O documento descreve as principais características do bioma Cerrado no Brasil, incluindo sua localização geográfica, clima, relevo, solos, vegetação e fauna. O Cerrado cobre cerca de 25% do território brasileiro e é caracterizado por formações savânicas e florestais com alta biodiversidade e endemismos devido ao clima semiárido e solos pobres em nutrientes.
O Cerrado: características, clima, relevo, flora e fauna
1. Índice
• Introdução.........................................................página 2
• Características típicas da região............................página 3
• Clima e Relevo...................................................página 4 à 6
• Fauna e Flora.....................................................página 7
• Vegetação.........................................................página 8 à 11
• Distribuição geográfica........................................página 12
• Importância econômica........................................página 13 e 14
• Impactos Ambientais...........................................página15
• Conservação......................................................página 16 e 17
• Conclusão..........................................................página 18
• Bibliografia.........................................................página 19
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2. Introdução
O bioma Cerrado representa 25% do território nacional, sendo encontrado em Goiás,
Tocantins, Distrito Federal, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo, sendo o segundo maior bioma do país em área, apenas
superado pela Floresta Amazônica.
A pobreza de nutrientes no solo, este de grande profundidade e rico em óxidos de alumínio e
ferro, o clima e a ocorrência do fogo conferem formações vegetais características e,
conseqüentemente, fauna característica, dando ao Cerrado um alto nível de endemismos.
Sua vegetação apresenta fisionomias que englo¬ba formações florestais com espécies
arbóreas, predominantemente, formações savânicas, com árvores e arbustos sob gramíneas e
formações campestres, com predo¬mínio de espécies herbáceas e algumas arbustivas.
Porém, infelizmente, apenas cerca de 20% da área do bioma ainda não se submeteu a
perturbações humanas, principalmente quanto à ocupação e utilização exagerada e não-
sustentável das paisagens naturais. Quanto à fauna, queimadas, atropelamentos, caça
indiscriminada, intoxicação por agrotóxicos são os principais fatores que a comprometem e,
obviamente, não podem ser deixadas de fora as atividades agropecuárias e, relacionadas à
elas, as queimadas e uso indiscriminado de agrotóxicos.
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3. Características típicas da região
Cerrado é o nome regional dado às savanas brasileiras. Cerca de 85% do grande platô que
ocupa o Brasil Central era originalmente dominado pela paisagem do cerrado, representando
cerca de 1,5 a 2 milhões de km2, ou aproximadamente 20% da superfície do País. O clima
típico da região dos cerrados é quente, semi-úmido e notadamente sazonal, com verão
chuvoso e inverno seco. A pluviosidade anual fica em torno de 800 a 1600 mm. Os solos são
geralmente muito antigos, quimicamente pobres e profundos.
A paisagem do cerrado é caracterizada por extensas formações savânicas, interceptadas por
matas ciliares ao longo dos rios, nos fundos de vale. Entretanto, outros tipos de vegetação
podem aparecer na região dos cerrados, tais como os campos úmidos ou as veredas de buritis,
onde o lençol freático é superficial; os campos rupestres podem ocorrer nas maiores altitudes e
as florestas mesófilas situam-se sobre os solos mais férteis. Mesmo as formas savânicas
exclusivas não são homogêneas, havendo uma grande variação no balanço entre a quantidade
de árvores e de herbáceas, formando um gradiente estrutural que vai do cerrado
completamente aberto - o campo limpo, vegetação dominada por gramíneas, sem a presença
dos elementos lenhosos (árvores e arbustos) - ao cerrado fechado, fisionomicamente florestal -
o cerradão, com grande quantidade de árvores e aspecto florestal. As formas intermediárias
são o campo sujo, o campo cerrado e o cerrado stricto sensu, de acordo com uma densidade
crescente de árvores.
As árvores do cerrado são muito peculiares, com troncos tortos, cobertos por uma cortiça
grossa, cujas folhas são geralmente grandes e rígidas. Muitas plantas herbáceas têm órgãos
subterrâneos para armazenar água e nutrientes. Cortiça grossa e estruturas subterrâneas
podem ser interpretadas como algumas das muitas adaptações desta vegetação às queimadas
periódicas a que é submetida, protegendo as plantas da destruição e capacitando-as para
rebrotar após o fogo. Acredita-se que, como em muitas savanas do mundo, os ecossistemas de
cerrado vêm co-existindo com o fogo desde tempos remotos, inicialmente como incêndios
naturais causados por relâmpagos ou atividade vulcânica e, posteriormente, causados pelo
homem. Tirando proveito da rebrota do estrato herbáceo que se segue após uma queimada em
cerrado, os habitantes primitivos destas regiões aprenderam a se servir do fogo como uma
ferramenta para aumentar a oferta de forragem aos seus animais (herbívoros) domesticados, o
que ocorre até hoje.
