1) O documento descreve o contexto político e social do Brasil na década de 1960, com foco no governo João Goulart e no início do regime militar. 2) Detalha os principais acontecimentos que levaram à deposição de João Goulart em 1964, incluindo as reformas de base, protestos populares e uma insurreição militar. 3) Menciona a decretação do Ato Institucional No 5 pelo governo militar em 1968 para reforçar a repressão política diante dos protestos contra o regime autoritário.
2. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - UEM
Ensino de História e Música: A análise das obras de Chico Buarque de
Holanda, nas décadas de 1960 e 1970.
CADERNO PEDAGÓGICO
Prof ª. PDE – Embelina Francischini Paulino
Orientadora – Prof ª. Drª. Sandra de Cássia Araújo Pelegrini.
Cianorte – PR.
2010.
3. 2
Ensino de História e Música: A análise das obras de Chico Buarque de Holanda, nas
décadas de 1960 e 1970.
Produção Didático-Pedagógica apresentada a Secretaria de
Estado da Educação – Seed, como parte dos requisitos do
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, em
convênio com a Universidade Estadual de Maringá – UEM.
Orientadora: Dra. Sandra de Cássia Araújo Pelegrini.
CIANORTE
2010
4. 3
SUMÁRIO:
Introdução. ..................................................................................................................5
Encaminhamento metodológico. .................................................................................6
UNIDADE I ..................................................................................................................8
O Contexto Político Social Brasileiro no Início da Década de 1960........................................ 8
A Deposição do Governo João Goulart e o início do Regime Militar .................................... 10
A Decretação do Ato Institucional Nº 5. ............................................................................... 11
UNIDADE II ...............................................................................................................13
A Crítica Social das Primeiras Composições de Chico Buarque de Holanda ....................... 13
UNIDADE III ..............................................................................................................16
A MPB (Música Popular Brasileira) e os Festivais ............................................................... 16
UNIDADE IV..............................................................................................................20
As Canções de Protesto à Repressão e a Censura ............................................................. 20
UNIDADE V...............................................................................................................26
A Abertura Política e o fim do Regime Militar....................................................................... 26
Chico Buarque e as novas composições. ............................................................................ 27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................29
FONTES FONOGRÁFICAS ......................................................................................31
5. 4
Dados de Identificação:
Professora PDE: Embelina Francischini Paulino.
Área/disciplina PDE: História.
Núcleo: Cianorte.
Professora Orientadora da IES: Dra. Sandra de Cássia Araújo Pelegrini.
Escola de Implementação: Colégio Estadual “D. Bosco”- Ensino Fundamental e
Médio.
Público Objeto de Intervenção: Ensino Médio.
Tema de Estudo do Professor PDE: Ensino de História e Música: A análise das
obras de Chico Buarque de Holanda, nas décadas de 1960 e 1970.
Palavras chaves: Regime militar, Ensino e Música, Chico Buarque.
6. 5
Introdução.
A Música como recurso pedagógico no ensino de história.
Em nossos dias convivemos com diferentes sons de música. Ela faz parte de
nossas vidas; possui um poder que nos atrai e encanta. Está presente nos lares,
também movimenta recursos fabulosos para os envolvidos com o mercado de bens
culturais. Ao ouvi-la, sentimos vibrações que em algumas ocasiões nos levam a
dançar. Suas letras muitas vezes trazem mensagens que influenciam gerações,
ditam regras de comportamentos, emocionam. Diante destas constatações é notório
seu poder de disseminar ideias e sua importância na preservação da memória
coletiva de uma “sociedade”. É inegável também sua importância como recurso
didático pedagógico que possibilitará a compreensão histórica dos “povos”, seus
sentimentos, sua cultura.
Os professores perceberam, ao trabalhar com diferentes linguagens como
cinema, teatro, literatura e a música, que o cotidiano da sala de aula torna-se mais
dinâmico e prazeroso além de seus benefícios para a aprendizagem. Portanto,
diversificar a prática do ensino de história, possibilita aprender história não só
através do livro didático, mas utilizando-se de diferentes fontes, entre elas, a música.
As Diretrizes Curriculares de História para a Educação Básica na educação
pública do Estado do Paraná consideram que estas diferentes linguagens podem ser
utilizadas como materiais didáticos fundamentais na construção do conhecimento
histórico.
