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                 PORTU
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                            EM
                             10
                 MINUTOS
                 A crise económica portuguesa
                 não tem origem num “Estado
                 gastador”, não é só da “res-
                 ponsabilidade deste Governo”
                 nem dos cidadãos “que vivem
                 acima das suas possibilidades”
                 Para a compreender há que recuar no
                 tempo e verificar que se tomaram ao
                 longo dos últimos anos um conjunto de
                 decisões políticas justificadas por teorias
                 económicas bastante em voga e enqua-
                 dradas por premissas ideológicas que têm
                 sido hegemónicas nas últimas décadas.
1. Para não recuarmos demasiado no tempo, vamos começar pela Integração Europeia e a criação de uma moeda única – o Euro.

q   A liberalização dos mercados dentro da Europa e fora da Europa
(no âmbito das negociações da Organização Mundial do Comércio)
com o resto do mundo, deixou o nosso sector de bens transaccionáveis
exposto a uma concorrência que não tinha condições para enfrentar.

q Com a entrada no Euro, deixamos de ter a possibilidade de desva-
lorizar a “nossa moeda” para estimular as exportações e encarecer as
importações

q Os critérios de convergência então adoptados ao nível da UE não
tiveram em conta a situação real das economias, focalizando toda a sua
atenção no controlo da inflação e dos défices orçamentais, em detri-
mento da aposta na convergência económica.	

2. A partir da adesão à CEE, e com a posterior transformação
da Comunidade Económica Europeia em União Europeia, Portugal
entrava num projecto cada vez mais comprometido com o paradigma
neoliberal. E esse paradigma estipulava, como continua a estipular,
privatizações maciças, em especial das empresas que mais lucros
davam ao Estado.

q Começou-se por privatizar o sector financeiro que serviu depois
de pivot – através da concessão de crédito – ao restante plano de
privatizações: EDP,PT, GALP, BRISA

q Apostou-se num cenário macroeconómico estável – inflação baixa,
moeda forte – associado a um mercado de trabalho mais desregulado e
com salários mais baixos (mais competitivos) do que no resto da UE. A
iniciativa privada e o empreendedorismo fariam o resto pelo florescimen-
to e requalificação da economia portuguesa. Os mercados desregulados nacional e internacionalmente seriam fonte segura de prosperidade.
3. Mas todas as dificuldades vividas pelo setor produtivo, nomeadamente a




                                                                                             p
forte exposição à concorrência externa, desincentivaram o investimento nesta área, ainda
para mais quando, ao mesmo tempo, através de leis e políticas diversas, se abriam portas
ao capital para o investimento em sectores rentistas, protegidos da concorrência externa:
imobiliário, distribuição, sector financeiro, energia e, mais recentemente, saúde e educa-
ção. A balança comercial portuguesa continuou a deteriorar-se. Importámos cada vez mais
e produzimos cada vez menos o que consumimos.

4. Por outro lado, as baixas taxas de juro e a moeda forte foram o enquadramento ideal para o estímulo de uma
                                                           cultura consumista associada a uma cada vez mais forte
                                                           agressividade das instituições financeiras que se espe-
                                                           cializaram no crédito às famílias e não ao sector produ-
                                                           tivo. O endividamento privado cresceu para compra de
                                                           casa e outros bens essenciais na mesma medida em que
                                                           a provisão pública recuava e os rendimentos estagna-
                                                           vam. Por outro lado ainda, “a obsessão pelo défice orça-
                                                           mental” não só retirou margem de manobra ao Estado
                                                           para intervir de forma sistemática no desenvolvimento
                                                           da Economia, como o levou a lançar mão a mecanismos
                                                           para obter receitas extraordinárias (mais privatizações,
                                                           titularização de dívidas ao Estado, integração de fundos
                                                           de pensões) e conseguir fazer investimentos sem ex-
                                                           cessivo impacto imediato nas contas públicas, usando e
                                                           abusando das chamadas Parcerias Publico-Privadas.
                                                           Estas decisões tiveram o impacto contabilístico
                                                           esperado no controlo do défice orçamental mas, a prazo,
                                                           tornaram-se negócios que criaram grande erosão nas
                                                           contas públicas.
6. Mas a crise financeira não che-          8. Aparece a percepção nos merca-
subprime. A falência do gigante Lehman        gou a Portugal apenas vinda do exterior.    dos financeiros de que o Estado poderá
                                              A falência do BPP e do BPN, para além       começar a ter dificuldade em pagar os
                                              da sua componente de “caso de polícia”,     empréstimos que faz no exterior e que
                                              está também relacionada com a prévia        terá de dar garantias aos empréstimos
                                              desregulação dos mercados financeiros       do sector privado. Alimentados pela
                                              e a supervisão ineficaz neste sector. Os    especulação financeira, os juros tornam-
financeiro global. Nunca estivemos tão per-   custos directos da salvação do sistema      -se cada vez mais altos, pressionando as
                                              financeiro em Portugal ainda estão longe    contas públicas e a economia no sentido
                                              de estarem todos contabilizados.            da recessão.

