O documento discute o conceito de disciplinas escolares. Apresenta 3 perspectivas: 1) não são entidades fixas, mas sim sujeitas a mudanças; 2) promovem hierarquias entre tradições de conhecimento; 3) geram prestígio para alguns grupos em detrimento de outros.
1. O que são as disciplinas escolares ?
não são, entidades monolíticas, senão amálgamas sujeitos a mudanças de subgrupos
adversários e tradições, que através da controvérsia e do compromisso, influem na direção
dessa mudança” ;
uma variedade de tradições que iniciam o professor em diferentes hierarquias e conteúdos de
conhecimento;
promovem prestígio, respeitabilidade, recursos profissionais de alguns em detrimento de
outros;
2. • Ivor G. Godson (Grã-Bretanha);
• Dominique Julia e André Chervel (França);
• Antonio Viñao (Espanha)
A História das disciplinas escolares
constitui um campo de investigação
configurado a partir dos anos de 1970:
• nova sociologia do currículo;
• estudos do currículo;
• história cultural;
• Cultura escolar.
geografia
3. Goodson: deslocamento do predomínio das
tradições pedagógica e utilitária (professor
especialista sem formação, definidor do
currículo) para a tradição acadêmica
“Comunidades de disciplinas: é uma
consequência da estreita conexão que se
estabelece entre o interesse próprio genuíno,
de cada professor de um disciplina com o
prestígio.”
Tradições que definem e
classificam as disciplinas:
acadêmica (caráter
propedêutico, abstrato, científico
e descontextualizado);
utilitária (ênfase em habilidades
básicas orientadas para o
trabalho);
pedagógica (preocupação com
o desenvolvimento infantil e
contato das disciplinas com os
alunos
(Goodson,2000)
“A instituição escolar não se
limita, pois a reproduzir o que
está fora dela, mas sim, o
adapta, o transforma e cria um
saber e uma cultura próprias.
Uma destas produções ou
criações próprias, resultado da
mediação pedagógica em um
campo de conhecimento, são
as disciplinas escolares.”
(Chervel, 1998)
4. Disciplinas escolares participam da
dupla natureza (poder/saber) – “regimes
de verdade” convertidos em discursos
científicos regulamentados”.
(Cuesta,1997)
Hierarquia entre as disciplinas:
configuração de um campo disciplinar e
a profissionalização de quem os
integram como docentes
Ex: Matemática: disputa
entre os formados nas
Faculdades de Artes e
aqueles que
aprenderem no exército
e marinha
O que são as
disciplinas
escolares ?
“organismos vivos, nascem e se desenvolvem, evoluem, se
transformam, desaparecem, engolem umas à outras, se atraem e se
repelem, se desgarram e se unem, competem entre si, se relacionam e
intercambiam informações...”
5. Fonte de poder social e acadêmico: campos hierarquizados entre os quais se
desenvolvem situações de domínio e hegemonia, de dependência e sujeição;
Apropriações, por grupos de determinados professores, de espaços sociais e
acadêmicos: formando reservas exclusivas assim configuradas como consequência da
apropriação, por alguns professores determinados, reconhecidos como professores
destas disciplinas por sua formação – títulos, currículo- e sua seleção ou modo de acesso,
dois aspectos em geral controlados por quem já está habilitado para “caçar vaga” na
reserva;
Fonte de exclusão social e acadêmica: espaços reservados, como acabamos de falar,
com caráter mais ou menos excludente ou fechado em relação a amadores ou
interessados nos mesmos e de professores de outras disciplinas;
Instrumento de reconhecimento de saberes profissionais: armas que, por sua inclusão ou
exclusão em um plano de estudos determinado, em especial no mundo universitário,
podem ser utilizadas pelos detentores de uma titulação profissional para apropriar-se de
alguns âmbitos ou tarefas profissionais concretas, ou mesmo para excluir destes âmbitos
e tarefas a outros titulados. (Viñao, 2006)
6. Paradigma do Pensamento Ocidental Moderno: extrema valorização da racionalidade
científica como única forma de produção e compreensão da realidade.
Territorialização e atomização dos saberes e parcelização
das tarefas;
Dividir para melhor dominar: compartimentação dos campos
de investigação;
Negação das interações entre as partes e o todo;
Tendência para especialização;
Ciência apresentada como única via válida para a
interpretação da natureza.
7. René Descartes (1596-1650) Filósofo, matemático e físico, considerado o
pioneiro no pensamento filosófico moderno dos séculos XVII e XVIII.
Método Cartesiano no qual defende que só se deve considerar algo como
verdadeiramente existente, caso possa ser comprovada sua existência.
