SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 19
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Ciências Sociais - Bacharelado

Uma categoria do espírito humano: A
noção de pessoa, de “eu”
Eduardo Adirbal Rosa
Eveline Feltrin

Santa Maria, 09 de outubro de 2013
Marcel Mauss
●

Sociólogo e antropólogo francês;

●

Nascimento: Épinal, 10 de Maio de 1872

Morte: Paris, 10 de Fevereiro de 1950
●

Sofre a influencia de Emile Durkheim (seu tio);

●

Escola Francesa de Sociologia:
Cardoso de Oliveira (1988, p. 28) afirma que o grande objetivo
desta escola sociológica seria “[...] dar conta das categorias do
entendimento da sociedade e povos concretos, como condição
prévia à compreensão do pensamento humano ou, como falavam os
filósofos da natureza do espírito humano”

(em: http://tamuseunacional.blogspot.com.br/2011/10/durkheim-e-levi-strauss-escola.html)
Marcel Mauss
(1872 - 1950)
Marcel Mauss (cont.)
●

-

Resignificação: - Fato social (Durkheim): coercitividade,
generalidade e exterioridade;
Fato social total (Mauss):
síntese entre
biologia/psicologia, história, sociologia, economia, etc;

“Após ter forçosamente dividido um pouco exageradamente, é preciso
que os sociólogos se esforcem em reconstituir o todo”
“(…) os fenômenos sociais são “antes sociais, mas também
conjuntamente e ao mesmo tempo, fisiológicos e psicológicos”.
Tridimensionalidade do Fato social total: sociológica (sincrônica),
histórica (diacrônica) e fisio-psicológica → Indivíduo;
Marcel Mauss (cont.)

●

●

A troca como fundamento da vida social (Ensaio sobre a
dádiva): da,r receber e retribuir – necessidades culturais, não
somente utilitárias ou econômicas;
Rompimento com Durkheim:

- estabelece um novo estatuto para a Antropologia: ciência
autônoma;
- inaugura uma postura epistemológica interdisciplinar;
●

Não realizou trabalhos de campo: etnólogo de museu;
Algumas obras
●

●

Esboço de uma teoria geral da magia. (1904)
Morfologia social, ensaio sobre as variações sazonais das
sociedades esquimós. (1906)

●

Sobre a história das religiões. (1909, con Henri Hubert)

●

Relações reais e práticas entre a psicologia e a sociologia. (1924)

●

●

●

●

Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades
arcaicas. (1925)
Efeito físico no indivíduo da idéia de morte sugerida pela
coletividade (Austrália, Nova Zelândia) (1926)
Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de
"eu". (1938)
As técnicas do corpo (1934)
Uma categoria do espírito humano: a noção
de pessoa, a de "eu"
I – O sujeito: a pessoa
II – O personagem e o lugar da pessoa
III – A persona latina
IV – A persona
V – A pessoa: fato moral
VI – A pessoa cristã
VII – A pessoa, ser psicológico
VIII - Conclusão
I – O sujeito: a pessoa
●

●

●

Explicar como surgiu e cresceu ao longo do tempo uma
das categorias do espírito humano: crítica ao inatismo;
A ideia de “pessoa”, a ideia do “EU”;
Percorrer o mundo e as épocas: da Austrália a Europa, da
antiguidade até os dias atuais;

●

Questão linguística: Não!

●

Questão psicológica: Não!

●

Questão de história social!

