação existencial do Ministro, que é a situação de toda Fraternidade. 1.1. O problema e a sua origem. O problema crucial que o Ministro vive é sintetizado por Fco pelo “impedimentum amare Dominum Deum”: „coisas que te impedem de amar o Senhor Deus‟ (v. 2). Esse parece ser o problema fundamental que fez o Ministro escrever a Fco pedindo ajuda. É uma situação que o Ministro vive com muita intensidade, pois pretende até abandonar a fraternidade e ir a um eremitério. A origem das dificuldades que o Ministro encontra no amor do Senhor se situa no contexto da fraternidade, da qual ele foi constituído ministro e, como servo, tem a obrigação de “animar e exortar espiritualmente os irmãos” e cuidar para que nenhum se perca “por sua culpa e mau exemplo” porque deverá “prestar contas no dia do juízo perante Nosso Senhor Jesus Cristo”(Rnb 4,6). Fco, radicalizando o problema, disse ao ministro: “Tudo deves ter como graça, até mesmo se te açoitarem” e ainda “bem como aqueles que te opuserem obstáculo, irmãos ou outros” (v. 2). Dessas palavras de Fco podemos concluir que a origem do problema do ministro se encontra no difícil relacionamento na fraternidade com alguns irmãos. Parece que houve um conflito que repercutiu negativamente na vida do ministro. Ele vive numa situação de dificuldades de aceitar esses mesmos irmãos assim como são, pois diz Fco: “Não queiras da parte deles outra coisa, a não ser o quanto o Senhor te conceder” (6), como também “e não queiras que sejam cristãos melhores” (v. 7). A proposta de solução que o ministro sugere a Fco é de salvar o seu relacionamento com Deus abandonando os irmãos e passar a viver num eremitério. Isto é fácil deduzir quando Fco diz:“E considera isto mais do que um eremitério” (v. 8). 1.2. Significado do problema. Ao centralizar o problema na questão do «amor do Senhor», o ministro revela ter consciência daquilo que é fundamental em sua vida, conforme s. Fco: “Mas na santa caridade que é Deus (cf. 1Jo 4,16), rogo a todos os irmãos, tanto aos ministros como aos outros, que, removido todo impedimento e todo cuidado e postergada toda preocupação, do melhor modo que puderem, esforcem-se por servir, amar, honrar e adorar o Senhor Deus com o coração limpo e com a mente pura, pois é isto que ele deseja acima de tudo” (Rnb 22, 26). O mesmo é dito em Rnb 23, 10 e 11. O ministro vive numa situação na qual encontra dificuldades „no amor do Senhor Deus‟ e aqui Fco pede para remover tudo aquilo que impede de amar ao Senhor. Parece que o ministro tem uma consciência clara da sua missão e é exatamente por isso que entra em crise. É porque busca viver com sinceridade a vocação pessoal que entra num conflito existencial. 4
  • 5. No Testamento Fco deixa perceber que no processo de sua conversão passou por dois momentos significativos. O primeiro consiste na „graça de iniciar uma vida de penitência (“Dominus ita dedit mihi Fratri Francisco incipere faciendi poenitentiam”); o segundo momento aconteceu quando da chegada dos irmãos (“et postquam Dominus dedit mihi de fratribus”). Por esta situação está passando o ministro. Ele recebeu uma chamada pessoal divina e está sendo convidado a viver essa vocação no serviço aos irmãos, que também são dons como o é a vocação pessoal inicial. O problema do ministro surge quando ele não mais consegue integrar esses dois momentos numa única resposta. Fco consegue ajudar o ministro porque ele viveu essa poenitentiam concedida pelo Senhor. Ele tem todas as condições para ajudar o ministro a compreender a situação existencial-espiritual. Veja bem: concedida pelo Senhor! Não somos nós, por nós, apoiados em nós, que somos capazes do amor, e do amor maior! 