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::.. A Realização do Batuque ..::
Daqui em diante você vai conhecer um pouco sobre o Batuque do Rio Grande do Sul,
na linha de Jêje e Ijexá. Lembramos que cada Ilê tem o seu
fundamento, passado de geração a geração.


01. Serão ou Corte aos Orixás

A Religião Africanista é em seus fundamentos voltada para o passado, mantém até hoje
ensinamentos e preceitos, desde o tempo mais remoto, do negro na África e chegou até
nós através dos escravos. Sobreviveu a todos os períodos de opressão e perseguição. Daí
a enorme importância da obrigação de corte aos Orixás, pois é a preservação da cultura
que ao mesmo tempo em que ofertava certos sacrifícios aos Orixás alimentava seu povo
com a carne do sagrado. Depois adiantando na linha do tempo, entramos nas casas
comuns e nos terreiros em que os animais andavam soltos no pátio e serviam para a
subsistência familiar, ainda não existia as facilidades que hoje são disponíveis nos
supermercados.

Há a crença de que a balança não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer
de mãos dadas até que se inicie o alujá, caso a balança arrebente algo de grave pode
acontecer a um dos participantes da balança, podendo até ser a morte. Mas caso haja
alguma ameaça de arrebentar a Balança Axé dos Presentes enquanto são saudados pelos
presentes. Depois os bolos são servidos aos convidados e o excedente é distribuído
juntamente com os mercados. São de costume também, os convidados ofertarem
presentes ao Orixá do Babalorixá ou Yalorixá por ocasião de seu aniversário de
aprontamento. Os presentes mais comuns são: flores, perfumes, doces, utensílios que
podem ser usados no dia-a-dia do Ilê, etc. É neste momento o Babalorixá ou o próprio
Orixá apresenta á todos os presentes recebidos. Levantação , limpá-las e guardá-las nas
prateleiras dentro do Quarto-de-santo. Mantendo um costume desde o tempo dos
escravos Passeio Saindo do Ilê vão até o centro da cidade visitar lugares de grande
significado para a comunidade.

O serão ocorre geralmente na quinta-feira á noite, começa entorno dás 20:00 horas e
estende-se muitas vezes até a madrugada, das obrigações de bori e de apronte que serão
feitas.
No serão são imolados animais quadrúpedes (aos quais chamamos vulgarmente de
quatro-pés) e de aves. As oferendas feitas aos Orixás são de origem animal assim como
vegetal (folhas, plantas, grãos) e mineral: os ocutás, a água, etc. Os animais são
ofertados os Orixás com o intuito de fortalecer o axé do Orixá assim como a mente e
espírito do filho-de-santo através do axorô (sangue do animal) e das inhélas, certas
partes dos animais que serão fritas e arriadas no Quarto-de-santo (cabeça, pés, testículo
no caso dos quatro-pés e cabeça, pés, pontas das asas, do pescoço e da sambiqueira,
pulmões e testículos das aves).

A carne dos animais imolados serão preparados em forma de canja, de amalá, assados,
enfarinhados e consumido pelo povo durante o período de obrigação e pelas pessoas que
comparecerem ao toque, Batuque. Os couros retirados dos animais, depois de
preparados são utilizados na confecção dos tambores, instrumentos tocados durante o
Batuque. Nada é desperdiçado, por exemplo, no Ilê Centro Africano Reino de Oxum
Pandá é grande o número de animais imolados, devido ao grande número de filhos que
o Ilê tem, quando não é consumida a totalidade de carne e de comida preparada, o
restante é doada a entidades carentes nas proximidades do Ilê.


02. Preparação do Toque

No dia posterior ao corte, permanecem alguns filhos-de-santo no Ilê para preparem em
todos os detalhes o toque que irá acontecer no sábado. As principais atividades
acontecem na cozinha, considerada a parte mais importante do Ilê, depois do Quarto-de-
santo. É necessário que um filho-de-santo, mais experiente e de extrema confiança do
Babalorixá auxilie na organização de tudo que deve ser feito, pois os afazeres são
muitos e o tempo escasso.

Além de todas as comidas-de-santo, devem ser feitas comidas tradicionalmente sagradas
e significativas que serão servidas ás visitas que são esperadas mais tarde no toque.

Com as aves preparam-se: canja, galinha assada, galinha enfarofada. Com a carne do
carneiro faz-se o amalá, comida consagrada ao Orixá Xangô: A carne cozida e desfiada
é agregada ao molho com folhas de mostarda picada, servido com pirão de farinha de
mandioca. Os cabritos e porcos são assados e servidos em pedaços. Faz-se também
canjica de milho branca e amarela, além de uma grande variedade de doces como: sagu,
pudim, ambrosia, quindim, docinhos, etc... Para beber serve-se o atã, bebida típica do
Orixá Ogum, feita com frutas minusculamente cortadas, misturadas com guaraná e
xarope de groselha.Os miúdos dos quatro-pés é cozido e picado de forma bem miúda
para se fazer o sarrabulho, uma espécie de farofa temperada com cheiro verde, cebola e
os miúdos picados. As filhas de Iansã, ajudadas por outros irmãos fazem o acarajé,
comida consagrada ao seu Orixá de cabeça. Havendo disponibilidade faz-se ainda os
bolos que serão ofertados pela ocasião do aniversário de assentamento dos Orixás.

A preparação do toque segue com a arrumação do Quarto-de-santo que deve ter: flores,
perfumes, as comidas-de-santo, atã, pelo menos uma porção de cada comida que está
sendo feita para o povo, frutas, balas enroladas em papéis coloridos, os bolos de
aniversário. Além das inhélas e das vasilhas contendo as obrigações e de outros fetiches
religiosos. Há ainda a arrumação do salão, onde acontece o toque, e das demais
dependências do Ilê que depois da limpeza são organizadas para melhor receber os
convidados, Babalorixás e Yalorixás que juntamente com seus filhos-de-santo vêm
prestigiar a obrigação.

03. O Mercado

Também faz parte da preparação para o toque a confecção dos mercados que serão
distribuídos no final do Batuque.O significado e a explicação desta denominação
perdeu-se nos tempos, porém seu significado religioso continua forte.

Os mercados são pacotes onde se colocam as comidas-de-santo para serem ofertados ás
visitas simbolizando a distribuição e a extensão do axé de prosperidade, fartura e
fraternidade a todos os lares e Ilês.

O axé obrigatoriamente deve ser dividido entre os que compareceram ao toque,
principalmente quando o ebó é de quatro-pés. Cada Ilê acondiciona o mercado da
maneira que lhe convém: em bandejas, em pacotes, em caixas de papelão, etc, porém o
que não muda muito é o conteúdo do mercado.
O mercado deve conter: pedaços de carne de cabrito assada, frutas, bolo, axoxô (milho
cozido, pertence á Obá), pipoca (pertence á Bará), batata doce frita em rodelas ou
acarajé (pertence á Iansã), doces - quindim, docinhos, balas (pertence á Oxum), farofa
de Xapanã (farinha de mandioca pilada com amendoim e açúcar). No final do toque
também são distribuídos, bolos, carnes, frutas.

O babalorixá, muitas vezes presenteia os Babalorixás e Yalorixás que estão de visita
com flores do Quarto-de-Santo, para que sejam colocadas em seus Quarto-de-santo,
como sinal de agradecimento pelo comparecimento no ebó. Caso ainda sobre alguma
comida ou fruta, deve ser doado a pessoas carentes ou instituições de caridade.

04. O Toque

O toque geralmente inicia ás 23:00 horas, quando todos os filhos-de-santo devem estar
presentes e devidamente trajados de seus axós, para auxiliar o Babalorixá ou Yalorixá a
recepcionar os visitantes. O início do toque se dá com a chamada: todos em silêncio,
ajoelham-se, enquanto o Babalorixá em frente ao Quarto-de-santo, tocando o adjá
(espécie de sineta) saúda a todos os Orixás, de Bará a Oxalá, fazendo pedidos de
abertura, de paz, saúde e prosperidade a todos os presentes. Os filhos-de-santo
respondem com a saudação específica de cada Orixá.
Os alabês (tamboreiros), "puxam" os erís, isto é tocam os tambores enquanto entoam os
erís, para que os presentes respondam, e a roda se forma no centro do salão,
movimentando-se no sentido anti-horário. Os erís têm coreografias adequadas a cada
orixá ou a cada "passagem", (relação da reza com alguma história daquele orixá), por
exemplo: nos erís do Orixá Ogum ora dança-se simulando com as mãos o trabalho do
ferreiro na forja, ora dança-se simulando a utilização de uma lança, relacionando com
Ogum guerreiro.

Todos podem fazer parte da roda, adultos, crianças, iniciados e prontos, porém alguns
detalhes devem ser observados. Participam da roda pessoas que estejam de axó (calça
comprida para os homens, e no mínimo saia para as mulheres, desde que não seja curta),
mulheres em período menstrual não participam do Batuque, mas podem auxiliar na
manutenção, na limpeza e na recepção dos convidados. As pessoas que estiverem de
luto também não podem participar do ebó, ficando somente na assistência.

