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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
12-13 DE AGOSTO 2013
PUCSP – SÃO PAULO
RESUMO DE TRABALHOS INSCRITOS
2013
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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
12-13 DE AGOSTO 2013
PUCSP – SÃO PAULO
GRUPOS TEMÁTICOS
1. EDUCAÇÃO..........................................................................................................................................................................................................04
2. PERSONAGENS | BIOGRAFIA.....................................................................................................................................................................15
3. SAÚDE MENTAL | HIGIENE MENTAL.......................................................................................................................................................24
4. ANÁLISE DOCUMENTAL | INSTITUIÇÕES.............................................................................................................................................35
5. PSICOLOGIA SOCIAL.......................................................................................................................................................................................43
6. TEORIAS E SISTEMAS | MÉTODO | ABORDAGENS TEÓRICAS...................................................................................................55
2013
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XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
12-13 DE AGOSTO 2013
PUCSP – SÃO PAULO
GRUPO: EDUCAÇÃO
Adriana Araújo Pereira Borges
A PSICOLOGIA NO INSTITUTO PESTALOZZI (1930-1940)
O Instituto Pestalozzi foi fundado em 1935 a partir da iniciativa da Sociedade
Pestalozzi de Minas Gerais. A Sociedade Pestalozzi foi criada em 1932 através de
um grupo de intelectuais mineiros, conduzidos por Helena Antipoff, psicóloga
russa, que veio para o Brasil em 1929 a convite do governo do estado de Minas
Gerais para lecionar na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo
Horizonte. A situação das crianças “anormais” era preocupante. Sensibilizada pela
causa, propôs o termo “excepcional” para diminuir o estigma causado pelo termo
“anormal”. Atuou como psicóloga do Consultório Médico Pedagógico da
Sociedade Pestalozzi inaugurado em 1933 e que, posteriormente, foi anexado ao
Instituto Pestalozzi. O Instituto Pestalozzi foi concebido como um local destinado
a centralizar, executar e orientar os trabalhos relativos às crianças mentalmente
deficientes de Minas Gerais. Efetivamente, acolheu crianças com deficiências
oferendo tratamento através do consultório e educação, através das classes
especiais. Durante certo tempo, acolheu também crianças do Abrigo Afonso de
Moraes, que não tinham acesso à escola. Interessa-nos, nesse momento, discutir o
papel da psicologia nessa instituição. Para tanto, propomos analisar prontuários do
Instituto Pestalozzi, recolhendo informações sobre a atuação do psicólogo nesse
local. Recolhemos 70 prontuários do Instituto Pestalozzi, entre os anos de 1933-
1940, sendo 10 prontuários de cada ano. Além disso, foram consultadas outras
fontes, como os Boletins da Secretaria da Educação e Saúde Pública de Minas
Gerais, dos anos de 1933, 1934 e 1937, denominados de “Infância Excepcional” e
que ficaram sob responsabilidade da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais. Outra
fonte utilizada foi a brochura intitulada “Menores Abandonados”, de autoria de
Cora Duarte, professora do Instituto Pestalozzi e de Helena Antipoff, relato dos
primeiros meses de funcionamento do Instituto Pestalozzi quando este acolheu as
crianças do Abrigo Afonso de Moraes. A partir da descrição das atividades do
consultório médico pedagógico e do Instituto Pestalozzi, podemos discutir o
impacto dessa instituição no cenário mineiro da década de 1930 e suas
consequências para o campo da psicologia aplicada. Uma primeira observação é a
de que as atividades da psicologia do consultório contribuíram para a afirmação do
campo. Uma segunda observação diz respeito a atuação multidisciplinar, uma
prática que se iniciava no Brasil. Concluímos que, apesar de uma atuação
fortemente marcada pela utilização dos testes psicológicos, o papel da psicologia
ia além. Citamos como contribuição importante da psicologia, a criação da ficha
de observação elaborada para mães e educadores acompanharem o
desenvolvimento mental das crianças. E ainda, a presença em alguns prontuários
de condutas propostas pela psicologia. Podemos citar o caso de uma criança, cuja
deficiência física dificultava a escrita. Helena Antipoff propõe que a crianças
utilize a máquina de datilografia. Dessa forma, a psicologia vai assumindo lugar
de destaque na equipe, ao lançar um olhar diferenciado sobre a criança e seu
desenvolvimento, propondo alternativas para sua educação e tratamento. APOIO:
FAPEMIG
Palavras-chave: Helena Antipoff, consultório médico-pedagógico,
classes especiais, crianças excepcionais;
Pesquisa em andamento
X
Cecília Andrade Antipoff
A PEDAGOGIA DA ESCOLA EDUC – CENTRO DE
EDUCAÇÃO CRIADORA NO CONTEXTO DAS
TRANSFORMAÇÕES DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA
Este trabalho apresenta uma pesquisa de doutorado em andamento que tem como
objetivo realizar um estudo de caso histórico sobre uma instituição de ensino
mineira: a Escola Educ – Centro de Educação Criadora, que foi fundada em 1978
e funcionou até o ano de 2007. Fundada pelos psicólogos e educadores Daniel e
Ottília Antipoff, esta escola, voltada para alunos do maternal ao quinto ano,
apresentava uma proposta pedagógica original, baseada nos pressupostos
humanistas da educação. Apesar de não ser uma escola específica para crianças
4
com altas habilidades / superdotação, oferecia atendimento a estas crianças através
de metodologias de trabalho diferenciadas, como, por exemplo: grupos móveis,
projetos de estudos individuais ou em pequenos grupos e aceleração (quando o
aluno saltava uma série por apresentar desenvolvimento emocional e pedagógico
além do esperado para sua idade cronológica). Além disso, o aluno era entendido
como o centro do processo educativo, sendo considerado em suas singularidades,
limitações e interesses, o que pode ser constatado, tanto através da proposta de
ensino individualizado (uma vez que cada turma era composta por, no máximo,
quinze alunos), quanto através da metodologia de avaliação utilizada, que era
baseada na proposta da Experimentação Natural de Alexandre Lazursky, trazida
para o Brasil pela psicóloga e educadora Helena Antipoff. Tal avaliação propunha
que se levasse em consideração o desempenho e desenvolvimento da criança ao
longo do ano em variados aspectos que não apenas aqueles observados nas
disciplinas específicas (como português, Matemática, ciências...), mas, também,
nas dimensões da psicomotricidade, sociabilidade, habilidades artísticas,
criatividade e características subjetivas, com base em observações realizadas pelo
próprio educador, com a participação dos alunos. O que se propõe aqui é o estudo
da história particular da Escola Educ, uma experiência local, que aconteceu no
município de Nova Lima/ MG, que propunha formas diferenciadas de ver e
entender tanto a criança e o processo de ensino- aprendizagem, como a avaliação
no contexto educacional, mas que foi idealizada através de um diálogo elaborado
por seus fundadores com diversas fontes teóricas educacionais e psicológicas que
tinham, na época, um impacto global. Como algumas destas fontes, citam-se as
americanas, as russas e as européias. Dentre as fontes americanas que inspiraram o
projeto pedagógico da Escola Educ, cita-se Leta Stetter Hollingworth, com a
proposta de uma educação para as crianças com altas habilidades / superdotação e
Carl Roger, com a proposta Humanista, enfocada na aprendizagem significativa,
no interesse e na participação ativa do aluno em seu processo de ensino e
aprendizagem. Dentre as fontes Russas, aparecem Helena Antipoff com sua
proposta, também humanista de educação, marcada pelo ideário da Escola Nova e
Alexandre Lazursky com a Experimentação Natural. E, por último, como fontes
européias, citam-se Edouard Claparede; Celestine Freinet e Jean Piaget,
representantes do movimento da Escola Nova. A partir de tantas propostas
educacionais inspiradoras, pretende-se explicitar como Daniel e Ottília Antipoff
utilizaram-se destas diversas fontes que dialogaram com suas experiências e, partir
daí, elaboraram uma síntese original através desta experiência educacional que foi
a Escola Educ. Pretende-se realizar um diálogo entre a proposta pedagógica da
Escola Educ e os impasses educacionais contemporâneos identificando o que
existiu de original nesta proposta e que poderia ser utilizado como alternativa aos
desafios educacionais atuais. Como alguns dos impasses contemporâneos no
contexto educacional citam-se, por exemplo, os desafios em relação à educação
voltada para as necessidades educacionais especiais que propõe o amparo e
atendimento às diferenças no contexto de sala de aula e, também, as avaliações,
que têm se mostrado cada vez mais maçantes e padronizadas, levando algumas
crianças ao fracasso escolar e aos infindáveis encaminhamentos aos psicólogos,
psicopedagogos, psiquiatras... O que se pretende, desta forma, não é apenas trazer
fatos acontecidos em uma determinada escola, em um passado nem tão distante
assim, mas, estabelecer conexões entre idéias, construir um novo pedaço de
história através de uma nova perspectiva, buscando uma interface com as questões
e idéias educacionais atuais Esta pesquisa está baseada no campo temático da
historiografia da educação brasileira denominado de história das instituições
educacionais, buscando amparo teórico no campo de estudo da história da
psicologia. Trata-se de um estudo histórico sobre uma instituição educacional que
funcionou em Minas Gerais, e que pode trazer contribuições para o contexto da
psicologia e da educação atual, no sentido incitar novas reflexões e, por que não,
inspirar novos projetos.. Para alcançar os objetivos propostos, será realizada uma
pesquisa nos arquivos, documentos e livros desta escola, além da realização de
entrevistas semi estruturadas com ex-alunos com o intuito de identificar o
significado de ter participado desta experiência educacional. A opção pela análise
de documentos acrescida da análise das entrevistas se dá pelo fato de uma ação se
mostrar complementar à outra, favorecendo a produção de um conhecimento
histórico.
Palavras-chave: Escola Educ - História - psicologia - Educação –
contemporaneidade
Projeto de pesquisa
X
Claudia da Silva Leite
A LÓGICA DO MUNDO EMPRESARIAL NO ENSINO
SUPERIOR: IMPLICAÇÕES PARAALUNOS E
PROFESSORES
A representação social do docente do ensino superior privado tem sofrido
inúmeras alterações ocasionadas pelas mudanças socioeconômicas e políticas
advindas das reformas educacionais no Brasil nas últimas décadas. A pesquisa tem
o intuito de analisar a representação do professor em diferentes momentos
históricos desde a reforma universitária de 1968, identificando o papel e a
memória do docente inserido na sociedade que comercializa seu trabalho e o
percebe como mercadoria. As medidas adotadas com a reforma de 1968
pretendiam maior eficiência e produtividade na universidade, fragmentando o
trabalho do professor, já que se impunham: final da cátedra vitalícia substituída
por departamentos como unidade básica alocando professores das áreas afins,
matrícula por disciplina, sistema de créditos, cursos profissionalizantes e pós-
5
graduação. O corpo docente perdeu sua autonomia e passou a reproduzir
conteúdos elaborados pelos especialistas. A reforma determinou à satisfação da
demanda educacional para atender aos próprios interesses, implantando a
privatização das universidades, pautada na comercialização do ensino com baixo
custo e um maior resultado. A universidade começa a atrair indivíduos com menor
poder aquisitivo, que busca cursar uma graduação para obter equidade social e
maior empregabilidade. Percebemos que o papel do professor vem sendo
desqualificado e descaracterizado em função da perda de autonomia ocasionada
pela padronização do ensino de massas, os avanços tecnológicos e a massificação
da educação que corroboram com as intenções dos empresários de transformarem
o docente através do controle de seu trabalho. As condições para o crescimento do
ensino universitário privado foram criadas e a reforma permitiu instituições de
ensino organizadas a partir de estabelecimentos isolados, voltados à mera
transmissão de conhecimentos de cunho profissionalizante e afastados da pesquisa,
atendendo aos interesses dos vestibulandos das camadas médias urbanas que
encontraram vaga nas instituições particulares, havendo um aumento considerável
das mesmas, proliferando a área educacional como fonte de rentabilidade. Para
compreender o papel do professor do ensino superior privado atualmente,
precisamos investigar o passado, analisar o papel do docente nos diferentes
momentos históricos. Prost (1933, p.96), “A história faz-se a partir do tempo: um
tempo complexo construído e multifacetado”, assim, entendemos a relevância de
pesquisar o professor inserido em uma sociedade capitalista, desde a reforma do
ensino de 1968, identificando a sua representação social mediante a
comercialização de seu trabalho.
Palavras-chave: Reforma universitária de 1968, universidade
particular e ensino de massas.
Pesquisa em andamento
X
Deborah Rosária Barbosa
ESTUDOS PARA UMA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
EDUCACIONAL E ESCOLAR NO BRASIL
Este resumo refere-se aos dados de minha tese de doutorado defendida em 2011. O
estudo foi conduzido baseado no fundamento epistêmico-filosófico do
materialismo histórico dialético e na nova história, utilizando fontes bibliográficas
históricas e cinco relatos orais de personagens da Psicologia Educacional e
Escolar. Os depoimentos e o material das fontes escritas constituíram o corpus
documental cuja organização seguiu a metodologia da história oral e historiografia
plural. Foi realizada análise descritivo-analítica compreendida em duas etapas:
a)análise documental (fontes não orais) e b)construção de indicadores e núcleos de
significação dos registros orais. A partir das análises, compôs-se uma periodização
da história da Psicologia Educacional e Escolar brasileira por meio de marcos
históricos compreendendo as fases: 1) Colonização, saberes psicológicos e
Educação (1500-1906); 2) A Psicologia em outros campos de conhecimento
(1906-1930); 3) Desenvolvimentismo – a Escola Nova e os psicologistas na
Educação (1930-1962); 4) A Psicologia Educacional e a Psicologia “do” Escolar
(1962-1981); 5) O período da crítica (1981-1990); 6) A Psicologia Educacional e
Escolar e a reconstrução (1990-2000); 7) A virada do século: novos rumos? (2000-
). As considerações finais apontam a limitação do modelo de periodização e
também esclarece os movimentos expressivos no campo da Psicologia
Educacional e Escolar que mostra que esta área no interior da Psicologia teve
momentos distintos ao longo do tempo. Momentos mais aliados à manutenção e
reprodução do sistema capitalista excludente e discriminatório, prestando um
desserviço à Educação, assim como momentos de crítica e busca pela
emancipação e uma Educação democrática e para todos.
Palavras-chave: História da Psicologia, Psicologia Escolar, História
oral
Pesquisa concluída
X
Deolinda Armani Turci; Érika Lourenço
A PSICOLOGIA NA ESCOLA NORMAL DE OURO PRETO:
DE 1890 A 1930
A pesquisa de mestrado em andamento e que ora se apresenta, tem como objeto o
estudo analítico-descritivo dos saberes psicológicos que circulavam nas matérias
lecionadas nas Escolas Normais de Minas Gerais, entre 1890 e 1930. A princípio
abarcamos estes saberes na Escola Normal de Ouro Preto, primeira escola criada
na província, 1835, que após vários momentos de instabilidade no processo de
permanência, é reinstalada em 1872. Propõe-se através deste, identificar as
relações entre o conhecimento psicológico e a formação de professores em Minas
Gerais no período entre o final do século XIX e meados do século XX, e com isto
contribuir com a História da Psicologia no Brasil, mais especificamente em Minas
Gerais. Para a realização desta pesquisa e em coerência com a abordagem histórica
proposta, a opção é por uma pesquisa documental e bibliográfica mediante leitura
de bibliografia especializada e dos procedimentos de localização, recuperação,
seleção, ordenação, análise das fontes. Tendo como aporte um diálogo entre os
elementos trazidos pelos documentos consultados e o campo de pesquisa em
História dos saberes psicológicos, entendendo e compreendendo o contexto sócio-
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cultural e político de onde os saberes são produzidos, ensinados, praticados,
relacionando-os a conceitos e ou práticas que na atualidade podem ser
considerados psicológicos. As fontes para a investigação são os documentos que
fazem parte do Fundo da Secretaria de Interior da província mineira e do período
tais como: atas de exames de professores e alunos, pedidos de materiais ao
governo, estatutos das escolas, documentos avulsos do fundo de instrução, provas
e exames, programas de ensino, bem como os jornais do período, manuais e
compêndios, relatórios de Presidentes da Província, regulamentos, dentre outros,
além de consultas em arquivos escolares e arquivos públicos disponíveis na cidade
de Ouro Preto. Em um levantamento inicial feito no Arquivo Público Mineiro
(APM), em provas e programas de matérias tais como nas de Pedagogia, Lição de
coisas e Higiene do currículo das Escolas Normais Mineiras constatou-se que
vários saberes psicológicos estão cunhados nestas, e também nas aulas práticas,
espaço de prática docente em escolas modelos anexa às Escolas Normais.
Podemos citar como exemplo a matéria de Pedagogia que se instaura oficialmente
nos currículos das Escolas Normais mineiras a partir do Regulamento 62 de 1872,
que inclui tópicos específicos sobre o bem estar do aluno, a boa estrutura da
escola, prêmios, castigos, para citar alguns. Os novos currículos, conteúdos e
matérias que compunham a formação de novos docentes estão vinculadas a um
conjunto de mudanças que se operam nas concepções sobre a criança e a docência
no âmbito do estatuto de racionalidade científica e traz em seu bojo temas relativos
ao bom desenvolvimento da criança, do ambiente da sala de aula, da escola e do
professora, dentre outros.
Palavras-chave: Historia da Psicologia, formação de professores,
saberes docentes
Pesquisa em andamento
X
Durval Wanderbroock Junior
A EDUCAÇÃO SOB MEDIDA: OS TESTES PSICOLÓGICOS
E O HIGIENISMO NO BRASIL (1914-1945)
A pertinência do debate acerca dos testes psicológicos permanece mais vigente
que nunca. Centenas de publicações ganham as prateleiras de bibliotecas e
livrarias à procura de leitores interessados no assunto. Mas, diferente dos debates
acerca dos problemas técnicos, o presente estudo buscou compreender alguns
aspectos históricos que serviram de cenário para a elaboração dos testes
psicológicos no Brasil, presentes na raiz da formação da Psicologia enquanto
ciência independente. Nesse sentido, o trabalho “A educação sob medida: os testes
psicológicos e o higienismo no Brasil (1914-1945)”, procurou emprestar novo
ímpeto a essa discussão, procurando deslindar a relação desses instrumentos de
mensuração com as concepções defendidas por médicos signatários de teorias de
higiene mental e racial no contexto do conturbado século XX. Mais
especificamente, procurou-se explicitar a concepção e o papel que os testes
psicológicos cumpriram para a Liga Brasileira de Hygiene Mental entre os anos de
1914 a 1945. O propósito desse debate foi o de compreender como os testes
psicológicos foram utilizados no sentido de criar uma “educação sob medida”,
entendida como uma estratégia alcançada graças a um duplo processo que
consistiu na seleção dos indivíduos aptos e a depuração social dos considerados
inaptos. Para isso, elegeu-se como fonte primária os Archivos Brasileiros de
Hygiene Mental, órgão oficial da Liga Brasileira de Hygiene Mental, também
chamada por nós de Liga. O método de análise utilizado procurou ser fiel às
premissas do materialismo histórico, procurando explicar o objeto a partir das
múltiplas determinações de seu tempo, sem ignorar sua singularidade. Concluiu-se
que a “educação sob medida” foi para a Liga um dos principais fatores de
contenção social, já que o período estudado foi marcado por intensos conflitos
sociais, engendrados essencialmente pelas grandes transformações nos campos
social, econômico e político. Trata-se do período entre-guerras, que assinalou uma
substancial mudança nas formas de organização e produção sociais, fruto da nova
fase do capitalismo conhecida como fase imperialista. A crise que se abateu no
mundo inteiro também permitiu o florescimento industrial brasileiro, despertando
o nacionalismo entusiasmado da classe dirigente, com quem a Liga guardou fortes
relações materiais e profunda identidade ideológica. A relação com o Estado,
denominada por nós de “organicidade sui generis”, precipitou a Liga em atuações
com o fito de satisfazer os interesses da classe dominante, submetendo os testes
psicológicos a essa finalidade. A indústria, o exército e a imigração foram os
principais domínios onde esse empreendimento foi realizado. A Liga associava o
progresso da nação com a manutenção dos indivíduos considerados
hereditariamente superiores. A educação foi um dos principais domínios onde o
processo de depuração social ocorreu. Os testes psicológicos foram incumbidos da
tarefa de garantir “o homem certo no lugar certo”, garantindo a consolidação da
“educação sob medida” preconizada pela Liga. Por meio do debate acerca do uso
dos testes psicológicos, ferramenta cara à formação da Psicologia enquanto ciência
independente, procurou-se refletir sobre o conceito de neutralidade científica,
presente ainda nos dias atuais.
Palavras-chave: Psicometria; Educação; História da Psicologia; Liga
Brasileira de Higiene Mental
Pesquisa concluída
7
Érika Lourenço
AS CONCEPÇÕES DE "EXCEPCIONAL" NO INSTITUTO
PESTALOZZI DE BELO HORIZONTE (1935-1949)
O Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte foi criado em 1935 pela educadora e
psicóloga russa Helena Antipoff, com a finalidade de proporcionar às crianças
excepcionais, que então ficavam excluídas das escolas regulares, uma educação
que levasse em conta suas necessidades e potencialidades. Nas classes especiais e
no consultório médico-pedagógico do Instituto eram atendidas crianças com
diferentes níveis de retardo mental e surdo-mudas. Helena Antipoff, ao longo de
sua vida, acompanhou o trabalho feito no Instituto, dando assistência e idéias para
colocar à disposição da infância excepcional a mesma educação sob medida que
vinha divulgando para os alunos das escolas primárias regulares de Belo
Horizonte. Este projeto aqui apresentado é um recorte de uma pesquisa mais
ampla que tem como título “A atenção à criança excepcional na história do
Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte”. A partir da proposta de investigar as
formas de tratamento médico, educacional e psicológico dados à criança
excepcional no Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte desse projeto mais amplo,
propõe-se aqui identificar as definições de “excepcional” que orientaram o
trabalho na instituição desde o ano de sua criação até o final da década de 1940.
Para uma compreensão mais abrangente e crítica de tais definições, serão
investigados também os conceitos de “excepcional” presentes nos textos
psicológicos e educacionais da época, bem como a legislação referente à educação
da criança excepcional então vigente. Esta será, portanto, uma pesquisa
historiográfica que buscará integrar uma perspectiva internalista com uma
perspectiva externalista. Dentre os procedimentos metodológicos propostos
destacam-se o levantamento e a análise dos seguintes itens: publicações e textos
inéditos de Helena Antipoff e de suas colaboradoras sobre a atenção a criança
excepcional e sobre o Instituto Pestalozzi, documentos inéditos disponíveis no
acervo do Instituto Pestalozzi (atas de reuniões, projetos pedagógicos, programas
de curso, e outros documentos que venham a ser localizados), relatos de pesquisas
sobre diferentes aspectos da história do Instituto Pestalozzi, biografias dos
colaboradores de Helena Antipoff no Instituto Pestalozzi.Os dados obtidos serão
analisados levando em conta não apenas as propostas da instituição para o
acolhimento à criança excepcional, mas também o contexto educacional brasileiro
e mineiro em que tais propostas foram implantadas e as teorias e práticas vigentes
na psicologia a respeito do diagnóstico, tratamento e educação da criança
excepcional.