O presente trabalho tem por objetivo mostrar a possibilidade do uso das
canções de Chico Buarque, das décadas de 1960 e 1970, como objeto de estudo
que contribuirá na elucidação de um fato histórico, buscando fazer uma análise da
realidade social para que os alunos consigam perceber as particularidades da
linguagem musical.
Portanto, com a realização deste trabalho, espera-se contribuir de maneira
significativa com a metodologia e o ensino aprendizagem, pois, estudar, discutir
sobre a história e as músicas de Chico Buarque, oportuniza momentos de reflexões
críticas a respeito de um período histórico tão importante e valioso para a história do
Brasil.
7. 6
Encaminhamento metodológico.
Ao utilizar a canção como opção metodológica, o educador deve estabelecer
um diálogo na busca de respostas, problematizar o passado e as “verdades”
cristalizadas ao longo do tempo. Desta forma, o documento não se representa mais
como uma prova irrefutável do “fato histórico”.
É necessário que ao optar pelo uso da canção como metodologia, o professor
utilize-se do diálogo com seus alunos, contextualizando e buscando respostas para
as problematizações dos fatos apresentados; devendo procurar esclarecer o
passado e questionar as verdades construídas ao longo do tempo, para que juntos
possam construir um conhecimento histórico.
É importante ressaltar que ao trabalhar com diferentes documentos é
imprescindível que o docente conheça e respeite as especificidades de sua
linguagem e natureza, também seus limites e as possibilidades de utilizá-las no
trabalho pedagógico.
Em se tratando da música, o professor precisa fazer uma análise da realidade
social para que o educando consiga perceber as particularidades da linguagem
musical, conforme indica Alexandre Fiúza: “A canção não pode ser tomada somente
como um texto informativo, ela difere de um texto de jornal ou do livro didático.
Antes, deve ser tomada como um texto poético, literário, passível de uma análise
objetiva, mas também intuitiva e imaginativa, obviamente depois de esgotados o
contexto e os limites históricos que lhe são inerentes.” (FIÚZA, 2007, p.77).
A análise das obras de Chico Buarque, das décadas de 1960 e 1970, é
excelente oportunidade de tornar o estudo da disciplina de história um espaço de
formação crítica dos alunos do Ensino Médio e, mediante isto, o ato de aprender
torna-se mais prazeroso e concreto.
Difícil escolher que composições deste ícone da MPB (Música Popular
Brasileira), citar. Procurou-se contemplar algumas das que se acredita, sejam úteis
no trabalho em sala de aula1
, bem como vídeos e letras de canções encontradas em
sites2
.
A metodologia desta produção pedagógica atenderá a proposta das Diretrizes
Curriculares, ou seja, está relacionada à história temática e em sintonia com o
projeto político pedagógico da escola. Sua proposta é trabalhar com temas e
1
A lei 9610, capítulo IV, que trata das limitações aos direitos autorais no Artigo 46, Inciso II, estabelece que não
constitui ofensa aos direitos autorais, a reprodução em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado
do copista, desde que feita por este sem intuito de lucro.
2
Fonte: http://chicobuarque.com.br e http://www.youtube.com/watch
9. 8
UNIDADE I
O Contexto Político Social Brasileiro no Início da Década de 1960.
Após a renúncia do presidente Janio Quadros (25 de agosto de 1961),
organizaram-se dois grupos, cujos interesses políticos divergiam com relação à
posse do vice-presidente João Goulart:
Ministros, militares, político da UDN (União Democrática Nacional), grandes
empresários nacionais e estrangeiros, eram contrários à posse. Viam na figura de
João Goulart um “comunista”. Este receio agravara-se pelo fato do vice-presidente
estar em viagem à China Comunista no dia da renúncia do então presidente.
Em contrapartida, os representantes dos movimentos sindicais, pequenos
empresários e profissionais liberais eram favoráveis à posse. Estes, organizados na
chamada Frente Legalista e liderados pelo então governador do Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola, defendiam o cumprimento da Constituição, ou seja, na ausência ou
impossibilidade do Presidente Governar o vice deveria assumir o poder.
Diante dos conflitos que se seguiram e da possibilidade de uma guerra civil no
país, os dois grupos entraram em um acordo de que, através de uma emenda
constitucional, seria implantado o parlamentarismo e que este sistema de governo
seria referendado por um plebiscito.
No parlamentarismo João Goulart dividiria o poder com o primeiro ministro,
escolhido pelo Poder Legislativo. O Congresso Nacional escolheu o político mineiro
Tancredo Neves para primeiro ministro.