A grande variabilidade de habitats nos diversos tipos de cerrado suporta uma enorme
diversidade de espécies de plantas e animais. Estudos recentes, como o apresentado por
J.A.Ratter e outros autores em "Avanços no Estudo da Biodiversidade da Flora Lenhosa do
Bioma Cerrado", em 1995, estimam o número de plantas vasculares em torno de 5 mil; e que
mais de 1.600 espécies de mamíferos, aves e répteis já foram identificados nos ecossistemas
de cerrado (Fauna do Cerrado, Costa et al., 1981). Entre a diversidade de invertebrados, os
mais notáveis são os térmitas (cupins) e as formigas cortadeiras (saúvas). São eles os
principais herbívoros do cerrado, tendo uma grande importância no consumo e na
decomposição da matéria orgânica, assim como constituem uma importante fonte alimentar
para muitas outras espécies animais.
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4. Clima e Relevo
O clima predominante no Domínio do Cerrado é o
Tropical sazonal, de inverno seco. A temperatura média anual
fica em torno de 22-23ºC, sendo que as médias mensais
apresentam pequena estacionalidade. As máximas absolutas
mensais não variam muito ao longo dos meses do ano,
podendo chegar a mais de 40ºC. Já as mínimas absolutas
mensais variam bastante, atingindo valores próximos ou até abaixo de zero, nos meses de
maio, junho e julho. A ocorrência de geadas no Domínio do Cerrado não é fato incomum, ao
menos em sua porção austral.Em geral, a precipitação média anual fica entre 1200 e 1800 mm.
Ao contrário da temperatura, a precipitação média mensal apresenta uma grande
estacionalidade, concentrando-se nos meses de primavera e verão (outubro a março), que é a
estação chuvosa. Curtos períodos de seca, chamados de veranicos, podem ocorrer em meio a
esta estação, criando sérios problemas para a agricultura. No período de maio a setembro os
índices pluviométricos mensais reduzem-se bastante, podendo chegar a zero.
Disto resulta uma estação seca de 3 a 5 meses de
duração. No início deste período a ocorrência de nevoeiros é
comum nas primeiras horas das manhãs, formando-se grande
quantidade de orvalho sobre as plantas e umidecendo o solo. Já
no período da tarde os índices de umidade relativa do ar caem
bastante, podendo baixar a valores próximos a 15%, principalmente nos meses de julho e
agosto. Água parece não ser um fator limitante para a vegetação do cerrado, particularmente
para o seu estrato arbóreo-arbustivo. Como estas plantas possuem raízes pivotantes
profundas, que chegam a 10, 15, 20 metros de profundidade, atingindo camadas de solo
permanentemente úmidas, mesmo na sêca, elas dispõem sempre de algum abastecimento
hídrico. No período de estiagem, o solo se desseca realmente, mas apenas em sua parte
superficial ( 1,5 a 2 metros de profundidade). Consequência disto é a deficiência hídrica
apresentada pelo estrato herbáceo-subarbustivo, cuja parte epigéia se desseca e morre,
embora suas partes hipogéias se mantenham vivas, resistindo sob a terra às agruras da sêca.
Vários experimentos já demonstraram que, mesmo durante a sêca, as folhas das árvores
perdem razoáveis quantidades de água por transpiração, evidenciando sua disponibilidade nas
camadas profundas do solo. Muitas espécies arbóreas de cerrado florescem em plena estação
seca como o ipê-amarelo, demonstrando o mesmo fato. A maior evidência de que água não é o
fator limitante do crescimento e produção do estrato arbóreo-arbustivo do cerrado é o fato de aí
encontrarmos extensas plantações de Eucalyptus, crescendo e produzindo plenamente, sem
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5. necessidade de irrigação. Outras espécies cultivadas em cerrado, como mangueiras,
abacateiros, cana-de-açúcar, laranjeiras etc, fazem o mesmo.
A termoperiodicidade diária e estacional parece ser um fator de certa importância para a
vegetação do cerrado, particularmente para o estrato herbáceo-subarbustivo. Geadas, todavia,
prejudicam bastante as plantas matando suas folhas, que logo secam e caem, aumentando em
muito a serapilheira e o risco de incêndios.
Ventos fortes e constantes não são uma característica geral do
Domínio do Cerrado. Normalmente a atmosfera é calma e o ar fica muitas
vezes quase parado. Em agosto costumam ocorrer algumas ventanias,
levantando poeira e cinzas de queimadas a grandes alturas, através de
redemoinhos que se podem ver de longe. Às vezes elas podem ser tão
fortes que até mesmo grossos galhos são arrancados das árvores e
atirados à distância.
A radiação solar no Domínio do Cerrado é geralmente bastante intensa, podendo
reduzir-se devido à alta nebulosidade, nos meses excessivamente chuvosos do verão. Por esta
possível razão, em certos anos, outubro costuma ser mais quente do que dezembro ou janeiro.
Como o inverno é seco, quase sem nuvens, e as latitudes são relativamente pequenas, a
radiação solar nesta época também é intensa, aquecendo bem as horas do meio do dia. Em
agosto-setembro esta intensidade pode reduzir-se um pouco em virtude da abundância de
névoa seca produzida pelos incêndios e queimadas da vegetação, tão freqüentes neste
período do ano.Por estas características de clima, o Domínio do Cerrado faz parte do
Zonobioma II, na classificação de Heinrich Walter.O relevo do Domínio do Cerrado é em geral
bastante plano ou suavemente ondulado, estendendo-se por imensos planaltos ou chapadões.