Também conhecido como Ceticismo Metodológico, segue o princípio de que
devemos duvidar de todos conhecimentos que não possuem explicações
evidentes. Este método também se baseia na realização de quatro tarefas:
verificar, analisar, sintetizar e enumerar.“Penso, logo existo
Século XIX a ciência aparece como o único discurso que vale a pena ouvir, o único digno de
crédito. Na esteira do positivismo e do cientismo, há um movimento de dogmatização da
ciência, de mitificação e endeusamento fetichista da ciência - estádio final e absoluto da
evolução do conhecimento que historicamente o homem foi procurando para explicar o real.
8. Crise do paradigma moderno:
não oferece respostas à
complexidade da realidade
contemporânea
paradigma pós-moderno de
uma ciência pós-moderna.
"paradigma de um
conhecimento
prudente para uma
vida decente
1ª tese - "Todo o conhecimento científico-
natural é científico-social."
2ª tese - "Todo o conhecimento é local e total."
3ª tese - "Todo o conhecimento é auto-
conhecimento."
4ª tese - "Todo o conhecimento científico visa
constituir-se em senso-comum."
Boaventura de
Sousa Santos
licenciou-se em
direito pela
Universidade de
Coimbra em 1963
9. Anos 1960 - Movimentos Sociais: Europa e E.U.A.
Mulheres, negros, homossexuais, estudantes,
etc. insurgem no cenário mundial lutando por
direitos civis e denunciando desigualdades e
injustiças
10. O movimento de interdisciplinaridade surge na Europa,
principalmente na França e Itália, em meados de 1960,
época em que se insurgem os movimentos estudantis,
reivindicando um novo estatuto de universidade e escola
Os estudantes de segundo grau contra a
repressão, por uma reforma democrática do
ensino
Objetivo: “oposição a todo conhecimento que privilegia o
capitalismo epistemológico de certas ciências, como oposição à
alienação da Academia às questões da cotidianeidade, às
organizações curriculares que evidenciavam a excessiva
especialização e a toda e qualquer proposta de conhecimento
que incitava olhar do aluno numa única, restrita e limitada
direção, a uma patologia do saber”
11. 1970 - discussão a respeito do papel humanista da educação e da ciência, acabou por encaminhar
as primeiras discussões sobre a interdisciplinaridade de que temos noticia. A categoria
mobilizadora dessas discussões sobre interdisciplinaridade na foi totalidade. (Georges Gusdorf).
BRASIL – discussões sobre interdisciplinaridade chegam no final da década de 1960 com sérias distorções:
a palavra virou modismo sem atentar-se para os princípios e para dificuldades de sua realização;
interesse de brasileiros pela assunto a partir da década de 1970 (Hilton Japiassú e o livro: Interdisciplinaridade
e patologia do saber ;
reformas educacionais em nome da interdisciplinaridade calaram as vozes dos educadores – (Ivani Fazenda e
livro: Educação no Brasil anos 60 – o pacto do silêncio de 1985;
1980 – pesquisas da história de alguns professores portadores de atitude interdisciplinar como construção de
identidade;
1990 – “contradição entre a proliferação de práticas intuitivas e a exigência da interdisciplinaridade como
essencial para uma construção de uma nova consciência que não se apoia apenas na objetividade, mas assume a
subjetividade em todas as suas contradições” (Ivani Fazenda )
12. Alguns pressupostos:
não há um conceito de interdisciplinaridade estável, utilização ampla e aplicada em
muitos contextos;
palavra relacionada com um fenômeno característico da nossa ciência
contemporânea;
adoção de uma visão sistêmica da realidade em contrapondo a visão analítica;
objeto do trabalho interdisciplinar é a partir do real, do concreto e não das categorias
lógicas, formais que constituem as disciplinas tradicionais;
está a serviço de uma compreensão mais global do mundo;
possibilitar ao aluno recursos que o tornem mais autônomo face aos saberes;
Visa uma concepção coerente e global do saber, do pensamento e da ação, que é de
utilidade crescente não apenas para a pesquisa e o desenvolvimento científico, mas
também no mundo do trabalho e na vida social do quotidiano.
13. Referências
FAZENDA, Ivani – Interdisciplinaridade: história e pesquisa, Papirus
LEIS, H.R. – Sobre o conceito de interdisciplinaridade – In Cadernos de pesquisa interdisciplinar em
ciências humanas, nº 73, FPOLIS, agosto 2005.
MACHADO, N. J. Educação: Projetos e Valores, Coleção: Temas Transversais, Saraiva,
MAINGAIN, A. & DUFOUR, B. – direção de Gérard Fourez – Abordagens didáticas da
interdisciplinaridade
MORIN, Edgar – Educação e Complexidade: os sete saberes e outros ensaios. Org. Maria da
Conceição de Almeida e Edgar de Assis Carvalho, Ed. Cortez/UNESCO/1999.
POMBO, Olga – Epistemologia da Interdisciplinaridade – Seminário Internacional Interdisciplinaridade,
Humanismo, Universidade, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 12 a 14 de nov. 2003
VIÑAO, Antonio – A história das disciplinares escolares – Revista Brasileira de História da Educação,
nº 18, set/dez.2008