                                              7. Com uma economia em grandes              Neste cenário, é preciso sublinhar o papel
                                              dificuldades, com enormes problemas         das três agências de notação financeira. A
                                              em aceder ao crédito, com o seu sector      Fitch, a Moody’s e a Standard and Poor’s,
                                              produtivo fortemente deteriorado, com       cuja credibilidade já tinha sido posta em
                                              défices comerciais cada vez mais altos,     causa no início da crise (o banco Lehman
foi inevitável e teve consequências           com famílias fortemente endividadas, as     Brothers, por exemplo, teve sempre
                                              receitas do Estado caíram abruptamente      classificação máxima até à sua falência),
                                              ao mesmo tempo que crescia a pressão        diminuíram em vários níveis e no espaço
                                              do lado das despesas, nomeadamente          de pouco tempo a classificação do risco da
                                              através do aumento das prestações sociais   dívida soberana portuguesa. Sem ter por
                                              (como subsídios de desemprego) e dos        base qualquer indicador económico rele-
                                              compromissos assumidos no âmbito das        vante, o corte abrupto da notação pressio-
                                              Parcerias Público-Privadas.                 nou os juros no sentido ascendente.
Esta prática está a levantar querelas criminais em diversos
                países, uma vez que accionistas e clientes destas empresas de
                notação, são igualmente grandes investidores nestes títulos
                de dívida, cujos juros não param de crescer, influenciados
                pela classificação das próprias empresas de notação.
                O défice e a dívida pública aumentam -cada vez mais pressio-
                nados pelos altos juros- e aparecem os PECs (“Plano de Esta-
                bilidade e Crescimento” -que no fundo são planos de redução
                de défice) e os Orçamentos de austeridade, como uma inevi-
                tabilidade para tentar apaziguar os mercados financeiros.
9. As medidas de austeridade, para além do impacto social negativo, não
                têma eficácia esperada, quer no controlo do défice, quer na
                estabilização dos juros da dívida. As políticas de austeridade
                retraem o consumo e o investimento, portanto, para além de
                aumentarem o desemprego, diminuem ainda mais as receitas
                do Estado. Ao mesmo tempo, a pressão das despesas aumenta
                e o Estado perde margem de manobra para realizar investi-
                mentos públicos que dinamizem a economia. A ideia de que
                Portugal não conseguirá cumprir com as suas obrigações a
                nível de empréstimos generaliza-se cada vez mais como um
                fenómeno de “profecia auto-realizada”, típico do funciona-
                mento volátil dos mercados: Como o país não dá garantias,
                aumentam-se os juros e corta-se o crédito, criando ainda
                mais condições para que o país não dê garantias…
                10. O Governo pede a intervenção do FMI, procu-
                rando a obtenção de um grande empréstimo com juros mais
                baixos do que os juros que estavam a ser praticados “no mer-
                cado”, praticamente inacessíveis. Em troca terá de aprofun-
                dar o seu programa de austeridade e as políticas de desregu-
                lação do mercado de trabalho e de privatizações que estão, no
                fundo, na origem da crise.
11. O memorando da troika estabe-                12. A redução da dívida públi-                   14. O regresso aos mercados foi, na
lece as contrapartidas que Portugal se com-      ca é o objetivo principal da austeridade.        posição oficial do Governo, a recompensa
promete a cumprir para que a troika lhe          A primeira versão do memorando previa            por toda a destruição social. Portugal con-
empreste o dinheiro, num total de 78 mil         uma dívida equivalente a 112% da rique-          seguiu pedir dinheiro emprestado a inves-
milhões de euros, dos quais 12 mil milhões       za produzida anualmente no país, no final        tidores privados, a uma taxa de juro insus-
para os bancos. Foi o Governo Português          de 2012. No entanto, o valor aumento para        tentável (5%) e que terá de ser devolvido
quem determinou quais as medidas que             122,5%, mais 19,1 mil milhões de euros em        daqui a cinco anos. Mas como se explica
incluía no ‘pacote’. Dois critérios foram        apenas um ano. Quanto mais se aprofun-           tal operação, se o défice está a aumentar, a
adotados: por um lado, o de cortes indiscri-     da a austeridade, mais afunda a economia.        dívida nunca foi tão grande e o desemprego
minados no Estado e nos serviços públicos,       Apenas o crescimento da economia e a re-         real afeta um em cada cinco trabalhadores?