●

Saber como se elaborou a noção ou o conceito;
II – O personagem e o lugar da pessoa
●

●

Estudo de três casos: Pueblos de Zuñi, Kwakiutl (Noroeste
americano) e tribos australianas;
Pueblos: “(...) o clã é constituído por um certo numero de
pessoas, na verdade personagens; e, por outro lado, o papel
de todos esses personagens é figurar, cada um por sua
parte, a totalidade prefigurada do clã”
“(...) vemos já entre os Pueblos, em suma, uma noção da
pessoa, do indivíduo confundido com seu clã, mas já
destacado dele no cerimonial, pela máscara, por seu título,
sua posição, seu papel, sua propriedade, sua sobrevivência
e seu reaparecimento na terra num de seus descendentes
dotados das mesmas posições, prenomes, títulos, direitos e
funções”.
II – O personagem e o lugar da pessoa
●

Noroeste americano: “O fato é que todos esses índios, os
Kwajiutl em particular, instalaram entre eles um sistema
social e religioso no qual, numa imensa troca de direitos,
de prestações, de bens, de danças, de cerimônias, de
privilégios, de posições, as pessoas e os grupos sociais são
simultaneamente satisfeitos. Vê-se muito nitidamente
como, a partir das classes e dos clãs, ordenam-se as pessoas
humanas, e como, a partir destas, ordenam-se os gestos dos
atores num drama. Aqui, todos os atores são teoricamente
os homens livres. Mas, desta vez, o drama é mais do que
estético. É religioso, e ao mesmo tempo cósmico,
mitológico, social e pessoal”
II – O personagem e o lugar da pessoa
●

●

Austrália: “Também aqui o clã de modo nenhum é
representado como um ser inteiramente impessoal,
coletivo, o totem, representado pela espécie animal e não
pelos indivíduos – homens, de um lado, animais, de outro.
Sob seu aspecto homem, ele é o fruto das reencarnações
dos espíritos dispersos e que renascem perpetuamente no
clã”
Noção de personagem: papel cumprido pelo indivíduo
em dramas sagrados
III – A persona latina
●

●

●

●

A noção de persona latina: máscara, máscara trágica,
máscara ritual e máscara ancestral
Civilizações que desenvolveram tal noção, mas a
dissolveram: Índia búdica e bramânica e China antiga
Índia: ahamkara (fabricação do Eu) é uma palavra
técnica; o “Eu” é algo ilusório; escola samkhya afirmava o
caráter composto das coisas e espíritos;
China: “A ordem dos nascimentos, a hierarquia e o jogo
das classes sociais fixam os nomes, a forma de vida dos
indivíduos, sua “face”(...). Sua individualidade é seu ming.
(…) retirou da individualidade todo caráter de ser perpétuo
e indecomponível.”
IV – A persona
• Os romanos/latinos estabeleceram parcialmente a noção de
pessoa.
• (...) “pessoa” é mais do que um elemento de organização,
mais do que um nome ou o direito a uma personagem e uma
máscara ritual, ela é um fato fundamental do direito.
• Origem da palavra: etrusca.
• Latinos: deram o sentido primitivo que veio a ser nosso.
• Samnitas, etruscos, latinos ainda viviam na atmosfera que
acabamos de deixar: personae, máscaras e nomes, direitos
individuais a ritos, privilégios.
• Persona: sinônimo da verdadeira natureza do indivíduo.
IV – A persona
• O direito a persona é fundado. Somente o escravo está
excluído dele. Ele não tem personalidade, não possui seu
corpo, não tem antepassados, nome, cognomen, bens
próprios.
V – A pessoa: fato moral
• Esse progresso foi feito sobretudo com a ajuda dos estóicos,
cuja moral voluntarista, pessoal, podia enriquecer a noção
romana de pessoa.
• Persona:
- Máscara, personagem que cada um é e quer ser, seu caráter, a
verdadeira face.
- Imagem superposta.
- Personagem humana ou mesmo divina.
- O indivíduo em sua natureza nua, arrancada toda a máscara,
conservando-se, em contraposição, o sentido do artifício: o
sentido do que é a intimidade dessa pessoa e o sentido do
que é personagem.
- Entre os clássicos latinos e gregos da moral (séc. II a.C. a
séc. IV d.C.): Acrescenta-se cada vez mais um sentido
moral ao sentido jurídico, um sentido de ser consciente,
independente, autônomo, livre, responsável.
VI – A pessoa cristã
• Cristãos: Fizeram da pessoa moral uma entidade
metafísica.
• Questão da unidade da pessoa, da unidade da igreja, em
relação à unidade de Deus.
• É a partir da noção de uno que a noção de pessoa é criada.
• A pessoa é uma substância racional indivisível, individual.
VII - A pessoa, ser psicológico
• A noção e pessoa:
• Categoria do Eu.
• Consciência psicológica.
• Fechte: Todo fato de consciência é um fato do “Eu”.
• Fundou toda ciência e toda ação sobre o “Eu”.
• Kant: Fez da consciência individual, do caráter sagrado da
pessoa humana, a condição da Razão Prática. → FechteFez
dela, a categoria do “Eu”, condição da consciência e da
ciência, da Razão Pura.
• Temos cada um nosso “Eu”.
VIII - Conclusão
“ De uma simples mascarada à máscara; de um personagem a
uma pessoa, a um nome, a um indivíduo; deste a um ser
com valor metafísico e moral; de uma consciência moral a
um ser sagrado; deste a uma forma fundamental do
pensamento e da ação; foi assim que o percurso se realizou.
Quem sabe quais serão ainda os progressos do
Entendimento sobre esse ponto?”

