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COMO LER UMA PARTITURA MUSICAL

         Este documento tem como objectivo fornecer os fundamentos mínimos
         para a leitura de partituras musicais. Não pretende ser demasiado
         rigoroso nem profundo, mas sim dar uma visão geral do que pode
         aparecer de relevante numa partitura musical.
         Sempre que se ache útil será indicado o termo equivalente em inglês
         para permitir a consulta de informação na língua inglesa.


1. Leitura de notas numa partitura

      Uma pauta (stave, em inglês) é constituída por um conjunto de 4 espaços
delimitados por 5 linhas equidistantes cuja função é a identificação das notas (sons). A
cada espaço ou linha corresponderá apenas a uma nota. Além destas linhas principais
existem as linhas suplementares que só são utilizadas se existirem notas cuja localização
seja fora das 5 linhas principais. Essas linhas não são totalmente desenhadas, apenas o
suficiente para se perceber qual a localização exacta da nota.
      O conjunto de linhas e espaços, por si só não tem qualquer significado, é necessário
existir uma linha ou espaço que sirva de referência. Assim, surge a clave (clef), uma
espécie de “chave” indicando a localização de uma nota (note) e, por relatividade, das
restantes.
      As claves mais comuns são as seguintes:




                                  fig. 1 – claves mais comuns

      As claves de Sol e de Fá são as mais utilizadas, sendo, a primeira a que mais se
destaca. Por isso, nos exemplos que surgirem mais à frente será utilizada
predominantemente a clave de Sol.
      O nome da clave vem da nota que é indicada pela mesma (nota a vermelho na fig.
2). A clave de Sol dá a informação da nota correspondente à 2ª linha (as linhas contam-se
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de baixo para cima) ser um Sol. Na clave de Dó é indicado, pela re-entrância                 da
curva/chaveta, que a nota Dó escreve-se na 3ª linha. Os dois pontos da clave de Fá
indicam qual a linha que corresponde a um Fá.




                                  fig. 2 – notas em diferentes claves

         Qual a utilidade de existirem claves diferentes ? O objectivo é que a maior parte das
notas sejam inscritas em linhas de pauta e não em linhas suplementares, já que seria,
neste caso, mais difíceis de ler. Assim, a clave de Sol usa-se para notas correspondentes a
sons de médios a agudos, a clave de Dó para os médios e a de Fá para sons graves a
médios.


         Na fig. 3 estão representadas
exactamente as mesmas notas em cada
clave.
         É notória a diferença resultante da
utilização de diferentes claves para
escrever exactamente o mesmo trecho !




                                                                        fig. 3
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      A fig. 4 ilustra a relação entre as claves.




                                      fig. 4 – relação entre claves

      Na escrita de música (music score) para piano utiliza-se um sistema constituído
pela clave de Sol e de Fá.




                             fig. 5 – exemplo duma partitura para piano

      As duas pautas correspondentes a cada clave estão separadas fisicamente, embora
exista uma relação entre elas. A ligação é feita pelo Dó central (ver fig. 6) que
corresponde ao que é escrito na linha suplementar imediatamente abaixo da 1ª linha de
pauta da clave de Sol. Existem duas representações alternativas à já referida: o Dó pode
ser escrito na linha suplementar imediatamente acima da 5ª linha da clave de Fá ou a
meia distância entre a linha superior da clave de Fá e a inferior da clave de Sol (fig. 6).
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                                      fig. 6 – Dó central

      Na denominação inglesa as designações clave de Sol, clave de Dó e clave de Fá
correspondem a treble clef, alto clef e bass clef, respectivamente.
      O nome das notas segue as letras do alfabeto começando no Lá.


                          Português Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol

                            Inglês    A B       C     D     E   F   G
                                           tabela 1

      Alternativamente, também se pode encontrar G clef, C clef ou F clef com a
designação de treble clef, alto clef ou bass clef, respectivamente.


      Existem apenas sete notas naturais (mais à frente serão apresentadas outras) - Dó,
Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si – que serão repetidas, tal como se tivessemos uma linha fechada
(… Lá, Si, Dó, Ré, …, Si, Dó, …). À gama de notas compreendidas entre o Dó e o Si dá-
se o nome de oitava. Logo, a linha fechada é constituída por sequências adjacentes de
oitavas.
      Como distinguir, por exemplo, dois Dós que se encontram em oitavas diferentes e,
por isso, têm localizações diferentes na pauta tal como se pode ver na fig. 7 ?




                                            fig. 7
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      Através do número da oitava! Tal como já foi dito, cada grupo de sete notas
consecutivas constitui uma oitava e cada uma terá um número associado. É o número da
oitava que distingue duas notas com o mesmo nome mas localizações diferentes nas
linhas/espaços da pauta.
      O número das oitavas muda nos Dós correspondendo o número 3 ao Dó central (o
da linha suplementar imediatamente abaixo da 1ª linha de pauta da clave de Sol). A
contagem é crescente no sentido ascendente tal como a figura seguinte mostra.