Os Orixás que "chegam" usam o centro da roda para dançarem e darem os seus axés,
com exceção dos orixás "velhos" que são encaminhados a sentarem-se nos banquinhos a
eles destinados. Os erís seguem a hierarquia dos Orixás, sendo de responsabilidade do
alabê a exatidão dos erís assim como a ordem dos acontecimentos no decorrer do toque.

Acompanhe a seqüência de tais acontecimentos, segundo a Nação Jêge-Ijexá:

4.1. Balança ou Roda-de-Prontos

Chama-se balança ou cassum em homenagem a Xangô e também por conter o axé de
todos os orixás em equilíbrio. Há um intervalo na movimentação da roda e os presentes,
inclusive os orixás afastam-se do centro do salão, deixando espaço para a roda da
balança.
Só há balança quando há ebó de quatro-pés, que é constituída exclusivamente por
pessoas prontas na religião, que já tenham feito ao menos bori de quatro-pés, no mínimo
06 pessoas (conta de Xangô) podendo ser em número múltiplo de 06: 12, 18, 24, 32.
Caso o número de prontos seja excedente, por ser feito mais de uma balança, aí então
costuma-se fazer uma balança com pessoas de orixá de frente e uma balança com o
povo de praia. Os participantes colocados lado a lado, formando uma roda de mãos
dadas, dançam ao ritmo do tambor que vai gradualmente aumentando de intensidade. É
quando ocorre o maior número de ocupações ao mesmo tempo, sendo somente de orixás
jovens (Oxum, Iemanjá e Oxalá velhos só podem chegar depois do início dos erís de
Oxum). Ao terminar a balança os Orixás cumprem o fundamento: Vão ao Quarto-de-
santo, depois até a porta da rua para cumprimentar os orixás da rua e depois dançam ao
som do Alujá de Xangô e do Alujá de Iansã, erís destinados unicamente pelos orixás de
frente.

Há a crença de que a balança não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer
de mãos dadas até que se inicie o alujá, caso a balança arrebente algo de grave pode
acontecer por dos participantes da balança, podendo até ser a morte. Mas caso haja
alguma ameaça de arrebentar a Balança, cabe ao alabê, mudar imediatamente o axé indo
direto para a execução do Alujá de Xangô. Por causa desta crença, muitas pessoas
esquivam-se de participar da Balança, porém é uma obrigação muito forte onde se
confirma que o ebó que está sendo realizado é de quatro-pés, o axé que emana no salão
durante a balança é algo muito forte, sentido por todos os presentes.

4.2 Alujá de Xangô e Alujá de Iansã

Logo após a Balança os Orixás que estão no "mundo" dançam o Alujá do Xangô e o
Alujá de Iansã, respectivamente, ritmos do tambor, característicos destes Orixás. Os
orixás jovens dançam em frente ao "pagodô" local mais elevado (espécie de palco) onde
ficam os alabês. Durante o alujá é contagiante o axé e a empolgação com que os orixás
dançam, proporcionando um momento de rara beleza.


4.3 A Saída do Ecó

Terminado os Erís de Obá é hora da Saída do Ecó, que nada mais é do que o despacho
do axé de Bará, e do ecó de Bará Lanã e do Bará Lodê (alguidar com água, farinha de
mandioca e gotas de epô - azeite de dendê) e do ecó de Oxum (Vasilha de vidro com
farinha de milho, água, mel e perfume e flores).

A saída do ecó simboliza a saída de toda a negatividade que existe no ambiente e nas
pessoas presentes prepara o ambiente para os erís dos Orixás de praia, que tem um
toque mais brando. Enquanto sai o ecó, os alabês continuam puxando os erís, só que
agora puxam os erís dos orixás da rua - Bará Lodê, Ogum Avagã e Iansã Timboá - não
há movimento da roda e a assistência evita olhar para o que está acontecendo, virando
para a parede. Diz a crença que quem olhar a saída do ecó atrai para si a negatividade ali
contida.

4.4 Roda de Ibedji
No Batuque de Quatro-pés há a roda de Ibedjis, no Gêge-Ijexá ela acontece durante os
erís de Oxum. É o momento em que as crianças participam da obrigação e as mulheres
que pretendem a maternidade ou que estão grávidas fazem os seus pedidos e
agradecimentos. Os orixás, principalmente Oxum e Xangô, distribuem aos que estão na
roda e na assistência, as frutas, os doces - quindins, merengues, cocadas, bolos - que
estão no Quarto-de-santo.

4.5 Axé dos Perfumes

Sendo Oxum a deusa da beleza adora perfumes, espelhos, em seus erís há um momento
especial em as Oxuns que estão no mundo recebem vidros de perfumes, leques e
espelhos. Dançam felizes, empunhando seus leques e espelhos enquanto outras se
banham com perfume e distribuem um axé perfumado as pessoas que estão na roda e na
assistência. Este axé faz uma referência sobre a "passagem" em que Oxum está no rio
banhando-se, num ritual de beleza e encantamento.

4.6 Axés dos Presentes

Geralmente acontece quase no final do Batuque, os orixás que estão aniversariando
"apresentam" seus bolos, tantos os orixás quanto os filhos-de-santo que não se ocupam,
mostram a todos o seu bolo com a vela acesa (correspondente aos anos de assentamento
do orixá), enquanto são saudados pelos presentes. Depois os bolo são servidos aos
convidados e o excedente é distribuído juntamente com os mercados.
São de costume também, os convidados ofertarem presentes ao Orixá do Babalorixá ou
Yalorixá por ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns
são: flores, perfumes, doces, utensílios que podem ser usados no dia-a-dia Ilê, etc. É
neste momento que o Babalorixá ou o próprio Orixá apresenta á todos o presente
recebido.

4.7 O Axé do Alá de Oxalá

Pertence aos erís do Oxalá o axé do Alá. Em determinado momento, os filhos-de-santo
com estatura mais elevada suspendem ao alto um grande Alá branco. Enquanto a roda e
os erís continuam, todos passam por baixo do Alá pedindo ao orixá do branco a paz e a
proteção

4.8 O Aforiba ou a Dança do Atã

O aforiba é o momento em que Ogum e Iansã demonstram a passagem em que Iansã
embebeda Ogum para fugir com Xangô. O Babalorixá convida um Ogum e uma Iansã
para fazerem o Aforiba, então ela coloca no centro do salão duas garrafas contendo atã
(aforiba) e as armas pertencentes a estes orixás (espadas). Iansã toma as garrafas e
oferece á Ogum que logo se embebeda, mas em seguida Ogum volta a si e vai atrás de
Iansã empunhando sua espada. Os dois lutam, mas Iansã consegue acalmar Ogum e os
dois reconciliam-se e voltam a dançar juntos.

Tendo um Xangô no mundo poderá vir ele fazer parte do Aforiba. Xangô vem em
defesa de Iansã e com seu machado de dois gumes entra na luta com Ogum. Aí então,
Iansã acalma os dois Orixás.
4.9 Os Axêres

Conforme o Batuque vai acontecendo, os orixás chegam (ocupam-se da consciência e
do corpo de seus filhos) e fazem o fundamento da religião, conforme o ensinamento do
Babalorixá e da Yalorixá. Feita a obrigação os Orixás "sobem", vão embora. Os orixás
são despachados, geralmente por filhos-de-santo mais antigos e experientes do Ilê,
porém eles ficam em "axêre" ou "axêro" (No Candomblé são chamados de Erês), estado
intermediário entre a ocupação do orixá e da pessoa propriamente dita. Os axêres agem
como crianças, tomam refrigerante e adoram fazer brincadeiras com as pessoas, pois seu
linguajar é confuso, trocam as expressões como, por exemplo: "tigue" (tigre) quer dizer
carro, "confeitaria" quer dizer bolo, "pouco" quer dizer muito, "feinho" quer dizer
bonito, e assim por diante. È um momento de descontração, porém deve ser mantido o
respeito, pois apesar de fazerem brincadeiras, os axêres ainda conservam a essência do
orixá.

4.10 A Levantação da Obrigação

Terminada o período em que a obrigação deve ficar arriada, há a levantação, termo que
se refere ao ato de levantar as vasilhas contendo as obrigações de corte que estavam
arriadas, limpa-las e guarda-las nas prateleiras dentro do Quarto-de-santo. Mantendo um
costume desde o tempo dos escravos, as obrigações são guardadas no Quarto-de-santo e
ocultas por cortinas que geralmente tem á sua frente imagens católicas que se referem
ao sincretismo religioso, assim como velas, castiçais, comidas de santo, flores e outros
objetos sagrados pertencentes aos Orixás.

