1. América
Editora AI
edição 01 - ano 43
julho de 2010
Informativa www.americainformativa.blogspot.com
Exemplar exclusivo
do assinante
Chile
Esquerda x Direita
P
Malvinas ou Falklands?
O governo de
Evo Morales opular ou
Uruguai
da guerra ao Poder
opulista?
Incentivo de Programas Federais Hugo Chávez e a Venezuela
A economia brasileira em destaque Um relacionamento de amor e ódio
2.
3.
4. América
Informativa
JULHO DE 2010 ANO I Nº 01
Reprodução/AE
6| Editorial
PRINCIPAL
9| Popular ou
Populista?
OPINIÃO
11| Lula no comando EXPEDIENTE
da ONU?
27| A grande imprensa 47| Evo Morales e seu EDITOR CHEFE
AMÉRICA SABORES e o mito do estilo de governar Renato Duarte
14 | Descubra os neopopulismo na
sabores da América América HISTÓRIA REPÓRTERES
do Sul 49| Um pouco mais de Andréa Garbim
29| Da Esquerda para Evo... Camila Ohana
ECONOMIA a Direita Carina Basso
17| Incentivo de 32| O Cenário 52| Da guerra para o Neila Florêncio
Programas Federais Poder Renato Duarte
32| Canção: “Vencer- Rômulo Mendes
18| Economia emos” 56| Paraguai na visão Thamyris Barbosa
Populista 34| Hugo Chávez e a populista Willian Rafael
Venezuela: Um rela-
21| Bolsa Família cionamento de amor e 58| Liderança REDAÇÃO
para quem? ódio Carismática Andréa Garbim
POLÍTICA RESENHA 62| Paternalismo PROJETO GRÁFICO
22| O Nacionalismo 38| “ A revolução não Thamyris Barbosa
de Kirchner será televisionada “ 66|América Retratos
COLABORADORA
PROJETO GRÁFICO
26| Malvinas ou 42|Integração no cir-
Andréa Garbim
Falklands? culo equatoriano
04 América Informativa | Julho de 2010
5.
6. Editorial
Caminhos Políticos da América do Sul
S eguindo o pensamento de que a proximidade
é um dos elementos básicos para a notícia,
aproveitando uma das “brechas” no mercado
jornalístico, planejamos trazer surpresas nesse
primeiro projeto.
Com uma cobertura diferenciada e de qualidade
sobre a América do Sul, objetivamos levar credibili-
dade e a satisfação de um dos desejos naturais do
ser humano: o de saber o que está acontecendo ao
seu redor!
Assim, qualquer hipótese que vise outra trajetória
- que não seja a democrática, não chega perto da
nossa linha editorial e consequentemente é criticada
e investigada.
Quando falamos na cobertura política da América
do Sul, nos referimos à América Informativa - “A
notícia como você nunca viu”.
Sejam bem vindos à primeira edição!
Andréa Garbim
06 América Informativa | Julho de 2010
9. Política
Popular ou
MARCELO FERREIRAD.A PRESS
Populista?
Dois termos direcionados ao governo de Lula, porém especialistas
afirmam: “é um tanto perigoso confundir seus significados”
Por Andréa Garbim
E ntre as mais fortes personali-
dades da política, atualmente
rotuladas como populistas, destaca-
do que o termo sugere”, afirmou.
O governo brasileiro, por sua vez,
toma medidas e tem seu foco nas
do povo numa comunicação direta,
sempre mantendo o respeito pelas
instituições - mesmo com seus es-
se o presidente Luiz Inácio Lula da classes mais baixas, que seriam corregões -, ele sempre foi ligado
Silva, que optou por um caminho con- as mais prejudicadas em caso de aos partidos políticos”, enfatizou.
servador, vindo de iniciativas toma- crise. Programas sociais típicos do
das de cima para baixo, abraçando a governo Lula como “Minha Casa, Martins ainda explica que o que está
política neoliberal macroeconômica Minha Vida” e o “Bolsa Família”, por trás dos discursos de todo políti-
de FHC. O líder tomou providên- têm o objetivo de evitar que as co é a vontade de se manter no pod-
cias que promoveram a ascensão classes menos favorecidas ou os er. Independente do líder, boa parte
social da camada dos mais pobres excluídos sofram as consequências das políticas públicas, são realiza-
- não no caminho revolucionário da tensão, permitindo a geração de das com o intuito de maximizar os
da ruptura por baixo, mas pela via empregos e o crescimento do país. votos; o mesmo acontece com Lula.
sancionada do acesso ao mercado, Para o doutor em Ciência Política Outra observação apontada por
base suprema do modelo capitalista. da USP, José Paulo Martins, a idéia Martins é a forma de condução do
O professor de Ciências Políticas da de populismo surge quando o presi- governo, que fez da imagem de Lula
UniBrasil, Emerson Cervi, segue a dente da república manobra a mas- se associar diretamente à massa.
definição dos cientistas sociais e não sa popular em busca de objetivos No caso do Brasil, a estabilidade
considera Lula um populista. “Trata- por fora das instituições, usando a econômica que foi mantida (mes-
se de um líder político popular e não massa para pressionar o congresso. mo durante a crise mundial), as
populista. Ele respeita as instituições “Eu não entendo que o Lula seja ex- conquistas do aumento de salário
e não promove políticas economica- atamente um populista. Ele é muito mínimo, o Bolsa Família – que es-
mente irresponsáveis, ao contrário mais popular; busca falar a língua tão atreladas ao cenário econômico,
09 América Informativa | Julho de 2010
10. fizeram com que a maioria das pes-
soas tivesse mais dinheiro no bolso,
do que no passado. “O principal
termômetro da avaliação de gov-
erno é a condução econômica. Se
a economia vai bem, o governo vai
bem. Se a economia vai mal, o gov-
erno vai mal”, acrescenta Martins.
Seguindo o raciocínio do especial-
ista, podemos entender que Lula
sempre se baseou em elementos
populares, porque ele é do povo,
metalúrgico e um trabalhador que
ao longo do tempo se vinculou aos
sindicatos, fazendo carreira política.
Em 1994, tinha um discurso radical
de esquerda sem sucesso. Porém,
como a maioria do eleitorado brasil-
eiro é conservador – não aceita as
transformações de baixo para cima,
Lula foi transformando seu discurso
em conservador, com o objetivo de
manter a estabilidade, os contratos,
sempre utilizando um linguajar pop-
ular, para se aproximar da massa.
O cientista político da UFRJ, Hen-
rique Castro também acredita que
Lula se vale pela sua popularidade,
firmando seu espaço político de-
pois de quatro candidaturas, ele de-
senvolveu no campo político uma
trajetória de persistência e quando
conseguiu finalmente chegar à
presidência, ele soube durante esses
oito anos, transformar sua imagem
numa popularidade frente às ações
mais ligadas às questões sociais
que ele implementou no governo.
Castro enfatiza que um governo
NORMANDO SORACLES
populista seria uma espécie de
“aparelho” do Estado, que impõe
uma censura para que ninguém o
critique, deixando apenas que a boa
imagem do líder seja divulgada,
através dos meios de comunicação.
“Sou contrário a dizer que o governo
Lula, ou o próprio seja populista. Eu
diria que ele é um popular, no sen
10 América Informativa | Julho de 2010
11. Opinião
Lula no comando
da ONU?