sem coerência ou avaliação dos seus impac-       estruturação permitem diminuir os níveis         Porque o Banco Central Europeu (BCE)
tos; por outro lado, a inclusão de todas as      da dívida pública.                               garantiu que iria proteger os credores. Por
medidas neoliberais que mereciam a recusa                                                         isso, a Irlanda e Espanha tiveram acesso aos
da maioria da população, como a privatiza-       13. As metas definidas estão sem-                mercados antes de Portugal. As condições
ção dos setores estratégicos da economia                                                          de financiamento beneficiaram até a Gré-
-águas, correios, empresas de transportes        pre a falhar, pois a austeridade destrói         cia. Mas o BCE apenas efetuará essas ope-
de passageiros e de carga, aeroportos, pro-      a economia. Quando se corta no investi-          rações caso os países demonstrem conse-
dução e transporte de energia- e a elimina-      mento público, a economia ressente-se, as        guir aceder aos mercados financeiros para
ção ou redução de direitos, como à saúde e à     receitas de impostos baixam devido às fa-        se financiarem. Portugal deu um primeiro
educação, cortes nos rendimentos, ao mes-        lências, o desemprego aumenta e a despesa        passo para preencher estes requisitos, mas
mo tempo que crescem os impostos.                sobe por via dos gastos com apoios sociais.      atenção: o BCE exigirá mais medidas de
Em menos de dois anos, o memorando já            Para compensar o Governo corta ainda mais        austeridade. Vem aí um novo memorando.



                                                                                                             p
foi revisto seis vezes. Quando nos dizem         no investimento. Esta é a espiral recessiva
que estamos e temos que cumprir o memo-          que necessita de ser invertida. O memo-
rando, não nos podemos esquecer que a ge-        rando da troika é responsável por mais 400
neralidade das medidas que lá estão foram        mil pessoas em situação de desemprego
decididas pelo governo e que estão sempre        real, pela terceira recessão em três anos,
a ser alteradas.                                 os portugueses perdem poder de compra,
                                                 os transportes subiram três vezes em ano e
                                                 meio, a energia nunca foi tão cara, os pre-
                                                 ços dos hospitais são abusivos, 678 mil ci-
                 dadãos têm prestações de crédito em atraso e muitos milhares são expulsos de casa devido à nova lei das rendas.
15.




                                                A
                                              crise
                                          tornou mais
                                       clara a debilidade
                                     democrática dos regimes e
                                     das instituições nacionais, europeias e
                                internacionais. Nos últimos anos, tivemos pa-
                             íses europeus a serem governados por quem não foi
                          eleito (Itália e Grécia); governos europeus a condicionar a
                     realização de eleições de outros países europeus (Grécia); institui-
                ções financeiras internacionais (não eleitas pelos cidadãos) a condicionar
                  as escolhas económicas e sociais dos países (Portugal, Grécia, Irlanda).
          Pode quem se diz democrata assistir com indiferença ao facto de ser o BCE a determinar
       a emissão de euros, o valor dos juros (como à habitação) e boa parte das variáveis económicas
   que definem a política económica? A resposta não é desistir, mas melhorar e reforçar as garantias do
respeito e cumprimento da vontade das populações. O reforço dos mecanismos democráticos não é adiável.
UM OUTRO MUNDO E POSSIVEL:
E X I S T E M A L T E R NAT I V A S A AU S T E R I DA D E
É preciso estimular a economia. As políticas recessivas apro-            Desarmar os mercados: implementação efectiva da Taxa Tobin
fundam a crise e pioram o desemprego. Por mais que se fale em ex-        -taxa sobre as transações financeiras- e proibição de produtos finan-
portações a economia precisa de procura interna e de confiança no        ceiros especulativos, bem como de operações realizadas através de
futuro. Só uma política de estímulo ao emprego pode reestabelecer a      paraísos fiscais e proibir movimentos especulativos prejudiciais (por
procura e a economia. Para isso, o investimento público é fundamen-      exemplo, vendas de curto prazo, especulação nos produtos derivados,
tal por gerar emprego diretamente e estimular o investimento priva-      movimentos over-the-counter, trocas de alta frequência).
do. A austeridade não resolve os problemas, mas a crise é um ótimo
pretexto para se reduzir o Estado social a um mínimo histórico. A        Reforma fiscal europeia para dar às finanças públicas
criação de emprego deve passar pelo reforço do próprio Estado social
e dos serviços que ele disponibiliza aos cidadãos.                       uma base sustentável, que crie um sistema fortemente progres-
Também a nível europeu é preciso mudar. Queremos uma Europa para         sivo, em que os ricos e os lucros das grandes empresas paguem efec-
os Povos, não para os lucros: promover políticas económicas e sociais    tivamente mais impostos do que os que menos têm e cuja harmoni-
a nível europeu e recuperar e expandir os serviços públicos, para re-    zação, entre os países de UE, evite a competição e o dumping fiscal.