Cerca de 50% de sua área situa-se em altitudes que ficam entre 300 e 600 m acima do nível do
mar; apenas 5,5% vão além de 900m. As maiores elevações são o Pico do Itacolomi (1797 m)
na Serra do Espinhaço, o Pico do Sol (2070 m) na Serra do Caraça e a Chapada dos
Veadeiros, que pode atingir 1676 m. O bioma do Cerrado não ultrapassa, em geral, os 1100 m.
Acima disto, principalmente em terrenos quartzíticos, costumamos encontrar os Campos
Rupestres, já característicos de um Orobioma. Ao contrário das Matas Galeria, Veredas e
Varjões, que ocupam os fundos úmidos dos vales, o Cerrado situa-se nos interflúvios. Aqui
vamos encontrar, também, manchas mais ou menos extensas de matas mesófilas sempre-
verdes, semi-caducifólias ou caducifólias, que já ocuparam áreas bem maiores que as atuais,
mas que foram reduzidas a relictos pelo homem, devido à boa qualidade das terras e à riqueza
em madeiras-de-lei. O Mato-Grosso-de-Goiás, hoje completamente devastado e substituído
pela agricultura foi um bom exemplo destas matas de interflúvio.
Originando-se de espessas camadas de sedimentos que datam do
Terciário, os solos do Bioma do Cerrado são geralmente profundos,
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6. azonados, de cor vermelha ou vermelha amarelada, porosos, permeáveis, bem drenados e, por
isto, intensamente lixiviados. Em sua textura predomina, em geral, a fração areia, vindo em
seguida a argila e por último o silte. Eles são, portanto, predominantemente arenosos, areno-
argilosos, argilo-arenosos ou, eventualmente, argilosos. Sua capacidade de retenção de água é
relativamente baixa.
O teor de matéria orgânica destes solos é pequeno, ficando geralmente entre 3 e 5%.
Como o clima é sazonal, com um longo período de seca, a decomposição do húmus é lenta.
Sua microflora e micro/mesofauna são ainda muito pouco conhecidas. Todavia, acreditamos
que elas devam ser bem características ou típicas, o que, talvez, nos permitisse falar em "solo
de cerrado" e não apenas em "solo sob cerrado", como preferem alguns. Afinal, a flora e a
fauna de um solo são partes integrantes dele e deveriam permitir distingüí-lo de outros tantos
solos, física ou quimicamente similares.
Quanto às suas características químicas, eles são bastante ácidos, com pH que pode
variar de menos de 4 a pouco mais de 5. Esta forte acidez é devida em boa parte aos altos
níveis de Al3+, o que os torna aluminotóxicos para a maioria das plantas agrícolas. Níveis
elevados de ions Fe e de Mn também contribuem para a sua toxidez. Baixa capacidade de
troca catiônica, baixa soma de bases e alta saturação por Al3+, caracterizam estes solos
profundamente distróficos e, por isto, impróprios para a agricultura. Correção do pH pela
calagem (aplicação de calcário, de preferência o calcário dolomítico, que é um carbonato de
cálcio e magnésio) e adubação, tanto com macro quanto com micronutrientes, podem torná-los
férteis e produtivos, seja para a cultura de grãos ou de frutíferas. Isto é o que se faz em nossa
grande região produtora de soja, situada, como se sabe, em solos de Cerrado de Goiás, Minas,
Mato Grosso do Sul, etc. Além da soja, outros grãos como milho, sorgo, feijão, e frutíferas
como manga, abacate, abacaxi, laranja etc, são também cultivados com sucesso. Com a
calagem e a adubação, os cerrados tornaram-se a grande área de expansão agrícola de nosso
país nas últimas décadas. A pecuária também se expandiu com o cultivo de gramíneas
africanas introduzidas, de alta produção e palatabilidade, como a
braquiária, por exemplo.Em parte dos Cerrados, o solo pode
apresentar concreções ferruginosas - canga - formando
couraças, carapaças ou bancadas lateríticas, que dificultam a
penetração da água de chuva ou das raízes, podendo às vezes
impedir ou dificultar o desenvolvimento de uma vegetação mais
exuberante e a própria agricultura. Quando tais couraças são espessas e contínuas, vamos
encontrar sobre estas superfícies formas mais pobres e mais abertas de Cerrado. Que
porcentagem dos solos apresenta este tipo de impedimento físico não sabemos, embora ela
deva ser significativa.
Fauna e Flora
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7. Apesar de ainda ser incompletamente conhecida, a flora do Cerrado é riquíssima.Tomando
uma atitude conservadora, poderíamos estimar a flora do bioma do cerrado como sendo
constituída por cerca de 3.000 espécies, sendo 1.000 delas do estrato arbóreo-arbustivo e
2.000 do herbáceo-subarbustivo. Como famílias de maior expressão destacamos as
Leguminosas (Mimosaceae, Fabaceae e Caesalpiniaceae), entre as lenhosas, e as Gramíneas
(Poaceae) e Compostas (Asteraceae), entre as herbáceas.
Em termos de riqueza de espécies, esta flora deve ser superada apenas pelas florestas
amazônicas e pelas florestas atlânticas. Outra característica sua é a heterogeneidade de sua
distribuição, havendo espécies mais típicas dos Cerrados da região norte, outras da região
centro-oeste, outras da região sudeste etc. Por esta razão, unidades de conservação, com
áreas significativas, deveriam ser criadas e mantidas nas mais diversas regiões do Domínio do
Cerrado, a fim de garantir a preservação do maior número de espécies da flora deste Bioma,
bem como da fauna a ela associada.