Por Andréa Garbim
D e fato não existe uma regra
estabelecida que impeça o
presidente Lula de ser secretário-
cisaria eleger um representante para
ocupar novos assentos permanentes,
que hoje são cinco - EUA, China,
geral da ONU (Organização das Rússia, Reino Unido e França. A
Nações Unidas), mas há indícios diferença de opiniões com os EUA
de que as chances disso acontecer sobre temas chave, como no caso do
são próximas de zero, pois o presi- Irã é outro fator que coloca em risco
dente tem uma série de obstáculos a nomeação de Lula. Ele precisaria
a superar. Exemplo, a reforma do do aval do Conselho de Segurança,
Conselho de Segurança, uma das onde os EUA têm direito a veto.
precondições para entrar na dis-
puta, ainda não está no horizonte. Por sua vez, o Conselho de Segu-
rança prefere figuras mais discretas,
A ideologia do líder brasileiro, e Lula tem muita bagagem política,
sobre vários temas polêmicos, é no sentido de que todos sabem suas
outro entrave, porque isso não cos- preferências, então os que discordam
tuma combinar com o perfil de dele vão garantir que seja derrotado.
um secretário-geral. Por fim, um Na hipótese da reforma na ONU
rodízio informal entre os continen- acontecer e o Brasil conquistar a
tes significa que a vez de um lati- vaga permanente, o cenário não
no-americano assumir o comando melhora: há um "acordo de caval-
da ONU virá somente em 2027. heiros" que impede os permanentes
BRENO FORTED.A PRESS
de concorrer à secretaria-geral. Se-
Contudo, no momento não ria muito poder para uma só pessoa.
há sinais de que a reforma
[do Conselho de Segurança] vá De 2017 a 2026, a vaga deve ser o
acontecer em breve. Há rivali- cupada por um país do Leste Eu-
dade demais entre as regiões do ropeu. A América Latina pode
mundo para concordarem so- considerar ter a liderança a partir
bre qual país as representaria. de 2027, quando Lula terá 81
Para que a reforma que o Brasil son- anos. Será que ele consegue???
ha seja concretizada, cada região pre-
11 América Informativa | Julho de 2010
12. tido desse termo conseguir traduzir
MANOEL MARQUES
exatamente a reação da massa - que
o aprova, o admira, seja pelo car-
isma ou pelas políticas aplicadas”.
Em relação às políticas públicas, o
especialista explica que na maioria
das vezes elas ganham uma espécie
de “roupagem” especial – que se-
ria um meio do marketing do gov-
erno passar mais simplicidade às
ações de Lula. Então quando ele
cria uma nomenclatura como o PAC
e o Bolsa Família, é uma forma de
tornar mais acessível, à população,
o conhecimento do tipo de política
que está sendo implementada. Não
esquecendo que há um interesse
em utilizar essa boa imagem, prin-
cipalmente pela dinâmica da políti-
ca regional – quando os políticos
que apóiam o governo procuram
“ Devemos debater
o assunto, criando a
“ H
possibilidade de
construir, de baixo para istoricamente, o termo pop- abusa da propaganda pessoal, afir-
cima, um país mais ulismo acabou por ser mais ma não ser igual aos outros políti-
identificado com fenômenos políti- cos, toma medidas autoritárias, não
justo e democrático cos típicos da América Latina, prin- respeita os partidos políticos e insti-
cipalmente a partir de 1930, estando tuições democráticas, diz que é ca-
associado à industrialização, à ur- paz de resolver todos os problemas
banização e à dissolução das es- e possui um comportamento bem
“colar” sua imagem a esses progra- truturas políticas oligárquicas, que carismático. É muito comum en-
mas – que são considerados positi- concentravam firmemente o poder contrarmos governos populistas em
vos pela massa - que na maioria das político na mão de aristocracias países com grandes diferenças soci-
vezes sente a necessidade de ver rurais. Daí a gênese do populismo, ais e presença de pobreza e miséria.
resultados práticos na sua realidade. no Brasil, estar ligada à Revolução
de 1930, que derrubou a República
E o Lula conseguiu tornar tudo Velha oligárquica, colocando no do Dicionário...
isso muito real e presente, através poder Getulio Vargas, que viria a ser
da divulgação dessas ações. a figura central da política brasileira Populismo: “ação política que toma
Por fim, afirmarmos que se trata de até seu suicídio em 1954. O termo como referência e fonte de legit-
um erro grave dizer que um líder que populismo é uma forma de gover- imidade o cidadão comum, cujos
tem sido capaz de construir, com nar em que o governante se utiliza interesses, pretende representar”,
políticas públicas, um novo ambiente de vários recursos para obter apoio ou “política fundada no aliciamento
econômico e social para o desen- popular. O populista utiliza uma das classes sociais de menor poder
volvimento de milhões de pessoas, linguagem simples e popular, usa e aquisitivo”.
seja entendido como um populista.
12 América Informativa | Julho de 2010
13.
14. América Sabores
Descubra os sabores
Por Andréa Garbim
A América do Sul é um con-
tinente com uma valiosa
oferta gastronômica. O
melhor país para apreciar um bom
prato, seria o Peru, onde localiza-
mos os restaurantes mais requinta-
dos. Região dona das mais variadas
e deliciosas culinárias do mun-
do, baseada na fusão de gostos e
preferências indígenas e européias.
Porém, cada restaurante tem a sua
própria visão da gastronomia, a
culinária na zona das Caraíbas,
as frutas tropicais e os pratos de
peixe fresco, por exemplo, são ex-
celentes. Se for para o interior, a
carne de vaca é uma iguaria re-
quintada, em países como a Argen-
tina, o assado é uma especialidade.
Portanto, a América do Sul tem uma
diversificada gastronomia composta
por carne fresca, peixe fresco, frutas
tropicais, vinhos e café da Colôm-
bia. Além disso, na maioria das
zonas turísticas, você poderá en-
contrar restaurantes especializados Ensalada Cruda, da Bolívia
em outras cozinhas, como a coz-
inha italiana, asiática ou Africana. Modo de preparo: 1e 1/2 xícara (chá) de açúcar
Em uma tigela bonita, pique 3 ramos de canela
Ensalada Cruda , da os tomates, rale as cenou- 4 cravos da índia
Bolívia ras e a beterraba. Pique em 1 litro de leite
quadrados o pimentão, em
Ingredientes: rodelas bem finas a cebola e Modo de preparo:
Tomates sem pelo misture tudo com a maionese Cozinhe as bananas sem cas-
Cenoura crua e azeite. Coloque sal a gosto. ca em água por 10 minutos.
Beterraba crua Corte em pedaços pequenos e
Pimentão cru Chucula, do Equador bata no liquidificador com um
Cebolas cruas pouco do leite por 2 minutos.
Maionese Ingredientes: Em uma panela coloque o res-
Azeite e Sal 3 bananas maduras tante do leite para ferver com
14 América Informativa | Julho de 2010
15. da América do Sul...
o cravo e a canela, incorpore Baixe o fogo e junte os Coctel de Cuqui, do
a banana batida e vá colo- ovos, deixando que se coz- Uruguai
cando o açúcar aos poucos, inhem por mais 5 minutos.
mexendo sempre com uma Ingredientes:
colher de pau por 10 minutos. Retire do fogo adicione o li- 1 lata de pessegos em calda
Espere esfriar e leve à geladeira. cor e a baunilha. Deixe es- 1 lata de abacaxí em calda
friar e se leve à geladeira. 1 litro de suco de pessego
Huevos Chimbos, da 1 litro de champagne seco
Venezuela Costeleta ancha a la 300 ml de gin
parrilha, da Argentina
Ingredientes: Modo de preparo:
Ovos Ingredientes: Reserve um pouco dos
12 gemas 8 costeletas de vaca cortadas pêssegos e do abacaxi em calda.
margarina para untar as formin- não menos que 3 cm c/u
has 3 pimentas amarelas em Bater o restante dos pêssegos
Calda: vinagre em calda, do abacaxi em calda,
3 xícaras (chá) de água 2 pimentões vermelhos o suco de pêssego, o cham-
2 xícaras (chá) de açúcar Alho e salsinha para provenzal panhe e o gim no liquidificador.
1/4 de colher (sobremesa) de Molho Chimichurri
baunilha Coloque em taças as fru-
3 colheres (sopa) de rum, Modo de preparo: tas reservadas cortadas em
brandy ou conhaque Acender o fogo pelo menos pequenos pedaços, junte
uma hora antes da refeição. gelo e a mistura batida.
Modo de preparo: Calcula-se que teremos bra-
Com uma batedeira elétrica sas entre 20-25 minutos depois.
se batem as gemas até ob-
ter um creme que faça bi- O tempo de cocção varia de acor-
cos. Unte umas forminhas do com o gosto dos comensais.
de empada e se enchem até Recomenda-se fogo alto (muitas
a metade com o ovo batido. brasas) e virar as costeletas não
mais que 8 -10 minutos cada lado.
Coloque os moldes em ban-
ho maria durante 10 minu- Isto dará uma carne tosta-
tos (ao introduzir um palito da por fora e muito suculen-
de madeira, deve sair seco). ta por dentro. Salgar a carne
antes de colocar na grelha.