Palavras-chave: Helena Antipoff, infância excepcional, educação,
psicologia da educação. história da psicologia
Projeto de pesquisa
Érika Lourenço; Fernanda Ernesto Machado Felix de Castro
ATENÇÃO A CRIANÇA EXCEPCIONAL NA HISTÓRIA DO
INSTITUTO PESTALOZZI DE BELO HORIZONTE
Desde sua chegada a Belo Horizonte, em 1929, para atuar como professora de
psicologia da criança, auxiliando na formação de professores para atender às
demandas da reforma do ensino público de Minas Gerais, a educadora e psicóloga
russa Helena Antipoff demonstrou preocupação com a situação das crianças
excepcionais. Várias de suas ações a partir da década de 1930 tiveram como
objetivo acolher, educar e tratar estas crianças. Dentre essas ações, merecem
destaque a fundação da Sociedade Pestalozzi, em 1932 e do Instituto Pestalozzi,
em 1935. Um dos objetivos da Sociedade Pestalozzi era colaborar com o trabalho
das professoras das classes especiais das escolas públicas de Belo Horizonte.
Deste modo, organizava palestras e cursos sobre a anormalidade e a higiene
mental; oferecia um consultório médico pedagógico para atendimento de crianças
epilépticas, surdo-mudas, com distúrbios da palavra ou com conflitos emocionais;
publicava o boletim “Infância Excepcional”; e ainda prestava auxílio econômico
às escolas, com o fornecimento de material didático. Em 1934 a Sociedade
Pestalozzi fundou o Pavilhão Noraldino de Lima, onde passou a funcionar um
consultório médico-pedagógico para crianças que precisavam de tratamento e
educação especiais. Em 1935, as atividades que funcionavam no Pavilhão deram
origem ao Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte. Nas classes especiais e no
consultório médico-pedagógico do Instituto eram atendidas crianças com
diferentes níveis de deficiência mental e crianças surdo-mudas. O trabalho aqui
apresentado é resultado de uma pesquisa historiográfica que teve como foco a
história do Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte e do atendimento médico,
psicológico e pedagógico que prestava à criança excepcional entre os anos de 1935
e 1949. Foram fontes primárias para a pesquisa as publicações de Helena Antipoff
e de suas colaboradoras acerca do funcionamento da Sociedade e do Instituto
Pestalozzi, documentos inéditos disponíveis no Centro de Documentação e
Pesquisa Helena Antipoff e nos arquivos do Instituto Pestalozzi, bem como a
legislação educacional vigente no período analisado. Os dados obtidos revelaram
que a instituição teve relevante papel no acesso das crianças então identificadas
como “excepcionais” à educação e à saúde nas décadas de 1930 e 1940. Durante o
período em que freqüentavam o Instituto Pestalozzi, as crianças tinham uma ficha
na qual constavam dados de sua avaliação médica, psicológica e pedagógica , bem
como de seu desenvolvimento ao longo do tempo. Estas fichas revelam que cada
criança tinha um acompanhamento individualizado e especializado e que as
propostas para sua educação levavam em conta suas necessidades e
potencialidades, o que estava de acordo com as ideias escolanovistas que estavam
sendo implantadas nas escolas públicas da capital mineira no mesmo momento
histórico. Pode-se concluir que com uma prática fundamentada nas principais
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teorias psicológicas acerca do desenvolvimento e da educação da criança então
vigentes, o Instituto Pestalozzi, no período investigado, conseguiu aliar o tratar e o
educar, propondo novas alternativas para o cuidado de uma parcela da infância
excepcional que até então não tinha acesso a um atendimento especializado.
Palavras-chave: Historiografia da psicologia; Helena Antipoff;
Instituto Pestalozzi; Educação especial.
Pesquisa em andamento
X
Francisco Teixeira Portugal
EMERGÊNCIA DA PSICOLOGIA E PROJETO
EDUCACIONAL DA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
Este projeto tem como objetivo propor uma história da Psicologia no Brasil
relacionada ao projeto republicano para a educação na Primeira República (1889-
1930). O centro do trabalho estará na investigação das propostas para educação do
governo brasileiro durante a Primeira República, do Pedagogium e da obra de
Manoel Bomfim (1868-1932) considerando o lugar e a função da psicologia em
suas elaborações sociais (autonomia do país, identidade/caráter nacional, anti-
racismo, a educação como forma de ação social) e educacionais (defesa da
instrução pública, elaboração de material pedagógico e luta por boas condições da
prática pedagógica e participação do Estado nesse processo).
Palavras-chave: História da psicologia no Brasil, Pedagogium,
Manoel Bomfim, educação, Primeira República
Pesquisa em andamento
X
Maria Veranilda Soares Mota
A ESCOLA EXPERIMENTAL DE VERA SCHMIDT E SUA
ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA
Não podemos negar a relevância da psicanálise para o campo educacional,
principalmente quando se pensa uma prática pedagógica diferenciada do modelo
convencional dos últimos séculos. Montessori (1870-1956), Sabina Spielrein
(1885-1941), Vera Schmidt (1889-1937), Vygotsky (1896-1934), Wilhelm Reich
(1897-1957), dentre outros, encontraram na psicanálise bases teóricas para propor
formas educativas que, até os nossos dias, continuam despertando interesses. O
objetivo deste trabalho é analisar a experiência educacional de Vera Schmidt,
tendo em vista o contexto dos primeiros anos da revolução russa marcado pelo
posicionamento marxista que se refletia na vida social e na desvalorização do
modelo familiar patriarcal e burguês, reconhecido como responsável pela
manutenção das condições de dominação e opressão que se pretendia eliminar. O
momento histórico em referência, os sete anos de governo leninista, propiciava
novos horizontes diante da realidade revolucionária a ser garantida, do anseio pela
construção da sociedade socialista. Schmidt, ao escrever, em 1923, sobre educação
psicanalítica na Rússia, destaca nesse momento, o aumento pelo interesse nas
questões educativas e particularmente pela educação coletiva de crianças. Apesar
de pouco citada na história da psicanálise, Schmidt foi uma das primeiras a fazer a
articulação entre Marx e Freud, antecedendo mesmo a Wilhelm Reich e os
frankfurteanos. Isso demanda compreendermos a história da psicanálise na Rússia
e as condições políticas e sociais daquele contexto. A experiência de Schmidt se
inicia nos primeiros anos da revolução russa, com a criação do Laboratório Lar de
Crianças, objetivando desenvolver observação científica e explorar novos métodos
educativos baseados na psicanálise, que contava com apenas duas décadas de
expansão. A organização do Laboratório contava, inicialmente, com pedagogos
interessados na proposta da escola e que se dispuseram a estudar psicanálise. O
trabalho pedagógico e psicológico estavam intrinsecamente relacionados. Schmidt
apresenta orientações psicanalíticas para o trabalho com as crianças, a partir dos
conceitos de consciente e inconsciente, princípio do prazer e princípio da
realidade, sexualidade infantil, sublimação, transferência. Na escola, as
educadoras não aplicavam castigos, não manifestavam juízos de valores com
relação às crianças, explicavam o que e por que se exigia algo delas. Para tanto, se
impunha a necessidade do educador trabalhar a si próprio. Schmidt constata que
inquietações das crianças eram consequentes de um comportamento neurótico
inconsciente dos educadores. Com isso o educador deve primeiro liberar-se dos
seus impulsos irracionais consequentes da sua própria educação. Caso contrário,
não conseguirá ver as manifestações sexuais das crianças, e será melhor abandonar
a profissão de educador. No cotidiano do Laboratório Lar das Crianças, as crianças
tinham inteira liberdade de satisfazerem entre si a sua curiosidade sexual. A
experiência, em análise, teve inicio em agosto de 1921, com trinta crianças, filhas
de operários, camponeses e intelectuais, e oito meses depois, passa a funcionar
com apenas doze, devido a rumores acerca de incitações prematuras da
sexualidade infantil. Com isso o Comissariado do Povo, que financiava a escola,
decide não mais manter os recursos que garantiam o seu funcionamento. A
experiência sobrevive até o ano da morte de Lênin. Como diz Reich, todo sistema
social, consciente ou inconscientemente, se serve da influência das crianças de
cada geração para se enraizar na estrutura dos homens. A história que se fez na
Rússia, coerente com seus conflitos culturais, nos revela um aprendizado, por ser a
primeira experiência de organização social que, como diz Manacorda, marca uma
virada na história. Este trabalho, em andamento, se propõe a partir dessa análise,
refletir princípios psicanalíticos para a formação de professores, tendo em vista
que o contexto histórico cultural brasileiro demanda que escrevamos nosso modo
9
de pensar e fazer educação, pois sabemos que a diversidade dos fatores culturais
repercutem na formulação de nossas concepções. Resgatar a história do
Laboratório Lar das Crianças é uma forma de buscarmos elementos para
pensarmos esta possibilidade. Alexander Neill, em 1960, escreveu: “desde que o
gênio de Freud a tornou viva, a psicologia tem caminhado muito... Daqui a 50
anos os psicólogos com certeza sorrirão da nossa ignorância de hoje.” Já se
passaram 53 anos e ainda precisamos compreender a ignorância do passado.
Palavras-chave: criança, psicanálise, educação
Pesquisa em andamento
X
Maryahn Koehler Silva
ENSINO NORMAL: DA FORMAÇÃO DA PROFESSORA À
FORMAÇÃO DA MULHER
Na pesquisa “Ensino normal: da formação da professora à formação da mulher,
esposa e mãe” objetivou-se estudar os conteúdos dispostos nas obras constantes da
Biblioteca do Curso Normal do Colégio dos Santos Anjos, colégio confessional
católico na cidade de Joinville, nas décadas de 1940 e 1950.
Optou-se por esse período em virtude do inicio do Curso Normal ocorrer no ano
de 1946 e pela grande quantidade de obras dispostas no acervo relativas há estas
duas décadas. O colégio é de tradição centenária na cidade e, como instituição
particular, foi o primeiro a oferecer o Curso Normal em Joinville.
A investigação passou por diversos caminhos, alterando seu rumo quando, durante
a busca de documentos, encontrou-se um relatório de verificação do colégio,
datado de 1951. O relatório dispunha de informações a respeito da instituição de
ensino, entre elas a listagem de obras didáticas e literárias utilizadas no Curso
Normal. Buscou-se informações na biblioteca do colégio, encontrando-se no
acervo da mesma um espaço denominado “Obras Antigas”, composto por um total
de 726 obras catalogadas, a mais antiga datada de 1927 e a mais “recente” de
1998. Os títulos e sumários de todas as obras destinadas ao curso Normal foram
conferidos, observando-se que 61 se referiam à mulher em geral e não à professora
especificamente. Levantou-se a hipótese de que, além do objetivo de formar
professoras, a Escola Normal tinha também como finalidade formar as jovens
estudantes para a condição de mulher: o casamento e a maternidade, segundo os
padrões da época e para uma determinada classe social. Os dados primários
visando testar a hipótese levantada são oriundos dos 61 livros, tendo como
referência a condição da mulher, o que esta precisava conhecer para realizar
adequadamente seu papel de mulher esposa-mãe. Optou-se em adotar
procedimentos para análise das obras, seguindo os critérios: 1- verificação das
obras e classifica-las por temas; 2- destaque dos temas pertinentes ao interesse da
pesquisa; 3- escolha dos livros a partir de critérios estabelecidos (período de
interesse, títulos e conteúdos voltados à mulher e o que ela deveria ter como base
de conhecimento); 4- definição dos critérios de exclusão: não se remeter à figura
feminina, tratar de assuntos voltados à doenças, maus hábitos, crises no
desenvolvimento, aos pais e aos professores. 5- verificação da regularidade na
apresentação dos assuntos; 6- organização e análise dos dados. E, a partir dos
critérios, foram selecionadas oito obras para análise. Na medida em que os livros
escolhidos foram sendo analisados, observou-se que emergiam temas em comum,
alguns presentes em todas as obras, sendo eles: (1) cuidados que a mulher deve ter
em relação a sua aparência, descanso e recreação; (2) emoção e controle; (3)
gravidez e parto; (4) amamentação e desmame; (5) higiene e alimentação; (6)
instituições de assistência à infância e à maternidade e o que fazer em relação a
emergências; e 7- espírito feminino. A análise revelou pontos que mereceram ser
aprofundados, visto que o conjunto de informações tinha relação estreita entre si
no que diz respeito à formação da mulher, atendendo aos padrões esperados para a
época. O modelo de família no período estudado tinha a figura masculina como
provedora, enquanto a mulher tinha seu papel voltado para a maternidade, para os
afazeres domésticos e para o marido, atributos instituídos e com os quais supõe-se
que alcançaria sua felicidade e a de sua família. Verificou-se que as obras
sustentam a necessidade que a mulher tem de preservar sua feminilidade por meio
de cuidados pessoais e com atividades para possa se restabelecer dos afazeres
domésticos. A higiene pessoal e os cuidados com a limpeza são enfatizados, pois a
manutenção desses hábitos indica que poderá ser vista como uma pessoa sadia e
apresentável frente às pessoas da família, especialmente ao cônjuge. A figura
feminina permanece à frente da organização e dos cuidados com a casa, higiene,
alimentação e bem estar dos filhos e do marido. A visão da mulher com controle
sobre situações difíceis, seja na educação dos filhos ou na organização dos
afazeres domésticos, desprendendo-se dos próprios desejos e necessidades em
favor de outros é percebida no decorrer da leitura. Os assuntos dirigiam-se à
preparação da moça que se casaria e teria filhos, com orientações muito
específicas de atividades e hábitos que dariam a base para a família, ocupando o
lugar central na organização e nos cuidados da casa, dos filhos e do marido. Os
conhecimentos poderiam auxiliá-la no cumprimento de seu papel de dona de casa,
ou participando de uma sociedade beneficente, cuidando das crianças ou de
famílias com menor grau de discernimento, cristalizando assim o espírito feminino
com o qual a mulher é dotada. O estudo dessa Escola Normal, a partir de obras
dispostas em sua biblioteca mostra sua coerência com a visão que se tinha da
mulher das classes sociais mais privilegiadas e com a formação cristã da época.
Palavras-chave: Escola normal. Espírito feminino. esposa e mãe.
Pesquisa concluída
10
Odair Sass
PSICOLOGIA, DIREITO, EDUCAÇÃO: A IDÉIA DE
TECNOLOGIA DAS REFORMAS SOCIAIS EM OLIVEIRA
VIANNA
Discute-se um dos modos de inserção da psicologia social nas ciências sociais e na
educação brasileira. Em particular, pretende-se evidenciar como a psicologia é
introduzida, no Brasil, como tecnologia, isto é, como um conjunto de
conhecimentos científicos deliberadamente aplicado para exercer o controle social
sobre o indivíduo e as massas, procurando destacar o papel da educação associada
a essa inserção. Para discutir essa evidência toma-se como referência a perspectiva
que toma a psicologia social como psicologia política, tal como se depreende dos
escritos de Francisco José de Oliveira Vianna[1883—1951]; diga-se, um dos
primeiros intelectuais brasileiros, do ponto de vista cronológico e formal, a adotar
a psicologia como um modo de interpretar, sob a óptica da psicologia social, o
homem brasileiro em relação ao meio sociocultural (Oliveira Vianna, 1920; 1923)
bem como a organização política brasileira(Oliveira Vianna,1987). Claro está que
a hipótese subjacente à esta exposição contrapõe-se àquela que admite a psicologia
social como um ramo especializado, um desdobramento tardio de uma psicologia
geral anteriormente desenvolvida, tal como sustentam diversos estudos sobre a
história da psicologia e da educação, no Brasil. Supõe-se, aqui, que a inserção da
psicologia no Brasil, realiza-se, desde logo, por meio de tensões entre tendências
distintas (biológica e social), antes do que por um desenvolvimento linear que
paulatinamente desentranha, como especialização, a psicologia social.
Antecipe-se que o significado atribuído por Oliveira Vianna à Psicologia Social
aproxima-se da perspectiva que se dedica à psicologia dos povos e das massas—
iniciada com Wilheim Wundt, na Alemanha do século XIX, e, desde então,
também desenvolvida especialmente pela sociologia e psicologia francesa—,
mediante uma aplicação singular para a época em que escreveu à medida que
inscreve a psicologia social como psicologia política, especificamente, como
elemento central de sua análise sobre as carências da vida política brasileira e
componente básico para aquilo que ele denomina de “tecnologia das reformas
sociais”. Quanto à educação, resumidamente, o autor a reivindica como educação
política do povo para superar a inércia social fundada na tradição e nos costumes
bem como a coação imposta por transformações exógenas conduzidas pelo Estado,
na mesma proporção que rejeita a educação reduzida, pelos reformadores, à
alfabetização. Em termos concisos, Oliveira Vianna, ao discorrer a respeito da
sociologia das instituições brasileiras, propõe-se a investigar a relação entre o
direito, a cultura e o comportamento social, acompanhada por uma análise do que
ele denomina de culturologia do Estado, e finalizada pela psicologia política. A
recorrência à Psicologia social representa, segundo o jurista e sociólogo brasileiro,
o esforço para tornar compreensível a razão real da falta de habilitações para a
prática democrática inexistentes desde o período colonial em virtude da ausência
de uma escola propriamente brasileira que promova a educação social e política do
povo, a qual somente poderá ser realizada por uma escola pautada em seus
costumes, tradições e instituições. Sem desconsiderar o nacionalismo arraigado e
reacionário de Oliveira Vianna, vale reter o liame que postula a psicologia como
um elemento explicativo de uma história de quatro séculos de colonização
marcada pela discrepância do que é idealizado pelas elites e o que é de fato
praticado pelo direito costumeiro do povo-massa; discrepância superável à medida
que seja desenvolvida uma sociologia das instituições com o objetivo de “estudar
o nosso direito público e constitucional exclusivamente à luz dos modernos
critérios da ciência jurídica e da ciência política: isto é, como um fato de
comportamento humano”. Esse entendimento leva o autor a considerar que os
problemas das reformas de regime, portanto, as questões políticas brasileiras
convertem-se em problemas de mudanças de comportamento coletivo, imposto ao
povo-massa; portanto, em problemas de cultura e de culturologia aplicada. A
investigação privilegia a obra Instituições políticas brasileiras (1987), publicada
pela primeira em 1949, porque ela expressa com maior vigor, em relação às duas
outras obras consultadas (Populações meridionais do Brasil (1920) e Pequenos
estudos de Psicologia social (1923), tanto o conceito de cultura e seus nexos com o
que o autor nomeia de “tecnologia das reformas” sociais, quanto a função política
da psicologia social, ou, como ele prefere registrar, a psicologia como “psicologia
política”.
Palavras-chave: Psicologia social, Psicologia política; cultura
Pesquisa concluída
X
Rafael Ostrovski
A EMERGÊNCIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: UMA
INVESTIGAÇÃO DA REVISTA PEDAGÓGICA (1890-1896)
O foco central desta pesquisa reside na investigação histórica da constituição de
saberes e práticas psicológicos relacionados ao projeto educacional brasileiro
durante a Primeira República (1889-1930). A fonte primária utilizada corresponde
à Revista Pedagógica, publicação que veiculou as idéias e propostas discutidas no
Pedagogium entre 1890 e 1896. Esta instituição foi criada pela reforma do sistema
de ensino de 1890 para ser um centro que pudesse propor e promover mudanças
no sistema educacional brasileiro, assim como coordenar as atividades
pedagógicas em curso no país. O Pedagogium foi um órgão centralizador,
responsável por estratégias para a educação nacional, tendo como diretores
Menezes Vieira (de 1890 até 1896) e Manoel Bomfim (de 1897 até 1919).
Observamos a presença de uma estratégia pedagógica relacionada a uma proposta
psicológica para a educação. Para divulgação e compartilhamento de
11
conhecimentos de interesse para a educação o museu pedagógico dispunha, como
um de seus instrumentos relevantes, a Revista Pedagógica, de distribuição gratuita
ao professorado, propiciando recursos e reflexões pedagógicas que serviriam de
base para a construção de um país civilizado. A Revista é composta de textos
bastante heterogêneos - relatórios, decretos, traduções, manuais, crônicas do
exterior e do interior entre outros – que enriquecem a análise histórica. A partir da
análise da Revista Pedagógica e de documentação complementar encontrada em
arquivos, a pesquisa em curso tem como objetivo específico indicar o papel da
psicologia como recurso para implantação de práticas pedagógicas e, neste
movimento, apontar a emergência da psicologia relacionada à educação. Pretende-
se verificar como a aliança entre educação e psicologia adquiriu uma função social
e política, com o propósito de transformar o cenário educacional no período
republicano e alcançar certa ordenação da população. É de se ressaltar a
importância dada pelos investigadores à busca pela compreensão do contexto
brasileiro e suas particularidades, bem como o respeito à singularidade das
mesmas. Após consulta detalhada nos arquivos do Rio de Janeiro, constatamos a
raridade da documentação referente ao Pedagogium. A Revista Pedagógica
constitui então documento da maior relevância para conhecimento do tema. Os
resultados parciais obtidos nesta pesquisa histórica até o momento foram:
levantamento de todos os tomos da Revista Pedagógica na biblioteca do
CFCH/UFRJ e na Biblioteca Nacional, digitalização de todo o material para
acesso livre em site da Universidade, levantamento das fontes secundárias sobre o
tema no Portal de Periódicos da Capes e levantamento de toda legislação sobre
educação no período abordado.
Palavras-chave: Revista Pedagógica, Pedagogium, Psicologia,
Educação, Primeira República.
Pesquisa em andamento
X
Renata Patricia Forain de Valentim; Bárbara Albuquerque
Pereira; Rafael Pires Leite
A ESCOLA NORMAL DO DISTRITO FEDERAL E A
EMERGÊNCIA DO PENSAMENTO PSICOLÓGICO NO
BRASIL
Partindo da já estabelecida relação entre a Educação e a difusão da Psicologia no
Brasil, este projeto tem como objetivo analisar a presença das ideias psicológicas
na formação dos professores oferecida pela Escola Normal do Distrito Federal
entre 1899 e 1932. Investigando, particularmente, como este ensino e suas práticas
correlatas foram se transformando ao longo das sucessivas reformas sofridas por
esta instituição. Para tanto, foram analisados os programas de ensino do curso, no
período compreendido entre seu estabelecimento como instituição republicana, em
1889; até 1932, quando ela se torna Instituto de Educação. No total foram
localizados 18 programas, que correspondem aos anos de: 1899, 1902, 1904, 1906
a 1915, 1917, 1923, 1924, 1927 e 1929. Nestes, o ensino da Psicologia começa
apenas a partir do terceiro ano do curso normal, estendendo-se algumas vezes ao
quarto, ou limitando-se a este. Nesta recolha foram observados dois planos
distintos, ainda que indissociáveis, de constituição desta fonte documental. No
primeiro, seus aspectos formais de apresentação: seus temas, autores e escolas de
referência. No segundo, sua composição como discurso científico, onde estão
indissociavelmente implicadas suas bases históricas e suas relações com o
conhecimento psicológico produzido no período. Assim, nos programas de ensino
analisados, pode ser observado um progressivo abandono dos aspectos mais gerais
e descritivos do conhecimento psicológicos em direção a uma aplicação mais
direta à criança e sua formação. Puderam ser observadas ainda influências teóricas
múltiplas, que fizeram coexistir nas mesmas práticas, diferentes conceitos de
diferentes escolas de Psicologia.
