1) O documento discute como a complexidade crescente do trabalho torna os trabalhadores mais qualificados e capazes de tomar decisões, diminuindo o papel do capitalista.
2) Também argumenta que o conhecimento é a principal ferramenta produtiva e não pode ser apropriada pelo capitalista, tornando o trabalho coletivo mais importante que o capital individual.
3) Finalmente, critica as tarefas atuais dos capitalistas, como fusões e demissões em massa apenas para aumentar os lucros dos acionistas, em vez de gerar riqueza
1. TEXTOS “ESQUERDA DESALINHADA”
Afinal, qual a função social do capitalista ?
Introdução
A complexidade crescente do processo produtivo gera consequências a que
o capitalismo não pode fugir, a despeito de serem desvantajosas para a sua
continuidade como sistema social e político.
• Uma, é o grau de formação exigível ao trabalhador, muito além da
capacidade de repetição de tarefas elementares como assistimos no
filme de Chaplin, Tempos Modernos.
• Outra consequência prende-se com a actual e indispensável
banalidade dos trabalhadores tomarem decisões no âmbito das suas
funções produtivas, largamente marcadas pela gestão de informação
e de comunicação.
Nos tempos do fordismo ou do taylorismo puro e duro, o trabalhador achava-
se relativamente separado dos instrumentos de trabalho que pertenciam ao
capitalista.
Hoje, o conhecimento é a principal ferramenta produtiva e nele se entrelaça a
formação profissional e cultural, a vida própria do trabalhador, com os seus
desejos e afectos. Ora, conhecimento significa
também incorporação de tecnologias e conhecimentos científicos e portanto,
o produto do trabalho depende essencialmente do potencial acumulado no
trabalhador.
Se a complexidade do trabalho não está na tarefa desempenhada mas, na
síntese de conhecimentos exigidos previamente para a sua execução, a
produtividade resulta, precisamente, das capacidades do trabalhador; e,
consequentemente, o tempo do trabalho resulta subalterno. E isso, é contrário
à importância do tempo de trabalho incorporado na produção taylorista, que
fazia disso a grande fonte da produtividade.
Como a real produção de riqueza se baseia na ciência e na tecnologia
detidas pelo conjunto dos trabalhadores, pela Humanidade, através da
interacção do conhecimento incorporado em cada trabalhador, é o capital
humano que se manifesta como factor dominante na produção.
Porém, o conhecimento, essa ferramenta essencial, não pertence ao
capitalista. Este pode comprar a utilização do conhecimento mas, este não é
transferível para o património do capitalista; não é possível despedir um
trabalhador e conservar o seu conhecimento. Por outro lado, a qualificação
torna os trabalhadores, em conjunto, muito mais capazes de, colectivamente
gerirem a empresa do que no passado, uma vez que todo o processo
produtivo não se desenrola sem as suas decisões autónomas e articuladas.
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2. E, nesse contexto qual o papel do capitalista se a produção é determinada
por um bem social – o conhecimento – insusceptível de apropriação privada?
Mais do que nunca, fica claro o papel parasitário do patrão como aliás, é
magnificamente representado no filme atrás citado, Tempos Modernos.
A grande empresa de hoje
A dimensão gigantesca das empresas de hoje acentua o seu carácter social,
colectivo, uma vez que nela se integram centenas de funções diversas, numa
matriz imensa de actos antecedentes e consequentes, de decisões tomadas a
todos os níveis hierárquicos da empresa, em que os níveis superiores estão, de
facto, subordinados à informação, ao trabalho gerado nos níveis inferiores.
Para além da dimensão “tout court” está também presente o carácter
desconcentrado da produção, efectuada em vários locais, até de continentes
diferentes. Mesmo quando se trate da produção de bens sem grande
complexidade técnica, a logística do abastecimento de matérias-primas ou
da colocação dos produtos acabados exige-se, a todo o instante, uma
miríade de decisões, completamente fora do controlo do capitalista, sem
qualquer intervenção deste.