Desinforme e reserve. Numa Quando der a última volta na car-
panela ferver a água e o açú- ne, agregue o vegetal que você
car, mexendo durante 15 mais gosta pimentão, pimenta,
minutos em fogo alto, até alho e salsinha. Da grelha ao
obter uma calda grossa. prato, deve-se comer quente.
15 América Informativa | Julho de 2010
16.
17. Economia
Incentivo de
Programas Federais
A economia brasileira em destaque na América do Sul
Por Carina Basso
N os últimos anos, uma das
economias que tem se
destacado como a mais próspera
ual presidente Luiz Ignácio Lula da
Silva, encontrou uma situação sócio-
econômica onde podemos numerar
podemos destacar o alto índice de
desemprego, os altos níveis de in-
flação, que por mais que se encon-
da América Latina e do mun- diversos fatores que prejudicavam a travam menores do que em outras
do é a economia brasileira. solidificação econômica de um país. épocas, ainda eram altos, se com-
Ao assumir o comando do país, o at- Dentre os fatores desfavoráveis, parados aos de atualmente e prin-
cipalmente a dívida pública em to-
dos seus aspectos, que ao longo dos
anos foi sanada pelo atual governo.
No atual governo, foi possível re-
alizar o pagamento completo da
dívida pública e tal fator fez com
que o Brasil passasse de devedor,
para credor mundial, o que conse-
quentemente gerou diversos recur-
sos para o investimento em progra-
mas internos. Ainda tratando-se do
viés econômico, podemos destacar
a crise econômica mundial de 2008,
momento em que o país manteve-se
forte e encarou a crise com medi-
das que impulsionaram a economia.
Os programas governamentais têm
sido a base do atual governo, como
os projetos “Fome Zero”, “Bolsa
Família”, entre outros de inclusão
social, como os de internet banda
larga nas escolas publicas e para a
população. Com todos esses itens,
pode-se dizer que atualmente o
país passa não só por um bom
momento econômico, como tam-
bém por um bom momento social.
Os programas complementares
articulados em nível federal es-
tão descritos no quadro a seguir:
17 América Informativa | Julho de 2010
18. Economia
Populi$ta
Causas e consequências de uma
economia voltada para projetos sociais
Por Carina Basso
A atual economia do Brasil encontra-se forte e
sólida: um grande produtor e exportador de mer-
cadorias de diversos tipos, principalmente commodi-
ties minerais, agrícolas e manufaturados. As áreas
de agricultura, indústria e serviços encontram-se,
atualmente, em bom momento de expansão.
O Brasil possui uma economia se financeira internacional. O maior
aberta e inserida no processo de intervalo de baixo desempenho,
globalização. A análise feita pelo classificado de recessivo, por se es-
Comitê de Datação de Ciclos tender por meses seguidos, ocorreu
Econômicos, coordenado pelo ex- entre junho de 1989 e dezembro de
presidente do Banco Central Affon- 1991, prolongando-se até janeiro de
so Celso Pastore, e teve participação 1992, num total de 30 meses. Essa
de mais seis economistas. Segundo fase crítica começou em meio à cam-
o estudo, que considerou dados panha pela primeira eleição direta
a partir de 1980, o bom desem- para a Presidência da República de-
penho da economia começou seis pois do regime militar (1964-1985).
meses após a posse do presidente Destacamos como uma economia
Lula e se prolongou por 61 meses. instável a da Argentina, que mes-
mo mantendo o papel de segunda
O segundo melhor período foi entre maior economia do Mercosul,
fevereiro de 1987 e outubro de 1988, na teve sua moeda, o peso, desvalo-
gestão do ex-presidente José Sarney. rizada ao longo dos anos. Apesar os programas de privatização e lib-
O menor período recessivo, de acor- de ser famosa pelo turismo, a base eralizou o setor público. Lançou
do com o levantamento, foi também econômica do País é na produção um plano econômico de choque
no governo atual e durou seis me- agrícola e pecuária. Mantém-se para sanear o sistema financeiro do
ses: de junho de 2008 a janeiro de como um dos principais expor- país e estabeleceu a paridade mon-
2009, quando o país conviveu com a tadores de trigo do mundo, além etária do peso em relação ao dólar.
recessão. Mesmo sendo menos afe- das exportações de têxtil, metais e
tado do que outros países, o Brasil produtos químicos. Porém, Carlos A maior parte da população sofreu
sofreu nesse período reflexos da cri- Ménem, em seu governo, acelerou com a política econômica de Mé-
18 América Informativa | Julho de 2010
19. RICHARD DREWAP
Silvia Manfredini, economista da zou que desde sua campanha eleito-
nem, mas estas medidas reduz- ral Kirchner já vem incentivando os
PUC de São Paulo explica que a
iram a inflação e a dívida externa. argentinos com programas sociais:
entrada de Cristina Kirchner para
No entanto, após uma década de “Argentina teve um crescimento mé-
a presidência, alavancou a econo-
crescimento inteira, a ameaça do dio de 8% nos últimos cinco anos,
mia da Argentina e que através de
caos econômico reapareceu em o desemprego e a indigência estão
sua postura política de socializar a
2001 com uma grave crise ligada abaixo dos 10% e a pobreza caiu de
população e os transformar em con-
ao reembolso da dívida externa, 60% para 26%. Pela primeira vez
sumidores, sua moeda obtêm forte
acompanhada de motins na capital. na história, o país teve um superávit
crescimento perante o dólar. Enfati-
19 América Informativa | Julho de 2010
20. fiscal primário de US$ 10 bilhões, as Participação dos Principais Parceiros Comerciais
exportações estão na casa dos US$ nas Exportações Brasileiras
50 bilhões. O salário mínimo subiu
e empregos foram gerados, tudo isso
Folha de S.Paulo
permitiu a transformação de mil-
hões de pessoas em consumidores”
Com a chegada das crises socio-
econômicas, causadas pelas ex-
periências neoliberais dos gover-
nos de direita, a América do Sul
virou-se a uma nova realidade, a
política para o povo. Visando en-
contrar soluções e medidas que mu-
dasse o quadro geral sul americano.
No final dos anos 90, começou a
sucessão de candidatos populis-
tas sendo eleitos para comandar os
países que até então, enfrentavam
governos elitistas, imperialistas e de mudança. Fazendo com que na burocracia das aquisições da casa
com visões voltadas ao Governo. cada cidadão sonhasse com uma própria e de automóveis; Ampliar-
Os presidentes populistas adotaram vida melhor, com um emprego es- am de uma forma geral o poder de
novas perspectivas para seus países. tável e o tão esperado incentivo do compra das classes média e baixa de
Ana Maria Afonso, cientista social Governo as classes desfavorecidas. seus países, viabilizando o cresci-
e economista da USP explica que mento do consumo dos mesmos.
os planos governamentais foram Foram criadas medidas socio- Fazendo a economia girar e crescer.
voltados para as populações de econômicas, como planos de as- Antes o foco, dos governantes Sul
baixa renda. Defendendo os dire- sistência a famílias de baixa renda; Americanos, estava nas priva-
itos humanos, as centrais sindicais, incentivo para as crianças frequenta- tizações das empresas, nas ex-
as organizações não governamen- rem as aulas; planos para facilitar o portações e na macroeconomia
tais e os partidos de esquerda. E crédito de pessoas que não possuem do País. Hoje o governo também
que, em sua maioria, os candidatos renda ou possui uma renda limitada criou diversos trabalhos para man-
elegeram-se por passarem a ideia às necessidades familiares; redução ter e alavancar a macroeconomia.
Percentual do produto da América do Sul no PIB mundial-1980/2005
20 América Informativa | Julho de 2010
21. Porém com a preocupação em faz- nos com governantes populistas, em econômico dos mesmos vem preocu-
er a economia girar, possibilitou o sua maioria, constituídos como país- pando as atuais potências mundiais,
surgimento de novos empregos, es de terceiro mundo, como potên- por terem conseguido criar e manter
novas empresas e novos consumi- cias mundiais. Pois o crescimento um padrão socioeconômico sólido.
dores. Com o novo foco econômico,
ROGÉRIO ALBUQUERQUE
os países tiveram aumento no con-
sumo, e declínio das taxas de juros.