1.3. Textos que refletem situações semelhantes à do ministro. Estes textos nos dirão que a realidade vivida pelo ministro não era única na Ordem, mas que se insere no contexto da vida dos frades, contudo, guiados por Fco, buscavam viver o Evangelho de NSJC. Fco repetir-se-á nestes textos. Teremos uma compreensão mais ampla do pensamento do Santo e da sua maneira de agir com os irmãos. Veremos os textos mais significativos. a) “Pois, quem prefere sofrer perseguição a separar-se de seus irmãos permanece verdadeiramente na perfeita obediência, porque expõe a sua vida (cf. Jo 15,13) em favor dos seus irmãos” (Adm 3,9). Aqui Fco reflete sobre a relação súdito x superior e aplica o que na ctaM diz ao ministro. Para ambos a perfeita obediência consiste em permanecer junto com os irmãos, mesmo que custe sofrimento e perseguição. Nós, muitas vezes, quando a relação fica difícil... pedimos transferência! Fco não concorda. b) “E cuidem todos os irmãos, tanto os ministros e servos como os demais, para não se perturbarem ou se irritarem por causa do pecado ou do mal do outro, porque o demônio quer, por causa do pecado de um só, corromper a muitos, mas ajudem espiritualmente, como melhor puderem, aquele que pecou, porque não são os sadios que precisam de médico, mas os enfermos (cf. Mt 9,12; Mc 2,17)” (Rnb 5,7-8). Trata-se dos irmãos que pecam, que também é a realidade da ctaM. Fco repete a citação bíblica de Mt 9,12. Na ctaM, no v. 15 Fco pede para „guardar o máximo de segredo‟, „não difamá-lo‟; aqui Fco pede para „não turbar-se ou irar-se‟ mas para „ajudar espiritualmente‟. c) Outros textos: Rnb 22,3-4; Adm 11,1-3; 9,2-3. A partir destes textos podemos perceber que a situação do ministro é uma questão para toda a fraternidade. A atitude de Fco em relação aos que pecam é idêntica. 2. Resposta humana de Fco. Quais são as características humanas de Fco enquanto guia, qual o seu modo de ser, como ele foi irmão. Aqui vamos procurar resgatar a figura histórica de Fco. Veremos como Fco foi uma resposta humana diante do ministro na sua maneira de ser (qualidades na maneira de ser) e agir (refere- se à ação desenvolvida). 2.1. Características humanas da pessoa de Fco. a) Disponibilidade. Fco, no início da carta, oferece-se a si mesmo ao ministro: “Dico tibi, sicut possum”. É uma expressão que por mais vezes se repete nos Escritos. É o jeito de Fco se dar e de querer ser correspondido. Esta expressão é usada na ctaO, onde Fco fala das Palavras e objetos de culto, pede: “venerem- nos o melhor que possam (sicut possunt); na Rnb 5,8, referindo-se aos irmãos que pecaram, diz: “mas do melhor modo que possam -sicut melius possunt - ajudem espiritualmente aquele que pecou”; ainda na Rnb 22,26: “removido todo impedimento e todo cuidado e postergada toda preocupação, do melhor modo que possam - melius possunt - trabalhem por servir, amar, adorar e honrar ao Senhor Deus com coração limpo...” (cf. Rnb 22,27). O “sicut possum” revela como Fco se colocava totalmente à disposição das pessoas e, numa atitude de total entrega, buscava responder aos apelos dos irmãos necessitados. Da mesma forma, Fco pede que os irmãos se entreguem totalmente, que removam todo impedimento e assim se disponham, sem reservas, às suas solicitações. Essa disposição inicial de Fco na ctaM representa a condição de abertura de um diálogo, a 5
  • 6. possibilidade de escuta e a resposta encontrada da parte do ministro em Fco. Este deixa, assim, o ministro dispor dele. Na ctaL o santo usa a expressão “sicut mater”! b) Decisão e firmeza: Fco escreve: “E aceita-o por verdadeira obediência para com Deus e para comigo, pois estou certo de que é essa a verdadeira obediência”. Na ctaL ele diz: “do modo que melhor te parecer agradar ao Senhor”, onde deixa a decisão a Leão. Aqui a solução é apresentada pronta e decidida. Adiante, no versículo 8 diz: “E isto te valha mais do que a vida em eremitério”. Fco é categórico e decide pelo ministro que viver entre os irmãos significa viver a obediência (= amar até dar-se!) e que andar num eremitério não é a melhor solução. Esta firmeza aparece também em outros escritos: Test 14.20.25. Na Lp 113 e 114, CA 17 e 18: Quando alguns irmãos sugerem seguir uma outra Regra, mostra que a Regra não é invenção dele, mas revelação de Deus! Defende, com firmeza e decisão, o projeto do Senhor. É um zelador pelo dom recebido. c) Compreensão e bondade, tanto para com o ministro como para com os irmãos que pecam. É bom e