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INTRODUÇÃO AOS
                              ATOS DOS APÓSTOLOS
         Autoria
         Hoje em dia, mesmo entre os mais críticos do meio acadêmico, já é bem aceita a idéia de que o
       evangelho de Lucas e o livro dos Atos dos Apóstolos têm um mesmo autor.
         O autor do livro de Atos inicia sua obra citando um “primeiro livro”, o que é considerado pelos
       estudiosos como uma indicação sobre a primeira parte do mesmo documento histórico, preparado
       objetivamente para um destinatário específico chamado “Teófilo”.
         Fica claro, ao examinarmos o próprio contexto da obra, que o uso sistemático dos pronomes “nós”
       e “nos” se referem à estreita amizade que havia entre o autor de Atos e o apóstolo Paulo (At 16.10-17;
       20.5 – 21.18; 27.1 – 28.16). Outros textos nos garantem que Lucas era médico (Cl 4.14; Fl 24; At 1.3;
       3.7; 9.18,33; 13.11; 28.1-10). Lucas, da mesma forma que Paulo, atendeu ao chamado missionário
       para proclamar o Evangelho aos macedônios, foi responsável pela obra de discipulado e edificação
       da igreja de Filipos por cerca de seis anos e, mais tarde, acompanhou as lutas e a grande obra de
       evangelização realizada por Paulo em Roma. Durante o período de prisão domiciliar do apóstolo,
       escreveu o livro de Atos.
         O mais antigo testemunho externo sobre Lucas, como autor de Atos, aparece no Cânon Muratório,
       por volta do ano 170 d.C. Nesse documento está claro o registro de que Lucas foi autor tanto do
       terceiro evangelho quanto da obra “Atos de todos os apóstolos”. No ano 325 d.C., Eusébio, um dos
       chamados “pais da igreja”, publica sua obra “História Eclesiástica” na qual reafirma categoricamente
       a autoria lucana desses livros.

         Propósitos
         Os grandes historiadores da Antigüidade tinham o hábito de iniciar o segundo volume de suas
       obras com uma sinopse da primeira e, logo em seguida, uma visão geral sobre o conteúdo abordado
       na segunda. Lucas, portanto, resumiu em At 1.1-3 seu primeiro livro; o tema do segundo é apre-
       sentado por meio de uma citação do próprio Senhor Jesus: “...recebereis poder quando o Espírito
       Santo descer sobre vós, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia
       e Samaria, e até os confins da terra!” (At 1.8).
         O livro histórico de Atos dos Apóstolos nos permite acesso ao melhor e mais eloqüente registro
       sobre a expansão da Igreja de Jesus Cristo e da religião cristã, desde o dia da descida do Espírito
       Santo, no dia de Pentecoste (o qüinquagésimo dia após o sábado da semana da Páscoa, portanto
       o primeiro dia da semana – Lv 23.15,16). A tradicional celebração judaica chamada “Festa das Se-
       manas”, ou “Festa dos Primeiros Frutos”, é também conhecida como “Pentecostes” (Dt 16.10; Êx
       23.16). O livro narra a saga da Igreja até a chegada de Paulo à capital do mundo da época: Roma.
       Neste sentido, Atos é um longo documentário sobre as obras que Jesus Cristo, o Messias e Filho de
       Deus, começou a realizar na Terra e, mais tarde, continuou através do Seu Espírito, agindo na vida
       dos seus discípulos em todas as partes do mundo.
         O mesmo Espírito Santo, que habitou a vida de Lucas, Paulo, Pedro, Estevão e todos os demais
       servos do Senhor, habita o ser de cada crente sincero em nossos dias, e assim será até a volta glo-
       riosa de Jesus, o Rei dos reis (1Tm 6.14,15).

         Data da primeira publicação
         A maioria dos mais reconhecidos estudiosos acredita que o livro de Atos foi escrito durante o
       período do primeiro aprisionamento do apóstolo Paulo; com este relato Lucas encerra sua narrativa
       histórica. Portanto, por volta do ano 63 d.C., o autor não faz qualquer revelação ou previsão quanto
       a um segundo mandato de prisão nem sobre o martírio de Paulo. Se Lucas tivesse conhecimento
       do tão aguardado resultado do julgamento de Paulo, por que não o registrou ao final de Atos? (At
       28.30). A idéia prevalecente é que Lucas já havia narrado tudo o que sabia e lhe fora possível coletar
       de fatos até àquela data.
         Apesar de os argumentos baseados no silêncio não serem irrefutáveis, é relevante o fato de o livro
       não conter nenhuma alusão aos importantes fatos posteriores ao fim dos dois anos de prisão de




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       Paulo em Roma, como o grande e terrível incêndio da capital do Império Romano e a conseqüente
       perseguição aos cristãos (64 d.C.), o martírio de Pedro; e logo em seguida da prisão de Paulo, por
       volta de 67 d.C., a profanação e destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., profetizada por Jesus Cristo
       quase 40 anos antes do ocorrido (Mt 24.2).

        Esboço geral de Atos
           1. Os discípulos esperam a chegada do Espírito Santo (1.1-26)
           2. O Espírito Santo vem para habitar e vivificar o crente (2.1-47)
              A. Fonte de poder para o cristão (2.1-13)
              B. Testemunho do poder do Espírito aos dispersos (2.14-47)
           3. Nasce e se expande a Igreja de Jesus Cristo (3.1 – 12.25)
           4. Primeiro em Jerusalém (3.1- 7.60)
              A. A cura do aleijado e as conseqüências deste ato (3.1-26)
              B. Os apóstolos Pedro e João testemunham ao Sinédrio (4.1-22)
              C. A vida de oração e fraternidade dos cristãos (4.23-37)
              D. Logo surgem as primeiras decepções (5.1-16)
              E. As primeiras reclamações e murmurações (6.1-7)
              F. Chegam também as tribulações externas (6.8 – 7.60)
           5. Samaria também é alcançada pelo Pentecostes (8.1-25)
           6. E até os confins da terra chega o poder do Espírito (8.26-40)
           7. A conversão de Saulo de Roma em Paulo de Jesus (9.1-31)
           8. Pedro promove o Pentecostes por toda a Judéia (9.32 – 11.18)
              A. Nas cidades estratégicas de Lida e Jope (9.32-43)
              B. Cesaréia (10.1-48)
              C. Conseqüências (11.1-18)
              D. Antioquia e aos confins da terra (11.19 – 12.25)
              E. Herodes dispersa os cristãos de Jerusalém (12.1-25)
           9. A primeira viagem missionária de Paulo (13.1 – 14.28)
              A. Chipre (13.1-12)
              B. Antioquia da Psídia (13.13-52)
              C. Icônio (14.1-7)
              D. Listra, Derbe e retorno à Antioquia da Síria (14.8-28)
          10. O primeiro concílio em Jerusalém (15.1-29)
          11. A segunda viagem missionária de Paulo (15.30 – 18.22)
              A. De Antioquia a Trôade (15.36 – 16.10)
              B. De Trôade a Atenas (16.11 – 17.15)
              C. Em Atenas (17.16-34)
              D. Em Corinto, e o retorno (18.1-22)
          12. A terceira viagem missionária de Paulo (18.23 – 21.16)
              A. O Pentecostes chega para os cristãos em Éfeso (18.23 – 19.41)
              B. Paulo ministra na Macedônia, Acaia, e retorna (20.1 – 21.16)
          13. A viagem de Paulo a Roma (21.17 – 28.15)
              A. Em Jerusalém (21.17 – 23.35)
              B. Em Cesaréia (24.1 – 26.32)
              C. Diante do governador Félix (24.1-27)
              D. Diante do rei Agripa (25.23 – 26.32)
              E. Paulo é mandado para Roma (27.1 – 28.15)
              F. Paulo algemado, mas livre para pregar até o fim (28.16-31)




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ATOS DOS APÓSTOLOS
       Prefácio                                                            consultaram: “Senhor, será este o tempo

       1  Em meu primeiro livro, caro Teófilo,
          escrevi a respeito de tudo o que Jesus
       começou a realizar e a ensinar,1
                                                                           em que restaurarás o Reino a Israel?”.
                                                                           7 Ele lhes afirmou: “Não vos compete
                                                                           saber as épocas ou as datas que o Pai
       2 até o dia em que foi elevado aos                                  estabeleceu por sua exclusiva autori-
       céus, logo após haver entregue seus                                 dade.
       mandamentos, por intermédio do Es-                                  8 Contudo, recebereis poder quando o
       pírito Santo aos apóstolos que havia                                Espírito Santo descer sobre vós, e sereis
       escolhido.                                                          minhas testemunhas, tanto em Jerusa-
       3 Depois do seu martírio, Jesus apresen-                            lém, como em toda a Judéia e Samaria, e
       tou-se a eles e deu-lhes muitas provas in-                          até os confins da terra!”.5
       contestáveis da sua ressurreição. Apare-                            9 Tendo dito estas palavras, foi Jesus ele-
       cendo-lhes por um período de quarenta                               vado às alturas enquanto eles o contem-
       dias seguidos e ensinando-lhes acerca do                            plavam, até que uma nuvem o encobriu
       Reino de Deus.2                                                     da vista deles.
       4 Certa ocasião, enquanto ceava com                                 10 E aconteceu que estando eles com os
       eles, ordenou-lhes que não se ausentas-                             olhos fixos no céu, enquanto Ele subia,
       sem de Jerusalém, mas que aguardassem                               surgiram junto deles dois homens vesti-
       a promessa do Pai, a qual, salientou Ele:                           dos de branco,
       “De mim ouvistes!3                                                  11 que lhes comunicaram: “Homens
       5 Porquanto João, de fato, batizou com                              galileus, por que estais contemplando
       água, entretanto dentro de poucos dias                              as alturas? Esse Jesus, que dentre vós
       vós sereis batizados com o Espírito                                 foi elevado ao céu, retornará do mesmo
       Santo”.4                                                            modo como o viste subir”.6

       A ascensão de Jesus Cristo                                          A escolha do apóstolo Matias
       6 Então, os que se haviam reunido lhe                               12 Então, eles voltaram para Jerusalém,



          1 Lucas narrou seu Evangelho e o livro de Atos sob os auspícios de Teófilo. A ascensão de Jesus ocorreu 40 dias após a
       ressurreição. Jesus viveu e pregou sob a direção do Espírito Santo do Pai (Jo 14.10). As declarações posteriores esclarecem que
       as realizações dos apóstolos foram, igualmente, orientadas pelo Espírito Santo (vv. 4,5,8; Lc 24.49; Jo 20.22), cuja obra e o poder
       de capacitar os cristãos fiéis, ainda hoje, são especialmente focalizados por Lucas (v. 8; Lc 2.4,17; 4.8,31; 5.3; 6.3,5; 7.55; 8.16;
       9.17,31; 10.44; 13.2,4; 15.28; 16.6; 19.2,6).
          2 As provas da vida e obra de Jesus, o Cristo, são indiscutíveis, pois não são especulativas ou teóricas, mas históricas e auten-
       ticadas. Sem a realidade da morte e da ressurreição de Jesus não há cristianismo. O Reino de Deus não se refere apenas a um
       lugar ou território, mas à soberania de Cristo (8.12; 28.23,31).
          3 O sentido da palavra grega transliterada sunalizomenos tem a ver com uma expressão clássica do idioma, que significa:
       “reunir-se”; que pode ser derivada de “als”, dando origem a expressão “comer sal” ou “cear em grupo”. A vinda do Espírito Santo
       foi uma promessa de Deus (Jl 2.28-32; Jo 7.39; 14.16,26; 15.26,27; 16.12,13).
          4 Enquanto o batismo de João (“com” ou “em” água) selava o arrependimento e preparava o coração das pessoas
       (especialmente dos judeus) para receberem Jesus e Seu Reino, o batismo com (ou em) o Espírito Santo, que aconteceu dez dias
       mais tarde, no Dia de Pentecostes (2.1-4), sela o crente de todas as raças e nações, no Corpo de Cristo, que é o sentido amplo
       de Igreja (1Co 12.13; Gl 3.27,28).
          5 Essa passagem é uma espécie do esboço geral do livro de Atos: Jerusalém é evangelizada (1.12 – 7.60). Toda a Judéia e Sa-
       maria ouvem as Boas Novas (8.1-40). E o Evangelho avança sem parar por terras gentias até Roma (9.1 – 28.31). E até os “confins
       da terra”; chegando ao Novo Mundo (Américas) e a todas as partes do planeta, como acontece em nossos dias.
          6 Todos os apóstolos eram galileus (menos Judas Iscariotes, que já estava morto). Os anjos (homens vestidos de branco, como
       em Lc 24.4) afirmaram que Jesus voltará da mesma forma pela qual subiu ao céu: com um corpo ressurreto e em meio às nuvens
       de glória (em hebraico: shekinah – a Presença de Deus – Êx 13.22; Dn 7.13; Mc 14.62; Mt 24.30).




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ATOS 1                                                          4

       vindo do monte chamado das Oliveiras,                               língua deles, essas terras passaram a se
       que fica próximo a Jerusalém, à distância                            chamar Aceldama, que significa: Cam-
       de cerca de um quilômetro.7                                         po de Sangue.10
       13 Assim que chegaram, subiram a um                                 20 “Porquanto”, continuou Pedro, “está
       grande aposento onde se hospedavam.                                 escrito no Livro de Salmos:11 ‘Fique
       Estavam presentes: Pedro e João, Tiago                              deserto o seu lugar, e não haja ninguém
       e André, Felipe e Tomé, Bartolomeu e                                que nele habite’; e ainda: ‘Que outro
       Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão, o                              ocupe o seu lugar’”.
       Zelote, e Judas, filho de Tiago.8                                    21 Sendo assim, é preciso que escolha-
       14 Todos estes, perseveravam unânimes                               mos um dos homens que estiveram
       em oração, juntamente com as mulhe-                                 conosco durante todo o tempo em que
       res, com Maria, mãe de Jesus, e com os                              o Senhor Jesus viveu entre nós,
       irmãos dele.9                                                       22 desde o batismo de João até o dia
       15 Naqueles dias, sendo o número de                                 em que Jesus foi elevado dentre nós ao
       pessoas ali reunidas cerca de cento e                               céu. É fundamental que um deles seja
       vinte, Pedro se levantou no meio dos                                conosco testemunha de sua ressurrei-
       irmãos e declarou:                                                  ção.12
       16 “Irmãos, era necessário que se cum-                              23 Então, propuseram dois nomes: José,
       prisse a Escritura que o Espírito Santo                             chamado Barsabás, também conhecido
       predisse por meio da boca de Davi,                                  como Justo, e Matias.13
       acerca de Judas, que serviu de guia aos                             24 E, orando, afirmaram: “Tu, Senhor,
       que prenderam Jesus.                                                que conheces o coração de todas as
       17 Ele foi contado como um dos nossos                               pessoas, mostra-nos qual destes dois
       e teve parte neste ministério”.                                     homens tens escolhido
       18 Com o pagamento que recebeu pelo                                 25 para assumir a vaga neste ministério
       seu pecado, Judas comprou um campo.                                 e apostolado, do qual Judas se desviou,
       Ali caiu de cabeça, seu corpo partiu-se                             indo para o lugar que lhe era devido”.
       ao meio, e as suas vísceras todas se der-                           26 Em seguida, lançaram sortes quan-
       ramaram.                                                            to a eles e a sorte caiu sobre Matias;
       19 Todos em Jerusalém ficaram sabendo                                assim, ele foi acrescentado aos onze
       desse fato; de maneira que, na própria                              apóstolos.


          7 O jardim das Oliveiras (Olival) era, literalmente, a maior distância de caminhada permitida num sábado, conforme os preceitos
       rabínicos (Êx 16.29; Nm 35.5; Js 3.4). Local da terrível agonia de Jesus (Lc 22.39); é o mesmo da grande exaltação, do triunfo
       sobre a morte e do Glorioso Retorno do Senhor (Zc 14.4).
          8 No segundo andar de uma grande casa que pertencia à mãe de Marcos (12.12), e onde se refugiaram temporariamente os
       Onze com suas esposas (1Co 9.5) e outros discípulos e discípulas (Mt 27.55; Lc 8.2,3; 24.22), havia uma grande sala (cenáculo),
       na qual Jesus celebrou a última Ceia com seus amados apóstolos (Mc 14.15).
          9 Esta é a última vez que Maria, a mãe do Senhor, é mencionada nas Escrituras. Mulher virtuosa, humilde, sofrida, mas cheia
       de graça (Lc 1.26-38,42); guardou tudo em seu coração e preferiu a discrição absoluta em perseverante oração com os demais
       discípulos, até o fim. A conversão de Tiago, irmão de Jesus e autor da epístola, que traz seu nome e faz parte do cânon do NT,
       é relatada em 1Co 15.7.
          10 Esse é um momento histórico-cultural interessante. O aramaico (língua falada pelos jovens judeus) já havia substituído o
       tradicional hebraico na Palestina daquela época.
          11 Pedro recorre a duas passagens das Escrituras (Sl 69.25 e Sl 109.8) para explicar que Judas havia deixado uma vaga no
       grupo apostólico que precisava ser preenchida. Pedro usa a palavra “episcopado”, que, em grego, descreve a função pastoral.
          12 A qualificação humana para o apostolado era ter conhecimento íntimo da vida terrestre de Jesus Cristo e ser testemunha
       ocular de Sua ressurreição. A qualidade divina era ser escolhido pelo Espírito de Deus. Aqui, conforme a tradição judaica, se
       deu por meio de sorteio (1Cr 26.13-16; Ne 11.1; Pv 16.33; Jn 1.7). Entretanto, essa é a última vez que o lançamento de sortes é
       mencionado na Bíblia.
          13 Barsabás significa, em hebraico, “filho do Sábado”, e era irmão de Judas, profeta judeu-cristão da igreja primitiva em Jeru-
       salém e que foi enviado a Antioquia juntamente com Silas (15.22,32). O nome grego (helenístico) de José era “Justo”. Quanto a
       Matias, seu nome é uma contração do nome hebraico Matatias, o macabeu.




AT_C_revisado.indd 4                                                                                                 24/7/2007, 20:42:05
5                                                        ATOS 2

       A chegada do Espírito Santo                                         falar em nossa própria língua materna?
       2   E ao completar-se o dia de Pentecoste,
           estavam todos reunidos num só lugar.1
       2 De repente, veio do céu um barulho,
                                                                           9 Nós que somos partos, medos e elamitas;
                                                                           habitantes da Mesopotâmia, Judéia e Ca-
                                                                           padócia, do Ponto e da província da Ásia,
       semelhante a um vento soprando muito                                10 Frígia e Panfília, Egito e das partes da
       forte, e esse som tomou conta de toda a                             Líbia próximas a Cirene, e romanos que
       Casa onde estavam assentados.                                       estão morando aqui, tanto judeus como
       3 Então, todos viram distribuídas entre                             convertidos ao judaísmo;
       eles línguas de fogo, e pousou uma sobre                            11 cretenses e árabes, todos nós os ouvi-
       cada um deles.2                                                     mos discursar sobre as grandes realiza-
       4 E todas as pessoas ali reunidas ficaram                            ções de Deus em nossa própria língua!”.4
       cheias do Espírito Santo, e começaram a                             12 E todos estavam absolutamente assus-
       falar em outras línguas, de acordo com                              tados e confusos, perguntando uns aos
       o poder que o próprio Espírito lhes                                 outros: “O que significa tudo isto?”.
       concedia que falassem.3                                             13 Entretanto, outros, para ridicularizá-
       5 Ora, estavam morando em Jerusalém,                                los, exclamavam: “Esses estão cheios de
       judeus, tementes a Deus, vindos de todas                            vinho novo!”.5
       as partes do mundo.
       6 Ao ouvirem aquele estrondo, ajuntou-                              A ministração de Pedro
       se um grande número de pessoas; e fica-                              14 E aconteceu que, colocando-se em pé,
       ram maravilhados, pois cada um ouvia                                juntamente com os Onze, Pedro tomou a
       falar em sua própria língua.                                        palavra e, em alta voz, pregou à multidão
       7 Perplexos e admirados comentavam                                  reunida: “Homens judeus e todos os que
       uns com os outros: “Porventura, não são                             habitais em Jerusalém, permitais que vos
       galileus todos esses que estão falando?                             esclareça o que se passa! Dai, pois, aten-
       8 Como, então, cada um de nós os ouve                               ção às minhas palavras.