                                           fig. 8




2. Ritmo, tempo e compasso

      O ritmo é o termo utilizado para expressar as relações temporais de elementos
musicais. Cada nota tem associada uma certa duração que é representada por uma figura
rítmica.
      As principais figuras rítmicas são as que se apresentam na tabela 2.
      As figuras estão representadas por ordem decrescente de duração. Cada figura
rítmica tem o dobro da duração da presente na linha abaixo e metade da de cima.
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                   Denominação        Denominação              Denominação            Fracção
      Símbolo
                    portuguesa          inglesa                 americana

                     semibreve          semibreve                whole note                1

                       mínima             minim                   half note                2


                      semínima           crotchet               quarter note               4


                       colcheia           quaver                 eighth note               8


                    semicolcheia        semiquaver             sixteenth note             16


                            fusa      demisemiquaver         thirty-second note           32

                                           tabela 2

      Na coluna “fracção” indica-se a fracção da duração da figura rítmica relativamente
à semibreve.
      Se numa partitura (staff) aparecerem duas colcheias, semicolcheias ou fusas
seguidas, poderão ser representadas com recurso a barras em vez de caudas.
Exemplo:




                                                      fig. 10 – elementos constituintes das figuras
                   fig. 9                                               rítmicas



      Anexado à figura rítmica pode existir um ponto, chamado ponto de aumentação,
que aparece imediatamente à direita da figura. Pretende-se com o ponto de aumentação
indicar que a figura passa a valer o que valia sem o ponto mais metade da sua duração.
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                                     fig. 11 – ponto de aumentação

      Existe uma outra forma de prolongar a duração da nota, recorrendo-se a ligaduras
de prolongação (slurs) que são representadas por um arco que indica quais as notas a
serem ligadas, tal como se pode ver na fig. 12.




                                                                 fig. 13 – equivalente à fig. 12
        fig. 12 – ligadura de prolongação



      A fig. 13 mostra a notação equivalente à da fig. 12 se se utilizar um ponto de
aumentação.


      As figuras rítmicas vistas até este momento indicam a presença de som. Podem, no
entanto, existir alturas em que se deseja ter silêncio numa música. A indicação de silêncio
é representada pelas pausas cuja duração é equivalente à da figura rítmica com o mesmo
nome.
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                    Denominação               Denominação          Denominação
   Símbolo
                     Portuguesa                  inglesa            americana
                  pausa de semibreve          semibreve rest       whole note rest

                   pausa de mínima              minim rest           half note rest

                  pausa de semínima            crotchet rest       quarter note rest

                   pausa de colcheia            quaver rest        eighth note rest

                pausa de semicolcheia        semiquaver rest      sixteenth note rest

                     Pausa de fusa        demisemiquaver rest   thirty-second note rest
                                           tabela 3

      A diferença entre a pausa de semibreve e a pausa de mínima é que a primeira é
escrita por baixo da 4ª e a de mínima por cima da 3ª linha.




                                        fig. 14 - pausas

      Como foi dito as figuras rítmicas indicam a duração relativa dos sons ou silêncios e
não a duração efectiva. O valor real das figuras rítmicas é indicado pelo tempo. É
frequente o tempo ser especificado por algo semelhante a - q = 72 - significando que
num minuto conseguem-se “tocar” 72 semínimas. Outra forma de indicar o tempo é
através de uma palavra (por exemplo: allegro, andante) que tem inerente uma gama de
valores do número de vezes da unidade de tempo até perfazer 1 minuto.


      Uma partitura encontra-se dividida em partes de igual duração: os compassos (time
signature). A utilidade de dividir uma música por compassos é organizar os tempos de
forma a facilitar a interpretação da peça. O compasso dá a informação sobre a
acentuação, isto é, quais os tempos fortes e os fracos. Regra geral, o primeiro tempo de
cada compasso é forte!
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      Existem apenas dois tipos de compassos cuja diferença é a unidade de tempo:
compassos simples e compostos. A unidade de tempo nos simples é a semínima enquanto
que nos compostos é a semínima com ponto.
      A divisão dos compassos faz-se por uma barra vertical fina desde a 1ª linha até à 5ª.
Exemplificam-se de seguida um dos possíveis compassos para cada um dos tipos.




                                          fig. 15

      Existem três possibilidades de representar o compasso: por algarismos, por uma
letra ou por um algarismo e uma figura rítmica. O código composto por algarismos é
constituído por dois números tal como se se tratasse duma fracção. O “numerador” indica
quantas figuras rítmicas iguais à indicada pelo “denominador” perfazem um compasso.
No “denominador” vem um número que indica a figura rítmica de referência da seguinte
forma:

                                      2                     8


                                      4                     16



      Logo, o composto 6/8 diz que a duração de cada compasso é equivalente à de 6
colcheias.
      O “C” serifado é uma notação alternativa a 4/4 significando, por isso, que a duração
de cada compasso é a de 4 semínimas.


exemplos de compassos simples →                     2   4        2   3   4
                                                    8   8        4   4   4
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exemplos de compassos compostos →                      6     12       6    9
                                                       8      8      16   16