A fauna do Bioma do Cerrado é pouco conhecida, particularmente a dos Invertebrados.
Seguramente ela é muito rica, destacando-se naturalmente o grupo dos Insetos. Quanto aos
Vertebrados, o que se conhece são, em geral, listas das espécies mais freqüentemente
encontradas em áreas de Cerrado, pouco se sabendo da História Natural desses animais, do
tamanho de suas populações, de sua dinâmica etc. Só muito recentemente estão surgindo
alguns trabalhos científicos, dissertações e teses sobre estes assuntos.
Entre os Vertebrados de maior porte encontrados em áreas de Cerrado, citamos a jibóia, a
cascavel, várias espécies de jararaca, o lagarto teiú, a ema, a seriema, a curicaca, o urubu
comum, o urubu caçador, o urubu-rei, araras, tucanos, papagaios, gaviões, o tatu-peba, o tatu-
galinha, o tatu-canastra, o tatu-de-rabo-mole, o tamanduá-bandeira e o tamanduá-mirim, o
veado campeiro, o cateto, a anta, o cachorro-do-mato, o cachorro-vinagre, o lobo-guará, a
jaritataca, o gato mourisco, e muito raramente a onça-parda e a onça-pintada.
Vegetação
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8. Quem já viajou pelo interior do Brasil, através de estados como Minas
Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul,
certamente atravessou extensos chapadões, cobertos por uma vegetação
de pequenas árvores retorcidas, dispersas em meio a um tapete de
gramíneas - o cerrado. Durante os meses quentes de verão, quando as chuvas se concentram
e os dias são mais longos, tudo ali é muito verde. No inverno, ao contrário, o capim amarelece
e seca; quase todas as árvores e arbustos, por sua vez, trocam a folhagem senescente por
outra totalmente nova. Mas não o fazem todos os indivíduos a um só tempo, como nas
caatingas nordestinas. Enquanto alguns ainda mantém suas folhas verdes, outros já as
apresentam amarelas ou pardacentas, e outros já se despiram totalmente delas. Assim, o
cerrado não se comporta como uma vegetação caducifolia, embora cada um de seus
indivíduos arbóreos e arbustivos o sejam, porém independentemente uns dos outros. Mesmo
no auge da seca, o cerrado apresenta algum verde no seu estrato arbóreo-arbustivo. Suas
espécies lenhosas são caducifolias, mas a vegetação como um todo não. Esta é
semicaducifolia.
Com uma extensão de mais de 8,5 milhões de km2, distribuídos por latitudes que vão
desde aproximadamente 5º N até quase 34º S, o espaço geográfico brasileiro apresenta uma
grande diversidade de clima, de fisiografia, de solo, de vegetação e de fauna. Do ponto de vista
florístico, já no século passado C.F.Ph. Martius reconhecera em nosso país nada menos do
que cinco Províncias Fitogeográficas (grandes espaços contendo endemismos a nível de
gêneros e de espécies), por ele denominadas Nayades (Província das Florestas Amazônicas),
Dryades (Província das Florestas Costeiras ou Atlânticas), Hamadryades (Província das
Caatingas do Nordeste), Oreades (Província dos Cerrados) e Napaeae (Província das
Florestas de Araucária e dos Campos do Sul). Tais endemismos refletem, sem dúvida, a
existência daquela grande diversidade de condições ambientais, as quais criaram isolamentos
geográficos e/ou ecológicos e possibilitaram, assim, o surgimento de taxa distintos ao longo da
evolução.
Com pequenas modificações, estes grandes espaços geográficos
brasileiros são hoje também conhecidos como Domínios
Morfoclimáticos e Fitogeográficos, sendo eles: o Domínio
Amazônico, o Domínio da Mata Atlântica, o Domínio das
Caatingas, o Domínio dos Cerrados, o Domínio da Araucária e o
Domínio das Pradarias do Sul, segundo a acepção de Aziz N.
Ab'Saber. Como tais espaços não têm limites lineares na natureza, faixas de transição, mais ou
menos amplas, existem entre eles. A palavra Domínio deve ser entendida como uma área do
espaço geográfico, com extensões subcontinentais, de milhões até centenas de milhares de
Km2, onde predominam certas características morfoclimáticas e fitogeográficas, distintas
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ou condições ecológicas podem ocorrer em um mesmo Domínio, além daquelas
predominantes. Assim, no espaço do Domínio do Cerrado, nem tudo que ali se encontra é
Bioma de Cerrado. Veredas, Matas Galeria, Matas Mesófilas de Interflúvio, são alguns
exemplos de representantes de outros tipos de Bioma, distintos do de Cerrado, que ocorrem
em meio àquele mesmo espaço. Não se deve, pois, confundir o Domínio com o Bioma. No
Domínio do Cerrado predomina o Bioma do Cerrado.