          1 O qüinquagésimo dia após o sábado da semana da Páscoa, e, portanto, domingo, era considerado o Dia de Pentecoste (Lv
       23.15,16). Pentecostes é o nome que se dava à Festa das Semanas, também chamada Festa da Colheita ou, ainda, Festa dos
       Primeiros Frutos (Dt 16.10). Nessa passagem, apóstolos e discípulos estavam no Templo, também chamado de “a Casa” (7.47),
       pois é sabido que os apóstolos reuniam-se constantemente no Templo, orando, ministrando e louvando ao Senhor (Lc 24.53).
          2 O vento impetuoso e estrepitante é símbolo do Espírito de Deus: poderoso, soberano e absolutamente livre (Ez 37.9,14; Jo 3.8).
       A expressão “línguas” é uma metáfora usada para explicar aquela situação inusitada, chamada de experiência extática, ou seja, de
       grande êxtase. Haja vista, que por milagre, uma multidão de pessoas, de nações, culturas e línguas totalmente diferentes umas das
       outras, puderam ouvir a Palavra de Deus, em sua própria língua materna, por meio da pregação dos apóstolos. O “fogo” é um outro
       símbolo metafórico da presença divina (Êx 3.2), também freqüentemente associado ao Juízo (Mt 3.2; Lc 3.16 e 1Ts 5.19).
          3 A Igreja de Cristo estava em formação. Unida e esperançosa quanto à volta do Senhor, passou pelo batismo do Espírito,
       conforme a promessa de Jesus (1.5), e dedicou-se à oração, comunhão e evangelização segundo as Escrituras. O Pentecostes
       significa para a Igreja: 1) A presença e ação do Espírito Santo habitando (tabernaculando) a alma do crente (Jo 14.17), e não
       apenas influenciando os aspectos religiosos e exteriores (Jz 6.34; 15.14; Ez 36.26); 2) O Espírito passa a ter presença contínua
       ao invés de eventual como foi no AT; 3) O Espírito veio para habitar toda a Igreja, não apenas alguns indivíduos especialmente
       selecionados para determinadas obras e ministérios como no AT (1Co 3.16; 12.12,13); 4) Ter coragem para confrontar esse
       mundo caído, com amor e sem medo (v.14); ganhar almas para o Reino de Cristo (v.41) e operar milagres, sinais e maravilhas,
       de acordo com a vontade e instrução do Espírito (v.43). Sendo assim, há apenas um batismo da Igreja (o Corpo vivo de Cristo)
       e de cada indivíduo, membro da Igreja; mas repetidas plenitudes para a adoração, o serviço cristão (Ef 5.18) e o exercício dos
       dons do Espírito (1Co 12.7-11). O dom de línguas (em grego transliterado: heterais glõssais, que significa “línguas diversas”) foi
       um milagre que se deu no âmbito da expressão dos apóstolos e da audição das pessoas de várias línguas e dialetos naquele dia
       e local (1Co 14.23). Estas línguas “estrangeiras” anteciparam a chegada do Evangelho em toda nação, povo, raça, tribo e língua,
       unindo o mundo todo em torno do Senhor Jesus, num flagrante contraste com o julgamento em Babel (Gn 11.7-9).
          4 Houve quatro classes de judeus da Dispersão: 1) Orientais ou babilônicos (região onde hoje se situa o Iraque). 2) Sírios; 3)
       Egípcios; 4) Romanos, que a exemplo do apóstolo Paulo, eram cidadãos do império, embora não originários de Roma, assim
       como a província romana da Ásia, citada no v.9, é a atual região da Turquia.
          5 Algumas versões trazem simplesmente a expressão “estão embriagados!”. Entretanto, o texto original grego (aqui
       traduzido literalmente) enfatiza que os zombadores estavam acusando jocosamente os apóstolos de terem apressadamente se
       embebedado com os primeiros vinhos da colheita que se dava no mês de agosto e que produzia um “vinho doce”, ainda em
       processo de fermentação.




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ATOS 2                                                            6

       15 Estes homens não estão embriagados,                                25 A respeito dele afirmou Davi: ‘Eu sem-
       como pensais. Até porque são apenas                                   pre via o Senhor diante de mim. Porque
       nove horas da manhã.6                                                 está à minha direita.
       16 Muito diferente disto. O que está ocor-                            26 Por esse motivo, o meu coração está
       rendo foi predito pelo profeta Joel:                                  alegre e a minha língua exulta; o meu
       17 ‘Nos últimos dias, diz o Senhor, que                               corpo também repousará em esperança,
       derramarei do meu Espírito sobre todos                                27 porque tu não me abandonarás no se-
       os povos, os seus filhos e as suas filhas                               pulcro, nem permitirás que o teu Santo
       profetizarão, os jovens terão visões, os                              sofra decomposição.8
       velhos terão sonhos.7                                                 28 Tu me fizeste conhecer os caminhos
       18 Sobre os meus servos e as minhas ser-                              da vida e me encherás de alegria na tua
       vas derramarei do meu Espírito naqueles                               presença’.
       dias, e eles profetizarão.                                            29 Caros irmãos, concedei-me a licença de
       19 Mostrarei maravilhas em cima, no céu,                              falar-vos com toda franqueza que o pa-
       e sinais embaixo, na terra: sangue, fogo e                            triarca Davi morreu e foi sepultado, e o seu
       nuvens de fumaça.                                                     túmulo está entre nós até o dia de hoje.9
       20 O sol se tornará em trevas e a lua em                              30 Todavia, ele era profeta e sabia que
       sangue, antes que venha o grande e glo-                               Deus lhe prometera sob juramento que
       rioso Dia do Senhor.                                                  colocaria um dos seus descendentes em
       21 E todo aquele que invocar o nome do                                seu trono.
       Senhor será salvo!’.                                                  31 Antevendo isso, profetizou sobre a
       22 Israelitas, escutai estas palavras: Jesus                          ressurreição do Cristo, que não foi aban-
       de Nazaré, homem aprovado por Deus                                    donado no sepulcro e cujo corpo não
       diante de vós por meio de milagres, feitos                            sofreu decomposição.
       portentosos e muitos sinais, que Deus por                             32 Deus ressuscitou este Jesus, e todos
       meio dele realizou entre vós, como vós                                nós somos testemunhas deste fato.
       mesmos bem sabeis,                                                    33 Exaltado à direita de Deus, Ele recebeu
       23 este homem vos foi entregue por pro-                               do Pai o Espírito Santo prometido e
       pósito determinado e pré-conhecimento                                 derramou o que vós agora vedes e ouvis.
       de Deus; mas vós, com a cooperação de                                 34 Porquanto, Davi não foi elevado aos
       homens perversos, o assassinaram, pre-                                céus, mas ele mesmo declarou: ‘O Se-
       gando-o numa cruz.                                                    nhor disse ao meu Senhor: Senta-te à
       24 Contudo, Deus o ressuscitou dos mor-                               minha direita
       tos, rompendo os laços da morte, porque                               35 até que Eu ponha os teus inimigos
       era impossível que a morte o retivesse.                               como estrado para os teus pés’.10

          6 Os judeus costumavam tomar o desjejum às dez horas da manhã e no sábado, ao meio dia. Ainda mais num dia de festa
       religiosa como o Pentecoste, nenhum judeu se atreveria a quebrar o jejum às nove horas da manhã (literalmente em grego: “a
       terceira hora do dia”).
          7 Pedro cita e interpreta a passagem profética de Joel 2.28-32 como uma referência específica aos dias da nova aliança (Jr
       31.33,34; Ez 36.26,27; 39.29) e inaugura a “cidade messiânica”. Pedro adverte também sobre os acontecimentos apocalípticos
       que serão os grandes sinais do iminente e glorioso retorno de Jesus Cristo e do Juízo final (Is 2.2; Os 3.5; Mq 4.1; 1Tm 4.1; 2Tm
       3.1; Hb 1.1; 1Pe 1.20; 1Jo 2.18).
          8 Algumas versões traduzem a palavra grega hades (que se origina da expressão hebraica: sheol) por “morte, profundezas, ou
       ainda, inferno”. Entretanto, o Comitê de Tradução da Bíblia King James decidiu usar aqui seu sentido mais literal: “sepulcro” (túmulo).
       Davi refere-se, em última análise, ao fato de o corpo de Jesus, o Messias, não ter experimentado “deteriorização” alguma (v.31).
          9 O túmulo de Davi podia ser visto em Jerusalém e ainda continha seus restos mortais. Mas em relação a Jesus Cristo, ninguém
       podia apontar para um sepulcro onde seu corpo estivesse depositado. As palavras de Davi no Sl 16.8-11 aplicam-se mais
       completamente, e de forma profética, ao próprio Senhor Jesus. A expressão hebraica “Messias” corresponde à palavra “Cristo”,
       em grego, e ambas significam “Ungido”.
          10 Na expressão “O Senhor disse ao meu Senhor” (Sl 110.1), o primeiro “Senhor” traduz a palavra hebraica Yahweh (o nome
       sagrado e impronunciável de Deus), e o segundo Ãdõn (Senhor). Sendo assim, o Senhor (Deus) disse ao meu Senhor (o Filho
       de Davi, o Messias). De acordo com Pedro, Davi dirigiu-se ao seu descendente com o mais elevado respeito, pois Davi, por meio
       da inspiração do Espírito Santo, reconhecia a absoluta divindade desse descendente (Mt 22.41-45). Porquanto, além da sua




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7                                                       ATOS 2

       36 Sendo assim, que todo o povo de Israel                          41 Assim, todos quantos aceitaram a sua
       tenha absoluta certeza disto: Este Jesus,                          palavra foram batizados; e naquele mes-
       a quem vós crucificastes, Deus o fez Se-                            mo dia juntaram-se a eles cerca de três
       nhor e Messias!”.11                                                mil pessoas.

       Os primeiros cristãos                                              Como viviam os novos cristãos
       37 Ao ouvirem tais palavras, ficaram ago-                           42 Eles perseveravam no ensino dos após-
       niados em seu coração, e desejaram saber                           tolos e na comunhão, no partir do pão e
       de Pedro e dos outros apóstolos: “Caros                            nas orações.13
       irmãos! O que devemos fazer?”.                                     43 E na alma de cada pessoa havia pleno
       38 Orientou-lhes Pedro: “Arrependei-vos                            temor, e muitos feitos extraordinários e
       e cada um de vós seja batizado em o                                sinais maravilhosos eram realizados pe-
       nome de Jesus Cristo para o perdão de                              los apóstolos.14
       vossos pecados; e recebereis o dom do                              44 Todos os que criam estavam unidos e
       Espírito Santo.12                                                  tinham tudo em comum.
       39 Porquanto a promessa pertence a vós,                            45 Vendiam suas propriedades e bens, e
       a vossos filhos e a todos os que estão                              dividiam o produto entre todos, segundo
       distantes. Enfim, para todos quantos o                              a necessidade de cada um.15
       Senhor, nosso Deus, chamar!”.                                      46 Diariamente, continuavam a reunir-se
       40 E com muitas outras palavras dava                               no pátio do templo. Partiam o pão em
       seu testemunho pessoal e os encorajava,                            suas casas e juntos participavam das
       proclamando: “Sede salvos desta geração                            refeições, com alegria e sinceridade de
       que perece!”.                                                      coração,16

       ressurreição da morte (vv. 31,32), também seria exaltado à direita de Deus, com todas as honras de Filho e Rei (vv. 33-35). E sua
       excelsa presença estava ali revelada na pessoa do Espírito Santo, que chegara conforme prometido (v.33; Jo 7.39; 14.16,26; 16.7
       de acordo com Sl 68.18).
         11 Esta afirmação corajosa de Pedro constitui-se no mais antigo Credo da Igreja de Jesus Cristo (Rm 10.9; 1Co 12.3; Fp 2.11).
         12 A mensagem de João Batista, o grande precursor do Reino, é reenfatizada por Pedro e será a marca das principais
       mensagens evangelísticas dos apóstolos para o recebimento de perdão e o novo nascimento (Mc 1.4; Lc 3.3). O mesmo
       destaque foi dado pelo próprio Jesus (Mc 1.5; Lc 13.3; Lc 24.47). Da mesma forma, o batismo era importante para João, Jesus
       e na Igreja primitiva sob direção dos apóstolos, pois esta ordenança sempre esteve associada à fé, à aceitação da Palavra, ao
       arrependimento e à busca de uma vida de adoração a Deus (Mt 28,19; At 8.12; 18.8). O ato do batismo em si não é capaz de
       perdoar o pecado original ou qualquer outro. O perdão total e definitivo dos nossos pecados ocorre por meio da graça de Deus
       que converte o coração humano e faz germinar a fé cristã (Rm 6.3,4). Depois do sacrifício de Jesus, duas dádivas são concedidas
       aos que crêem: o perdão dos pecados (22.16) e o Espírito Santo. A promessa do Espírito Santo de habitar no interior do ser
       humano é um presente e selo (marca divina) de Deus, garantido a todos os cristãos sinceros, indistintamente de suas posições
       teológicas ou doutrinárias (8.9-11; 1Co 12.13). No v.39, Pedro refere-se aos que estão longe, os gentios, e aos filhos dos judeus
       presentes, às futuras gerações judaicas (Ef 2.13).
         13 O ensino ou doutrina dos apóstolos incluía tudo o que o próprio Jesus ensinara (Mt 28.20), sendo o mais importante o Evan-
       gelho, o qual se firmava em sua vida e obra, morte e ressurreição (v.23,24; 3.15; 4.10; 1Co 15.1-4). A ministração dos apóstolos
       era incomparável por ser inspirada por Deus e estar revestida de toda autoridade a eles outorgada pelo próprio Senhor Jesus
       (2Co 13.10; 1Ts 4.2). Em nossos dias, esse mesmo ensino dos apóstolos está à nossa disposição nas páginas das Escrituras
       Sagradas, especialmente do NT. O livro de Atos ressalta a importância da oração diária na vida dos cristãos, tanto em particular
       quanto em público (1.14; 3.1; 6.4; 10.4,31; 12.5; 16.13,16).
         14 O temor (estado de adoração contínua) que existia no coração dos crentes daquela época era uma mistura de pavor, êxtase
       e perplexidade diante da presença majestosa de Deus, operando milagres, prodígios e sinais maravilhosos entre a multidão dos
       que iam sendo convertidos pelo Espírito Santo e acrescentados à Igreja.
         15 A união e o amor com que os convertidos viviam a vida cristã era um testemunho poderoso em Jerusalém e em muitas
       outras partes. Além das diversas operações de milagres e curas realizadas pelos apóstolos todos os dias, a Igreja não permitia
       que a ninguém faltasse o necessário para viver. As colaborações eram voluntárias e generosas, regadas com muita oração,
       manifestações de louvor e satisfação. A alegria deve ser o estado de ânimo do crente, não apenas uma euforia eventual
       e passageira, como é próprio dos que não depositam sua fé e a própria vida aos cuidados do Senhor (16.34). A união e
       o compartilhar da Igreja são frutos do Espírito Santo. Muitos filósofos e pensadores, ao longo dos séculos, idealizaram
       comunidades e nações inteiras, cujos povos socializariam seus recursos humanos e materiais. Contudo, não obtiveram sucesso.
       Sem a plenitude do Espírito Santo, o homem tende ao pecado e ao engano (erro).
         16 Judeus e gentios convertidos pelo Espírito a Jesus Cristo começavam a formar e desenvolver a Igreja primitiva. Os cultos




AT_C_revisado.indd 7                                                                                               24/7/2007, 20:42:12
ATOS 2, 3                                                         8

       47 louvando a Deus por tudo e sendo                                   a andar. Logo em seguida, entrou com
       estimados por todo o povo. E, assim, a                                eles no pátio do templo, andando, sal-
       cada dia o Senhor juntava à comunidade                                tando e louvando a Deus.3
       as pessoas que iam sendo salvas.                                      9 Quando todo o povo o viu andando e
                                                                             adorando a Deus,
       A cura de um aleijado                                                 10 reconheceu que era ele, aquele mesmo


       3   Certa ocasião, Pedro e João estavam
           subindo ao templo na hora da ora-
       ção, isto é, às três horas da tarde.1
                                                                             homem que estivera prostrado junto ao
                                                                             Portão Formoso do templo; e ficaram
                                                                             plenos de temor e perplexidade com o
       2 E aconteceu que um homem, aleijado                                  que lhe acontecera.
       de nascença, estava sendo carregado
       para um dos portões do templo, cha-                                   A severa pregação de Pedro
       mado Portão Formoso. Todos os dias                                    11 Apegando-se o mendigo a Pedro e
       o colocavam ali para pedir esmolas aos                                João, todo o povo correu maravilhado
       que entravam no templo.2                                              para junto deles, num lugar chamado
       3 Quando viu que Pedro e João iam                                     Pórtico de Salomão.4
       entrar no templo, pediu que lhe dessem                                12 Ao perceber isso, Pedro exclamou
       um donativo.                                                          ao povo: “Varões de Israel, por que vos
       4 Fixando nele o olhar, Pedro, em com-                                admirais a respeito disso? Por que estais
       panhia de João, disse: “Olha para nós!”.                              olhando para nós, como se tivéssemos
       5 E o homem olhou para eles com                                       feito este homem andar por nosso pró-
       atenção, na expectativa de receber deles                              prio poder ou santidade?
       alguma ajuda.                                                         13 O Deus de Abraão, de Isaque e de
       6 Então, afirmou-lhe Pedro: “Não pos-                                  Jacó, o Deus dos nossos antepassados,
       suo prata nem ouro, mas o que tenho,                                  glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós
       isso te dou: em o Nome de Jesus Cristo,                               entregastes para ser morto e, diante de
       o Nazareno, ergue-te e anda!”.                                        Pilatos, o rejeitastes, quando este havia
       7 E, segurando-o pela mão direita, aju-                               decidido soltá-lo.5
       dou-o a levantar-se e, naquele mesmo                                  14 Todavia, vós negastes publicamente o
       instante, os pés e tornozelos do homem                                Santo e Justo, e pedistes que um assassi-
       ficaram firmes.                                                         no fosse libertado.
       8 E de um salto pôs-se em pé e começou                                15 Vós matastes o Autor da vida, a quem



       que reuniam os crentes em Jerusalém se realizavam diariamente no Templo (Lc 24.53). Entretanto, a Ceia em memória ao
       Senhor Jesus, que na época coincidia com uma refeição de confraternização, era realizada nas casas dos cristãos em meio a
       uma celebração chamada “Agapẽ” (Festa do amor fraternal), na qual os irmãos exerciam a “comunhão” (em grego: koinonia),
       que tinha um sentido muito maior do que apenas aquecer a amizade: expressava a própria “vida de Cristo”, de uns para com os
       outros, com suas vitórias e desafios, alegrias e tristezas. A “koinonia” solidificava a intimidade espiritual dos crentes com o próprio
       Jesus (por meio do Espírito Santo) e entre si.
         Capítulo 3
         1 Pedro, João e Tiago (irmão de João) naturalmente passaram a liderar o grupo dos apóstolos e discípulos por causa da íntima
       comunhão que tiveram com Jesus (Mc 9.2; 13.3; 14.33; Lc 22.8; Gl 2.9). O judaísmo antigo obedecia a três horários fixos de
       oração: no meio da manhã (terceira hora, ou nove horas); a hora em que se oferecia o sacrifício vespertino (hora nona, ou quinze
       horas) e ao pôr-do-sol.
         2 Esse portão, também chamado de “Porta Formosa” ou “Portão de Nicanor”, era todo revestido de bronze fino (coríntio) e
       principal acesso para o átrio do templo, oferecendo passagem entre o pátio dos gentios e o das mulheres.
         3 Do pátio exterior entraram no pátio das mulheres (onde ficavam as caixas coletoras de ofertas – Mc 12.41-44), e depois pas-
       saram para o pátio de Israel. Desde o pátio exterior, foram atravessados nove portões até os pátios interiores.
         4 O Pórtico de Salomão ficava ao longo do lado interno do muro que cercava o pátio exterior, com fileiras de altas colunas de
       pedra de nove metros de altura e um teto todo trabalhado em cedro maciço (Jo 10.23).
         5 Em sua soberana vontade de glorificar seu Filho Jesus, Deus não se limita, no exercício de seu poder, às virtudes ou
       capacidades humanas. Pedro fez questão de proclamar sua condição de servo e render glória a Deus. Relembrou as profecias
       que anunciavam a vinda do Servo Sofredor (Is 52.13-53.12 com Mt 12.18; At 4.27,30). Pedro aproveita o momento de atenção
       e fala de irmão para irmão com seus compatriotas. Corajosamente, lhes revela a gravidade do erro cometido. Eles negaram




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9                                                       ATOS 3