                                fig. 16 – equivalência de notações

      Nem todos os compassos estão completos, por exemplo, no compasso quaternário
(duração equivalente a 4 semínimas) pode existir um com duração de apenas duas
semínimas. Isto só acontece quando uma música começa em anacrusa.
      Em suma, uma música que começa em anacrusa caracteriza-se por ter o primeiro
compasso incompleto assim como o último. O último tem a duração que falta ao primeiro
para ficar completo!
      Mas, qual o interesse de começar em anacrusa ?
      Como já foi dito a divisão por compasso serve para especificar a acentuação, ou
seja, quais os tempos fortes e fracos num compasso. Dado que o primeiro tempo de um
compasso é forte, pode ser desejável começar por um fraco, logo inicia-se a música em
anacrusa de forma a contornar esse problema.
      Exemplo de entrada em anacrusa num compasso 6/8:




                                             fig. 17
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      Existem alguns ritmos que não se conseguem escrever com as figuras até agora
apresentadas. Assim surgem as quiálteras que são figuras irregulares, uma vez que não
têm duração de fracção inteira das já apresentadas.
      As quiálteras mais utilizadas são a tercina (triplet) e a duína (duplet). A duína está
para os compassos compostos assim como a tercina para os simples.
      A indicação da presença duma tercina é efectuada pela inclusão do número 3 por
cima ou por baixo das figuras rítmicas e optionalmente um arco ou parêntises recto. Na
duína é exactamente igual mas em vez de um 3 aparece um 2.




                                        fig. 18 - quiálteras

      A duração equivalente destas quiálteras é:




                        fig. 19 – duração equivalente da duína e da tercina




3. Alterações e tonalidade

      No capítulo 1 foram abordadas as notas naturais. Além destas existem outras
resultantes de notas naturais afectadas por uma alteração.
      As alterações possíveis encontram-se na tabela 4.
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                  Símbolo      Nome da alteração                Efeito habitual
                                      duplo bemol                 desce 1 tom

                                        bemol                     desce ½ tom

                                       bequadro                 desfaz alterações
                                                            igual a nota natural
                      #                sustenido                sobe ½ tom

                                 duplo sustenido                   sobe 1 tom
                                        tabela 4 - alterações

      Na tabela são referidos tons e ½ tons. Mas afinal, o que é um tom ?
      Tom é a unidade de medida de distância entre duas notas. Atente-se ao exemplo das
teclas de um piano.




                                               fig. 20

      A distância entre duas teclas brancas adjacentes, existindo uma preta entre elas, é
de 1 tom (tone), se não existir a tecla preta no meio então distam de ½ tom (semitone); a
distância entre uma tecla preta a uma branca adjacente é de ½ tom.
      A utilização da palavra subir e descer refere-se à escrita na partitura. As notas mais
agudas são escritas mais acima do que as graves, logo subir significa que se vai obter
uma nota mais aguda. Nas teclas do piano, subir significa andar para a direita e, descer
(nota mais grave) para a esquerda.
      Na fig. 20 consegue-se reparar que Dó sustenido (sharp) é igual a Ré bemol (flat),
Ré sustenido a Mi bemol, …


      Agora que já sabemos o que são sustenidos e bemóis e qual o seu significado,
podemos falar um pouco sobre tonalidade (key signature). Uma das informações que dá
a tonalidade é quais os bemóis ou sustenidos que vão estar por defeito em toda a música,
A+ - Como ler uma partitura musical                                              13/19


isto é, as alterações fixas. Estas alterações são indicadas no início da música através da
denominada armação de clave que é constituída pela clave, alterações e compasso (nesta
mesma ordem). A vantagem da utilização de alterações fixas é a de permitir a não
obrigatoriedade de inserir um sustenido ou bemol em algumas notas em toda a música.
      Exemplo de algumas armações de clave com alterações fixas:




                          fig. 21 – armação de clave com alterações fixas

      Além das alterações fixas existem também alterações ocasionais que se
caracterizam por inserir um bemol ou sustenido antes duma determinada nota. A partir do
momento dessa alteração e até ao final do compasso, todas as notas com o mesmo nome
quer estejam na mesma oitava ou em diferentes, serão afectadas pela alteração. No
compasso seguinte a alteração já não tem qualquer efeito (ver fig. 22).
      Os bequadros (natural) têm a função de cancelar o efeito dos sustenidos ou bemóis.
Dentro de um compasso a sua influência é igual à dos sustenidos ou bemóis.




                              fig. 22 – zona de efeito das alterações
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4. Outras notações existentes numa partitura

      Por vezes numa partitura existe mudança de compasso, clave e/ou mudança de
tonalidade (através mudança de alterações fixas).
      Quando a mudança de compasso acontece na mudança de linha, existe uma
espécie de compasso vazio no final da linha para indicar que na próxima temos um
compasso diferente. Além desta indicação, na linha do compasso diferente aparece a
indicação do novo compasso.




                                  fig. 23 – mudança de compasso

      Na fig. 23 estão duas representações equivalentes para o mesmo compasso, a
notação dentro de parêntises é redundante !


