1. Adaptação da história “O homem da nuvem escura”, da escritora Inês
Vinagre
Narrador
Atenção meninos! Nesta história não entram princesas, nem dragões, fadas ou anões,
monstros ou mexilhões. É apenas a história de um homem. Bem, poderá entrar uma
bruxa…
Numa determinada cidade, havia um homem a quem todos chamavam “O homem da
nuvem escura”.
À primeira vista, o homem da nuvem escura era uma pessoa normal: tinha dois olhos, uma
boca, um par de orelhas e um nariz absolutamente normal. Não era velho, nem novo, nem
alto, nem baixo, nem gordo, nem magro, nem bonito, nem feio. Normal.
Uma voz do público: E nome tinha?
Narrador: Não. Nem nome, nem idade, nem família, nem profissão e ninguém sabia onde
ele morava. Era apenas conhecido, como o homem da nuvem escura.
Mas esse homem tinha algo muito especial. Estão a ver aquilo a que chamam cocuruto da
cabeça?
Todos: Não!
Narrador: Senhor ilustrador traga-me, por favor, o desenho que fez do cocuruto da cabeça
para que os meninos me possam entender melhor.
Ora aqui está, esse homem tinha não um boné, não uma madeixa de cabelo despenteado,
não um piolho, mas sim um pequeno buraco na cabeça, do tamanho de uma moeda de 5
cêntimos. E de lá saía o quê? Uma espantosa nuvem escura, que por onde passasse
2. provocava uma enorme tempestade de chuva, vento, frio e trovoada. Nada agradável, pois
não?
Todas as pessoas da cidade, andavam aflitas, pois não havia um único dia em que uma
enorme tempestade, não deixasse a cidade destruída: eram casas inundadas, árvores no
chão, máquinas avariadas. Lá iam os frigoríficos, os fogões, as televisões e oh! Como se
pode viver sem televisão?
O homem da nuvem escura, sentia-se muito triste e sozinho.
Por isso, todas as tardes, ia sentar-se num banco de jardim e ficava horas a ler, feliz por
ter com quem conversar.
Este homem colecionava palavras bonitas que encontrava nos livros e escrevia-as num
bloquinho azul. E todas as noites sozinho, deitado no seu quarto, as lia em voz alta até
adormecer…
Homem: ler as palavras (estão escritas nas últimas página do livro)
Acontece que, as pessoas daquela cidade não gostavam dele e até os meninos o gozavam:
Menino 1 – Vai-te embora, ó molhadinho!
Menino 2 – Fujam, vem aí a tempestade!
Narrador
Este assunto foi ficando cada vez mais sério e as pessoas começaram a fazer reuniões para
encontrarem uma solução para ver se resolviam o problema, ou a bem ou a mal…E
começaram a chover propostas, cada uma pior que a outra…
Adulto 1 – Atiramo-lo de uma montanha abaixo!
Adulto 2 – Mandamo-lo para o deserto!
Adulto 3 – Enterramo-lo na terra!
3. Adulto 4 – Enfiamos-lhe um saco do lixo preto na cabeça e fazemos uns furos, só para ele
respirar…
Narrador
Ninguém encontrava uma solução, porque tinham medo de lhe tocar. Decidiram então,
prender o homem em casa, enquanto o pobre dormia. Quando este acordou e viu o que
lhe tinham feito, ficou tão triste que provocou uma tempestade ainda maior. Não tiveram
outro remédio, senão libertá-lo.
Para resolver o problema deste homem, mandaram chamar um médico da capital muito
famoso, que lhe receitou uns comprimidos e deu-lhe injeções e …nada!
Depois mandaram vir um cientista do estrangeiro, todo despenteado, bata branca e óculos
de garrafão (tipo cientista maluco), que o meteu numa máquina (tipo máquina de lavar),
carregou nos botões e… nada. Quando o homem saiu, ainda estava pior. Rabinho entre as
pernas e lá se foi embora.
Chamaram então, uma bruxa (eu avisei que poderia entrar uma bruxa). Mas não era uma
bruxa qualquer. Esta bruxa vinha toda aperaltada (arranjada), sem sinal no nariz, sem
dentes pobres, muito elegante e bem educada. Já não se fazem bruxas como antigamente,
é o que é… Foi para a cozinha do homem e lá foi metendo no panelão.
Bruxa: escamas de peixe, unhas de leopardo, sangue de serpente, pêlo de urso cortado ao
luar e outras cenas mais…
Pronta a receita, sentou o homem numa cadeira e deu-lhe umas colheradas da mistela
que fez. Enquanto isso cantava e dançava:
Bruxa: Oh nuvem de chuva
Põe-te a mexer
Se não desapareceres
Ponho-te a arder
4. Narrador
Só que quem ia ficando a arder era a panela da bruxa, pois ela esquecera-se de apagar o
lume. Pontapé no rabo e lá foi a bruxa fazer feitiçarias para outro lado.
Ninguém conseguia resolver o problema do homem que carregava consigo uma nuvem
escura.
Música
Narrador
Até que um dia, um rapazinho, com o rosto queimado pelo sol, vindo não se sabe de onde
e cheio de fome, apareceu na cidade. Cansado, o menino foi-se sentar num dos baloiços
do parque à espera que alguém lhe desse um pedaço de pão ou um pouco de água.
Aconteceu que, nesse momento, passava por ali, o homem da nuvem escura. O homem
aproximou-se do menino e do bolso tirou uma maçã vermelha e deu-a ao rapaz, que a
comeu deliciado.
Foi então, que o rapazinho sem nome e o homem da nuvem escura, se uniram num toque
suave de dedos e ficaram amigos.
Nesse instante, a nuvem escura começou a desaparecer cada vez mais até não mais
existir…
Os dois partiram lado a lado, desaparecendo para sempre.
Para onde foram, não sei. Provavelmente foram tentar ser amigos numa outra cidade
onde as pessoas os aceitassem como eles eram.