O parlamentarismo, implantado para garantir a posse de João Goulart, foi
temporário, pois seu objetivo era o de restringir os poderes do presidente. Além
disso, os próprios políticos que apoiaram o parlamentarismo não queriam torná-lo
um recurso institucional constante. Diante disso, não foi difícil para João Goulart
reunir amplo apoio das diversas esferas da sociedade, militares e políticos e
convocar o plebiscito. Esta consulta popular revelou que a ampla maioria dos
eleitores brasileiros era favorável a volta do presidencialismo.
Com o fim do parlamentarismo e a volta do presidencialismo referendado pelo
plebiscito, João Goulart assume plenamente o poder presidencial e demonstra
empenho na aprovação do Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, a
chamada reforma de base.
10. 9
Atividades para os alunos:
1) Comente por que João Goulart não tomou posse logo após a renúncia do
presidente Jânio Quadros.
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2) Pesquise e responda o que foi a Frente Legalista, e o que ela defendia?
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3) Explique com suas palavras o que você entende por Parlamentarismo. Cite um
país que tem esta forma de governo.
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4) O que defendia o Plano Trienal de desenvolvimento econômico e social?
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11. 10
A Deposição do Governo João Goulart e o início do Regime Militar
Concomitantemente à batalha de João Goulart para restaurar o regime
presidencialista e recuperar os poderes presidenciais, organizou-se uma Frente
Patriótica Civil e Militar, formada por militares de alta patente, políticos (dentre eles
Carlos Lacerda) e empresários. O objetivo desta frente não era impedir a posse de
João Goulart, mas o receio de que este se agrupasse aos movimentos populares e
sindicais que surgiam com muita força no país. Basta lembrar que em 1962, é criada
o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT).
Enquanto os setores populares apoiavam o governo e suas reformas, a
classe dominante, senhoras da elite católica, e membros da Frente Patriótica Civil e
Militar, organizavam passeatas em várias cidades: as “Marchas da Família com
Deus pela Liberdade”. As agitações políticas e sociais tomavam conta do país. Era
inevitável que na defesa de seus interesses ocorresse radicalização da direita e da
esquerda.
Em 13 de março de 1964, em um comício realizado no Rio de Janeiro, o
presidente João Goulart anunciou as primeiras medidas do Plano Trienal. Foi o que
faltava para o ápice das tensões sociais, políticas e militares, que culminaria com a
sua deposição.
No dia 31 de março de 1964, uma insurreição militar iniciada em Minas
Gerais, sob o comando do general Olimpio Mourão Filho, autodenominado
“Movimento Democrático Constitucionalista”, com o objetivo de conter o que
consideravam ser um avanço comunista, depõe o presidente João Goulart.
Era o fim de uma era democrática e o início de um longo regime autoritário na
história do Brasil. Nos 21 anos que se seguiram, assumiram o poder: marechal
Humberto de Alencar Castelo Branco (1964 - 1967), marechal Artur da Costa e Silva
(1967-1969), general Emílio Garrastazu Médici (1969 -1974), general Ernesto Geisel
(1974 - 1979) e general João Batista de Oliveira Figueiredo (1979 – 1985).
Atividades para os alunos:
1) Com base nas questões apontadas abaixo, produza um texto sobre o que levou
a deposição do presidente João Goulart e a posse do governo militar:
- O fim do sistema parlamentarista;
- As reformas de base;
12. 11
- A luta da sociedade na defesa de seus interesses;
- A insurreição militar que depôs o Presidente João Goulart.
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A Decretação do Ato Institucional Nº 5.
No final de 1968, observa-se um quadro de muitos protestos contra o governo
e sua política econômica, mas, principalmente, contra o autoritarismo e a repressão
política. Neste período, o então deputado Márcio Moreira Alves do MDB (Movimento
Democrático Brasileiro), convocou da tribuna um boicote popular às comemorações
de 07 de setembro. As Forças Armadas, indignadas com tal injúria, solicitaram
licença para processar o deputado, porém, o plenário do Congresso negou tal
solicitação baseando-se no princípio da imunidade parlamentar. O governo militar
então respondeu com o fechamento do Congresso, editando logo depois, em 13 de
dezembro de 1968, o Ato Institucional nº. 05, alegando para isso a existência de atos
subversivos vindos dos setores políticos, culturais e também de guerrilhas
revolucionárias que colocavam em risco a sociedade brasileira e a democracia no
país.