      A mudança de tonalidade, por modificação das alterações fixas, é semelhante à
mudança de compasso.




                   fig. 24 – mudança de alterações fixas (mudança de tonalidade)
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      Na mudança de clave, aparece uma clave de tamanho menor imediatamente antes
da mudança.




                                      fig. 25 – mudança de clave



      O sinal de repetição (dois pontos + duas barras) que aparecem na fig. 26 servem
para indicar que se deve repetir o trecho. No caso da fig. 26, não existiria qualquer
diferença se a primeira barra de repetição fosse retirada porque, quando se encontra uma
barra de repetição com a orientação da segunda deve-se voltar a repetir o trecho desde a
última barra de repetição, com orientação igual à primeira se existir, ou desde o início.




                                      fig. 26 – barras de repetição

      Podem também existir repetições condicionadas, das quais a partitura da fig. 27 é
um exemplo. “1.” e “2.” indica que se deve tocar tudo até chegar ao compasso com o
“1.”. Toca-se esse compasso e volta-se a repetir só que na repetição toca-se o compasso
“2.” em detrimento do “1.”.




                                                 fig. 27

      A fig. 27 também serve de exemplo de uma partitura onde existem duas vozes.
Duas vozes significa, como a própria palavra sugere, duas melodias mais ou menos
A+ - Como ler uma partitura musical                                             16/19


independentes. Uma das vozes tem as hastes para cima enquanto que a outra tem as
hastes para baixo. As notas que aparecem sobrepostas na vertical terão de ser tocadas ao
mesmo tempo. A entrada em anacrusa é constituída por uma semínima e uma pausa de
semínima, se existisse apenas uma voz não seria necessário assinalar a pausa.
      A escrita diferenciada de duas vozes tem o intuito de facilitar a interpretação da
peça. Não é necessário existirem duas vozes separadas explicitamente para se ter de tocar
mais do que uma nota ao mesmo tempo, basta existir mais do que uma nota com o
mesmo alinhamento vertical.




                                           fig. 28



      A variação de volume e acentuação fazem parte da dinâmica. Normalmente as
indicações de dinâmica aparecem em italiano.
      Um crescendo indica aumento gradual de volume ao contrário de um decrescendo
(fig. 29).
      Por baixo de algumas notas pode aparecer um sinal “maior do que” indicando que
essa nota é mais forte do que as outras, isto é, deve ser tocada com maior volume. A este
sinal dá-se o nome de sinal de acentuação.




     sinal de
     acentuação




    diminuendo                 crescendo

                                      fig. 29 - dinâmica
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      f e ff significam forte e fortissimo, respectivamente. Servem para indicar o volume
relativo com que se toca cada uma das partes desde a ocorrência de uma destas letras.
Outras letras indicadoras de zonas homogéneas de volume são:


                 Símbolo        Denominação                   Significado
                    pp            pianissimo             sonoridade muito suave
                    mp           mezzo-piano                  meio suave
                     p                piano                      suave
                    mf           mezzo forte                   meio forte
                     f                forte                      forte
                     ff           fortissimo                  muito forte
                                              tabela 5

      Existem vários tipos de ornamentos, formas de decorar uma música,
nomeadamente apogiaturas e mordentes. A sua interpretação difere um pouco com a
época e autor (é caso para dizer “Cada tolo tem a sua mania!”). Duma forma geral, sem
ser muito rigoroso, apogiatura é a inclusão duma nota antes da desejada com muito curta
duração. A nota da apogiatura representa-se com dimensões menores do que as principais
(fig. 30).
      Os mordentes são muito semelhantes mas são constituídos por duas ou mais notas
antes da principal. Tal como nas apogiaturas escrevem-se com dimensões menores (ver
fig. 30).
                                                                  mordente




                apogiatura
                                       fig. 30 - ornamentos

      Na pauta da esquerda da fig. 30 estão uns pontos por baixo das figuras rítmicas.
Não se tratam de pontos de aumentação pois, esses são escritos à direita das figuras e não
por baixo. Os pontos por baixo, ou por cima, das figuras significam que deve ser tocada
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em staccato. Tocar em staccato equivale a retirar alguma duração às figuras rítmicas.
Toca-se a tempo mas reduz-se a sua duração com a introdução de silêncio. Cria-se assim
a sensação de música um pouco saltitante ou picada.
      O oposto de staccato é o legato, ou ligadura de expressão (tie), que obriga a
prolongar ao máximo cada figura. É representada por um arco por baixo ou por cima das
notas (fig. 31).




                                     fig. 31 - ligaduras de expressão




5. Instrumentos transpositores

      Apenas a título indicativo é que se aborda os instrumentos transpositores.
      Instrumentos transpositores são instrumentos cuja escrita não corresponde à nota
efectivamente ouvida.
      O objectivo de se utilizar escrita de instrumentos transpositores é para facilitar a
escrita, por exemplo, para evitar ter muitas linhas suplementares, ter muitos sustenidos e
bemóis que só iriam dificultar a leitura.
      Por exemplo, na guitarra a nota que se ouve corresponde a uma oitava abaixo da
que é escrita, chamando-se por isso instrumento transpositor à oitava. No trompete, a nota
ouvida soa 1 tom abaixo da escrita.




       fig. 32 – transposição da guitarra                        fig. 33 – transposição do trompete
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      Exemplo de outros instrumentos transpositores é o caso do saxofone, clarinete,
flauta de bisel, violino, violoncelo e do contrabaixo.