compreensivo. É esta coerência de vida que lhe dá autoridade no falar e lhe permite ser severo em alguns momentos sem ferir o interlocutor. Este clima subjaz toda a epístola. A intenção sincera de Fco é a de que o ministro supere a crise assumindo a situação difícil. Fco não quer que um dos irmãos se perca por falta de compaixão e de misericórdia. d) Escuta e discernimento: a carta toda é fruto da capacidade de auscultar de Fco. A realidade do ministro nos é conhecida porque Fco soube escutar o seu irmão, penetrar no íntimo dele e compreender o que ali se passa, de que a alma está povoada. Através de Fco chegamos ao ministro e à sua situação. Esta mesma capacidade de escuta se estende a toda a Ordem. Os problemas que os ministros enfrentavam nas suas províncias eram do conhecimento de Fco. Na nossa carta aparecem propostas de solução (vv. 13-20) a problemas. Fco manifesta sua capacidade de ouvir, refletir sobre problemas conhecidos a partir do critério maior que é o Evangelho: faz discernimento, e de propor soluções. Fco foi capaz de ajudar o ministro a discernir e re-situar-se a partir da ótica da misericórdia porque ele mesmo passara por situações símiles: - passou por momentos de dúvida: viver num ermo ou na itinerância (1Cel 35,5) - antes de ouvir os outros ouvia os desígnios de Deus em si mesmo, a partir do plano amoroso do Pai (Test 1-3 e tb 1Cel 35,6). e) Acolhimento e realismo. Na visão de Fco, a fraternidade nasce a partir do acolhimento do outro, que é dom de Deus. O acolhimento consiste numa resposta positiva a uma ação inicial de Deus, que doa irmãos. O outro, pois, surge como epifania, como manifestação do amor de Deus. À pessoa compete a atitude de reconhecimento e gratidão, sem jamais querer se apropriar daquele que é propriedade de Deus. A tendência à apropriação daquilo que pertence a Deus foi uma preocupação constante de Fco (Adm 2). Isto é: querer saber como o irmão deve ser! Onde fica a Sagrada Caridade para com o Sagrado diferente querido por Deus? Fco acolhe o ministro como irmão e fala-lhe do melhor modo que pode. Pede que acolha os irmãos como são, sem pretender que sejam mais do que o Senhor doou: “E não queiras da parte deles outra coisa, a não ser o quanto o Senhor te conceder”(v. 6). Esta atitude vivida por Fco fez os jovens estarem à vontade junto dele e fez a fraternidade se formar. Cuidava de todos. Cada um tinha o seu lugar e valia: saídos de Deus. Pessoas de todas as classes encontravam acolhida. Dessa compreensão nasce o respeito pela individualidade de cada um: dom de Deus concedido a mim, a nós. Este projeto-Evangelho de Fco constitui-se num ideal que nenhum grupo humano consegue esgotar. Fco tem consciência da grandeza de seu projeto, que é projeto de Deus. Tem também consciência da pequenez humana diante deste ideal. Contudo, a pessoa deve persegui-lo, seguindo as pegadas de Cristo como „forasteiro e peregrino neste mundo‟. Fco crê que a pessoa possa se colocar neste caminho de perfeição. Acredita na pessoa humana, nas suas possibilidades. Acolhe os irmãos como são e não exige perfeição, que sejam cristãos melhores. Crê na possibilidade de percorrer o caminho de perfeição. 2.2. Ação desenvolvida por Fco - sua pedagogia - modo de agir: Aqui Francisco emerge como alguém que ajuda, numa situação concreta, a praticar o ideal da fraternidade, que é o Evangelho. É importante salientar que Francisco tem consciência que foi ajudado e guiado 6
  • 7. pela mão de Deus. Ele foi educado e agora pode ser de ajuda (ex. Test 1-3). Francisco foi transformado porque consentiu que Deus o conduzisse por um caminho diverso daquele escolhido por ele. Esta mudança exigiu muito esforço e luta pessoal. Ele fala até em “amargo e doce”. Não foi sem sacrifícios. Conformar a sua vida com a vontade de Deus, permitir ser guiado pelos caminhos do Senhor, exigiu que Francisco „fizesse violência‟ consigo (cf. 1Cel 17). O Ministro também está querendo abandonar uma real situação existencial. Está em tensão. Francisco não pode concordar com ele, e começa a educá-lo. a) Aproveita