05. O Peixe

A obrigação do peixe é feita pela manhã bem cedinho, e só ocorre em festas grandes,
com quatro-pés. Alguém encarregado deve ir ao rio ou ao mercado público e trazer
peixes ainda vivos para serem imolados aos Orixás, de Bará á Oxalá, por isso não pode
ser uma quantidade muito pequena. Os orixás de frente recebem pintado como
obrigação e os Orixás de praia recebem jundiá. No Quarto-de-santo são imolados ao
menos um peixe para cada orixá e a ele é destinado: a cabeça, as barbatanas, a cauda e
um pouco de axorô (sangue). A carne dos peixes imolados é servida com pirão (ebó) no
almoço e deve ser consumida pelos presos (filhos que estão de Obrigação) e pelos que
estão na casa, pois o ebó de peixe simboliza fartura e prosperidade.
Uma quantidade maior de peixes é preparada frita para ser servida ao povo que
comparecer ao batuque de encerramento ou no Toque do Peixe - toque realizado na
noite do corte do peixe, porém com duração mais curta quando serão consumidos o ebó
do peixe e peixes fritos, além das comidas dos orixás.

06. Mesa de Ibedji

A obrigação da Mesa de Ibedji é feita no Batuque de Encerramento e nas ocasiões em
que o Babalorixá ou Yalorixá acharem necessárias. É realizada no início da noite e
antecede o Batuque de Encerramento. Dela participam crianças de zero á doze anos,
além de mulheres grávidas, ou que queiram engravidar. São "tirados" erís de Bará, de
Xangô e Oxum (que representam os Ibedji) e dos orixás velhos. A Mesa de Ibedji é
riquíssima de detalhes e constitui uma obrigação religiosa com muito axé e beleza.
Significa agradar e reverenciar aos orixás das crianças que simbolizam pureza, paz e
prosperidade.
Uma grande toalha branca é colocada ao chão e nela colocam-se 01 gamela de frutas, 01
gamela contendo amalá, flores, 01 quartinha, brinquedinhos, bolo, doces e refrigerantes.
As crianças participam em grupos de 06, 12...(números múltiplos de 06, a "conta" de
Xangô), sentam-se ao redor da toalha, as menores acompanhadas por um adulto.
Servem-se para as crianças: primeiramente canja de galinha, depois os doces e
refrigerante. Após terem comido o que foi servido, são dados ás crianças uma colher de
mel e um gole de água. Depois são lavadas e enxugadas as mãos das crianças.
Terminadas estas etapas as crianças são levantadas da mesa por pessoas adultas ou por
orixás que tenham "chegado" na mesa e conduzidos a formarem uma roda ao som de
erís de Xangô. São feitas quantas mesas forem necessárias para que todas as crianças
presentes participem da Obrigação.

Encerrada a Mesa de Ibedji, os Orixás que chegaram durante e a Mesa de Ibedji,
recolhem os itens que ainda restam na mesa e levam até o Quarto-de-santo. Os
brinquedos são distribuídos entre as crianças que participaram da Mesa.

07. Toque de Encerramento

É o toque que encerra as atividades públicas do Batuque Grande. Tem uma proporção
um pouco menor do que o primeiro toque, pois é antecedido pelo corte do peixe e do
corte de confirmação, quando são imoladas somente aves aos orixás.A cor dos axós é
preferencialmente o branco e pode acontecer a Mesa de Ibedji antes do início do toque.
É nesta noite que serão dados os axés de Obés e Ifá. Entre os alimentos servidos aos
convidados prevalecem os doces, além da canja, da canjica e do amalá (este feito com
carne de peito de gado). Seguido do toque, no dia posterior há a levantação da obrigação
do corte de confirmação.

08. O Passeio

O término da obrigação para os filhos-de-santo que estão presos por motivo de seu
aprontamento ou por obrigação de Bori é o Passeio no dia posterior á Levantação, pela
manhã, antes, porém o Babalorixá ou Yalorixá leva os presos até a porta da frente do Ilê
e apresenta-os à rua (aos Orixás da Rua), liberando-os para saírem fora dos limites do
Ilê.

É comum no centro de Porto Alegre reconhecermos um grupo de presos passeando
juntamente com seu Babalorixá ou Yalorixá . Saindo do Ilê vão até o centro visitar
lugares de grande significado para a comunidade batuqueira: A Igreja do Rosário
construída com o trabalho do negro escravo (antiga irmandade de negros) , o Mercado
Público - lá compram cereais, grãos, e velas -, o Rio Guaíba ( que banha a cidade) - lá
reverenciam Oxum e jogam moedas ao rio pedido prosperidade e fartura. Em seguida,
vão visitar algum Ilê conhecido onde "batem cabeça" cumprimentando os Orixás do Ilê
e lá depositam parte das compras feitas no mercado. De volta ao Ilê, batem cabeça no
Quarto-de-santo e arriam o restante das compras feitas. Cumprimentam o Babalorixá ou
Yalorixá na nova condição de Filho-de-santo pronto, ou borido (conforme a obrigação
realizada).
::.. Um resumo sobre Os Cultos Afros - Batuque no RS: ..::


 Batuque é uma Religião Afro-brasileira de culto aos Orixás encontrada principalmente
no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, de onde se estendeu para os países vizinhos tais
como Uruguai e Argentina.

Batuque é fruto de religiões dos povos da Costa da Guiné e da Nigéria, com as nações
Jêje, Ijexá, Oyó, Cabinda e Nagô.

A estruturação do Batuque no estado do Rio Grande do Sul deu-se no inicio do século
XIX, entre os anos de 1833 e 1859 (Correa, 1988 a:69). Tudo indica que os primeiros
terreiros foram fundados na região de Rio Grande e Pelotas. Tem-se notícias, em jornais
desta região, matérias sobre cultos de origem africana datadas de abril de 1878, (jornal
do comércio, Pelotas). Já em Porto Alegre, as noticias relativas ao Batuque, datam da
segunda metade do século XIX, quando ocorreu a migração de escravos e ex-escravos
da região de pelotas e Rio Grande para Capital.

Os rituais do Batuque seguem fundamentos, principalmente das raízes da nação Ijexá,
proveniente da Nigéria, e dá lastro as outras nações como o Jêje do Daomé, hoje Benim,
Cabinda (enclave Angolano) e Oyó, também, da região da Nigéria. O Batuque surgiu
como diversas religiões afro-brasileiras praticadas no Brasil, tem as suas raízes na
África, tendo sido criado e adaptado pelos negros no tempo da escravidão. Um dos
principais fundadores do Batuque foi o Príncipe Custódio de Xapanã. O nome batuque
era dado pelos brancos, sendo que os negros o chamavam de Pará. É da Junção de todas
estas nações que se originou esta cultura conhecida como Batuque, e os nomes mais
expressivos da antiguidade, que de uma maneira ou de outra contribuíram para a
continuidade dos rituais foram:

Ijexá — Paulino de Oxalá Efan, Maria Antonia de Assis (Mãe Antonia de Bará),
Manoel Matias (Pai Manoelzinho de Xapanã), e Pai Idalino de Ogum entre outros.
Oyó — Mãe Andrezza Ferreira da Silva, Pai Antoninho da Oxum, Mãe Moça de Oxum
e Tim de Ogum, entre outros.
Jêje — Mãe Chininha de Xangô, Príncipe Custódio de Xapanã, João Correa de Lima
(Joãozinho de Bará) responsável pela expansão do Batuque no Uruguai e Argentina.
Cabinda — Waldemar Antônio dos Santos de Xangô Kamuká; Maria Madalena Aurélio
da Silva de Oxum, Palmira Torres de Oxum, Pai Henrique de Oxum, entre outros.
As entidades cultuadas são as mesmas em quase todos terreiros, os assentamentos tem
rituais e rezas muito parecidos, as diferenças entre as nações é basicamente em respeito
as tradições próprias de cada raiz ancestral, como no preparo de alimentos e oferendas
sagradas. O Ijexá é atualmente a nação predominante, encontra-se associado aos rituais
de todas nações.

O batuque é uma religião onde se cultuam vários Orixás, oriundos de várias partes da
África, e suas forças estão em parte dentro dos terreiros, onde permanecem seus
assentamentos e na maior parte na natureza: rios, lagos, matas, mar, pedreiras,
cachoeiras etc., onde também invocamos as vibrações de nossos Orixás.
Todo ser humano nasce sob a influencia de um Orixá, e em sua vida terá as vibrações e
a proteção deste Orixá que está naturalmente vinculado e rege seu destino, com
características individuais, em que o Orixá exige sua dedicação, onde este poderá ser
um simples colaborador nos cultos, ou até mesmo se tornar um Babalorixá ou Yalorixá.
Há uma questão de ordem etmológica no Termo Pará, onde afirma-se ser este o outro
nome pelo qual é conhecido o Batuque, ora sabe-se que todo frequentador de Terreiros
chama na verdade o Peji ou quarto-de-santo de Pará e não o ritual sagrado dos Orixás,
este sim o Batuque. Esta questão já está dimensionada desde os anos 50, nas pesquisas
etnográficas de Roger Bastide sobre a Religião Africana no Rio Grande do Sul. São
consideradas Religiões Afro-Brasileiras, todas as religiões que tiveram origem nas
religiões africanas, que foram trazidas para o Brasil pelos escravos.

Batuque Candomblé Catimbó Culto aos Egungun Culto de Ifá Jurema sagrada Quibanda
Macumba Tambor-de-Mina Umbanda Xangô do Nordeste Xambá As Religiões Afro-
Brasileiras são relacionadas com a Religião Yorubá e outras Religiões africanas, e
diferentes das Religiões Afro-Caribenhas como a Santeria e o Vodu.