O AI-5, como ficou conhecido, dava “plenos poderes” ao Presidente da
República de decretar, por Ato Complementar, o recesso do Congresso Nacional,
das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, só voltando a
funcionar quando o próprio presidente autorizasse. Ele ainda poderia decretar
intervenção em Estados ou Municípios, sem que para isso fosse necessário
respeitar as limitações previstas na Constituição; suspender os direitos políticos de
qualquer cidadão pelo prazo de 10 anos ou cassar mandatos eletivos municipais,
estaduais ou federais. Estes últimos poderiam ser vigiados, proibidos de freqüentar
determinados lugares e teriam domicílio determinado, além de não mais existir a
garantia do habeas corpus para crimes políticos contra a segurança nacional. Este
ato também proibia qualquer atividade política ou cultural que atentasse contra a
ordem e a segurança nacional. Tratava-se da regulamentação da censura e da
repressão imposta aos artistas, intelectuais e aos meios de comunicação.
13. 12
Tem início na história do Brasil um período de muitas prisões, torturas,
violência, silêncio e medo. Diante disto, muitos compositores, dentre eles Chico
Buarque, usaram sua arte como forma de resistência ao regime autoritário. Através
de metáforas, mensagens subliminares, palavras com duplo sentido e o uso de
pseudônimos, o compositor expressava aspectos da conjuntura política e social do
país.
Atividades para os alunos:
1) Sobre o Ato Institucional Nº 5, descreva:
- O que ocasionou a sua decretação;
- Como o governo militar o empregou;
- Quais poderes ele atribuía ao presidente.
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2) Pesquise o significado de:
- Metáforas;
- Mensagens subliminares;
- Pseudônimos.
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14. 13
UNIDADE II
A Crítica Social das Primeiras Composições de Chico Buarque de Holanda
Difícil definir Chico Buarque de Holanda: poeta, cantor, artista, seresteiro.
Sem esquecer que também é dramaturgo e autor de livros de ficção. A professora
Adélia Bezerra de Meneses prefere chamá-lo de: “artesão da linguagem”.
(MENESES, 1982, p.17)
Francisco Buarque de Holanda nasceu em 1944, no Rio de Janeiro,
mudando-se ainda criança para São Paulo.
Filho do historiador Sergio Buarque de Holanda, sua formação ocorreu no
auge do populismo. Durante a infância, o trabalhismo de Getúlio Vargas; quando
adolescente, o nacional desenvolvimentismo do governo de Juscelino Kubitscheck.
Durante sua vida universitária, o país vivia a emergência do movimento
estudantil, as manifestações sindicais, as reformas de base do governo João
Goulart, o método de alfabetização Paulo Freire, que tentava além de alfabetizar,
conscientizar o indivíduo para ser cidadão - o Brasil se politizava.
Eram dentro das universidades que surgiam os projetos de participação
social, muitas vezes oriundos de conversas nos corredores, bares, grêmios. Chico
Buarque, através de sua poesia, passou a retratar as questões sociais.
Analisando, portanto as primeiras canções de Chico Buarque, dentre elas
(Pedro/Pedreiro, 1965), percebe-se que o artista propõe a discussão de temáticas
sociais da época, cedendo lugar mais tarde ao lirismo nostálgico, característica de
suas obras da década de 1960.
(...) Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também (...)
(...) Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento
para o mês que vem (...)
(Pedro/Pedreiro, 1965).
Nota-se que Pedro está sempre esperando: o trem, o carnaval, a sorte, o
filho, assim como o povo que espera a vida melhorar. Nesta canção, Chico Buarque
mostra sua preocupação em não ficarmos esperando como Pedro, porém, percebe
que é utopia, pois a população também depende da atuação do Estado para
15. 14
sobreviver. O campo de ação de Pedro pedreiro, um proletário, é sua realidade
concreta, então retorna a condição de espera.
A marca desta época é a nostalgia, é a ânsia pela volta de uma sociedade
menos individual, um recusar da realidade presente, massificadora, mutiladora. As
canções “A Banda”, “O Realejo”, “Sonho de um Carnaval”, “Noite dos Mascarados” e
“Olê, Olá” retratam este momento.