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (20)

Antropologia: conceitos basicos
 Antropologia: conceitos basicos Antropologia: conceitos basicos
Antropologia: conceitos basicos
 
Indivíduo e Sociedade
Indivíduo e SociedadeIndivíduo e Sociedade
Indivíduo e Sociedade
 
Os pré-socráticos
Os pré-socráticosOs pré-socráticos
Os pré-socráticos
 
Surgimento da Sociologia
Surgimento da SociologiaSurgimento da Sociologia
Surgimento da Sociologia
 
Nietzsche e a transmutacao de valores
Nietzsche e a transmutacao de valoresNietzsche e a transmutacao de valores
Nietzsche e a transmutacao de valores
 
Conceito e origem da antropologia
Conceito e origem da antropologiaConceito e origem da antropologia
Conceito e origem da antropologia
 
Biopoder
BiopoderBiopoder
Biopoder
 
Filosofia PolíTica Blog
Filosofia PolíTica BlogFilosofia PolíTica Blog
Filosofia PolíTica Blog
 
A sociologia e a sociedade
A sociologia e a sociedadeA sociologia e a sociedade
A sociologia e a sociedade
 
Slid 03 fazag karl marx - émile durkheim e max weber
Slid 03   fazag  karl marx - émile durkheim e max weberSlid 03   fazag  karl marx - émile durkheim e max weber
Slid 03 fazag karl marx - émile durkheim e max weber
 
Antropologia
AntropologiaAntropologia
Antropologia
 
Unidade I Aula:Bases para uma Sociologia Urbana
Unidade I  Aula:Bases para uma Sociologia UrbanaUnidade I  Aula:Bases para uma Sociologia Urbana
Unidade I Aula:Bases para uma Sociologia Urbana
 
Filosofia da-linguagem-3ano
Filosofia da-linguagem-3anoFilosofia da-linguagem-3ano
Filosofia da-linguagem-3ano
 
Instituições sociais
Instituições sociaisInstituições sociais
Instituições sociais
 
Fatos sociais
Fatos sociaisFatos sociais
Fatos sociais
 
Aula 6 - Marcel Mauss
Aula 6 - Marcel MaussAula 6 - Marcel Mauss
Aula 6 - Marcel Mauss
 
Sociologia - Religião
Sociologia - ReligiãoSociologia - Religião
Sociologia - Religião
 
Etnocentrismo e relativismo
Etnocentrismo e relativismoEtnocentrismo e relativismo
Etnocentrismo e relativismo
 
Poder, política e estado
Poder, política e estadoPoder, política e estado
Poder, política e estado
 
Teoria crítica apresentação
Teoria crítica apresentaçãoTeoria crítica apresentação
Teoria crítica apresentação
 

Destaque

Ensaio sobre a dádiva, Mauss
Ensaio sobre a dádiva, MaussEnsaio sobre a dádiva, Mauss
Ensaio sobre a dádiva, MaussAdriana Avila
 