Roupas da cor dos Orixás e fios de contasO culto, no Batuque, é feito exclusivamente
aos Orixás, sendo o Bará o primeiro a ser homenageado antes de qualquer outro, e
encontra-se seu assentamento em todos os terreiros, no Candomblé o chamam de Exú.

Entre os Orixás não há hierarquia, um não é mais importante do que o outro, eles
simplesmente se completam cada um com determinadas funções dentro do culto. Os
principais Orixás cultuados são: Bará, Ogum, Oiá-Iansã, Xangô, Ibeji (que tem seu
ritual ligado ao culto de Xangô e Oxum), Odé, Otim, Oba, Ossain, Xapanã, Oxum,
Iemanjá, Oxalá e Orunmilá (ligado ao culto de Oxalá).

E há também divindades que nem todas nações cultuam como: Exú Elegbara, Gama
(ligada ao culto de Xapanã), Zína, Zambirá e Xanguín (qualidade rara de Bará) que só
os mais antigos tem conhecimentos suficientes para fazer seus rituais.

No Rio grande do Sul a área de conservação das religiões africanas vai de Viamão à
fronteira do Uruguai, com os dois grandes centros de Pelotas e de Porto Alegre.

No batuque, os templos terreiros são quase que em sua totalidade vinculados as casas de
moradia. É destinado um cômodo, geralmente na parte da frente da construção onde são
colocados os assentamentos dos Orixás. Neste local são feitos todos os fundamentos de
matanças e trabalhos determinados, oferendas para os Orixás, e o local é considerado
sagrado, pessoas vestidas de preto, mulheres em dias de menstruação não entram. Junto
à esta parte da casa, chamada de quarto de Santo ou Peji, há o salão onde são realizadas
as festas para os orixás.

O estado do Rio Grande do Sul foi o maior responsável pela exportação dos rituais
africanos para outros países da América do Sul, entre eles Uruguai e Argentina, que
também procuram seguir a maneira de cultuar os Orixás; e a construção dos templos
seguem exemplos dos seus sacerdotes.

Todos os Orixás são montados com ferramentas, Okutás (pedras) etc. e permanecem
dentro da mesma casa, com exceção do Bará Lodê e do Ogum Avagãn, que tem seus
assentamentos numa casa separada, ficando à frente do templo onde recebem suas
oferendas e sacrifícios. A casa dos Eguns também tem lugar definido, é uma construção
separada da casa principal, na parte dos fundos do terreiro, onde são feitos diversos
rituais.

Em caso de falecimento do Babalorixá ou Yalorixá, dono do terreiro, fica a critério da
família o destino do templo, geralmente não tendo um familiar que possa suceder o
morto o templo é fechado. Na maioria dos casos na morte de um sacerdote, todas as
obrigações são despachadas num ritual especifico chamado de Erissum (Axexê), por
este motivo é muito difícil encontrar ilês com mais de 60 anos, são muito poucos os
sacerdotes que destinam seus axés à um sucessor, para dar prosseguimento à raiz.

Oferendas para os OrixásOs rituais são próprios e originais e embora tenha alguma
semelhança com o "Xangô de Pernambuco", é muito diferente do Candomblé da Bahia.

Os rituais de Jêje tem suas rezas próprias (fon), e ainda se vê este belo ritual em dois
grandes terreiros na cidade de Porto Alegre, as danças são executadas de par, um de
frente para o outro. Há também muitas casas que seguem os fundamentos da nação Oyó
que se aproxima muito do ijexá, já que, estas duas provem de regiões próximas na
Nigéria.

A principal característica do ritual do Batuque é o fato do iniciado não poder saber em
hipótese alguma que foi possuído pelo seu Orixa, sob pena de ficar louco.

Cada Babalorixá ou Iyalorixá tem autonomia na prática de seus rituais, não existem
nomenclaturas de cargos como tem no Candomblé, exercem plenos poderes em seus
ilês. Os filhos de santo se revezam nos cumprimentos das obrigações.

No mínimo uma vez por ano são feitos homenagens com toques para os Orixás, mas as
festas grandes são de quatro em quatro anos. Chamamos de festa grande a obrigação
que tem ebó, ou seja quando há sacrifícios de animais de quatro patas aos Orixás,
cabritos, cabras, carneiros, porcos, ovelhas, acompanhados de aves como galos,
galinhas e pombos.

Esta obrigação serve para homenagear o Orixá "dono da casa" e dos filhos que ainda
não possuem seu próprio templo. A data é geralmente a mesma que aquele sacerdote
teve assentado seu Orixá, a data de sua feitura. As festas têm um ciclo ritual longo, que
antigamente duravam 32 dias de obrigações, hoje diante das dificuldades duram no
máximo 16. O começo de tudo são as limpezas de corpo e da casa, para descarregar
totalmente o ambiente e as pessoas, de toda e qualquer negatividade; em seguida são
preparados as oferendas e sacrifícios ao Bará. A partir deste momento, os iniciados já
ficam confinados ao templo, esquecendo então o cotidiano e passam a viver para os
Orixás por inteiro até o final dos rituais. No dia do serão (dia da obrigação de matança),
todos Orixás recebem sacrifícios de animais. Os cabritos e aves são preparados com
diversos temperos e servidos a todos que participarem dos rituais, tudo é aproveitado,
inclusive o couro dos animais, que sevem para fazer os tambores usados nos dias de
toques.

No dia da festa o salão é enfeitado com as cores dos Orixás homenageados. A abertura
se dá com a chamada (invocação aos Orixás), feita pelo sacerdote em frente ao peji
(quarto de santo), usando a sineta (adjá), saudando todos Orixás. Ao som dos tambores,
as pessoas formam uma roda de dança em louvor aos Orixás, a cada um com
coreografias especiais de acordo com suas características.

No final das cerimônias são distribuídos os mercados, (bandejas contendo todo tipo de
culinária dos Orixás como: acarajé, axoxó (milho cozido e fatias de coco), farofa de
aves, carnes de cabritos (cozidas ou assadas), frutas, fatias de bolos etc.), alguns
consomem ali mesmo, outros levam para comer em casa.

Durante a semana são feitos outros rituais de fundamentos para os Orixás, inclusive a
matança de peixe, que para os batuqueiros significa fartura e prosperidade, os peixes
oferecidos são da qualidade Jundiá e Pintado; estes são trazidos vivos do cais do porto
ou do mercado público, onde o comércio de artigos religiosos é intenso.

No sábado seguinte é feito o encerramento das obrigações, com mesa de Ibejes e toque,
novamente em homenagem aos Orixás, neste dia são distribuídos mercados com
iguarias e o peixe frito, significando a divisão da fartura e prosperidade com os
participantes das homenagens aos Orixás. Após o encerramento, o sacerdote leva os
filhos que estavam de obrigações ao rio, à igreja, ao mercado público e à casa de alguns
sacerdotes, que fazem parte da família religiosa, para baterem cabeça em sinal de
respeito e agradecimento; este passeio faz parte do cumprimento dos rituais. Após o
passeio todos estão liberados para seguirem normalmente o cotidiano de suas vidas.

o Batuque também temos a parte dos rituais destinados ao culto dos Eguns. Este é um
ritual cheio de magia e segredos onde poucos sacerdotes têm o completo domínio.

A casa dos Eguns (espíritos dos mortos) fica numa construção separada da casa
principal, nos fundos do terreno, onde são feitos diversas obrigações em determinadas
datas e quando morre alguém ligado ao terreiro; este local é denominado Balê.

Aos Eguns também são oferecidos sacrifícios de animais, e comidas diversas que fazem
parte somente deste ritual, não podendo ser usados em outras ocasiões.

Os Eguns, assim como os Orixás, tem suas rezas (cânticos) próprias, feitos na
linguagem yorubá, e em dias de obrigações recebem toques ao som de tambores frouxos
e sem o acompanhamento de agê (instrumento feito com uma cabaça inteira trançada
com cordão e contas diversas).

Cada nação tem rituais diferentes para este tipo de obrigação.

O Babalorixá ou Yalorixá tem a responsabilidade de formar novos sacerdotes, que darão
continuidade aos rituais. Para isto é preciso preparar novos filhos de santo, que durante
um certo período de tempo aprenderão todos os rituais para preservação dos cultos.

O sacerdote chefe deve passar aos futuros Pais ou Mães de Santo, todos os segredos
referente aos rituais tais como: uso das folhas (folhas sagradas), execução de trabalhos e
oferendas, interpretação do jogo de búzios, e até mesmo como preparar um novo
sacerdote.

Geralmente o futuro sacerdote já nasce no meio religioso, onde conviverá
acompanhando todos os diversos rituais que darão suporte a seus afazeres dentro do
culto, e terá pleno conhecimento de todos os tipos de situações que enfrentará em seu
futuro templo.