Em 1965, após o grande sucesso de Pedro/Pedreiro, Roberto Freire convida
Chico Buarque para musicar o auto de natal escrito pelo poeta pernambucano João
Cabral de Melo Neto, “Morte e vida Severina”, que narra as dificuldades enfrentadas
por um sertanejo pobre que emigra em busca de uma vida mais digna. Desta forma,
Chico Buarque compõe, dentre outras, “Funeral de um lavrador”, a preferida do
poeta pernambucano. Na letra desta canção, é possível perceber a crítica aos
grandes latifundiários e a necessidade da reforma agrária. Durante a apresentação
da peça, a crítica afirmava que Chico Buarque “não musicou o poema, mas sim
extraiu dele a musicalidade”. (HOMEM, 2009, p.27)
Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida (...)
(...) É a parte que te cabe deste latifúndio (...)
(...) É a terra que querias ver dividida (...)
(Funeral de um Lavrador, 1965)
Na composição “Gente Humilde” feita com os parceiros Garoto e Vinicius de
Moraes, em 1969, os artistas retratam os moradores dos subúrbios e suas vidas de
miséria, sem perspectivas de mudança.
(...) Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar (...)
(Gente Humilde, 1969)
A insatisfação da classe média e o arrocho salarial dos trabalhadores
cresciam. Para conter qualquer manifestação pública, a repressão e a violência
aumentavam. Os militares queriam a todo custo transformar o país em potência
mundial. Logo, qualquer discurso que colocasse em risco tal intuito era passível de
punição.
16. 15
Atividades para os alunos:
1) Os alunos, reunidos em duplas, deverão apontar os problemas sociais
presentes nas canções: Pedro/Pedreiro (1965), Funeral de um lavrador (1965) e
Gente Humilde (1969).
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2) Após destacar os problemas sociais nas canções supramencionadas estabeleça
um paralelo com a situação atual do país?
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17. 16
UNIDADE III
A MPB (Música Popular Brasileira) e os Festivais
Na década de 1960, muitos artistas envolvidos com música no Brasil, viviam
em São Paulo. Eram comuns os shows, os espetáculos musicais, as noitadas. A
canção de protesto muitas vezes expressava o descontentamento da juventude em
relação à realidade vivenciada.
Neste período de efervescência política, com manifestações estudantis contra
o governo, e a sociedade vivendo a censura e a repressão, surgem os festivais, e os
compositores visualizam a possibilidade de protestar contra a opressão imposta pelo
regime militar. Os jovens engajados nesta luta organizavam verdadeiras torcidas e,
sob forma de aplauso ou vaias, manifestavam-se a favor ou contra as músicas
apresentadas. Estes festivais ofereciam aos vencedores, além de prêmios, uma
adequada exposição e publicidade, por esse motivo, atraíram cantores e
compositores como Edu Lobo, Geraldo Vandré, Elis Regina, Chico Buarque de
Holanda, Baden Power, Vera Brasil, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Em 1965, a TV Excelsior organizou o primeiro festival nacional de MPB. A
televisão foi fundamental na divulgação e apresentação desses novos valores da
MPB ao público brasileiro, através dos vídeos e dos festivais que atingiam um
grande número de lares e público. Artistas até então desconhecidos se tornavam
ídolos dos jovens.
Neste festival Chico Buarque inscreveu a composição “Sonho de um
Carnaval” que foi apresentada por um cantor profissional que ele pouco conhecia, o
paraibano Geraldo Vandré. A música vencedora foi “Arrastão”, de Edu Lobo e
Vinicius de Moraes, interpretada por Elis Regina.
Mesmo não classificando “Sonho de um Carnaval”, para Chico Buarque o fato
de estar participando de um festival já era uma vitória.
Na canção “Sonho de um Carnaval”, Chico Buarque retrata que o carnaval é o
momento em que o povo inverte os valores e transforma-se em rei, em autoridade,
fugindo de uma rotina massificadora, até a quarta feira de cinzas, quando tudo volta
à normalidade, dura e cruel.
(...) E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano (...)
(Sonho de um Carnaval, 1965)
18. 17
Em 1966 a TV Record organiza o II Festival de MPB. Chico Buarque
apresenta-se com a canção “A Banda”, conquistando junto com “Disparada” de
Geraldo Vandré e Théo Barros, o primeiro lugar. Nesta canção é possível constatar
a fé na capacidade de libertação que tem a poesia. Ele demonstra mais uma vez o
poder de transformação do indivíduo com a passagem da Banda. Essa passagem
transfigura a realidade, muda o modo de ser das pessoas, do homem sério, a moça
triste, a namorada. Ela rompe com o isolamento dos indivíduos.