Palavras-chave: História da Psicologia; Escola Normal do Distrito
Federal; Pensamento Psicológico
Pesquisa concluída
X
Rita de Cássia Vieira
O PSICÓLOGO E SEU FAZER NA EDUCAÇÃO:
CONTANDO UMA OUTRA HISTÓRIA
Foi desenvolvido um estudo sobre o trabalho do psicólogo no âmbito da
Educação, buscando avaliar esse trabalho tendo como referência as críticas que lhe
têm sido feitas. Essas críticas, que adquiriram vulto ao longo dos anos de 1980 e
persistem até a atualidade, qualificam a atuação do psicólogo educacionalescolar
como reducionista, limitada, direcionada para o atendimento de interesses
individuais em detrimento do coletivo e distanciada das questões sociais,
econômicas, políticas e ideológicas que atravessam as instituições educativas e o
próprio processo educativo. De acordo com essa visão, a intervenção do psicólogo
nos processos educativos, apoiada nos dois pilares que a sustentam – a psicometria
e o atendimento clínico individual –, contribuiria para a exclusão escolar e social
de alunos de classes sociais menos favorecidas. A hipótese é que, embora em casos
já relatados pela literatura crítica, a psicologia possa efetivamente ter contribuído
para justificar processos de exclusão educacional ou social, a atuação do psicólogo
está longe de ser monolítica. Considera-se que é possível que seu trabalho possa
12
ter o efeito contrário e contribuir para a inclusão escolar e social de grupos
desfavorecidos, quando inspirado em perspectivas teóricas que enfatizem a gênese
social e cultural dos fenômenos psicológicos. O locus da pesquisa foi a Clínica de
Psicologia Edouard Claparède da Fundação Helena Antipoff, localizada em Ibirité,
Minas Gerais. A escolha dessa instituição levou em consideração o seu
reconhecido papel como uma das precursoras da psicologia no estado de Minas
Gerais, e que ainda se encontra em funcionamento. Além disso, a Clínica
Claparède é parte da obra da psicóloga e educadora russa Helena Antipoff,
pioneira no estabelecimento e consolidação da psicologia da educação em Minas e
no país, e cujo trabalho destacou-se pelo olhar direcionado para as questões sócio-
culturais. Assim, o estudo dessa Clínica poderia evidenciar um trabalho
diferenciado e implicado com as questões sociais, voltado para a inclusão. Os
dados foram coletados através de análise dos laudos psicológicos – utilizando-se a
modalidade fenomenológica de pesquisa em Psicologia –, estudo dos arquivos
documentais da Clínica e entrevistas semi-estruturadas. Concluiu-se pela
confirmação da hipótese levantada: na instituição estudada realmente desenvolve-
se um processo diferenciado de trabalho, onde se destaca a preocupação com a
interpretação sócio-cultural dos processos psicológicos e com a inclusão escolar e
social dos sujeitos atendidos. A partir dessa análise, são feitas considerações sobre
a importância de uma sólida formação teórica e técnica para o exercício
profissional, obtida através da associação entre ensino, pesquisa e extensão.
Palavras-chave: atuação-psicologia e educação-historia da
psicologia-psicólogo
Pesquisa concluída
X
Roselania Francisconi Borges
MANOEL BOMFIM: UM PRECURSOR DA EDUCAÇÃO E
DA PSICOLOGIA NO BRASIL
Para este estudo tomamos como objeto de análise a obra Lições de Pedagogia
escrita e publicada em 1915 por Manoel Bomfim (1868-1932), e reeditada em
1917 e 1926. Recorremos a obra Lições de Pedagogia por reconhecê-la como
fonte histórica, pela qual buscamos identificar os pressupostos higienistas contidos
nas concepções educacionais de Manoel Bomfim, estabelecendo correlações e
contradições presentes em suas concepções teóricas em relação aos ideais
educacionais dominantes na época. Médico de formação, Manoel Bomfim foi
membro da Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM) e um dos idealizadores da
educação no Brasil, especialmente no que se refere a educação escolar. Como
integrante da LBHM foi membro da Secção de Deficiencia Mental e da Secção de
Psychologia Aplicada e Psychanalyse. Seu pensamento revela algumas concepções
criadas acerca da educação e da psicologia no início do século XX, expressando as
ideias e os ideais vigentes na época. Imbuído de um ideal nacionalista num
período em que havia ainda um pessimismo em relação à possibilidade de
formação de uma nacionalidade, Manoel Bomfim se contrapunha aos intelectuais
que descreviam o povo brasileiro como inferior e atrasado e se destacava ao
enfatizar a necessidade de valorização do povo e de investimentos nos ideais
cívicos da pátria. No âmbito educacional contribuiu com diversas obras que
delinearam o pensamento educacional brasileiro marcando sua atuação na
elaboração de currículos e materiais didáticos utilizados nos cursos de formação
de educadores. Colocando-se em favor de propostas para melhorar as condições de
escolarização do país, desempenhou várias funções no setor público enquanto
médico, jornalista, historiador e estudioso de pedagogia e psicologia. Após 1894
abandonou a medicina e passou a dedicar-se à política e à educação. Entre os anos
1901 e 1902 residiu na Europa e estudou psicologia e pedagogia. Na área da
psicologia, foi um dos precursores da inserção do uso de testes psicométricos no
Brasil ao frequentar a Universidade de Paris: Sorbonne e conhecer Alfred Binet
(1857-1911), psicólogo francês criador da escala métrica de inteligência, com
quem trabalhou e de quem recebeu influências que marcaram sua atuação
profissional no Brasil voltada à psicologia da educação, nas primeiras décadas do
século XX. Em 1903 criou e dirigiu o primeiro Laboratório de Psicologia
Experimental de Pedagogia no Brasil, no Pedagogium. Fundada em 1890, esta
instituição funcionava como uma academia de educadores e museu pedagógico,
tendo sido a primeira instituição a criar espaço para um novo campo da psicologia
no Brasil: a psicologia da educação. Esta surgia desvinculada da prática
psiquiátrica, neurológica ou assistencial. Seu maior compromisso era com a
educação e com problemas específicos da psicologia. Nestes termos, enquanto
pesquisadora do GEPHE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Higienismo e o
Eugenismo no Brasil, o qual tem como premissa básica a análise dos
encaminhamentos educacionais pautados nos pressupostos do higienismo e da
eugenia, buscamos realizar a articulação entre as concepções de Manoel Bomfim e
o cenário educacional, bem como sócio-político e econômico do Brasil, nas
primeiras décadas do século XX. Cenário este que se mostrava bastante
conturbado em função do acirramento dos conflitos e antagonismos de classe
existente pelas diferenças nas relações sociais de trabalho estabelecidas,
principalmente, no período de transição do Império para a República. Ou seja, na
passagem de uma política econômica global pautada no trabalho escravo em uma
sociedade de economia basicamente agrícola, para uma política assentada na mão-
de-obra livre e na industrialização. Nesse sentido, os higienistas, ao recorrerem às
diferenças individuais para encaminharem questões de ordem coletiva – como se
fossem leis de natureza – e ao proporem explicações pautadas em questões
individuais e não em condições sociais, naturalizaram as desigualdades sociais
constituindo-se como álibi para justificar tais desigualdades, escamoteando as
contradições sociais inerentes à sociedade de classes. Desse modo, encontraram
13
forte aceitação no ideário dessa nova sociedade ao defenderem o controle social e
a manutenção da ordem estabelecida. Sendo assim, compreendemos que os
adeptos do movimento higienista – entre eles Manoel Bomfim - ao delinearem
ações de prevenção e promoção da higiene mental/moral para a infância, baseada
em um modelo ideal de intervenção na família e na escola, nos legaram
exemplares lições de como encaminhamentos sustentados pelo saber das ciências
naturais, sem as necessárias mediações sociais, podem favorecer ações que o
tempo transcorrido pode demonstrar tratar-se de equívocos ou apresentarem sinais
de incorreção. Apesar desse tempo decorrido, na atualidade tais concepções podem
ainda ser identificadas em várias modalidades de intervenções propostas pela
psicologia no âmbito educacional, como as avaliações de alunos que frequentam
programas de atendimento educacional especializado (AEE) em salas de recursos
ou de altas habilidades/superdotação para os quais, em geral, é demandada que a
avaliação seja pautada em testes psicométricos sob pena de que tais avaliações não
sejam consideradas científicas. Enfim, mais de um século depois, esta é uma
questão ainda a ser superada pela psicologia.
Palavras-chave: Manoel Bomfim, higienismo, higiene Mental,
história da pedagogia, história da psicologia.
Pesquisa concluída
14
XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA
12-13 DE AGOSTO 2013
PUCSP – SÃO PAULO
GRUPO: PERSONAGENS | BIOGRAFIA
Bianca Ferreira Rocha; Érika Lourenço
UM RETRATO DA OBRA DE HELENAANTIPOFF A PARTIR
DA REVISTA DO ENSINO E DA REVISTA BRASILEIRA DE
ESTUDOS PEDAGÓGICOS
Helena Antipoff (1892-1974) foi uma das personagens que contribuiu para a
configuração da psicologia como ciência e como profissão e para o campo da
educação no Brasil. Nascida na Rússia no final do século XIX, a autora fez sua
formação superior na Universidade de Sorbonne, na França, e no Instituto Jean
Jacques Rousseau, na Suíça. Veio para o Brasil em 1929, contratada pelo governo
do estado de Minas Gerais, onde produziu um extenso trabalho, merecendo
destaque suas propostas para a educação da criança excepcional, a educação da
criança superdotada e a formação de professores para a educação rural. Diante da
importância da obra desta autora para a psicologia e a educação no Brasil, este
trabalho que é fruto de um projeto de pesquisa, teve como objetivo verificar e
analisar quais os temas da obra de Helena Antipoff tiveram maior impacto entre
psicólogos e educadores brasileiros. Para isso, foram analisadas as citações de
Helena Antipoff em duas das principais revistas científicas das áreas da psicologia
e da educação publicadas no Brasil a partir da década de 1930 até o final da
década de 1970. As revistas analisadas foram: Revista do Ensino, sendo 166
volumes e Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, sendo 135 volumes,
disponíveis para consulta em Belo Horizonte, na Biblioteca da FAE-UFMG e no
Arquivo Público Mineiro. Os referenciais que orientaram a coleta e a análise dos
dados foram a abordagem quantitativa em historiografia da psicologia e a
abordagem fenomenológica. As duas abordagens permitiram evidenciar o impacto
da obra da autora na psicologia e na educação no Brasil, bem como permitiu uma
compreensão mais ampla sobre as ideias de Helena Antipoff que ganharam
destaque nos trabalhos de outros estudiosos. Na análise dos dados foi constatado
que as referencias aos trabalhos de Helena Antipoff concentram-se nas publicações
das décadas de 1930 e 1940, tornando-se menos expressivo nas décadas
posteriores. Foram encontradas 41 publicações na Revista do Ensino que citam os
trabalhos da autora e 11 publicações na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.
A análise das publicações das revistas aponta para dois tipos de resultados, que se
referem aos artigos que citam o trabalho de Helena Antipoff e os trabalhos
publicados por ela. As publicações que citaram o trabalho de Helena Antipoff,
tratavam principalmente de questões relacionadas aos testes psicológicos, a
educação especial e a homogeneização das classes. Os trabalhos desenvolvidos e
publicados pela referida autora versavam sobre os temas relacionados a psicologia
e desenvolvimento infantil, testes psicológicos, homogeneização das classes,
educação rural e do excepcional. No âmbito educacional destacam-se os trabalhos
desenvolvidos por Helena Antipoff no Laboratório de Psicologia da Escola de
Aperfeiçoamento sobre a homogeneização das classes escolares em Belo
Horizonte e os trabalhos desenvolvidos no Instituto Pestalozzi sobre a educação do
excepcional e a educação rural. Diante dos resultados podemos concluir até o
momento que a obra de Helena Antipoff trouxe grandes contribuições para os
autores que se dedicavam a psicologia e a educação no Brasil.
Palavras-chave: Helena Antipoff, educação, psicologia da educação,
revista, história da psicologia
Pesquisa concluída
X
Carolina de Resende Damas Cardoso
A PSIQUE ENTRE A NATUREZA E A CULTURA EM EDITH
STEIN E WILLIAM STERN
Esta pesquisa na linha de investigação de história da psicologia tem por objeto o
estudo histórico conceitual de algumas obras de dois autores que se destacaram no
contexto alemão do fim do século XIX e inícios do século XX: Edith Stein (1891-
1942) e William Stern (1871-1938). São elas: Contribuições à fundamentação
filosófica da psicologia e das ciências do espírito (1922), de Edith Stein; e
Psicologia geral desde o ponto de vista personalístico (1938), de William Stern.
Entre os dois autores existem semelhanças no que diz respeito aos tópicos
15
estudados como também uma precisa relação histórica destacada em suas
biografias: Stern lecionava psicologia em Breslau e Stein frequentou suas aulas
como aluna em 1911-1912. O objetivo da pesquisa é apreender a elaboração do
conceito de psique e das relações desta com a natureza e com a cultura nas
propostas de psicologia científica que os dois autores formularam nessas obras.
Para a análise das mesmas, será utilizado o método histórico-conceitual: serão
tomadas como fontes primárias as edições em língua espanhola das obras de Edith
Stein (1922/2003b) e de William Stern (1938/1951); fontes secundárias serão
utilizadas para o aprofundamento do contexto histórico da filosofia e psicologia
alemã da época. As questões que nortearão a análise se referem a: 1) entender
como cada um dos dois autores concebeu a psique humana (sua estrutura e
funcionamento) na interface entre o mundo natural e o mundo da cultura; 2)
verificar se ambas as teorias propostas pelos dois autores tinham algo em comum;
3) evidenciar as semelhanças, as diferenças e as eventuais contribuições que estas
perspectivas podem trazer para a psicologia contemporânea, num momento
histórico em que há uma retomada da importância da cultura na constituição da
psique humana e uma busca por epistemologias mais abrangentes em que sejam
superados o naturalismo e o positivismo que fundamentaram as ciências da psique
em suas origens.
Palavras-chave: fenomenologia, psicologia filosófica, psicologia
experimental, século XIX
Projeto de pesquisa
X
Celia Maria Marcondes Ferraz Silva
POR UMA PSICOLOGIA SOCIAL BRASILEIRA: SILVIA
TATIANA MAURER LANE
Nosso propósito ao elaborar este trabalho foi contribuir com o estudo da
Psicologia Social no Brasil, mostrando que Silvia Tatiana Maurer Lane (1933-
2006) teve importância relevante na formulação das bases teóricas de uma
Psicologia Social Brasileira. Silvia lecionou e pesquisou por 40 anos e teve cargos
importantes na PUC de São Paulo. A atividade docente favoreceu o
desenvolvimento das suas ideias, a partir de uma postura crítica, permanente, à
psicologia social de influência americana. A PUC de São Paulo, instituição que a
acolheu e ofereceu incentivo para suas pesquisas teve importância relevante no seu
trajeto. Escolhemos para estudar a autora, um caminho ainda não trilhado pelos
demais pesquisadores que falaram a respeito da ilustre professora, conduzindo a
nossa pesquisa, em especial, a partir dos documentos pessoais deixados na PUC de
São Paulo e que hoje compõem o acervo Silvia Lane, sob a guarda do Núcleo de
Estudos em História da Psicologia- NEHPSI. A análise do percurso nos mostrou
conexões importantes entre o seu trabalho e o contexto sócio histórico que
influenciou o seu pensamento. A “guerra fria”, a revolução chinesa, a revolução
cubana e, em especial, o período da ditadura militar no Brasil, foram decisivos
para a formulação das bases teóricas para uma psicologia social brasileira,
engajada na solução dos graves problemas sociais do país e, capaz de apoiar a
transformação da realidade. Para o estudo das ideias, tomamos por base um texto
ainda não publicado, denominado: “Caminhos Percorridos”, escrito pouco tempo
antes da sua morte e que daria origem a um livro. Além de uma reflexão sobre os
temas estudados, ensinados e escritos por Silvia, ao longo de quarenta anos
dedicados à Psicologia Social, havia a indicação dos textos, publicados ou não,
que deveriam ser incluídos no livro. A escolha se deveu à representatividade de
cada um deles para o tema e, também, à possibilidade de trazer à luz material de
difícil acesso. A leitura dos “Caminhos Percorridos” nos permitiu entender a
estrutura dada pela autora ao seu próprio pensamento. A psicologia da linguagem,
as bases teóricas para a formulação de uma Psicologia Social brasileira, a
psicologia comunitária, o processo grupal e a mediação emocional, estão presentes
ao longo de toda a obra, gerando pesquisas, textos, cursos e apresentações,
recebendo ao longo do tempo, novos olhares e releituras que fizeram avançar a
compreensão dos temas. A obra não se encerra, deixando espaço aberto para novos
estudos a serem realizados pelos seus seguidores.
Palavras-chave: História da Psicologia. Acervo de documentos
pessoais. Caminhos Percorridos.
Pesquisa concluída
X
Ciléia Saori Hamada de Miranda; Érika Lourenço
AS CONTRIBUIÇÕES DE HELENAANTIPOFF PARAA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Essa pesquisa possui como objetivo investigar a mudança provocada no sistema
educacional mineiro no período de 1929 a 1974 realizado pela psicóloga russa
Helena Antipoff através do convite do governo para a implantação da Reforma
Francisco Campos e Mario Casassanta na educação; e o conseqüente impacto
causado ao acesso ao ensino básico e profissionalização aos infradotados e
superdotados. O referencial metodológico adotado para esta pesquisa foi o da
biografia contextualizada, que toma a biografia de um autor como ponto de partida
para a compreensão de sua visão de mundo e de seu trabalho teórico. A partir deste
referencial, buscou-se identificar os conceitos, as teorias e as propostas de
psicologia da educação e educação inclusiva apresentados em publicações e em
16
manuscritos. Os resultados da pesquisa mostram que as crianças antes rejeitadas
pelo sistema educacional e pelo mercado de trabalho devido as suas dificuldades
conseguiram desenvolver capacidades intelectuais, motoras e manuais, tornando-
as aptas a trabalhar e a realizar os próprios cuidados pessoais como higiene e
alimentação, além de capacitar educadores normalistas para o ensino em áreas
rurais. O ensino acontecia nas instituições fundadas por Helena Antipoff como a
Sociedade Pestalozzi, no Rio de Janeiro sua primeira sede e posteriormente em
Belo Horizonte, e na Fazenda do Rosário, a qual se tornou um complexo
educacional atendendo os bem dotados, professoras normais e infra dotados. A
partir dos dados levantados podemos concluir que o conhecimento adquirido na
atuação de Antipoff no Instituto Jean Jacques Rousseau em Genebra, fundado por
Claparéde, as experiências de atuação da psicologia no período da queda do Czar
na Rússia e a sua formação acadêmica com base experimental contribuiram para a
formação de educadores na Escola de Aperfeiçoamento, no Instituto Superior de
Educação Rural e na educação básica e para o trabalho na Fazenda do Rosário. As
técnicas estrangeiras implantadas e adaptadas ao contexto brasileiro
transformaram o sistema de ensino, o impacto dos testes psicológicos e a aplicação
dos mesmos, contribuíram na identificação de delimitações e no agrupamento de
indivíduos conforme sua habilidade seja para intervenção ou na formação de
classes nas escolas do governo. Os trabalhos e os projetos realizados por Helena
Antipoff podem ser considerados iniciativas pioneiras pela educação inclusiva,
uma vez que se enquadram na Lei número 10.845, de 5 de Março de 2004. Essa lei
assegura a universalização do atendimento especializado de educandos portadores
de deficiência cuja situação não permita a integração em classes comuns e garante,
progressivamente, a inserção dos educandos portadores de deficiência nas classes
comuns de ensino regular.
Palavras-chave: Helena Antipoff, inclusão, psicologia da educação,
história da psicologia.
Pesquisa concluída
X
Eneida Nogueira Damasceno
CRIAÇÃO DE ARQUIVO EPISTOLAR DO
NEUROFISIOLOGISTA MIGUEL ROLANDO COVIAN: UM
REGISTRO HISTÓRICO-CONTEXTUAL
Criação de arquivo epistolar do neurofisiologista Miguel Rolando Covian: Um
registro histórico-contextual. 2013. Dissertação (Mestrado) Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo, 2013.
Eneida Nogueira Damasceno – Departamento de Psicologia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - USP –
SP Marina Massimi (orientadora) - Departamento de Psicologia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - USP –
SP Miguel Rolando Covian (1913-1992) foi um neurofisiologista argentino,
discípulo de Bernardo Houssay, que chegou ao Brasil em 1955 para dirigir o
Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. À frente
deste Departamento, projetou-o como um dos mais renomados centros de
investigação científica da América Latina, elevou-o a um reconhecimento de nível
internacional, um centro de excelência em pesquisa no Brasil e no mundo. O
objetivo deste trabalho é organizar e catalogar a correspondência epistolar e
institucional do Professor Doutor Miguel Rolando Covian. Essa correspondência,
contendo um total de 1.546 cartas, foi encontrada na sala de Covian depois de sua
morte e guardada. A realização desta pesquisa levou-nos à descoberta de um
testamento, deixado por Covian revelando sua vontade de que o material
pertencesse à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto após sua morte. Este
trabalho consiste em: 1) classificar e organizar por assunto tal correspondência, de
modo a assegurar sua conservação e preservação enquanto documentos históricos
ainda protegidos pela Legislação Federal, cuja acessibilidade estará a cargo da
instituição que a guarda. 2) Evidenciar a variedade de assuntos contidos nestas
missivas, concernentes a diversas áreas do conhecimento humano, principalmente
as relativas à História das Ciências, com destaque para a História da Psicologia, da
Medicina e da Educação. Isso nos leva a contribuir para a pesquisa
disponibilizando fontes primárias devidamente classificadas, catalogadas e
preservadas. Trata-se de uma pesquisa documental, na qual se utilizou o método
descritivo, sendo a narrativa o estilo da escrita. A escolha do modo narrativo é
justificada pelo fato de permitir uma amplitude de informações que não seria
possível em uma descrição pontual. Essa opção nos levou a um cuidado com a
fidelidade da narração, de forma que a transposição da linguagem não alterasse
significativamente a forma original do diálogo contido nas cartas. No decorrer do
trabalho observou-se a necessidade de oferecer uma síntese do contexto histórico
do período no qual se deu essa correspondência (1955-1985), para este fim
procedeu-se a uma pesquisa com a utilização do método histórico, que resultou em
capítulos contendo sínteses contextuais relevantes para o entendimento do
conteúdo das missivas, assim como uma breve biografia de Covian e outra de seu
mestre Bernardo Houssay, a pessoa com quem ele mais se correspondia.