       Deus ressuscitou dentre os mortos. E nós                           Deus restaurará todas as coisas, confor-
       somos testemunhas deste fato.6                                     me já decretou há muito tempo, por
       16 Pela fé em o Nome de Jesus, o Nome                              intermédio dos seus santos profetas.8
       curou este homem que aqui vedes e bem                              22 Porquanto declarou Moisés: ‘O
       o conheceis; sim, a fé que vem por meio                            Senhor Deus levantará dentre vossos
       de Jesus deu a este, agora, saúde perfei-                          irmãos um profeta como eu; a Ele
       ta, como todos podem observar.                                     ouvireis em tudo que vos ordenar.9
       17 Contudo, irmãos, eu sei que o que                               23 E acontecerá que toda pessoa que
       vós e vossos líderes fizeram com Jesus                              não ouvir esse profeta será exterminada
       foi sem o perfeito conhecimento do que                             dentre o povo’.
       estavam praticando.                                                24 Em verdade, todos os profetas, de Sa-
       18 Entretanto, foi desta forma que Deus                            muel em diante, um por um, pregaram
       cumpriu o que tinha predito por todos                              e predisseram estes dias.10
       os profetas, anunciando que o seu Cris-                            25 E vós sois os herdeiros dos profetas
       to haveria de sofrer.7                                             e da aliança que Deus estabeleceu com
       19 Arrependei-vos, portanto, e conver-                             vossos antepassados. Ele declarou a
       tei-vos para que assim sejam apagados                              Abraão: ‘Por meio da sua descendência,
       os vossos pecados,                                                 todos os povos da terra serão aben-
       20 de modo que da presença do Senhor                               çoados’.
       venham tempos de refrigério, e Ele en-                             26 Sendo assim, tendo Deus ressuscitado
       vie o Cristo, que já vos foi previamente                           o seu Servo, enviou-o primeiramente
       designado: Jesus.                                                  para vós, a fim de abençoá-los, conver-
       21 É necessário que Jesus permaneça                                tendo cada um de vós das vossas vidas
       no céu até que chegue o tempo em que                               pecaminosas”.11


       o Senhor votando por sua condenação, desprezaram-no e se recusaram a reconhecê-lo como o Messias, mesmo diante do
       poder dos ensinos de Jesus, dos seus sinais miraculosos e de sua vida absolutamente consagrada ao Pai. O próprio procu-
       rador romano, Pilatos, não viu motivo para condená-lo e tentou soltá-lo, mas os judeus ensandecidos exigiram a crucificação
       de Jesus (Jo 19.12).
         6 Os apóstolos foram testemunhas oculares da vida santa e poderosa do Filho de Deus e da sua injusta condenação e morte.
       A maioria dos discursos em Atos repete esse tema: “vós matastes Jesus. Deus o ressuscitou dentre os mortos” (At 2.23,24; 4.10;
       5.30-32; 10.39-41; 13.28,29 de acordo com 1Co 15.1-4). Pedro enfatiza que Jesus é inculpável (Santo e Justo) em relação a Deus
       e aos homens.
         7 A expressão “seu Cristo” também significa “seu Ungido ou seu Messias”, numa clara referência ao Sl 2.2 (conforme At
       4.25,26). Era indispensável que os judeus se rendessem às evidências quanto à necessidade dos sofrimentos expiatórios do
       Messias, claramente preditos ao longo de todas as Escrituras Sagradas (Is 53.7,8 com At 8.32,33; Sl 22.1 com Mt 27.46 e 1Pe 1.11
       com Lc 24.26,27). Entretanto, até nossos dias, a cruz de Jesus continua sendo escândalo para os judeus (1Co 1.23).
         8 O arrependimento verdadeiro é a radical mudança de idéia e de vontade proveniente de um profundo sentimento de
       reconhecimento e tristeza pelos erros cometidos, motivando total transformação no caráter e estilo de vida (comportamento).
       Em conseqüência do arrependimento (repúdio ao pecado e a tudo que é errado) e da consagração ao Senhor (obediência a
       Deus pela fé em Jesus), todos os pecados são destruídos, cancelados e anulados em seus efeitos (Rm 8.18-25; 12.1-2). A total
       restauração da humanidade e de toda a terra ocorrerá com a segunda vinda de Cristo, quando as grandes bênçãos prometidas,
       e ainda não plenamente usufruídas, serão derramadas sobre todo o povo de Deus. Por isso, devemos orar e trabalhar pela
       conversão dos judeus e evangelização do mundo. E, assim, apressarmos o glorioso retorno do Senhor (2Pe 3.12; Rm 11.25).
         9 Jesus Cristo é o cumprimento das profecias feitas no tocante a Moisés, Davi e Abraão. O Messias seria um profeta semelhante
       a Moisés. Previsto nas pregações de Samuel a respeito de Davi, o Ungido, traria bênçãos sobre todos os povos da terra, de
       acordo com as promessas feitas a Abraão (vv. 25,26). Os primeiros sermões de Pedro em Atos revelam que Jesus é o sucessor
       de Davi e Moisés, cumprindo as profecias do AT desde Abraão.
         10 O profeta Samuel ungiu a Davi para ser rei e declarou que seu reino seria estabelecido (1Sm 16.13; conforme 12.14; 15.28;
       28.17). A palavra de Natã, em última análise, é uma profecia messiânica (2Sm 7.12-16; At 13.22,23,34; Hb 1.5).
         11 A palavra grega traduzida no v.22 por “levantará” é a mesma aqui traduzida por “ressuscitado”, o que reforça a idéia de Deus
       haver providenciado nosso Redentor; e nem mesmo todos os pecados da humanidade e a morte poderiam detê-lo. Ao contrário,
       na ressurreição de Cristo, o Senhor cumpre as profecias entregues aos pais (13.32-34). Em Jesus ressurreto, aquela bênção
       prometida a Abraão, e dirigida a todas as nações (Gn 12.3), alcança seu pleno cumprimento.




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ATOS 4                                                         10

      Pedro e João levados ao Sinédrio                                    10 tomai conhecimento, vós todos e todo


      4  Enquanto Pedro e João estavam falan-
         do ao povo, chegaram os sacerdotes,
      o capitão dos guardas do templo e os
                                                                          o povo de Israel, de que, em o Nome de
                                                                          Jesus Cristo, o nazareno, aquele a quem
                                                                          vós crucificastes, porém a quem Deus
      saduceus.1                                                          ressuscitou dentre os mortos, sim, por
      2 Eles estavam muito perturbados por-                               intermédio desse Nome é que este ho-
      que os apóstolos estavam ensinando o                                mem está aqui, diante de vós, plenamen-
      povo e proclamando em Jesus a ressur-                               te curado!
      reição dos mortos.2                                                 11 Este Jesus é ‘a pedra que foi rejeitada
      3 Então, prenderam Pedro e João e os                                por vós, os construtores, a qual foi posta
      lançaram ao cárcere até o dia seguinte,                             como pedra angular’.3
      pois já estava anoitecendo.                                         12 E, portanto, não há salvação em ne-
      4 Entretanto, muitos dos que tinham                                 nhum outro ente, pois, em todo universo
      ouvido a pregação aceitaram a Palavra,                              não há nenhum outro Nome dado aos
      chegando o número dos homens que                                    seres humanos pelo qual devamos ser
      creram próximo de cinco mil.                                        salvos!”.
      5 No dia seguinte, reuniram-se em Jeru-                             13 Observando a coragem de Pedro e de
      salém as autoridades, os líderes religiosos                         João, e tendo notado que eram homens
      e os mestres da lei.                                                simples e iletrados, ficaram perplexos e
      6 Estavam reunidos Anás, o sumo sacer-                              reconheceram que eles haviam convivi-
      dote, bem como Caifás, João, Alexandre                              do com Jesus.4
      e todos os que eram da família do sumo                              14 Além disso, como podiam constatar
      sacerdote.                                                          diante de seus olhos a presença daquele
      7 Ordenaram que Pedro e João fossem                                 homem, em pé, que fora curado, nada
      trazidos à presença deles e começaram                               podiam alegar contra eles.
      a interrogá-los: “Com que poder ou em                               15 E, por isso, ordenaram que se retiras-
      nome de quem fizestes isso?”.                                        sem do Sinédrio e começaram a discutir
      8 Então Pedro, cheio do Espírito Santo,                             entre si,
      lhes declarou: “Autoridades e líderes do                            16 argumentando: “Que faremos a estes
      povo!                                                               homens? Pois todos os habitantes de
      9 Visto que hoje somos questionados em                              Jerusalém sabem que por meio deles foi
      relação a um ato de caridade praticado                              realizado um sinal miraculoso compro-
      a favor de um homem doente e sobre o                                vado, o qual não temos como negar.
      modo como foi curado,                                               17 Todavia, para que isso não se divulgue


         1 Esses são sacerdotes que estavam servindo naquela semana no recinto do templo (Lc 1.23). O capitão (em grego sãgãn) era
      membro de uma das famílias sacerdotais de destaque, e segundo oficial no poder político e religioso dos judeus depois do sumo
      sacerdote (Lc 22.4,52; At 5.24,26). Os saduceus faziam parte de uma seita da elite religiosa judaica, seus membros provinham da
      linhagem sacerdotal, eram cultos, ricos e governavam o templo. Não acreditavam na ressurreição dos mortos nem na vinda de um
      Messias pessoal e Libertador, mas pregavam que Israel já vivia a época messiânica e cabia a eles instruírem os mestres da lei para
      ensinarem o povo a edificar e preservar esse chamado “estado ideal”. O sumo sacerdote, um entre os demais sacerdotes (Mt 3.7;
      22.23-33; Mc 12.18; Lc 20.27; At 5.17; 23.6-8), era escolhido para presidir o Sinédrio (Supremo Tribunal Judaico).
         2 Os saduceus haviam tomado a liderança no plano para condenar e crucificar a Jesus (Jo 11.49,50) com a esperança de
      que, eliminando o líder, aquela “nova seita judaica” que se esboçava viesse a desvanecer-se doutrinariamente e perdesse seus
      adeptos. Precisamente os saduceus, que não acreditavam na ressurreição (23.6-8), têm agora que lidar com o Espírito do líder
      ressurreto dos cristãos e com o dinamismo, alegria, poder e carisma dos seus seguidores.
         3 Os primeiros cristãos enfatizavam em suas pregações e ensinos o cumprimento das profecias do AT sobre a vida e obra
      redentora de Jesus Cristo, o Messias (Mt 21.42; 1Pe 2.7), de acordo com Rm 9.33; Is 28.16, o próprio Jesus havia citado Sl 118.22.
      E sua ressurreição estabeleceu o novo Templo “construído sem mãos” (Jo 2.19; Mc 14.58) que é a habitação de Deus: o coração
      do indivíduo salvo e a reunião dos crentes, que é a Igreja, o Corpo de Cristo (Ef 2.20).
         4 Em comparação com os saduceus e os teólogos da época, Pedro e João eram literalmente “analfabetos” (como está nos
      originais em grego agrammatos) e “leigos” (da mesma forma em grego idiotai). Entretanto, o Espírito Santo os capacitou de tal
      maneira, que a coragem, eloqüência, poder e sabedoria de suas palavras fizeram os líderes judaicos deduzirem que aqueles
      homens haviam estudado e convivido com Jesus (Mc 1.22; 3.14).




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11                                                      ATOS 4

       ainda mais entre o povo, vamos intimi-                             vernantes se ajuntam em oposição ao
       dá-los, exigindo que a ninguém mais                                Senhor e contra o seu Ungido’.
       falem sobre este Nome”.                                            27 De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuni-
       18 Então, convocando-os novamente, orde-                           ram-se com as nações pagãs e os povos de
       naram-lhes que não falassem, tampouco                              Israel nesta cidade, para conspirar contra o
       ensinassem em o Nome de Jesus.                                     seu Santo Servo Jesus, a quem ungiste.5
       19 Contudo, Pedro e João propuseram-                               28 Realizaram tudo o que, em teu poder
       lhes: “Julgai vós mesmos se é justo                                e sabedoria, já havia predeterminado que
       diante de Deus obedecer a vós mais do                              aconteceria.6
       que a Deus.                                                        29 Agora, pois, ó Senhor, considera as
       20 Pois não podemos deixar de falar de                             ameaças deles e capacita os teus servos
       tudo quanto vimos e ouvimos!”.                                     para proclamarem a tua Palavra com
       21 E, os ameaçando ainda mais, os deixa-                           toda a intrepidez.
       ram ir, pois não conseguiram encontrar                             30 Estende a tua mão para curar e realizar
       motivo algum para castigá-los e o povo                             sinais e maravilhas por meio do Nome
       estava extasiado, louvando a Deus pelo                             do teu Santo Servo Jesus!”.
       que acontecera;                                                    31 E assim que terminaram de orar,
       22 pois o homem em quem se operara                                 tremeu o lugar onde estavam reunidos;
       aquela cura milagrosa tinha mais de                                todos ficaram plenos do Espírito Santo e,
       quarenta anos.                                                     com toda a coragem saíram anunciando
                                                                          a Palavra de Deus.7
       Como os primeiros cristãos oravam
       23 Assim que foram soltos, Pedro e João                            A vida da Igreja de Cristo
       buscaram a companhia dos seus amigos e                             32 E da multidão dos que creram, um só
       contaram tudo o que os chefes dos sacerdo-                         era o sentimento e a maneira de pensar.
       tes e os líderes religiosos lhes haviam dito.                      Ninguém considerava exclusivamente
       24 Ao ouvirem esse relato, os irmãos unâ-                          seu os bens que possuía, mas todos com-
       nimes elevaram a voz a Deus e exclama-                             partilhavam tudo entre si.
       ram: “Ó Todo-Poderoso Senhor, Tu que                               33 Com grande poder os apóstolos con-
       fizeste o céu e a terra, o mar e tudo o que                         tinuavam a pregar, testemunhando da
       neles existe;                                                      ressurreição do Senhor, e maravilhosa
       25 que, pelo Espírito Santo, por boca de                           graça estava sobre todos eles.8
       nosso pai Davi, teu servo, declaraste: ‘Por                        34 Não havia uma só pessoa necessitada en-
       que os gentios se enfurecem, e os povos                            tre eles, pois os que possuíam terras ou casas
       conspiram em vão?                                                  as vendiam, traziam o dinheiro da venda
       26 Os reis da terra se levantam, e os go-                          35 e o depositavam aos pés dos apóstolos,


          5 O “Ungido” (em grego: Christos, que é a tradução da palavra hebraica: Mãshïah, Messias). Na oração, os companheiros de
       Pedro e João, referem-se ao batismo de Jesus quando Deus declarou: “meu filho amado” (Mt 3.17). Herodes Antipas (tetrarca da
       Galiléia e Peréia) e Pôncio Pilatos (procurador romano na Judéia) são os reis e autoridades (príncipes) mencionados na profecia
       do Sl 2.1,2 (de acordo com Lc 23.1-24). Santo Servo é novamente uma alusão às profecias de Isaías (Is 52.13 – 53.12).
          6 A expressão “predeterminado” (conforme o original grego: prowvrisen) foi somente usada por Paulo e Pedro (1Pe 1.2,20:
       2.4-6). O plano de Deus, contemplado e traçado antes da fundação do mundo (Ef 1.4; Ap 13.8), considera em seu contexto amplo
       as boas e más ações da humanidade sem, contudo, diminuir qualquer responsabilidade pelos atos de cada indivíduo sobre a
       terra. Deus não força o ser humano a agir de uma forma ou outra. Entretanto, o Senhor vê a história do universo como um todo
       atemporal, sem os limites de tempos e épocas (passado, presente e futuro) e, portanto, tem o poder de usar os homens, com
       seus progressos e tragédias, bem como as ações do Diabo, em prol da salvação final e eterna da humanidade, particularmente
       de todos aqueles que depositarem fé sincera e absoluta em seu Filho Jesus, o Messias Salvador (Jo 1.12-13).
          7 A exemplo do que ocorreu no AT, Deus fez tremer o lugar onde seus servos estavam reunidos em oração, como um sinal da
       sua presença e aprovação (Êx 19.18; Is 6.4). Foi uma maneira através da qual o Senhor renovou nos apóstolos e discípulos, que
       estavam iniciando a Igreja de Cristo, a experiência do dia do Pentecoste (ou semana do Pentecostes). É o Espírito Santo quem
       nos capacita com força espiritual, generosidade, coragem (intrepidez), determinação, sabedoria e santidade para testemunhar-
       mos da salvação que há – somente – em Jesus (8.13,33).
          8 A expressão grega original: dunamis significa “poder” e também “milagre” (2.22). Em 2.47, a Igreja (o povo de Deus) recebeu




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ATOS 4, 5                                                        12

      que por sua vez, o repartiam conforme a                               continuaria teu? E vendido, não estaria
      necessidade de cada um.                                               todo o dinheiro em teu poder? Como
                                                                            pudestes permitir que tais idéias domi-
      A oferta de José Barnabé                                              nassem tua vontade?2
      36 Então José, um levita natural de Chi-                              5 Ao ouvir esta admoestação, Ananias
      pre, a quem os apóstolos deram o sobre-                               caiu morto. Então, grande temor tomou
      nome de Barnabé, que significa “filho da                                conta de todos os que souberam do que
      consolação”,                                                          havia acontecido.
      37 sendo proprietário de um campo, ven-                               6 E, alguns jovens tomaram a iniciativa
      dendo-o, trouxe o dinheiro da venda e o                               de cobri-lo, carregaram-no para fora e o
      colocou junto aos pés dos apóstolos.9                                 sepultaram.
                                                                            7 Cerca de três horas mais tarde entrou sua
      A oferta de Ananias e Safira                                           esposa, sem saber o que havia se passado.
      5   Entrementes, um certo homem cha-
          mado Ananias, com sua esposa Safira,
      também vendeu uma propriedade.
                                                                            8 E Pedro a questionou: “Dize-me, ven-
                                                                            destes por este preço aquelas terras? Ela
                                                                            confirmou: “Sim, por este preço!”.
      2 Mas ele reteve parte do dinheiro da ven-                            9 Então Pedro a repreendeu: “Por que vós
      da para si, tendo conhecimento disso tam-                             entrastes em acordo para tentar o Espíri-
      bém sua esposa. Ele levou a parte restante                            to do Senhor? Eis que estão aí à porta os
      e a depositou aos pés dos apóstolos.1                                 pés dos que sepultaram o teu marido, e
      3 Então, indagou-lhe Pedro: “Ananias,                                 eles a levarão também”.
      por que permitistes que Satanás encheste                              10 Naquele mesmo instante, ela caiu
      o teu coração, induzindo-te a mentir ao                               morta aos pés de Pedro. Então, aqueles
      Espírito Santo para que ficasses com par-                              jovens entraram e, encontrando-a mor-
      te do valor do terreno?                                               ta, levaram-na e a sepultaram ao lado
      4 Mantendo-o contigo, porventura não                                  de seu marido.


      “graça” (no original em grego charin) que significa: “favor, simpatia, apreciação”, da parte do povo. Neste trecho, a “graça” vem
      de Deus e se constitui na fonte da generosidade e do serviço cristão (2Co 8.1,9).
         9 José Barnabé (em grego: “filho de paraklẽsis” – “aquele que exorta, anima, consola”) era primo de João Marcos de Jerusalém
      (Cl 4.10) e originário de uma família sacerdotal (levita) judaico-cipriota que vivia e possuía propriedades na ilha de Chipre (um país
      localizado na parte leste do mar Mediterrâneo). Desde os tempos dos macabeus muitos judeus se estabeleceram em Chipre. Esta
      é a maneira como Lucas apresenta aquele que virá a ser um dos melhores amigos e conselheiros de Paulo: um homem cheio do
      Espírito e de bondade (9.27; 11.22,25; 13.1-4; 15.37,39).
         Capítulo 5
         1 A palavra “reteve” é a mesma expressão que aparece na tradução grega do AT (Septuaginta) quando narra o pecado de
      Acã (Js 7.1-25). A mesma avareza, associada à hipocrisia (desejo de manter uma falsa imagem de santidade), gerou mentira,
      afastamento de Deus e destruição. Veja os exemplos de Nadabe e Abiú (Lv 10.2) e Uzá (2Sm 6.7). Ananias e Safira foram os
      primeiros exemplos de “falta de sinceridade no serviço cristão” ocorridos nos primórdios da Igreja de Jesus Cristo. Essa terrível
      experiência demonstrou à Igreja em formação que “de Deus não se zomba” (Gl 6.7). Um grande contraste em relação ao bom
      exemplo de José Barnabé (4.36).
         2 O sentido geral da frase no original revela uma contínua atividade de Satanás, tentando sistematicamente, e por diversos
      modos, persuadir o ser humano a cair em pecado. A palavra hebraica: sãtãn (Satanás) significa “adversário” e, por isso, foi
      traduzida para o grego por diabolos. Em Jó 1.6 e Zc 3.1 e nos versos seguintes destas passagens, a palavra sãtãn corresponde
      ao nome próprio de um anjo mal, cuja principal atividade é acusar os seres humanos diante de Deus e requerer destruição
      sobre as nações. Essa pessoa absolutamente maligna domina o reino das trevas, possui filhos e anjos caídos a seu serviço;
      que diuturnamente fazem oposição a Deus (Trindade), seu Reino, anjos e filhos (Mt 12.26; 25.41; 1Jo 3.10). Ainda que Satanás
      conheça todas as fraquezas humanas e freqüentemente nos sugira maneiras de expressá-las em pecado, os cristãos contam
      com a poderosa presença de Deus em suas almas, na pessoa do Espírito Santo, e podem – pela fé – rejeitar todos os ardis e
      sugestões do Inimigo, vencendo as tentações. Os textos de 4.36,37 – 5.1,4 deixam claro que as ofertas e donativos eram atos
      voluntários, segundo a generosidade de cada um. Os apóstolos não haviam pedido nada, foi o Espírito Santo quem moveu cada
      pessoa a contribuir conforme a alegria do coração (2Co 9.7). Ananias e Safira não pecaram por ficar com parte do dinheiro da
      venda de sua propriedade, mas sim por haverem mentido ao Espírito Santo (Deus) e suporem arrogantemente que é possível
      ao ser humano pensar ou realizar qualquer coisa fora do pleno conhecimento do Senhor. A ofensa contra a Igreja, habitada pelo
      Espírito, é insulto e pecado contra o próprio Deus (9.5).