Apresentação Mauss e Ensaio sobre a Dádiva
Apresentação Mauss e Ensaio sobre a DádivaApresentação Mauss e Ensaio sobre a Dádiva
Apresentação Mauss e Ensaio sobre a DádivaCarolina Suptitz
 
Antropologia contemporânea
Antropologia contemporânea Antropologia contemporânea
Antropologia contemporânea mundica broda
 
Ensaio Sobre a Dádiva - Marcel Mauss
Ensaio Sobre a Dádiva - Marcel MaussEnsaio Sobre a Dádiva - Marcel Mauss
Ensaio Sobre a Dádiva - Marcel MaussJoão Filho
 
As Formas Elementares da Vida Religiosa - Émile Durkheim
As Formas Elementares da Vida Religiosa -  Émile DurkheimAs Formas Elementares da Vida Religiosa -  Émile Durkheim
As Formas Elementares da Vida Religiosa - Émile DurkheimJoão Filho
 
Antropología contemporánea
Antropología  contemporáneaAntropología  contemporánea
Antropología contemporáneaaddyalf
 
Antropologia contemporanea
Antropologia contemporaneaAntropologia contemporanea
Antropologia contemporaneaAmunincoc
 
Antropologia contemporânea cap 10
Antropologia contemporânea cap 10Antropologia contemporânea cap 10
Antropologia contemporânea cap 10mundissa
 
Teoria das representações sociais
Teoria das representações sociaisTeoria das representações sociais
Teoria das representações sociaisJhonata Andrade
 
Antropologia segundo Franz Boaz
Antropologia segundo Franz BoazAntropologia segundo Franz Boaz
Antropologia segundo Franz BoazLaís Uchôa
 

Destaque (18)

Ensaio sobre a dádiva, Mauss
Ensaio sobre a dádiva, MaussEnsaio sobre a dádiva, Mauss
Ensaio sobre a dádiva, Mauss
 
Apresentação Mauss e Ensaio sobre a Dádiva
Apresentação Mauss e Ensaio sobre a DádivaApresentação Mauss e Ensaio sobre a Dádiva
Apresentação Mauss e Ensaio sobre a Dádiva
 
Antropologia contemporânea
Antropologia contemporânea Antropologia contemporânea
Antropologia contemporânea
 
Ensaio Sobre a Dádiva - Marcel Mauss
Ensaio Sobre a Dádiva - Marcel MaussEnsaio Sobre a Dádiva - Marcel Mauss
Ensaio Sobre a Dádiva - Marcel Mauss
 
As Formas Elementares da Vida Religiosa - Émile Durkheim
As Formas Elementares da Vida Religiosa -  Émile DurkheimAs Formas Elementares da Vida Religiosa -  Émile Durkheim
As Formas Elementares da Vida Religiosa - Émile Durkheim
 
Antropología contemporánea
Antropología  contemporáneaAntropología  contemporánea
Antropología contemporánea
 
Antropologia 1
Antropologia 1Antropologia 1
Antropologia 1
 
Geografia para Agente de Aeroporto e de Viagens
Geografia para Agente de Aeroporto e de ViagensGeografia para Agente de Aeroporto e de Viagens
Geografia para Agente de Aeroporto e de Viagens
 
Mapas em branco para estudo
Mapas em branco para estudoMapas em branco para estudo
Mapas em branco para estudo
 
Antropologia contemporanea
Antropologia contemporaneaAntropologia contemporanea
Antropologia contemporanea
 
Lewis Henry Morgan
Lewis Henry MorganLewis Henry Morgan
Lewis Henry Morgan
 
Antropologia contemporânea cap 10
Antropologia contemporânea cap 10Antropologia contemporânea cap 10
Antropologia contemporânea cap 10
 
Os pais fundadores da etnografia
Os pais fundadores da etnografiaOs pais fundadores da etnografia
Os pais fundadores da etnografia
 