Considerando que a correspondência de Miguel Rolando Covian está sendo
entregue higienizada, organizada e catalogada, como base para sua preservação;
que a descrição em forma de narrativa dos assuntos contidos sinaliza
particularidades de acontecimentos relatados, bem como sentimentos e emoções
demonstradas nos textos originais; que as apresentações biográficas e a
contextualização apresentam o universo relatado nas correspondências e que este
material encontra-se agora passível de ser arquivado, preservado e disponibilizado
de acordo com as regras estipuladas pela Legislação vigente e pela instituição que
o guarda, concluímos que nossos objetivos foram alcançados.
Palavras-chave: Correspondência Epistolar; preservação de
documentos.
Pesquisa concluída
17
Gabriel Vieira Cândido
CONTRIBUIÇÃO DE CAROLINA MARTUSCELLI BORI
PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA CULTURA
CIENTÍFICA NACIONAL
Para se conhecer a ciência produzida em uma determinada região, compreender
sua história, é fundamental. Nesta história, inclui-se as pessoas que dela fazem
parte e seus valores, estuda-se um cientista a partir do contexto social do qual faz
parte e não apenas seus interesses científicos, da evolução de ideias e dos
conceitos científicos. Além disso, com esta maneira de compreender história da
ciência permitiria entender como e por que pessoas desempenharam tais papéis.
Assim, é impossível analisar algum período ou evento histórico sem analisar a
história das pessoas que deles fizeram parte. Um nome importante na história da
ciência Brasileira é Carolina Martuscelli Bori (1924 – 2004). Dentre suas
contribuições são citadas, por exemplo, a coordenação de grupos de
pesquisadores, a organização de revistas científicas, a direção de sociedades
científicas e, mais especificamente, a luta pelo reconhecimento e a regulamentação
da formação de psicólogos e a difusão do método experimental na Psicologia.
Neste trabalho, propôs-se explicar o papel que esta cientista desempenhou na
ciência brasileira, o porquê de ela ter se envolvido em tantas frentes de trabalho e
por que se manteve desenvolvendo tantas atividades das mais diversificadas. Para
isso, realizou-se uma análise de toda sua obra, composta por 22 textos (entre
artigos e uma tese de doutorado). Além disso, propôs-se conhecer a contribuição
de Carolina Bori a partir do método da história oral. Foram entrevistados oito
pesquisadores que trabalharam com Bori e uma sobrinha, que falaram sobre a
atuação de Bori nas atividades que realizaram em conjunto, fizeram avaliações da
contribuição que ela teria dado, além de informações pessoais sobre a maneira
dela lidar com situações cotidianas. Encontrou-se que ela escreveu sobre diversos
assuntos, como Psicologia Social, Psicologia Experimental, Personalidade,
Formação do Psicólogo, Análises Estatísticas, Motivação, entre outros. Além
disso, a maior parte de seus textos foram publicados na década de 1950 e 1960.
Quanto às entrevistas, encontrou-se que as principais contribuições de Bori foram
em relação ao desenvolvimento da ciência no Brasil, em seguida, o
desenvolvimento da Psicologia e, por fim, o desenvolvimento da Análise do
Comportamento, abordagem psicológica que ela aderiu a partir de 1961. Apesar de
pouca publicação, o principal papel desempenhado por ela teria sido a de
contribuir e criar iniciativas para a realização e discussão de pesquisas científicas.
Palavras-chave: Ciências no Brasil, Psicologia, Análise do
Comportamento
Pesquisa em andamento
Lidiane de Oliveira Goes
A TRAJETÓRIA DE GIOCONDA MUSSOLINI:
CONFIGURAÇÃO DO SABER E DA PRÁTICA
PSICOLÓGICA ENTRE OS ANOS DE 1930 A 1960 NO
BRASIL
Este trabalho pretende compreender Gioconda Mussolini como personagem na
constituição da Psicologia como campo de estudo e de intervenção profissional no
Brasil. O interesse por esta personagem surgiu a partir de informações sobre sua
relação com a Psicologia entre os anos de 1930 a 1960 em São Paulo. Tais
informações apontam que a ciência psicológica esteve presente na formação e
atuação profissional de Gioconda Mussolini. Busca-se, a partir das relações dessa
com instituições e pessoas, contar a história da Psicologia no Brasil. A ideia de
matriz de Ian Hacking pode auxiliar neste intuito, uma vez que essa é entendida
como uma rede complexa de elementos (pessoas, documentos, instituições,
lugares, etc.) articulados entre si. A metodologia desta pesquisa consiste em: 1)
conversas com estudantes, docentes e funcionários que conviveram com Gioconda
Mussolini; e 2) na análise de documentos de domínio público levantados nas
instituições de ensino e de produção científica das quais Gioconda Mussolini
participou. A escolha dos informantes tem sido realizada a partir da participação
dos mesmos em uma das três instituições de interesse para esta pesquisa entre o
período de 1938 a 1969, a saber: a Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP); o
Curso de bacharel em Psicologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Universidade de São Paulo (FFCL/USP) e a Sociedade de Psicologia de São Paulo
(SPSP), atual Associação de Psicologia de São Paulo (APSP). Os anos marcam,
respectivamente, o início e o término das atividades de Gioconda Mussolini na
USP, término ocasionado em virtude de seu falecimento da mesma. Até o
momento, foram identificados os seguintes informantes: Arrigo Angelini
(professor do Curso de bacharel em Psicologia), Mary Jane Spink e Orlando
Bueno (alunos do Curso de bacharel em Psicologia). Todos são considerados
informantes-chave e poderão auxiliar na identificação de outros. As conversas
serão agendadas de acordo com disponibilidade do informante e terão duração de
duas horas e trinta minutos. Versaram sobre o contexto da instituição da qual o
informante participou e conviveu com a personagem. Haverá perguntas sobre
objetivos, fundação, funcionamento e atividades da instituição; ingresso, formação
profissional, participação e desligamento dos membros da instituição; cooperação
entre os membros; e vida pessoal, profissional de Gioconda Mussolini. Outras
perguntas serão incorporadas a partir do que o informante contar. As conversas
serão registradas com o auxílio de um gravador digital e, posteriormente,
transcritas. Apenas uma entrevista foi realizada até o momento. Outro
procedimento a ser adotado é o levantamento de documentos de domínio público a
ser realizado a partir de visitas ao Projeto Memória da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, sediado no Centro de Apoio à Pesquisa em História
Sérgio Buarque de Holanda (CAP/FFLCH), ao Centro de Memória do Instituto de
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Psicologia e às bibliotecas do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Escola de
Comunicação e Artes (ECA) e da Faculdade de Educação. Todos estão situados
nas dependências da USP. Foram realizadas visitas às instituições mencionadas
acima entre os dias 17 e 21 de setembro de 2012. Foram localizadas onze
publicações de Gioconda Mussolini, o currículo vitae de Gioconda Mussolini de
1965, sete programas da cadeira de Antropologia entre os anos de 1959 a 1968, um
manual do curso acadêmico feminino, o depoimento de Gilda Mello e Souza
(docente da FFLCH); o anuário da FFLCH de 1952; a edição comemorativa dos
50 anos do Boletim de Psicologia; uma tese de doutorado da Faculdade de
Educação e; uma foto de Gioconda Mussolini. Como técnica para analisar as
informações geradas a partir dos documentos e das entrevistas será utilizada a
análise do discurso. Esta análise consiste, inicialmente, numa leitura dos
documentos e das entrevistas, a fim de identificar a rede de instituições e pessoas
que fizeram parte da vida profissional de Gioconda Mussolini. Na análise das
publicações, espera-se identificar a ideia de Psicologia que estava vigente naquele
momento e no que essa influenciou na produção intelectual da autora, bem como
no que a mesma se distanciou. Como resultados iniciais, pode-se citar a elaboração
de uma linha do tempo a partir do currículo de Gioconda Mussolini com a
finalidade de identificar as relações desta com pessoas e instituições que estiveram
presentes na formação e atuação profissional. Os resultados sugerem que a
formação e atuação profissional de Gioconda Mussolini foram marcadas não só
pela variedade de áreas do conhecimento como de temas. Nas instituições
responsáveis pela sua formação, apenas uma delas (o Curso de Bacharel em
Ciências Sociais na FFCL/SP) não possui vínculo aparente com a Psicologia. As
parcerias aqui apresentadas, referentes à identificação das áreas do conhecimento
dos pesquisadores, não permitem apontar relações diretas com a Psicologia. No
entanto, uma análise das temáticas, presentes nas pesquisas das quais Gioconda
Mussolini participou, parece ser próspera a esse respeito.
Palavras-chave: História da Psicologia, Interdisciplinariedade,
Práticas discursivas
Pesquisa em andamento
X
Marilene Oliveira Almeida; Raquel Martins de Assis
O ENSINO DE ARTE NA OBRA DE HELENA ANTIPOFF:
UM DIÁLOGO ENTRE AARTE E A PSICOLOGIA
Este resumo apresenta uma pesquisa, em andamento, proveniente do Mestrado em
Educação/ Faculdade de Educação/UFMG. Tem-se como objetivo investigar a
proposta de ensino de arte na Fazenda do Rosário, Ibirité, Minas Gerais, entre as
décadas de 1940, período de implantação dessa instituição idealizada pela
educadora e psicóloga russa Helena Antipoff, que chega ao Brasil em 1929 para
atuar na Escola de Aperfeiçoamento, e início da década de 1970, período
antecedente a sua morte, ocorrida em 1974. Emergindo-se da dimensão
pedagógica da educadora, a investigação privilegia investigar como se deu o
ensino de arte na Fazenda do Rosário, a partir dos escritos de Helena Antipoff e do
diálogo com colaboradores. Tem-se como hipótese que a relação estabelecida entre
Antipoff e o artista-educador Augusto Rodrigues foi importante parceria para a
concepção e execução do ensino de arte ali desenvolvido. A parceria entre Antipoff
e Rodrigues remonta à fundação da Sociedade Pestalozzi do Brasil e da Escolinha
de Arte do Brasil, instituições iniciadas no período em que a educadora atuou no
Rio de Janeiro/Ministério da Saúde, sem, contudo, desligar-se dos trabalhos
desenvolvidos em Minas. Por meio das instituições fundadas e idealizadas dentro
dos princípios pedagógicos escolanovistas - a Fazenda em 1939 e a Pestalozzi em
1945, por Antipoff e colaboradores e a Escolinha em 1948, por iniciativa de
Rodrigues, outros artistas e apoio de Antipoff – foi possível estabelecer parcerias
que permitiram desenvolver uma reflexão acurada sobre ensino de arte para
atender tanto às crianças quanto à formação de professores. Os documentos
consultados no Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff indicam uma
movimentação em prol de se dinamizar os trabalhos de arte desenvolvidos na
Fazenda, ora em cursos realizados na própria instituição, ora em convênios para
atender aos professores em formação que se dirigiam ao Rio, na Escolinha e
também na Pestalozzi do Brasil, onde Rodrigues foi professor. Acredita-se que o
contato com o Rio de Janeiro, onde se viveu um surto de educação artística,
colaborou para compor um cenário produtivo nessa área na Fazenda do Rosário,
trazendo-lhe indicação de profissionais para atuarem como artistas-professores.
Podemos destacar os artistas-educadores: o ceramista pernambucano Jether
Peixoto e o francês Jean Bercy, que ali residiram, a jornalista e escritora ucraniana
Olga Obry, que lecionou teatro na Pestalozzi do Brasil e na Fazenda, além do
próprio Rodrigues. A pesquisa realizada indica que houve um intenso movimento
de promoção de oficinas de artesanato, privilegiando-se a matéria-prima local,
como: cerâmica, bambu, fibras naturais, carpintaria e entalhe em madeira,
produção têxtil em teares manuais, assim como o teatro de bonecos, de fantoches e
de máscaras indicados como atividades recreativas, de aplicação pedagógica nas
escolas. O ensino de arte na Fazenda do Rosário era desenvolvido como
possibilidade de formação humana e profissional, tanto para adultos como para
crianças. Nesse sentido, Antipoff empreendeu esforços para trazer artistas-
educadores nacionais e internacionais que colaboraram para que a arte pudesse
alcançar a comunidade local, trazendo-lhe melhores condições de vida e
multiplicar-se na forma de formação de professores para atuarem no ensino rural.
Palavras-chave: Educação pela arte, Fazenda do Rosário; Augusto
Rodrigues.
Pesquisa em andamento
19
Nadia Maria Dourado Rocha
REVISITANDO "INVESTIGAÇÕES DE PSICOLOGIA"
Eduardo Ferreira França (1809-1857) é um médico e parlamentar baiano, cuja
família, desde o princípio do século XIX, tem integrantes que atuam no magistério
superior, no início em Medicina e desde o início do século passado, em Direito.
Eduardo fez o se curso superior na Faculdade de Medicina de Paris, integrando a
primeira geração de brasileiros que não estudou na Universidade de Coimbra,
único local em que a coroa portuguesa autorizava os brasileiros a frequentar.
Ainda na capital francesa manifestou ele preocupação com a questão das
influências ambientais sobre o comportamento humano. Prova disto é a tese
inaugural por ele defendida, cujo título é “Essai sur l´influence des aliments et des
boissons sur le moral de l´homme” (1834). Retornando a Salvador, tornou-se
professor de Mineralogia na Faculdade de Medicina da Bahia. Publicou
“Influência das emanações pútridas animais sobre o homem” (1850) e “Influência
dos pântanos sobre o homem” (1851). Em 1854 lançou o livro “Investigações de
Psicologia”, que, até o momento, é o mais antigo das três Américas, tendo em vista
que William James publicou o seu Psychology em 1890, ou seja, 36 anos depois.
O “Investigações” foi apresentado em dois volumes, com 284 e 424 páginas,
respectivamente, sendo composto por seis partes, às quais ele denominou “livros”:
Fenômenos da consciência e faculdades; Modificabilidade; Motividade;
Faculdades intelectuais; Instintos; Vontade. Já algum tempo o GT de História da
Psicologia da ANPEPP se propôs a realizar um colóquio, tendo por tema o referido
livro. A proposta inicial é os seus integrantes que se interessem pelo projeto
escolham um aspecto a desenvolver, buscando também envolver alunos e
orientandos. O colóquio está previsto para ocorrer em maio de 2015, na Faculdade
de Medicina da Bahia (FMB-UFBA), antecedendo o IX Congresso Norte-
Nordeste de Psicologia (CONPSI). A expectativa é que ocorram, também durante
este evento, atividades sobre o livro, a exemplo de mesas-redondas, simpósios e a
apresentação de painéis.
Palavras-chave: Pioneiros psicologia; Psicologia na Bahia; Eduardo
Ferreira França
Projeto de pesquisa
X
Renata Rocha Tsuji da Cunha
RELAÇÕES ÉTNICO/RACIAIS NA HISTÓRIA DA
PSICOLOGIA: OS ESTUDOS INTERCULTURAIS DE
ANIELA GINSBERG
Esta pesquisa teve como foco a produção da psicóloga e pesquisadora Aniela
Meyer Ginsberg (1902-1986) sobre relações étnico/raciais e interculturais, entre
1947 e 1978. A pesquisa historiográfica consistiu no levantamento bibliográfico e
documental, na leitura e análise de conteúdo, e na elaboração de resenhas e
quadros demonstrativos da produção de Aniela sobre relações étnico/raciais e
interculturais, contendo: título, ano, local de publicação, co-autores, referenciais
teóricos, método, forma de classificação étnico/racial dos sujeitos pesquisados e
principais resultados. O levantamento bibliográfico foi realizado nos acervos das
bibliotecas: Dante Moreira Leite do IPUSP e Nadir Kfouri da PUC/SP; e no
acervo da Fundação Aniela e Tadeuz Ginsberg (FATG), em São Paulo. Aniela
Ginsberg é uma das principais autoras de psicologia nas décadas de 1940 a 1970
no Brasil. Filha de poloneses, chega ao Brasil em 1936 e aqui encontra a
diversidade étnico/racial da população em ampla convivência – ainda que
edificada dentro de uma estrutura de desigualdades e discriminação. Assim, o
Brasil se torna um “laboratório social” perfeito para suas pesquisas interculturais.
Seus estudos de raça/etnia configuram-se como estudos intraculturais da sociedade
brasileira e de suas amplas diversidades. Aniela realizou estudos comparativos sob
diversos aspectos (idade, sexo, meio social, origem nacional, influências culturais
e fator étnico/racial) para investigar a natureza e a manifestação das diferenças
individuais e entre grupos. Os processos migratórios, as relações étnico/raciais e
os processos inter e intraculturais estavam no centro de suas investigações.
Influenciada pela agenda antirracista do pós-guerra e pela difusão dos estudos das
relações étnico/raciais a partir de 1930 no Brasil, Aniela tinha a preocupação de
detectar as especificidades (raciais, culturais e nacionais), questionando a
universalidade do saber psicológico. Nesse contexto, a psicologia intercultural era
o método que permitia o estabelecimento de diferenças e de leis gerais do
comportamento humano. Para Aniela, as diferenças entre os grupos étnico/raciais
– assim como as diferenças de inteligência, de idade, entre população urbana e
rural, entre os sexos – são devidas mais às variáveis do ambiente, como o
ambiente social e as condições educacionais, que às variáveis internas do
indivíduo, como suas características físicas e psicológicas. Sendo assim, raça/etnia
aparece como fator importante na compreensão das diferenças e desigualdades,
devido ao meio social brasileiro, marcado pela segregação étnico/racial e pelo
papel social inferior atribuído ao negro. Em seus estudos, a autora preocupa-se em
abordar as desigualdades étnico/raciais como categoria de análise, para além das
desigualdades puramente sociais. Nas décadas de 1940 e 1950, Aniela voltava-se
para o estudo de diferenças encontradas nos resultados de testes projetivos e de
nível mental: nesse contexto, estava mais atenta à influência do fator étnico/racial
– relacionado à origem nacional e/ou à hereditariedade. Os conceitos de raça/etnia
e de cultura apareciam, então, entrelaçados. Nas décadas seguintes, porém,
influenciada pela nova agenda de estudos em psicologia, ela passa a isolar as
influências dos fatores racial e cultural dentro das características de personalidade
e das motivações. A principal contribuição de Aniela para o estudo das relações
étnico/raciais e interculturais diz respeito à riqueza de métodos utilizados em seus
estudos. Os diferentes testes que ela utiliza em seus estudos – Rorschach, Mira y
López, Escala de Cantrill, T.A.T, Teste de Borrões de W. Holtzman (HIT),
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Questionário de Filosofia de Vida, Medida da Distância Social e o método
Sociométrico – aparecem como ferramentas que permitem a comparação criteriosa
e estruturada das semelhanças e diferenças entre indivíduos de raças/etnias
distintas. Aniela utilizava os testes psicodiagnósticos para comparar aspectos de
personalidade e de comportamento de diferentes indivíduos dentro de uma mesma
etnia (viés intracultural) e de etnias diferentes (viés intercultural), confrontando
dados de grupos étnicos distintos para separar os aspectos gerais da personalidade
humana das características culturalmente induzidas. Pode-se concluir que para
Aniela a metodologia aparece como resposta às questões de pesquisa: é a partir
dos diferentes métodos que a pesquisadora pretende cercar todas as variáveis
possíveis para tentar compreender as diferenças e as semelhanças encontradas
entre indivíduos em seus inúmeros estudos inter e intraculturais. Apesar de utilizar
amplamente os testes em seus estudos, a crítica a suas características sempre foi
uma preocupação de Aniela: as diferenças entre os resultados de indivíduos de
meios sociais e/ou de grupos étnico/raciais distintos podem ser causadas, muitas
vezes, por características intrínsecas aos próprios testes utilizados, em geral,
elaborados especialmente com base em indivíduos de meios sociais mais
abastados (com freqüência, brancos), solicitando mais seus interesses e seu o
universo simbólico. Aniela procurou desconstruir, ao longo das décadas de 1940 a
1970, a visão determinista biológica das raças que prevalecia na Psicologia até
então e mostrar que é na interação dos indivíduos com a sociedade que as
diferenças podem transformar-se em desigualdades, ou seja, que as diferenças são
mais construções socioculturais, do que fruto da hereditariedade.
Palavras-chave: Raça/etnia; Pesquisa historiográfica, Aniela Meyer
Ginsberg, Psicologia Intercultural.
Pesquisa em andamento
X
Roberta Gurgel Azzi; Maria do Carmo Guedes
CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO A
HISTORY OF PSYCHOLOGY IN AUTOBIOGRAPHY: O
QUE REVELAM OS PREFÁCIOS
Este relato insere-se no conjunto de estudos das autoras sobre a temática da
Autobiografia, que vem pautando discussões em torno do seguinte
questionamento: em qual medida os relatos autobiográficos escritos por psicólogos
são boas fontes para conhecer a construção do campo diverso da psicologia? Para
tal jornada toma-se em especial a coleção A History of Psychology in
Autobiography. Esta coleção agrega 9 volumes, tendo sido o primeiro publicado
em 1930 e o mais recente, o nono, em 2007. Neste encontro, o relato a ser
privilegiado considera os Prefácios de cada livro em busca de respostas para
questionamentos do tipo: qual a proposta da coleção? Como se deu a escolha dos
autores das autobiografias? Como foi a composição e mudanças no grupo de
editores? O projeto e expectativa dos textos autobiográficos mudaram ao longo do
tempo em que os volumes foram publicados? Acredita-se que o promissor diálogo
com outros investigadores interessados no tema autobiográfico permitirá a troca de
informações importantes para o prosseguimento desta jornada e ajudará na
construção de categorias de análise para voltar o olhar para autobiografias
publicadas na coleção, em busca da resposta para a pergunta norteadora dos
estudos, apresentada no início deste resumo.