O tempo de aprendizado é longo, não se forma um verdadeiro sacerdote de Orixás com
menos de sete anos de feitura, e os ensinamentos são passados de acordo com a
evolução da capacidade de aprendizado que o noviço tem, já que os ensinamentos são
feitos oralmente, não há livros para ensinar os rituais, a melhor maneira de aprender
tudo é conviver desde cedo dentro dos terreiros.

A partir do momento que um noviço se torna um sacerdote de Orixá, terá as mesmas
responsabilidades daquele que lhe passou os ensinamentos.

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  • 1. ::.. A Realização do Batuque ..:: Daqui em diante você vai conhecer um pouco sobre o Batuque do Rio Grande do Sul, na linha de Jêje e Ijexá. Lembramos que cada Ilê tem o seu fundamento, passado de geração a geração. 01. Serão ou Corte aos Orixás A Religião Africanista é em seus fundamentos voltada para o passado, mantém até hoje ensinamentos e preceitos, desde o tempo mais remoto, do negro na África e chegou até nós através dos escravos. Sobreviveu a todos os períodos de opressão e perseguição. Daí a enorme importância da obrigação de corte aos Orixás, pois é a preservação da cultura que ao mesmo tempo em que ofertava certos sacrifícios aos Orixás alimentava seu povo com a carne do sagrado. Depois adiantando na linha do tempo, entramos nas casas comuns e nos terreiros em que os animais andavam soltos no pátio e serviam para a subsistência familiar, ainda não existia as facilidades que hoje são disponíveis nos supermercados. Há a crença de que a balança não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer de mãos dadas até que se inicie o alujá, caso a balança arrebente algo de grave pode acontecer a um dos participantes da balança, podendo até ser a morte. Mas caso haja alguma ameaça de arrebentar a Balança Axé dos Presentes enquanto são saudados pelos presentes. Depois os bolos são servidos aos convidados e o excedente é distribuído juntamente com os mercados. São de costume também, os convidados ofertarem presentes ao Orixá do Babalorixá ou Yalorixá por ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns são: flores, perfumes, doces, utensílios que podem ser usados no dia-a-dia do Ilê, etc. É neste momento o Babalorixá ou o próprio Orixá apresenta á todos os presentes recebidos. Levantação , limpá-las e guardá-las nas prateleiras dentro do Quarto-de-santo. Mantendo um costume desde o tempo dos escravos Passeio Saindo do Ilê vão até o centro da cidade visitar lugares de grande significado para a comunidade. O serão ocorre geralmente na quinta-feira á noite, começa entorno dás 20:00 horas e estende-se muitas vezes até a madrugada, das obrigações de bori e de apronte que serão feitas. No serão são imolados animais quadrúpedes (aos quais chamamos vulgarmente de quatro-pés) e de aves. As oferendas feitas aos Orixás são de origem animal assim como vegetal (folhas, plantas, grãos) e mineral: os ocutás, a água, etc. Os animais são ofertados os Orixás com o intuito de fortalecer o axé do Orixá assim como a mente e espírito do filho-de-santo através do axorô (sangue do animal) e das inhélas, certas partes dos animais que serão fritas e arriadas no Quarto-de-santo (cabeça, pés, testículo no caso dos quatro-pés e cabeça, pés, pontas das asas, do pescoço e da sambiqueira, pulmões e testículos das aves). A carne dos animais imolados serão preparados em forma de canja, de amalá, assados, enfarinhados e consumido pelo povo durante o período de obrigação e pelas pessoas que comparecerem ao toque, Batuque. Os couros retirados dos animais, depois de preparados são utilizados na confecção dos tambores, instrumentos tocados durante o Batuque. Nada é desperdiçado, por exemplo, no Ilê Centro Africano Reino de Oxum Pandá é grande o número de animais imolados, devido ao grande número de filhos que
  • 2. o Ilê tem, quando não é consumida a totalidade de carne e de comida preparada, o restante é doada a entidades carentes nas proximidades do Ilê. 02. Preparação do Toque No dia posterior ao corte, permanecem alguns filhos-de-santo no Ilê para preparem em todos os detalhes o toque que irá acontecer no sábado. As principais atividades acontecem na cozinha, considerada a parte mais importante do Ilê, depois do Quarto-de- santo. É necessário que um filho-de-santo, mais experiente e de extrema confiança do Babalorixá auxilie na organização de tudo que deve ser feito, pois os afazeres são muitos e o tempo escasso. Além de todas as comidas-de-santo, devem ser feitas comidas tradicionalmente sagradas e significativas que serão servidas ás visitas que são esperadas mais tarde no toque. Com as aves preparam-se: canja, galinha assada, galinha enfarofada. Com a carne do carneiro faz-se o amalá, comida consagrada ao Orixá Xangô: A carne cozida e desfiada é agregada ao molho com folhas de mostarda picada, servido com pirão de farinha de mandioca. Os cabritos e porcos são assados e servidos em pedaços. Faz-se também canjica de milho branca e amarela, além de uma grande variedade de doces como: sagu, pudim, ambrosia, quindim, docinhos, etc... Para beber serve-se o atã, bebida típica do Orixá Ogum, feita com frutas minusculamente cortadas, misturadas com guaraná e xarope de groselha.Os miúdos dos quatro-pés é cozido e picado de forma bem miúda para se fazer o sarrabulho, uma espécie de farofa temperada com cheiro verde, cebola e os miúdos picados. As filhas de Iansã, ajudadas por outros irmãos fazem o acarajé, comida consagrada ao seu Orixá de cabeça. Havendo disponibilidade faz-se ainda os bolos que serão ofertados pela ocasião do aniversário de assentamento dos Orixás. A preparação do toque segue com a arrumação do Quarto-de-santo que deve ter: flores, perfumes, as comidas-de-santo, atã, pelo menos uma porção de cada comida que está sendo feita para o povo, frutas, balas enroladas em papéis coloridos, os bolos de aniversário. Além das inhélas e das vasilhas contendo as obrigações e de outros fetiches religiosos. Há ainda a arrumação do salão, onde acontece o toque, e das demais dependências do Ilê que depois da limpeza são organizadas para melhor receber os convidados, Babalorixás e Yalorixás que juntamente com seus filhos-de-santo vêm prestigiar a obrigação. 03. O Mercado Também faz parte da preparação para o toque a confecção dos mercados que serão distribuídos no final do Batuque.O significado e a explicação desta denominação perdeu-se nos tempos, porém seu significado religioso continua forte. Os mercados são pacotes onde se colocam as comidas-de-santo para serem ofertados ás visitas simbolizando a distribuição e a extensão do axé de prosperidade, fartura e fraternidade a todos os lares e Ilês. O axé obrigatoriamente deve ser dividido entre os que compareceram ao toque, principalmente quando o ebó é de quatro-pés. Cada Ilê acondiciona o mercado da
  • 3. maneira que lhe convém: em bandejas, em pacotes, em caixas de papelão, etc, porém o que não muda muito é o conteúdo do mercado. O mercado deve conter: pedaços de carne de cabrito assada, frutas, bolo, axoxô (milho cozido, pertence á Obá), pipoca (pertence á Bará), batata doce frita em rodelas ou acarajé (pertence á Iansã), doces - quindim, docinhos, balas (pertence á Oxum), farofa de Xapanã (farinha de mandioca pilada com amendoim e açúcar). No final do toque também são distribuídos, bolos, carnes, frutas. O babalorixá, muitas vezes presenteia os Babalorixás e Yalorixás que estão de visita com flores do Quarto-de-Santo, para que sejam colocadas em seus Quarto-de-santo, como sinal de agradecimento pelo comparecimento no ebó. Caso ainda sobre alguma comida ou fruta, deve ser doado a pessoas carentes ou instituições de caridade. 04. O Toque O toque geralmente inicia ás 23:00 horas, quando todos os filhos-de-santo devem estar presentes e devidamente trajados de seus axós, para auxiliar o Babalorixá ou Yalorixá a recepcionar os visitantes. O início do toque se dá com a chamada: todos em silêncio, ajoelham-se, enquanto o Babalorixá em frente ao Quarto-de-santo, tocando o adjá (espécie de sineta) saúda a todos os Orixás, de Bará a Oxalá, fazendo pedidos de abertura, de paz, saúde e prosperidade a todos os presentes. Os filhos-de-santo respondem com a saudação específica de cada Orixá. Os alabês (tamboreiros), "puxam" os erís, isto é tocam os tambores enquanto entoam os erís, para que os presentes respondam, e a roda se forma no centro do salão, movimentando-se no sentido anti-horário. Os erís têm coreografias adequadas a cada orixá ou a cada "passagem", (relação da reza com alguma história daquele orixá), por exemplo: nos erís do Orixá Ogum ora dança-se simulando com as mãos o trabalho do ferreiro na forja, ora dança-se simulando a utilização de uma lança, relacionando com Ogum guerreiro. Todos podem fazer parte da roda, adultos, crianças, iniciados e prontos, porém alguns detalhes devem ser observados. Participam da roda pessoas que estejam de axó (calça comprida para os homens, e no mínimo saia para as mulheres, desde que não seja curta), mulheres em período menstrual não participam do Batuque, mas podem auxiliar na manutenção, na limpeza e na recepção dos convidados. As pessoas que estiverem de luto também não podem participar do ebó, ficando somente na assistência. Os Orixás que "chegam" usam o centro da roda para dançarem e darem os seus axés, com exceção dos orixás "velhos" que são encaminhados a sentarem-se nos banquinhos a eles destinados. Os erís seguem a hierarquia dos Orixás, sendo de responsabilidade do alabê a exatidão dos erís assim como a ordem dos acontecimentos no decorrer do toque. Acompanhe a seqüência de tais acontecimentos, segundo a Nação Jêge-Ijexá: 4.1. Balança ou Roda-de-Prontos Chama-se balança ou cassum em homenagem a Xangô e também por conter o axé de todos os orixás em equilíbrio. Há um intervalo na movimentação da roda e os presentes, inclusive os orixás afastam-se do centro do salão, deixando espaço para a roda da balança.