(...) A minha gente sofrida
Despediu-se da dor (...)
Porém, depois que a Banda passa a realidade das pessoas que havia sido
transformada volta à normalidade, dolorosa e desumana.
(...) Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou (...)
(A Banda, 1966)
Em 1967, é outorgado pelo governo militar uma nova Constituição. Seu
objetivo era mostrar uma aparente tranqüilidade que não existia; uma reforma
monetária criava o cruzeiro novo, mediante a desvalorização da moeda, que Chico
Buarque cantara em “Tamandaré”. Aumentam as denúncias de tortura e repressão
aos presos políticos, além da formação de grupos armados de oposição.
Diante desta conjuntura política e social do país, Chico Buarque lança, em
1967, “Roda- Viva”, música feita para a peça de teatro escrita por ele, com o mesmo
nome. Em duas apresentações da peça, em São Paulo e Porto Alegre, o CCC
(Comando de Caça aos Comunistas), depredou o teatro, destruiu o cenário e
espancou seus atores. Após estes episódios a peça deixou de ser apresentada.
Neste ano a TV Record organiza o III Festival da Música Popular Brasileira
em São Paulo. Muitas das canções apresentadas reafirmavam a preocupação com a
temática social, trazendo letras que faziam referência às dificuldades impostas ao
povo pela nova situação política, tanto do ponto de vista intelectual com a censura,
quanto na relação vivenciada pelas classes populares.
Chico Buarque inscreve a canção “Roda Viva”, classificando-a em terceiro
lugar. A grande vencedora foi “Ponteio” de Edu Lobo e Capinan. Na letra de sua
canção, Chico Buarque deixa transparecer o descontentamento do artista com o
momento histórico que passava o país. Quando ele se refere à roda, faz alusão à
repressão, à violência, à morte. Estancar de repente, para o compositor, significa
parar de crescer, de decidir nosso destino, de expressar-se. Ele quer ter voz, falar o
que pensa, buscar a liberdade que perdeu. Por mais que o indivíduo tente escapar,
fugir desta realidade, sempre vem a roda, pondo fim aos seus sonhos.
19. 18
(...) A gente tem que ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda - viva
E carrega o destino pra lá (....).
(Roda – Viva, 1967)
No III Festival Internacional da Canção, em 1968, Chico Buarque conquista o
primeiro lugar com a canção “Sabiá”, escrita em parceria com Tom Jobim. Apesar de
muitos não perceberem, nesta poesia os compositores fazem uma ironia à realidade
do país à medida que apresentam algumas de suas características e em seguida as
suprimem. É a nostalgia, o saudosismo ao passado, a uma realidade que já não
existe. Como aponta a professora Adélia Bezerra de Meneses: “Essa tensão entre
passado e futuro (saudade e anseio pela instauração de outra situação) leva a
escamotear totalmente o presente, que não existe, simplesmente, ou que, quando
aparece, vem marcado pela negação: não dá, não há”. (MENESES, 1982, p.162)
(...) Sei que ainda vou voltar (...)
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá (...)
(Sabiá, 1968)
Neste festival a música classificada em segundo lugar foi “Prá não dizer que não
falei das flores”, de Geraldo Vandré, canção que passa a ser cantada nas ruas
durante manifestações contra o regime militar. Essa canção incita o povo à
resistência, a uma ação concreta, porém, mostra a importância da paz, quando fala
das flores vencendo os canhões. O fato de a canção de Chico Buarque ter sido
classificada em primeiro lugar contra a de Geraldo Vandré, faz surgir uma onda de
críticas ao compositor. No entanto, apesar da canção de Chico Buarque não
apresentar um registro que empolgue a multidão, ela também apresenta uma
negação a realidade posta.
20. 19
Atividades para os alunos:
1) Nas décadas de 1960 e 1970, os jovens agrupados nos movimentos estudantis
realizavam protestos, passeatas e panfletagens contra a falta de liberdade e a
violência gerada pelo regime militar.
Qual a atuação dos jovens brasileiros hoje diante de denúncias de corrupção e
opressão política? Em relação aos problemas sociais do país, qual sua participação?
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2) Apresentar o vídeo da canção “Roda-Viva”, disponível no site:
http://www.youtube.com/watch?v=HRFw5u5wR4c&feature=related. Acesso em
08/07/2010 às 17h22min.