Todavia, outros tipos de Biomas também estão ali representados, seja como tipos
"dominados" ou "não predominantes" (caso das Matas Mesófilas de Interflúvio), seja como
encraves (ilhas ou manchas de caatinga, por exemplo), ou penetrações de Florestas Galeria,
de tipo amazônico ou atlântico, ao longo dos vales úmidos dos rios. Para dirimir dúvidas,
sempre é bom deixar claro se estamos nos referindo ao Domínio do Cerrado, ou mais
especificamente, ao Bioma do Cerrado. O Domínio é extremamente abrangente, englobando
ecossistemas os mais variados, sejam eles terrestres, paludosos, lacustres, fluviais, de
pequenas ou de grandes altitudes etc.
O Bioma do Cerrado é terrestre. Assim, podemos falar em peixes
do Domínio do Cerrado, mas não em peixes do Bioma do Cerrado. A
ambigüidade no uso destes dois conceitos - Domínio e Bioma - deve
sempre ser evitada. Por esta razão, usaremos Domínio do Cerrado
quando for o caso, e Bioma do Cerrado ou simplesmente Cerrado quando
quisermos nos referir especificamente a este tipo de ecossistema terrestre, de grande
dimensão, com características ecológicas bem mais uniformes e marcantes.
Estima-se que a área "core" ou nuclear do Domínio do Cerrado tenha aproximadamente
1,5 milhão de km2. Se adicionarmos as áreas periféricas, que se acham encravadas em outros
domínios vizinhos e nas faixas de transição, aquele valor poderá chegar a 1,8 ou 2,0 milhões
de km2. Com uma dimensão tão grande como esta, não é de admirar que aquele Domínio
esteja representado em grande parte dos estados do país, concentrando-se naqueles da região
do Planalto Central, sua área nuclear. Dentro deste espaço caberiam Alemanha Oriental,
Alemanha Ocidental, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Portugal, França, Grã-Bretanha,
Holanda, Suíça, cujas áreas somadas perfariam 1.970.939 km2. Haveria ainda uma pequena
sobra de espaço. Isto nos dá bem uma idéia da grandiosidade deste domínio, tipicamente
brasileiro. Ele ocorre desde o Amapá e Roraima, em latitudes ao norte do Equador, até o
Paraná, já abaixo do trópico de Capricórnio. No sentido das longitudes, ele aparece desde
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, até o Pará e o Amazonas, aqui como encraves dentro da
floresta Amazônica.
A vegetação do Bioma do Cerrado, considerado aqui em
seu "sensu lato", não possui uma fisionomia única em toda a sua
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10. extensão. Muito ao contrário, ela é bastante diversificada, apresentando desde formas
campestres bem abertas, como os campos limpos de cerrado, até formas relativamente
densas, florestais, como os cerradões. Entre estes dois extremos fisionômicos, vamos
encontrar toda uma gama de formas intermediárias, com fisionomia de savana, às vezes de
carrasco, como os campos sujos, os campos cerrados, os cerrados "sensu stricto" (s.s.).
Assim, na natureza o Bioma do Cerrado apresenta-se como um mosaico de formas
fisionômicas, ora manifestando-se como campo sujo, ora como cerradão, ora como campo
cerrado, ora como cerrado s.s. ou campo limpo. Quando percorremos áreas de cerrado, em
poucos km podemos encontrar todas estas diferentes fisionomias. Este mosaico é determinado
pelo mosaico de manchas de solo pouco mais pobres ou pouco menos pobres, pela
irregularidade dos regimes e características das queimadas de cada local (freqüência, época,
intensidade) e pela ação humana. Assim, embora o Bioma do Cerrado distribua-se
predominantemente em áreas de clima tropical sazonal, os fatores que aí limitam a vegetação
são outros: a fertilidade do solo e o fogo. O clímax climático do Domínio do Cerrado não é o
Cerrado, por estranho que possa parecer, mas sim a Mata Mesófila de Interflúvio, sempre
verde, que hoje só existe em pequenos relictos, sobre solos férteis tipo terra roxa legítima. As
diferentes formas de Cerrado são, portanto, pedoclímaces ou piroclímaces, dependendo de ser
o solo ou o fogo o seu fator limitante. Claro que certas formas abertas de cerrado devem esta
sua fisionomia às derrubadas feitas pelo homem para a obtenção de lenha ou carvão.
De um modo geral, podemos distingüir dois estratos na
vegetação dos Cerrados: o estrato lenhoso, constituído por
árvores e arbustos, e o estrato herbáceo, formado por ervas e
subarbustos. Ambos são curiosamente heliófilos. Ao contrário do
caso de uma floresta, o estrato herbáceo aqui não é formado por
espécies de sombra, umbrófilas, dependentes do estrato lenhoso. O sombreamento lhe faz
mal, prejudica seu crescimento e desenvolvimento. O adensamento da vegetação lenhosa
acaba por eliminar em grande parte o estrato herbáceo. Por assim dizer, estes dois estratos se
antagonizam. Por esta razão entendemos que as formas intermediárias de Cerrado - campo
sujo, campo cerrado e cerrado s.s. - representem verdadeiros ecótonos, onde a vegetação
herbácea/subarbustiva e a vegetação arbórea/arbustiva estão em intensa competição,
procurando, cada qual, ocupar aquele espaço de forma independente, individual. Aqueles dois
estratos não comporiam comunidades harmoniosas e integradas, como nas florestas, mas
representariam duas comunidades antagônicas, concorrentes. Tudo aquilo que beneficiar a
uma delas, prejudicará, indiretamente, à outra e vice-versa. Elas diferem entre si não só pelo
seu espectro biológico, mas também pelas suas floras, pela profundidade de suas raízes e
forma de exploração do solo, pelo seu comportamento em relação à seca, ao fogo, etc., enfim,
por toda a sua ecologia. Toda a gama de formas fisionômicas intermediárias parece-nos
expressar exatamente o balanço atual da concorrência entre aqueles dois estratos.