  • 4. Só há balança quando há ebó de quatro-pés, que é constituída exclusivamente por pessoas prontas na religião, que já tenham feito ao menos bori de quatro-pés, no mínimo 06 pessoas (conta de Xangô) podendo ser em número múltiplo de 06: 12, 18, 24, 32. Caso o número de prontos seja excedente, por ser feito mais de uma balança, aí então costuma-se fazer uma balança com pessoas de orixá de frente e uma balança com o povo de praia. Os participantes colocados lado a lado, formando uma roda de mãos dadas, dançam ao ritmo do tambor que vai gradualmente aumentando de intensidade. É quando ocorre o maior número de ocupações ao mesmo tempo, sendo somente de orixás jovens (Oxum, Iemanjá e Oxalá velhos só podem chegar depois do início dos erís de Oxum). Ao terminar a balança os Orixás cumprem o fundamento: Vão ao Quarto-de- santo, depois até a porta da rua para cumprimentar os orixás da rua e depois dançam ao som do Alujá de Xangô e do Alujá de Iansã, erís destinados unicamente pelos orixás de frente. Há a crença de que a balança não pode ser aberta, isto é, as pessoas devem permanecer de mãos dadas até que se inicie o alujá, caso a balança arrebente algo de grave pode acontecer por dos participantes da balança, podendo até ser a morte. Mas caso haja alguma ameaça de arrebentar a Balança, cabe ao alabê, mudar imediatamente o axé indo direto para a execução do Alujá de Xangô. Por causa desta crença, muitas pessoas esquivam-se de participar da Balança, porém é uma obrigação muito forte onde se confirma que o ebó que está sendo realizado é de quatro-pés, o axé que emana no salão durante a balança é algo muito forte, sentido por todos os presentes. 4.2 Alujá de Xangô e Alujá de Iansã Logo após a Balança os Orixás que estão no "mundo" dançam o Alujá do Xangô e o Alujá de Iansã, respectivamente, ritmos do tambor, característicos destes Orixás. Os orixás jovens dançam em frente ao "pagodô" local mais elevado (espécie de palco) onde ficam os alabês. Durante o alujá é contagiante o axé e a empolgação com que os orixás dançam, proporcionando um momento de rara beleza. 4.3 A Saída do Ecó Terminado os Erís de Obá é hora da Saída do Ecó, que nada mais é do que o despacho do axé de Bará, e do ecó de Bará Lanã e do Bará Lodê (alguidar com água, farinha de mandioca e gotas de epô - azeite de dendê) e do ecó de Oxum (Vasilha de vidro com farinha de milho, água, mel e perfume e flores). A saída do ecó simboliza a saída de toda a negatividade que existe no ambiente e nas pessoas presentes prepara o ambiente para os erís dos Orixás de praia, que tem um toque mais brando. Enquanto sai o ecó, os alabês continuam puxando os erís, só que agora puxam os erís dos orixás da rua - Bará Lodê, Ogum Avagã e Iansã Timboá - não há movimento da roda e a assistência evita olhar para o que está acontecendo, virando para a parede. Diz a crença que quem olhar a saída do ecó atrai para si a negatividade ali contida. 4.4 Roda de Ibedji
  • 5. No Batuque de Quatro-pés há a roda de Ibedjis, no Gêge-Ijexá ela acontece durante os erís de Oxum. É o momento em que as crianças participam da obrigação e as mulheres que pretendem a maternidade ou que estão grávidas fazem os seus pedidos e agradecimentos. Os orixás, principalmente Oxum e Xangô, distribuem aos que estão na roda e na assistência, as frutas, os doces - quindins, merengues, cocadas, bolos - que estão no Quarto-de-santo. 4.5 Axé dos Perfumes Sendo Oxum a deusa da beleza adora perfumes, espelhos, em seus erís há um momento especial em as Oxuns que estão no mundo recebem vidros de perfumes, leques e espelhos. Dançam felizes, empunhando seus leques e espelhos enquanto outras se banham com perfume e distribuem um axé perfumado as pessoas que estão na roda e na assistência. Este axé faz uma referência sobre a "passagem" em que Oxum está no rio banhando-se, num ritual de beleza e encantamento. 4.6 Axés dos Presentes Geralmente acontece quase no final do Batuque, os orixás que estão aniversariando "apresentam" seus bolos, tantos os orixás quanto os filhos-de-santo que não se ocupam, mostram a todos o seu bolo com a vela acesa (correspondente aos anos de assentamento do orixá), enquanto são saudados pelos presentes. Depois os bolo são servidos aos convidados e o excedente é distribuído juntamente com os mercados. São de costume também, os convidados ofertarem presentes ao Orixá do Babalorixá ou Yalorixá por ocasião de seu aniversário de aprontamento. Os presentes mais comuns são: flores, perfumes, doces, utensílios que podem ser usados no dia-a-dia Ilê, etc. É neste momento que o Babalorixá ou o próprio Orixá apresenta á todos o presente recebido. 4.7 O Axé do Alá de Oxalá Pertence aos erís do Oxalá o axé do Alá. Em determinado momento, os filhos-de-santo com estatura mais elevada suspendem ao alto um grande Alá branco. Enquanto a roda e os erís continuam, todos passam por baixo do Alá pedindo ao orixá do branco a paz e a proteção 4.8 O Aforiba ou a Dança do Atã O aforiba é o momento em que Ogum e Iansã demonstram a passagem em que Iansã embebeda Ogum para fugir com Xangô. O Babalorixá convida um Ogum e uma Iansã para fazerem o Aforiba, então ela coloca no centro do salão duas garrafas contendo atã (aforiba) e as armas pertencentes a estes orixás (espadas). Iansã toma as garrafas e oferece á Ogum que logo se embebeda, mas em seguida Ogum volta a si e vai atrás de Iansã empunhando sua espada. Os dois lutam, mas Iansã consegue acalmar Ogum e os dois reconciliam-se e voltam a dançar juntos. Tendo um Xangô no mundo poderá vir ele fazer parte do Aforiba. Xangô vem em defesa de Iansã e com seu machado de dois gumes entra na luta com Ogum. Aí então, Iansã acalma os dois Orixás.
  • 6. 4.9 Os Axêres Conforme o Batuque vai acontecendo, os orixás chegam (ocupam-se da consciência e do corpo de seus filhos) e fazem o fundamento da religião, conforme o ensinamento do Babalorixá e da Yalorixá. Feita a obrigação os Orixás "sobem", vão embora. Os orixás são despachados, geralmente por filhos-de-santo mais antigos e experientes do Ilê, porém eles ficam em "axêre" ou "axêro" (No Candomblé são chamados de Erês), estado intermediário entre a ocupação do orixá e da pessoa propriamente dita. Os axêres agem como crianças, tomam refrigerante e adoram fazer brincadeiras com as pessoas, pois seu linguajar é confuso, trocam as expressões como, por exemplo: "tigue" (tigre) quer dizer carro, "confeitaria" quer dizer bolo, "pouco" quer dizer muito, "feinho" quer dizer bonito, e assim por diante. È um momento de descontração, porém deve ser mantido o respeito, pois apesar de fazerem brincadeiras, os axêres ainda conservam a essência do orixá. 4.10 A Levantação da Obrigação Terminada o período em que a obrigação deve ficar arriada, há a levantação, termo que se refere ao ato de levantar as vasilhas contendo as obrigações de corte que estavam arriadas, limpa-las e guarda-las nas prateleiras dentro do Quarto-de-santo. Mantendo um costume desde o tempo dos escravos, as obrigações são guardadas no Quarto-de-santo e ocultas por cortinas que geralmente tem á sua frente imagens católicas que se referem ao sincretismo religioso, assim como velas, castiçais, comidas de santo, flores e outros objetos sagrados pertencentes aos Orixás. 05. O Peixe A obrigação do peixe é feita pela manhã bem cedinho, e só ocorre em festas grandes, com quatro-pés. Alguém encarregado deve ir ao rio ou ao mercado público e trazer peixes ainda vivos para serem imolados aos Orixás, de Bará á Oxalá, por isso não pode ser uma quantidade muito pequena. Os orixás de frente recebem pintado como obrigação e os Orixás de praia recebem jundiá. No Quarto-de-santo são imolados ao menos um peixe para cada orixá e a ele é destinado: a cabeça, as barbatanas, a cauda e um pouco de axorô (sangue). A carne dos peixes imolados é servida com pirão (ebó) no almoço e deve ser consumida pelos presos (filhos que estão de Obrigação) e pelos que estão na casa, pois o ebó de peixe simboliza fartura e prosperidade. Uma quantidade maior de peixes é preparada frita para ser servida ao povo que comparecer ao batuque de encerramento ou no Toque do Peixe - toque realizado na noite do corte do peixe, porém com duração mais curta quando serão consumidos o ebó do peixe e peixes fritos, além das comidas dos orixás. 06. Mesa de Ibedji A obrigação da Mesa de Ibedji é feita no Batuque de Encerramento e nas ocasiões em que o Babalorixá ou Yalorixá acharem necessárias. É realizada no início da noite e antecede o Batuque de Encerramento. Dela participam crianças de zero á doze anos, além de mulheres grávidas, ou que queiram engravidar. São "tirados" erís de Bará, de Xangô e Oxum (que representam os Ibedji) e dos orixás velhos. A Mesa de Ibedji é riquíssima de detalhes e constitui uma obrigação religiosa com muito axé e beleza.