Organizar um debate com os alunos destacando:
- A sonoridade da canção;
- As imagens de época;
- A letra da canção.
21. 20
UNIDADE IV
As Canções de Protesto à Repressão e a Censura
A partir da instituição do AI 5, em dezembro de 1968, as perseguições a
artistas e aos meios de comunicação aumentam de forma violenta. Torna-se
corriqueira a invasão de policiais armados nas redações de jornais, explosão de
bombas em agências de notícias, além da prisão dos profissionais. O governo,
porém, não admite tal iniciativa alegando que ocorriam “exceções”, pois alguns não
entendiam a importância da manutenção da ordem e do respeito à autoridade.
A censura política aos órgãos de imprensa manifestava-se através de
telefonemas (com a identificação do interlocutor ou não), de ordens escritas, muitas
vezes sem que seu autor se identificasse ou dos próprios censores dentro das
redações dos periódicos. A função destes censores era selecionar e cortar tudo o
que “atentava” contra o regime.
Muitos artistas são “gentilmente convidados” a deixar o país. Chico Buarque,
após ter sido retirado de sua casa para depor no Dops (Departamento da Ordem
Política e Social) e em seguida em um quartel do Exército, seguindo conselhos de
amigos, vai para a Itália, permanecendo por lá até 1970.
Neste período Chico Buarque compõe “Agora falando sério”, onde demonstra
descrença no que viria e ao mesmo tempo um descontentamento com a canção
conciliadora.
(...) Eu não queria cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta (...)
(Agora falando sério, 1969).
No retorno ao Brasil, ele constata que a violência e as perseguições aos
oposicionistas não mudara. O Congresso reaberto havia eleito o general Emílio
Garrastazu Médici para presidir o país.
22. 21
Constata-se, nas composições deste período, que Chico Buarque abandona o
lirismo um pouco ingênuo e nostálgico e enfatiza em sua poesia a critica social e o
sonho utópico, por uma sociedade melhor, mais justa. As letras de suas canções
trazem um tom de ameaça, além da crítica ao presente. São exemplos: “Deus lhe
pague”, “Cálice” e ”Angélica”. Além destas, Chico Buarque compõe também canções
onde mostra que não aceita o momento presente e espera por um futuro de
liberdade. Há crítica aliada à utopia em “Apesar de você”, “Quando o Carnaval
Chegar” e ”Cordão”.
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão,
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão, viu (...)
(...) Apesar de você
amanhã há de ser outro dia (...)
(Apesar de você, 1970).
Na canção “Apesar de você”, Chico Buarque demonstra através de uma
linguagem metafórica a radicalização do momento político que passava o país. Além
disso, deixa claro que não é mais possível recuperar o passado, pois os
acontecimentos já fazem parte da história; o melhor a fazer é esperar, pois o homem
é quem faz a história e tudo o que defende e acredita está de certa forma imersa
neste tempo. É a reivindicação pelo amanhã que será outro dia também presente
nas canções: “Quando o Carnaval Chegar”, “Rosa-dos-Ventos”, “Primeiro de Maio” e
“Linha de Montagem”.
(...) E quem me vê apanhando da vida duvida que vá revidar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar (...)
(Quando o carnaval chegar, 1972).
Na composição “Deus lhe pague”, alterada várias vezes para que fosse
liberada pela censura, Chico Buarque, de forma “irônica”, agradece a perda da
liberdade, da autonomia, e a “permissão” de possuir direitos fundamentais ao ser
23. 22
humano como uma certidão de nascimento, a concessão para chorar, sorrir, respirar
e existir, apresentados aqui como forma de compensação. Uma apreciação
aparente na cadência da música revela uma energia incontida, uma tensão total, que
imobiliza o ouvinte e o leva a rejeitar o poder opressor.
(...) A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague (...)
(Deus lhe pague, 1971).
Em parceria com Gilberto Gil, em 1973, Chico Buarque compõe “Cálice”. Para
ser fiel ao título, é o canto do silêncio, do cale-se crescendo à medida que os
detentores do poder usam da força para conquistá-lo.
(...) Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade, não se escuta (...)
O cálice é o silêncio progressivo que aos pouco é imposto a todos. Os
compositores impacientes e mal contendo a agressividade disparam que:
(...) De que me vale ser filho da santa.
Melhor seria ser filho da outra (...).
(Cálice, 1973)
É início dos confrontos de Chico Buarque com os censores do governo Médici.