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11. Troncos e ramos tortuosos, súber espesso, macrofilia e
esclerofilia são características da vegetação arbórea e arbustiva,
que de pronto impressionam o observador. O sistema
subterrâneo, dotado de longas raízes pivotantes, permite a estas
plantas atingir 10, 15 ou mais metros de profundidade,
abastecendo-se de água em camadas permanentemente úmidas do solo, até mesmo na época
seca.
Já a vegetação herbácea e subarbustiva, formada também por espécies
predominantemente perenes, possui órgãos subterrâneos de resistência, como bulbos,
xilopódios, sóboles, etc., que lhes garantem sobreviver à seca e ao fogo. Suas raízes são
geralmente superficiais, indo até pouco mais de 30 cm. Os ramos aéreos são anuais, secando
e morrendo durante a estação seca. Formam-se, então 4, 5, 6 ou mais toneladas de palha por
ha/ano, um combustível que facilmente se inflama, favorecendo assim a ocorrência e a
propagação das queimadas nos Cerrados. Neste estrato as folhas são geralmente micrófilas e
seu escleromorfismo é menos acentuado.
Distribuição Geográfica
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12. O cerrado é a segunda maior região biogeográfica do Brasil, se estende por 25% do
território nacional, cerca de 200 milhões de hectares (4), englobando 12 estados. Sua área
"core", ou nuclear, ocupa toda a área do Brasil central, incluindo os estados de Goiás,
Tocantins, Mato Grosso do Sul, a região sul de Mato Grosso, o oeste e norte de Minas Gerais,
oeste da Bahia e o Distrito Federal.
Prolongações da área "core" do cerrado, denominadas áreas marginais, estendem-se,
em direção ao norte do país, alcançando a região centro-sul do Maranhão e norte do Piauí,
para oeste, até Rondônia, existem ainda fragmentos desta vegetação, formando as áreas
disjuntas do cerrado, que ocupam 1/5 do estado de São Paulo, e os estados de Rondônia e
Amapá.
Podem ser encontradas ainda manchas de Cerrado incrustadas na região da caatinga,
floresta atlântica e floresta amazônica.
Devido a sua localização, o cerrado, compartilha espécimes com a maioria dos biomas
brasileiros (floresta amazônica, caatinga e floresta atlântica). devido a esse fato possui uma
biodiversidade comparável a da floresta amazônica. Contudo devido ao alto grau de
endemismo, cerca de 45% de suas espécies são exclusivas de algumas regiões (4), e a
ocupação desordenada e destrutiva de sua área o cerrado é hoje o ecossistema brasileiro que
mais sofre agressões por parte do "desenvolvimento".
Importância econômica
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13. Atualmente, a região do cerrado contribui com mais de 70% da produção de carne bovina do
País (Pecuária de corte no Brasil Central, Corrêa, 1989) e, graças à irrigação e técnicas de
correção do solo, é também um importante centro de produção de grãos, principalmente soja,
feijão, milho e arroz. Grandes extensões de cerrado são ainda utilizadas na produção de polpa
de celulose para a indústria de papel, através do cultivo de várias espécies de Eucalyptus e
Pinus, mas ainda como uma atividade secundária.
Na economia se destaca a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começa a se
expandir principalmente a partir da década de 80. Num cenário de aumento de demanda por
alimentos e crescimento populacional, o Brasil dispõe de uma área que pode responder não só
por mais produção de grãos, mas também como fonte de biodiversidade, o cerrado. É o que
prova o trabalho das pesquisadoras Ieda Mendes e Leide Miranda de Andrade, da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Unidade Cerrados.
A produtividade de grãos na região dos cerrados aumentou nos últimos 15 anos, graças à
pesquisa. “Com a tecnologia de 15 anos atrás, seria necessário uma área do tamanho de São
Paulo para produzir a mesma quantidade produzida hoje”, exemplifica Ieda Carvalho.
Segundo a pesquisadora, que conduz estudos sobre a presença de microorganismos no solo
como indicadores de qualidade, as médias de produtividade do feijão, do milho, da soja e do
trigo no cerrado são maiores que a produtividade nacional para as mesmas culturas.
O principal desafio da pesquisa brasileira em relação ao cerrado foi o manejo do solo. Carente
de nutrientes em geral, como fósforo, potássio, cálcio e magnésio, o solo do cerrado é ácido.
Foi a correção com calcário e gesso que deixou o solo mais preparado para o plantio.
Outro problema que a pesquisa resolveu foi a pequena capacidade do solo do cerrado em fixar
o nitrogênio. Elemento essencial à formação de clorofila, o nitrogênio está presente no ar e, ao
se fixar nas raízes das plantas faz com que elas cresçam melhor. Pesquisadores da Embrapa
Cerrados usaram uma técnica já conhecida desde o século 19, a fixação de nitrogênio com o
uso de bactérias conhecidas como rizóbio, para chegar a uma tecnologia eficiente e barata.