situações educativas, formativas, que a CtaM nos ensina. Francisco faz o ministro ver que a sua atual situação o ajuda para descobrir se: - vive sem nada de próprio (Adm 2), - vive na obediência (Adm 12), - tem paciência e humildade (quanta possui): Adm 13 - situação de vida para saber se somos ou não pacientes. Interessante: ele não diz o que é a paciência, mas que uma das características dos irmãos seja a paciência. Fco faz a gente se ouvir: quanta paciência você tem? E isto se experimenta na vida de fraternidade, no dia-a-dia, em particular com as pessoas que nos desafiam, cuja visita nem sempre é como eu esperava, - tem PAZ: Adm 15: como saber se tenho paz? Vou saber isso quando tiver que sofrer tribulações. Problemas de convivência ou tempos de guerra e perseguições. Quais são hoje pessoas de paz? Por amor de NSJC conservam a Paz na alma e no corpo. Promover a paz - deve-se amar muito, dar a vida. "Não violência ativa". Fco prepara para viver o difícil - para carregar a cruz. Fazer a experiência de amar, viver o Evangelho, dar a vida. Aprende-se nas situações reais da vida. - é irmão: Adm 14: há uma desarmonia. O relacionamento com Deus deve refletir no dos irmãos. Fco trabalha o irmão melhorando a vida fraterna. Por causa do Evangelho, e a partir dele, é possível ser irmão! Eis o anúncio = ser irmão. A relação com Deus se mostra, é anúncio na prática! Francisco provoca o Ministro: “E nisto quero reconhecer se tu amas o Senhor e a mim, servo dele e teu” (CtaM 9). Então, permanecendo entre os irmãos que lhe causam sofrimento é que demonstrará se ama ao Senhor e a Francisco. A situação que para o Ministro era um impedimento para amar ao Senhor, na visão de Francisco é a situação de verificação se ama ou não o Senhor e a ele. b) Promove a participação - nada de só ficar assistindo e comentando a vida da outra pessoa. Ser mãe e não juiz. Promover e não condenar. Fazer crescer e não matar ou bitolar. É envolver o frade na solução de seus próprios problemas e fazê-lo envolvendo-o na solução dos problemas dos demais. (A regra é de todos, CtaM 13). Jacques de Vitry: p.1422. Francisco convida o Ministro para, a partir da sua concreta experiência, ajudar toda a Fraternidade, já no próximo Capítulo, na melhoria da Regra. Francisco quer submeter as suas idéias ao parecer dos irmãos (cf. 2Cel 140, 12-15). c) Promove a restauração do que estava destruído. (Aqui o artista deve ser respeitado, pois foi Ele que criou a pessoa!). É muito difícil restaurar! Não esquecer do Théos! „Não querer que o outro seja diferente. O Senhor o fez e o deu!‟. Não imitar, mas que cada um seja ele mesmo e siga. Ouvir senão teremos boneco/as que imitam e fazem o que os outros pensam e sugerem. Caridade respeitosa pela sagrada diferença. Francisco experimentou em si a restauração que o Senhor foi operando. Não é de um momento para o outro. Acolhe as pessoas como são, dons de Deus, sem delas se apropriar. Fco pede que o Ministro respeite cada irmão na sua individualidade. E a partir do que são, através do amor e da misericórdia restaurar a imagem de criaturas de Deus. Sua pedagogia consiste em colaborar com a obra de Deus, amando e respeitando os irmãos assim como Deus os envia. Fco não rejeita e nem condena ninguém. Ele pretende reparar a imagem destruída ou em ruínas. d) Promove o „atrair‟ (Trahere): conquistar para o Senhor (CtaM 11 e PN 5). Amar para atrair. Que o Ministro pelo amor atraia os outros ao Senhor. Para atrair é preciso mostrar que algo é gostoso. Fco para atrair alguém até se fazia de palhaço: Ep 61. É não coagir, forçar. A liberdade do outro é respeitada, mas as exigências são muitas para aquele que deve atrair (Fco atraía, Jesus atraía...). Esta pedagogia é indicada por Fco, inclusive em relação aos ladrões que roubavam e assaltavam (Ep 66). Atrair os irmãos ladrões ao amor de Deus. 7