Mais complexo ainda é o caso das empresas que procedem à segmentação
da produção, que repartem a fabrico dos seus diversos componentes por
vários países, valendo cada um deles, precisamente e apenas, pela
integração no produto a que se destinam. Para além da logística dos produtos
acabados, adiciona-se a dos seus componentes, dos bens com vários graus
de acabamento, acentuando-se portanto, o carácter colectivo da produção
que, inversamente, se mostra mais e mais dispensada de uma intervenção útil
do capitalista.
No caso das empresas de serviços, a gestão de quantidades brutais de
informação armazenada, actualizada, recolhida e fornecida cabe
inteiramente à massa dos trabalhadores de cujas competências depende, na
íntegra, o funcionamento da unidade produtiva.
Não iremos explanar-nos aqui sobre alguns aspectos da estratégia do capital
quanto à segmentação e dispersão geográfica da produção, que visa não só
o aproveitamento das diferenças nos preços (directos e indirectos) do
trabalho, como também tornar a produção global da empresa imune a
greves, pois o capital aproveita sabiamente as lacunas de coesão e de
actuação concertada dos trabalhadores. Nem iremos também desenvolver o
impacto ambiental da movimentação de matérias-primas, componentes e
produtos acabados através de complexas redes de transporte.
O nosso objectivo, no contexto deste artigo á frisar o carácter colectivo da
produção no mundo post-industrial de hoje e o reforço da capacidade da
multidão para gerir a produção social de bens e serviços, com a dispensa
absoluta da figura parasitária do capitalista. Observe-se, por exemplo, a forma
como se procede à circulação da informação e à comunicação através da
Internet, sem qualquer controlo por parte do capital, apesar das tentativas
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3. estatais nesse sentido; como funciona a troca de ficheiros ou de hospitalidade
através da Internet, serviços valiosíssimos excluídos da lógica mercantil; e
como o Linux demonstra como a inovação pode surgir no seio da multidão
sem a intervenção dos capitalistas.
O trabalho social, única fonte de riqueza
Para além da dimensão e das características organizacionais da produção
que reforçam o carácter social da mesma, há vários aspectos a destacar.
• A base material para esse reforço do papel da colectividade dos
trabalhadores está nos avanços das tecnologias de informação e
comunicação que permitiram a integração numa escala nunca vista,
do trabalho científico na produção “comum” de bens e serviços, com a
óbvia consequência de crescimentos enormes da produtividade.
• Essa base tecnológica gera, em todo o processo produtivo actual, uma
crescente dependência do trabalho imaterial, intelectual.
• O trabalho individual de cada trabalhador tem um carácter autónomo,
na medida em que lhe cabe a preparação e organização do seu
próprio trabalho e ainda a necessidade de decisão, na esfera das suas
funções, minorando a intervenção do seu superior e, nomeadamente
do capitalista.
Aqui está uma enorme contradição do capitalismo actual; o capital precisa
de trabalhadores com grandes qualificações para integrar um processo
produtivo exigente de capacidades técnicas e decisórias; culturais, em suma.
E, à medida que o trabalho se imaterializa, se torna mais complexo mais se
torna facilitada para o conjunto dos trabalhadores a assunção, na íntegra,
quer do processo produtivo quer da gestão social e política. Mais evidente se
torna, portanto, a inutilidade do capitalista e a facilidade da passagem para
um outro modo de produção, baseado na autogestão da multidão.
Por facilidade não se pretende, obviamente, dizer que o capitalismo cairá por
si ou num horizonte breve. A crença nas instituições da democracia de
mercado, na necessidade do Estado e do capitalista marca a ideologia de
muitos trabalhadores; e, por outro lado, a incipiente organização global dos
trabalhadores continua espartilhada, entre outros, pelo preconceito patriótico,
pelas visões corporativas, por um espírito paroquial que está em flagrante
contradição com o carácter global do processo produtivo.