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13                                                      ATOS 5

       11 E grande temor se apoderou de toda                               apóstolos, jogando-os numa prisão
       a igreja e de todos os que ouviram falar                            pública.
       sobre esses acontecimentos.3                                        19 Todavia, durante a noite um anjo do
                                                                           Senhor abriu as portas do cárcere, con-
       Os sinais dos apóstolos                                             duziu-os para fora e
       12 Muitos sinais e maravilhas eram re-                              20 instruiu-lhes: “Ide, apresentai-vos no
       alizados entre o povo pelas mãos dos                                templo e anunciai às multidões todas
       apóstolos. E todos os que creram costu-                             as palavras da Salvação!”.7
       mavam reunir-se, em comunhão, junto                                 21 Assim, ao raiar do dia, eles entraram
       ao Pórtico de Salomão.                                              no pátio do templo, como haviam sido
       13 Todavia, ninguém de fora tinha cora-                             orientados, e começaram a pregar ao
       gem de juntar-se a eles, ainda que o povo                           povo. De outro lado, chegando o sumo
       os tivesse em grande estima.4                                       sacerdote e os seus companheiros, ime-
       14 Em número cada vez maior, homens e                               diatamente convocaram o Sinédrio, ou
       mulheres criam no Senhor e eram acres-                              seja, toda a assembléia dos principais
       centados à comunidade,                                              líderes de Israel, e mandaram buscar os
       15 a ponto de os doentes serem levados                              apóstolos na prisão.8
       para as ruas e colocados em leitos e ma-                            22 Entretanto, ao chegarem à prisão, os
       cas para que, quando Pedro passasse, ao                             guardas não os encontraram ali. Então
       menos sua sombra se projetasse sobre                                voltaram e comunicaram:
       alguns deles.                                                       23 “Encontramos o cárcere fechado com
       16 Da mesma forma, das cidades ao redor,                            toda a segurança e as sentinelas nos seus
       vinha muita gente a Jerusalém, trazen-do                            postos junto às portas; mas, abrindo-as,
       doentes e pessoas atormentadas por espí-                            a ninguém encontramos lá dentro!”.
       ritos demoníacos, e todos eram libertos.5                           24 Diante desse relato, o capitão da guar-
                                                                           da do templo e os chefes dos sacerdotes
       Os apóstolos são presos e libertos                                  ficaram atônitos, imaginando o que po-
       17 Então, o sumo sacerdote e todos os seus                          deria ter acontecido com os apóstolos.
       correligionários, membros do partido                                25 Nesse momento, chegou alguém com
       dos saduceus, foram tomados de grande                               a notícia: “Eis que os homens que reco-
       inveja.6                                                            lhestes à prisão, estão no pátio do templo,
       18 E, por isso, mandaram prender os                                 ensinando ao povo!”.


         3 Essa conseqüência drástica em relação ao pecado foi necessária, especialmente no momento em que a Igreja, como Corpo
       de Cristo, começava a dar seus primeiros passos. Era fundamental que todos soubessem que o Espírito Santo é a própria pessoa
       do Senhor habitando o corpo do crente, não um tipo de energia qualquer, e não pode ser logrado. Além disso, a Igreja de Jesus
       Cristo não é uma empresa comercial, tampouco um negócio onde a hipocrisia, fraude ou corrupção possa ser aceita. A disciplina
       na Igreja, em grande parte, depende da ação corretiva de Deus (1Co 11.30-32; Hb 12.5-11; 1Jo 5.16,17). O poder disciplinador
       do Pai está em harmonia com sua capacidade de curar, ressuscitar e dar a vida eterna a seus filhos sinceros (Jo 1.12-13). Essa é
       a primeira vez que a palavra “igreja” ocorre no livro de Atos. A expressão: ekklẽsia, nos originais em grego, era empregada para
       designar as assembléias religiosas e políticas dos judeus, e os apóstolos passaram a usar a mesma expressão para convocar a
       reunião dos primeiros cristãos (8.1; 11.22; 13.1; 19.32,40).
         4 Lucas usa a expressão “ninguém de fora” para registrar que depois do fim vergonhoso e trágico de Ananias e sua mulher,
       nenhuma pessoa filiou-se à comunidade cristã daqueles dias sem avaliar a sinceridade e a responsabilidade de tal compromisso
       com Deus. O v.14 demonstra, entretanto, que muitos “corações convertidos” juntavam-se à Igreja todos os dias (1.14; 8.3,12;
       9.2; 13.50; 16.1,13,14; 17.4,12,34; 18.2; 21.5). Essa é a primeira vez em que Lucas faz menção específica a uma quantidade de
       mulheres convertidas que se tornaram membros da Igreja (v. 14).
         5 Cumpre-se a segunda etapa da profecia de Jesus Cristo sobre a propagação do Evangelho: “em toda Judéia” (1.8).
         6 Caifás era sumo sacerdote oficial e reconhecido por Roma. Contudo, os judeus consideravam Anás, o sogro de Caifás, o
       verdadeiro sumo sacerdote, pois esse cargo era vitalício (4.1-6).
         7 A expressão aramaica hayye significa “salvação” ou “vida” (13.26).
         8 O Supremo tribunal dos judeus era composto de 71 homens (às vezes mais). Sentavam-se num semicírculo, tendo às suas
       costas três fileiras de seguidores e aprendizes conhecidos como “discípulos dos sábios”. E, na frente, em pé ficavam os escrivães
       do tribunal. Sinédrio e Senado são termos equivalentes (Mt 26.59-68).




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ATOS 5                                                       14

      26 Então, o capitão foi com os guardas e os                       35 E prosseguiu dizendo: “Caros israeli-
      trouxe outra vez, porém sem violência, pois                       tas, considerai com toda cautela o que
      temiam ser apedrejados pela multidão.                             estais para decidir fazer a estes homens.
      27 E, depois de trazê-los, os apresentaram                        36 Porquanto, há algum tempo surgiu
      ao Sinédrio. E o sumo sacerdote os in-                            Teudas, pregando ser alguém, e apro-
      terrogou:                                                         ximadamente quatrocentos homens se
      28 “Não vos ordenamos expressamente                               juntaram a ele. Todavia, ele foi morto e
      que não pregásseis nesse Nome? Contu-                             todos os seus seguidores se dispersaram
      do, enchestes Jerusalém dessa vossa dou-                          e acabaram em nada.
      trina e quereis lançar sobre nós a culpa                          37 Depois dele, na época do recensea-
      pelo sangue desse homem?”.                                        mento, apareceu Judas, o galileu, que
      29 Ao que Pedro e os demais apóstolos                             liderou um grupo revolucionário. Ele, da
      afirmaram: “É necessário que primeiro                              mesma forma foi morto, e todos os seus
      obedeçamos a Deus, depois às autoridades                          companheiros se espalharam.12
      humanas.                                                          38 Contudo, neste caso, vos advirto: afastai-
      30 O Deus de nossos antepassados ressus-                          vos destes homens e deixai-os seguir em
      citou a Jesus, a quem vós assassinastes,                          paz. Pois, se a obra ou o propósito deles for
      crucificando-o num madeiro.                                        de origem meramente humana, perecerá.
      31 Deus, no entanto, o exaltou, elevando-                         39 Se, todavia, proceder de Deus não
      o à sua direita, como Príncipe e Salvador,                        conseguireis jamais impedi-los, pois vos
      a fim de dar a Israel arrependimento e                             achareis em guerra contra Deus!”.
      perdão de pecados.9                                               40 E as palavras de Gamaliel convenceram
      32 Ora, nós somos testemunhas destes fa-                          a eles. Então, mandaram trazer os após-
      tos, bem como o Espírito Santo, que Deus                          tolos e ordenaram que fossem açoitados.
      concedeu aos que são obedientes a Ele!”.10                        Depois, exigiram-lhes que não mais falas-
                                                                        sem no Nome de Jesus e os deixaram sair
      O sabedoria de Gamaliel                                           em liberdade.
      33 Ao ouvir estas palavras, eles muito se                         41 Os apóstolos se retiraram do Sinédrio,
      enfureceram e queriam matá-los.                                   contentes por haverem sido considerados
      34 Então, certo fariseu chamado Gama-                             dignos de serem humilhados por causa do
      liel, doutor da lei, respeitado por todas as                      Nome.13
      pessoas, levantou-se no Sinédrio e pediu                          42 E, todos os dias no templo, bem como
      que aqueles homens fossem retirados                               de casa em casa, não deixavam de pregar
      por um momento.11                                                 e ensinar que Jesus Cristo é o Messias.


         9 A palavra “príncipe” (em grego archegon) pode ser também traduzida como “Autor” (3.15). A palavra hebraica “levantou”,
      assim como as expressões: “Salvador” ou “Libertador” são as mesmas que aparecem em Js 3.9. O arrependimento é a condição
      imposta pelo Príncipe (Autor) e salvação (remissão) é o galardão maior por Ele concedido aos cristãos sinceros.
         10 O testemunho dos apóstolos era dirigido e confirmado pelo Espírito Santo, que convence o mundo mediante a Palavra e
      é concedido a todos que correspondem ao amor e convite de Deus com a obediência que vêm pela fé (Rm 1.5). Em meio aos
      muitos prodígios, maravilhas e conversões, cumpriu-se a promessa de Cristo (Jo 16.7-14).
         11 Gamaliel pertencia a um partido popular judaico que dava ênfase à absoluta obediência da Lei como o caminho da Salvação.
      Embora fariseu, representava a renomada escola de Hilel, que favorecia uma interpretação mais liberal e humanizante da Lei. Uma
      das doutrinas características dos fariseus é que “Deus está acima de tudo e não precisa do auxílio de ninguém para cumprir seus
      desígnios. O que é de Deus se estabelecerá, o que não é jamais se firmará”. Gamaliel era respeitado por sua devoção a Deus,
      sabedoria e erudição. Foi mestre de Saulo que viria a se tornar o apóstolo Paulo (22.3).
         12 Quando a Judéia foi reduzida à província romana, no ano 6 d.C., Quirino, procurador imperial na Síria, promoveu um re-
      censeamento com o fim de calcular a soma do tributo a que a nova província estava obrigada a recolher para Roma. Foi quando
      Judas, cidadão de Gamala e outros revolucionários, considerando isso um prelúdio de escravidão e uma desonra a Deus, o único
      e verdadeiro Rei de Israel, desfraldou a bandeira da revolta. Esta foi esmagada, porém o partido dos Zelotes conservou-lhe vivo
      os ideais (1.13; Mt 10.4).
         13 Os apóstolos receberam a punição judaica de “quarenta açoites menos um” (2Co 11.24). Entretanto, consideraram tudo
      isso como o cumprimento da “bem-aventurança” de padecer por amor a Jesus Cristo e pela proclamação do Evangelho (Mt
      5.10-12; Lc 6.22,23).




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15                                                        ATOS 6

       A escolha de sete diáconos                                            fé e do Espírito Santo, além de Filipe,
       6  Ora, naqueles dias, multiplicando-se
          o número de discípulos, houve uma
       queixa entre eles. Os judeus helenistas
                                                                             Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e
                                                                             Nicolau, um convertido ao judaísmo,
                                                                             proveniente de Antioquia.
       protestaram contra os judeus de fala                                  6 Apresentaram-nos diante dos apósto-
       hebraico-aramaica, porque suas viúvas                                 los, os quais oraram e lhes impuseram
       não estavam sendo atendidas na distri-                                as mãos.4
       buição diária de alimentos.1                                          7 E a Palavra de Deus era divulgada, de
       2 Então, os Doze reuniram todos os dis-                               modo que se multiplicava grandemente o
       cípulos e propuseram: “Não é sensato                                  número dos discípulos em Jerusalém; in-
       negligenciarmos o ministério da Pala-                                 clusive, muitos sacerdotes obedeciam a fé.5
       vra de Deus, a fim de servir às mesas.2
       3 Portanto, irmãos, escolhei dentre                                   Estevão é levado ao Sinédrio
       vós Sete homens de bom testemunho,                                    8 Estevão, homem cheio de graça e do
       cheios do Espírito e de sabedoria, aos                                poder de Deus, realizava prodígios e
       quais encarregaremos deste ministério.3                               sinais milagrosos entre as multidões.6
       4 Quanto a nós, nos devotaremos à ora-                                9 Entretanto, levantaram-se alguns que
       ção e ao ministério da Palavra.                                       pertenciam à chamada sinagoga dos
       5 Tal proposta agradou a todos. Então,                                Libertos, dos judeus de Cirene e de
       escolheram Estevão, homem cheio de                                    Alexandria, assim como das províncias


          1 Há um intervalo de tempo considerável e impreciso entre o final do cap.5 e este momento no qual, devido ao gigantismo da
       Igreja que continuava crescendo sem parar (5.14), problemas administrativos estavam ocorrendo, tanto dentro (6.1-7) quanto
       fora da comunidade (6.8 – 7.60). Nesta altura dos acontecimentos, a Igreja era formada integralmente por judeus convertidos à
       doutrina de Jesus Cristo e batizados com o Espírito Santo. Contudo, havia dois grupos bem distintos de judeus que conviviam
       dentro da comunidade dos crentes: 1) Os judeus helenistas (essa é a primeira vez que esse termo é usado na literatura grega) ou
       de fala grega, pois pertenciam a uma geração nascida em países fora da Palestina, cujos conceitos e hábitos eram mais gregos
       que hebreus. 2) Os judeus hebreus pertenciam à geração nascida na Palestina e que falava o aramaico, uma língua derivada
       do hebraico e muito popular entre os mais jovens. Eles aprendiam a ler a Bíblia hebraica e procuravam manter as tradições
       e cultura judaicas. Entretanto, o zelo missionário partiu dos crentes helenistas menos tradicionais e mais comunicativos, pois
       falavam grego, que era a língua franca em todo o Império Romano. As viúvas, tradicionalmente protegidas pela Lei, ficaram sob
       os cuidados da Igreja (4.35; 11.28,29; 1Tm 5.3-16).
          2 O vocábulo grego original: diakonein (diáconos) significa “servidores” ou “ministros”, e foi usado por Lucas para descrever o
       trabalho de “servir às mesas”, ou seja, zelar e prover às viúvas o sustento de cada dia (Fp 1.1; 1Tm 3.6). Nesse momento da Igreja,
       os apóstolos estavam sobrecarregados, pois eram responsáveis por toda a ministração da Palavra, curas e outros milagres; e
       ainda cuidavam da arrecadação de ofertas, distribuição dos recursos entre as famílias da comunidade, ajuda às viúvas, órfãos
       e demais necessitados.
          3 A Igreja distingüiu homens cheios do Espírito Santo (v.5), e os Doze (como eram chamados pela Igreja) comissionaram os
       Sete (21.8), escolhidos democraticamente pelos crentes (v.6). Desta maneira, foram nomeados para realizar seu “serviço cristão”
       (ministério). Curiosamente, todos têm nomes gregos, mas somente Estevão e Filipe são citados novamente por Lucas (6.8 – 7.60;
       8.5-40; 21.8,9). E havia um prosélito (um gentio convertido ao judaísmo) que era de Antioquia, cidade para a qual o Evangelho
       seria levado dentro em breve, e se tornaria a “sede” da primeira grande campanha missionária de evangelização aos gentios.
          4 A imposição de mãos tem uma simbologia e um significado muito amplo e profundo. No AT era usada para outorgar bênçãos
       (Gn 48.13-20); para transferir a culpa do pecador para o sacrifício oferecido (Lv 1.4); e para comissionar uma pessoa a uma nova
       responsabilidade ou desafio (Nm 27.23). No período do NT, as mãos eram colocadas sobre as pessoas que eram agraciadas com
       curas e livramentos (28.8; Mc 1.41), na invocação de bênçãos (Mc 10.16), na ordenação ou comissionamento (6.6; 13.3; 1Tm
       5.22), bem como na outorga de dons espirituais (8.17; 19.6; 1Tm 4.14; 2Tm 1.6).
          5 Esse é mais um dos relatórios sobre o crescimento da Igreja apresentados por Lucas durante o livro de Atos (1.15; 2.41;
       4.4; 5.14; 6.7; 9.31; 12.24; 16.5; 19.20; 28.31). Lucas ainda enfatiza a conversão de sacerdotes que, apesar do seu compromisso
       vitalício com os serviços relativos ao cumprimento das ordenanças da antiga aliança, compreenderam o ensino dos apóstolos
       quanto ao sacrifício vicário de Jesus Cristo, o qual tornou desnecessário qualquer outro tipo de sacrifício (Hb 8.13; 10.1-4, 11-14).
       Além disso, movidos pelo Espírito Santo, passaram a obedecer de bom grado, aos princípios do Evangelho da Graça (Rm 1.5; Ef
       2.8-10; Tg 2.14-26). Zacarias foi um exemplo, na época de Cristo, de sacerdote convertido a Jesus (Lc 1.5-6).
          6 Até esse momento Lucas narrou exclusivamente os apóstolos realizando milagres e maravilhas (2.43; 3.4-8; 5.12). A partir de
       agora, porém, após a imposição de mãos dos apóstolos, Estevão – pleno do Espírito e de fé – passa a ministrar sinais e prodígios
       entre o povo. Mais adiante, veremos Filipe também operando milagres para a glória de Jesus Cristo e salvação dos crentes (8.6).




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ATOS 6, 7                                                     16

      da Cilícia e da Ásia. E, estes homens                              2 Diante  disso, declarou Estevão: “Caros
      começaram a discutir com Estevão;7                                 irmãos e pais, ouvi-me com atenção!
      10 contudo, não podiam resistir a                                  O Deus da glória apareceu a Abraão,
      sabedoria e ao Espírito com que ele                                nosso pai, estando ele ainda na Meso-
      argumentava.                                                       potâmia, antes de morar em Harã, e lhe
      11 Sendo assim, subornaram alguns ou-                              ordenou:1
      tros homens para o caluniarem: “Nós o                              3 ‘Sai da tua terra e da comunidade dos
      temos ouvido proferir palavras ultrajan-                           teus parentes e vai para a terra que Eu te
      tes contra Moisés e contra Deus!”.                                 mostrarei’.
      12 Com isso, conseguiram incitar o                                 4 Então, ele saiu da terra dos caldeus e se
      povo, os líderes religiosos e os mestres                           estabeleceu em Harã. Após a morte de
      da lei. E, prendendo Estevão, conduzi-                             seu pai, Deus o trouxe para esta terra em
      ram-no à presença do Sinédrio.                                     que vós agora habitais.
      13 Ali apresentaram falsas testemunhas                             5 Nela, Deus não lhe deu nenhuma he-
      que alegavam: “Este homem não pára                                 rança, nem ao menos o espaço de um pé.
      de proferir blasfêmias contra este santo                           Todavia, prometeu que lhe daria a terra
      lugar e contra a lei.8                                             como herança, e mesmo depois dele à
      14 Porquanto nós o temos ouvido procla-                            sua descendência, quando ele ainda não
      mar que esse Jesus de Nazaré destruirá                             tinha nenhum filho.
      este lugar e mudará as tradições que                               6 E Deus lhe falou desta forma: ‘Teus
      Moisés nos legou!”.9                                               descendentes serão peregrinos numa
      15 Então, todos os que estavam assenta-                            terra estrangeira e serão escravizados e
      dos no Sinédrio, ao fixarem seus olhos                              maltratados por mais de quatrocentos
      em Estevão, viram que seu rosto parecia                            anos.2
      como o rosto de um anjo.10                                         7 Contudo, Eu punirei a nação a quem ser-
                                                                         vireis como escravos e, depois disso, saireis
      O depoimento de Estevão                                            livres dali e me adorareis neste lugar’.
      7  Então, o sumo sacerdote interpelou a
         Estevão: “Porventura são verdadeiras
      estas acusações contra ti?”.
                                                                         8 E assim, concedeu a Abraão a aliança
                                                                         da circuncisão. Por esse motivo, Abraão
                                                                         gerou a Isaque e o circuncidou oito dias


         7 Os membros da sinagoga de “Libertos” eram descendentes dos judeus levados cativos para Roma pelo imperador Pompeu
      (63 a.C.) e que logo foram libertos, junto com outros judeus das regiões mencionadas nessa passagem bíblica.
         8 O templo era o lugar mais sagrado do mundo e centro do universo para os judeus por ser a habitação de Deus. A Lei oferecia
      como único caminho para a salvação a obediência absoluta à Lei e aos sacrifícios no Templo. Evidentemente, que qualquer
      insinuação contrária à Lei ou à reverência devida a Deus era considerada como blasfêmia (ultraje) e punida com a morte.
      Contudo, a própria Lei previa um julgamento justo mediante várias testemunhas. Porém, os acusadores de Estevão usaram os
      mesmos artifícios que já se haviam provado eficientes contra Jesus: falsos depoimentos, calúnias e incitação popular (Mc 14.56-
      64). Os mesmos argumentos seriam usados contra Paulo e muitos mártires da Igreja (21.28).
         9 Estevão, como os demais “servos” do Senhor, estava anunciando que a fé cristã não se conservaria dentro dos estreitos
      e legalistas limites do judaísmo (Mc 7.18,19; Mt 23.25,26; Lc 11.39-41), e antecipa a nova e universal teologia, que seria
      sistematizada por Paulo mais tarde.
         10 A aparência radiante, poderosa e angelical de Estevão indica um fenômeno físico-espiritual de transfiguração na presença
      de um acompanhante sobrenatural (2Co 3.18 de acordo com Êx 34.29 e Mt 17.2).
         Capítulo 7
         1 O primeiro chamado de Abraão ocorreu na cidade de Ur (Gn 15.7; Ne 9.7). Em Harã, houve uma renovação desta convocação
      missionária (Jr 15.19-21). Estevão não estava preocupado em salvar-se a si mesmo, mas sim, tentou abrir o entendimento e o
      coração dos líderes judeus para os erros que vinham cometendo ao rejeitar o chamamento de Deus e, por fim, seu próprio Filho,
      o Messias. Estevão não se preocupa em responder diretamente às acusações feitas em 6.11-14. Em sua defesa apresenta uma
      visão teológica universal do Evangelho: 1) Deus não limita seus encontros com a humanidade às congregações, (tabernáculos)
      nem ao Templo. Por isso, chamou Abraão, José, Moisés e outros profetas. Além disso, as primeiras grandes revelações de Deus
      aconteceram em terras gentias: Ur, Harã, Egito, Sinai. 2) Israel sempre foi insensível à voz de Deus e, em sua rebeldia extrema,
      rejeitou os profetas do Senhor, finalmente crucificando o próprio Filho de Deus – Jesus, o Justo (52).
         2 Israel peregrinou pelo deserto por 430 anos (Êx 12.40,41 e Gl 3.17). O povo de Deus não deve se apegar a sua casa, país ou
      cultura. Somos cidadãos do Reino dos céus (Hb 11.8; 16).