duzir desequilíbrios, promover a transição ecológica das economias,
garantir altas taxas de emprego, promover a igualdade de género e        Criação de mecanismos de controlo público sobre o
expandir os direitos económicos e sociais básicos (saúde, educação,      sector bancário e intervenção pública efectiva na CGD - um banco
habitação, informação, cultura, bem-estar social, etc) e garantir que    de capitais públicos - e nos bancos que foram recapitalizados pelo Es-
são assegurados por uma rede 100% pública.                               tado, de forma a direccionar o financiamento para o relançamento da
                                                                         economia real e o desenvolvimento. Regular de forma sólida os ban-
A ATTAC apoia os movimentos internacionais de au-                        cos (separar a banca comercial da banca de investimento, desmante-
ditoria da dívida. Os cidadãos devem conhecer a ‘factura’, saber         lar os bancos ‘demasiado grandes para caírem’).
quanto deve o país, a quem e porquê. Hoje em dia é cada vez mais claro   Permitir o financiamento público e democrático da economia, para
que não estamos sequer a conseguir atingir uma trajetória decrescen-     garantir o financiamento das necessidades sociais e económicas, ga-
te do crescimento da dívida, quanto mais pagá-la! A manutenção do        rantir os direitos sociais e financiar um transição ecológica. As polí-
Estado social e os direitos económicos, sociais e democráticos dos ci-   ticas de comércio internacional devem ser revistas para cumprirem
dadãos não podem ser postos em causa, ao mesmo tempo que se sal-         estes objectivos, em cooperação com os países em vias de desenvol-
vaguardam todos os interesses dos credores.                              vimento.
Y GLOSSARIO Y
Desvalorização da moeda: Instrumento utilizado pelos governos            Privatizações: Venda de empresas de capitais públicos a privados.
para promover as exportações e diminuir as importações.                  Permite um encaixe financeiro imediato mas a médio e longo prazo
Um hipotético escudo baixo face ao Euro, tornaria mais cara a com-       pode contribuir para a deterioração das contas públicas. Não só
pra de 1 carro em Espanha, se Espanha vendesse o carro em euros e        o Estado perde fontes de receita por via dos dividendos que essas
Portugal tivesse que trocar escudos por euros para comprar esse carro.   empresas geravam, como perde receitas em impostos, uma vez que
Pelo contrário, Espanha teria mais facilidade em comprar um tractor      as empresas privadas, tipicamente, têm procedimentos fiscais que
em Portugal do que na Alemanha, pois poderia trocar os euros que         resultam no pagamento de menos impostos.
iria utilizar no mercado alemão por muitos escudos que, em Portugal,
dariam para comprar mais do que um tractor.                              Sector Rentista: Actividades económicas que permitem obter uma
                                                                         renda regular sem grande necessidade de inovação, reforço do
Critérios de Convergência: São os critérios definidos pelo Tratado       investimento ou exposição à concorrência. Tipicamente não é uma
da Comunidade Europeia para que os países possam aderir ao Euro.         actividade de produção de bens transaccionáveis, para a exportação,
a) Inflação baixa, próxima da taxa, no máximo, dos três Estados-         por exemplo. Pelo contrário será a compra de bens imobiliários
Membros com melhores resultados em termos de estabilidade dos            (auto-estradas, Rede Eléctrica Nacional), para daí obter uma “renda”
preços; b) Défice público baixo, que não pode exceder os 3% do PIB;
c) Taxas de juro baixas, próximas das dos Estados-Membros com
menores taxas de Inflação
Parceria Público-Privada:                        Crise Subprime:                                 Défice Público:

Contrato para a realização de um investimen-     Crise financeira que começou nos EUA no         Diferença entre receitas e despesas do Estado
to público com dinheiro privado. Por exem-       mercado do crédito à habitação às famílias      em determinado ano. Todos compreendemos
plo: a construção e o funcionamento de um        com baixos rendimentos. Sem regulação ou        que é necessário por vezes haver períodos
hospital fica a cargo de um privado, mas o       supervisão, grandes instituições empresta-      mais ou menos longos em que é necessário
Estado deverá pagar um preço acordado por        ram somas avultadas, a juros altos a famílias   gastar mais do que o que se ganha. Durante
cada doente atendido, por cada médico de         que não conseguiram cumprir com os paga-        a infância e a velhice, por exemplo. Mas to-
prevenção nas urgências, etc. No curto prazo     mentos. O risco desses empréstimos estava de    dos compreendemos também que não é sus-
o impacto do investimento não aparece nas        tal forma disseminado e alavancado por todo     tentável manter infinitamente as despesas
contas públicas, uma vez que se vai repercutir   o mercado financeiro através dos chamados       acima do nível das receitas. Numa tentativa
ao longo dos anos, no médio e longo prazo.       “produtos tóxicos”, que a crise do “subpri-     de diminuição do défice os Governos podem
                                                 me” deu origem a uma gigantesca derrocada       procurar aumentar as suas receitas (subindo
                                                 com a falência de muitas instituições.          os impostos, por exemplo), e/ou diminuir as
                                                                                                 suas despesas (diminuindo o investimento,
                                                                                                 por exemplo). No entanto, os resultados des-
                                                                                                 sas políticas não são facilmente previsíveis.