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Leitura de partituras

  • 1. COMO LER UMA PARTITURA MUSICAL Este documento tem como objectivo fornecer os fundamentos mínimos para a leitura de partituras musicais. Não pretende ser demasiado rigoroso nem profundo, mas sim dar uma visão geral do que pode aparecer de relevante numa partitura musical. Sempre que se ache útil será indicado o termo equivalente em inglês para permitir a consulta de informação na língua inglesa. 1. Leitura de notas numa partitura Uma pauta (stave, em inglês) é constituída por um conjunto de 4 espaços delimitados por 5 linhas equidistantes cuja função é a identificação das notas (sons). A cada espaço ou linha corresponderá apenas a uma nota. Além destas linhas principais existem as linhas suplementares que só são utilizadas se existirem notas cuja localização seja fora das 5 linhas principais. Essas linhas não são totalmente desenhadas, apenas o suficiente para se perceber qual a localização exacta da nota. O conjunto de linhas e espaços, por si só não tem qualquer significado, é necessário existir uma linha ou espaço que sirva de referência. Assim, surge a clave (clef), uma espécie de “chave” indicando a localização de uma nota (note) e, por relatividade, das restantes. As claves mais comuns são as seguintes: fig. 1 – claves mais comuns As claves de Sol e de Fá são as mais utilizadas, sendo, a primeira a que mais se destaca. Por isso, nos exemplos que surgirem mais à frente será utilizada predominantemente a clave de Sol. O nome da clave vem da nota que é indicada pela mesma (nota a vermelho na fig. 2). A clave de Sol dá a informação da nota correspondente à 2ª linha (as linhas contam-se
  • 2. A+ - Como ler uma partitura musical 2/19 de baixo para cima) ser um Sol. Na clave de Dó é indicado, pela re-entrância da curva/chaveta, que a nota Dó escreve-se na 3ª linha. Os dois pontos da clave de Fá indicam qual a linha que corresponde a um Fá. fig. 2 – notas em diferentes claves Qual a utilidade de existirem claves diferentes ? O objectivo é que a maior parte das notas sejam inscritas em linhas de pauta e não em linhas suplementares, já que seria, neste caso, mais difíceis de ler. Assim, a clave de Sol usa-se para notas correspondentes a sons de médios a agudos, a clave de Dó para os médios e a de Fá para sons graves a médios. Na fig. 3 estão representadas exactamente as mesmas notas em cada clave. É notória a diferença resultante da utilização de diferentes claves para escrever exactamente o mesmo trecho ! fig. 3
  • 3. A+ - Como ler uma partitura musical 3/19 A fig. 4 ilustra a relação entre as claves. fig. 4 – relação entre claves Na escrita de música (music score) para piano utiliza-se um sistema constituído pela clave de Sol e de Fá. fig. 5 – exemplo duma partitura para piano As duas pautas correspondentes a cada clave estão separadas fisicamente, embora exista uma relação entre elas. A ligação é feita pelo Dó central (ver fig. 6) que corresponde ao que é escrito na linha suplementar imediatamente abaixo da 1ª linha de pauta da clave de Sol. Existem duas representações alternativas à já referida: o Dó pode ser escrito na linha suplementar imediatamente acima da 5ª linha da clave de Fá ou a meia distância entre a linha superior da clave de Fá e a inferior da clave de Sol (fig. 6).
  • 4. A+ - Como ler uma partitura musical 4/19 fig. 6 – Dó central Na denominação inglesa as designações clave de Sol, clave de Dó e clave de Fá correspondem a treble clef, alto clef e bass clef, respectivamente. O nome das notas segue as letras do alfabeto começando no Lá. Português Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol Inglês A B C D E F G tabela 1 Alternativamente, também se pode encontrar G clef, C clef ou F clef com a designação de treble clef, alto clef ou bass clef, respectivamente. Existem apenas sete notas naturais (mais à frente serão apresentadas outras) - Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si – que serão repetidas, tal como se tivessemos uma linha fechada (… Lá, Si, Dó, Ré, …, Si, Dó, …). À gama de notas compreendidas entre o Dó e o Si dá- se o nome de oitava. Logo, a linha fechada é constituída por sequências adjacentes de oitavas. Como distinguir, por exemplo, dois Dós que se encontram em oitavas diferentes e, por isso, têm localizações diferentes na pauta tal como se pode ver na fig. 7 ? fig. 7
  • 5. A+ - Como ler uma partitura musical 5/19 Através do número da oitava! Tal como já foi dito, cada grupo de sete notas consecutivas constitui uma oitava e cada uma terá um número associado. É o número da oitava que distingue duas notas com o mesmo nome mas localizações diferentes nas linhas/espaços da pauta. O número das oitavas muda nos Dós correspondendo o número 3 ao Dó central (o da linha suplementar imediatamente abaixo da 1ª linha de pauta da clave de Sol). A contagem é crescente no sentido ascendente tal como a figura seguinte mostra. fig. 8 2. Ritmo, tempo e compasso O ritmo é o termo utilizado para expressar as relações temporais de elementos musicais. Cada nota tem associada uma certa duração que é representada por uma figura rítmica. As principais figuras rítmicas são as que se apresentam na tabela 2. As figuras estão representadas por ordem decrescente de duração. Cada figura rítmica tem o dobro da duração da presente na linha abaixo e metade da de cima.