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  • 1. INTRODUÇÃO AOS ATOS DOS APÓSTOLOS Autoria Hoje em dia, mesmo entre os mais críticos do meio acadêmico, já é bem aceita a idéia de que o evangelho de Lucas e o livro dos Atos dos Apóstolos têm um mesmo autor. O autor do livro de Atos inicia sua obra citando um “primeiro livro”, o que é considerado pelos estudiosos como uma indicação sobre a primeira parte do mesmo documento histórico, preparado objetivamente para um destinatário específico chamado “Teófilo”. Fica claro, ao examinarmos o próprio contexto da obra, que o uso sistemático dos pronomes “nós” e “nos” se referem à estreita amizade que havia entre o autor de Atos e o apóstolo Paulo (At 16.10-17; 20.5 – 21.18; 27.1 – 28.16). Outros textos nos garantem que Lucas era médico (Cl 4.14; Fl 24; At 1.3; 3.7; 9.18,33; 13.11; 28.1-10). Lucas, da mesma forma que Paulo, atendeu ao chamado missionário para proclamar o Evangelho aos macedônios, foi responsável pela obra de discipulado e edificação da igreja de Filipos por cerca de seis anos e, mais tarde, acompanhou as lutas e a grande obra de evangelização realizada por Paulo em Roma. Durante o período de prisão domiciliar do apóstolo, escreveu o livro de Atos. O mais antigo testemunho externo sobre Lucas, como autor de Atos, aparece no Cânon Muratório, por volta do ano 170 d.C. Nesse documento está claro o registro de que Lucas foi autor tanto do terceiro evangelho quanto da obra “Atos de todos os apóstolos”. No ano 325 d.C., Eusébio, um dos chamados “pais da igreja”, publica sua obra “História Eclesiástica” na qual reafirma categoricamente a autoria lucana desses livros. Propósitos Os grandes historiadores da Antigüidade tinham o hábito de iniciar o segundo volume de suas obras com uma sinopse da primeira e, logo em seguida, uma visão geral sobre o conteúdo abordado na segunda. Lucas, portanto, resumiu em At 1.1-3 seu primeiro livro; o tema do segundo é apre- sentado por meio de uma citação do próprio Senhor Jesus: “...recebereis poder quando o Espírito Santo descer sobre vós, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra!” (At 1.8). O livro histórico de Atos dos Apóstolos nos permite acesso ao melhor e mais eloqüente registro sobre a expansão da Igreja de Jesus Cristo e da religião cristã, desde o dia da descida do Espírito Santo, no dia de Pentecoste (o qüinquagésimo dia após o sábado da semana da Páscoa, portanto o primeiro dia da semana – Lv 23.15,16). A tradicional celebração judaica chamada “Festa das Se- manas”, ou “Festa dos Primeiros Frutos”, é também conhecida como “Pentecostes” (Dt 16.10; Êx 23.16). O livro narra a saga da Igreja até a chegada de Paulo à capital do mundo da época: Roma. Neste sentido, Atos é um longo documentário sobre as obras que Jesus Cristo, o Messias e Filho de Deus, começou a realizar na Terra e, mais tarde, continuou através do Seu Espírito, agindo na vida dos seus discípulos em todas as partes do mundo. O mesmo Espírito Santo, que habitou a vida de Lucas, Paulo, Pedro, Estevão e todos os demais servos do Senhor, habita o ser de cada crente sincero em nossos dias, e assim será até a volta glo- riosa de Jesus, o Rei dos reis (1Tm 6.14,15). Data da primeira publicação A maioria dos mais reconhecidos estudiosos acredita que o livro de Atos foi escrito durante o período do primeiro aprisionamento do apóstolo Paulo; com este relato Lucas encerra sua narrativa histórica. Portanto, por volta do ano 63 d.C., o autor não faz qualquer revelação ou previsão quanto a um segundo mandato de prisão nem sobre o martírio de Paulo. Se Lucas tivesse conhecimento do tão aguardado resultado do julgamento de Paulo, por que não o registrou ao final de Atos? (At 28.30). A idéia prevalecente é que Lucas já havia narrado tudo o que sabia e lhe fora possível coletar de fatos até àquela data. Apesar de os argumentos baseados no silêncio não serem irrefutáveis, é relevante o fato de o livro não conter nenhuma alusão aos importantes fatos posteriores ao fim dos dois anos de prisão de AT_C_revisado.indd 1 24/7/2007, 20:41:57
  • 2. 2 Paulo em Roma, como o grande e terrível incêndio da capital do Império Romano e a conseqüente perseguição aos cristãos (64 d.C.), o martírio de Pedro; e logo em seguida da prisão de Paulo, por volta de 67 d.C., a profanação e destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., profetizada por Jesus Cristo quase 40 anos antes do ocorrido (Mt 24.2). Esboço geral de Atos 1. Os discípulos esperam a chegada do Espírito Santo (1.1-26) 2. O Espírito Santo vem para habitar e vivificar o crente (2.1-47) A. Fonte de poder para o cristão (2.1-13) B. Testemunho do poder do Espírito aos dispersos (2.14-47) 3. Nasce e se expande a Igreja de Jesus Cristo (3.1 – 12.25) 4. Primeiro em Jerusalém (3.1- 7.60) A. A cura do aleijado e as conseqüências deste ato (3.1-26) B. Os apóstolos Pedro e João testemunham ao Sinédrio (4.1-22) C. A vida de oração e fraternidade dos cristãos (4.23-37) D. Logo surgem as primeiras decepções (5.1-16) E. As primeiras reclamações e murmurações (6.1-7) F. Chegam também as tribulações externas (6.8 – 7.60) 5. Samaria também é alcançada pelo Pentecostes (8.1-25) 6. E até os confins da terra chega o poder do Espírito (8.26-40) 7. A conversão de Saulo de Roma em Paulo de Jesus (9.1-31) 8. Pedro promove o Pentecostes por toda a Judéia (9.32 – 11.18) A. Nas cidades estratégicas de Lida e Jope (9.32-43) B. Cesaréia (10.1-48) C. Conseqüências (11.1-18) D. Antioquia e aos confins da terra (11.19 – 12.25) E. Herodes dispersa os cristãos de Jerusalém (12.1-25) 9. A primeira viagem missionária de Paulo (13.1 – 14.28) A. Chipre (13.1-12) B. Antioquia da Psídia (13.13-52) C. Icônio (14.1-7) D. Listra, Derbe e retorno à Antioquia da Síria (14.8-28) 10. O primeiro concílio em Jerusalém (15.1-29) 11. A segunda viagem missionária de Paulo (15.30 – 18.22) A. De Antioquia a Trôade (15.36 – 16.10) B. De Trôade a Atenas (16.11 – 17.15) C. Em Atenas (17.16-34) D. Em Corinto, e o retorno (18.1-22) 12. A terceira viagem missionária de Paulo (18.23 – 21.16) A. O Pentecostes chega para os cristãos em Éfeso (18.23 – 19.41) B. Paulo ministra na Macedônia, Acaia, e retorna (20.1 – 21.16) 13. A viagem de Paulo a Roma (21.17 – 28.15) A. Em Jerusalém (21.17 – 23.35) B. Em Cesaréia (24.1 – 26.32) C. Diante do governador Félix (24.1-27) D. Diante do rei Agripa (25.23 – 26.32) E. Paulo é mandado para Roma (27.1 – 28.15) F. Paulo algemado, mas livre para pregar até o fim (28.16-31) AT_C_revisado.indd 2 24/7/2007, 20:42:02
  • 3. ATOS DOS APÓSTOLOS Prefácio consultaram: “Senhor, será este o tempo 1 Em meu primeiro livro, caro Teófilo, escrevi a respeito de tudo o que Jesus começou a realizar e a ensinar,1 em que restaurarás o Reino a Israel?”. 7 Ele lhes afirmou: “Não vos compete saber as épocas ou as datas que o Pai 2 até o dia em que foi elevado aos estabeleceu por sua exclusiva autori- céus, logo após haver entregue seus dade. mandamentos, por intermédio do Es- 8 Contudo, recebereis poder quando o pírito Santo aos apóstolos que havia Espírito Santo descer sobre vós, e sereis escolhido. minhas testemunhas, tanto em Jerusa- 3 Depois do seu martírio, Jesus apresen- lém, como em toda a Judéia e Samaria, e tou-se a eles e deu-lhes muitas provas in- até os confins da terra!”.5 contestáveis da sua ressurreição. Apare- 9 Tendo dito estas palavras, foi Jesus ele- cendo-lhes por um período de quarenta vado às alturas enquanto eles o contem- dias seguidos e ensinando-lhes acerca do plavam, até que uma nuvem o encobriu Reino de Deus.2 da vista deles. 4 Certa ocasião, enquanto ceava com 10 E aconteceu que estando eles com os eles, ordenou-lhes que não se ausentas- olhos fixos no céu, enquanto Ele subia, sem de Jerusalém, mas que aguardassem surgiram junto deles dois homens vesti- a promessa do Pai, a qual, salientou Ele: dos de branco, “De mim ouvistes!3 11 que lhes comunicaram: “Homens 5 Porquanto João, de fato, batizou com galileus, por que estais contemplando água, entretanto dentro de poucos dias as alturas? Esse Jesus, que dentre vós vós sereis batizados com o Espírito foi elevado ao céu, retornará do mesmo Santo”.4 modo como o viste subir”.6 A ascensão de Jesus Cristo A escolha do apóstolo Matias 6 Então, os que se haviam reunido lhe 12 Então, eles voltaram para Jerusalém, 1 Lucas narrou seu Evangelho e o livro de Atos sob os auspícios de Teófilo. A ascensão de Jesus ocorreu 40 dias após a ressurreição. Jesus viveu e pregou sob a direção do Espírito Santo do Pai (Jo 14.10). As declarações posteriores esclarecem que as realizações dos apóstolos foram, igualmente, orientadas pelo Espírito Santo (vv. 4,5,8; Lc 24.49; Jo 20.22), cuja obra e o poder de capacitar os cristãos fiéis, ainda hoje, são especialmente focalizados por Lucas (v. 8; Lc 2.4,17; 4.8,31; 5.3; 6.3,5; 7.55; 8.16; 9.17,31; 10.44; 13.2,4; 15.28; 16.6; 19.2,6). 2 As provas da vida e obra de Jesus, o Cristo, são indiscutíveis, pois não são especulativas ou teóricas, mas históricas e auten- ticadas. Sem a realidade da morte e da ressurreição de Jesus não há cristianismo. O Reino de Deus não se refere apenas a um lugar ou território, mas à soberania de Cristo (8.12; 28.23,31). 3 O sentido da palavra grega transliterada sunalizomenos tem a ver com uma expressão clássica do idioma, que significa: “reunir-se”; que pode ser derivada de “als”, dando origem a expressão “comer sal” ou “cear em grupo”. A vinda do Espírito Santo foi uma promessa de Deus (Jl 2.28-32; Jo 7.39; 14.16,26; 15.26,27; 16.12,13). 4 Enquanto o batismo de João (“com” ou “em” água) selava o arrependimento e preparava o coração das pessoas (especialmente dos judeus) para receberem Jesus e Seu Reino, o batismo com (ou em) o Espírito Santo, que aconteceu dez dias mais tarde, no Dia de Pentecostes (2.1-4), sela o crente de todas as raças e nações, no Corpo de Cristo, que é o sentido amplo de Igreja (1Co 12.13; Gl 3.27,28). 5 Essa passagem é uma espécie do esboço geral do livro de Atos: Jerusalém é evangelizada (1.12 – 7.60). Toda a Judéia e Sa- maria ouvem as Boas Novas (8.1-40). E o Evangelho avança sem parar por terras gentias até Roma (9.1 – 28.31). E até os “confins da terra”; chegando ao Novo Mundo (Américas) e a todas as partes do planeta, como acontece em nossos dias. 6 Todos os apóstolos eram galileus (menos Judas Iscariotes, que já estava morto). Os anjos (homens vestidos de branco, como em Lc 24.4) afirmaram que Jesus voltará da mesma forma pela qual subiu ao céu: com um corpo ressurreto e em meio às nuvens de glória (em hebraico: shekinah – a Presença de Deus – Êx 13.22; Dn 7.13; Mc 14.62; Mt 24.30). AT_C_revisado.indd 3 24/7/2007, 20:42:03
  • 4. ATOS 1 4 vindo do monte chamado das Oliveiras, língua deles, essas terras passaram a se que fica próximo a Jerusalém, à distância chamar Aceldama, que significa: Cam- de cerca de um quilômetro.7 po de Sangue.10 13 Assim que chegaram, subiram a um 20 “Porquanto”, continuou Pedro, “está grande aposento onde se hospedavam. escrito no Livro de Salmos:11 ‘Fique Estavam presentes: Pedro e João, Tiago deserto o seu lugar, e não haja ninguém e André, Felipe e Tomé, Bartolomeu e que nele habite’; e ainda: ‘Que outro Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão, o ocupe o seu lugar’”. Zelote, e Judas, filho de Tiago.8 21 Sendo assim, é preciso que escolha- 14 Todos estes, perseveravam unânimes mos um dos homens que estiveram em oração, juntamente com as mulhe- conosco durante todo o tempo em que res, com Maria, mãe de Jesus, e com os o Senhor Jesus viveu entre nós, irmãos dele.9 22 desde o batismo de João até o dia 15 Naqueles dias, sendo o número de em que Jesus foi elevado dentre nós ao pessoas ali reunidas cerca de cento e céu. É fundamental que um deles seja vinte, Pedro se levantou no meio dos conosco testemunha de sua ressurrei- irmãos e declarou: ção.12 16 “Irmãos, era necessário que se cum- 23 Então, propuseram dois nomes: José, prisse a Escritura que o Espírito Santo chamado Barsabás, também conhecido predisse por meio da boca de Davi, como Justo, e Matias.13 acerca de Judas, que serviu de guia aos 24 E, orando, afirmaram: “Tu, Senhor, que prenderam Jesus. que conheces o coração de todas as 17 Ele foi contado como um dos nossos pessoas, mostra-nos qual destes dois e teve parte neste ministério”. homens tens escolhido 18 Com o pagamento que recebeu pelo 25 para assumir a vaga neste ministério seu pecado, Judas comprou um campo. e apostolado, do qual Judas se desviou, Ali caiu de cabeça, seu corpo partiu-se indo para o lugar que lhe era devido”. ao meio, e as suas vísceras todas se der- 26 Em seguida, lançaram sortes quan- ramaram. to a eles e a sorte caiu sobre Matias; 19 Todos em Jerusalém ficaram sabendo assim, ele foi acrescentado aos onze desse fato; de maneira que, na própria apóstolos. 7 O jardim das Oliveiras (Olival) era, literalmente, a maior distância de caminhada permitida num sábado, conforme os preceitos rabínicos (Êx 16.29; Nm 35.5; Js 3.4). Local da terrível agonia de Jesus (Lc 22.39); é o mesmo da grande exaltação, do triunfo sobre a morte e do Glorioso Retorno do Senhor (Zc 14.4). 8 No segundo andar de uma grande casa que pertencia à mãe de Marcos (12.12), e onde se refugiaram temporariamente os Onze com suas esposas (1Co 9.5) e outros discípulos e discípulas (Mt 27.55; Lc 8.2,3; 24.22), havia uma grande sala (cenáculo), na qual Jesus celebrou a última Ceia com seus amados apóstolos (Mc 14.15). 9 Esta é a última vez que Maria, a mãe do Senhor, é mencionada nas Escrituras. Mulher virtuosa, humilde, sofrida, mas cheia de graça (Lc 1.26-38,42); guardou tudo em seu coração e preferiu a discrição absoluta em perseverante oração com os demais discípulos, até o fim. A conversão de Tiago, irmão de Jesus e autor da epístola, que traz seu nome e faz parte do cânon do NT, é relatada em 1Co 15.7. 10 Esse é um momento histórico-cultural interessante. O aramaico (língua falada pelos jovens judeus) já havia substituído o tradicional hebraico na Palestina daquela época. 11 Pedro recorre a duas passagens das Escrituras (Sl 69.25 e Sl 109.8) para explicar que Judas havia deixado uma vaga no grupo apostólico que precisava ser preenchida. Pedro usa a palavra “episcopado”, que, em grego, descreve a função pastoral. 12 A qualificação humana para o apostolado era ter conhecimento íntimo da vida terrestre de Jesus Cristo e ser testemunha ocular de Sua ressurreição. A qualidade divina era ser escolhido pelo Espírito de Deus. Aqui, conforme a tradição judaica, se deu por meio de sorteio (1Cr 26.13-16; Ne 11.1; Pv 16.33; Jn 1.7). Entretanto, essa é a última vez que o lançamento de sortes é mencionado na Bíblia. 13 Barsabás significa, em hebraico, “filho do Sábado”, e era irmão de Judas, profeta judeu-cristão da igreja primitiva em Jeru- salém e que foi enviado a Antioquia juntamente com Silas (15.22,32). O nome grego (helenístico) de José era “Justo”. Quanto a Matias, seu nome é uma contração do nome hebraico Matatias, o macabeu. AT_C_revisado.indd 4 24/7/2007, 20:42:05
  • 5. 5 ATOS 2 A chegada do Espírito Santo falar em nossa própria língua materna? 2 E ao completar-se o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar.1 2 De repente, veio do céu um barulho, 9 Nós que somos partos, medos e elamitas; habitantes da Mesopotâmia, Judéia e Ca- padócia, do Ponto e da província da Ásia, semelhante a um vento soprando muito 10 Frígia e Panfília, Egito e das partes da forte, e esse som tomou conta de toda a Líbia próximas a Cirene, e romanos que Casa onde estavam assentados. estão morando aqui, tanto judeus como 3 Então, todos viram distribuídas entre convertidos ao judaísmo; eles línguas de fogo, e pousou uma sobre 11 cretenses e árabes, todos nós os ouvi- cada um deles.2 mos discursar sobre as grandes realiza- 4 E todas as pessoas ali reunidas ficaram ções de Deus em nossa própria língua!”.4 cheias do Espírito Santo, e começaram a 12 E todos estavam absolutamente assus- falar em outras línguas, de acordo com tados e confusos, perguntando uns aos o poder que o próprio Espírito lhes outros: “O que significa tudo isto?”. concedia que falassem.3 13 Entretanto, outros, para ridicularizá- 5 Ora, estavam morando em Jerusalém, los, exclamavam: “Esses estão cheios de judeus, tementes a Deus, vindos de todas vinho novo!”.5 as partes do mundo. 6 Ao ouvirem aquele estrondo, ajuntou- A ministração de Pedro se um grande número de pessoas; e fica- 14 E aconteceu que, colocando-se em pé, ram maravilhados, pois cada um ouvia juntamente com os Onze, Pedro tomou a falar em sua própria língua. palavra e, em alta voz, pregou à multidão 7 Perplexos e admirados comentavam reunida: “Homens judeus e todos os que uns com os outros: “Porventura, não são habitais em Jerusalém, permitais que vos galileus todos esses que estão falando? esclareça o que se passa! Dai, pois, aten- 8 Como, então, cada um de nós os ouve ção às minhas palavras. 1 O qüinquagésimo dia após o sábado da semana da Páscoa, e, portanto, domingo, era considerado o Dia de Pentecoste (Lv 23.15,16). Pentecostes é o nome que se dava à Festa das Semanas, também chamada Festa da Colheita ou, ainda, Festa dos Primeiros Frutos (Dt 16.10). Nessa passagem, apóstolos e discípulos estavam no Templo, também chamado de “a Casa” (7.47), pois é sabido que os apóstolos reuniam-se constantemente no Templo, orando, ministrando e louvando ao Senhor (Lc 24.53). 2 O vento impetuoso e estrepitante é símbolo do Espírito de Deus: poderoso, soberano e absolutamente livre (Ez 37.9,14; Jo 3.8). A expressão “línguas” é uma metáfora usada para explicar aquela situação inusitada, chamada de experiência extática, ou seja, de grande êxtase. Haja vista, que por milagre, uma multidão de pessoas, de nações, culturas e línguas totalmente diferentes umas das outras, puderam ouvir a Palavra de Deus, em sua própria língua materna, por meio da pregação dos apóstolos. O “fogo” é um outro símbolo metafórico da presença divina (Êx 3.2), também freqüentemente associado ao Juízo (Mt 3.2; Lc 3.16 e 1Ts 5.19). 3 A Igreja de Cristo estava em formação. Unida e esperançosa quanto à volta do Senhor, passou pelo batismo do Espírito, conforme a promessa de Jesus (1.5), e dedicou-se à oração, comunhão e evangelização segundo as Escrituras. O Pentecostes significa para a Igreja: 1) A presença e ação do Espírito Santo habitando (tabernaculando) a alma do crente (Jo 14.17), e não apenas influenciando os aspectos religiosos e exteriores (Jz 6.34; 15.14; Ez 36.26); 2) O Espírito passa a ter presença contínua ao invés de eventual como foi no AT; 3) O Espírito veio para habitar toda a Igreja, não apenas alguns indivíduos especialmente selecionados para determinadas obras e ministérios como no AT (1Co 3.16; 12.12,13); 4) Ter coragem para confrontar esse mundo caído, com amor e sem medo (v.14); ganhar almas para o Reino de Cristo (v.41) e operar milagres, sinais e maravilhas, de acordo com a vontade e instrução do Espírito (v.43). Sendo assim, há apenas um batismo da Igreja (o Corpo vivo de Cristo) e de cada indivíduo, membro da Igreja; mas repetidas plenitudes para a adoração, o serviço cristão (Ef 5.18) e o exercício dos dons do Espírito (1Co 12.7-11). O dom de línguas (em grego transliterado: heterais glõssais, que significa “línguas diversas”) foi um milagre que se deu no âmbito da expressão dos apóstolos e da audição das pessoas de várias línguas e dialetos naquele dia e local (1Co 14.23). Estas línguas “estrangeiras” anteciparam a chegada do Evangelho em toda nação, povo, raça, tribo e língua, unindo o mundo todo em torno do Senhor Jesus, num flagrante contraste com o julgamento em Babel (Gn 11.7-9). 4 Houve quatro classes de judeus da Dispersão: 1) Orientais ou babilônicos (região onde hoje se situa o Iraque). 2) Sírios; 3) Egípcios; 4) Romanos, que a exemplo do apóstolo Paulo, eram cidadãos do império, embora não originários de Roma, assim como a província romana da Ásia, citada no v.9, é a atual região da Turquia. 5 Algumas versões trazem simplesmente a expressão “estão embriagados!”. Entretanto, o texto original grego (aqui traduzido literalmente) enfatiza que os zombadores estavam acusando jocosamente os apóstolos de terem apressadamente se embebedado com os primeiros vinhos da colheita que se dava no mês de agosto e que produzia um “vinho doce”, ainda em processo de fermentação. AT_C_revisado.indd 5 24/7/2007, 20:42:08