Aprender antropologia
Aprender antropologiaAprender antropologia
Aprender antropologia
 
Teoria das representações sociais
Teoria das representações sociaisTeoria das representações sociais
Teoria das representações sociais
 
Antropologia segundo Franz Boaz
Antropologia segundo Franz BoazAntropologia segundo Franz Boaz
Antropologia segundo Franz Boaz
 
Aula 1 o que é antropologia
Aula 1   o que é antropologiaAula 1   o que é antropologia
Aula 1 o que é antropologia
 
Antropologia introdução
Antropologia introduçãoAntropologia introdução
Antropologia introdução
 

Semelhante a Mauss antropologia

A identidade cultural na pós-modernidade
A identidade cultural na pós-modernidadeA identidade cultural na pós-modernidade
A identidade cultural na pós-modernidadeSandro Bottene
 
Apresentacao de antropologia psicologia
Apresentacao de antropologia psicologia  Apresentacao de antropologia psicologia
Apresentacao de antropologia psicologia faculdade11
 
antropologia filosofica a origem do homem
 antropologia filosofica  a origem do homem antropologia filosofica  a origem do homem
antropologia filosofica a origem do homemparaiba1974
 
Antropologia.sintese paradigmas e escolas
Antropologia.sintese paradigmas e escolasAntropologia.sintese paradigmas e escolas
Antropologia.sintese paradigmas e escolasJoão Filho
 
A origem e o nascimento da Filosofia e.pptx
A origem e o nascimento da Filosofia e.pptxA origem e o nascimento da Filosofia e.pptx
A origem e o nascimento da Filosofia e.pptxLaryssaMendes17
 
A evolução da reflexão humana.
A evolução da reflexão humana.A evolução da reflexão humana.
A evolução da reflexão humana.PatriciaKarla
 
Seminário identidade identificação 2014 UENF Mestrado Cognição Linguagem
Seminário identidade identificação 2014 UENF Mestrado  Cognição LinguagemSeminário identidade identificação 2014 UENF Mestrado  Cognição Linguagem
Seminário identidade identificação 2014 UENF Mestrado Cognição LinguagemRafael Rivera
 
Nietzsche - alguns conceitos
Nietzsche - alguns conceitosNietzsche - alguns conceitos
Nietzsche - alguns conceitosBruno Carrasco
 
Crítica aos Direitos Humanos
Crítica aos Direitos HumanosCrítica aos Direitos Humanos
Crítica aos Direitos HumanosPSHON
 
Aulão.soc.ideologia e cultura. mudança e transforma ç ão social. filo. filos...
Aulão.soc.ideologia e cultura. mudança e transforma ç ão  social. filo. filos...Aulão.soc.ideologia e cultura. mudança e transforma ç ão  social. filo. filos...
Aulão.soc.ideologia e cultura. mudança e transforma ç ão social. filo. filos...Silvana
 
Mudanças e Transformações Sociais - Ciência e Tecnologia
Mudanças e Transformações Sociais - Ciência e TecnologiaMudanças e Transformações Sociais - Ciência e Tecnologia
Mudanças e Transformações Sociais - Ciência e TecnologiaSilvana
 
Filosofia jurídica 09 ago a 20 set
Filosofia jurídica 09 ago a 20 setFilosofia jurídica 09 ago a 20 set
Filosofia jurídica 09 ago a 20 setDireito2012sl08
 
A TRANSIÇÃO SOCIAL E O ESPIRITISMO
A TRANSIÇÃO SOCIAL E O ESPIRITISMOA TRANSIÇÃO SOCIAL E O ESPIRITISMO
A TRANSIÇÃO SOCIAL E O ESPIRITISMOJorge Luiz dos Santos
 

Semelhante a Mauss antropologia (20)

A identidade cultural na pós-modernidade
A identidade cultural na pós-modernidadeA identidade cultural na pós-modernidade
A identidade cultural na pós-modernidade
 