A inflação, em geral vem decaindo
e possibilitando com isso que os
produtos tenham forte queda em seus
preços. Podemos considerar que o
quadro econômico atual é muito fa-
vorável a todos os países, porém não
podemos esquecer que a facilidade
de crédito na praça também acar-
reta diversos problemas, tais como:
o crescimento de inadimplentes.
Segundo Julien Schwab, econo-
Bolsa família para quem?
mista da Universidade de São Pau-
lo, os governos populistas apenas
seguiram o que já vinha sendo feito
nos governos anteriores. Que os
planos econômicos hoje estabeleci- O programa Bolsa Família, criado chega a realmente a quem precisa?
dos foram criados há muitos anos, pelo governo federal em outubro de
porém não se popularizavam, por 2003, chega ao seu sétimo ano com Vale ressaltar que devido a um ca-
terem como foco a macroeconomia. novas perspectivas, atender mora- dastro atualizado periodicamente
E os atuais governantes, através dores de ruas, remanescentes das co-
(o qual o governo não estipulou
de suas políticas populares con- munidades quilombolas, indígenas o período) mais de 2 milhões de
seguiram transformar a economia e pessoas acampadas dos movimen- famílias já deixaram o programa
elitizada em uma economia com tos direcionados à reforma agrária,
devido ao aumento da renda ou
base na população de baixa renda. como os sem-terra, por exemplo. auditorias realizadas. Contudo, é
Este foi um dos motivos pelo qual paradoxal o mesmo governo não
o mundo entrou em crise em 2009, É certo e não se pode negar que o saber estimar quantas famílias
onde diversos bancos e institu- programa beneficiou milhões de entre os acampados da reforma
ições financeiras quebraram pela famílias e, segundo apontam estu- agrária recebem o mesmo benefício.
grande inadimplência de seus cli- dos, foi responsável por 20% da que-
entes. Porém os países sul america- da da desigualdade de renda e pela Não estamos levantando uma bandei-
nos não sofreram tanto o impacto, redução de 8% na taxa de pobreza ra contra as pessoas que lutam pela
pois caminham ao longo dos anos, adotada pelo programa. Somente até tão sonhada reforma agrária, porém
com o fortalecimento da econo- o ano 2009, cerca de 11,1 milhões de diversos benefícios são direcionados
mia, com base na política de con- famílias receberam o benefício e esse a essas pessoas, como descontos em
sumo, com uma base sustentável. número aumentará em 2010 devido universidades, cotas específicas etc.
ao acréscimo de outras classes. sem que haja um controle, o que nos
Pois nestes países onde a economia faz pensar: de que lado eles estão e
tem o foco no público de menor Entretanto, até que ponto essa verba, de que lado o governo está... Dos
poder aquisitivo, o número de in- que alcançou no ano de 2009 o pata- brasileiros que realmente precisam,
adimplentes é muito baixo, com- mar de R$ 12,5 bilhões em benefícios, é que aparentemente ninguém está!
parando-se com os demais países.
Consideramos os países sul america-
21 América Informativa | Julho de 2010
22. Política
O NACIONALISMO DE
KIRCHNER
Malvinas e Banco Central são temas de algumas políticas
de Cristina Kirchner, acusada de “neopopulista” pela fraca
apuração da grande imprensa
Por Renato Duarte
“
J uan Domingues é um cidadão
argentino peronista. No
momento do auge dos Kirchners
poder do governo”, afirma Ariel
Palácios, renomado correspon-
dente internacional desde 1955.
ele era franco defensor do casal Palácios considera que a dis-
no poder da República Argentina. cussão das Malvinas e a crise
diplomática entre governo e Ban-
Ele sempre votou no partido co Central são os embates políti-
justicialista, porém, diante os cos mais populistas de Cristina.
problemas atuais que está viven- Já o professor Oliveiros da Sil-
do pretende mudar o seu voto. va Ferreira, líder do NERIPUC
Domingues acha que Cristina (Núcleo de Estudos em Rela-
não soube continuar o governo ções Internacionais da PUC), Cristina quer usar 2,1 bilhões
de seu marido. Domingues vê os observa que o populismo nada dos 48 bilhões das reservas cam-
indicies apontarem diminuição de tem a ver com estas questões. biais argentinas, conquistados
pobreza, mas não percebe a mu- graças ao peso desvalorizado.
dança no seu dia a dia. Há 40 anos “Numa está em jogo o problema “Ela elaborou o chamado ‘Fun-
ele vota no partido justicialista. da soberania, noutra, a questão do Bicentenário’ ordenando
Enquanto isso a grande im- de saber a quem cabe a inter- Martín Redrado, presidente
prensa mundial intitu- pretação da lei e se o Executivo do Banco Central, a deposi-
la Cristina como populista. pode valer-se das reservas do tar o valor total das reservas.
BC numa emergência, questão
As acusações partem do baixo que, não resolvida, poderá co- Redrado resistiu alegando que
sucesso que ela vem tendo no país, locar o governo argentino em uma futura fuga de capitais
onde a presidenta aplica políticas má posição diante da comuni- traria alto risco de inflação e
que visam o resgate de sua pop- dade financeira internacional”. que o procedimento pode atra-
ularidade às próximas eleições Cristina pretende usar as reser- palhar o desenvolvimento em
– segundo a grande imprensa. vas cambiais do BC, reservando longo prazo”, afirma Palácios.
“Cristina é acusada de ser popu- parte do orçamento para gastos Segundo Ramon Casas Vilari-
lista, vaidosa, autoritária, com- à população mais carente. Em no, historiador e pesquisador do
pradora de dólares e de fraca, por um ano em que a Argentina esta NEILS (Núcleo de Estudos So-
deixar que seu marido seja o real fechada para o mercado externo, bre Ideologias e Lutas Sociais da
22 América Informativa | Julho de 2010
23. RODRIGO BUENDIA
Cristina Kirchner no seu
discurso de posse, quando
contava com o apoio da
maioria da população
argentina
gentina e as Ilhas Malvinas. O
objetivo de Cristina é dificultar o
abastecimento das ilhas uma vez
que a ilha de plataforma britânica
Ocean Guardian está retomando a
prospecção de reservas que podem
chegar a 60 bilhões de dólares, es-
timados - comparável ao pré-sal
brasileiro e mais de vinte vezes
maiores do que a região pertencen-
te aos argentinos no arquipélago.
PUC / SP), devemos tomar cui- para esperar um crescimento da “Durante a chamada Guerra das
dado quando falamos da aferição economia para investir”. A Ar- Malvinas o governo ditatorial de
do desenvolvimento econômico. gentina possui apenas cinco por Leopoldo Galtieri usou as ilhas como
“Se um governo aumenta o sa- cento de população analfabeta forma de desviar a atenção dos outros
lário mínimo, isto no ponto de e uma grande crise econômica. problemas sociais que a Argentina
vista empresarial pode ser conce- vivia. Não por acaso a questão é ret-
bido como uma medida populista Malvinas omada no momento em que o gover-
que atrapalha em longo prazo. Outra problemática de repercussão no da presidenta Cristina é bastante
mundial do governo argentino é a questionado”, diagnostica Vilarino.
Já quando perguntamos para discussão sobre a soberania políti-
os sindicatos representantes ca das Malvinas em detrimento A grande imprensa veicula que a
dos trabalhadores vão dizer do controle inglês. Segundo Ariel política de Cristina diante as Malvi-
que isso não é populismo e que Palácios, Cristina força um nacio- nas é populista, pois não ambiciona,
está é uma ação justa e devida”. nalismo em busca de apoio popu- de fato, o conflito bélico, como pre-
Ou seja, temos que fazer uma lar. Até mesmo a oposição se vê ga. “Esta é uma boa estratégia popu-
análise qualitativa antes de afir- obrigada a ceder apoio para que lista de resgate de imagem”, observa
mar se a ação é populista ou não. não fique mal vista diante a popu- Ariel Palácios.