  • 6. ATOS 2 6 15 Estes homens não estão embriagados, 25 A respeito dele afirmou Davi: ‘Eu sem- como pensais. Até porque são apenas pre via o Senhor diante de mim. Porque nove horas da manhã.6 está à minha direita. 16 Muito diferente disto. O que está ocor- 26 Por esse motivo, o meu coração está rendo foi predito pelo profeta Joel: alegre e a minha língua exulta; o meu 17 ‘Nos últimos dias, diz o Senhor, que corpo também repousará em esperança, derramarei do meu Espírito sobre todos 27 porque tu não me abandonarás no se- os povos, os seus filhos e as suas filhas pulcro, nem permitirás que o teu Santo profetizarão, os jovens terão visões, os sofra decomposição.8 velhos terão sonhos.7 28 Tu me fizeste conhecer os caminhos 18 Sobre os meus servos e as minhas ser- da vida e me encherás de alegria na tua vas derramarei do meu Espírito naqueles presença’. dias, e eles profetizarão. 29 Caros irmãos, concedei-me a licença de 19 Mostrarei maravilhas em cima, no céu, falar-vos com toda franqueza que o pa- e sinais embaixo, na terra: sangue, fogo e triarca Davi morreu e foi sepultado, e o seu nuvens de fumaça. túmulo está entre nós até o dia de hoje.9 20 O sol se tornará em trevas e a lua em 30 Todavia, ele era profeta e sabia que sangue, antes que venha o grande e glo- Deus lhe prometera sob juramento que rioso Dia do Senhor. colocaria um dos seus descendentes em 21 E todo aquele que invocar o nome do seu trono. Senhor será salvo!’. 31 Antevendo isso, profetizou sobre a 22 Israelitas, escutai estas palavras: Jesus ressurreição do Cristo, que não foi aban- de Nazaré, homem aprovado por Deus donado no sepulcro e cujo corpo não diante de vós por meio de milagres, feitos sofreu decomposição. portentosos e muitos sinais, que Deus por 32 Deus ressuscitou este Jesus, e todos meio dele realizou entre vós, como vós nós somos testemunhas deste fato. mesmos bem sabeis, 33 Exaltado à direita de Deus, Ele recebeu 23 este homem vos foi entregue por pro- do Pai o Espírito Santo prometido e pósito determinado e pré-conhecimento derramou o que vós agora vedes e ouvis. de Deus; mas vós, com a cooperação de 34 Porquanto, Davi não foi elevado aos homens perversos, o assassinaram, pre- céus, mas ele mesmo declarou: ‘O Se- gando-o numa cruz. nhor disse ao meu Senhor: Senta-te à 24 Contudo, Deus o ressuscitou dos mor- minha direita tos, rompendo os laços da morte, porque 35 até que Eu ponha os teus inimigos era impossível que a morte o retivesse. como estrado para os teus pés’.10 6 Os judeus costumavam tomar o desjejum às dez horas da manhã e no sábado, ao meio dia. Ainda mais num dia de festa religiosa como o Pentecoste, nenhum judeu se atreveria a quebrar o jejum às nove horas da manhã (literalmente em grego: “a terceira hora do dia”). 7 Pedro cita e interpreta a passagem profética de Joel 2.28-32 como uma referência específica aos dias da nova aliança (Jr 31.33,34; Ez 36.26,27; 39.29) e inaugura a “cidade messiânica”. Pedro adverte também sobre os acontecimentos apocalípticos que serão os grandes sinais do iminente e glorioso retorno de Jesus Cristo e do Juízo final (Is 2.2; Os 3.5; Mq 4.1; 1Tm 4.1; 2Tm 3.1; Hb 1.1; 1Pe 1.20; 1Jo 2.18). 8 Algumas versões traduzem a palavra grega hades (que se origina da expressão hebraica: sheol) por “morte, profundezas, ou ainda, inferno”. Entretanto, o Comitê de Tradução da Bíblia King James decidiu usar aqui seu sentido mais literal: “sepulcro” (túmulo). Davi refere-se, em última análise, ao fato de o corpo de Jesus, o Messias, não ter experimentado “deteriorização” alguma (v.31). 9 O túmulo de Davi podia ser visto em Jerusalém e ainda continha seus restos mortais. Mas em relação a Jesus Cristo, ninguém podia apontar para um sepulcro onde seu corpo estivesse depositado. As palavras de Davi no Sl 16.8-11 aplicam-se mais completamente, e de forma profética, ao próprio Senhor Jesus. A expressão hebraica “Messias” corresponde à palavra “Cristo”, em grego, e ambas significam “Ungido”. 10 Na expressão “O Senhor disse ao meu Senhor” (Sl 110.1), o primeiro “Senhor” traduz a palavra hebraica Yahweh (o nome sagrado e impronunciável de Deus), e o segundo Ãdõn (Senhor). Sendo assim, o Senhor (Deus) disse ao meu Senhor (o Filho de Davi, o Messias). De acordo com Pedro, Davi dirigiu-se ao seu descendente com o mais elevado respeito, pois Davi, por meio da inspiração do Espírito Santo, reconhecia a absoluta divindade desse descendente (Mt 22.41-45). Porquanto, além da sua AT_C_revisado.indd 6 24/7/2007, 20:42:10
  • 7. 7 ATOS 2 36 Sendo assim, que todo o povo de Israel 41 Assim, todos quantos aceitaram a sua tenha absoluta certeza disto: Este Jesus, palavra foram batizados; e naquele mes- a quem vós crucificastes, Deus o fez Se- mo dia juntaram-se a eles cerca de três nhor e Messias!”.11 mil pessoas. Os primeiros cristãos Como viviam os novos cristãos 37 Ao ouvirem tais palavras, ficaram ago- 42 Eles perseveravam no ensino dos após- niados em seu coração, e desejaram saber tolos e na comunhão, no partir do pão e de Pedro e dos outros apóstolos: “Caros nas orações.13 irmãos! O que devemos fazer?”. 43 E na alma de cada pessoa havia pleno 38 Orientou-lhes Pedro: “Arrependei-vos temor, e muitos feitos extraordinários e e cada um de vós seja batizado em o sinais maravilhosos eram realizados pe- nome de Jesus Cristo para o perdão de los apóstolos.14 vossos pecados; e recebereis o dom do 44 Todos os que criam estavam unidos e Espírito Santo.12 tinham tudo em comum. 39 Porquanto a promessa pertence a vós, 45 Vendiam suas propriedades e bens, e a vossos filhos e a todos os que estão dividiam o produto entre todos, segundo distantes. Enfim, para todos quantos o a necessidade de cada um.15 Senhor, nosso Deus, chamar!”. 46 Diariamente, continuavam a reunir-se 40 E com muitas outras palavras dava no pátio do templo. Partiam o pão em seu testemunho pessoal e os encorajava, suas casas e juntos participavam das proclamando: “Sede salvos desta geração refeições, com alegria e sinceridade de que perece!”. coração,16 ressurreição da morte (vv. 31,32), também seria exaltado à direita de Deus, com todas as honras de Filho e Rei (vv. 33-35). E sua excelsa presença estava ali revelada na pessoa do Espírito Santo, que chegara conforme prometido (v.33; Jo 7.39; 14.16,26; 16.7 de acordo com Sl 68.18). 11 Esta afirmação corajosa de Pedro constitui-se no mais antigo Credo da Igreja de Jesus Cristo (Rm 10.9; 1Co 12.3; Fp 2.11). 12 A mensagem de João Batista, o grande precursor do Reino, é reenfatizada por Pedro e será a marca das principais mensagens evangelísticas dos apóstolos para o recebimento de perdão e o novo nascimento (Mc 1.4; Lc 3.3). O mesmo destaque foi dado pelo próprio Jesus (Mc 1.5; Lc 13.3; Lc 24.47). Da mesma forma, o batismo era importante para João, Jesus e na Igreja primitiva sob direção dos apóstolos, pois esta ordenança sempre esteve associada à fé, à aceitação da Palavra, ao arrependimento e à busca de uma vida de adoração a Deus (Mt 28,19; At 8.12; 18.8). O ato do batismo em si não é capaz de perdoar o pecado original ou qualquer outro. O perdão total e definitivo dos nossos pecados ocorre por meio da graça de Deus que converte o coração humano e faz germinar a fé cristã (Rm 6.3,4). Depois do sacrifício de Jesus, duas dádivas são concedidas aos que crêem: o perdão dos pecados (22.16) e o Espírito Santo. A promessa do Espírito Santo de habitar no interior do ser humano é um presente e selo (marca divina) de Deus, garantido a todos os cristãos sinceros, indistintamente de suas posições teológicas ou doutrinárias (8.9-11; 1Co 12.13). No v.39, Pedro refere-se aos que estão longe, os gentios, e aos filhos dos judeus presentes, às futuras gerações judaicas (Ef 2.13). 13 O ensino ou doutrina dos apóstolos incluía tudo o que o próprio Jesus ensinara (Mt 28.20), sendo o mais importante o Evan- gelho, o qual se firmava em sua vida e obra, morte e ressurreição (v.23,24; 3.15; 4.10; 1Co 15.1-4). A ministração dos apóstolos era incomparável por ser inspirada por Deus e estar revestida de toda autoridade a eles outorgada pelo próprio Senhor Jesus (2Co 13.10; 1Ts 4.2). Em nossos dias, esse mesmo ensino dos apóstolos está à nossa disposição nas páginas das Escrituras Sagradas, especialmente do NT. O livro de Atos ressalta a importância da oração diária na vida dos cristãos, tanto em particular quanto em público (1.14; 3.1; 6.4; 10.4,31; 12.5; 16.13,16). 14 O temor (estado de adoração contínua) que existia no coração dos crentes daquela época era uma mistura de pavor, êxtase e perplexidade diante da presença majestosa de Deus, operando milagres, prodígios e sinais maravilhosos entre a multidão dos que iam sendo convertidos pelo Espírito Santo e acrescentados à Igreja. 15 A união e o amor com que os convertidos viviam a vida cristã era um testemunho poderoso em Jerusalém e em muitas outras partes. Além das diversas operações de milagres e curas realizadas pelos apóstolos todos os dias, a Igreja não permitia que a ninguém faltasse o necessário para viver. As colaborações eram voluntárias e generosas, regadas com muita oração, manifestações de louvor e satisfação. A alegria deve ser o estado de ânimo do crente, não apenas uma euforia eventual e passageira, como é próprio dos que não depositam sua fé e a própria vida aos cuidados do Senhor (16.34). A união e o compartilhar da Igreja são frutos do Espírito Santo. Muitos filósofos e pensadores, ao longo dos séculos, idealizaram comunidades e nações inteiras, cujos povos socializariam seus recursos humanos e materiais. Contudo, não obtiveram sucesso. Sem a plenitude do Espírito Santo, o homem tende ao pecado e ao engano (erro). 16 Judeus e gentios convertidos pelo Espírito a Jesus Cristo começavam a formar e desenvolver a Igreja primitiva. Os cultos AT_C_revisado.indd 7 24/7/2007, 20:42:12
  • 8. ATOS 2, 3 8 47 louvando a Deus por tudo e sendo a andar. Logo em seguida, entrou com estimados por todo o povo. E, assim, a eles no pátio do templo, andando, sal- cada dia o Senhor juntava à comunidade tando e louvando a Deus.3 as pessoas que iam sendo salvas. 9 Quando todo o povo o viu andando e adorando a Deus, A cura de um aleijado 10 reconheceu que era ele, aquele mesmo 3 Certa ocasião, Pedro e João estavam subindo ao templo na hora da ora- ção, isto é, às três horas da tarde.1 homem que estivera prostrado junto ao Portão Formoso do templo; e ficaram plenos de temor e perplexidade com o 2 E aconteceu que um homem, aleijado que lhe acontecera. de nascença, estava sendo carregado para um dos portões do templo, cha- A severa pregação de Pedro mado Portão Formoso. Todos os dias 11 Apegando-se o mendigo a Pedro e o colocavam ali para pedir esmolas aos João, todo o povo correu maravilhado que entravam no templo.2 para junto deles, num lugar chamado 3 Quando viu que Pedro e João iam Pórtico de Salomão.4 entrar no templo, pediu que lhe dessem 12 Ao perceber isso, Pedro exclamou um donativo. ao povo: “Varões de Israel, por que vos 4 Fixando nele o olhar, Pedro, em com- admirais a respeito disso? Por que estais panhia de João, disse: “Olha para nós!”. olhando para nós, como se tivéssemos 5 E o homem olhou para eles com feito este homem andar por nosso pró- atenção, na expectativa de receber deles prio poder ou santidade? alguma ajuda. 13 O Deus de Abraão, de Isaque e de 6 Então, afirmou-lhe Pedro: “Não pos- Jacó, o Deus dos nossos antepassados, suo prata nem ouro, mas o que tenho, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós isso te dou: em o Nome de Jesus Cristo, entregastes para ser morto e, diante de o Nazareno, ergue-te e anda!”. Pilatos, o rejeitastes, quando este havia 7 E, segurando-o pela mão direita, aju- decidido soltá-lo.5 dou-o a levantar-se e, naquele mesmo 14 Todavia, vós negastes publicamente o instante, os pés e tornozelos do homem Santo e Justo, e pedistes que um assassi- ficaram firmes. no fosse libertado. 8 E de um salto pôs-se em pé e começou 15 Vós matastes o Autor da vida, a quem que reuniam os crentes em Jerusalém se realizavam diariamente no Templo (Lc 24.53). Entretanto, a Ceia em memória ao Senhor Jesus, que na época coincidia com uma refeição de confraternização, era realizada nas casas dos cristãos em meio a uma celebração chamada “Agapẽ” (Festa do amor fraternal), na qual os irmãos exerciam a “comunhão” (em grego: koinonia), que tinha um sentido muito maior do que apenas aquecer a amizade: expressava a própria “vida de Cristo”, de uns para com os outros, com suas vitórias e desafios, alegrias e tristezas. A “koinonia” solidificava a intimidade espiritual dos crentes com o próprio Jesus (por meio do Espírito Santo) e entre si. Capítulo 3 1 Pedro, João e Tiago (irmão de João) naturalmente passaram a liderar o grupo dos apóstolos e discípulos por causa da íntima comunhão que tiveram com Jesus (Mc 9.2; 13.3; 14.33; Lc 22.8; Gl 2.9). O judaísmo antigo obedecia a três horários fixos de oração: no meio da manhã (terceira hora, ou nove horas); a hora em que se oferecia o sacrifício vespertino (hora nona, ou quinze horas) e ao pôr-do-sol. 2 Esse portão, também chamado de “Porta Formosa” ou “Portão de Nicanor”, era todo revestido de bronze fino (coríntio) e principal acesso para o átrio do templo, oferecendo passagem entre o pátio dos gentios e o das mulheres. 3 Do pátio exterior entraram no pátio das mulheres (onde ficavam as caixas coletoras de ofertas – Mc 12.41-44), e depois pas- saram para o pátio de Israel. Desde o pátio exterior, foram atravessados nove portões até os pátios interiores. 4 O Pórtico de Salomão ficava ao longo do lado interno do muro que cercava o pátio exterior, com fileiras de altas colunas de pedra de nove metros de altura e um teto todo trabalhado em cedro maciço (Jo 10.23). 5 Em sua soberana vontade de glorificar seu Filho Jesus, Deus não se limita, no exercício de seu poder, às virtudes ou capacidades humanas. Pedro fez questão de proclamar sua condição de servo e render glória a Deus. Relembrou as profecias que anunciavam a vinda do Servo Sofredor (Is 52.13-53.12 com Mt 12.18; At 4.27,30). Pedro aproveita o momento de atenção e fala de irmão para irmão com seus compatriotas. Corajosamente, lhes revela a gravidade do erro cometido. Eles negaram AT_C_revisado.indd 8 24/7/2007, 20:42:15