  • 7. Significa agradar e reverenciar aos orixás das crianças que simbolizam pureza, paz e prosperidade. Uma grande toalha branca é colocada ao chão e nela colocam-se 01 gamela de frutas, 01 gamela contendo amalá, flores, 01 quartinha, brinquedinhos, bolo, doces e refrigerantes. As crianças participam em grupos de 06, 12...(números múltiplos de 06, a "conta" de Xangô), sentam-se ao redor da toalha, as menores acompanhadas por um adulto. Servem-se para as crianças: primeiramente canja de galinha, depois os doces e refrigerante. Após terem comido o que foi servido, são dados ás crianças uma colher de mel e um gole de água. Depois são lavadas e enxugadas as mãos das crianças. Terminadas estas etapas as crianças são levantadas da mesa por pessoas adultas ou por orixás que tenham "chegado" na mesa e conduzidos a formarem uma roda ao som de erís de Xangô. São feitas quantas mesas forem necessárias para que todas as crianças presentes participem da Obrigação. Encerrada a Mesa de Ibedji, os Orixás que chegaram durante e a Mesa de Ibedji, recolhem os itens que ainda restam na mesa e levam até o Quarto-de-santo. Os brinquedos são distribuídos entre as crianças que participaram da Mesa. 07. Toque de Encerramento É o toque que encerra as atividades públicas do Batuque Grande. Tem uma proporção um pouco menor do que o primeiro toque, pois é antecedido pelo corte do peixe e do corte de confirmação, quando são imoladas somente aves aos orixás.A cor dos axós é preferencialmente o branco e pode acontecer a Mesa de Ibedji antes do início do toque. É nesta noite que serão dados os axés de Obés e Ifá. Entre os alimentos servidos aos convidados prevalecem os doces, além da canja, da canjica e do amalá (este feito com carne de peito de gado). Seguido do toque, no dia posterior há a levantação da obrigação do corte de confirmação. 08. O Passeio O término da obrigação para os filhos-de-santo que estão presos por motivo de seu aprontamento ou por obrigação de Bori é o Passeio no dia posterior á Levantação, pela manhã, antes, porém o Babalorixá ou Yalorixá leva os presos até a porta da frente do Ilê e apresenta-os à rua (aos Orixás da Rua), liberando-os para saírem fora dos limites do Ilê. É comum no centro de Porto Alegre reconhecermos um grupo de presos passeando juntamente com seu Babalorixá ou Yalorixá . Saindo do Ilê vão até o centro visitar lugares de grande significado para a comunidade batuqueira: A Igreja do Rosário construída com o trabalho do negro escravo (antiga irmandade de negros) , o Mercado Público - lá compram cereais, grãos, e velas -, o Rio Guaíba ( que banha a cidade) - lá reverenciam Oxum e jogam moedas ao rio pedido prosperidade e fartura. Em seguida, vão visitar algum Ilê conhecido onde "batem cabeça" cumprimentando os Orixás do Ilê e lá depositam parte das compras feitas no mercado. De volta ao Ilê, batem cabeça no Quarto-de-santo e arriam o restante das compras feitas. Cumprimentam o Babalorixá ou Yalorixá na nova condição de Filho-de-santo pronto, ou borido (conforme a obrigação realizada).
  • 8. ::.. Um resumo sobre Os Cultos Afros - Batuque no RS: ..:: Batuque é uma Religião Afro-brasileira de culto aos Orixás encontrada principalmente no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, de onde se estendeu para os países vizinhos tais como Uruguai e Argentina. Batuque é fruto de religiões dos povos da Costa da Guiné e da Nigéria, com as nações Jêje, Ijexá, Oyó, Cabinda e Nagô. A estruturação do Batuque no estado do Rio Grande do Sul deu-se no inicio do século XIX, entre os anos de 1833 e 1859 (Correa, 1988 a:69). Tudo indica que os primeiros terreiros foram fundados na região de Rio Grande e Pelotas. Tem-se notícias, em jornais desta região, matérias sobre cultos de origem africana datadas de abril de 1878, (jornal do comércio, Pelotas). Já em Porto Alegre, as noticias relativas ao Batuque, datam da segunda metade do século XIX, quando ocorreu a migração de escravos e ex-escravos da região de pelotas e Rio Grande para Capital. Os rituais do Batuque seguem fundamentos, principalmente das raízes da nação Ijexá, proveniente da Nigéria, e dá lastro as outras nações como o Jêje do Daomé, hoje Benim, Cabinda (enclave Angolano) e Oyó, também, da região da Nigéria. O Batuque surgiu como diversas religiões afro-brasileiras praticadas no Brasil, tem as suas raízes na África, tendo sido criado e adaptado pelos negros no tempo da escravidão. Um dos principais fundadores do Batuque foi o Príncipe Custódio de Xapanã. O nome batuque era dado pelos brancos, sendo que os negros o chamavam de Pará. É da Junção de todas estas nações que se originou esta cultura conhecida como Batuque, e os nomes mais expressivos da antiguidade, que de uma maneira ou de outra contribuíram para a continuidade dos rituais foram: Ijexá — Paulino de Oxalá Efan, Maria Antonia de Assis (Mãe Antonia de Bará), Manoel Matias (Pai Manoelzinho de Xapanã), e Pai Idalino de Ogum entre outros. Oyó — Mãe Andrezza Ferreira da Silva, Pai Antoninho da Oxum, Mãe Moça de Oxum e Tim de Ogum, entre outros. Jêje — Mãe Chininha de Xangô, Príncipe Custódio de Xapanã, João Correa de Lima (Joãozinho de Bará) responsável pela expansão do Batuque no Uruguai e Argentina. Cabinda — Waldemar Antônio dos Santos de Xangô Kamuká; Maria Madalena Aurélio da Silva de Oxum, Palmira Torres de Oxum, Pai Henrique de Oxum, entre outros. As entidades cultuadas são as mesmas em quase todos terreiros, os assentamentos tem rituais e rezas muito parecidos, as diferenças entre as nações é basicamente em respeito as tradições próprias de cada raiz ancestral, como no preparo de alimentos e oferendas sagradas. O Ijexá é atualmente a nação predominante, encontra-se associado aos rituais de todas nações. O batuque é uma religião onde se cultuam vários Orixás, oriundos de várias partes da África, e suas forças estão em parte dentro dos terreiros, onde permanecem seus assentamentos e na maior parte na natureza: rios, lagos, matas, mar, pedreiras, cachoeiras etc., onde também invocamos as vibrações de nossos Orixás.
  • 9. Todo ser humano nasce sob a influencia de um Orixá, e em sua vida terá as vibrações e a proteção deste Orixá que está naturalmente vinculado e rege seu destino, com características individuais, em que o Orixá exige sua dedicação, onde este poderá ser um simples colaborador nos cultos, ou até mesmo se tornar um Babalorixá ou Yalorixá. Há uma questão de ordem etmológica no Termo Pará, onde afirma-se ser este o outro nome pelo qual é conhecido o Batuque, ora sabe-se que todo frequentador de Terreiros chama na verdade o Peji ou quarto-de-santo de Pará e não o ritual sagrado dos Orixás, este sim o Batuque. Esta questão já está dimensionada desde os anos 50, nas pesquisas etnográficas de Roger Bastide sobre a Religião Africana no Rio Grande do Sul. São consideradas Religiões Afro-Brasileiras, todas as religiões que tiveram origem nas religiões africanas, que foram trazidas para o Brasil pelos escravos. Batuque Candomblé Catimbó Culto aos Egungun Culto de Ifá Jurema sagrada Quibanda Macumba Tambor-de-Mina Umbanda Xangô do Nordeste Xambá As Religiões Afro- Brasileiras são relacionadas com a Religião Yorubá e outras Religiões africanas, e diferentes das Religiões Afro-Caribenhas como a Santeria e o Vodu. Roupas da cor dos Orixás e fios de contasO culto, no Batuque, é feito exclusivamente aos Orixás, sendo o Bará o primeiro a ser homenageado antes de qualquer outro, e encontra-se seu assentamento em todos os