Apresentacao de antropologia psicologia
Apresentacao de antropologia psicologia  Apresentacao de antropologia psicologia
Apresentacao de antropologia psicologia
 
antropologia filosofica a origem do homem
 antropologia filosofica  a origem do homem antropologia filosofica  a origem do homem
antropologia filosofica a origem do homem
 
Aula 01 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA
Aula 01 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIAAula 01 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA
Aula 01 FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA
 
Rousseau
RousseauRousseau
Rousseau
 
O que é etnocentrismo
O que é etnocentrismoO que é etnocentrismo
O que é etnocentrismo
 
Antropologia.sintese paradigmas e escolas
Antropologia.sintese paradigmas e escolasAntropologia.sintese paradigmas e escolas
Antropologia.sintese paradigmas e escolas
 
A origem e o nascimento da Filosofia e.pptx
A origem e o nascimento da Filosofia e.pptxA origem e o nascimento da Filosofia e.pptx
A origem e o nascimento da Filosofia e.pptx
 
A evolução da reflexão humana.
A evolução da reflexão humana.A evolução da reflexão humana.
A evolução da reflexão humana.
 
Seminário identidade identificação 2014 UENF Mestrado Cognição Linguagem
Seminário identidade identificação 2014 UENF Mestrado  Cognição LinguagemSeminário identidade identificação 2014 UENF Mestrado  Cognição Linguagem
Seminário identidade identificação 2014 UENF Mestrado Cognição Linguagem
 
éTica cristã 2010.2 puc-rio
éTica cristã 2010.2 puc-rioéTica cristã 2010.2 puc-rio
éTica cristã 2010.2 puc-rio
 
Nietzsche - alguns conceitos
Nietzsche - alguns conceitosNietzsche - alguns conceitos
Nietzsche - alguns conceitos
 
Aula um
Aula umAula um
Aula um
 
Crítica aos Direitos Humanos
Crítica aos Direitos HumanosCrítica aos Direitos Humanos
Crítica aos Direitos Humanos
 
Aulão.soc.ideologia e cultura. mudança e transforma ç ão social. filo. filos...
Aulão.soc.ideologia e cultura. mudança e transforma ç ão  social. filo. filos...Aulão.soc.ideologia e cultura. mudança e transforma ç ão  social. filo. filos...
Aulão.soc.ideologia e cultura. mudança e transforma ç ão social. filo. filos...
 
Mudanças e Transformações Sociais - Ciência e Tecnologia
Mudanças e Transformações Sociais - Ciência e TecnologiaMudanças e Transformações Sociais - Ciência e Tecnologia
Mudanças e Transformações Sociais - Ciência e Tecnologia
 
Filosofia jurídica 09 ago a 20 set
Filosofia jurídica 09 ago a 20 setFilosofia jurídica 09 ago a 20 set
Filosofia jurídica 09 ago a 20 set
 
A TRANSIÇÃO SOCIAL E O ESPIRITISMO
A TRANSIÇÃO SOCIAL E O ESPIRITISMOA TRANSIÇÃO SOCIAL E O ESPIRITISMO
A TRANSIÇÃO SOCIAL E O ESPIRITISMO
 
