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Conceitos de pedagogia
1. Conceitos de pedagogia (Paulo Freire, Dermeval Saviani, Nilda Teves)
Saviani: “O pedagogo, literalmente, é o especialista em pedagogia. E o que é
pedagogia? É teoria da educação. Ora, educação é uma atividade prática. Portanto, a
pedagogia é uma teoria da prática: a teoria da prática educativa. De fato, a palavra
pedagogia e, mais particularmente, o adjetivo pedagógico tem marcadamente
ressonância metodológica, denotando o modo de operar, de realizar o ato educativo. A
pedagogia é, pois, uma teoria que se estrutura em função da ação, ou seja, é elaborada
em função de exigências práticas, interessada na execução da ação e nos seus
resultados. Em suma, a pedagogia, como teoria da educação, busca equacionar, de
alguma maneira, o problema da relação educador-educando, de modo geral, e, no caso
específico da escola, a relação professor-aluno, orientando o processo de ensino e
aprendizagem. Mas, se toda pedagogia é teoria da educação, nem toda teoria da
educação é pedagogia. Com efeito, encontramos determinados tipos de teorias da
educação cuja preocupação é explicar o fenômeno educativo sem se preocupar com a
questão da realização do ato educativo. Assim, não se constituem como pedagogia
aquelas teorias que analisam a educação pelo aspecto de sua relação com a sociedade
não tendo como objetivo formular diretrizes que orientem a atividade educativa, como é
o caso das teorias que chamei de “crítico-reprodutivistas”. O pedagogo é, então, um
profissional que busca compreender a educação em suas várias determinações, nos
diversos aspectos que a constituem, tendo em vista organizar o processo educativo da
maneira considerada a mais adequada para garantir a eficácia do ato de educar.
Considerando que, nas condições atuais, a escola foi erigida em forma principal e
dominante de educação, o pedagogo será, precipuamente, ainda que não
exclusivamente, um especialista na forma de organização e no modo de funcionamento
da educação escolar.” P. 231 (Saviani, Dermeval. Interlocuções pedagógicas: conversa
com Paulo Freire e Adriano Nogueira e 30 entrevistas sobre educação. Campinas, SP:
Autores Associados, 2010).
Paulo Freire: “Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos,
apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do
outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem
ensina ensina alguma coisa a alguém. Por isso é que, do ponto de vista gramatical, o
verbo ensinar é um verbo transitivo-relativo. Verbo que pede um objeto direto – alguma
coisa – e um objeto indireto – a alguém. Do ponto de vista democrático em que me
situo, mas também do ponto de vista da radicalidade metafísica em que me coloco e de
que decorre minha compreensão do homem e da mulher como seres históricos e
inacabados e sobre que se funda a minha inteligência do processo de conhecer, ensinar é
algo mais que um verbo transitivo-relativo. Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e
foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que
era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos
mulheres e homens perceberam que era possível – depois, preciso – trabalhar maneiras,
caminhos, métodos de ensinar. Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras,
2. ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender.” P. 26. (Freire, Paulo.
Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1997).
Nilda Teves: “Retomando as recomendações de Reboul (1973), de se aceitar a liberdade
como início e fim da educação, deve-se ter presente que essa liberdade se funda no
conhecimento das necessidades e na existência de meios para superá-las. Rousseau foi
primoroso ao dizer que só na ordem da divindade o ser é absolutamente livre: sendo
pleno em si mesmo, Deus de nada e de ninguém necessita. Aos homens só cabe o
desafio da difícil conciliação entre seus próprios interesses e os interesses coletivos,
suas necessidades e as necessidades dos outros. Sua liberdade está sempre tensionada
com a presença dos outros, com antagonismos, conflitos, lutas por reconhecimento. Ela
se configura num processo de perdas e ganhos, trocas e conquistas, acumulando alegrias
e frustrações, fantasias e ressentimentos.
Ser livre é compartilhar com outros as chances de viver nossa própria história.
Significa dizer que é da essência mesma da liberdade recusar a inércia, impulsionar o
homem para o mundo, mesmo que isso acarrete sua morte. Jean-Paul Sartre dizia que a
humanidade está condenada à liberdade, pois o homem é o único ser que, mesmo não
querendo optar, está optando pela não-opção. Se não somos deuses, se por natureza
somos carentes, se nossa liberdade esbarra sempre na liberdade do outro, se o homem só
se isola em sociedade, o que nos resta senão com-viver? Temos que compartilhar
espaços com outros homens, que podem ser nossos semelhantes ou não, amigos ou
inimigos, patrões ou empregados; todos estão sempre ali, cobrando a nossa presença,
impulsionando nossas ações, compartilhando nossas emoções.
A convivência social se desenvolve contando com determinantes econômicos,
políticos, históricos e culturais. A vida cotidiana tem dimensões econômicas, mas
também estéticas, religiosas, morais e políticas. Todo esse elenco precisa ser
considerado quando se enfoca a formação do cidadão, aquele que precisa aprender a
difícil arte de viver no espaço público, não fazendo dele o locus da violência, nem se
transformando em um pusilânime súdito sem rei. Com-viver, então, demanda
reciprocidade, solidariedade, respeito ao próximo e, acima de tudo, generosidade. É um
péssimo cidadão aquele que não consegue ser generoso ao ponto de limitar,
minimamente que seja, seus próprios interesses diante de interesses coletivos.” P. 219.
(Ferreira, Nilda Teves. Cidadania: uma questão para a educação. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1993).