Palavras-chave: autobiografia, fonte documental, diversidade da
Psicologia
Pesquisa em andamento
X
Robson Nascimento da Cruz
B.F. SKINNER E A NARRATIVAAUTOBIOGRÁFICA DA
VIDA CIENTÍFICA
A biografia, no século XIX e durante quase todo o século XX, foi concebida como
um gênero literário de segunda categoria. Biografia e história, mais do que não se
comunicarem, apresentavam antagonismos profundos. A biografia compreendida
como saber subjetivista e desprovido de erudição; enquanto a história apreciada
como ciência, objetiva e culta. Todavia, a partir dos anos oitenta do século
passado, uma significativa mudança ocorre nesse cenário. Desde então, é crescente
o interesse pela biografia como um campo de estudo e fonte de pesquisa
respeitável. Como, por que, por quem e para quem ela é escrita, as prováveis
classificações de uma biografia, seu caráter mimético, seu impacto na consciência
histórica, seu papel na cultura pós-moderna, entre outros fatores, tornaram-na
objeto de estudo de diferentes campos do conhecimento. Na historiografia da
ciência e, por sua vez, na historiografia da psicologia os efeitos dessas mudanças
foram evidentes. Historiadores da psicologia têm, assim, exposto a utilidade deste
tipo de fonte, uma vez que biografias e autobiografias de personagens históricas
dessa ciência fornecem acesso a elementos do comportamento científico
inexistentes em outras fontes. Considerando essas novas possibilidades de uso de
fontes biográficas na historiografia da psicologia, que analisamos a relação entre a
vida acadêmica e institucional de B.F. Skinner e a organização comunitária da
análise do comportamento entre 1928 e 1970. Objetivo possibilitado pelo recurso à
autobiografia de Skinner, trabalho apresentado em mais de mil páginas de um
minucioso relato de história de vida, e relatos autobiográficos e biográficos da
primeira e segunda geração de analistas do comportamento. O argumento central é
a de que a história dessa ciência enquanto disciplina científica foi definida em suas
quatro primeiras décadas por uma extensão de elementos idiossincráticos (padrões
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  • 1. 1
  • 2. XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 12-13 DE AGOSTO 2013 PUCSP – SÃO PAULO RESUMO DE TRABALHOS INSCRITOS 2013 2
  • 3. XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 12-13 DE AGOSTO 2013 PUCSP – SÃO PAULO GRUPOS TEMÁTICOS 1. EDUCAÇÃO..........................................................................................................................................................................................................04 2. PERSONAGENS | BIOGRAFIA.....................................................................................................................................................................15 3. SAÚDE MENTAL | HIGIENE MENTAL.......................................................................................................................................................24 4. ANÁLISE DOCUMENTAL | INSTITUIÇÕES.............................................................................................................................................35 5. PSICOLOGIA SOCIAL.......................................................................................................................................................................................43 6. TEORIAS E SISTEMAS | MÉTODO | ABORDAGENS TEÓRICAS...................................................................................................55 2013 3
  • 4. XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 12-13 DE AGOSTO 2013 PUCSP – SÃO PAULO GRUPO: EDUCAÇÃO Adriana Araújo Pereira Borges A PSICOLOGIA NO INSTITUTO PESTALOZZI (1930-1940) O Instituto Pestalozzi foi fundado em 1935 a partir da iniciativa da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais. A Sociedade Pestalozzi foi criada em 1932 através de um grupo de intelectuais mineiros, conduzidos por Helena Antipoff, psicóloga russa, que veio para o Brasil em 1929 a convite do governo do estado de Minas Gerais para lecionar na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte. A situação das crianças “anormais” era preocupante. Sensibilizada pela causa, propôs o termo “excepcional” para diminuir o estigma causado pelo termo “anormal”. Atuou como psicóloga do Consultório Médico Pedagógico da Sociedade Pestalozzi inaugurado em 1933 e que, posteriormente, foi anexado ao Instituto Pestalozzi. O Instituto Pestalozzi foi concebido como um local destinado a centralizar, executar e orientar os trabalhos relativos às crianças mentalmente deficientes de Minas Gerais. Efetivamente, acolheu crianças com deficiências oferendo tratamento através do consultório e educação, através das classes especiais. Durante certo tempo, acolheu também crianças do Abrigo Afonso de Moraes, que não tinham acesso à escola. Interessa-nos, nesse momento, discutir o papel da psicologia nessa instituição. Para tanto, propomos analisar prontuários do Instituto Pestalozzi, recolhendo informações sobre a atuação do psicólogo nesse local. Recolhemos 70 prontuários do Instituto Pestalozzi, entre os anos de 1933- 1940, sendo 10 prontuários de cada ano. Além disso, foram consultadas outras fontes, como os Boletins da Secretaria da Educação e Saúde Pública de Minas Gerais, dos anos de 1933, 1934 e 1937, denominados de “Infância Excepcional” e que ficaram sob responsabilidade da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais. Outra fonte utilizada foi a brochura intitulada “Menores Abandonados”, de autoria de Cora Duarte, professora do Instituto Pestalozzi e de Helena Antipoff, relato dos primeiros meses de funcionamento do Instituto Pestalozzi quando este acolheu as crianças do Abrigo Afonso de Moraes. A partir da descrição das atividades do consultório médico pedagógico e do Instituto Pestalozzi, podemos discutir o impacto dessa instituição no cenário mineiro da década de 1930 e suas consequências para o campo da psicologia aplicada. Uma primeira observação é a de que as atividades da psicologia do consultório contribuíram para a afirmação do campo. Uma segunda observação diz respeito a atuação multidisciplinar, uma prática que se iniciava no Brasil. Concluímos que, apesar de uma atuação fortemente marcada pela utilização dos testes psicológicos, o papel da psicologia ia além. Citamos como contribuição importante da psicologia, a criação da ficha de observação elaborada para mães e educadores acompanharem o desenvolvimento mental das crianças. E ainda, a presença em alguns prontuários de condutas propostas pela psicologia. Podemos citar o caso de uma criança, cuja deficiência física dificultava a escrita. Helena Antipoff propõe que a crianças utilize a máquina de datilografia. Dessa forma, a psicologia vai assumindo lugar de destaque na equipe, ao lançar um olhar diferenciado sobre a criança e seu desenvolvimento, propondo alternativas para sua educação e tratamento. APOIO: FAPEMIG Palavras-chave: Helena Antipoff, consultório médico-pedagógico, classes especiais, crianças excepcionais; Pesquisa em andamento X Cecília Andrade Antipoff A PEDAGOGIA DA ESCOLA EDUC – CENTRO DE EDUCAÇÃO CRIADORA NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇÕES DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA Este trabalho apresenta uma pesquisa de doutorado em andamento que tem como objetivo realizar um estudo de caso histórico sobre uma instituição de ensino mineira: a Escola Educ – Centro de Educação Criadora, que foi fundada em 1978 e funcionou até o ano de 2007. Fundada pelos psicólogos e educadores Daniel e Ottília Antipoff, esta escola, voltada para alunos do maternal ao quinto ano, apresentava uma proposta pedagógica original, baseada nos pressupostos humanistas da educação. Apesar de não ser uma escola específica para crianças 4
  • 5. com altas habilidades / superdotação, oferecia atendimento a estas crianças através de metodologias de trabalho diferenciadas, como, por exemplo: grupos móveis, projetos de estudos individuais ou em pequenos grupos e aceleração (quando o aluno saltava uma série por apresentar desenvolvimento emocional e pedagógico além do esperado para sua idade cronológica). Além disso, o aluno era entendido como o centro do processo educativo, sendo considerado em suas singularidades, limitações e interesses, o que pode ser constatado, tanto através da proposta de ensino individualizado (uma vez que cada turma era composta por, no máximo, quinze alunos), quanto através da metodologia de avaliação utilizada, que era baseada na proposta da Experimentação Natural de Alexandre Lazursky, trazida para o Brasil pela psicóloga e educadora Helena Antipoff. Tal avaliação propunha que se levasse em consideração o desempenho e desenvolvimento da criança ao longo do ano em variados aspectos que não apenas aqueles observados nas disciplinas específicas (como português, Matemática, ciências...), mas, também, nas dimensões da psicomotricidade, sociabilidade, habilidades artísticas, criatividade e características subjetivas, com base em observações realizadas pelo próprio educador, com a participação dos alunos. O que se propõe aqui é o estudo da história particular da Escola Educ, uma experiência local, que aconteceu no município de Nova Lima/ MG, que propunha formas diferenciadas de ver e entender tanto a criança e o processo de ensino- aprendizagem, como a avaliação no contexto educacional, mas que foi idealizada através de um diálogo elaborado por seus fundadores com diversas fontes teóricas educacionais e psicológicas que tinham, na época, um impacto global. Como algumas destas fontes, citam-se as americanas, as russas e as européias. Dentre as fontes americanas que inspiraram o projeto pedagógico da Escola Educ, cita-se Leta Stetter Hollingworth, com a proposta de uma educação para as crianças com altas habilidades / superdotação e Carl Roger, com a proposta Humanista, enfocada na aprendizagem significativa, no interesse e na participação ativa do aluno em seu processo de ensino e aprendizagem. Dentre as fontes Russas, aparecem Helena Antipoff com sua proposta, também humanista de educação, marcada pelo ideário da Escola Nova e Alexandre Lazursky com a Experimentação Natural. E, por último, como fontes européias, citam-se Edouard Claparede; Celestine Freinet e Jean Piaget, representantes do movimento da Escola Nova. A partir de tantas propostas educacionais inspiradoras, pretende-se explicitar como Daniel e Ottília Antipoff utilizaram-se destas diversas fontes que dialogaram com suas experiências e, partir daí, elaboraram uma síntese original através desta experiência educacional que foi a Escola Educ. Pretende-se realizar um diálogo entre a proposta pedagógica da Escola Educ e os impasses educacionais contemporâneos identificando o que existiu de original nesta proposta e que poderia ser utilizado como alternativa aos desafios educacionais atuais. Como alguns dos impasses contemporâneos no contexto educacional citam-se, por exemplo, os desafios em relação à educação voltada para as necessidades educacionais especiais que propõe o amparo e atendimento às diferenças no contexto de sala de aula e, também, as avaliações, que têm se mostrado cada vez mais maçantes e padronizadas, levando algumas crianças ao fracasso escolar e aos infindáveis encaminhamentos aos psicólogos, psicopedagogos, psiquiatras... O que se pretende, desta forma, não é apenas trazer fatos acontecidos em uma determinada escola, em um passado nem tão distante assim, mas, estabelecer conexões entre idéias, construir um novo pedaço de história através de uma nova perspectiva, buscando uma interface com as questões e idéias educacionais atuais Esta pesquisa está baseada no campo temático da historiografia da educação brasileira denominado de história das instituições educacionais, buscando amparo teórico no campo de estudo da história da psicologia. Trata-se de um estudo histórico sobre uma instituição educacional que funcionou em Minas Gerais, e que pode trazer contribuições para o contexto da psicologia e da educação atual, no sentido incitar novas reflexões e, por que não, inspirar novos projetos.. Para alcançar os objetivos propostos, será realizada uma pesquisa nos arquivos, documentos e livros desta escola, além da realização de entrevistas semi estruturadas com ex-alunos com o intuito de identificar o significado de ter participado desta experiência educacional. A opção pela análise de documentos acrescida da análise das entrevistas se dá pelo fato de uma ação se mostrar complementar à outra, favorecendo a produção de um conhecimento histórico. Palavras-chave: Escola Educ - História - psicologia - Educação – contemporaneidade Projeto de pesquisa X Claudia da Silva Leite A LÓGICA DO MUNDO EMPRESARIAL NO ENSINO SUPERIOR: IMPLICAÇÕES PARAALUNOS E PROFESSORES A representação social do docente do ensino superior privado tem sofrido inúmeras alterações ocasionadas pelas mudanças socioeconômicas e políticas advindas das reformas educacionais no Brasil nas últimas décadas. A pesquisa tem o intuito de analisar a representação do professor em diferentes momentos históricos desde a reforma universitária de 1968, identificando o papel e a memória do docente inserido na sociedade que comercializa seu trabalho e o percebe como mercadoria. As medidas adotadas com a reforma de 1968 pretendiam maior eficiência e produtividade na universidade, fragmentando o trabalho do professor, já que se impunham: final da cátedra vitalícia substituída por departamentos como unidade básica alocando professores das áreas afins, matrícula por disciplina, sistema de créditos, cursos profissionalizantes e pós- 5
  • 6. graduação. O corpo docente perdeu sua autonomia e passou a reproduzir conteúdos elaborados pelos especialistas. A reforma determinou à satisfação da demanda educacional para atender aos próprios interesses, implantando a privatização das universidades, pautada na comercialização do ensino com baixo custo e um maior resultado. A universidade começa a atrair indivíduos com menor poder aquisitivo, que busca cursar uma graduação para obter equidade social e maior empregabilidade. Percebemos que o papel do professor vem sendo desqualificado e descaracterizado em função da perda de autonomia ocasionada pela padronização do ensino de massas, os avanços tecnológicos e a massificação da educação que corroboram com as intenções dos empresários de transformarem o docente através do controle de seu trabalho. As condições para o crescimento do ensino universitário privado foram criadas e a reforma permitiu instituições de ensino organizadas a partir de estabelecimentos isolados, voltados à mera transmissão de conhecimentos de cunho profissionalizante e afastados da pesquisa, atendendo aos interesses dos vestibulandos das camadas médias urbanas que encontraram vaga nas instituições particulares, havendo um aumento considerável das mesmas, proliferando a área educacional como fonte de rentabilidade. Para compreender o papel do professor do ensino superior privado atualmente, precisamos investigar o passado, analisar o papel do docente nos diferentes momentos históricos. Prost (1933, p.96), “A história faz-se a partir do tempo: um tempo complexo construído e multifacetado”, assim, entendemos a relevância de pesquisar o professor inserido em uma sociedade capitalista, desde a reforma do ensino de 1968, identificando a sua representação social mediante a comercialização de seu trabalho. Palavras-chave: Reforma universitária de 1968, universidade particular e ensino de massas. Pesquisa em andamento X Deborah Rosária Barbosa ESTUDOS PARA UMA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA EDUCACIONAL E ESCOLAR NO BRASIL Este resumo refere-se aos dados de minha tese de doutorado defendida em 2011. O estudo foi conduzido baseado no fundamento epistêmico-filosófico do materialismo histórico dialético e na nova história, utilizando fontes bibliográficas históricas e cinco relatos orais de personagens da Psicologia Educacional e Escolar. Os depoimentos e o material das fontes escritas constituíram o corpus documental cuja organização seguiu a metodologia da história oral e historiografia plural. Foi realizada análise descritivo-analítica compreendida em duas etapas: a)análise documental (fontes não orais) e b)construção de indicadores e núcleos de significação dos registros orais. A partir das análises, compôs-se uma periodização da história da Psicologia Educacional e Escolar brasileira por meio de marcos históricos compreendendo as fases: 1) Colonização, saberes psicológicos e Educação (1500-1906); 2) A Psicologia em outros campos de conhecimento (1906-1930); 3) Desenvolvimentismo – a Escola Nova e os psicologistas na Educação (1930-1962); 4) A Psicologia Educacional e a Psicologia “do” Escolar (1962-1981); 5) O período da crítica (1981-1990); 6) A Psicologia Educacional e Escolar e a reconstrução (1990-2000); 7) A virada do século: novos rumos? (2000- ). As considerações finais apontam a limitação do modelo de periodização e também esclarece os movimentos expressivos no campo da Psicologia Educacional e Escolar que mostra que esta área no interior da Psicologia teve momentos distintos ao longo do tempo. Momentos mais aliados à manutenção e reprodução do sistema capitalista excludente e discriminatório, prestando um desserviço à Educação, assim como momentos de crítica e busca pela emancipação e uma Educação democrática e para todos. Palavras-chave: História da Psicologia, Psicologia Escolar, História oral Pesquisa concluída X Deolinda Armani Turci; Érika Lourenço A PSICOLOGIA NA ESCOLA NORMAL DE OURO PRETO: DE 1890 A 1930 A pesquisa de mestrado em andamento e que ora se apresenta, tem como objeto o estudo analítico-descritivo dos saberes psicológicos que circulavam nas matérias lecionadas nas Escolas Normais de Minas Gerais, entre 1890 e 1930. A princípio abarcamos estes saberes na Escola Normal de Ouro Preto, primeira escola criada na província, 1835, que após vários momentos de instabilidade no processo de permanência, é reinstalada em 1872. Propõe-se através deste, identificar as relações entre o conhecimento psicológico e a formação de professores em Minas Gerais no período entre o final do século XIX e meados do século XX, e com isto contribuir com a História da Psicologia no Brasil, mais especificamente em Minas Gerais. Para a realização desta pesquisa e em coerência com a abordagem histórica proposta, a opção é por uma pesquisa documental e bibliográfica mediante leitura de bibliografia especializada e dos procedimentos de localização, recuperação, seleção, ordenação, análise das fontes. Tendo como aporte um diálogo entre os elementos trazidos pelos documentos consultados e o campo de pesquisa em História dos saberes psicológicos, entendendo e compreendendo o contexto sócio- 6
  • 7. cultural e político de onde os saberes são produzidos, ensinados, praticados, relacionando-os a conceitos e ou práticas que na atualidade podem ser considerados psicológicos. As fontes para a investigação são os documentos que fazem parte do Fundo da Secretaria de Interior da província mineira e do período tais como: atas de exames de professores e alunos, pedidos de materiais ao governo, estatutos das escolas, documentos avulsos do fundo de instrução, provas e exames, programas de ensino, bem como os jornais do período, manuais e compêndios, relatórios de Presidentes da Província, regulamentos, dentre outros, além de consultas em arquivos escolares e arquivos públicos disponíveis na cidade de Ouro Preto. Em um levantamento inicial feito no Arquivo Público Mineiro (APM), em provas e programas de matérias tais como nas de Pedagogia, Lição de coisas e Higiene do currículo das Escolas Normais Mineiras constatou-se que vários saberes psicológicos estão cunhados nestas, e também nas aulas práticas, espaço de prática docente em escolas modelos anexa às Escolas Normais. Podemos citar como exemplo a matéria de Pedagogia que se instaura oficialmente nos currículos das Escolas Normais mineiras a partir do Regulamento 62 de 1872, que inclui tópicos específicos sobre o bem estar do aluno, a boa estrutura da escola, prêmios, castigos, para citar alguns. Os novos currículos, conteúdos e matérias que compunham a formação de novos docentes estão vinculadas a um conjunto de mudanças que se operam nas concepções sobre a criança e a docência no âmbito do estatuto de racionalidade científica e traz em seu bojo temas relativos ao bom desenvolvimento da criança, do ambiente da sala de aula, da escola e do professora, dentre outros. Palavras-chave: Historia da Psicologia, formação de professores, saberes docentes Pesquisa em andamento X Durval Wanderbroock Junior A EDUCAÇÃO SOB MEDIDA: OS TESTES PSICOLÓGICOS E O HIGIENISMO NO BRASIL (1914-1945) A pertinência do debate acerca dos testes psicológicos permanece mais vigente que nunca. Centenas de publicações ganham as prateleiras de bibliotecas e livrarias à procura de leitores interessados no assunto. Mas, diferente dos debates acerca dos problemas técnicos, o presente estudo buscou compreender alguns aspectos históricos que serviram de cenário para a elaboração dos testes psicológicos no Brasil, presentes na raiz da formação da Psicologia enquanto ciência independente. Nesse sentido, o trabalho “A educação sob medida: os testes psicológicos e o higienismo no Brasil (1914-1945)”, procurou emprestar novo ímpeto a essa discussão, procurando deslindar a relação desses instrumentos de mensuração com as concepções defendidas por médicos signatários de teorias de higiene mental e racial no contexto do conturbado século XX. Mais especificamente, procurou-se explicitar a concepção e o papel que os testes psicológicos cumpriram para a Liga Brasileira de Hygiene Mental entre os anos de 1914 a 1945. O propósito desse debate foi o de compreender como os testes psicológicos foram utilizados no sentido de criar uma “educação sob medida”, entendida como uma estratégia alcançada graças a um duplo processo que consistiu na seleção dos indivíduos aptos e a depuração social dos considerados inaptos. Para isso, elegeu-se como fonte primária os Archivos Brasileiros de Hygiene Mental, órgão oficial da Liga Brasileira de Hygiene Mental, também chamada por nós de Liga. O método de análise utilizado procurou ser fiel às premissas do materialismo histórico, procurando explicar o objeto a partir das múltiplas determinações de seu tempo, sem ignorar sua singularidade. Concluiu-se que a “educação sob medida” foi para a Liga um dos principais fatores de contenção social, já que o período estudado foi marcado por intensos conflitos sociais, engendrados essencialmente pelas grandes transformações nos campos social, econômico e político. Trata-se do período entre-guerras, que assinalou uma substancial mudança nas formas de organização e produção sociais, fruto da nova fase do capitalismo conhecida como fase imperialista. A crise que se abateu no mundo inteiro também permitiu o florescimento industrial brasileiro, despertando o nacionalismo entusiasmado da classe dirigente, com quem a Liga guardou fortes relações materiais e profunda identidade ideológica. A relação com o Estado, denominada por nós de “organicidade sui generis”, precipitou a Liga em atuações com o fito de satisfazer os interesses da classe dominante, submetendo os testes psicológicos a essa finalidade. A indústria, o exército e a imigração foram os principais domínios onde esse empreendimento foi realizado. A Liga associava o progresso da nação com a manutenção dos indivíduos considerados hereditariamente superiores. A educação foi um dos principais domínios onde o processo de depuração social ocorreu. Os testes psicológicos foram incumbidos da tarefa de garantir “o homem certo no lugar certo”, garantindo a consolidação da “educação sob medida” preconizada pela Liga. Por meio do debate acerca do uso dos testes psicológicos, ferramenta cara à formação da Psicologia enquanto ciência independente, procurou-se refletir sobre o conceito de neutralidade científica, presente ainda nos dias atuais. Palavras-chave: Psicometria; Educação; História da Psicologia; Liga Brasileira de Higiene Mental Pesquisa concluída 7