  • 8. 2.3. Em que caminho (via) Fco tenta colocar o Ministro? Está claro que tanto para Fco como para o Ministro é de fundamental importância “salvar o amor do Senhor Deus”. Fco afirma que o amor do Senhor deve ser vivido na Fraternidade. Emergem dois pontos: a presença dos irmãos na conversão de Fco e a dimensão fraterna da vida eremítica. O encontro com Deus implica num encontro com os irmãos. Por fim, veremos que Fco pretende colocar o ministro na via da obediência segundo o modelo de Jesus Cristo. Considerações, a partir da vivência de Fco. 2.3.1. A presença do irmão na conversão de Fco: No Test, Fco divide a sua vida em dois momentos: quando lhe era amargo olhar para leprosos e quando a amargura já fora transformada em doçura da alma e do corpo. A pessoa do irmão leproso está colocada no centro do processo de conversão. A capacidade de olhar para o rosto de um irmão é que marca a linha divisória de um tempo e de outro na vida de Francisco. E, assim, começa como que um novo tempo, uma nova vida. A conversão de Francisco não significou uma separação da pessoa, mas um encontro com a pessoa humana, sobretudo com as que estavam à margem da história de Assis. Fco já tinha vivido encontros com pobres. Mas esse foi decisivo. O “exivi de saeculo” em Francisco correspondeu a uma mudança de comportamento em relação às pessoas. Primeiro os combatia através da guerra, agora, depois de um combate consigo mesmo, buscando obedecer a Deus, Francisco vê na capacidade de acolher e olhar para o rosto de irmãos a resposta aos apelos da graça, que conduz (conduxit) ao encontro das pessoas. “A trajetória seguida da graça na conversão de Francisco não é uma exceção; mas segue o modo usual da economia da sa1vação (cfr. Is 58, 1-12). Andar ao encontro do/a irmão/ã, sobretudo do/a irmão/ã mais miserável, significa caminhar em direção de Deus. Cristo nos espera sempre em cada pessoa que tenha necessidade de nós (Mt 25, 31-46). O plano de Deus revelou-se a Francisco também na chegada dos irmãos. Inicialmente Francisco apenas quer viver o Evangelho. Com a chegada dos irmãos Francisco é chamado por Deus a orientar a sua vida não segundo um projeto pessoal, mas segundo o mesmo projeto inicial de Deus, compreendido agora de uma forma mais plena. O "E depois que o Senhor me deu irmãos" faz parte do "começar a fazer penitência”. Este processo não é revelado num só momento, mas progressivamente por Deus. E será com os irmãos e através dos irmãos que Deus continuará a revelar a Francisco o seu plano de amor, como o próprio Francisco continua dizendo: "ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que deveria viver segundo a forma do santo Evangelho” (Test 14-15). Com e através dos irmãos Fco deve continuar a ouvir o que Deus queria dele e para os irmãos. Para S. Francisco, a vida de obediência ao Senhor implicou gradativamente uma profunda obediência aos irmãos. Acolher o plano de Deus significou acolher os irmãos que o Senhor lhe enviou, e na obediência da caridade seguir as pegadas daquele que foi o modelo de obediência a Deus. Na ctaM o empenho de Francisco é o de colocar o ministro na via da obediência de Cristo, com a finalidade de resgatar as ovelhas perdidas, morrendo para si mesmo e assim ganhando a vida eterna. 2.3.2. Dimensão fraterna da vida eremítica. O ministro quer andar num eremitério e Francisco compreende que é melhor para a alma do ministro permanecer entre os irmãos. A vida eremítica concebida por Francisco é também vivida comunitariamente, na obediência recíproca. A forma da vida eremítica concebida por Fco não se identifica com a dos anacoretas, mas supõe a vida fraterna-materna, inspirada em Lc 10, 38-42. O Ministro, mesmo vindo a abandonar a sua Fraternidade e indo para o eremitério, se encontraria diante dos mesmos desafios evangélicos que enfrentava como ministro de uma província. Também ali no eremitério seria chamado a viver a obediência a Deus na obediência recíproca entre as Martas e Marias. A mesma vida que queria abandonar para amar a Deus encontraria no eremitério. 2.3.3. Obediência a Deus na via de Jesus Cristo. Veremos agora a via espiritual que Fco, como guia espiritual, propõe ao Ministro. a) No caminho da verdadeira obediência. Fco pede que o Ministro permaneça na sua fraternidade, porque considera ser essa atitude a verdadeira obediência. Na Adm 3 reflete sobre isso. É a via percorrida por Jesus: Jo 15,13. Tem maior amor aquele que é capaz de dar a sua vida pelos seus amigos (irmãos/ãs). Sua 8