Vilarino exemplifica: “se existem lação, sociedade civil e imprensa. Na realidade, “o governo argentino
determinadas escolas e o gabi- A Argentina assinou um decreto apenas está buscando uma solução
nete escolar não chega, não dá restritivo à navegação entre a Ar- para o delicado problema de fixar
23 América Informativa | Julho de 2010
24. definitivamente qual é o Estado que de guerra dada à situação política e erno de Cristina segundo pesquisa
tem soberania sobre as ilhas. A In- econômica em que a Argentina se en- divulgada em fevereiro pela em-
glaterra invoca o uti possidetis em contra e dada também à conjuntura presa privada Consulta Mitofsky?
seu favor, pois desde o século XIX internacional, que seria desfavorável “Ainda que esforços ideológicos
tem a posse das ilhas; “A Argentina a qualquer ato de guerra. Ademais, tendam a mascarar a realidade, a
recorre ao argumento de que os in- é preciso ter presente que a sobera- crise econômica faz com que os
gleses conquistaram as ilhas pela nia não se exerce sobre o petróleo, trabalhadores argentinos percebam
força e ao de que elas foram, desde mas sim sobre a ilha”. que a realidade não é aquela que
muito tempo antes da operação mil- Por outro lado dentre as medidas está sendo proferida nos discursos”,
itar, um território argentino”, anal- consideradas “populistas” na atual observa Ramon Casas Vilarino. A
isa o professor Oliveiros da Silva Argentina, Vilarino destaca o cer- pobreza caiu de 54% (2003) para
Ferreira. ceamento da imprensa aplicado por 13% (2009) de acordo com dados
Cristina. Para o professor a imp- do governo, ou 30% a 40% (2009)
Ao contrário dos dias sombrios do rensa ainda é o principal veículo de segundo economistas independent-
falecido general Leopoldo Galtieri, acesso do líder populista até a pop- es e a igreja católica (2009) - porém,
Ramon Casas Vilarino acredita que ulação. “Se você tem um órgão da em 2006 a pobreza era de 23,4%.
Cristina não está sendo tão descuida- imprensa que se coloca contrário a
da quanto o governo militar que em este líder, de alguma forma ele deve O aumento de 2006 para cá é uma
1982 provocou o conflito bélico com ser cerceado e calado no ponto de demonstração do desapego da pop-
a Inglaterra. “Cristina já declarou de vista do líder populista”, explica ulação para com a presidenta. É in-
antemão que jamais provocaria mais Vilarino. Cristina comprou briga teressante notar que diante a inter-
uma guerra na região, ela pretende com órgãos da grande imprensa. venção de Cristina a diversos meios
brigar dentro dos organismos inter- de comunicação fica difícil confiar
nacionais, principalmente ONU”. Diante as políticas populares de nos dados do atual governo. Neste
Ferreira também não acredita no Cristina na atualidade, como expli- âmbito, “o governo da senhora
conflito bélico. “Não existe perigo car os 18% de aprovação do gov- Kirchner não tem se caracterizado
por medidas populistas, a não ser
com relação aos ‘piqueteiros’, um
grupo de ação cujos membros, em
troca de apoio ostensivo ao gov-
erno e atacando manifestações dos
que são contrários às políticas que
este adota, gozam de posição rela-
tivamente boa no quadro social do
Cristina Kirchner é
mais uma
representante de
estado nacionalista
da América Latina
DIEGO GILDICE
24 América Informativa | Julho de 2010
25. país”, afirma o professor Oliveiros de Cristina. “Ainda que esforços
da Silva Ferreira. No dia em que ideológicos tendam a mascarar a re-
Cristina venceu as eleições a BBC alidade, a crise econômica faz com
de Londres enfocou no seu site uma que os trabalhadores argentinos per-
notícia comparativa entre ela e Evi- cebam que a realidade não é aquela
ta Perón, colocando Cristina em um que esta sendo proferida nos discur-
patamar superior em diversos aspec- sos”, afirma Vilarino.Porém, diante
tos, desde carismáticos até políticos. a tentativa de reservar dinheiro do
Vilarino não concorda com este en- orçamento para a população mais
foque. Ele lembra que Evita vincula carente qualquer medida contrária
um drama pessoal como se estivesse ao discurso neoliberal acaba sendo
entregando seu corpo e sua alma à intitulado como populista. “Acusar
pátria, enquanto que Cristina vive um líder latino americano de popu-
em outro contexto diante uma imen- lista é a coisa mais fácil, como se de
sa crise economia. Contudo as duas fato fosse uma coisa ruim. É como
dizer que isso
DAVID GRAY
esta fora do
jogo, sem
credibilidade.
De repente
joga todo
mundo no
mesmo saco e
ninguém con-
segue iden-
tificar mais
nada”, con-
clui Vilarino.
O neopopu-
lismo que a
grande imp-
Kirchner trouxe o show da Madona para os rensa insiste
Argentinos. Esta é mais uma política popular em enfocar
é concebido
acabam tendo o peronismo na alma, aqui como governos populares nacio-
uma por vinculo familiar e ideológi- nalistas, não só na Argentina como na
co e a outra pelo partido Justicialista. maioria dos países sul-americanos.
O professor Ferreira também não
concorda com a comparação. “Eva A grande imprensa aproveita o na-
Perón teve seu papel numa con- cionalismo do populismo do pas-
juntura política totalmente diversa, sado e começa a intitular os gover-
além de uma personalidade diferente nos latinos americanos - como o da
daquela que a Sra. Kirchner possui. Argentina - de acordo com seus in-
Imaginar que seria possível reedi- teresses econômicos. Cristina é uma
tar-se o fenômeno Evita será não só das poucas líderes sul-americanas
desconhecer a história da Argentina que está com baixíssima populari-
e a do peronismo, como descon- dade em sua gestão. A estagnação
hecer o processo histórico”. A crise financeira dos anos 90 fez com que
econômica que assombra a Argenti- a Argentina não estivesse preparada
na é o principal inimigo do sucesso perante a crise mundial do momento.
25 América Informativa | Julho de 2010
26. Malvinas ou
Falklands?
A disputa nas Malvinas está aquém do termo
populismo. O populismo já foi e o colonialismo
permanece, em pleno século vinte e um ingleses
foram enviados para ocupar o arquipélago
Por Renato Duarte
A Guerra das Malvinas ocor-
reu em 1982 entre a Argen-
tina e a Inglaterra pela soberania do
É interessante notar que o debate
atual é bem diferente. Naquele mo-
mento o país era governado pelo gen-
lar. O custo para operar uma plata-
forma num ambiente como esse pode
chegar a US$ 1 milhão por dia”.
arquipélago que havia sido domina- eral Leopoldo Fortunado Galdieri, A argentina conta com apoio de 32
do a força em 1833 pelos ingleses, um governo militar e opressor que países da América Latina, incluindo
quando colonos ingleses foram en- visava ganhar popularidade tentan- Brasil, mais o caribe. É tenebroso
viados para ocupar o arquipélago. do desviar a atenção dos problemas conceber a idéia de existir um ter-
Em 1965 os dois países ten- políticos internos que a Argentina ritório colonial em pleno séc. XXI.
taram chegar a um denomina- vivia com esta manobra populista.
dor comum através da Assem- A discussão sobre as Malvinas gan- É nesse ponto em que Cristina bate
bléia Geral das Nações Unidas. hou força quando a Inglaterra anun- e ganha apoio político do continen-
ciou prospecção petrolífera na pla- te. A evidência mostra que um novo
Foi discutida a resolução 1514, no ca continental das ilhas. A grande conflito bélico esta descartado. Não
qual é dado status colonial para as imprensa enfoca o fato como mais existindo a ameaça de guerra, o
Malvinas, com isso a Argentina res- uma política populista de Cris- que os ingleses vão fazer para não
gatou o território perdido diante a tina. Sendo essa uma discussão estabelecer o diálogo com os ar-
política colonialista da Inglaterra, que esta aquém do mero termo. gentinos? A discussão é fervorosa.
resolução 2065. Porém, em instantes, Todos os coirmãos do continente
a Inglaterra voltou atrás da decisão. O jornalista e colunista do jornal estão unidos diante do abuso inglês.