                                                                                                 Por exemplo, o fim de um investimento, pode
                                                                                                 dar origem a dificuldades acrescidas junto de
                                                                                                 empresas que dependiam desse investimento
                                                                                                 e, indirectamente originar desemprego, que
                                                                                                 significa menos receitas (por via dos impos-
                                                                                                 tos) e mais despesas (por via das prestações
                                                                                                 sociais)
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A crise portuguesa em 10 minutos

  • 1. attac portugal primavera 2013 w Aw CRISE PORTU GUESA EM 10 MINUTOS A crise económica portuguesa não tem origem num “Estado gastador”, não é só da “res- ponsabilidade deste Governo” nem dos cidadãos “que vivem acima das suas possibilidades” Para a compreender há que recuar no tempo e verificar que se tomaram ao longo dos últimos anos um conjunto de decisões políticas justificadas por teorias económicas bastante em voga e enqua- dradas por premissas ideológicas que têm sido hegemónicas nas últimas décadas.
  • 2. 1. Para não recuarmos demasiado no tempo, vamos começar pela Integração Europeia e a criação de uma moeda única – o Euro. q A liberalização dos mercados dentro da Europa e fora da Europa (no âmbito das negociações da Organização Mundial do Comércio) com o resto do mundo, deixou o nosso sector de bens transaccionáveis exposto a uma concorrência que não tinha condições para enfrentar. q Com a entrada no Euro, deixamos de ter a possibilidade de desva- lorizar a “nossa moeda” para estimular as exportações e encarecer as importações q Os critérios de convergência então adoptados ao nível da UE não tiveram em conta a situação real das economias, focalizando toda a sua atenção no controlo da inflação e dos défices orçamentais, em detri- mento da aposta na convergência económica. 2. A partir da adesão à CEE, e com a posterior transformação da Comunidade Económica Europeia em União Europeia, Portugal entrava num projecto cada vez mais comprometido com o paradigma neoliberal. E esse paradigma estipulava, como continua a estipular, privatizações maciças, em especial das empresas que mais lucros davam ao Estado. q Começou-se por privatizar o sector financeiro que serviu depois de pivot – através da concessão de crédito – ao restante plano de privatizações: EDP,PT, GALP, BRISA q Apostou-se num cenário macroeconómico estável – inflação baixa, moeda forte – associado a um mercado de trabalho mais desregulado e com salários mais baixos (mais competitivos) do que no resto da UE. A iniciativa privada e o empreendedorismo fariam o resto pelo florescimen- to e requalificação da economia portuguesa. Os mercados desregulados nacional e internacionalmente seriam fonte segura de prosperidade.
  • 3. 3. Mas todas as dificuldades vividas pelo setor produtivo, nomeadamente a p forte exposição à concorrência externa, desincentivaram o investimento nesta área, ainda para mais quando, ao mesmo tempo, através de leis e políticas diversas, se abriam portas ao capital para o investimento em sectores rentistas, protegidos da concorrência externa: imobiliário, distribuição, sector financeiro, energia e, mais recentemente, saúde e educa- ção. A balança comercial portuguesa continuou a deteriorar-se. Importámos cada vez mais e produzimos cada vez menos o que consumimos. 4. Por outro lado, as baixas taxas de juro e a moeda forte foram o enquadramento ideal para o estímulo de uma cultura consumista associada a uma cada vez mais forte agressividade das instituições financeiras que se espe- cializaram no crédito às famílias e não ao sector produ- tivo. O endividamento privado cresceu para compra de casa e outros bens essenciais na mesma medida em que a provisão pública recuava e os rendimentos estagna- vam. Por outro lado ainda, “a obsessão pelo défice orça- mental” não só retirou margem de manobra ao Estado para intervir de forma sistemática no desenvolvimento da Economia, como o levou a lançar mão a mecanismos para obter receitas extraordinárias (mais privatizações, titularização de dívidas ao Estado, integração de fundos de pensões) e conseguir fazer investimentos sem ex- cessivo impacto imediato nas contas públicas, usando e abusando das chamadas Parcerias Publico-Privadas. Estas decisões tiveram o impacto contabilístico esperado no controlo do défice orçamental mas, a prazo, tornaram-se negócios que criaram grande erosão nas contas públicas.