O parasitismo do capitalista fomenta o desperdício e o sofrimento
A existência de um desemprego elevado de trabalhadores qualificados é um
inquestionável desperdício de capacidade produtiva. Paralelamente, a
colocação de um trabalhador qualificado em funções que não exigem essa
qualificação é, também um desperdício social imenso, para além dos dramas
pessoais que são imanentes a ambas as situações. Como é evidente, o
capitalismo utiliza essas “técnicas” para gerar níveis remuneratórios mais baixos
do que o investimento em formação admitiria.
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4. Dentro da mesma lógica coloca-se o uso do trabalho precário ou falsamente
temporário pois aos trabalhadores, como grupo social, fica dificultado o
conhecimento concreto da realidade da empresa. Não se gera qualquer
incentivo ao empenho e ao desempenho pois o despedimento está, em
breve, assegurado e, resulta daí, um óbvio desperdício produtivo, uma
redução das possibilidades de aumento da produtividade e de
aperfeiçoamento da gestão.
Se se pensar na vulgaridade do trabalho precário (cerca de 800 mil
trabalhadores em Portugal), na proliferação de empresas de trabalho
temporário, verdadeiros negreiros dos tempos modernos e no recurso maciço
ao “outsourcing” percebe-se a tendência para a fuga à inserção do
trabalhador na empresa, para o não investimento nos recursos humanos.
O capitalismo parece procurar uma situação de gerar riqueza com
trabalhadores voláteis ou mesmo sem trabalhadores; a especulação
imobiliária e bolsista, por exemplo, representam as formas preferidas pelos
capitalistas para a contabilização de riqueza, pois a mesma verifica-se sem
uma ligação clara e evidente à economia “real” embora os efeitos da roleta
especulativa possa criar enormes problemas à economia “real” e à vida da
esmagadora maioria dos seres humanos. Recorda-se que no início da
especulação sobre o won (moeda coreana) no final do último século, a
população ao adormecer num dia não sonhava que na manhã seguinte o
seu poder de compra iria descer 15% como veio a acontecer.
Por outro lado, a facilidade de recurso a trabalho imigrante, (qualificado ou
não) ou deslocalizado, com o aproveitamento das facilidades de
comunicação, facilita uma elevada rotação do elenco de trabalhadores ou
dos prestadores de serviços às empresas.
Uma forma particularmente curiosa de angariação de pessoal sem quaisquer
responsabilidades sociais ou financeiras é o “franchising”. Nesse caso, o
capitalista, exige um investimento ao “franchisado”, correndo este por sua
conta e risco mas, ficando garantida ab initio, uma comissão ao detentor da
marca, o capitalista, que apenas funciona como supervisor do negócio.
Em suma, o trabalhador, na consideração do capitalista deverá ser sempre
um ser mutável e anónimo, desligado da produção, sem direitos de cidadania
e até descartável do número dos vivos se envelhecer ou adoecer. Na sua
lógica deverá ficar assegurado para todo o sempre o papel do capitalista,
potencialmente, o único elemento permanente na empresa, o único com a
plenitude dos direitos.
As tarefas actuais dos capitalistas
Afinal que fazem os capitalistas nas empresas? E com eles, os gestores de topo
engajados no desenvolvimento e enraizamento da lógica neoliberal de
concentração de riqueza, em detrimento da multidão de trabalhadores e ex-
trabalhadores?
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5. Dentro dessa lógica, a preocupação essencial é “criar valor para os
accionistas” sem esquecer o acumulado pelos próprios quer em rendimento
quer em mordomias. Criar valor é oferecer dividendos elevados para satisfazer
os detentores de acções, mormente os fundos de pensões ou o capital
financeiro e manter em alta a cotação das acções no circo da bolsa. Com é
fácil de ver, nada que gere, realmente riqueza. Para criar “valor” os
capitalistas fomentam fusões e aquisições de empresas com o subsequente
despedimento de milhares de trabalhadores; e isso embora se saiba que essas
fusões e aquisições raras vezes são realmente profícuas mantendo-se por anos
as ineficiências de métodos e culturas distintas entre as empresas fundidas.