Em 1973 a Assembléia promove britânico The Guardian, Simon Tis- Aparentemente este é um embate
a Resolução 3160 para diminuir o dall, afirma que “os trabalhos de neocolonialista, não neopopulista.
fervor das discussões entre os dois exploração preliminares até agora
países. Porém, em 1982, a Argen- foram decepcionantes. E além das
tina ataca a região inglesa e começa tensões políticas, está o estresse físi-
a guerra das Malvinas, resultando co de trabalhar numa região aonde o
em mais de 655 soldados mortos mar em algumas áreas poder chegar
- 255 britânicos e três malvinos. a uma profundidade de três mil met-
ros. As chuvas são constantes e as
temperaturas no inverno, de conge-
26 América Informativa | Julho de 2010
27. A grande imprensa e o mito do
Neopopulismo na América
Enquanto a mídia nativa se concentra no discurso populista de Cristina a argen-
tina possui noventa e cinco por cento da população alfabetizada
Por Renato Duarte
É impressionante o discurso elitizado que a grande imp- Naturalmente competir com o PIB dos
rensa brasileira possui. As afirmações, ou acusações da grandes países do capitalismo sempre foi difí-
grande imprensa não trazem dados concretos para pro- cil para os Estado Nacionais do continente.
var a sua informação. Por uma coisa muito simples. Se Nestor Kirchner teve que retomar a economia
os próprios historiados possuem dificuldade para con- de alguma forma – como de fato foi feito - com
ceber o termo populismo para a atualidade, como po- oratória, renegociando contratos de dívida externa.
dem os grandes jor- A grande imprensa se
nalistas brasileiros preocupa com a retra-
acusar os governos ção macroeconômica do
sul-americanos? PIB dos argentinos, se
É o que acontece esquecendo dos outros
normalmente na setores como educação.
mídia nativa. Os Afinal, a Argentina possui
jornalistas ao os somente cinco por cento
julgadores; através da população analfabetos,
da união de di- segundo último levanta-
versos meios de mento da Cepal (Comis-
comunicação bur- são Econômica para a
gueses em uma América Latina e o Car-
só ideologia, for- ibe) que tem base em es-
mulam a opinião timativas da população de
esquecendo-se da 15 anos ou mais em áreas
regra básica do urbanas da América Lati-
jornalismo - apura- na e do Caribe.A impren-
ção qualitativa. São muitos os meios de comunicação sa deveria trazer uma análise mais qualitativa antes de
brasileiros que acusam algum líder de populista sem ao começar com a arte taxionômica de pré-conceituar.
menos procurar alguma fonte do campo das ciências Deveria buscar duas opiniões divergentes para que o
sociais para confirmação do que está sendo veiculado. receptor seja respeitado no que tange a qualidade de
Em u texto de 23 de fevereiro, a Folha de S. Paulo fez informação e a apuração jornalística. Porém, quando
uma reportagem condizendo que o PIB tinha começado os meios de comunicação elitizados se unem é difí-
a cair desde a ascensão de Cristina. Porém, os mesmos cil se livrar do contexto. O preconceito é enraizado e
ignoram que em 2006, um ano antes de Cristina assumir vira um fato social geral diante a sociedade dada. É
a presidência, o PIB já caia com rumores de mais queda necessário ter cuidado com o mito do neopopulismo
para os próximos anos. Não obstante não mencionam que estimulado pela grande imprensa da América Latina.
a taxa de pobreza diminui com o casal Kirchner no poder.
27 América Informativa | Julho de 2010
28.
29. Política
Da Esquerda para a
Direita
Depois de uma longa trajetória de presidentes esquerdistas,
o Chile vive uma nova fase
chileno?Durante os últimos 4 anos
o Chile foi governado por Michele
Bachelet, mulher considerada um
exemplo até pelos próprios ci-
dadãos. Filha de um general da for-
ça aérea que foi perseguido, preso
POR RENATO DUARTE PLANTIER
e morto durante a ditadura, Michele
J
se formou em medicina pela Uni-
versidade do Chile, foi também uma
perseguida política e no ano de 2000
“ Bachelet era uma
militante política, o
Piñera é um homem cuja
vida nem sempre foi
“
ligada à política
DIVULGAÇÃO
foi eleita ao primeiro cargo político
de sua trajetória: Ministra de Saúde.
Nota-se então de cara as principais
diferenças entre Bachelet e Piñera:
“A Bachelet era uma militante políti-
ca, o Piñera é um homem cuja vida
Por Thamyris Barbosa não foi sempre ligada à política. (...)
A primeira ocupação do Piñera foi a
U m presidente deposto, uma Foram mais 17 anos de comando questão empresarial”, comenta
ditadura instalada, 20 anos esquerdista no país, até que nas ul-
de repressão. timas eleições um candidato de 61
Com o fim da era Pinochet o Chile anos, empresário com participação
voltou a caminhar a passos largos em várias corporações, milionário
em direção à democracia. Elegeu e de centro-direita põe fim a este
por votos diretos o presidente Patri- ciclo.A vitória de Sebastian Piñera
DIVULGAÇÃO
cio Aylwin, em seguida Eduardo sobre Eduardo Frei foi o marco de
Frei Ruiz-Tagle, Ricardo Lagos e uma mudança drástica num país
finalmente Michele Bachelet. O que tradicionalmente esquerdista. Mas
todos esses presidentes têm em co- a que se deve tamanha mudança
mum? Todos são socialistas. no comportamento do cidadão
29 América Informativa | Julho de 2010
30. BEGSTEIGER
o Doutor em Ciências Políticas
Antônio Carlos Peixoto.
Piñera é economista e membro do
OSCAR CABRAL
partido de centro-direita Reno-
vación Nacional . Assumiu o cargo
em 11 de março de 2010, após o de-
sastroso terremoto de 27 de feve-
reiro, que deixou pelo menos 802
mortos e 500 feridos. Ele foi eleito
com a promessa de reconstruir do ção à marinha,que não teria dado o e Cultura. Embora não tenham sido
país. alerta de tsunami. De modo geral, solucionados problemas mais pro-
Como o terremoto ocorreu ainda a Bachelet sai com a imagem um fundos e nem problemas de justiça
na gestão de Bachelet, houve rec- pouco arranhada, segundo a avalia- ainda pendentes da ditadura (de fato
lamações principalmente em rela- ção de Antonio Carlos Peixoto. Augusto Pinochet morreu sem ser
Apesar deste arranhão do terremo- julgado e condenado), a liderança
“
to, o mandato da ex-presidente foi de Bachelet foi avaliada como de
Michele teve uma muito bem avaliado pelos chilenos. boa qualidade. Esta é a visão de Di-
“
gestão focada nos aspec-
tos sociais e aumentou
acesso dos chilenos à
Mas ainda não serviu para eleger
seu sucessor de esquerda, Eduardo
Frei.
ego Weissel, um jovem nascido na
Alemanha, mas que mudou-se para
o Chile com sua família em 1999.
O governo de Michele teve uma Mas esta não é apenas uma visão
internet gestão focada nos aspectos sociais, singular, a ex-presidente chilena
melhorou muito o aceso do chileno encerrou seu mandato com 86% de
de classe media e baixa à Internet aceitação popular.
30 América Informativa | Julho de 2010
31. A primeira é que, segundo Antonio bastian Piñera.
A boa aceitação de seu governo Peixoto, Bachelet não se empenhou
deve-se basicamente a dois fatores, por Eduardo Frei. “Ela cruzou os O novo governo
segundo análise do cientista político. braços, não foi pra esquina da rua,
Primeiro a personalidade dela. Ela é trepar num caixote e pedir voto pro O cidadão chileno Diego Weissel
uma mulher que inspira respeito an- candidato dela que voltaria portanto entende que o Chile esta confiante
tes de mais nada -até pela trajetória à democracia cristã como o Lula no governo de Sebastian Piñera.
política. Ela não é uma aventureira, está fazendo para a Dilma Roussef. “Deve deixar uma boa impresão no
no ponto de vista político". Em se- Ela não se movimentou”, explica. começo, pois alem de ser um novo
gundo lugar, a gestão dela à frente pressidente é uma nova etapa na
do Estado chileno foi uma gestão Uma segunda hipótese levantada política chilena onde a direita reto-
marcada pela sinceridade. "Ela nun- pela Secretária Internacional do ma o poder após quase 20 anos nas
ca enganou ninguém. Era uma mul- Partido Comunista do Chile no Bra- mãos da “Concertación”. É um mo-
her que tinha franqueza. Se ele dizia sil, Marilena Santos, é que uma vez mento chave onde a opinião publica
isso, é isso. O governo dela foi um que o candidato derrotado Eduardo avalia fortemente o governo e onde
governo marcado pela honestidade. Frei já tenha sido eleito à presidên- qualquer indicio de descaso pode
Corrupção existe em qualquer lugar cia em 1994, o povo chileno decidiu significar uma importante perda da
do mundo. Uma coisa é corrupção apostar em algo novo, já que con- incipiente confiança.