Antropologia
AntropologiaAntropologia
Antropologia
 
Antropologia
AntropologiaAntropologia
Antropologia
 

Mauss antropologia

  • 1. Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas Ciências Sociais - Bacharelado Uma categoria do espírito humano: A noção de pessoa, de “eu” Eduardo Adirbal Rosa Eveline Feltrin Santa Maria, 09 de outubro de 2013
  • 2. Marcel Mauss ● Sociólogo e antropólogo francês; ● Nascimento: Épinal, 10 de Maio de 1872 Morte: Paris, 10 de Fevereiro de 1950 ● Sofre a influencia de Emile Durkheim (seu tio); ● Escola Francesa de Sociologia: Cardoso de Oliveira (1988, p. 28) afirma que o grande objetivo desta escola sociológica seria “[...] dar conta das categorias do entendimento da sociedade e povos concretos, como condição prévia à compreensão do pensamento humano ou, como falavam os filósofos da natureza do espírito humano” (em: http://tamuseunacional.blogspot.com.br/2011/10/durkheim-e-levi-strauss-escola.html)
  • 4. Marcel Mauss (cont.) ● - Resignificação: - Fato social (Durkheim): coercitividade, generalidade e exterioridade; Fato social total (Mauss): síntese entre biologia/psicologia, história, sociologia, economia, etc; “Após ter forçosamente dividido um pouco exageradamente, é preciso que os sociólogos se esforcem em reconstituir o todo” “(…) os fenômenos sociais são “antes sociais, mas também conjuntamente e ao mesmo tempo, fisiológicos e psicológicos”. Tridimensionalidade do Fato social total: sociológica (sincrônica), histórica (diacrônica) e fisio-psicológica → Indivíduo;
  • 5. Marcel Mauss (cont.) ● ● A troca como fundamento da vida social (Ensaio sobre a dádiva): da,r receber e retribuir – necessidades culturais, não somente utilitárias ou econômicas; Rompimento com Durkheim: - estabelece um novo estatuto para a Antropologia: ciência autônoma; - inaugura uma postura epistemológica interdisciplinar; ● Não realizou trabalhos de campo: etnólogo de museu;
  • 6. Algumas obras ● ● Esboço de uma teoria geral da magia. (1904) Morfologia social, ensaio sobre as variações sazonais das sociedades esquimós. (1906) ● Sobre a história das religiões. (1909, con Henri Hubert) ● Relações reais e práticas entre a psicologia e a sociologia. (1924) ● ● ● ● Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. (1925) Efeito físico no indivíduo da idéia de morte sugerida pela coletividade (Austrália, Nova Zelândia) (1926) Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de "eu". (1938) As técnicas do corpo (1934)
  • 7. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de "eu" I – O sujeito: a pessoa II – O personagem e o lugar da pessoa III – A persona latina IV – A persona V – A pessoa: fato moral VI – A pessoa cristã VII – A pessoa, ser psicológico VIII - Conclusão
  • 8. I – O sujeito: a pessoa ● ● ● Explicar como surgiu e cresceu ao longo do tempo uma das categorias do espírito humano: crítica ao inatismo; A ideia de “pessoa”, a ideia do “EU”; Percorrer o mundo e as épocas: da Austrália a Europa, da antiguidade até os dias atuais; ● Questão linguística: Não! ● Questão psicológica: Não! ● Questão de história social! ● Saber como se elaborou a noção ou o conceito;
  • 9. II – O personagem e o lugar da pessoa ● ● Estudo de três casos: Pueblos de Zuñi, Kwakiutl (Noroeste americano) e tribos australianas; Pueblos: “(...) o clã é constituído por um certo numero de pessoas, na verdade personagens; e, por outro lado, o papel de todos esses personagens é figurar, cada um por sua parte, a totalidade prefigurada do clã” “(...) vemos já entre os Pueblos, em suma, uma noção da pessoa, do indivíduo confundido com seu clã, mas já destacado dele no cerimonial, pela máscara, por seu título, sua posição, seu papel, sua propriedade, sua sobrevivência e seu reaparecimento na terra num de seus descendentes dotados das mesmas posições, prenomes, títulos, direitos e funções”.