Outra forma de “criar valor”, pouco original, aliás, é através dos
procedimentos de “downsizing”, de emagrecimento, que invariavelmente se
traduzem por despedimentos.
Outra actividade essencial dos capitalistas é o “lobbying” forma
“politicamente correcta” de designar corrupção e tráfego de influência. De
facto, é preciso negociar com os órgãos do Estado, concursos, apoios,
subsídios, normas legislativas favoráveis à “criação de valor” com as
contrapartidas em financiamentos para os partidos ou mandarins influentes,
ajustar pagamentos em viagens, férias, favores sexuais, obras em casa, etc. E
aqui, a concorrência é forte, não pode ser descurada, conduzindo ao
preenchimento de parte substantiva das agendas dos ministros.
Construir o futuro
O trabalho surge na empresa como produto de um forte investimento pessoal
na formação e qualificação do trabalhador; cada trabalhador acha-se
investido de grande autonomia na gestão e decisão quanto ao trabalho que
desempenha; e acha-se ainda inserido num colectivo social de trabalhadores,
capaz de assegurar todos os bens e serviços necessários. Neste contexto, o
capitalista constitui um subproduto inútil e irreciclável, lixo puro.
Porque o processo produtivo prossegue de facto sem a intervenção do
capitalista a única forma de este manter o controlo da empresa e da
sociedade é o recurso a figuras e formas desligadas do processo produtivo.
Poder-se-á dizer que é um certo retorno ao feudalismo no qual o senhor e o
clero em nada intervinham no processo produtivo, (agrícola ou artesanal) mas
utilizavam a força física ou a coerção religiosa para se apropriarem do
trabalho alheio.
Esse controlo actualmente passa pela utilização indispensável e intensiva do
aparelho do Estado. É aí que surgem as legislações laborais punitivas, as flexi-
seguranças, as cruzadas anti-terroristas para justificar intromissões policiais, as
guerras, o domínio dos media, a montagem do folclore eleitoral, as
concertações multilaterais (OMC, BCE, UE…), a gestão social “criativa” que em
Portugal é protagonizada por metástases do tipo Correia de Campos,
plasmódios como Vieira da Silva, ou varejeiras Lurdes Rodrigues … Em suma, é
o aparelho de Estado controlado pelo capital que assume o papel genocida
e a montagem gradual de um novo fascismo (vide “O novo fascismo que está
em marcha”, três artigos neste blog)
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6. Pelo que vem sendo explanado não há alternativa para a libertação do
Homem que não passe pela destruição do capitalismo e das suas instituições,
com relevo para o Estado.
Setembro 2007
Os empresários e a inovação; evidências de um casamento
não consumado
Foi, recentemente, efectuado o “Estudo IBM Global CEO 2006” para a
detecção de grandes tendências para a gestão das empresas de maior
gabarito mundial. Para o efeito foram consultados 765 gestores de grandes
empresas (incluindo 5 portuguesas) e dele se extraem as seguintes números
(aproximados) de referências dos entrevistados às “fontes mais importantes de
ideias inovadoras”
Empregados – 45%
Parceiros de negócio – 40%
Clientes – 38%
Consultores – 21%
Concorrentes – 20%
Associações, feiras e conferências – 19%
I&D interno – 19%
Academia – 15%
Uma análise daqueles dados evidencia o papel fulcral dos trabalhadores e
dois mitos: o da inovação institucional nascida nas empresas e o papel da
universidade na introdução da inovação nas empresas.
De acordo com o estudo, o principal agente inovador referido é o colectivo
dos trabalhadores, quem, de facto, conhece os processos técnicos e os
circuitos comerciais da empresa e cuja interacção, realiza, naturalmente, uma
avaliação contínua dos processos e das técnicas utilizadas. Evidencia, em
suma, a realidade sociológica e histórica de que somente o trabalho é
gerador de valor e factor de progresso.
