O documento contém vários poemas de Eugénio de Andrade sobre árvores e frutos. Os poemas descrevem a relação cíclica entre a vida e a morte na natureza, onde os frutos amadurecem e as sementes germinam, e como as pessoas são como folhas passageiras sob as árvores.
Coleção de poemas sobre árvores e frutos de Eugénio de Andrade
1. Em cada fruto a morte amadurece
Em cada fruto a morte amadurece,
deixando inteira, por legado,
uma semente virgem que estremece
logo que o vento a tenha desnudado.
Eugénio de andrade – As mãos e os frutos – 1948
2. Somos folhas breves onde dormem
Somos folhas breves onde dormem
aves de sombra e solidão.
Somos só folhas e o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
Cada ave se transforma noutro ser.
Eugénio Andrade - As mãos e os frutos-1948
3. “As árvores e os frutos” (Resumo)
(…) Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, choupos meus,
carregados de sombra e rasos de água.
Só elas são estrelas
penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos (…)
Eugénio de Andrade
4. Olhos postos na Terra; tu virás
Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais abrirás
nas mãos de quem te espera.
Eugénio de Andrade - As Mãos e os Frutos - 1948
5. Se eu, ainda que ninguém
(16-
(16-9-1933)
Se eu, ainda que ninguém,
Pudesse ter sobre a face
Aquele clarão fugaz
Que aquelas árvores têm,
Teria aquela alegria
Que as coisas têm de fora,
Porque a alegria é da hora;
Vai com o sol quando esfria.
Qualquer coisa me valera
Melhor que a vida que tenho
Ter esta vida de estranho
Que só do sol me viera!
Fernando Pessoa
6. Frutos
Pêssegos, peras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música de meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma da sílabas:
tangerina, tangerina
Eugénio de Andrade
7. Se eu me sentir sono
Se eu me sentir sono,
E quiser dormir,
Naquele abandono
Que é o não sentir,
Quero que aconteça
Quando eu estiver
Pousando a cabeça,
Não num chão qualquer,
Mas onde sob ramos
Uma árvore faz
A sombra em que bebamos,
A sombra da paz.
Fernando Pessoa-1934
8. Velhas Árvores
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas: Tanto
mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da
idade e das procelas... O homem, a fera, e o inseto,
à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Olavo Bilac, in "Poesias"
9. Árvore, cujo pomo, belo e brando
Árvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;
(…)
Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,
se não te celebrar como mereces,
cantando-te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.
Luís Vaz de Camões
10. Árvores do Alentejo
Horas mortas? Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido? e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro e giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede, pedindo a Deus
a minha gota de água.
Florbela Espanca