  • 10. II – O personagem e o lugar da pessoa ● Noroeste americano: “O fato é que todos esses índios, os Kwajiutl em particular, instalaram entre eles um sistema social e religioso no qual, numa imensa troca de direitos, de prestações, de bens, de danças, de cerimônias, de privilégios, de posições, as pessoas e os grupos sociais são simultaneamente satisfeitos. Vê-se muito nitidamente como, a partir das classes e dos clãs, ordenam-se as pessoas humanas, e como, a partir destas, ordenam-se os gestos dos atores num drama. Aqui, todos os atores são teoricamente os homens livres. Mas, desta vez, o drama é mais do que estético. É religioso, e ao mesmo tempo cósmico, mitológico, social e pessoal”
  • 11. II – O personagem e o lugar da pessoa ● ● Austrália: “Também aqui o clã de modo nenhum é representado como um ser inteiramente impessoal, coletivo, o totem, representado pela espécie animal e não pelos indivíduos – homens, de um lado, animais, de outro. Sob seu aspecto homem, ele é o fruto das reencarnações dos espíritos dispersos e que renascem perpetuamente no clã” Noção de personagem: papel cumprido pelo indivíduo em dramas sagrados
  • 12. III – A persona latina ● ● ● ● A noção de persona latina: máscara, máscara trágica, máscara ritual e máscara ancestral Civilizações que desenvolveram tal noção, mas a dissolveram: Índia búdica e bramânica e China antiga Índia: ahamkara (fabricação do Eu) é uma palavra técnica; o “Eu” é algo ilusório; escola samkhya afirmava o caráter composto das coisas e espíritos; China: “A ordem dos nascimentos, a hierarquia e o jogo das classes sociais fixam os nomes, a forma de vida dos indivíduos, sua “face”(...). Sua individualidade é seu ming. (…) retirou da individualidade todo caráter de ser perpétuo e indecomponível.”
  • 13. IV – A persona • Os romanos/latinos estabeleceram parcialmente a noção de pessoa. • (...) “pessoa” é mais do que um elemento de organização, mais do que um nome ou o direito a uma personagem e uma máscara ritual, ela é um fato fundamental do direito. • Origem da palavra: etrusca. • Latinos: deram o sentido primitivo que veio a ser nosso. • Samnitas, etruscos, latinos ainda viviam na atmosfera que acabamos de deixar: personae, máscaras e nomes, direitos individuais a ritos, privilégios. • Persona: sinônimo da verdadeira natureza do indivíduo.
  • 14. IV – A persona • O direito a persona é fundado. Somente o escravo está excluído dele. Ele não tem personalidade, não possui seu corpo, não tem antepassados, nome, cognomen, bens próprios.
  • 15. V – A pessoa: fato moral • Esse progresso foi feito sobretudo com a ajuda dos estóicos, cuja moral voluntarista, pessoal, podia enriquecer a noção romana de pessoa. • Persona: - Máscara, personagem que cada um é e quer ser, seu caráter, a verdadeira face. - Imagem superposta. - Personagem humana ou mesmo divina. - O indivíduo em sua natureza nua, arrancada toda a máscara, conservando-se, em contraposição, o sentido do artifício: o sentido do que é a intimidade dessa pessoa e o sentido do que é personagem.
  • 16. - Entre os clássicos latinos e gregos da moral (séc. II a.C. a séc. IV d.C.): Acrescenta-se cada vez mais um sentido moral ao sentido jurídico, um sentido de ser consciente, independente, autônomo, livre, responsável.
  • 17. VI – A pessoa cristã • Cristãos: Fizeram da pessoa moral uma entidade metafísica. • Questão da unidade da pessoa, da unidade da igreja, em relação à unidade de Deus. • É a partir da noção de uno que a noção de pessoa é criada. • A pessoa é uma substância racional indivisível, individual.
  • 18. VII - A pessoa, ser psicológico • A noção e pessoa: • Categoria do Eu. • Consciência psicológica. • Fechte: Todo fato de consciência é um fato do “Eu”. • Fundou toda ciência e toda ação sobre o “Eu”. • Kant: Fez da consciência individual, do caráter sagrado da pessoa humana, a condição da Razão Prática. → FechteFez dela, a categoria do “Eu”, condição da consciência e da ciência, da Razão Pura. • Temos cada um nosso “Eu”.
  • 19. VIII - Conclusão “ De uma simples mascarada à máscara; de um personagem a uma pessoa, a um nome, a um indivíduo; deste a um ser com valor metafísico e moral; de uma consciência moral a um ser sagrado; deste a uma forma fundamental do pensamento e da ação; foi assim que o percurso se realizou. Quem sabe quais serão ainda os progressos do Entendimento sobre esse ponto?”