  • 9. conseqüência é a perfeita obediência. Adm 8-9: amor, obediência, cruz, perfeita, verdadeira alegria. Quem dá sua vida? - Quem tem amor maior. Obediência Perfeita = amor maior. Hoje existe o medo do definitivo, medo de amar. É a estrada da profunda comunhão com Deus e os irmãos. Esta proposta não é de Fco. É de Jesus Cristo. Exigências do amor: doação, sacrifício, desprendimento, despojamento, perder-se, morte, cruz, martírio, sofrimento... É Obediência perfeita: dar a vida pelo irmão, como Jesus o fez. Este amor não era amado. É amor eterno: sempre tem tempo para doação, e oportunidades. É um sofrer conseqüências do Amor e não de injustiça. Não é um sofrer punição. É livre, por causa do Evangelho. Quando Fco pede para “obedecer ao Senhor e a mim” pede para amar. Sem amor não há obediência e não se é capaz de fazer nada com alegria. Fco quer colocar o Ministro na estrada do amor. Este amor distingue! Engraçado: o mais difícil é aquilo no qual não acho significado. É preciso treinar o amor. Exige autoviolência. É caminho da porta estreita. Aqui ganhamos ou perdemos nossa vida. Rnb 22, 2-4; Adm 6, 1-2: para isso é preciso ter muito amor. Amando aqueles que nos perseguem amamos do mesmo modo que Cristo amou. É a via da porta estreita (Mt 7,14; Rnb 11, 13). Isto exige esforço e luta consigo mesmo. Essa via foi percorrida por Fco que lutou consigo mesmo para transformar o amargo em doçura da alma e do corpo. Deixar-se conduzir por Deus implica abandonar o próprio caminho. Somente quem se dispõe a carregar a cruz no seguimento de Cristo conseguirá conformar o seu caminho com o de Cristo. É um esvaziamento de si e disponibilidade a Deus. b) Caritativa obediência: obediência da caridade (lPd 1,22). Consiste no sacrifício da própria vontade a Deus e no cumprimento do que o prelado ordena, agradando assim a Deus e ao próximo (Adm 3, 5-6). Fundamenta-se em Jesus no Horto: "Não a minha, mas a tua vontade". Jesus sacrifica a sua vontade. Esta pode ser disciplinada. Fco diz ao Ministro: „fica entre os irmãos e sacrifica a tua vontade a favor de Deus e de mim, agradando assim a Deus e ao próximo‟. É um amor recíproco, onde ninguém é prior; um lava os pés do outro. Ninguém precisa ter vergonha dos seus limites. Todos são caminheiros e ajudantes na jornada. “E nenhum irmão faça mal a outro ou diga mal dele; muito pelo contrário, através da caridade do espírito, sirvam e obedeçam uns aos outros (Gl 5,13) de boa vontade” (Rnb 5, 13-14). c) Peregrinar na fraternidade: Fco diz: “Se não buscar misericórdia, pergunta-lhe se quer obter misericórdia” (10). A idéia é a de não esperar, mas de ir, movimentar-se ao encontro do irmão. Quem tem que ter a iniciativa? Fco fez a experiência do Senhor que foi ao seu encontro, foi visitado pelo Senhor. O Senhor o enviou entre os leprosos. Ali começou a fazer e a ter misericórdia por eles. Envia os frades aos outros. Assim como o Senhor todos os dias vem ao nosso encontro em humilde aparência (Adm 1, 16-18), Fco se sente em missão para anunciar a vida do Filho. Os ministros, por sua vez, devem visitar (visitent) os frades espalhados nas províncias (Rnb 4, 1-2 e Rb 10,1), e "admoestá-los espiritualmente”. A dimensão itinerante do projeto evangélico de Francisco deve ser vivido também dentro da fraternidade, na procura dos irmãos, na iniciativa em direção daquele que necessita de misericórdia. Sempre é tempo para ser fraterno e viver o Evangelho e de ajudar o outro a vivê-lo. Beneditinos - esperavam as pessoas. Frades - vão ao encontro do povo. É como o comércio, não tem estação. Vai. A roça tem a sua estação. d) Viver 'sine próprio': caminho da desapropriação. Não querer que sejam cristãos melhores, não perturbar-se, acolher o que o Senhor dá. Adm 11. O Ministro não permanece sereno diante do pecado do irmão. Perturbar-se significa querer mais do que o Senhor