  • 4. 6. Mas a crise financeira não che- 8. Aparece a percepção nos merca- subprime. A falência do gigante Lehman gou a Portugal apenas vinda do exterior. dos financeiros de que o Estado poderá A falência do BPP e do BPN, para além começar a ter dificuldade em pagar os da sua componente de “caso de polícia”, empréstimos que faz no exterior e que está também relacionada com a prévia terá de dar garantias aos empréstimos desregulação dos mercados financeiros do sector privado. Alimentados pela e a supervisão ineficaz neste sector. Os especulação financeira, os juros tornam- financeiro global. Nunca estivemos tão per- custos directos da salvação do sistema -se cada vez mais altos, pressionando as financeiro em Portugal ainda estão longe contas públicas e a economia no sentido de estarem todos contabilizados. da recessão. 7. Com uma economia em grandes Neste cenário, é preciso sublinhar o papel dificuldades, com enormes problemas das três agências de notação financeira. A em aceder ao crédito, com o seu sector Fitch, a Moody’s e a Standard and Poor’s, produtivo fortemente deteriorado, com cuja credibilidade já tinha sido posta em défices comerciais cada vez mais altos, causa no início da crise (o banco Lehman foi inevitável e teve consequências com famílias fortemente endividadas, as Brothers, por exemplo, teve sempre receitas do Estado caíram abruptamente classificação máxima até à sua falência), ao mesmo tempo que crescia a pressão diminuíram em vários níveis e no espaço do lado das despesas, nomeadamente de pouco tempo a classificação do risco da através do aumento das prestações sociais dívida soberana portuguesa. Sem ter por (como subsídios de desemprego) e dos base qualquer indicador económico rele- compromissos assumidos no âmbito das vante, o corte abrupto da notação pressio- Parcerias Público-Privadas. nou os juros no sentido ascendente.
  • 5. Esta prática está a levantar querelas criminais em diversos países, uma vez que accionistas e clientes destas empresas de notação, são igualmente grandes investidores nestes títulos de dívida, cujos juros não param de crescer, influenciados pela classificação das próprias empresas de notação. O défice e a dívida pública aumentam -cada vez mais pressio- nados pelos altos juros- e aparecem os PECs (“Plano de Esta- bilidade e Crescimento” -que no fundo são planos de redução de défice) e os Orçamentos de austeridade, como uma inevi- tabilidade para tentar apaziguar os mercados financeiros. 9. As medidas de austeridade, para além do impacto social negativo, não têma eficácia esperada, quer no controlo do défice, quer na estabilização dos juros da dívida. As políticas de austeridade retraem o consumo e o investimento, portanto, para além de aumentarem o desemprego, diminuem ainda mais as receitas do Estado. Ao mesmo tempo, a pressão das despesas aumenta e o Estado perde margem de manobra para realizar investi- mentos públicos que dinamizem a economia. A ideia de que Portugal não conseguirá cumprir com as suas obrigações a nível de empréstimos generaliza-se cada vez mais como um fenómeno de “profecia auto-realizada”, típico do funciona- mento volátil dos mercados: Como o país não dá garantias, aumentam-se os juros e corta-se o crédito, criando ainda mais condições para que o país não dê garantias… 10. O Governo pede a intervenção do FMI, procu- rando a obtenção de um grande empréstimo com juros mais baixos do que os juros que estavam a ser praticados “no mer- cado”, praticamente inacessíveis. Em troca terá de aprofun- dar o seu programa de austeridade e as políticas de desregu- lação do mercado de trabalho e de privatizações que estão, no fundo, na origem da crise.
  • 6. 11. O memorando da troika estabe- 12. A redução da dívida públi- 14. O regresso aos mercados foi, na lece as contrapartidas que Portugal se com- ca é o objetivo principal da austeridade. posição oficial do Governo, a recompensa promete a cumprir para que a troika lhe A primeira versão do memorando previa por toda a destruição social. Portugal con- empreste o dinheiro, num total de 78 mil uma dívida equivalente a 112% da rique- seguiu pedir dinheiro emprestado a inves- milhões de euros, dos quais 12 mil milhões za produzida anualmente no país, no final tidores privados, a uma taxa de juro insus- para os bancos. Foi o Governo Português de 2012. No entanto, o valor aumento para tentável (5%) e que terá de ser devolvido quem determinou quais as medidas que 122,5%, mais 19,1 mil milhões de euros em daqui a cinco anos. Mas como se explica incluía no ‘pacote’. Dois critérios foram apenas um ano. Quanto mais se aprofun- tal operação, se o défice está a aumentar, a adotados: por um lado, o de cortes indiscri- da a austeridade, mais afunda a economia. dívida nunca foi tão grande e o desemprego minados no Estado e nos serviços públicos, Apenas o crescimento da economia e a re- real afeta um em cada cinco trabalhadores? sem coerência ou avaliação dos seus impac- estruturação permitem diminuir os níveis Porque o Banco Central Europeu (BCE) tos; por outro lado, a inclusão de todas as da dívida pública. garantiu que iria proteger os credores. Por medidas neoliberais que mereciam a recusa isso, a Irlanda e Espanha tiveram acesso aos da maioria da população, como a privatiza- 13. As metas definidas estão sem- mercados antes de Portugal. As condições ção dos setores estratégicos da economia de financiamento beneficiaram até a Gré- -águas, correios, empresas de transportes pre a falhar, pois a austeridade destrói cia. Mas o BCE apenas efetuará essas ope- de passageiros e de