  • 8. Érika Lourenço AS CONCEPÇÕES DE "EXCEPCIONAL" NO INSTITUTO PESTALOZZI DE BELO HORIZONTE (1935-1949) O Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte foi criado em 1935 pela educadora e psicóloga russa Helena Antipoff, com a finalidade de proporcionar às crianças excepcionais, que então ficavam excluídas das escolas regulares, uma educação que levasse em conta suas necessidades e potencialidades. Nas classes especiais e no consultório médico-pedagógico do Instituto eram atendidas crianças com diferentes níveis de retardo mental e surdo-mudas. Helena Antipoff, ao longo de sua vida, acompanhou o trabalho feito no Instituto, dando assistência e idéias para colocar à disposição da infância excepcional a mesma educação sob medida que vinha divulgando para os alunos das escolas primárias regulares de Belo Horizonte. Este projeto aqui apresentado é um recorte de uma pesquisa mais ampla que tem como título “A atenção à criança excepcional na história do Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte”. A partir da proposta de investigar as formas de tratamento médico, educacional e psicológico dados à criança excepcional no Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte desse projeto mais amplo, propõe-se aqui identificar as definições de “excepcional” que orientaram o trabalho na instituição desde o ano de sua criação até o final da década de 1940. Para uma compreensão mais abrangente e crítica de tais definições, serão investigados também os conceitos de “excepcional” presentes nos textos psicológicos e educacionais da época, bem como a legislação referente à educação da criança excepcional então vigente. Esta será, portanto, uma pesquisa historiográfica que buscará integrar uma perspectiva internalista com uma perspectiva externalista. Dentre os procedimentos metodológicos propostos destacam-se o levantamento e a análise dos seguintes itens: publicações e textos inéditos de Helena Antipoff e de suas colaboradoras sobre a atenção a criança excepcional e sobre o Instituto Pestalozzi, documentos inéditos disponíveis no acervo do Instituto Pestalozzi (atas de reuniões, projetos pedagógicos, programas de curso, e outros documentos que venham a ser localizados), relatos de pesquisas sobre diferentes aspectos da história do Instituto Pestalozzi, biografias dos colaboradores de Helena Antipoff no Instituto Pestalozzi.Os dados obtidos serão analisados levando em conta não apenas as propostas da instituição para o acolhimento à criança excepcional, mas também o contexto educacional brasileiro e mineiro em que tais propostas foram implantadas e as teorias e práticas vigentes na psicologia a respeito do diagnóstico, tratamento e educação da criança excepcional. Palavras-chave: Helena Antipoff, infância excepcional, educação, psicologia da educação. história da psicologia Projeto de pesquisa Érika Lourenço; Fernanda Ernesto Machado Felix de Castro ATENÇÃO A CRIANÇA EXCEPCIONAL NA HISTÓRIA DO INSTITUTO PESTALOZZI DE BELO HORIZONTE Desde sua chegada a Belo Horizonte, em 1929, para atuar como professora de psicologia da criança, auxiliando na formação de professores para atender às demandas da reforma do ensino público de Minas Gerais, a educadora e psicóloga russa Helena Antipoff demonstrou preocupação com a situação das crianças excepcionais. Várias de suas ações a partir da década de 1930 tiveram como objetivo acolher, educar e tratar estas crianças. Dentre essas ações, merecem destaque a fundação da Sociedade Pestalozzi, em 1932 e do Instituto Pestalozzi, em 1935. Um dos objetivos da Sociedade Pestalozzi era colaborar com o trabalho das professoras das classes especiais das escolas públicas de Belo Horizonte. Deste modo, organizava palestras e cursos sobre a anormalidade e a higiene mental; oferecia um consultório médico pedagógico para atendimento de crianças epilépticas, surdo-mudas, com distúrbios da palavra ou com conflitos emocionais; publicava o boletim “Infância Excepcional”; e ainda prestava auxílio econômico às escolas, com o fornecimento de material didático. Em 1934 a Sociedade Pestalozzi fundou o Pavilhão Noraldino de Lima, onde passou a funcionar um consultório médico-pedagógico para crianças que precisavam de tratamento e educação especiais. Em 1935, as atividades que funcionavam no Pavilhão deram origem ao Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte. Nas classes especiais e no consultório médico-pedagógico do Instituto eram atendidas crianças com diferentes níveis de deficiência mental e crianças surdo-mudas. O trabalho aqui apresentado é resultado de uma pesquisa historiográfica que teve como foco a história do Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte e do atendimento médico, psicológico e pedagógico que prestava à criança excepcional entre os anos de 1935 e 1949. Foram fontes primárias para a pesquisa as publicações de Helena Antipoff e de suas colaboradoras acerca do funcionamento da Sociedade e do Instituto Pestalozzi, documentos inéditos disponíveis no Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff e nos arquivos do Instituto Pestalozzi, bem como a legislação educacional vigente no período analisado. Os dados obtidos revelaram que a instituição teve relevante papel no acesso das crianças então identificadas como “excepcionais” à educação e à saúde nas décadas de 1930 e 1940. Durante o período em que freqüentavam o Instituto Pestalozzi, as crianças tinham uma ficha na qual constavam dados de sua avaliação médica, psicológica e pedagógica , bem como de seu desenvolvimento ao longo do tempo. Estas fichas revelam que cada criança tinha um acompanhamento individualizado e especializado e que as propostas para sua educação levavam em conta suas necessidades e potencialidades, o que estava de acordo com as ideias escolanovistas que estavam sendo implantadas nas escolas públicas da capital mineira no mesmo momento histórico. Pode-se concluir que com uma prática fundamentada nas principais 8
  • 9. teorias psicológicas acerca do desenvolvimento e da educação da criança então vigentes, o Instituto Pestalozzi, no período investigado, conseguiu aliar o tratar e o educar, propondo novas alternativas para o cuidado de uma parcela da infância excepcional que até então não tinha acesso a um atendimento especializado. Palavras-chave: Historiografia da psicologia; Helena Antipoff; Instituto Pestalozzi; Educação especial. Pesquisa em andamento X Francisco Teixeira Portugal EMERGÊNCIA DA PSICOLOGIA E PROJETO EDUCACIONAL DA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930) Este projeto tem como objetivo propor uma história da Psicologia no Brasil relacionada ao projeto republicano para a educação na Primeira República (1889- 1930). O centro do trabalho estará na investigação das propostas para educação do governo brasileiro durante a Primeira República, do Pedagogium e da obra de Manoel Bomfim (1868-1932) considerando o lugar e a função da psicologia em suas elaborações sociais (autonomia do país, identidade/caráter nacional, anti- racismo, a educação como forma de ação social) e educacionais (defesa da instrução pública, elaboração de material pedagógico e luta por boas condições da prática pedagógica e participação do Estado nesse processo). Palavras-chave: História da psicologia no Brasil, Pedagogium, Manoel Bomfim, educação, Primeira República Pesquisa em andamento X Maria Veranilda Soares Mota A ESCOLA EXPERIMENTAL DE VERA SCHMIDT E SUA ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA Não podemos negar a relevância da psicanálise para o campo educacional, principalmente quando se pensa uma prática pedagógica diferenciada do modelo convencional dos últimos séculos. Montessori (1870-1956), Sabina Spielrein (1885-1941), Vera Schmidt (1889-1937), Vygotsky (1896-1934), Wilhelm Reich (1897-1957), dentre outros, encontraram na psicanálise bases teóricas para propor formas educativas que, até os nossos dias, continuam despertando interesses. O objetivo deste trabalho é analisar a experiência educacional de Vera Schmidt, tendo em vista o contexto dos primeiros anos da revolução russa marcado pelo posicionamento marxista que se refletia na vida social e na desvalorização do modelo familiar patriarcal e burguês, reconhecido como responsável pela manutenção das condições de dominação e opressão que se pretendia eliminar. O momento histórico em referência, os sete anos de governo leninista, propiciava novos horizontes diante da realidade revolucionária a ser garantida, do anseio pela construção da sociedade socialista. Schmidt, ao escrever, em 1923, sobre educação psicanalítica na Rússia, destaca nesse momento, o aumento pelo interesse nas questões educativas e particularmente pela educação coletiva de crianças. Apesar de pouco citada na história da psicanálise, Schmidt foi uma das primeiras a fazer a articulação entre Marx e Freud, antecedendo mesmo a Wilhelm Reich e os frankfurteanos. Isso demanda compreendermos a história da psicanálise na Rússia e as condições políticas e sociais daquele contexto. A experiência de Schmidt se inicia nos primeiros anos da revolução russa, com a criação do Laboratório Lar de Crianças, objetivando desenvolver observação científica e explorar novos métodos educativos baseados na psicanálise, que contava com apenas duas décadas de expansão. A organização do Laboratório contava, inicialmente, com pedagogos interessados na proposta da escola e que se dispuseram a estudar psicanálise. O trabalho pedagógico e psicológico estavam intrinsecamente relacionados. Schmidt apresenta orientações psicanalíticas para o trabalho com as crianças, a partir dos conceitos de consciente e inconsciente, princípio do prazer e princípio da realidade, sexualidade infantil, sublimação, transferência. Na escola, as educadoras não aplicavam castigos, não manifestavam juízos de valores com relação às crianças, explicavam o que e por que se exigia algo delas. Para tanto, se impunha a necessidade do educador trabalhar a si próprio. Schmidt constata que inquietações das crianças eram consequentes de um comportamento neurótico inconsciente dos educadores. Com isso o educador deve primeiro liberar-se dos seus impulsos irracionais consequentes da sua própria educação. Caso contrário, não conseguirá ver as manifestações sexuais das crianças, e será melhor abandonar a profissão de educador. No cotidiano do Laboratório Lar das Crianças, as crianças tinham inteira liberdade de satisfazerem entre si a sua curiosidade sexual. A experiência, em análise, teve inicio em agosto de 1921, com trinta crianças, filhas de operários, camponeses e intelectuais, e oito meses depois, passa a funcionar com apenas doze, devido a rumores acerca de incitações prematuras da sexualidade infantil. Com isso o Comissariado do Povo, que financiava a escola, decide não mais manter os recursos que garantiam o seu funcionamento. A experiência sobrevive até o ano da morte de Lênin. Como diz Reich, todo sistema social, consciente ou inconscientemente, se serve da influência das crianças de cada geração para se enraizar na estrutura dos homens. A história que se fez na Rússia, coerente com seus conflitos culturais, nos revela um aprendizado, por ser a primeira experiência de organização social que, como diz Manacorda, marca uma virada na história. Este trabalho, em andamento, se propõe a partir dessa análise, refletir princípios psicanalíticos para a formação de professores, tendo em vista que o contexto histórico cultural brasileiro demanda que escrevamos nosso modo 9
  • 10. de pensar e fazer educação, pois sabemos que a diversidade dos fatores culturais repercutem na formulação de nossas concepções. Resgatar a história do Laboratório Lar das Crianças é uma forma de buscarmos elementos para pensarmos esta possibilidade. Alexander Neill, em 1960, escreveu: “desde que o gênio de Freud a tornou viva, a psicologia tem caminhado muito... Daqui a 50 anos os psicólogos com certeza sorrirão da nossa ignorância de hoje.” Já se passaram 53 anos e ainda precisamos compreender a ignorância do passado. Palavras-chave: criança, psicanálise, educação Pesquisa em andamento X Maryahn Koehler Silva ENSINO NORMAL: DA FORMAÇÃO DA PROFESSORA À FORMAÇÃO DA MULHER Na pesquisa “Ensino normal: da formação da professora à formação da mulher, esposa e mãe” objetivou-se estudar os conteúdos dispostos nas obras constantes da Biblioteca do Curso Normal do Colégio dos Santos Anjos, colégio confessional católico na cidade de Joinville, nas décadas de 1940 e 1950. Optou-se por esse período em virtude do inicio do Curso Normal ocorrer no ano de 1946 e pela grande quantidade de obras dispostas no acervo relativas há estas duas décadas. O colégio é de tradição centenária na cidade e, como instituição particular, foi o primeiro a oferecer o Curso Normal em Joinville. A investigação passou por diversos caminhos, alterando seu rumo quando, durante a busca de documentos, encontrou-se um relatório de verificação do colégio, datado de 1951. O relatório dispunha de informações a respeito da instituição de ensino, entre elas a listagem de obras didáticas e literárias utilizadas no Curso Normal. Buscou-se informações na biblioteca do colégio, encontrando-se no acervo da mesma um espaço denominado “Obras Antigas”, composto por um total de 726 obras catalogadas, a mais antiga datada de 1927 e a mais “recente” de 1998. Os títulos e sumários de todas as obras destinadas ao curso Normal foram conferidos, observando-se que 61 se referiam à mulher em geral e não à professora especificamente. Levantou-se a hipótese de que, além do objetivo de formar professoras, a Escola Normal tinha também como finalidade formar as jovens estudantes para a condição de mulher: o casamento e a maternidade, segundo os padrões da época e para uma determinada classe social. Os dados primários visando testar a hipótese levantada são oriundos dos 61 livros, tendo como referência a condição da mulher, o que esta precisava conhecer para realizar adequadamente seu papel de mulher esposa-mãe. Optou-se em adotar procedimentos para análise das obras, seguindo os critérios: 1- verificação das obras e classifica-las por temas; 2- destaque dos temas pertinentes ao interesse da pesquisa; 3- escolha dos livros a partir de critérios estabelecidos (período de interesse, títulos e conteúdos voltados à mulher e o que ela deveria ter como base de conhecimento); 4- definição dos critérios de exclusão: não se remeter à figura feminina, tratar de assuntos voltados à doenças, maus hábitos, crises no desenvolvimento, aos pais e aos professores. 5- verificação da regularidade na apresentação dos assuntos; 6- organização e análise dos dados. E, a partir dos critérios, foram selecionadas oito obras para análise. Na medida em que os livros escolhidos foram sendo analisados, observou-se que emergiam temas em comum, alguns presentes em todas as obras, sendo eles: (1) cuidados que a mulher deve ter em relação a sua aparência, descanso e recreação; (2) emoção e controle; (3) gravidez e parto; (4) amamentação e desmame; (5) higiene e alimentação; (6) instituições de assistência à infância e à maternidade e o que fazer em relação a emergências; e 7- espírito feminino. A análise revelou pontos que mereceram ser aprofundados, visto que o conjunto de informações tinha relação estreita entre si no que diz respeito à formação da mulher, atendendo aos padrões esperados para a época. O modelo de família no período estudado tinha a figura masculina como provedora, enquanto a mulher tinha seu papel voltado para a maternidade, para os afazeres domésticos e para o marido, atributos instituídos e com os quais supõe-se que alcançaria sua felicidade e a de sua família. Verificou-se que as obras sustentam a necessidade que a mulher tem de preservar sua feminilidade por meio de cuidados pessoais e com atividades para possa se restabelecer dos afazeres domésticos. A higiene pessoal e os cuidados com a limpeza são enfatizados, pois a manutenção desses hábitos indica que poderá ser vista como uma pessoa sadia e apresentável frente às pessoas da família, especialmente ao cônjuge. A figura feminina permanece à frente da organização e dos cuidados com a casa, higiene, alimentação e bem estar dos filhos e do marido. A visão da mulher com controle sobre situações difíceis, seja na educação dos filhos ou na organização dos afazeres domésticos, desprendendo-se dos próprios desejos e necessidades em favor de outros é percebida no decorrer da leitura. Os assuntos dirigiam-se à preparação da moça que se casaria e teria filhos, com orientações muito específicas de atividades e hábitos que dariam a base para a família, ocupando o lugar central na organização e nos cuidados da casa, dos filhos e do marido. Os conhecimentos poderiam auxiliá-la no cumprimento de seu papel de dona de casa, ou participando de uma sociedade beneficente, cuidando das crianças ou de famílias com menor grau de discernimento, cristalizando assim o espírito feminino com o qual a mulher é dotada. O estudo dessa Escola Normal, a partir de obras dispostas em sua biblioteca mostra sua coerência com a visão que se tinha da mulher das classes sociais mais privilegiadas e com a formação cristã da época. Palavras-chave: Escola normal. Espírito feminino. esposa e mãe. Pesquisa concluída 10
  • 11. Odair Sass PSICOLOGIA, DIREITO, EDUCAÇÃO: A IDÉIA DE TECNOLOGIA DAS REFORMAS SOCIAIS EM OLIVEIRA VIANNA Discute-se um dos modos de inserção da psicologia social nas ciências sociais e na educação brasileira. Em particular, pretende-se evidenciar como a psicologia é introduzida, no Brasil, como tecnologia, isto é, como um conjunto de conhecimentos científicos deliberadamente aplicado para exercer o controle social sobre o indivíduo e as massas, procurando destacar o papel da educação associada a essa inserção. Para discutir essa evidência toma-se como referência a perspectiva que toma a psicologia social como psicologia política, tal como se depreende dos escritos de Francisco José de Oliveira Vianna[1883—1951]; diga-se, um dos primeiros intelectuais brasileiros, do ponto de vista cronológico e formal, a adotar a psicologia como um modo de interpretar, sob a óptica da psicologia social, o homem brasileiro em relação ao meio sociocultural (Oliveira Vianna, 1920; 1923) bem como a organização política brasileira(Oliveira Vianna,1987). Claro está que a hipótese subjacente à esta exposição contrapõe-se àquela que admite a psicologia social como um ramo especializado, um desdobramento tardio de uma psicologia geral anteriormente desenvolvida, tal como sustentam diversos estudos sobre a história da psicologia e da educação, no Brasil. Supõe-se, aqui, que a inserção da psicologia no Brasil, realiza-se, desde logo, por meio de tensões entre tendências distintas (biológica e social), antes do que por um desenvolvimento linear que paulatinamente desentranha, como especialização, a psicologia social. Antecipe-se que o significado atribuído por Oliveira Vianna à Psicologia Social aproxima-se da perspectiva que se dedica à psicologia dos povos e das massas— iniciada com Wilheim Wundt, na Alemanha do século XIX, e, desde então, também desenvolvida especialmente pela sociologia e psicologia francesa—, mediante uma aplicação singular para a época em que escreveu à medida que inscreve a psicologia social como psicologia política, especificamente, como elemento central de sua análise sobre as carências da vida política brasileira e componente básico para aquilo que ele denomina de “tecnologia das reformas sociais”. Quanto à educação, resumidamente, o autor a reivindica como educação política do povo para superar a inércia social fundada na tradição e nos costumes bem como a coação imposta por transformações exógenas conduzidas pelo Estado, na mesma proporção que rejeita a educação reduzida, pelos reformadores, à alfabetização. Em termos concisos, Oliveira Vianna, ao discorrer a respeito da sociologia das instituições brasileiras, propõe-se a investigar a relação entre o direito, a cultura e o comportamento social, acompanhada por uma análise do que ele denomina de culturologia do Estado, e finalizada pela psicologia política. A recorrência à Psicologia social representa, segundo o jurista e sociólogo brasileiro, o esforço para tornar compreensível a razão real da falta de habilitações para a prática democrática inexistentes desde o período colonial em virtude da ausência de uma escola propriamente brasileira que promova a educação social e política do povo, a qual somente poderá ser realizada por uma escola pautada em seus costumes, tradições e instituições. Sem desconsiderar o nacionalismo arraigado e reacionário de Oliveira Vianna, vale reter o liame que postula a psicologia como um elemento explicativo de uma história de quatro séculos de colonização marcada pela discrepância do que é idealizado pelas elites e o que é de fato praticado pelo direito costumeiro do povo-massa; discrepância superável à medida que seja desenvolvida uma sociologia das instituições com o objetivo de “estudar o nosso direito público e constitucional exclusivamente à luz dos modernos critérios da ciência jurídica e da ciência política: isto é, como um fato de comportamento humano”. Esse entendimento leva o autor a considerar que os problemas das reformas de regime, portanto, as questões políticas brasileiras convertem-se em problemas de mudanças de comportamento coletivo, imposto ao povo-massa; portanto, em problemas de cultura e de culturologia aplicada. A investigação privilegia a obra Instituições políticas brasileiras (1987), publicada pela primeira em 1949, porque ela expressa com maior vigor, em relação às duas outras obras consultadas (Populações meridionais do Brasil (1920) e Pequenos estudos de Psicologia social (1923), tanto o conceito de cultura e seus nexos com o que o autor nomeia de “tecnologia das reformas” sociais, quanto a função política da psicologia social, ou, como ele prefere registrar, a psicologia como “psicologia política”. Palavras-chave: Psicologia social, Psicologia política; cultura Pesquisa concluída X Rafael Ostrovski A EMERGÊNCIA DA PSICOLOGIA NO BRASIL: UMA INVESTIGAÇÃO DA REVISTA PEDAGÓGICA (1890-1896) O foco central desta pesquisa reside na investigação histórica da constituição de saberes e práticas psicológicos relacionados ao projeto educacional brasileiro durante a Primeira República (1889-1930). A fonte primária utilizada corresponde à Revista Pedagógica, publicação que veiculou as idéias e propostas discutidas no Pedagogium entre 1890 e 1896. Esta instituição foi criada pela reforma do sistema de ensino de 1890 para ser um centro que pudesse propor e promover mudanças no sistema educacional brasileiro, assim como coordenar as atividades pedagógicas em curso no país. O Pedagogium foi um órgão centralizador, responsável por estratégias para a educação nacional, tendo como diretores Menezes Vieira (de 1890 até 1896) e Manoel Bomfim (de 1897 até 1919). Observamos a presença de uma estratégia pedagógica relacionada a uma proposta psicológica para a educação. Para divulgação e compartilhamento de 11