  • 9. 9 ATOS 3 Deus ressuscitou dentre os mortos. E nós Deus restaurará todas as coisas, confor- somos testemunhas deste fato.6 me já decretou há muito tempo, por 16 Pela fé em o Nome de Jesus, o Nome intermédio dos seus santos profetas.8 curou este homem que aqui vedes e bem 22 Porquanto declarou Moisés: ‘O o conheceis; sim, a fé que vem por meio Senhor Deus levantará dentre vossos de Jesus deu a este, agora, saúde perfei- irmãos um profeta como eu; a Ele ta, como todos podem observar. ouvireis em tudo que vos ordenar.9 17 Contudo, irmãos, eu sei que o que 23 E acontecerá que toda pessoa que vós e vossos líderes fizeram com Jesus não ouvir esse profeta será exterminada foi sem o perfeito conhecimento do que dentre o povo’. estavam praticando. 24 Em verdade, todos os profetas, de Sa- 18 Entretanto, foi desta forma que Deus muel em diante, um por um, pregaram cumpriu o que tinha predito por todos e predisseram estes dias.10 os profetas, anunciando que o seu Cris- 25 E vós sois os herdeiros dos profetas to haveria de sofrer.7 e da aliança que Deus estabeleceu com 19 Arrependei-vos, portanto, e conver- vossos antepassados. Ele declarou a tei-vos para que assim sejam apagados Abraão: ‘Por meio da sua descendência, os vossos pecados, todos os povos da terra serão aben- 20 de modo que da presença do Senhor çoados’. venham tempos de refrigério, e Ele en- 26 Sendo assim, tendo Deus ressuscitado vie o Cristo, que já vos foi previamente o seu Servo, enviou-o primeiramente designado: Jesus. para vós, a fim de abençoá-los, conver- 21 É necessário que Jesus permaneça tendo cada um de vós das vossas vidas no céu até que chegue o tempo em que pecaminosas”.11 o Senhor votando por sua condenação, desprezaram-no e se recusaram a reconhecê-lo como o Messias, mesmo diante do poder dos ensinos de Jesus, dos seus sinais miraculosos e de sua vida absolutamente consagrada ao Pai. O próprio procu- rador romano, Pilatos, não viu motivo para condená-lo e tentou soltá-lo, mas os judeus ensandecidos exigiram a crucificação de Jesus (Jo 19.12). 6 Os apóstolos foram testemunhas oculares da vida santa e poderosa do Filho de Deus e da sua injusta condenação e morte. A maioria dos discursos em Atos repete esse tema: “vós matastes Jesus. Deus o ressuscitou dentre os mortos” (At 2.23,24; 4.10; 5.30-32; 10.39-41; 13.28,29 de acordo com 1Co 15.1-4). Pedro enfatiza que Jesus é inculpável (Santo e Justo) em relação a Deus e aos homens. 7 A expressão “seu Cristo” também significa “seu Ungido ou seu Messias”, numa clara referência ao Sl 2.2 (conforme At 4.25,26). Era indispensável que os judeus se rendessem às evidências quanto à necessidade dos sofrimentos expiatórios do Messias, claramente preditos ao longo de todas as Escrituras Sagradas (Is 53.7,8 com At 8.32,33; Sl 22.1 com Mt 27.46 e 1Pe 1.11 com Lc 24.26,27). Entretanto, até nossos dias, a cruz de Jesus continua sendo escândalo para os judeus (1Co 1.23). 8 O arrependimento verdadeiro é a radical mudança de idéia e de vontade proveniente de um profundo sentimento de reconhecimento e tristeza pelos erros cometidos, motivando total transformação no caráter e estilo de vida (comportamento). Em conseqüência do arrependimento (repúdio ao pecado e a tudo que é errado) e da consagração ao Senhor (obediência a Deus pela fé em Jesus), todos os pecados são destruídos, cancelados e anulados em seus efeitos (Rm 8.18-25; 12.1-2). A total restauração da humanidade e de toda a terra ocorrerá com a segunda vinda de Cristo, quando as grandes bênçãos prometidas, e ainda não plenamente usufruídas, serão derramadas sobre todo o povo de Deus. Por isso, devemos orar e trabalhar pela conversão dos judeus e evangelização do mundo. E, assim, apressarmos o glorioso retorno do Senhor (2Pe 3.12; Rm 11.25). 9 Jesus Cristo é o cumprimento das profecias feitas no tocante a Moisés, Davi e Abraão. O Messias seria um profeta semelhante a Moisés. Previsto nas pregações de Samuel a respeito de Davi, o Ungido, traria bênçãos sobre todos os povos da terra, de acordo com as promessas feitas a Abraão (vv. 25,26). Os primeiros sermões de Pedro em Atos revelam que Jesus é o sucessor de Davi e Moisés, cumprindo as profecias do AT desde Abraão. 10 O profeta Samuel ungiu a Davi para ser rei e declarou que seu reino seria estabelecido (1Sm 16.13; conforme 12.14; 15.28; 28.17). A palavra de Natã, em última análise, é uma profecia messiânica (2Sm 7.12-16; At 13.22,23,34; Hb 1.5). 11 A palavra grega traduzida no v.22 por “levantará” é a mesma aqui traduzida por “ressuscitado”, o que reforça a idéia de Deus haver providenciado nosso Redentor; e nem mesmo todos os pecados da humanidade e a morte poderiam detê-lo. Ao contrário, na ressurreição de Cristo, o Senhor cumpre as profecias entregues aos pais (13.32-34). Em Jesus ressurreto, aquela bênção prometida a Abraão, e dirigida a todas as nações (Gn 12.3), alcança seu pleno cumprimento. AT_C_revisado.indd 9 24/7/2007, 20:42:17
  • 10. ATOS 4 10 Pedro e João levados ao Sinédrio 10 tomai conhecimento, vós todos e todo 4 Enquanto Pedro e João estavam falan- do ao povo, chegaram os sacerdotes, o capitão dos guardas do templo e os o povo de Israel, de que, em o Nome de Jesus Cristo, o nazareno, aquele a quem vós crucificastes, porém a quem Deus saduceus.1 ressuscitou dentre os mortos, sim, por 2 Eles estavam muito perturbados por- intermédio desse Nome é que este ho- que os apóstolos estavam ensinando o mem está aqui, diante de vós, plenamen- povo e proclamando em Jesus a ressur- te curado! reição dos mortos.2 11 Este Jesus é ‘a pedra que foi rejeitada 3 Então, prenderam Pedro e João e os por vós, os construtores, a qual foi posta lançaram ao cárcere até o dia seguinte, como pedra angular’.3 pois já estava anoitecendo. 12 E, portanto, não há salvação em ne- 4 Entretanto, muitos dos que tinham nhum outro ente, pois, em todo universo ouvido a pregação aceitaram a Palavra, não há nenhum outro Nome dado aos chegando o número dos homens que seres humanos pelo qual devamos ser creram próximo de cinco mil. salvos!”. 5 No dia seguinte, reuniram-se em Jeru- 13 Observando a coragem de Pedro e de salém as autoridades, os líderes religiosos João, e tendo notado que eram homens e os mestres da lei. simples e iletrados, ficaram perplexos e 6 Estavam reunidos Anás, o sumo sacer- reconheceram que eles haviam convivi- dote, bem como Caifás, João, Alexandre do com Jesus.4 e todos os que eram da família do sumo 14 Além disso, como podiam constatar sacerdote. diante de seus olhos a presença daquele 7 Ordenaram que Pedro e João fossem homem, em pé, que fora curado, nada trazidos à presença deles e começaram podiam alegar contra eles. a interrogá-los: “Com que poder ou em 15 E, por isso, ordenaram que se retiras- nome de quem fizestes isso?”. sem do Sinédrio e começaram a discutir 8 Então Pedro, cheio do Espírito Santo, entre si, lhes declarou: “Autoridades e líderes do 16 argumentando: “Que faremos a estes povo! homens? Pois todos os habitantes de 9 Visto que hoje somos questionados em Jerusalém sabem que por meio deles foi relação a um ato de caridade praticado realizado um sinal miraculoso compro- a favor de um homem doente e sobre o vado, o qual não temos como negar. modo como foi curado, 17 Todavia, para que isso não se divulgue 1 Esses são sacerdotes que estavam servindo naquela semana no recinto do templo (Lc 1.23). O capitão (em grego sãgãn) era membro de uma das famílias sacerdotais de destaque, e segundo oficial no poder político e religioso dos judeus depois do sumo sacerdote (Lc 22.4,52; At 5.24,26). Os saduceus faziam parte de uma seita da elite religiosa judaica, seus membros provinham da linhagem sacerdotal, eram cultos, ricos e governavam o templo. Não acreditavam na ressurreição dos mortos nem na vinda de um Messias pessoal e Libertador, mas pregavam que Israel já vivia a época messiânica e cabia a eles instruírem os mestres da lei para ensinarem o povo a edificar e preservar esse chamado “estado ideal”. O sumo sacerdote, um entre os demais sacerdotes (Mt 3.7; 22.23-33; Mc 12.18; Lc 20.27; At 5.17; 23.6-8), era escolhido para presidir o Sinédrio (Supremo Tribunal Judaico). 2 Os saduceus haviam tomado a liderança no plano para condenar e crucificar a Jesus (Jo 11.49,50) com a esperança de que, eliminando o líder, aquela “nova seita judaica” que se esboçava viesse a desvanecer-se doutrinariamente e perdesse seus adeptos. Precisamente os saduceus, que não acreditavam na ressurreição (23.6-8), têm agora que lidar com o Espírito do líder ressurreto dos cristãos e com o dinamismo, alegria, poder e carisma dos seus seguidores. 3 Os primeiros cristãos enfatizavam em suas pregações e ensinos o cumprimento das profecias do AT sobre a vida e obra redentora de Jesus Cristo, o Messias (Mt 21.42; 1Pe 2.7), de acordo com Rm 9.33; Is 28.16, o próprio Jesus havia citado Sl 118.22. E sua ressurreição estabeleceu o novo Templo “construído sem mãos” (Jo 2.19; Mc 14.58) que é a habitação de Deus: o coração do indivíduo salvo e a reunião dos crentes, que é a Igreja, o Corpo de Cristo (Ef 2.20). 4 Em comparação com os saduceus e os teólogos da época, Pedro e João eram literalmente “analfabetos” (como está nos originais em grego agrammatos) e “leigos” (da mesma forma em grego idiotai). Entretanto, o Espírito Santo os capacitou de tal maneira, que a coragem, eloqüência, poder e sabedoria de suas palavras fizeram os líderes judaicos deduzirem que aqueles homens haviam estudado e convivido com Jesus (Mc 1.22; 3.14). AT_C_revisado.indd 10 24/7/2007, 20:42:20
  • 11. 11 ATOS 4 ainda mais entre o povo, vamos intimi- vernantes se ajuntam em oposição ao dá-los, exigindo que a ninguém mais Senhor e contra o seu Ungido’. falem sobre este Nome”. 27 De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuni- 18 Então, convocando-os novamente, orde- ram-se com as nações pagãs e os povos de naram-lhes que não falassem, tampouco Israel nesta cidade, para conspirar contra o ensinassem em o Nome de Jesus. seu Santo Servo Jesus, a quem ungiste.5 19 Contudo, Pedro e João propuseram- 28 Realizaram tudo o que, em teu poder lhes: “Julgai vós mesmos se é justo e sabedoria, já havia predeterminado que diante de Deus obedecer a vós mais do aconteceria.6 que a Deus. 29 Agora, pois, ó Senhor, considera as 20 Pois não podemos deixar de falar de ameaças deles e capacita os teus servos tudo quanto vimos e ouvimos!”. para proclamarem a tua Palavra com 21 E, os ameaçando ainda mais, os deixa- toda a intrepidez. ram ir, pois não conseguiram encontrar 30 Estende a tua mão para curar e realizar motivo algum para castigá-los e o povo sinais e maravilhas por meio do Nome estava extasiado, louvando a Deus pelo do teu Santo Servo Jesus!”. que acontecera; 31 E assim que terminaram de orar, 22 pois o homem em quem se operara tremeu o lugar onde estavam reunidos; aquela cura milagrosa tinha mais de todos ficaram plenos do Espírito Santo e, quarenta anos. com toda a coragem saíram anunciando a Palavra de Deus.7 Como os primeiros cristãos oravam 23 Assim que foram soltos, Pedro e João A vida da Igreja de Cristo buscaram a companhia dos seus amigos e 32 E da multidão dos que creram, um só contaram tudo o que os chefes dos sacerdo- era o sentimento e a maneira de pensar. tes e os líderes religiosos lhes haviam dito. Ninguém considerava exclusivamente 24 Ao ouvirem esse relato, os irmãos unâ- seu os bens que possuía, mas todos com- nimes elevaram a voz a Deus e exclama- partilhavam tudo entre si. ram: “Ó Todo-Poderoso Senhor, Tu que 33 Com grande poder os apóstolos con- fizeste o céu e a terra, o mar e tudo o que tinuavam a pregar, testemunhando da neles existe; ressurreição do Senhor, e maravilhosa 25 que, pelo Espírito Santo, por boca de graça estava sobre todos eles.8 nosso pai Davi, teu servo, declaraste: ‘Por 34 Não havia uma só pessoa necessitada en- que os gentios se enfurecem, e os povos tre eles, pois os que possuíam terras ou casas conspiram em vão? as vendiam, traziam o dinheiro da venda 26 Os reis da terra se levantam, e os go- 35 e o depositavam aos pés dos apóstolos, 5 O “Ungido” (em grego: Christos, que é a tradução da palavra hebraica: Mãshïah, Messias). Na oração, os companheiros de Pedro e João, referem-se ao batismo de Jesus quando Deus declarou: “meu filho amado” (Mt 3.17). Herodes Antipas (tetrarca da Galiléia e Peréia) e Pôncio Pilatos (procurador romano na Judéia) são os reis e autoridades (príncipes) mencionados na profecia do Sl 2.1,2 (de acordo com Lc 23.1-24). Santo Servo é novamente uma alusão às profecias de Isaías (Is 52.13 – 53.12). 6 A expressão “predeterminado” (conforme o original grego: prowvrisen) foi somente usada por Paulo e Pedro (1Pe 1.2,20: 2.4-6). O plano de Deus, contemplado e traçado antes da fundação do mundo (Ef 1.4; Ap 13.8), considera em seu contexto amplo as boas e más ações da humanidade sem, contudo, diminuir qualquer responsabilidade pelos atos de cada indivíduo sobre a terra. Deus não força o ser humano a agir de uma forma ou outra. Entretanto, o Senhor vê a história do universo como um todo atemporal, sem os limites de tempos e épocas (passado, presente e futuro) e, portanto, tem o poder de usar os homens, com seus progressos e tragédias, bem como as ações do Diabo, em prol da salvação final e eterna da humanidade, particularmente de todos aqueles que depositarem fé sincera e absoluta em seu Filho Jesus, o Messias Salvador (Jo 1.12-13). 7 A exemplo do que ocorreu no AT, Deus fez tremer o lugar onde seus servos estavam reunidos em oração, como um sinal da sua presença e aprovação (Êx 19.18; Is 6.4). Foi uma maneira através da qual o Senhor renovou nos apóstolos e discípulos, que estavam iniciando a Igreja de Cristo, a experiência do dia do Pentecoste (ou semana do Pentecostes). É o Espírito Santo quem nos capacita com força espiritual, generosidade, coragem (intrepidez), determinação, sabedoria e santidade para testemunhar- mos da salvação que há – somente – em Jesus (8.13,33). 8 A expressão grega original: dunamis significa “poder” e também “milagre” (2.22). Em 2.47, a Igreja (o povo de Deus) recebeu AT_C_revisado.indd 11 24/7/2007, 20:42:22
  • 12. ATOS 4, 5 12 que por sua vez, o repartiam conforme a continuaria teu? E vendido, não estaria necessidade de cada um. todo o dinheiro em teu poder? Como pudestes permitir que tais idéias domi- A oferta de José Barnabé nassem tua vontade?2 36 Então José, um levita natural de Chi- 5 Ao ouvir esta admoestação, Ananias pre, a quem os apóstolos deram o sobre- caiu morto. Então, grande temor tomou nome de Barnabé, que significa “filho da conta de todos os que souberam do que consolação”, havia acontecido. 37 sendo proprietário de um campo, ven- 6 E, alguns jovens tomaram a iniciativa dendo-o, trouxe o dinheiro da venda e o de cobri-lo, carregaram-no para fora e o colocou junto aos pés dos apóstolos.9 sepultaram. 7 Cerca de três horas mais tarde entrou sua A oferta de Ananias e Safira esposa, sem saber o que havia se passado. 5 Entrementes, um certo homem cha- mado Ananias, com sua esposa Safira, também vendeu uma propriedade. 8 E Pedro a questionou: “Dize-me, ven- destes por este preço aquelas terras? Ela confirmou: “Sim, por este preço!”. 2 Mas ele reteve parte do dinheiro da ven- 9 Então Pedro a repreendeu: “Por que vós da para si, tendo conhecimento disso tam- entrastes em acordo para tentar o Espíri- bém sua esposa. Ele levou a parte restante to do Senhor? Eis que estão aí à porta os e a depositou aos pés dos apóstolos.1 pés dos que sepultaram o teu marido, e 3 Então, indagou-lhe Pedro: “Ananias, eles a levarão também”. por que permitistes que Satanás encheste 10 Naquele mesmo instante, ela caiu o teu coração, induzindo-te a mentir ao morta aos pés de Pedro. Então, aqueles Espírito Santo para que ficasses com par- jovens entraram e, encontrando-a mor- te do valor do terreno? ta, levaram-na e a sepultaram ao lado 4 Mantendo-o contigo, porventura não de seu marido. “graça” (no original em grego charin) que significa: “favor, simpatia, apreciação”, da parte do povo. Neste trecho, a “graça” vem de Deus e se constitui na fonte da generosidade e do serviço cristão (2Co 8.1,9). 9 José Barnabé (em grego: “filho de paraklẽsis” – “aquele que exorta, anima, consola”) era primo de João Marcos de Jerusalém (Cl 4.10) e originário de uma família sacerdotal (levita) judaico-cipriota que vivia e possuía propriedades na ilha de Chipre (um país localizado na parte leste do mar Mediterrâneo). Desde os tempos dos macabeus muitos judeus se estabeleceram em Chipre. Esta é a maneira como Lucas apresenta aquele que virá a ser um dos melhores amigos e conselheiros de Paulo: um homem cheio do Espírito e de bondade (9.27; 11.22,25; 13.1-4; 15.37,39). Capítulo 5 1 A palavra “reteve” é a mesma expressão que aparece na tradução grega do AT (Septuaginta) quando narra o pecado de Acã (Js 7.1-25). A mesma avareza, associada à hipocrisia (desejo de manter uma falsa imagem de santidade), gerou mentira, afastamento de Deus e destruição. Veja os exemplos de Nadabe e Abiú (Lv 10.2) e Uzá (2Sm 6.7). Ananias e Safira foram os primeiros exemplos de “falta de sinceridade no serviço cristão” ocorridos nos primórdios da Igreja de Jesus Cristo. Essa terrível experiência demonstrou à Igreja em formação que “de Deus não se zomba” (Gl 6.7). Um grande contraste em relação ao bom exemplo de José Barnabé (4.36). 2 O sentido geral da frase no original revela uma contínua atividade de Satanás, tentando sistematicamente, e por diversos modos, persuadir o ser humano a cair em pecado. A palavra hebraica: sãtãn (Satanás) significa “adversário” e, por isso, foi traduzida para o grego por diabolos. Em Jó 1.6 e Zc 3.1 e nos versos seguintes destas passagens, a palavra sãtãn corresponde ao nome próprio de um anjo mal, cuja principal atividade é acusar os seres humanos diante de Deus e requerer destruição sobre as nações. Essa pessoa absolutamente maligna domina o reino das trevas, possui filhos e anjos caídos a seu serviço; que diuturnamente fazem oposição a Deus (Trindade), seu Reino, anjos e filhos (Mt 12.26; 25.41; 1Jo 3.10). Ainda que Satanás conheça todas as fraquezas humanas e freqüentemente nos sugira maneiras de expressá-las em pecado, os cristãos contam com a poderosa presença de Deus em suas almas, na pessoa do Espírito Santo, e podem – pela fé – rejeitar todos os ardis e sugestões do Inimigo, vencendo as tentações. Os textos de 4.36,37 – 5.1,4 deixam claro que as ofertas e donativos eram atos voluntários, segundo a generosidade de cada um. Os apóstolos não haviam pedido nada, foi o Espírito Santo quem moveu cada pessoa a contribuir conforme a alegria do coração (2Co 9.7). Ananias e Safira não pecaram por ficar com parte do dinheiro da venda de sua propriedade, mas sim por haverem mentido ao Espírito Santo (Deus) e suporem arrogantemente que é possível ao ser humano pensar ou realizar qualquer coisa fora do pleno conhecimento do Senhor. A ofensa contra a Igreja, habitada pelo Espírito, é insulto e pecado contra o próprio Deus (9.5). AT_C_revisado.indd 12 24/7/2007, 20:42:24