consentida, outra coisa é corrupção hecia o estilo de governar do ex- A partir de uma avaliação a respeito
por baixo do pano. Se existiu ou não presidente. do novo governo chileno, o Doutor
existiu no Chile, é difícil dizer. Mas em ciências políticas destaca que
certamente ela foi uma mulher que A terceira possibilidade levantada um ponto importante do Piñera é a
impôs um padrão de honestidade ao pelo jornalista chileno, Diego Weis- questão da educação, “Ele vai ten-
modo político de operar o governo sel, é que houve um desencanto com tar aumentar o grau de ensino no
chileno. Então a população chilena a performance dos governos de cen- Chile”.
gostou dela”. tro-esquerda, que não conseguiram
solucionar problemas ainda graves
A eleição de Piñera torna-se assim
intrigante, afinal, o candidato que
de diferencias sociais e culturais
muito agudas. Nem dar uma ver- Você sabia?
disputava as eleições com ele (Edu- dadeira opção de reconciliação dos
ardo Frei Ruiz) foi escolhido pela dois principais pólos ainda muito Os japoneses
Consertacion (uma coalizão eleito- separados e intolerantes da esquerda investiram em
ral de partidos políticos chilenos de e direita tradicionais. Apareceu, no
centro-esquerda onde confluem so- entanto uma nova direita, popular
bancos de pesca no
cial-democratas e democratas-cris- se voltando por questões, fazendo Chile, e hoje o salmão
tãos. É formada por quatro partidos uso de muito marketing para atrair que se consome no
políticos principais: Partido Demó- os indecisos.
crata Cristiano (PDC); Partido por la Foi crescendo uma idéia de que
Brasil é exportado de
Democracia (PPD); Partido Radical devia ser dada uma oportunidade a lá. Os enlatados,
Social Demócrata (PRSD) e Partido essa nova direita (embora herdeira resultantes da
Socialista (PS)) para substituir a en- da direita enriquecida e defen-
tão governante Michele Bachelet. dida pela ditadura militar, e talvez
pesca são uma fonte
Mesmo com tanta popularidade, chamada de "nova" como um sim- de renda
ela não conseguiu transferir seus ples recurso publicitário). Isto agiu extremamente lucra-
votos para derrotar um rival histori- em consonância com uma tendência
camente em desvantagem (por ser “direitizante” da política mundial e
tiva, porque o litoral
de direita) e pouco conhecido na um desencanto pelas classes políti- chileno é muito
política chilena. cas de centro-esquerda também aco- abundante.
modadas, o que acabou por deixar o
Há quatro hipóteses para a questão. poder em mãos do empresário Se-
31 América Informativa | Julho de 2010
32. O CenáriO
ISAAC BREKKEN
No dia 11 de setembro, o atual presidente foi deposto
através do golpe militar e as forças armadas chilenas
bombardearam o La Moneda
DIVULGAÇÃO
Por Thamyris Barbosa
O comandante que liderou
o golpe nasceu em Val-
paraíso, ingressou na carreira
retaliação aos líderes militares.
Uma figura importante da história
chilena, no que diz respeito à di-
tadura é o cantor, compositor,
militar aos 17 anos e chegou ao ator e revolucionário Victor Jara.
cargo após a renúncia de Carlos Ele foi detido junto com outros
Prats, que se recusava a partici-
par de qualquer golpe de estado.
alunos e professores,no golpe de
estado, e conduzido ao Estádio
Canção
O novo comandante-em-chefe as- do Chile (usado como campo de
sume a presidência em 17 de Jun- concentração).Jara foi mantido Venceremos
ho de 1974. Instala-se a ditadura. lá durante vários dias, foi tor- (composição: Victor Jara)
Augusto Pinochet era seu nome. turado e teve suas mãos cortadas
Foi autor do período considera- como parte do "castigo" dos mili- No que diz respeito a nossa
do mais autoritário e violento tares a seu trabalho de conscien- bandeira mulheres se jun-
do Chile. No poder do Chile dis- tização social aos setores mais taram ao clamor
solveu o Congresso, proscreveu desfavorecidos do povo chileno.
os partidos políticos, restringiu O próprio Pinochet continuou no O vencedor da Unidade Pop-
os direitos civis e declarou ilegal comando do Exército até 1998, ular opressor ianque é grave
a Unidade Popular, frente que quando passou a exercer a função
apoiava Allende, prendendo seus de senador vitalício no Congresso, Refrão: Venceremos, vencere-
principais líderes. Foi responsável mos com Allende, em setembro
à qual renunciou em virtude dos
pela morte de cerca de 3 mil oposi- a ganhar
problemas de saúde e das diver-
tores do regime e tortura de quase sas acusações de violações aos Venceremos, venceremos
30 mil. Centenas de milhares de direitos humanos. Em julho de Unidade Popular no poder.
chilenos foram obrigados a exilar- 2001, apresentou um atestado
se. Paralelamente, o general pro- de debilidade mental que o sal- Com a força que vem do povo
moveu reformas econômicas, cujo vou de uma possível condenação. um país melhor para fazer,
sucesso inicial levou a se falar num Pouco antes de morrer, assumiu batendo juntos e unidos
"milagre econômico chileno". a responsabilidade pessoal por poder, poder, poder
Em 18 de fevereiro de 1988, tudo o que ocorreu no Chile du-
porém, Pinochet foi derrotado no Se a justa vitória de Allende
rante seu governo, declarando a direita quiser ignorar
plebiscito que podia referendar o assim ter agido por patriotismo. todas as pessoas, determi-
prolongamento da sua presidên- No dia 3 de dezembro de 2006, nadas e corajosas com um
cia. No ano seguinte foram real- aos 91 anos, o general sofreu homem se levantará.
izadas eleições e o general entre- um ataque cardíaco e foi in-
gou a presidência ao democrata ternado às pressas no hospital
cristão Patricio Aylwin, em 11 de militar de Santiago. Faleceu no
março de 1990. Mas a transição dia 10, ironicamente o dia inter-
ao regime democrático foi cer- nacional dos direitos humanos,
cada de cuidados para não haver e foi velado na Escola Militar.
32 América Informativa | Julho de 2010
33.
34. Política
Hugo Chávez e a
Um relacionamento de
Um balanço dos doze
anos de Hugo Chávez
no poder
Por Rômulo Mendes
H ugo Chávez é sem dúvida
o principal responsável por
colocar a Venezuela aos olhos do
mundo, no entanto as terras ven-
ezuelanas lhe concederam o espaço
para a implantação de sua política,
gerando um relacionamento de
12 anos. Relação, esta que divide
opiniões em torno do assunto. Den-
tro desta conjuntura nasceram os
chavistas e anti-chavistas que dire-
cionam o caminho do país. Entenda
melhor sobre o relacionamento en-
tre Chávez e a Venezuela.