  • 12. conhecimentos de interesse para a educação o museu pedagógico dispunha, como um de seus instrumentos relevantes, a Revista Pedagógica, de distribuição gratuita ao professorado, propiciando recursos e reflexões pedagógicas que serviriam de base para a construção de um país civilizado. A Revista é composta de textos bastante heterogêneos - relatórios, decretos, traduções, manuais, crônicas do exterior e do interior entre outros – que enriquecem a análise histórica. A partir da análise da Revista Pedagógica e de documentação complementar encontrada em arquivos, a pesquisa em curso tem como objetivo específico indicar o papel da psicologia como recurso para implantação de práticas pedagógicas e, neste movimento, apontar a emergência da psicologia relacionada à educação. Pretende- se verificar como a aliança entre educação e psicologia adquiriu uma função social e política, com o propósito de transformar o cenário educacional no período republicano e alcançar certa ordenação da população. É de se ressaltar a importância dada pelos investigadores à busca pela compreensão do contexto brasileiro e suas particularidades, bem como o respeito à singularidade das mesmas. Após consulta detalhada nos arquivos do Rio de Janeiro, constatamos a raridade da documentação referente ao Pedagogium. A Revista Pedagógica constitui então documento da maior relevância para conhecimento do tema. Os resultados parciais obtidos nesta pesquisa histórica até o momento foram: levantamento de todos os tomos da Revista Pedagógica na biblioteca do CFCH/UFRJ e na Biblioteca Nacional, digitalização de todo o material para acesso livre em site da Universidade, levantamento das fontes secundárias sobre o tema no Portal de Periódicos da Capes e levantamento de toda legislação sobre educação no período abordado. Palavras-chave: Revista Pedagógica, Pedagogium, Psicologia, Educação, Primeira República. Pesquisa em andamento X Renata Patricia Forain de Valentim; Bárbara Albuquerque Pereira; Rafael Pires Leite A ESCOLA NORMAL DO DISTRITO FEDERAL E A EMERGÊNCIA DO PENSAMENTO PSICOLÓGICO NO BRASIL Partindo da já estabelecida relação entre a Educação e a difusão da Psicologia no Brasil, este projeto tem como objetivo analisar a presença das ideias psicológicas na formação dos professores oferecida pela Escola Normal do Distrito Federal entre 1899 e 1932. Investigando, particularmente, como este ensino e suas práticas correlatas foram se transformando ao longo das sucessivas reformas sofridas por esta instituição. Para tanto, foram analisados os programas de ensino do curso, no período compreendido entre seu estabelecimento como instituição republicana, em 1889; até 1932, quando ela se torna Instituto de Educação. No total foram localizados 18 programas, que correspondem aos anos de: 1899, 1902, 1904, 1906 a 1915, 1917, 1923, 1924, 1927 e 1929. Nestes, o ensino da Psicologia começa apenas a partir do terceiro ano do curso normal, estendendo-se algumas vezes ao quarto, ou limitando-se a este. Nesta recolha foram observados dois planos distintos, ainda que indissociáveis, de constituição desta fonte documental. No primeiro, seus aspectos formais de apresentação: seus temas, autores e escolas de referência. No segundo, sua composição como discurso científico, onde estão indissociavelmente implicadas suas bases históricas e suas relações com o conhecimento psicológico produzido no período. Assim, nos programas de ensino analisados, pode ser observado um progressivo abandono dos aspectos mais gerais e descritivos do conhecimento psicológicos em direção a uma aplicação mais direta à criança e sua formação. Puderam ser observadas ainda influências teóricas múltiplas, que fizeram coexistir nas mesmas práticas, diferentes conceitos de diferentes escolas de Psicologia. Palavras-chave: História da Psicologia; Escola Normal do Distrito Federal; Pensamento Psicológico Pesquisa concluída X Rita de Cássia Vieira O PSICÓLOGO E SEU FAZER NA EDUCAÇÃO: CONTANDO UMA OUTRA HISTÓRIA Foi desenvolvido um estudo sobre o trabalho do psicólogo no âmbito da Educação, buscando avaliar esse trabalho tendo como referência as críticas que lhe têm sido feitas. Essas críticas, que adquiriram vulto ao longo dos anos de 1980 e persistem até a atualidade, qualificam a atuação do psicólogo educacionalescolar como reducionista, limitada, direcionada para o atendimento de interesses individuais em detrimento do coletivo e distanciada das questões sociais, econômicas, políticas e ideológicas que atravessam as instituições educativas e o próprio processo educativo. De acordo com essa visão, a intervenção do psicólogo nos processos educativos, apoiada nos dois pilares que a sustentam – a psicometria e o atendimento clínico individual –, contribuiria para a exclusão escolar e social de alunos de classes sociais menos favorecidas. A hipótese é que, embora em casos já relatados pela literatura crítica, a psicologia possa efetivamente ter contribuído para justificar processos de exclusão educacional ou social, a atuação do psicólogo está longe de ser monolítica. Considera-se que é possível que seu trabalho possa 12
  • 13. ter o efeito contrário e contribuir para a inclusão escolar e social de grupos desfavorecidos, quando inspirado em perspectivas teóricas que enfatizem a gênese social e cultural dos fenômenos psicológicos. O locus da pesquisa foi a Clínica de Psicologia Edouard Claparède da Fundação Helena Antipoff, localizada em Ibirité, Minas Gerais. A escolha dessa instituição levou em consideração o seu reconhecido papel como uma das precursoras da psicologia no estado de Minas Gerais, e que ainda se encontra em funcionamento. Além disso, a Clínica Claparède é parte da obra da psicóloga e educadora russa Helena Antipoff, pioneira no estabelecimento e consolidação da psicologia da educação em Minas e no país, e cujo trabalho destacou-se pelo olhar direcionado para as questões sócio- culturais. Assim, o estudo dessa Clínica poderia evidenciar um trabalho diferenciado e implicado com as questões sociais, voltado para a inclusão. Os dados foram coletados através de análise dos laudos psicológicos – utilizando-se a modalidade fenomenológica de pesquisa em Psicologia –, estudo dos arquivos documentais da Clínica e entrevistas semi-estruturadas. Concluiu-se pela confirmação da hipótese levantada: na instituição estudada realmente desenvolve- se um processo diferenciado de trabalho, onde se destaca a preocupação com a interpretação sócio-cultural dos processos psicológicos e com a inclusão escolar e social dos sujeitos atendidos. A partir dessa análise, são feitas considerações sobre a importância de uma sólida formação teórica e técnica para o exercício profissional, obtida através da associação entre ensino, pesquisa e extensão. Palavras-chave: atuação-psicologia e educação-historia da psicologia-psicólogo Pesquisa concluída X Roselania Francisconi Borges MANOEL BOMFIM: UM PRECURSOR DA EDUCAÇÃO E DA PSICOLOGIA NO BRASIL Para este estudo tomamos como objeto de análise a obra Lições de Pedagogia escrita e publicada em 1915 por Manoel Bomfim (1868-1932), e reeditada em 1917 e 1926. Recorremos a obra Lições de Pedagogia por reconhecê-la como fonte histórica, pela qual buscamos identificar os pressupostos higienistas contidos nas concepções educacionais de Manoel Bomfim, estabelecendo correlações e contradições presentes em suas concepções teóricas em relação aos ideais educacionais dominantes na época. Médico de formação, Manoel Bomfim foi membro da Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM) e um dos idealizadores da educação no Brasil, especialmente no que se refere a educação escolar. Como integrante da LBHM foi membro da Secção de Deficiencia Mental e da Secção de Psychologia Aplicada e Psychanalyse. Seu pensamento revela algumas concepções criadas acerca da educação e da psicologia no início do século XX, expressando as ideias e os ideais vigentes na época. Imbuído de um ideal nacionalista num período em que havia ainda um pessimismo em relação à possibilidade de formação de uma nacionalidade, Manoel Bomfim se contrapunha aos intelectuais que descreviam o povo brasileiro como inferior e atrasado e se destacava ao enfatizar a necessidade de valorização do povo e de investimentos nos ideais cívicos da pátria. No âmbito educacional contribuiu com diversas obras que delinearam o pensamento educacional brasileiro marcando sua atuação na elaboração de currículos e materiais didáticos utilizados nos cursos de formação de educadores. Colocando-se em favor de propostas para melhorar as condições de escolarização do país, desempenhou várias funções no setor público enquanto médico, jornalista, historiador e estudioso de pedagogia e psicologia. Após 1894 abandonou a medicina e passou a dedicar-se à política e à educação. Entre os anos 1901 e 1902 residiu na Europa e estudou psicologia e pedagogia. Na área da psicologia, foi um dos precursores da inserção do uso de testes psicométricos no Brasil ao frequentar a Universidade de Paris: Sorbonne e conhecer Alfred Binet (1857-1911), psicólogo francês criador da escala métrica de inteligência, com quem trabalhou e de quem recebeu influências que marcaram sua atuação profissional no Brasil voltada à psicologia da educação, nas primeiras décadas do século XX. Em 1903 criou e dirigiu o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental de Pedagogia no Brasil, no Pedagogium. Fundada em 1890, esta instituição funcionava como uma academia de educadores e museu pedagógico, tendo sido a primeira instituição a criar espaço para um novo campo da psicologia no Brasil: a psicologia da educação. Esta surgia desvinculada da prática psiquiátrica, neurológica ou assistencial. Seu maior compromisso era com a educação e com problemas específicos da psicologia. Nestes termos, enquanto pesquisadora do GEPHE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Higienismo e o Eugenismo no Brasil, o qual tem como premissa básica a análise dos encaminhamentos educacionais pautados nos pressupostos do higienismo e da eugenia, buscamos realizar a articulação entre as concepções de Manoel Bomfim e o cenário educacional, bem como sócio-político e econômico do Brasil, nas primeiras décadas do século XX. Cenário este que se mostrava bastante conturbado em função do acirramento dos conflitos e antagonismos de classe existente pelas diferenças nas relações sociais de trabalho estabelecidas, principalmente, no período de transição do Império para a República. Ou seja, na passagem de uma política econômica global pautada no trabalho escravo em uma sociedade de economia basicamente agrícola, para uma política assentada na mão- de-obra livre e na industrialização. Nesse sentido, os higienistas, ao recorrerem às diferenças individuais para encaminharem questões de ordem coletiva – como se fossem leis de natureza – e ao proporem explicações pautadas em questões individuais e não em condições sociais, naturalizaram as desigualdades sociais constituindo-se como álibi para justificar tais desigualdades, escamoteando as contradições sociais inerentes à sociedade de classes. Desse modo, encontraram 13
  • 14. forte aceitação no ideário dessa nova sociedade ao defenderem o controle social e a manutenção da ordem estabelecida. Sendo assim, compreendemos que os adeptos do movimento higienista – entre eles Manoel Bomfim - ao delinearem ações de prevenção e promoção da higiene mental/moral para a infância, baseada em um modelo ideal de intervenção na família e na escola, nos legaram exemplares lições de como encaminhamentos sustentados pelo saber das ciências naturais, sem as necessárias mediações sociais, podem favorecer ações que o tempo transcorrido pode demonstrar tratar-se de equívocos ou apresentarem sinais de incorreção. Apesar desse tempo decorrido, na atualidade tais concepções podem ainda ser identificadas em várias modalidades de intervenções propostas pela psicologia no âmbito educacional, como as avaliações de alunos que frequentam programas de atendimento educacional especializado (AEE) em salas de recursos ou de altas habilidades/superdotação para os quais, em geral, é demandada que a avaliação seja pautada em testes psicométricos sob pena de que tais avaliações não sejam consideradas científicas. Enfim, mais de um século depois, esta é uma questão ainda a ser superada pela psicologia. Palavras-chave: Manoel Bomfim, higienismo, higiene Mental, história da pedagogia, história da psicologia. Pesquisa concluída 14
  • 15. XI ENCONTRO DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 12-13 DE AGOSTO 2013 PUCSP – SÃO PAULO GRUPO: PERSONAGENS | BIOGRAFIA Bianca Ferreira Rocha; Érika Lourenço UM RETRATO DA OBRA DE HELENAANTIPOFF A PARTIR DA REVISTA DO ENSINO E DA REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS Helena Antipoff (1892-1974) foi uma das personagens que contribuiu para a configuração da psicologia como ciência e como profissão e para o campo da educação no Brasil. Nascida na Rússia no final do século XIX, a autora fez sua formação superior na Universidade de Sorbonne, na França, e no Instituto Jean Jacques Rousseau, na Suíça. Veio para o Brasil em 1929, contratada pelo governo do estado de Minas Gerais, onde produziu um extenso trabalho, merecendo destaque suas propostas para a educação da criança excepcional, a educação da criança superdotada e a formação de professores para a educação rural. Diante da importância da obra desta autora para a psicologia e a educação no Brasil, este trabalho que é fruto de um projeto de pesquisa, teve como objetivo verificar e analisar quais os temas da obra de Helena Antipoff tiveram maior impacto entre psicólogos e educadores brasileiros. Para isso, foram analisadas as citações de Helena Antipoff em duas das principais revistas científicas das áreas da psicologia e da educação publicadas no Brasil a partir da década de 1930 até o final da década de 1970. As revistas analisadas foram: Revista do Ensino, sendo 166 volumes e Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, sendo 135 volumes, disponíveis para consulta em Belo Horizonte, na Biblioteca da FAE-UFMG e no Arquivo Público Mineiro. Os referenciais que orientaram a coleta e a análise dos dados foram a abordagem quantitativa em historiografia da psicologia e a abordagem fenomenológica. As duas abordagens permitiram evidenciar o impacto da obra da autora na psicologia e na educação no Brasil, bem como permitiu uma compreensão mais ampla sobre as ideias de Helena Antipoff que ganharam destaque nos trabalhos de outros estudiosos. Na análise dos dados foi constatado que as referencias aos trabalhos de Helena Antipoff concentram-se nas publicações das décadas de 1930 e 1940, tornando-se menos expressivo nas décadas posteriores. Foram encontradas 41 publicações na Revista do Ensino que citam os trabalhos da autora e 11 publicações na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. A análise das publicações das revistas aponta para dois tipos de resultados, que se referem aos artigos que citam o trabalho de Helena Antipoff e os trabalhos publicados por ela. As publicações que citaram o trabalho de Helena Antipoff, tratavam principalmente de questões relacionadas aos testes psicológicos, a educação especial e a homogeneização das classes. Os trabalhos desenvolvidos e publicados pela referida autora versavam sobre os temas relacionados a psicologia e desenvolvimento infantil, testes psicológicos, homogeneização das classes, educação rural e do excepcional. No âmbito educacional destacam-se os trabalhos desenvolvidos por Helena Antipoff no Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento sobre a homogeneização das classes escolares em Belo Horizonte e os trabalhos desenvolvidos no Instituto Pestalozzi sobre a educação do excepcional e a educação rural. Diante dos resultados podemos concluir até o momento que a obra de Helena Antipoff trouxe grandes contribuições para os autores que se dedicavam a psicologia e a educação no Brasil. Palavras-chave: Helena Antipoff, educação, psicologia da educação, revista, história da psicologia Pesquisa concluída X Carolina de Resende Damas Cardoso A PSIQUE ENTRE A NATUREZA E A CULTURA EM EDITH STEIN E WILLIAM STERN Esta pesquisa na linha de investigação de história da psicologia tem por objeto o estudo histórico conceitual de algumas obras de dois autores que se destacaram no contexto alemão do fim do século XIX e inícios do século XX: Edith Stein (1891- 1942) e William Stern (1871-1938). São elas: Contribuições à fundamentação filosófica da psicologia e das ciências do espírito (1922), de Edith Stein; e Psicologia geral desde o ponto de vista personalístico (1938), de William Stern. Entre os dois autores existem semelhanças no que diz respeito aos tópicos 15
  • 16. estudados como também uma precisa relação histórica destacada em suas biografias: Stern lecionava psicologia em Breslau e Stein frequentou suas aulas como aluna em 1911-1912. O objetivo da pesquisa é apreender a elaboração do conceito de psique e das relações desta com a natureza e com a cultura nas propostas de psicologia científica que os dois autores formularam nessas obras. Para a análise das mesmas, será utilizado o método histórico-conceitual: serão tomadas como fontes primárias as edições em língua espanhola das obras de Edith Stein (1922/2003b) e de William Stern (1938/1951); fontes secundárias serão utilizadas para o aprofundamento do contexto histórico da filosofia e psicologia alemã da época. As questões que nortearão a análise se referem a: 1) entender como cada um dos dois autores concebeu a psique humana (sua estrutura e funcionamento) na interface entre o mundo natural e o mundo da cultura; 2) verificar se ambas as teorias propostas pelos dois autores tinham algo em comum; 3) evidenciar as semelhanças, as diferenças e as eventuais contribuições que estas perspectivas podem trazer para a psicologia contemporânea, num momento histórico em que há uma retomada da importância da cultura na constituição da psique humana e uma busca por epistemologias mais abrangentes em que sejam superados o naturalismo e o positivismo que fundamentaram as ciências da psique em suas origens. Palavras-chave: fenomenologia, psicologia filosófica, psicologia experimental, século XIX Projeto de pesquisa X Celia Maria Marcondes Ferraz Silva POR UMA PSICOLOGIA SOCIAL BRASILEIRA: SILVIA TATIANA MAURER LANE Nosso propósito ao elaborar este trabalho foi contribuir com o estudo da Psicologia Social no Brasil, mostrando que Silvia Tatiana Maurer Lane (1933- 2006) teve importância relevante na formulação das bases teóricas de uma Psicologia Social Brasileira. Silvia lecionou e pesquisou por 40 anos e teve cargos importantes na PUC de São Paulo. A atividade docente favoreceu o desenvolvimento das suas ideias, a partir de uma postura crítica, permanente, à psicologia social de influência americana. A PUC de São Paulo, instituição que a acolheu e ofereceu incentivo para suas pesquisas teve importância relevante no seu trajeto. Escolhemos para estudar a autora, um caminho ainda não trilhado pelos demais pesquisadores que falaram a respeito da ilustre professora, conduzindo a nossa pesquisa, em especial, a partir dos documentos pessoais deixados na PUC de São Paulo e que hoje compõem o acervo Silvia Lane, sob a guarda do Núcleo de Estudos em História da Psicologia- NEHPSI. A análise do percurso nos mostrou conexões importantes entre o seu trabalho e o contexto sócio histórico que influenciou o seu pensamento. A “guerra fria”, a revolução chinesa, a revolução cubana e, em especial, o período da ditadura militar no Brasil, foram decisivos para a formulação das bases teóricas para uma psicologia social brasileira, engajada na solução dos graves problemas sociais do país e, capaz de apoiar a transformação da realidade. Para o estudo das ideias, tomamos por base um texto ainda não publicado, denominado: “Caminhos Percorridos”, escrito pouco tempo antes da sua morte e que daria origem a um livro. Além de uma reflexão sobre os temas estudados, ensinados e escritos por Silvia, ao longo de quarenta anos dedicados à Psicologia Social, havia a indicação dos textos, publicados ou não, que deveriam ser incluídos no livro. A escolha se deveu à representatividade de cada um deles para o tema e, também, à possibilidade de trazer à luz material de difícil acesso. A leitura dos “Caminhos Percorridos” nos permitiu entender a estrutura dada pela autora ao seu próprio pensamento. A psicologia da linguagem, as bases teóricas para a formulação de uma Psicologia Social brasileira, a psicologia comunitária, o processo grupal e a mediação emocional, estão presentes ao longo de toda a obra, gerando pesquisas, textos, cursos e apresentações, recebendo ao longo do tempo, novos olhares e releituras que fizeram avançar a compreensão dos temas. A obra não se encerra, deixando espaço aberto para novos estudos a serem realizados pelos seus seguidores. Palavras-chave: História da Psicologia. Acervo de documentos pessoais. Caminhos Percorridos. Pesquisa concluída X Ciléia Saori Hamada de Miranda; Érika Lourenço AS CONTRIBUIÇÕES DE HELENAANTIPOFF PARAA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Essa pesquisa possui como objetivo investigar a mudança provocada no sistema educacional mineiro no período de 1929 a 1974 realizado pela psicóloga russa Helena Antipoff através do convite do governo para a implantação da Reforma Francisco Campos e Mario Casassanta na educação; e o conseqüente impacto causado ao acesso ao ensino básico e profissionalização aos infradotados e superdotados. O referencial metodológico adotado para esta pesquisa foi o da biografia contextualizada, que toma a biografia de um autor como ponto de partida para a compreensão de sua visão de mundo e de seu trabalho teórico. A partir deste referencial, buscou-se identificar os conceitos, as teorias e as propostas de psicologia da educação e educação inclusiva apresentados em publicações e em 16
  • 17. manuscritos. Os resultados da pesquisa mostram que as crianças antes rejeitadas pelo sistema educacional e pelo mercado de trabalho devido as suas dificuldades conseguiram desenvolver capacidades intelectuais, motoras e manuais, tornando- as aptas a trabalhar e a realizar os próprios cuidados pessoais como higiene e alimentação, além de capacitar educadores normalistas para o ensino em áreas rurais. O ensino acontecia nas instituições fundadas por Helena Antipoff como a Sociedade Pestalozzi, no Rio de Janeiro sua primeira sede e posteriormente em Belo Horizonte, e na Fazenda do Rosário, a qual se tornou um complexo educacional atendendo os bem dotados, professoras normais e infra dotados. A partir dos dados levantados podemos concluir que o conhecimento adquirido na atuação de Antipoff no Instituto Jean Jacques Rousseau em Genebra, fundado por Claparéde, as experiências de atuação da psicologia no período da queda do Czar na Rússia e a sua formação acadêmica com base experimental contribuiram para a formação de educadores na Escola de Aperfeiçoamento, no Instituto Superior de Educação Rural e na educação básica e para o trabalho na Fazenda do Rosário. As técnicas estrangeiras implantadas e adaptadas ao contexto brasileiro transformaram o sistema de ensino, o impacto dos testes psicológicos e a aplicação dos mesmos, contribuíram na identificação de delimitações e no agrupamento de indivíduos conforme sua habilidade seja para intervenção ou na formação de classes nas escolas do governo. Os trabalhos e os projetos realizados por Helena Antipoff podem ser considerados iniciativas pioneiras pela educação inclusiva, uma vez que se enquadram na Lei número 10.845, de 5 de Março de 2004. Essa lei assegura a universalização do atendimento especializado de educandos portadores de deficiência cuja situação não permita a integração em classes comuns e garante, progressivamente, a inserção dos educandos portadores de deficiência nas classes comuns de ensino regular. Palavras-chave: Helena Antipoff, inclusão, psicologia da educação, história da psicologia. Pesquisa concluída X Eneida Nogueira Damasceno CRIAÇÃO DE ARQUIVO EPISTOLAR DO NEUROFISIOLOGISTA MIGUEL ROLANDO COVIAN: UM REGISTRO HISTÓRICO-CONTEXTUAL Criação de arquivo epistolar do neurofisiologista Miguel Rolando Covian: Um registro histórico-contextual. 2013. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo, 2013. Eneida Nogueira Damasceno – Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - USP – SP Marina Massimi (orientadora) - Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - USP – SP Miguel Rolando Covian (1913-1992) foi um neurofisiologista argentino, discípulo de Bernardo Houssay, que chegou ao Brasil em 1955 para dirigir o Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. À frente deste Departamento, projetou-o como um dos mais renomados centros de investigação científica da América Latina, elevou-o a um reconhecimento de nível internacional, um centro de excelência em pesquisa no Brasil e no mundo. O objetivo deste trabalho é organizar e catalogar a correspondência epistolar e institucional do Professor Doutor Miguel Rolando Covian. Essa correspondência, contendo um total de 1.546 cartas, foi encontrada na sala de Covian depois de sua morte e guardada. A realização desta pesquisa levou-nos à descoberta de um testamento, deixado por Covian revelando sua vontade de que o material pertencesse à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto após sua morte. Este trabalho consiste em: 1) classificar e organizar por assunto tal correspondência, de modo a assegurar sua conservação e preservação enquanto documentos históricos ainda protegidos pela Legislação Federal, cuja acessibilidade estará a cargo da instituição que a guarda. 2) Evidenciar a variedade de assuntos contidos nestas missivas, concernentes a diversas áreas do conhecimento humano, principalmente as relativas à História das Ciências, com destaque para a História da Psicologia, da Medicina e da Educação. Isso nos leva a contribuir para a pesquisa disponibilizando fontes primárias devidamente classificadas, catalogadas e preservadas. Trata-se de uma pesquisa documental, na qual se utilizou o método descritivo, sendo a narrativa o estilo da escrita. A escolha do modo narrativo é justificada pelo fato de permitir uma amplitude de informações que não seria possível em uma descrição pontual. Essa opção nos levou a um cuidado com a fidelidade da narração, de forma que a transposição da linguagem não alterasse significativamente a forma original do diálogo contido nas cartas. No decorrer do trabalho observou-se a necessidade de oferecer uma síntese do contexto histórico do período no qual se deu essa correspondência (1955-1985), para este fim procedeu-se a uma pesquisa com a utilização do método histórico, que resultou em capítulos contendo sínteses contextuais relevantes para o entendimento do conteúdo das missivas, assim como uma breve biografia de Covian e outra de seu mestre Bernardo Houssay, a pessoa com quem ele mais se correspondia. Considerando que a correspondência de Miguel Rolando Covian está sendo entregue higienizada, organizada e catalogada, como base para sua preservação; que a descrição em forma de narrativa dos assuntos contidos sinaliza particularidades de acontecimentos relatados, bem como sentimentos e emoções demonstradas nos textos originais; que as apresentações biográficas e a contextualização apresentam o universo relatado nas correspondências e que este material encontra-se agora passível de ser arquivado, preservado e disponibilizado de acordo com as regras estipuladas pela Legislação vigente e pela instituição que o guarda, concluímos que nossos objetivos foram alcançados. Palavras-chave: Correspondência Epistolar; preservação de documentos. Pesquisa concluída 17