terreiros, no Candomblé o chamam de Exú. Entre os Orixás não há hierarquia, um não é mais importante do que o outro, eles simplesmente se completam cada um com determinadas funções dentro do culto. Os principais Orixás cultuados são: Bará, Ogum, Oiá-Iansã, Xangô, Ibeji (que tem seu ritual ligado ao culto de Xangô e Oxum), Odé, Otim, Oba, Ossain, Xapanã, Oxum, Iemanjá, Oxalá e Orunmilá (ligado ao culto de Oxalá). E há também divindades que nem todas nações cultuam como: Exú Elegbara, Gama (ligada ao culto de Xapanã), Zína, Zambirá e Xanguín (qualidade rara de Bará) que só os mais antigos tem conhecimentos suficientes para fazer seus rituais. No Rio grande do Sul a área de conservação das religiões africanas vai de Viamão à fronteira do Uruguai, com os dois grandes centros de Pelotas e de Porto Alegre. No batuque, os templos terreiros são quase que em sua totalidade vinculados as casas de moradia. É destinado um cômodo, geralmente na parte da frente da construção onde são colocados os assentamentos dos Orixás. Neste local são feitos todos os fundamentos de matanças e trabalhos determinados, oferendas para os Orixás, e o local é considerado sagrado, pessoas vestidas de preto, mulheres em dias de menstruação não entram. Junto à esta parte da casa, chamada de quarto de Santo ou Peji, há o salão onde são realizadas as festas para os orixás. O estado do Rio Grande do Sul foi o maior responsável pela exportação dos rituais africanos para outros países da América do Sul, entre eles Uruguai e Argentina, que também procuram seguir a maneira de cultuar os Orixás; e a construção dos templos seguem exemplos dos seus sacerdotes. Todos os Orixás são montados com ferramentas, Okutás (pedras) etc. e permanecem dentro da mesma casa, com exceção do Bará Lodê e do Ogum Avagãn, que tem seus assentamentos numa casa separada, ficando à frente do templo onde recebem suas
  • 10. oferendas e sacrifícios. A casa dos Eguns também tem lugar definido, é uma construção separada da casa principal, na parte dos fundos do terreiro, onde são feitos diversos rituais. Em caso de falecimento do Babalorixá ou Yalorixá, dono do terreiro, fica a critério da família o destino do templo, geralmente não tendo um familiar que possa suceder o morto o templo é fechado. Na maioria dos casos na morte de um sacerdote, todas as obrigações são despachadas num ritual especifico chamado de Erissum (Axexê), por este motivo é muito difícil encontrar ilês com mais de 60 anos, são muito poucos os sacerdotes que destinam seus axés à um sucessor, para dar prosseguimento à raiz. Oferendas para os OrixásOs rituais são próprios e originais e embora tenha alguma semelhança com o "Xangô de Pernambuco", é muito diferente do Candomblé da Bahia. Os rituais de Jêje tem suas rezas próprias (fon), e ainda se vê este belo ritual em dois grandes terreiros na cidade de Porto Alegre, as danças são executadas de par, um de frente para o outro. Há também muitas casas que seguem os fundamentos da nação Oyó que se aproxima muito do ijexá, já que, estas duas provem de regiões próximas na Nigéria. A principal característica do ritual do Batuque é o fato do iniciado não poder saber em hipótese alguma que foi possuído pelo seu Orixa, sob pena de ficar louco. Cada Babalorixá ou Iyalorixá tem autonomia na prática de seus rituais, não existem nomenclaturas de cargos como tem no Candomblé, exercem plenos poderes em seus ilês. Os filhos de santo se revezam nos cumprimentos das obrigações. No mínimo uma vez por ano são feitos homenagens com toques para os Orixás, mas as festas grandes são de quatro em quatro anos. Chamamos de festa grande a obrigação que tem ebó, ou seja quando há sacrifícios de animais de quatro patas aos Orixás, cabritos, cabras, carneiros, porcos, ovelhas, acompanhados de aves como galos, galinhas e pombos. Esta obrigação serve para homenagear o Orixá "dono da casa" e dos filhos que ainda não possuem seu próprio templo. A data é geralmente a mesma que aquele sacerdote teve assentado seu Orixá, a data de sua feitura. As festas têm um ciclo ritual longo, que antigamente duravam 32 dias de obrigações, hoje diante das dificuldades duram no máximo 16. O começo de tudo são as limpezas de corpo e da casa, para descarregar totalmente o ambiente e as pessoas, de toda e qualquer negatividade; em seguida são preparados as oferendas e sacrifícios ao Bará. A partir deste momento, os iniciados já ficam confinados ao templo, esquecendo então o cotidiano e passam a viver para os Orixás por inteiro até o final dos rituais. No dia do serão (dia da obrigação de matança), todos Orixás recebem sacrifícios de animais. Os cabritos e aves são preparados com diversos temperos e servidos a todos que participarem dos rituais, tudo é aproveitado, inclusive o couro dos animais, que sevem para fazer os tambores usados nos dias de toques. No dia da festa o salão é enfeitado com as cores dos Orixás homenageados. A abertura se dá com a chamada (invocação aos Orixás), feita pelo sacerdote em frente ao peji (quarto de santo), usando a sineta (adjá), saudando todos Orixás. Ao som dos tambores,
  • 11. as pessoas formam uma roda de dança em louvor aos Orixás, a cada um com coreografias especiais de acordo com suas características. No final das cerimônias são distribuídos os mercados, (bandejas contendo todo tipo de culinária dos Orixás como: acarajé, axoxó (milho cozido e fatias de coco), farofa de aves, carnes de cabritos (cozidas ou assadas), frutas, fatias de bolos etc.), alguns consomem ali mesmo, outros levam para comer em casa. Durante a semana são feitos outros rituais de fundamentos para os Orixás, inclusive a matança de peixe, que para os batuqueiros significa fartura e prosperidade, os peixes oferecidos são da qualidade Jundiá e Pintado; estes são trazidos vivos do cais do porto ou do mercado público, onde o comércio de artigos religiosos é intenso. No sábado seguinte é feito o encerramento das obrigações, com mesa de Ibejes e toque, novamente em homenagem aos Orixás, neste dia são distribuídos mercados com iguarias e o peixe frito, significando a divisão da fartura e prosperidade com os participantes das homenagens aos Orixás. Após o encerramento, o sacerdote leva os filhos que estavam de obrigações ao rio, à igreja, ao mercado público e à casa de alguns sacerdotes, que fazem parte da família religiosa, para baterem cabeça em sinal de respeito e agradecimento; este passeio faz parte do cumprimento dos rituais. Após o passeio todos estão liberados para seguirem normalmente o cotidiano de suas vidas. o Batuque também temos a parte dos rituais destinados ao culto dos Eguns. Este é um ritual cheio de magia e segredos onde poucos sacerdotes têm o completo domínio. A casa dos Eguns (espíritos dos mortos) fica numa construção separada da casa principal, nos fundos do terreno, onde são feitos diversas obrigações em determinadas datas e quando morre alguém ligado ao terreiro; este local é denominado Balê. Aos Eguns também são oferecidos sacrifícios de animais, e comidas diversas que fazem parte somente deste ritual, não podendo ser usados em outras ocasiões. Os Eguns, assim como os Orixás, tem suas rezas (cânticos) próprias, feitos na linguagem yorubá, e em dias de obrigações recebem toques ao som de tambores frouxos e sem o acompanhamento de agê (instrumento feito com uma cabaça inteira trançada com cordão e contas diversas). Cada nação tem rituais diferentes para este tipo de obrigação. O Babalorixá ou Yalorixá tem a responsabilidade de formar novos sacerdotes, que darão continuidade aos rituais. Para isto é preciso preparar novos filhos de santo, que durante um certo período de tempo aprenderão todos os rituais para preservação dos cultos. O sacerdote chefe deve passar aos futuros Pais ou Mães de Santo, todos os segredos referente aos rituais tais como: uso das folhas (folhas sagradas), execução de trabalhos e oferendas, interpretação do jogo de búzios, e até mesmo como preparar um novo sacerdote. Geralmente o futuro sacerdote já nasce no meio religioso, onde conviverá acompanhando todos os diversos rituais que darão suporte a seus afazeres dentro do
  • 12. culto, e terá pleno conhecimento de todos os tipos de situações que enfrentará em seu futuro templo. O tempo de aprendizado é longo, não se forma um verdadeiro sacerdote de Orixás com menos de sete anos de feitura, e os ensinamentos são passados de acordo com a evolução da capacidade de aprendizado que o noviço tem, já que os ensinamentos são feitos oralmente, não há livros para ensinar os rituais, a melhor maneira de aprender tudo é conviver desde cedo dentro dos terreiros. A partir do momento que um noviço se torna um sacerdote de Orixá, terá as mesmas responsabilidades daquele que lhe passou os ensinamentos.