concede! É também não aceitar a pessoa como é, mas querer que seja de acordo com a minha própria vontade. Isso é apropriar-se; exigir que alguém seja aquilo que eu desejo que fosse. É a via do total despojamento. Cristo veio a nós! É preciso sair da superficialidade dos relacionamentos - isto até os pagãos fazem: dar para receber! É preciso entrar no caminho de Deus que é cortês: faz chover, brilhar o sol: não consegue querer mal. É fonte de bem. Devemos participar do bem que Deus é: 2ctaF 26-27. e) Resgatar os que estão perdidos. Mt 9,12: os doentes precisam de médico; Rnb 5,7-8. O que fazer com os que pecam? 9
  • 10. - misericórdia - manter oculto - não difamar - não envergonhar - não perturbar-se - não enraivecer-se - ajudar espiritualmente. Francisco propõe que a missão de Jesus seja a missão da Fraternidade. A via na qual Francisco quer colocar o ministro é a via de Cristo que veio a este mundo para salvar os pecadores e não para condená-los. Tendo misericórdia dos irmãos que pecam o ministro segue as pegadas de Cristo que usou de misericórdia para com os pecadores. Qual penitência dar ao que pecou? "Vai e não peques mais" (v. 20). Só dar esta penitência! Foi a única que Cristo deu à Adúltera! É a penitência mais dura que Jesus deu! f) Regra de ouro; Mt 7,12: ctaM 17. Para Fco é norma de relacionamento entre os irmãos. Rnb 4, 4; 10,1; 6,2; Adm 18,1; 2ctaF 28-29. Assim, Fco transformou este versículo do Evangelho em norma de vida para o amor recíproco na Fraternidade: colocar-se sempre na situação e nas condições do outro e agir com lógica cristã. Fco fez assim. S. Francisco convida seus irmãos, através desse texto do Evangelho, a constantemente sair de si mesmos e entrar no mundo do outro, fazendo suas as preocupações e necessidades dos irmãos. Significa transformar o outro em sujeito de minhas atenções, vivendo o preceito do amor fraterno. Pode-se novamente perceber o quanto para Francisco o “exivi de saeculo” significou um profundo encontro com a realidade de vida dos irmãos, dando a vida pelos outros, a exemplo de Cristo. Foi um sair da lógica do século, de Assis e um participar da lógica de Deus-Amor, revelado na pessoa de Jesus Cristo. g) Caminho da vida eterna: Rnb 22,1-4. Considerar tudo como graça. É o caminho das tribulações, pancadas, morte... Este caminho foi realizado na perfeita obediência de Jesus com o Pai por amor a nós: é o caminho do amor, de Deus. Este caminho das tribulações injustas é o caminho que conduz à vida eterna (Rnb 22, 3-4 e 2ctaF 11). A via das tribulações, do martírio, do sofrimento foi a via na qual Deus manifestou em Jesus Cristo a plenitude do seu amor para com as pessoas, oferecendo-se “como sacrifício e hóstia no altar da cruz” (2ctaF 11). Jesus Cristo conformou sua vontade com a do Pai que o enviou. Isto Ele fez não para si mesmo, mas pelos nossos pecados (2ctaF 12-13). A vida eterna será conseqüência da resposta ao amor de Deus. A vida eterna para Francisco é o próprio Deus: “Tu és nossa eterna vida” (LDA 6). O encontro com Deus se dá pela via da completa expropriação da pessoa de si mesma e no oferecimento do corpo para carregar a cruz de Cristo Neste caminho se promove a vida, se restaura, se forma e se acompanha. E há ressurreição. Fco tem autoridade porque assim viveu. PENSAR: se S. Fco quisesse me colocar neste caminho, como eu reagiria? E Francisco pede para amar o frade mais que a ele mesmo. Se o irmão que peca não tomar a iniciativa de pedir perdão o ministro não deve esperar passivamente, mas dirigir-se a ele e pedir se não quer o perdão. A prática do amor exige um movimento em direção ao outro para salvá-lo. III. Conteúdo espiritual teológico da CtaM a) Graça e tribulações. Aqui se pode ver como as tribulações são momentos de graça. b) Misericórdia e perdão: - Deus é misericórdia, que salva e perdoa; - A misericórdia e o perdão de Deus manifestados em Jesus Cristo - A Resposta humana: - procedimento do irmão que comete pecado - procedimento da fraternidade; - procedimento do Ministro. Revisto na Festa de São Boaventura 2011.Jim. 10