Hoje, os produtores de soja não usam mais o adubo nitrogenado, que além de caro, é um dos
mais poluidores. A um custo de R$ 6 por hectare, o produtor compra o inoculante com rizóbio,
que produz nódulos nas raízes da leguminosa, onde o nitrogênio fica em atividade. Por ter
substituído 100% da adubação nitrogenada, um processo químico, o Brasil economiza
anualmente US$ 3 bilhões.
Também está na região dos cerrados a maior área com potencial agrícola do país. São 101
milhões de hectares que podem ser cultivados, num total de 170 milhões de hectares em
potencial que o país dispõe. O Brasil produz alimentos em 47 milhões de hectares, sendo que
desses 14 milhões de hectares estão nos cerrados.
De acordo com Ieda Mendes, nem é preciso expandir a fronteira agrícola no cerrado para
aproveitar inicialmente seu potencial. “Entre 60% a 70% das pastagens dos cerrados estão em
algum estado de degradação. Isso poderia ser utilizado para plantio”, sugere a pesquisadora.
Ieda calcula que a área sub-utilizada por uma pecuária sem uso de tecnologias adequadas e,
portanto, predatória do solo, seja de 25 milhões de hectares.
“É uma área que já está desmatada. Com técnicas já desenvolvidas, poderia ser recuperada e
destinada à produção de alimentos”, estima.
Além da importância econômica com a crescente produção agrícola, as pesquisadoras
mostraram também a alta biodiversidade dos cerrados e justificaram a importância de projetos
de pesquisa que visam à conhecer o potencial das espécies nativas e a necessidade de
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14. preservação das matas. “26% da biodiversidade do cerrado está nas matas de galeria e os
produtores ainda desmatam muito, seja para plantar próximo dos rios, onde o solo é mais fértil,
ou mesmo para extrair madeira”, lamenta a pesquisadora Leide de Andrade.
As pesquisadoras da Embrapa Cerrados relataram que há um programa conduzido na unidade
de pesquisa, desde a década de 90,para aproveitamento econômico de espécies nativas. Para
Leide e Ieda, a conservação ambiental nos cerrados merece mais atenção, não só pela sua
biodiversidade em si, mas pela influência em outros biomas do que acontece nos seus limites.
É o caso da vazão de algumas bacias que dependem do volume de chuva na região do
cerrado. “46% da bacia do São Francisco está na região do Cerrado. Além disso, é no Cerrado
que nascem as três principais bacias do país, Tocantins, Amazonas e Paraná/Paraguai”,
informou Ieda.
Ieda e Leide enfatizaram que o cerrado pode ser fonte de mais alimentos, inclusive fazendo
frente ao cenário de escassez que se registra no mundo, sem a destruição de sua
biodiversidade. “Basta continuar investindo em pesquisa e em transferência de tecnologia”,
afirmou Ieda. (Fonte: Agência Brasil)
Impactos ambientais
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15. Até a década de 1950, os Cerrados mantiveram-se quase inalterados. A partir da década de
1960, com a interiorização da capital e a abertura de uma nova rede rodoviária, largos
ecossistemas deram lugar à pecuária e à agricultura extensiva, como a soja, arroz e ao trigo.
Tais mudanças se apoiaram, sobretudo, na implantação de novas infra-estruturas viárias e
energéticas, bem como na descoberta de novas vocações desses solos regionais, permitindo
novas atividades agrárias rentáveis, em detrimento de uma biodiversidade até então pouco
alterada.
Durante as décadas de 1970 e 1980 houve um rápido deslocamento da fronteira agrícola, com
base em desmatamentos, queimadas, uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, que resultou
em 67% de áreas do Cerrado "altamente modificadas", com voçorocas, assoreamento e
envenenamento dos ecossistemas. Resta apenas 20% de área em estado conservado.
A partir da década de 1990, governos e diversos setores organizados da sociedade debatem
como conservar o que restou do Cerrado, com a finalidade de buscar tecnologias embasadas
no uso adequado dos recursos hídricos, na extração de produtos vegetais nativos, nos
criadouros de animais silvestres, no ecoturismo e outras iniciativas que possibilitem um modelo
de desenvolvimento sustentável e justo.
Atualmente as unidades de conservação federais no Cerrado compreendem: dez Parques
Nacionais, três Estações Ecológicas e seis Áreas de Proteção Ambiental.
O Cerrado é o ecossistema brasileiro que mais alterações sofreu com a ocupação humana. Um
dos impactos ambientais mais graves na região foi causado por garimpos, que contaminaram
os rios com mercúrio e provocaram o assoreamento dos cursos de água (bloqueio por terra). A
erosão causada pela atividade mineradora tem sido tão intensa que, em alguns casos, chegou
até mesmo a impossibilitar a própria extração do ouro rio abaixo. Nos últimos anos, contudo, a
expansão da agricultura e da pecuária representa o maior fator de risco para o Cerrado
Atingido pela construção de Brasília e das rodovias que passaram a integrar a nova capital ao
resto do pais, esse bioma vem rapidamente sendo degradado por causa do crescimento da
agropecuária, notadamente nos últimos anos.Segundo o WWF, o cerrado perdeu 80% de sua
vegetação original.