carga, aeroportos, pro- a economia. Quando se corta no investi- rações caso os países demonstrem conse- dução e transporte de energia- e a elimina- mento público, a economia ressente-se, as guir aceder aos mercados financeiros para ção ou redução de direitos, como à saúde e à receitas de impostos baixam devido às fa- se financiarem. Portugal deu um primeiro educação, cortes nos rendimentos, ao mes- lências, o desemprego aumenta e a despesa passo para preencher estes requisitos, mas mo tempo que crescem os impostos. sobe por via dos gastos com apoios sociais. atenção: o BCE exigirá mais medidas de Em menos de dois anos, o memorando já Para compensar o Governo corta ainda mais austeridade. Vem aí um novo memorando. p foi revisto seis vezes. Quando nos dizem no investimento. Esta é a espiral recessiva que estamos e temos que cumprir o memo- que necessita de ser invertida. O memo- rando, não nos podemos esquecer que a ge- rando da troika é responsável por mais 400 neralidade das medidas que lá estão foram mil pessoas em situação de desemprego decididas pelo governo e que estão sempre real, pela terceira recessão em três anos, a ser alteradas. os portugueses perdem poder de compra, os transportes subiram três vezes em ano e meio, a energia nunca foi tão cara, os pre- ços dos hospitais são abusivos, 678 mil ci- dadãos têm prestações de crédito em atraso e muitos milhares são expulsos de casa devido à nova lei das rendas.
  • 7. 15. A crise tornou mais clara a debilidade democrática dos regimes e das instituições nacionais, europeias e internacionais. Nos últimos anos, tivemos pa- íses europeus a serem governados por quem não foi eleito (Itália e Grécia); governos europeus a condicionar a realização de eleições de outros países europeus (Grécia); institui- ções financeiras internacionais (não eleitas pelos cidadãos) a condicionar as escolhas económicas e sociais dos países (Portugal, Grécia, Irlanda). Pode quem se diz democrata assistir com indiferença ao facto de ser o BCE a determinar a emissão de euros, o valor dos juros (como à habitação) e boa parte das variáveis económicas que definem a política económica? A resposta não é desistir, mas melhorar e reforçar as garantias do respeito e cumprimento da vontade das populações. O reforço dos mecanismos democráticos não é adiável.
  • 8.
  • 9. UM OUTRO MUNDO E POSSIVEL: E X I S T E M A L T E R NAT I V A S A AU S T E R I DA D E É preciso estimular a economia. As políticas recessivas apro- Desarmar os mercados: implementação efectiva da Taxa Tobin fundam a crise e pioram o desemprego. Por mais que se fale em ex- -taxa sobre as transações financeiras- e proibição de produtos finan- portações a economia precisa de procura interna e de confiança no ceiros especulativos, bem como de operações realizadas através de futuro. Só uma política de estímulo ao emprego pode reestabelecer a paraísos fiscais e proibir movimentos especulativos prejudiciais (por procura e a economia. Para isso, o investimento público é fundamen- exemplo, vendas de curto prazo, especulação nos produtos derivados, tal por gerar emprego diretamente e estimular o investimento priva- movimentos over-the-counter, trocas de alta frequência). do. A austeridade não resolve os problemas, mas a crise é um ótimo pretexto para se reduzir o Estado social a um mínimo histórico. A Reforma fiscal europeia para dar às finanças públicas criação de emprego deve passar pelo reforço do próprio Estado social e dos serviços que ele disponibiliza aos cidadãos. uma base sustentável, que crie um sistema fortemente progres- Também a nível europeu é preciso mudar. Queremos uma Europa para sivo, em que os ricos e os lucros das grandes empresas paguem efec- os Povos, não para os lucros: promover políticas económicas e sociais tivamente mais impostos do que os que menos têm e cuja harmoni- a nível europeu e recuperar e expandir os serviços públicos, para re- zação, entre os países de UE, evite a competição e o dumping fiscal. duzir desequilíbrios, promover a transição ecológica das economias, garantir altas taxas de emprego, promover a igualdade de género e Criação de mecanismos de controlo público sobre o expandir os direitos económicos e sociais básicos (saúde, educação, sector bancário e intervenção pública efectiva na CGD - um banco habitação, informação, cultura, bem-estar social, etc) e garantir que de capitais públicos - e nos bancos que foram recapitalizados pelo Es- são assegurados por uma rede 100% pública. tado, de forma a direccionar o financiamento para o relançamento da economia real e o desenvolvimento. Regular de forma sólida os ban- A ATTAC apoia os movimentos internacionais de au- cos (separar a banca comercial da banca de investimento, desmante- ditoria da dívida. Os cidadãos devem conhecer a ‘factura’, saber lar os bancos ‘demasiado grandes para caírem’). quanto deve o país, a quem e porquê. Hoje em dia é cada vez mais claro Permitir o financiamento público e democrático da economia, para que não estamos sequer a conseguir atingir uma trajetória decrescen- garantir o financiamento das necessidades sociais e económicas, ga- te do crescimento da dívida, quanto mais pagá-la! A manutenção do rantir os direitos sociais e financiar um transição ecológica. As polí- Estado social e os direitos económicos, sociais e democráticos dos ci- ticas de comércio internacional devem ser revistas para cumprirem dadãos não podem ser postos em causa, ao mesmo tempo que se sal- estes objectivos, em cooperação com os países em vias de desenvol- vaguardam todos os interesses dos credores. vimento.