  • 6. A+ - Como ler uma partitura musical 6/19 Denominação Denominação Denominação Fracção Símbolo portuguesa inglesa americana semibreve semibreve whole note 1 mínima minim half note 2 semínima crotchet quarter note 4 colcheia quaver eighth note 8 semicolcheia semiquaver sixteenth note 16 fusa demisemiquaver thirty-second note 32 tabela 2 Na coluna “fracção” indica-se a fracção da duração da figura rítmica relativamente à semibreve. Se numa partitura (staff) aparecerem duas colcheias, semicolcheias ou fusas seguidas, poderão ser representadas com recurso a barras em vez de caudas. Exemplo: fig. 10 – elementos constituintes das figuras fig. 9 rítmicas Anexado à figura rítmica pode existir um ponto, chamado ponto de aumentação, que aparece imediatamente à direita da figura. Pretende-se com o ponto de aumentação indicar que a figura passa a valer o que valia sem o ponto mais metade da sua duração.
  • 7. A+ - Como ler uma partitura musical 7/19 fig. 11 – ponto de aumentação Existe uma outra forma de prolongar a duração da nota, recorrendo-se a ligaduras de prolongação (slurs) que são representadas por um arco que indica quais as notas a serem ligadas, tal como se pode ver na fig. 12. fig. 13 – equivalente à fig. 12 fig. 12 – ligadura de prolongação A fig. 13 mostra a notação equivalente à da fig. 12 se se utilizar um ponto de aumentação. As figuras rítmicas vistas até este momento indicam a presença de som. Podem, no entanto, existir alturas em que se deseja ter silêncio numa música. A indicação de silêncio é representada pelas pausas cuja duração é equivalente à da figura rítmica com o mesmo nome.
  • 8. A+ - Como ler uma partitura musical 8/19 Denominação Denominação Denominação Símbolo Portuguesa inglesa americana pausa de semibreve semibreve rest whole note rest pausa de mínima minim rest half note rest pausa de semínima crotchet rest quarter note rest pausa de colcheia quaver rest eighth note rest pausa de semicolcheia semiquaver rest sixteenth note rest Pausa de fusa demisemiquaver rest thirty-second note rest tabela 3 A diferença entre a pausa de semibreve e a pausa de mínima é que a primeira é escrita por baixo da 4ª e a de mínima por cima da 3ª linha. fig. 14 - pausas Como foi dito as figuras rítmicas indicam a duração relativa dos sons ou silêncios e não a duração efectiva. O valor real das figuras rítmicas é indicado pelo tempo. É frequente o tempo ser especificado por algo semelhante a - q = 72 - significando que num minuto conseguem-se “tocar” 72 semínimas. Outra forma de indicar o tempo é através de uma palavra (por exemplo: allegro, andante) que tem inerente uma gama de valores do número de vezes da unidade de tempo até perfazer 1 minuto. Uma partitura encontra-se dividida em partes de igual duração: os compassos (time signature). A utilidade de dividir uma música por compassos é organizar os tempos de forma a facilitar a interpretação da peça. O compasso dá a informação sobre a acentuação, isto é, quais os tempos fortes e os fracos. Regra geral, o primeiro tempo de cada compasso é forte!
  • 9. A+ - Como ler uma partitura musical 9/19 Existem apenas dois tipos de compassos cuja diferença é a unidade de tempo: compassos simples e compostos. A unidade de tempo nos simples é a semínima enquanto que nos compostos é a semínima com ponto. A divisão dos compassos faz-se por uma barra vertical fina desde a 1ª linha até à 5ª. Exemplificam-se de seguida um dos possíveis compassos para cada um dos tipos. fig. 15 Existem três possibilidades de representar o compasso: por algarismos, por uma letra ou por um algarismo e uma figura rítmica. O código composto por algarismos é constituído por dois números tal como se se tratasse duma fracção. O “numerador” indica quantas figuras rítmicas iguais à indicada pelo “denominador” perfazem um compasso. No “denominador” vem um número que indica a figura rítmica de referência da seguinte forma: 2 8 4 16 Logo, o composto 6/8 diz que a duração de cada compasso é equivalente à de 6 colcheias. O “C” serifado é uma notação alternativa a 4/4 significando, por isso, que a duração de cada compasso é a de 4 semínimas. exemplos de compassos simples → 2 4 2 3 4 8 8 4 4 4