Conservação
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16. Como conservar, ateando fogo ao Cerrado?. A resposta é simples: proteção total e absoluta
contra o fogo no Cerrado é uma utopia, é extremamente difícil. O acúmulo anual de biomassa
seca, de palha, acaba criando condições tão favoráveis à queima que qualquer descuido com o
uso do fogo, ou a queda de raios no início da estação chuvosa, acabam por produzir incêndios
tremendamente desastrosos para o ecossistema como um todo, impossíveis de serem
controlados pelo homem. Neste caso é preferível prevenir tais incêndios, realizando queimadas
programadas, em áreas limitadas e sucessivas, cujos efeitos poderão ser até mesmo
benéficos. Tudo depende de sabermos manejar o fogo adeqüadamente, levando em conta uma
série de fatores, como os objetivos do manejo, a direção do vento, as condições de umidade e
temperatura do ar, a umidade da palha combustível e do solo, a época do ano, a freqüência
das queimadas etc. É assim que se faz em outros biomas savânicos, semelhantes aos nossos
Cerrados, de países como África do Sul, Austrália, onde a cultura ecológica é mais científica e
menos emocional do que a nossa.
"Mas..." diria ainda o
leitor: "... e quando o
homem não estava
presente em tais regiões,
no passado remoto,
incêndios desastrosos também não ocorriam em conseqüência dos raios? Não seria
melhor deixar queimar, então, naturalmente?". Grandes incêndios certamente
ocorriam, só que não eram desastrosos. Não existiam cercas de arame farpado
prendendo os animais. Eles podiam fugir livremente do fogo, para as regiões vizinhas.
Por outro lado, áreas eventualmente dizimadas pelo fogo podiam ser repovoadas pelas
populações adjacentes. Hoje é diferente. Além das cercas, a vizinhança de um Parque
Nacional ou qualquer outra unidade de conservação, é formada por fazendas, onde a
vegetação e a fauna natural já não mais existem. O Parque Nacional das Emas, no
sudoeste de Goiás, por exemplo, é uma verdadeira ilha de Cerrado, em meio a um mar
de soja. Se a sua fauna for dizimada por grandes incêndios, ele não terá como ser
naturalmente repovoado, uma vez que essa fauna já não mais existe nas vizinhanças.
Manejar o fogo em unidades de conservação como.
Poucas são as nossas unidades de conservação, com áreas bem significativas, onde o
Cerrado é o bioma dominante. Entre elas podemos mencionar o Parque Nacional das Emas
(131.832 ha), o Parque Nacional Grande Sertão Veredas (84.000 ha), o Parque Nacional da
Chapada dos Guimarães (33.000 hs), o Parque Nacional da Serra da Canastra (71.525 ha), o
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (60.000 ha), o Parque Nacional de Brasília
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17. (28.000 ha). Embora estas áreas possam, à primeira vista, parecer enormes, para a
conservação de carnívoros de maior porte, como a onça-pintada e a onça-parda, por exemplo,
o ideal seria que elas fossem ainda maiores.
Se considerarmos que cerca de 45% da área
do Domínio do Cerrado já foram convertidos em
pastagens cultivadas e lavouras diversas, é
extremamente urgente que novas unidades de
conservação representativas dos cerrados sejam criadas
ao longo de toda a extensão deste Domínio, não só em sua área nuclear mas também
em seus extremos norte, sul, leste e oeste. A criação de unidades de conservação com
áreas menos significativas não deve, todavia, ser menosprezada. Quando
adequadamente manejadas, elas também são de enorme importância para a
preservação da biodiversidade. Só assim se conseguirá, em tempo, conservar o maior
número de espécies de sua rica e variadíssima flora e fauna.
A grande maioria das atuais unidades de
conservação, sejam elas federais, estaduais ou
municipais, acha-se hoje em uma situação de completo
abandono, com sérios problemas fundiários, de
demarcação de terras e construção de cercas, de
acesso por estrada de rodagem, de comunicação, de
gerenciamento, de realização de benfeitorias necessárias, de pessoal em número e
qualificação suficientes etc. Quanto ao manejo de sua fauna e flora, então nem se fale.
Pouco ou nada se faz para conhecer as populações animais, seu estado sanitário, sua
dinâmica etc. Admite-se "a priori" que elas estão bem pelo simples fato de estarem
"protegidas" por uma cerca, quando esta existe. Na realidade, isto poderá significar o
seu fim. Problemas de consangüinidade, viroses, verminoses, epidemias, poderão
estar ocorrendo entre os animais, dizimando-os dramaticamente, e nem se sabe disto.
Pesquisas a médio e longo prazo são essenciais para que possamos compreender o
que acontece com as populações animais remanescentes nos cerrados
Conclusão
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18. O cerrado por sua excepcional biodiversidade constitui-se em um dos mais
importantes ecossistemas brasileiros, merecendo atenção de todos para que possa
ser preservado de forma a não prejudicar o desenvolvimento. Daí a importância de se
conhecer os elementos que o formam para através da educação ambiental conseguir
o principal objetivo deixar grandes áreas preservadas para as futuras gerações.
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