  • 10. Y GLOSSARIO Y Desvalorização da moeda: Instrumento utilizado pelos governos Privatizações: Venda de empresas de capitais públicos a privados. para promover as exportações e diminuir as importações. Permite um encaixe financeiro imediato mas a médio e longo prazo Um hipotético escudo baixo face ao Euro, tornaria mais cara a com- pode contribuir para a deterioração das contas públicas. Não só pra de 1 carro em Espanha, se Espanha vendesse o carro em euros e o Estado perde fontes de receita por via dos dividendos que essas Portugal tivesse que trocar escudos por euros para comprar esse carro. empresas geravam, como perde receitas em impostos, uma vez que Pelo contrário, Espanha teria mais facilidade em comprar um tractor as empresas privadas, tipicamente, têm procedimentos fiscais que em Portugal do que na Alemanha, pois poderia trocar os euros que resultam no pagamento de menos impostos. iria utilizar no mercado alemão por muitos escudos que, em Portugal, dariam para comprar mais do que um tractor. Sector Rentista: Actividades económicas que permitem obter uma renda regular sem grande necessidade de inovação, reforço do Critérios de Convergência: São os critérios definidos pelo Tratado investimento ou exposição à concorrência. Tipicamente não é uma da Comunidade Europeia para que os países possam aderir ao Euro. actividade de produção de bens transaccionáveis, para a exportação, a) Inflação baixa, próxima da taxa, no máximo, dos três Estados- por exemplo. Pelo contrário será a compra de bens imobiliários Membros com melhores resultados em termos de estabilidade dos (auto-estradas, Rede Eléctrica Nacional), para daí obter uma “renda” preços; b) Défice público baixo, que não pode exceder os 3% do PIB; c) Taxas de juro baixas, próximas das dos Estados-Membros com menores taxas de Inflação
  • 11. Parceria Público-Privada: Crise Subprime: Défice Público: Contrato para a realização de um investimen- Crise financeira que começou nos EUA no Diferença entre receitas e despesas do Estado to público com dinheiro privado. Por exem- mercado do crédito à habitação às famílias em determinado ano. Todos compreendemos plo: a construção e o funcionamento de um com baixos rendimentos. Sem regulação ou que é necessário por vezes haver períodos hospital fica a cargo de um privado, mas o supervisão, grandes instituições empresta- mais ou menos longos em que é necessário Estado deverá pagar um preço acordado por ram somas avultadas, a juros altos a famílias gastar mais do que o que se ganha. Durante cada doente atendido, por cada médico de que não conseguiram cumprir com os paga- a infância e a velhice, por exemplo. Mas to- prevenção nas urgências, etc. No curto prazo mentos. O risco desses empréstimos estava de dos compreendemos também que não é sus- o impacto do investimento não aparece nas tal forma disseminado e alavancado por todo tentável manter infinitamente as despesas contas públicas, uma vez que se vai repercutir o mercado financeiro através dos chamados acima do nível das receitas. Numa tentativa ao longo dos anos, no médio e longo prazo. “produtos tóxicos”, que a crise do “subpri- de diminuição do défice os Governos podem me” deu origem a uma gigantesca derrocada procurar aumentar as suas receitas (subindo com a falência de muitas instituições. os impostos, por exemplo), e/ou diminuir as suas despesas (diminuindo o investimento, por exemplo). No entanto, os resultados des- sas políticas não são facilmente previsíveis. Por exemplo, o fim de um investimento, pode dar origem a dificuldades acrescidas junto de empresas que dependiam desse investimento e, indirectamente originar desemprego, que significa menos receitas (por via dos impos- tos) e mais despesas (por via das prestações sociais)
  • 12. www.attac.pt Design & ilustrações: alejandro levacov & julia barata: lx1.bcn0@gmail.com