Porém, muitas vezes essa criatividade não é devidamente aproveitada por
incómodo do patronato, incapaz de aceitar que os assalariados possam ser
mais reflectidos do que o patrão, porque as ideias são retidas pelas chefias
intermédias, temerosas de ser colocadas em causa ou ainda, por práticas
inerentes a situações de domínio do mercado. Por outro lado, a extensão da
precaridade não incentiva o trabalhador a reflectir, não lhe dá o tempo
adequado a essa reflexão, ou a motivar-se na melhoria dos processos, como
se tornou habitual no desenvolvimento industrial japonês do passado recente.
Por seu turno, o volume de referências a clientes e concorrentes revela que as
empresas têm uma actuação tendencialmente passiva no que respeita à
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7. inovação e que esta é mais induzida do exterior, de entidades que possam
ameaçar o mercado da empresa.
Os departamentos internos de I&D parecem ter um papel secundário na
inovação. Em tempos de contenção de custos, de gestão virada para o curto
prazo, para a remuneração abundante e imediata a accionistas voláteis, os
grandes executivos não privilegiam os investimentos em inovação, elevados e
com um retorno dilatado no tempo. Preferem pois, aguardar os sinais exteriores
para colaborarem na já referida atitude reactiva ou esperar que o
investimento público nesse domínio produza efeitos.
Na maioria dos países, o I&D assenta essencialmente em instituições públicas
ou financiadas por fundos públicos baseada em investigadores precários e
mal pagos e no princípio capitalista da imputação de custos ao Estado e dos
proveitos aos capitalistas privados. Em Portugal, concretamente, o I&D privado
é ridiculamente irrelevante e mesmo o capital de risco só existe tendo por
detrás fundos públicos; o risco dos negócios é sempre mais fácil de suportar se
o dinheiro é alheio... Sabe-se também que é volumosa a emigração de
investigadores para os países capitalistas avançados.
Finalmente, um outro mito, o da ligação entre as empresas e a universidade,
no capítulo da I&D que como se vê pelo estudo não é uma fonte
particularmente importante de inovação. Aliás, historicamente, a universidade
foi sempre mais uma fonte de reprodução de conservadorismo do que
inovação; Newton, o evolucionismo, o caminho de ferro entre outros grandes
contributos para o conhecimento passaram muito ao lado dos catedráticos.
Até os admiradores do Bill Gates gostam de referir a sua falta de títulos
académicos e o nascimento do MS-DOS na garagem do seu (abastado) pai ...
com um pecúlio de um milhão de dólares oferecido pelo avô, diga-se em
abono da verdade.
Em Portugal a grande maioria dos docentes não passam de biscateiros que
utilizam as aulas para arredondar rendimentos - permitindo baixos custos para
as instituições - que pouco tempo dedicam aos alunos, à preparação das
aulas ou à actualização dos próprios conhecimentos mas, que lhes permite
acrescentar ao curriculum o epíteto de “professor universitário”. Como poderá
a inovação nascer de instituições onde pontificam indivíduos que se dedicam
mais a negócios, cargos empresariais ou políticos, a croniquetas regulares na
imprensa ?
Em suma, embora não seja esse o objectivo do estudo patrocinado pela IBM,
o mesmo revela, en passage, algumas características actuais das origens da
inovação e do papel do trabalho como fonte de inovação nas empresas,
ditas de referência.
Fica evidenciada a escassa dedicação dada pelos grandes executivos e pelo
mandarinato à inovação, apesar das declarações sonoras sobre a tecnologia
e o progresso. Os chamados gestores de topo mostram-se mais vocacionados
para as grandes jogadas financeiras e especulativas; para as negociações
com os poderes públicos para a obtenção de incentivos, subsídios e favores
diversos, para as relações com o mandarinato; para os downsizings e
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8. despedimentos em massa; para a auto-concessão de participações em
lucros, indemnizações fabulosas e mordomias avulsas; isto é, para os factores
estranhos ao funcionamento do mercado.
Qualquer que seja o ângulo que se utilize para encarar o capitalismo,
sobressai a má gestão, um progresso insuficiente, a exploração, as
desigualdades e o roubo, um roubo imenso.
Junho 2006
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