  • 18. Gabriel Vieira Cândido CONTRIBUIÇÃO DE CAROLINA MARTUSCELLI BORI PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA CULTURA CIENTÍFICA NACIONAL Para se conhecer a ciência produzida em uma determinada região, compreender sua história, é fundamental. Nesta história, inclui-se as pessoas que dela fazem parte e seus valores, estuda-se um cientista a partir do contexto social do qual faz parte e não apenas seus interesses científicos, da evolução de ideias e dos conceitos científicos. Além disso, com esta maneira de compreender história da ciência permitiria entender como e por que pessoas desempenharam tais papéis. Assim, é impossível analisar algum período ou evento histórico sem analisar a história das pessoas que deles fizeram parte. Um nome importante na história da ciência Brasileira é Carolina Martuscelli Bori (1924 – 2004). Dentre suas contribuições são citadas, por exemplo, a coordenação de grupos de pesquisadores, a organização de revistas científicas, a direção de sociedades científicas e, mais especificamente, a luta pelo reconhecimento e a regulamentação da formação de psicólogos e a difusão do método experimental na Psicologia. Neste trabalho, propôs-se explicar o papel que esta cientista desempenhou na ciência brasileira, o porquê de ela ter se envolvido em tantas frentes de trabalho e por que se manteve desenvolvendo tantas atividades das mais diversificadas. Para isso, realizou-se uma análise de toda sua obra, composta por 22 textos (entre artigos e uma tese de doutorado). Além disso, propôs-se conhecer a contribuição de Carolina Bori a partir do método da história oral. Foram entrevistados oito pesquisadores que trabalharam com Bori e uma sobrinha, que falaram sobre a atuação de Bori nas atividades que realizaram em conjunto, fizeram avaliações da contribuição que ela teria dado, além de informações pessoais sobre a maneira dela lidar com situações cotidianas. Encontrou-se que ela escreveu sobre diversos assuntos, como Psicologia Social, Psicologia Experimental, Personalidade, Formação do Psicólogo, Análises Estatísticas, Motivação, entre outros. Além disso, a maior parte de seus textos foram publicados na década de 1950 e 1960. Quanto às entrevistas, encontrou-se que as principais contribuições de Bori foram em relação ao desenvolvimento da ciência no Brasil, em seguida, o desenvolvimento da Psicologia e, por fim, o desenvolvimento da Análise do Comportamento, abordagem psicológica que ela aderiu a partir de 1961. Apesar de pouca publicação, o principal papel desempenhado por ela teria sido a de contribuir e criar iniciativas para a realização e discussão de pesquisas científicas. Palavras-chave: Ciências no Brasil, Psicologia, Análise do Comportamento Pesquisa em andamento Lidiane de Oliveira Goes A TRAJETÓRIA DE GIOCONDA MUSSOLINI: CONFIGURAÇÃO DO SABER E DA PRÁTICA PSICOLÓGICA ENTRE OS ANOS DE 1930 A 1960 NO BRASIL Este trabalho pretende compreender Gioconda Mussolini como personagem na constituição da Psicologia como campo de estudo e de intervenção profissional no Brasil. O interesse por esta personagem surgiu a partir de informações sobre sua relação com a Psicologia entre os anos de 1930 a 1960 em São Paulo. Tais informações apontam que a ciência psicológica esteve presente na formação e atuação profissional de Gioconda Mussolini. Busca-se, a partir das relações dessa com instituições e pessoas, contar a história da Psicologia no Brasil. A ideia de matriz de Ian Hacking pode auxiliar neste intuito, uma vez que essa é entendida como uma rede complexa de elementos (pessoas, documentos, instituições, lugares, etc.) articulados entre si. A metodologia desta pesquisa consiste em: 1) conversas com estudantes, docentes e funcionários que conviveram com Gioconda Mussolini; e 2) na análise de documentos de domínio público levantados nas instituições de ensino e de produção científica das quais Gioconda Mussolini participou. A escolha dos informantes tem sido realizada a partir da participação dos mesmos em uma das três instituições de interesse para esta pesquisa entre o período de 1938 a 1969, a saber: a Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP); o Curso de bacharel em Psicologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL/USP) e a Sociedade de Psicologia de São Paulo (SPSP), atual Associação de Psicologia de São Paulo (APSP). Os anos marcam, respectivamente, o início e o término das atividades de Gioconda Mussolini na USP, término ocasionado em virtude de seu falecimento da mesma. Até o momento, foram identificados os seguintes informantes: Arrigo Angelini (professor do Curso de bacharel em Psicologia), Mary Jane Spink e Orlando Bueno (alunos do Curso de bacharel em Psicologia). Todos são considerados informantes-chave e poderão auxiliar na identificação de outros. As conversas serão agendadas de acordo com disponibilidade do informante e terão duração de duas horas e trinta minutos. Versaram sobre o contexto da instituição da qual o informante participou e conviveu com a personagem. Haverá perguntas sobre objetivos, fundação, funcionamento e atividades da instituição; ingresso, formação profissional, participação e desligamento dos membros da instituição; cooperação entre os membros; e vida pessoal, profissional de Gioconda Mussolini. Outras perguntas serão incorporadas a partir do que o informante contar. As conversas serão registradas com o auxílio de um gravador digital e, posteriormente, transcritas. Apenas uma entrevista foi realizada até o momento. Outro procedimento a ser adotado é o levantamento de documentos de domínio público a ser realizado a partir de visitas ao Projeto Memória da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, sediado no Centro de Apoio à Pesquisa em História Sérgio Buarque de Holanda (CAP/FFLCH), ao Centro de Memória do Instituto de 18
  • 19. Psicologia e às bibliotecas do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Escola de Comunicação e Artes (ECA) e da Faculdade de Educação. Todos estão situados nas dependências da USP. Foram realizadas visitas às instituições mencionadas acima entre os dias 17 e 21 de setembro de 2012. Foram localizadas onze publicações de Gioconda Mussolini, o currículo vitae de Gioconda Mussolini de 1965, sete programas da cadeira de Antropologia entre os anos de 1959 a 1968, um manual do curso acadêmico feminino, o depoimento de Gilda Mello e Souza (docente da FFLCH); o anuário da FFLCH de 1952; a edição comemorativa dos 50 anos do Boletim de Psicologia; uma tese de doutorado da Faculdade de Educação e; uma foto de Gioconda Mussolini. Como técnica para analisar as informações geradas a partir dos documentos e das entrevistas será utilizada a análise do discurso. Esta análise consiste, inicialmente, numa leitura dos documentos e das entrevistas, a fim de identificar a rede de instituições e pessoas que fizeram parte da vida profissional de Gioconda Mussolini. Na análise das publicações, espera-se identificar a ideia de Psicologia que estava vigente naquele momento e no que essa influenciou na produção intelectual da autora, bem como no que a mesma se distanciou. Como resultados iniciais, pode-se citar a elaboração de uma linha do tempo a partir do currículo de Gioconda Mussolini com a finalidade de identificar as relações desta com pessoas e instituições que estiveram presentes na formação e atuação profissional. Os resultados sugerem que a formação e atuação profissional de Gioconda Mussolini foram marcadas não só pela variedade de áreas do conhecimento como de temas. Nas instituições responsáveis pela sua formação, apenas uma delas (o Curso de Bacharel em Ciências Sociais na FFCL/SP) não possui vínculo aparente com a Psicologia. As parcerias aqui apresentadas, referentes à identificação das áreas do conhecimento dos pesquisadores, não permitem apontar relações diretas com a Psicologia. No entanto, uma análise das temáticas, presentes nas pesquisas das quais Gioconda Mussolini participou, parece ser próspera a esse respeito. Palavras-chave: História da Psicologia, Interdisciplinariedade, Práticas discursivas Pesquisa em andamento X Marilene Oliveira Almeida; Raquel Martins de Assis O ENSINO DE ARTE NA OBRA DE HELENA ANTIPOFF: UM DIÁLOGO ENTRE AARTE E A PSICOLOGIA Este resumo apresenta uma pesquisa, em andamento, proveniente do Mestrado em Educação/ Faculdade de Educação/UFMG. Tem-se como objetivo investigar a proposta de ensino de arte na Fazenda do Rosário, Ibirité, Minas Gerais, entre as décadas de 1940, período de implantação dessa instituição idealizada pela educadora e psicóloga russa Helena Antipoff, que chega ao Brasil em 1929 para atuar na Escola de Aperfeiçoamento, e início da década de 1970, período antecedente a sua morte, ocorrida em 1974. Emergindo-se da dimensão pedagógica da educadora, a investigação privilegia investigar como se deu o ensino de arte na Fazenda do Rosário, a partir dos escritos de Helena Antipoff e do diálogo com colaboradores. Tem-se como hipótese que a relação estabelecida entre Antipoff e o artista-educador Augusto Rodrigues foi importante parceria para a concepção e execução do ensino de arte ali desenvolvido. A parceria entre Antipoff e Rodrigues remonta à fundação da Sociedade Pestalozzi do Brasil e da Escolinha de Arte do Brasil, instituições iniciadas no período em que a educadora atuou no Rio de Janeiro/Ministério da Saúde, sem, contudo, desligar-se dos trabalhos desenvolvidos em Minas. Por meio das instituições fundadas e idealizadas dentro dos princípios pedagógicos escolanovistas - a Fazenda em 1939 e a Pestalozzi em 1945, por Antipoff e colaboradores e a Escolinha em 1948, por iniciativa de Rodrigues, outros artistas e apoio de Antipoff – foi possível estabelecer parcerias que permitiram desenvolver uma reflexão acurada sobre ensino de arte para atender tanto às crianças quanto à formação de professores. Os documentos consultados no Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff indicam uma movimentação em prol de se dinamizar os trabalhos de arte desenvolvidos na Fazenda, ora em cursos realizados na própria instituição, ora em convênios para atender aos professores em formação que se dirigiam ao Rio, na Escolinha e também na Pestalozzi do Brasil, onde Rodrigues foi professor. Acredita-se que o contato com o Rio de Janeiro, onde se viveu um surto de educação artística, colaborou para compor um cenário produtivo nessa área na Fazenda do Rosário, trazendo-lhe indicação de profissionais para atuarem como artistas-professores. Podemos destacar os artistas-educadores: o ceramista pernambucano Jether Peixoto e o francês Jean Bercy, que ali residiram, a jornalista e escritora ucraniana Olga Obry, que lecionou teatro na Pestalozzi do Brasil e na Fazenda, além do próprio Rodrigues. A pesquisa realizada indica que houve um intenso movimento de promoção de oficinas de artesanato, privilegiando-se a matéria-prima local, como: cerâmica, bambu, fibras naturais, carpintaria e entalhe em madeira, produção têxtil em teares manuais, assim como o teatro de bonecos, de fantoches e de máscaras indicados como atividades recreativas, de aplicação pedagógica nas escolas. O ensino de arte na Fazenda do Rosário era desenvolvido como possibilidade de formação humana e profissional, tanto para adultos como para crianças. Nesse sentido, Antipoff empreendeu esforços para trazer artistas- educadores nacionais e internacionais que colaboraram para que a arte pudesse alcançar a comunidade local, trazendo-lhe melhores condições de vida e multiplicar-se na forma de formação de professores para atuarem no ensino rural. Palavras-chave: Educação pela arte, Fazenda do Rosário; Augusto Rodrigues. Pesquisa em andamento 19
  • 20. Nadia Maria Dourado Rocha REVISITANDO "INVESTIGAÇÕES DE PSICOLOGIA" Eduardo Ferreira França (1809-1857) é um médico e parlamentar baiano, cuja família, desde o princípio do século XIX, tem integrantes que atuam no magistério superior, no início em Medicina e desde o início do século passado, em Direito. Eduardo fez o se curso superior na Faculdade de Medicina de Paris, integrando a primeira geração de brasileiros que não estudou na Universidade de Coimbra, único local em que a coroa portuguesa autorizava os brasileiros a frequentar. Ainda na capital francesa manifestou ele preocupação com a questão das influências ambientais sobre o comportamento humano. Prova disto é a tese inaugural por ele defendida, cujo título é “Essai sur l´influence des aliments et des boissons sur le moral de l´homme” (1834). Retornando a Salvador, tornou-se professor de Mineralogia na Faculdade de Medicina da Bahia. Publicou “Influência das emanações pútridas animais sobre o homem” (1850) e “Influência dos pântanos sobre o homem” (1851). Em 1854 lançou o livro “Investigações de Psicologia”, que, até o momento, é o mais antigo das três Américas, tendo em vista que William James publicou o seu Psychology em 1890, ou seja, 36 anos depois. O “Investigações” foi apresentado em dois volumes, com 284 e 424 páginas, respectivamente, sendo composto por seis partes, às quais ele denominou “livros”: Fenômenos da consciência e faculdades; Modificabilidade; Motividade; Faculdades intelectuais; Instintos; Vontade. Já algum tempo o GT de História da Psicologia da ANPEPP se propôs a realizar um colóquio, tendo por tema o referido livro. A proposta inicial é os seus integrantes que se interessem pelo projeto escolham um aspecto a desenvolver, buscando também envolver alunos e orientandos. O colóquio está previsto para ocorrer em maio de 2015, na Faculdade de Medicina da Bahia (FMB-UFBA), antecedendo o IX Congresso Norte- Nordeste de Psicologia (CONPSI). A expectativa é que ocorram, também durante este evento, atividades sobre o livro, a exemplo de mesas-redondas, simpósios e a apresentação de painéis. Palavras-chave: Pioneiros psicologia; Psicologia na Bahia; Eduardo Ferreira França Projeto de pesquisa X Renata Rocha Tsuji da Cunha RELAÇÕES ÉTNICO/RACIAIS NA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA: OS ESTUDOS INTERCULTURAIS DE ANIELA GINSBERG Esta pesquisa teve como foco a produção da psicóloga e pesquisadora Aniela Meyer Ginsberg (1902-1986) sobre relações étnico/raciais e interculturais, entre 1947 e 1978. A pesquisa historiográfica consistiu no levantamento bibliográfico e documental, na leitura e análise de conteúdo, e na elaboração de resenhas e quadros demonstrativos da produção de Aniela sobre relações étnico/raciais e interculturais, contendo: título, ano, local de publicação, co-autores, referenciais teóricos, método, forma de classificação étnico/racial dos sujeitos pesquisados e principais resultados. O levantamento bibliográfico foi realizado nos acervos das bibliotecas: Dante Moreira Leite do IPUSP e Nadir Kfouri da PUC/SP; e no acervo da Fundação Aniela e Tadeuz Ginsberg (FATG), em São Paulo. Aniela Ginsberg é uma das principais autoras de psicologia nas décadas de 1940 a 1970 no Brasil. Filha de poloneses, chega ao Brasil em 1936 e aqui encontra a diversidade étnico/racial da população em ampla convivência – ainda que edificada dentro de uma estrutura de desigualdades e discriminação. Assim, o Brasil se torna um “laboratório social” perfeito para suas pesquisas interculturais. Seus estudos de raça/etnia configuram-se como estudos intraculturais da sociedade brasileira e de suas amplas diversidades. Aniela realizou estudos comparativos sob diversos aspectos (idade, sexo, meio social, origem nacional, influências culturais e fator étnico/racial) para investigar a natureza e a manifestação das diferenças individuais e entre grupos. Os processos migratórios, as relações étnico/raciais e os processos inter e intraculturais estavam no centro de suas investigações. Influenciada pela agenda antirracista do pós-guerra e pela difusão dos estudos das relações étnico/raciais a partir de 1930 no Brasil, Aniela tinha a preocupação de detectar as especificidades (raciais, culturais e nacionais), questionando a universalidade do saber psicológico. Nesse contexto, a psicologia intercultural era o método que permitia o estabelecimento de diferenças e de leis gerais do comportamento humano. Para Aniela, as diferenças entre os grupos étnico/raciais – assim como as diferenças de inteligência, de idade, entre população urbana e rural, entre os sexos – são devidas mais às variáveis do ambiente, como o ambiente social e as condições educacionais, que às variáveis internas do indivíduo, como suas características físicas e psicológicas. Sendo assim, raça/etnia aparece como fator importante na compreensão das diferenças e desigualdades, devido ao meio social brasileiro, marcado pela segregação étnico/racial e pelo papel social inferior atribuído ao negro. Em seus estudos, a autora preocupa-se em abordar as desigualdades étnico/raciais como categoria de análise, para além das desigualdades puramente sociais. Nas décadas de 1940 e 1950, Aniela voltava-se para o estudo de diferenças encontradas nos resultados de testes projetivos e de nível mental: nesse contexto, estava mais atenta à influência do fator étnico/racial – relacionado à origem nacional e/ou à hereditariedade. Os conceitos de raça/etnia e de cultura apareciam, então, entrelaçados. Nas décadas seguintes, porém, influenciada pela nova agenda de estudos em psicologia, ela passa a isolar as influências dos fatores racial e cultural dentro das características de personalidade e das motivações. A principal contribuição de Aniela para o estudo das relações étnico/raciais e interculturais diz respeito à riqueza de métodos utilizados em seus estudos. Os diferentes testes que ela utiliza em seus estudos – Rorschach, Mira y López, Escala de Cantrill, T.A.T, Teste de Borrões de W. Holtzman (HIT), 20
  • 21. Questionário de Filosofia de Vida, Medida da Distância Social e o método Sociométrico – aparecem como ferramentas que permitem a comparação criteriosa e estruturada das semelhanças e diferenças entre indivíduos de raças/etnias distintas. Aniela utilizava os testes psicodiagnósticos para comparar aspectos de personalidade e de comportamento de diferentes indivíduos dentro de uma mesma etnia (viés intracultural) e de etnias diferentes (viés intercultural), confrontando dados de grupos étnicos distintos para separar os aspectos gerais da personalidade humana das características culturalmente induzidas. Pode-se concluir que para Aniela a metodologia aparece como resposta às questões de pesquisa: é a partir dos diferentes métodos que a pesquisadora pretende cercar todas as variáveis possíveis para tentar compreender as diferenças e as semelhanças encontradas entre indivíduos em seus inúmeros estudos inter e intraculturais. Apesar de utilizar amplamente os testes em seus estudos, a crítica a suas características sempre foi uma preocupação de Aniela: as diferenças entre os resultados de indivíduos de meios sociais e/ou de grupos étnico/raciais distintos podem ser causadas, muitas vezes, por características intrínsecas aos próprios testes utilizados, em geral, elaborados especialmente com base em indivíduos de meios sociais mais abastados (com freqüência, brancos), solicitando mais seus interesses e seu o universo simbólico. Aniela procurou desconstruir, ao longo das décadas de 1940 a 1970, a visão determinista biológica das raças que prevalecia na Psicologia até então e mostrar que é na interação dos indivíduos com a sociedade que as diferenças podem transformar-se em desigualdades, ou seja, que as diferenças são mais construções socioculturais, do que fruto da hereditariedade. Palavras-chave: Raça/etnia; Pesquisa historiográfica, Aniela Meyer Ginsberg, Psicologia Intercultural. Pesquisa em andamento X Roberta Gurgel Azzi; Maria do Carmo Guedes CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO A HISTORY OF PSYCHOLOGY IN AUTOBIOGRAPHY: O QUE REVELAM OS PREFÁCIOS Este relato insere-se no conjunto de estudos das autoras sobre a temática da Autobiografia, que vem pautando discussões em torno do seguinte questionamento: em qual medida os relatos autobiográficos escritos por psicólogos são boas fontes para conhecer a construção do campo diverso da psicologia? Para tal jornada toma-se em especial a coleção A History of Psychology in Autobiography. Esta coleção agrega 9 volumes, tendo sido o primeiro publicado em 1930 e o mais recente, o nono, em 2007. Neste encontro, o relato a ser privilegiado considera os Prefácios de cada livro em busca de respostas para questionamentos do tipo: qual a proposta da coleção? Como se deu a escolha dos autores das autobiografias? Como foi a composição e mudanças no grupo de editores? O projeto e expectativa dos textos autobiográficos mudaram ao longo do tempo em que os volumes foram publicados? Acredita-se que o promissor diálogo com outros investigadores interessados no tema autobiográfico permitirá a troca de informações importantes para o prosseguimento desta jornada e ajudará na construção de categorias de análise para voltar o olhar para autobiografias publicadas na coleção, em busca da resposta para a pergunta norteadora dos estudos, apresentada no início deste resumo. Palavras-chave: autobiografia, fonte documental, diversidade da Psicologia Pesquisa em andamento X Robson Nascimento da Cruz B.F. SKINNER E A NARRATIVAAUTOBIOGRÁFICA DA VIDA CIENTÍFICA A biografia, no século XIX e durante quase todo o século XX, foi concebida como um gênero literário de segunda categoria. Biografia e história, mais do que não se comunicarem, apresentavam antagonismos profundos. A biografia compreendida como saber subjetivista e desprovido de erudição; enquanto a história apreciada como ciência, objetiva e culta. Todavia, a partir dos anos oitenta do século passado, uma significativa mudança ocorre nesse cenário. Desde então, é crescente o interesse pela biografia como um campo de estudo e fonte de pesquisa respeitável. Como, por que, por quem e para quem ela é escrita, as prováveis classificações de uma biografia, seu caráter mimético, seu impacto na consciência histórica, seu papel na cultura pós-moderna, entre outros fatores, tornaram-na objeto de estudo de diferentes campos do conhecimento. Na historiografia da ciência e, por sua vez, na historiografia da psicologia os efeitos dessas mudanças foram evidentes. Historiadores da psicologia têm, assim, exposto a utilidade deste tipo de fonte, uma vez que biografias e autobiografias de personagens históricas dessa ciência fornecem acesso a elementos do comportamento científico inexistentes em outras fontes. Considerando essas novas possibilidades de uso de fontes biográficas na historiografia da psicologia, que analisamos a relação entre a vida acadêmica e institucional de B.F. Skinner e a organização comunitária da análise do comportamento entre 1928 e 1970. Objetivo possibilitado pelo recurso à autobiografia de Skinner, trabalho apresentado em mais de mil páginas de um minucioso relato de história de vida, e relatos autobiográficos e biográficos da primeira e segunda geração de analistas do comportamento. O argumento central é a de que a história dessa ciência enquanto disciplina científica foi definida em suas quatro primeiras décadas por uma extensão de elementos idiossincráticos (padrões 21