  • 10. A+ - Como ler uma partitura musical 10/19 exemplos de compassos compostos → 6 12 6 9 8 8 16 16 fig. 16 – equivalência de notações Nem todos os compassos estão completos, por exemplo, no compasso quaternário (duração equivalente a 4 semínimas) pode existir um com duração de apenas duas semínimas. Isto só acontece quando uma música começa em anacrusa. Em suma, uma música que começa em anacrusa caracteriza-se por ter o primeiro compasso incompleto assim como o último. O último tem a duração que falta ao primeiro para ficar completo! Mas, qual o interesse de começar em anacrusa ? Como já foi dito a divisão por compasso serve para especificar a acentuação, ou seja, quais os tempos fortes e fracos num compasso. Dado que o primeiro tempo de um compasso é forte, pode ser desejável começar por um fraco, logo inicia-se a música em anacrusa de forma a contornar esse problema. Exemplo de entrada em anacrusa num compasso 6/8: fig. 17
  • 11. A+ - Como ler uma partitura musical 11/19 Existem alguns ritmos que não se conseguem escrever com as figuras até agora apresentadas. Assim surgem as quiálteras que são figuras irregulares, uma vez que não têm duração de fracção inteira das já apresentadas. As quiálteras mais utilizadas são a tercina (triplet) e a duína (duplet). A duína está para os compassos compostos assim como a tercina para os simples. A indicação da presença duma tercina é efectuada pela inclusão do número 3 por cima ou por baixo das figuras rítmicas e optionalmente um arco ou parêntises recto. Na duína é exactamente igual mas em vez de um 3 aparece um 2. fig. 18 - quiálteras A duração equivalente destas quiálteras é: fig. 19 – duração equivalente da duína e da tercina 3. Alterações e tonalidade No capítulo 1 foram abordadas as notas naturais. Além destas existem outras resultantes de notas naturais afectadas por uma alteração. As alterações possíveis encontram-se na tabela 4.
  • 12. A+ - Como ler uma partitura musical 12/19 Símbolo Nome da alteração Efeito habitual duplo bemol desce 1 tom bemol desce ½ tom bequadro desfaz alterações igual a nota natural # sustenido sobe ½ tom duplo sustenido sobe 1 tom tabela 4 - alterações Na tabela são referidos tons e ½ tons. Mas afinal, o que é um tom ? Tom é a unidade de medida de distância entre duas notas. Atente-se ao exemplo das teclas de um piano. fig. 20 A distância entre duas teclas brancas adjacentes, existindo uma preta entre elas, é de 1 tom (tone), se não existir a tecla preta no meio então distam de ½ tom (semitone); a distância entre uma tecla preta a uma branca adjacente é de ½ tom. A utilização da palavra subir e descer refere-se à escrita na partitura. As notas mais agudas são escritas mais acima do que as graves, logo subir significa que se vai obter uma nota mais aguda. Nas teclas do piano, subir significa andar para a direita e, descer (nota mais grave) para a esquerda. Na fig. 20 consegue-se reparar que Dó sustenido (sharp) é igual a Ré bemol (flat), Ré sustenido a Mi bemol, … Agora que já sabemos o que são sustenidos e bemóis e qual o seu significado, podemos falar um pouco sobre tonalidade (key signature). Uma das informações que dá a tonalidade é quais os bemóis ou sustenidos que vão estar por defeito em toda a música,
  • 13. A+ - Como ler uma partitura musical 13/19 isto é, as alterações fixas. Estas alterações são indicadas no início da música através da denominada armação de clave que é constituída pela clave, alterações e compasso (nesta mesma ordem). A vantagem da utilização de alterações fixas é a de permitir a não obrigatoriedade de inserir um sustenido ou bemol em algumas notas em toda a música. Exemplo de algumas armações de clave com alterações fixas: fig. 21 – armação de clave com alterações fixas Além das alterações fixas existem também alterações ocasionais que se caracterizam por inserir um bemol ou sustenido antes duma determinada nota. A partir do momento dessa alteração e até ao final do compasso, todas as notas com o mesmo nome quer estejam na mesma oitava ou em diferentes, serão afectadas pela alteração. No compasso seguinte a alteração já não tem qualquer efeito (ver fig. 22). Os bequadros (natural) têm a função de cancelar o efeito dos sustenidos ou bemóis. Dentro de um compasso a sua influência é igual à dos sustenidos ou bemóis. fig. 22 – zona de efeito das alterações
  • 14. A+ - Como ler uma partitura musical 14/19 4. Outras notações existentes numa partitura Por vezes numa partitura existe mudança de compasso, clave e/ou mudança de tonalidade (através mudança de alterações fixas). Quando a mudança de compasso acontece na mudança de linha, existe uma espécie de compasso vazio no final da linha para indicar que na próxima temos um compasso diferente. Além desta indicação, na linha do compasso diferente aparece a indicação do novo compasso. fig. 23 – mudança de compasso Na fig. 23 estão duas representações equivalentes para o mesmo compasso, a notação dentro de parêntises é redundante ! A mudança de tonalidade, por modificação das alterações fixas, é semelhante à mudança de compasso. fig. 24 – mudança de alterações fixas (mudança de tonalidade)