  • 13. 13 ATOS 5 11 E grande temor se apoderou de toda apóstolos, jogando-os numa prisão a igreja e de todos os que ouviram falar pública. sobre esses acontecimentos.3 19 Todavia, durante a noite um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere, con- Os sinais dos apóstolos duziu-os para fora e 12 Muitos sinais e maravilhas eram re- 20 instruiu-lhes: “Ide, apresentai-vos no alizados entre o povo pelas mãos dos templo e anunciai às multidões todas apóstolos. E todos os que creram costu- as palavras da Salvação!”.7 mavam reunir-se, em comunhão, junto 21 Assim, ao raiar do dia, eles entraram ao Pórtico de Salomão. no pátio do templo, como haviam sido 13 Todavia, ninguém de fora tinha cora- orientados, e começaram a pregar ao gem de juntar-se a eles, ainda que o povo povo. De outro lado, chegando o sumo os tivesse em grande estima.4 sacerdote e os seus companheiros, ime- 14 Em número cada vez maior, homens e diatamente convocaram o Sinédrio, ou mulheres criam no Senhor e eram acres- seja, toda a assembléia dos principais centados à comunidade, líderes de Israel, e mandaram buscar os 15 a ponto de os doentes serem levados apóstolos na prisão.8 para as ruas e colocados em leitos e ma- 22 Entretanto, ao chegarem à prisão, os cas para que, quando Pedro passasse, ao guardas não os encontraram ali. Então menos sua sombra se projetasse sobre voltaram e comunicaram: alguns deles. 23 “Encontramos o cárcere fechado com 16 Da mesma forma, das cidades ao redor, toda a segurança e as sentinelas nos seus vinha muita gente a Jerusalém, trazen-do postos junto às portas; mas, abrindo-as, doentes e pessoas atormentadas por espí- a ninguém encontramos lá dentro!”. ritos demoníacos, e todos eram libertos.5 24 Diante desse relato, o capitão da guar- da do templo e os chefes dos sacerdotes Os apóstolos são presos e libertos ficaram atônitos, imaginando o que po- 17 Então, o sumo sacerdote e todos os seus deria ter acontecido com os apóstolos. correligionários, membros do partido 25 Nesse momento, chegou alguém com dos saduceus, foram tomados de grande a notícia: “Eis que os homens que reco- inveja.6 lhestes à prisão, estão no pátio do templo, 18 E, por isso, mandaram prender os ensinando ao povo!”. 3 Essa conseqüência drástica em relação ao pecado foi necessária, especialmente no momento em que a Igreja, como Corpo de Cristo, começava a dar seus primeiros passos. Era fundamental que todos soubessem que o Espírito Santo é a própria pessoa do Senhor habitando o corpo do crente, não um tipo de energia qualquer, e não pode ser logrado. Além disso, a Igreja de Jesus Cristo não é uma empresa comercial, tampouco um negócio onde a hipocrisia, fraude ou corrupção possa ser aceita. A disciplina na Igreja, em grande parte, depende da ação corretiva de Deus (1Co 11.30-32; Hb 12.5-11; 1Jo 5.16,17). O poder disciplinador do Pai está em harmonia com sua capacidade de curar, ressuscitar e dar a vida eterna a seus filhos sinceros (Jo 1.12-13). Essa é a primeira vez que a palavra “igreja” ocorre no livro de Atos. A expressão: ekklẽsia, nos originais em grego, era empregada para designar as assembléias religiosas e políticas dos judeus, e os apóstolos passaram a usar a mesma expressão para convocar a reunião dos primeiros cristãos (8.1; 11.22; 13.1; 19.32,40). 4 Lucas usa a expressão “ninguém de fora” para registrar que depois do fim vergonhoso e trágico de Ananias e sua mulher, nenhuma pessoa filiou-se à comunidade cristã daqueles dias sem avaliar a sinceridade e a responsabilidade de tal compromisso com Deus. O v.14 demonstra, entretanto, que muitos “corações convertidos” juntavam-se à Igreja todos os dias (1.14; 8.3,12; 9.2; 13.50; 16.1,13,14; 17.4,12,34; 18.2; 21.5). Essa é a primeira vez em que Lucas faz menção específica a uma quantidade de mulheres convertidas que se tornaram membros da Igreja (v. 14). 5 Cumpre-se a segunda etapa da profecia de Jesus Cristo sobre a propagação do Evangelho: “em toda Judéia” (1.8). 6 Caifás era sumo sacerdote oficial e reconhecido por Roma. Contudo, os judeus consideravam Anás, o sogro de Caifás, o verdadeiro sumo sacerdote, pois esse cargo era vitalício (4.1-6). 7 A expressão aramaica hayye significa “salvação” ou “vida” (13.26). 8 O Supremo tribunal dos judeus era composto de 71 homens (às vezes mais). Sentavam-se num semicírculo, tendo às suas costas três fileiras de seguidores e aprendizes conhecidos como “discípulos dos sábios”. E, na frente, em pé ficavam os escrivães do tribunal. Sinédrio e Senado são termos equivalentes (Mt 26.59-68). AT_C_revisado.indd 13 24/7/2007, 20:42:25
  • 14. ATOS 5 14 26 Então, o capitão foi com os guardas e os 35 E prosseguiu dizendo: “Caros israeli- trouxe outra vez, porém sem violência, pois tas, considerai com toda cautela o que temiam ser apedrejados pela multidão. estais para decidir fazer a estes homens. 27 E, depois de trazê-los, os apresentaram 36 Porquanto, há algum tempo surgiu ao Sinédrio. E o sumo sacerdote os in- Teudas, pregando ser alguém, e apro- terrogou: ximadamente quatrocentos homens se 28 “Não vos ordenamos expressamente juntaram a ele. Todavia, ele foi morto e que não pregásseis nesse Nome? Contu- todos os seus seguidores se dispersaram do, enchestes Jerusalém dessa vossa dou- e acabaram em nada. trina e quereis lançar sobre nós a culpa 37 Depois dele, na época do recensea- pelo sangue desse homem?”. mento, apareceu Judas, o galileu, que 29 Ao que Pedro e os demais apóstolos liderou um grupo revolucionário. Ele, da afirmaram: “É necessário que primeiro mesma forma foi morto, e todos os seus obedeçamos a Deus, depois às autoridades companheiros se espalharam.12 humanas. 38 Contudo, neste caso, vos advirto: afastai- 30 O Deus de nossos antepassados ressus- vos destes homens e deixai-os seguir em citou a Jesus, a quem vós assassinastes, paz. Pois, se a obra ou o propósito deles for crucificando-o num madeiro. de origem meramente humana, perecerá. 31 Deus, no entanto, o exaltou, elevando- 39 Se, todavia, proceder de Deus não o à sua direita, como Príncipe e Salvador, conseguireis jamais impedi-los, pois vos a fim de dar a Israel arrependimento e achareis em guerra contra Deus!”. perdão de pecados.9 40 E as palavras de Gamaliel convenceram 32 Ora, nós somos testemunhas destes fa- a eles. Então, mandaram trazer os após- tos, bem como o Espírito Santo, que Deus tolos e ordenaram que fossem açoitados. concedeu aos que são obedientes a Ele!”.10 Depois, exigiram-lhes que não mais falas- sem no Nome de Jesus e os deixaram sair O sabedoria de Gamaliel em liberdade. 33 Ao ouvir estas palavras, eles muito se 41 Os apóstolos se retiraram do Sinédrio, enfureceram e queriam matá-los. contentes por haverem sido considerados 34 Então, certo fariseu chamado Gama- dignos de serem humilhados por causa do liel, doutor da lei, respeitado por todas as Nome.13 pessoas, levantou-se no Sinédrio e pediu 42 E, todos os dias no templo, bem como que aqueles homens fossem retirados de casa em casa, não deixavam de pregar por um momento.11 e ensinar que Jesus Cristo é o Messias. 9 A palavra “príncipe” (em grego archegon) pode ser também traduzida como “Autor” (3.15). A palavra hebraica “levantou”, assim como as expressões: “Salvador” ou “Libertador” são as mesmas que aparecem em Js 3.9. O arrependimento é a condição imposta pelo Príncipe (Autor) e salvação (remissão) é o galardão maior por Ele concedido aos cristãos sinceros. 10 O testemunho dos apóstolos era dirigido e confirmado pelo Espírito Santo, que convence o mundo mediante a Palavra e é concedido a todos que correspondem ao amor e convite de Deus com a obediência que vêm pela fé (Rm 1.5). Em meio aos muitos prodígios, maravilhas e conversões, cumpriu-se a promessa de Cristo (Jo 16.7-14). 11 Gamaliel pertencia a um partido popular judaico que dava ênfase à absoluta obediência da Lei como o caminho da Salvação. Embora fariseu, representava a renomada escola de Hilel, que favorecia uma interpretação mais liberal e humanizante da Lei. Uma das doutrinas características dos fariseus é que “Deus está acima de tudo e não precisa do auxílio de ninguém para cumprir seus desígnios. O que é de Deus se estabelecerá, o que não é jamais se firmará”. Gamaliel era respeitado por sua devoção a Deus, sabedoria e erudição. Foi mestre de Saulo que viria a se tornar o apóstolo Paulo (22.3). 12 Quando a Judéia foi reduzida à província romana, no ano 6 d.C., Quirino, procurador imperial na Síria, promoveu um re- censeamento com o fim de calcular a soma do tributo a que a nova província estava obrigada a recolher para Roma. Foi quando Judas, cidadão de Gamala e outros revolucionários, considerando isso um prelúdio de escravidão e uma desonra a Deus, o único e verdadeiro Rei de Israel, desfraldou a bandeira da revolta. Esta foi esmagada, porém o partido dos Zelotes conservou-lhe vivo os ideais (1.13; Mt 10.4). 13 Os apóstolos receberam a punição judaica de “quarenta açoites menos um” (2Co 11.24). Entretanto, consideraram tudo isso como o cumprimento da “bem-aventurança” de padecer por amor a Jesus Cristo e pela proclamação do Evangelho (Mt 5.10-12; Lc 6.22,23). AT_C_revisado.indd 14 24/7/2007, 20:42:28
  • 15. 15 ATOS 6 A escolha de sete diáconos fé e do Espírito Santo, além de Filipe, 6 Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número de discípulos, houve uma queixa entre eles. Os judeus helenistas Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. protestaram contra os judeus de fala 6 Apresentaram-nos diante dos apósto- hebraico-aramaica, porque suas viúvas los, os quais oraram e lhes impuseram não estavam sendo atendidas na distri- as mãos.4 buição diária de alimentos.1 7 E a Palavra de Deus era divulgada, de 2 Então, os Doze reuniram todos os dis- modo que se multiplicava grandemente o cípulos e propuseram: “Não é sensato número dos discípulos em Jerusalém; in- negligenciarmos o ministério da Pala- clusive, muitos sacerdotes obedeciam a fé.5 vra de Deus, a fim de servir às mesas.2 3 Portanto, irmãos, escolhei dentre Estevão é levado ao Sinédrio vós Sete homens de bom testemunho, 8 Estevão, homem cheio de graça e do cheios do Espírito e de sabedoria, aos poder de Deus, realizava prodígios e quais encarregaremos deste ministério.3 sinais milagrosos entre as multidões.6 4 Quanto a nós, nos devotaremos à ora- 9 Entretanto, levantaram-se alguns que ção e ao ministério da Palavra. pertenciam à chamada sinagoga dos 5 Tal proposta agradou a todos. Então, Libertos, dos judeus de Cirene e de escolheram Estevão, homem cheio de Alexandria, assim como das províncias 1 Há um intervalo de tempo considerável e impreciso entre o final do cap.5 e este momento no qual, devido ao gigantismo da Igreja que continuava crescendo sem parar (5.14), problemas administrativos estavam ocorrendo, tanto dentro (6.1-7) quanto fora da comunidade (6.8 – 7.60). Nesta altura dos acontecimentos, a Igreja era formada integralmente por judeus convertidos à doutrina de Jesus Cristo e batizados com o Espírito Santo. Contudo, havia dois grupos bem distintos de judeus que conviviam dentro da comunidade dos crentes: 1) Os judeus helenistas (essa é a primeira vez que esse termo é usado na literatura grega) ou de fala grega, pois pertenciam a uma geração nascida em países fora da Palestina, cujos conceitos e hábitos eram mais gregos que hebreus. 2) Os judeus hebreus pertenciam à geração nascida na Palestina e que falava o aramaico, uma língua derivada do hebraico e muito popular entre os mais jovens. Eles aprendiam a ler a Bíblia hebraica e procuravam manter as tradições e cultura judaicas. Entretanto, o zelo missionário partiu dos crentes helenistas menos tradicionais e mais comunicativos, pois falavam grego, que era a língua franca em todo o Império Romano. As viúvas, tradicionalmente protegidas pela Lei, ficaram sob os cuidados da Igreja (4.35; 11.28,29; 1Tm 5.3-16). 2 O vocábulo grego original: diakonein (diáconos) significa “servidores” ou “ministros”, e foi usado por Lucas para descrever o trabalho de “servir às mesas”, ou seja, zelar e prover às viúvas o sustento de cada dia (Fp 1.1; 1Tm 3.6). Nesse momento da Igreja, os apóstolos estavam sobrecarregados, pois eram responsáveis por toda a ministração da Palavra, curas e outros milagres; e ainda cuidavam da arrecadação de ofertas, distribuição dos recursos entre as famílias da comunidade, ajuda às viúvas, órfãos e demais necessitados. 3 A Igreja distingüiu homens cheios do Espírito Santo (v.5), e os Doze (como eram chamados pela Igreja) comissionaram os Sete (21.8), escolhidos democraticamente pelos crentes (v.6). Desta maneira, foram nomeados para realizar seu “serviço cristão” (ministério). Curiosamente, todos têm nomes gregos, mas somente Estevão e Filipe são citados novamente por Lucas (6.8 – 7.60; 8.5-40; 21.8,9). E havia um prosélito (um gentio convertido ao judaísmo) que era de Antioquia, cidade para a qual o Evangelho seria levado dentro em breve, e se tornaria a “sede” da primeira grande campanha missionária de evangelização aos gentios. 4 A imposição de mãos tem uma simbologia e um significado muito amplo e profundo. No AT era usada para outorgar bênçãos (Gn 48.13-20); para transferir a culpa do pecador para o sacrifício oferecido (Lv 1.4); e para comissionar uma pessoa a uma nova responsabilidade ou desafio (Nm 27.23). No período do NT, as mãos eram colocadas sobre as pessoas que eram agraciadas com curas e livramentos (28.8; Mc 1.41), na invocação de bênçãos (Mc 10.16), na ordenação ou comissionamento (6.6; 13.3; 1Tm 5.22), bem como na outorga de dons espirituais (8.17; 19.6; 1Tm 4.14; 2Tm 1.6). 5 Esse é mais um dos relatórios sobre o crescimento da Igreja apresentados por Lucas durante o livro de Atos (1.15; 2.41; 4.4; 5.14; 6.7; 9.31; 12.24; 16.5; 19.20; 28.31). Lucas ainda enfatiza a conversão de sacerdotes que, apesar do seu compromisso vitalício com os serviços relativos ao cumprimento das ordenanças da antiga aliança, compreenderam o ensino dos apóstolos quanto ao sacrifício vicário de Jesus Cristo, o qual tornou desnecessário qualquer outro tipo de sacrifício (Hb 8.13; 10.1-4, 11-14). Além disso, movidos pelo Espírito Santo, passaram a obedecer de bom grado, aos princípios do Evangelho da Graça (Rm 1.5; Ef 2.8-10; Tg 2.14-26). Zacarias foi um exemplo, na época de Cristo, de sacerdote convertido a Jesus (Lc 1.5-6). 6 Até esse momento Lucas narrou exclusivamente os apóstolos realizando milagres e maravilhas (2.43; 3.4-8; 5.12). A partir de agora, porém, após a imposição de mãos dos apóstolos, Estevão – pleno do Espírito e de fé – passa a ministrar sinais e prodígios entre o povo. Mais adiante, veremos Filipe também operando milagres para a glória de Jesus Cristo e salvação dos crentes (8.6). AT_C_revisado.indd 15 24/7/2007, 20:42:30
  • 16. ATOS 6, 7 16 da Cilícia e da Ásia. E, estes homens 2 Diante disso, declarou Estevão: “Caros começaram a discutir com Estevão;7 irmãos e pais, ouvi-me com atenção! 10 contudo, não podiam resistir a O Deus da glória apareceu a Abraão, sabedoria e ao Espírito com que ele nosso pai, estando ele ainda na Meso- argumentava. potâmia, antes de morar em Harã, e lhe 11 Sendo assim, subornaram alguns ou- ordenou:1 tros homens para o caluniarem: “Nós o 3 ‘Sai da tua terra e da comunidade dos temos ouvido proferir palavras ultrajan- teus parentes e vai para a terra que Eu te tes contra Moisés e contra Deus!”. mostrarei’. 12 Com isso, conseguiram incitar o 4 Então, ele saiu da terra dos caldeus e se povo, os líderes religiosos e os mestres estabeleceu em Harã. Após a morte de da lei. E, prendendo Estevão, conduzi- seu pai, Deus o trouxe para esta terra em ram-no à presença do Sinédrio. que vós agora habitais. 13 Ali apresentaram falsas testemunhas 5 Nela, Deus não lhe deu nenhuma he- que alegavam: “Este homem não pára rança, nem ao menos o espaço de um pé. de proferir blasfêmias contra este santo Todavia, prometeu que lhe daria a terra lugar e contra a lei.8 como herança, e mesmo depois dele à 14 Porquanto nós o temos ouvido procla- sua descendência, quando ele ainda não mar que esse Jesus de Nazaré destruirá tinha nenhum filho. este lugar e mudará as tradições que 6 E Deus lhe falou desta forma: ‘Teus Moisés nos legou!”.9 descendentes serão peregrinos numa 15 Então, todos os que estavam assenta- terra estrangeira e serão escravizados e dos no Sinédrio, ao fixarem seus olhos maltratados por mais de quatrocentos em Estevão, viram que seu rosto parecia anos.2 como o rosto de um anjo.10 7 Contudo, Eu punirei a nação a quem ser- vireis como escravos e, depois disso, saireis O depoimento de Estevão livres dali e me adorareis neste lugar’. 7 Então, o sumo sacerdote interpelou a Estevão: “Porventura são verdadeiras estas acusações contra ti?”. 8 E assim, concedeu a Abraão a aliança da circuncisão. Por esse motivo, Abraão gerou a Isaque e o circuncidou oito dias 7 Os membros da sinagoga de “Libertos” eram descendentes dos judeus levados cativos para Roma pelo imperador Pompeu (63 a.C.) e que logo foram libertos, junto com outros judeus das regiões mencionadas nessa passagem bíblica. 8 O templo era o lugar mais sagrado do mundo e centro do universo para os judeus por ser a habitação de Deus. A Lei oferecia como único caminho para a salvação a obediência absoluta à Lei e aos sacrifícios no Templo. Evidentemente, que qualquer insinuação contrária à Lei ou à reverência devida a Deus era considerada como blasfêmia (ultraje) e punida com a morte. Contudo, a própria Lei previa um julgamento justo mediante várias testemunhas. Porém, os acusadores de Estevão usaram os mesmos artifícios que já se haviam provado eficientes contra Jesus: falsos depoimentos, calúnias e incitação popular (Mc 14.56- 64). Os mesmos argumentos seriam usados contra Paulo e muitos mártires da Igreja (21.28). 9 Estevão, como os demais “servos” do Senhor, estava anunciando que a fé cristã não se conservaria dentro dos estreitos e legalistas limites do judaísmo (Mc 7.18,19; Mt 23.25,26; Lc 11.39-41), e antecipa a nova e universal teologia, que seria sistematizada por Paulo mais tarde. 10 A aparência radiante, poderosa e angelical de Estevão indica um fenômeno físico-espiritual de transfiguração na presença de um acompanhante sobrenatural (2Co 3.18 de acordo com Êx 34.29 e Mt 17.2). Capítulo 7 1 O primeiro chamado de Abraão ocorreu na cidade de Ur (Gn 15.7; Ne 9.7). Em Harã, houve uma renovação desta convocação missionária (Jr 15.19-21). Estevão não estava preocupado em salvar-se a si mesmo, mas sim, tentou abrir o entendimento e o coração dos líderes judeus para os erros que vinham cometendo ao rejeitar o chamamento de Deus e, por fim, seu próprio Filho, o Messias. Estevão não se preocupa em responder diretamente às acusações feitas em 6.11-14. Em sua defesa apresenta uma visão teológica universal do Evangelho: 1) Deus não limita seus encontros com a humanidade às congregações, (tabernáculos) nem ao Templo. Por isso, chamou Abraão, José, Moisés e outros profetas. Além disso, as primeiras grandes revelações de Deus aconteceram em terras gentias: Ur, Harã, Egito, Sinai. 2) Israel sempre foi insensível à voz de Deus e, em sua rebeldia extrema, rejeitou os profetas do Senhor, finalmente crucificando o próprio Filho de Deus – Jesus, o Justo (52). 2 Israel peregrinou pelo deserto por 430 anos (Êx 12.40,41 e Gl 3.17). O povo de Deus não deve se apegar a sua casa, país ou cultura. Somos cidadãos do Reino dos céus (Hb 11.8; 16). AT_C_revisado.indd 16 24/7/2007, 20:42:32