Histórico Popular
Chávez disputou a presidência
em 1998, contra o empresário
Henrique Salas Römer e acabou
sendo eleito por 56% da aprova-
ção eleitoral, sucedendo Rafael
Caldera DO COPEI. Chávez emer-
giu ao poder como uma renovação,
segundo o especialista em ciên- Política Electoral Independendiente. estatais em prol da população
cia política e doutor pela IFLCH Para o especialista em ciência mais humilde e sua diferenciação
da USP, Rui Maluf, sua imagem política e professor doutor da uni- aos outros políticos antecedent-
se fortaleceu devido o descrédito versidade Mackenzie, Agnaldo es é o forte centralismo político.
contra as forças políticas tradi- dos Santos, Chávez é um divisor Já eleito como presidente da Ven-
cionais AD, Ação Democrática E de águas na política de seu país, ezuela, suas primeiras implementa-
COPEI, Comitê de Organizacion devido à reorientação das ações ções na política foram à mudança do
34 América Informativa | Julho de 2010
35. Venezuela
AMOR E ÓDIO FERNANDO CAVALCANTI
Responsável por um terço do PIB
do país, a exportação do petró-
leo foi um dos pontos negativos
do seu governo. Para Rui Maluf a
perseguição de Chávez as ativi-
dades econômicas privadas domes-
ticas e internacionais caminhou na
contramão e conseqüentemente
criaram-se menores oportunidades
para oferecer a população. O seu
descontentamento com a política
“ Chávez é um divisor
de águas da política de
seu país, devido a
“
reorientação das ações
estatais em prol da
população mais
humilde
neoliberal dos Estados Unidos
foram um dos primeiros indícios
para um governo autoritário. Alvo
de críticas por parte da imprensa
Venezuelana ao longo de seu man-
dato, esta rincha ganhou noto-
riedade após a tentativa de golpe
sofrida pelo governo Chávez, em
2002. Segundo Maluf, a briga do
governo e a imprensa é o fruto de
nome do país para “Republica Boli- Chávez as classes de menores ren- uma concepção autoritária do poder,
variana da Venezuela”, seguindo na das experimentaram uma melho- que o faz não aceitar ser contestado.
construção de um novo modelo, a ria em suas condições financeiras, Paralelo a isso, Agnaldo Santos, de-
Assembleia Nacional, que aumen- entretanto ao longo de seu man- clara ser contrário a esta posição,
tou o poder ao legislativo, causando dato, sua posição foi extrema- dizendo que é preciso saber como
o prolongamento do seu mandato. mente radical, principalmente ao é o comportamento da imprensa,
Com a política exercida de Hugo tratar-se de políticas externas. se ela cumpre mais o papel de in
35 América Informativa | Julho de 2010
36. formar do que o partido político.
Ainda, relata um acontecimento
em 1964, quando a mesma im-
prensa venezuelana apoiou um
golpe contra o presidente da época.
Chavistas e anti-chavistas
O estilo de política de Hugo Chávez
deu início aos chavistas e anti-
chavistas: são eles quem o aprova
ou não. Divisão explícita que já
chegou às ruas, por meio de con-
frontos. Exemplo que se pode ser
EDDIE KEOGHREU
visto no filme “A revolução Não
Será Transmitida”, dos irlandeses
Kim Bartley e Donnacha Obrian.
“A polarização foi latente durante
muitos anos devido às característi-
cas de sua sociedade e economia,
E mantêm apoiando o mandatário, nutenção de seu perfil, o presidente
porém, reascendendo ao poder, o
enquanto o restante dos 59% man- contratou uma equipe especial-
mandatário atual o explorou como
tém pouca ou nenhuma confiança. mente para lidar com esses proble-
um amigo-inimigo, não tem nada de
Para o jornalista Rafael Brasil, do mas, perguntado a Agnaldo, sobre
positivo pensando a médio e longo
Grupo Bandeirantes de Comuni- as possíveis contradições que con-
prazo da vida do país”, afirmou Rui.
cação, a queda da popularidade de tornam a nova empreitada do man-
Chávez é a prova de que a política datário Chávez, ele responde que o
Queda de popularidade acesso à internet está alcançando a
autoritária dele ruma para a di-
Ao longo de seus mandatos, a todos, por meio da política de in-
tadura, contudo, isto é um forte
política exercida por Hugo Chávez clusão digital, mesmo o setor pri-
índice de uma futura mudança.
centralizou as classes de baixa vado com a criação das lan houses.
Concordando com a mesma
renda da Venezuela, por este mo-
opinião de Rafael, Rui acrescen-
tivo que o rótulo de populista O enfraquecimento do governo
ta que a queda de popularidade é
surgiu na mídia se popularizan- Chávez gera muitas perguntas
uma constatação das lacunas que
do diante das classes humildes. e a principal delas é a existên-
os serviços públicos deixaram
Porém, atualmente sua popularidade cia da possibilidade de renova-
devido a evidência do enfraqueci-
vem atingindo quedas, segundo a ção no poder da Venezuela?
mento que a política externa sofre.
pesquisa divulgada pela empresa
Entretanto, Chávez não poupa esfor-
venezuelana Interlaces, somente
35% da classe D e 43% da classe
ços para (re)-fortalecer sua imagem O futuro de Hugo Chávez
e eleger sua posição nas próximas
“
eleições legislativas em setembro, Há algum tempo, mesmo que seja
A queda de prova disso é a criação de um per- de uma forma tímida, os ares de
fil no “twitter”, uma rede social. renovação pairam no ar de Miro
popularidade do
“
presidente venezuelano é
a prova de que a política
autoritária dele rume para
De acordo com sua última declara-
ção fornecida na sua vinda ao Bra-
sil em abril deste ano, ele possui
Flores. Passando por problemas
internos, com forte ruptura na sua
base aliada, o governo começa
a sentir uma pequena ameaça.
a ditadura média de 20 mil novos seguidores. Segundo Rui, vários sinais já vem
Tendo o número extenso de segui- sendo dados divulgados, como,
dores e não dando conta da ma- por exemplo, o resultado das últi-
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37. mas eleições regionais em que as uma base social pouco organizada, do seu mandato, sua atuação foi
oposições venceram em estados sendo possível que ele conduza um bastante proveitosa, houve o au-
importantes. A eleição para o Leg- sucessor, devido a divisão social”. mento de poder aquisitivo para
islativo no final desse ano pode O relacionamento de Hugo Chávez classe pobre, no entanto, o seu
ser outro momento muito valioso. e a Venezuela está desgastada, am- descontentamento com a política
Após ministros de sua própria base es- bos tiveram um relacionamento de externa do país deu início ao man-
dato autoritário, que elevou em
suas contradições já conhecidas.
Contrariando esta opinião, Agnal-
do dos Santos, mantêm a declara-
ção que essa pergunta deveria ser
respondida por um venezuelano,
sua explicação vem do fato da
imprensa distorcer alguns acon-
tecimentos da Venezuela, devido
ao seu relacionamento pertur-
bado com os Estados Unidos.
Dos doze anos...
de mandato, muitas coisas acontece-
ram, para pontuar o relacionamento
entre ambos, a Venezuela como país
PAUL SAKUMA
e Hugo Chávez como mandatário,
o jornalista Rafael Brasil, explica
que o desequilíbrio seria a melhor
maneira de qualificar esse período,
apesar do Chávez se mostrar um
pouco flexível quando questionado
sobre políticas externas e internas,
tarem envolvidos com problemas de amor e ódio ao longo dos 12 anos, detêm uma briga com a imprensa,
corrupção, Chávez destituiu alguns na atual conjuntura do presidente então notamos que existe um forte
cargos. No entanto, para o jornalista venezuelano que se encontra em desequilíbrio no seu mandato.
Rafael, Chávez encontra-se com a queda da popularidade, seria o
constituição a seu favor e, portanto melhor posicionamento de mu- Para Agnaldo Santos, o problema da
seria difícil uma renovação imediata. dança a surgir no cenário político América Latina é a desigualdade e
Na atual conjuntura nota-se algo do país, para fortalecer a imagem exclusão social no continente, que
parecido com o que Cristina Kirch- do presidente como mito e as- a corrupção só faz aumentar, nesse
ner está vivenciando, que vem ge- sim abrir espaço para renovação. ponto de vista Hugo Chávez favore-
rando problemas sucessivos, cau- ceu a Venezuela.
sando a perda de sua popularidade. O saldo final Em visita pelo Brasil, o próprio de-
Prever o que irá acontecer com o presi- clarou opinião sobre sua atuação e
dente da Venezuela, não é tarefa fácil. É preciso entender o benefício diz estar implantado o socialismo
A Venezuela está tão caracter- que a Venezuela está ganhando que Simon Bolívar sonhava, quan-
izada por Chávez, que a modi- com a personificação do seu man- do questionado sobre possível ren-
ficação é quase inatingível. datário, principalmente em ter- ovação na presidência, foi claro
Para Agnaldo Santos é possível que mos de país que está se desenvol- ao afirmar que a Venezuela ainda
ela faça um sucessor “existe o risco vendo, segundo o especialista Rui precisa dele.
dele se transformar personalista, com Maluf, se formos pensar no início
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