  • 15. A+ - Como ler uma partitura musical 15/19 Na mudança de clave, aparece uma clave de tamanho menor imediatamente antes da mudança. fig. 25 – mudança de clave O sinal de repetição (dois pontos + duas barras) que aparecem na fig. 26 servem para indicar que se deve repetir o trecho. No caso da fig. 26, não existiria qualquer diferença se a primeira barra de repetição fosse retirada porque, quando se encontra uma barra de repetição com a orientação da segunda deve-se voltar a repetir o trecho desde a última barra de repetição, com orientação igual à primeira se existir, ou desde o início. fig. 26 – barras de repetição Podem também existir repetições condicionadas, das quais a partitura da fig. 27 é um exemplo. “1.” e “2.” indica que se deve tocar tudo até chegar ao compasso com o “1.”. Toca-se esse compasso e volta-se a repetir só que na repetição toca-se o compasso “2.” em detrimento do “1.”. fig. 27 A fig. 27 também serve de exemplo de uma partitura onde existem duas vozes. Duas vozes significa, como a própria palavra sugere, duas melodias mais ou menos
  • 16. A+ - Como ler uma partitura musical 16/19 independentes. Uma das vozes tem as hastes para cima enquanto que a outra tem as hastes para baixo. As notas que aparecem sobrepostas na vertical terão de ser tocadas ao mesmo tempo. A entrada em anacrusa é constituída por uma semínima e uma pausa de semínima, se existisse apenas uma voz não seria necessário assinalar a pausa. A escrita diferenciada de duas vozes tem o intuito de facilitar a interpretação da peça. Não é necessário existirem duas vozes separadas explicitamente para se ter de tocar mais do que uma nota ao mesmo tempo, basta existir mais do que uma nota com o mesmo alinhamento vertical. fig. 28 A variação de volume e acentuação fazem parte da dinâmica. Normalmente as indicações de dinâmica aparecem em italiano. Um crescendo indica aumento gradual de volume ao contrário de um decrescendo (fig. 29). Por baixo de algumas notas pode aparecer um sinal “maior do que” indicando que essa nota é mais forte do que as outras, isto é, deve ser tocada com maior volume. A este sinal dá-se o nome de sinal de acentuação. sinal de acentuação diminuendo crescendo fig. 29 - dinâmica
  • 17. A+ - Como ler uma partitura musical 17/19 f e ff significam forte e fortissimo, respectivamente. Servem para indicar o volume relativo com que se toca cada uma das partes desde a ocorrência de uma destas letras. Outras letras indicadoras de zonas homogéneas de volume são: Símbolo Denominação Significado pp pianissimo sonoridade muito suave mp mezzo-piano meio suave p piano suave mf mezzo forte meio forte f forte forte ff fortissimo muito forte tabela 5 Existem vários tipos de ornamentos, formas de decorar uma música, nomeadamente apogiaturas e mordentes. A sua interpretação difere um pouco com a época e autor (é caso para dizer “Cada tolo tem a sua mania!”). Duma forma geral, sem ser muito rigoroso, apogiatura é a inclusão duma nota antes da desejada com muito curta duração. A nota da apogiatura representa-se com dimensões menores do que as principais (fig. 30). Os mordentes são muito semelhantes mas são constituídos por duas ou mais notas antes da principal. Tal como nas apogiaturas escrevem-se com dimensões menores (ver fig. 30). mordente apogiatura fig. 30 - ornamentos Na pauta da esquerda da fig. 30 estão uns pontos por baixo das figuras rítmicas. Não se tratam de pontos de aumentação pois, esses são escritos à direita das figuras e não por baixo. Os pontos por baixo, ou por cima, das figuras significam que deve ser tocada
  • 18. A+ - Como ler uma partitura musical 18/19 em staccato. Tocar em staccato equivale a retirar alguma duração às figuras rítmicas. Toca-se a tempo mas reduz-se a sua duração com a introdução de silêncio. Cria-se assim a sensação de música um pouco saltitante ou picada. O oposto de staccato é o legato, ou ligadura de expressão (tie), que obriga a prolongar ao máximo cada figura. É representada por um arco por baixo ou por cima das notas (fig. 31). fig. 31 - ligaduras de expressão 5. Instrumentos transpositores Apenas a título indicativo é que se aborda os instrumentos transpositores. Instrumentos transpositores são instrumentos cuja escrita não corresponde à nota efectivamente ouvida. O objectivo de se utilizar escrita de instrumentos transpositores é para facilitar a escrita, por exemplo, para evitar ter muitas linhas suplementares, ter muitos sustenidos e bemóis que só iriam dificultar a leitura. Por exemplo, na guitarra a nota que se ouve corresponde a uma oitava abaixo da que é escrita, chamando-se por isso instrumento transpositor à oitava. No trompete, a nota ouvida soa 1 tom abaixo da escrita. fig. 32 – transposição da guitarra fig. 33 – transposição do trompete
  • 19. A+ - Como ler uma partitura musical 19/19 Exemplo de outros instrumentos transpositores é o caso do saxofone, clarinete, flauta de bisel, violino, violoncelo e do contrabaixo.