Algumas composições são vetadas integralmente, outras sofrem cortes. O próprio
Chico Buarque declara que de cada três músicas enviadas para análise dos
censores só uma era liberada, e ainda assim com cortes. As alegações para
justificar o veto eram de censura política ou moral, como a peça Calabar (parceria
com Ruy Gerra), que foi proibida integralmente.
Para burlar a censura, a solução era usar a „linguagem da fresta‟, metáforas,
mensagens subliminares, a linguagem do malandro, e por que não um pseudônimo,
Julinho de Adelaide ou Leonel Paiva, que aparecem nas canções Jorge Maravilha e
Acorda Amor. Esse recurso, porém, logo foi descoberto pela censura, que passou a
exigir que fosse apresentado o CIC e RG do compositor.
24. 23
(...) Se eu demorar uns meses convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo e pode me esquecer (...).
(Acorda Amor, 1974)
Na letra desta composição Chico Buarque denuncia as prisões inexplicadas nas
madrugadas, os desaparecimentos e as mortes dos cidadãos comuns. Quando fala
do bicho brabo faz referência ao regime militar e convoca as pessoas e a ele próprio
a despertar e perceber o que os militares estavam fazendo. Segundo o compositor,
por estarem “desligados”, o povo continuava aprisionado. Para completar ele ironiza:
neste caso o melhor é chamar o ladrão à polícia.
(...) Há nada como um dia
Após o outro dia (...)
(...) Você não gosta de mim
Mas sua filha gosta (...)
(Jorge Maravilha, 1974)
Para que esta canção fosse liberada pela Policia Federal, Chico Buarque
utilizou uma saída: inserir uma estrofe no início e final da mesma que não tinha
muita relação com o sentido da música. Como após a liberação não havia a
obrigatoriedade de gravá-la na íntegra, foi só retirar estas estrofes.
Além disso, muitos acreditam que esta canção faz referência ao General
Ernesto Geisel, pois sua filha, Amália Lucy, era apreciadora das obras de Chico
Buarque. O artista, porém, esclarece que a inspiração para a composição veio em
uma das vezes em que foi detido por agentes de segurança. Ainda no elevador, um
destes agentes solicitou um autógrafo, alegando ser para a filha.
(...) Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar (...)
(Angélica, 1977)
Na composição “Angélica”, feita em parceria com Miltinho, Chico Buarque
homenageia a amiga Zuzu Angel, mãe do militante do MR8 Stuart, assassinado de
25. 24
forma truculenta e bárbara pelos órgãos de censura da Aeronáutica. O corpo de
Stuart nunca foi encontrado e Zuzu Angel dedicou-se a procurar seus restos mortais
e a delatar os assassinos de seu filho.
Amiga de Chico Buarque, constantemente passava por sua casa, deixando-o
informado sobre sua luta. Em uma destas visitas deixou um bilhete revelando o
recebimento de documentos que comprovavam o assassinato de seu filho, além do
receio de que algo pudesse lhe acontecer. Chico Buarque e Paulo Pontes
reproduziram este bilhete e o enviaram anonimamente a imprensa e a
parlamentares. Em 14/04/1976, pela manhã, como sempre fazia, Zuzu Angel passou
pela residência de Chico Buarque. Neste mesmo dia morreu em um atentado que o
governo militar alegou ser acidente.
Apesar de ter se tornado até 1978, um dos artistas mais perseguidos pela
censura, Chico Buarque continuou trazendo em suas composições a crítica social,
como em “Construção”. Além das canções, as peças de teatro escritas por ele
também discutem os problemas sociais: Calabar, Gota d‟água, Ópera do Malandro.
(...) Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima (...)
(Construção, 1971)
Atividades para os alunos:
1) Solicitar aos alunos que escolham uma das canções apresentadas e façam uma
análise crítica do contexto histórico. Feito isto, deverão expor para os demais
colegas o resultado deste trabalho.
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2) Com relação ao vídeo da canção “Cálice” (Chico Buarque / Gilberto Gil),
disponível no site: http://www.youtube.com/watch?v=wV4vAtPn5-Q&feature=related.
Acessado em 08/07/2010 às 17h14min.
a) Discuta com os alunos:
- As imagens;
26. 25
- A letra da canção;
- A sonoridade da canção.
b) Em duplas ou grupos, retratar a canção em uma charge que poderá ser exposta
no mural do Colégio.
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UNIDADE V
A Abertura Política e o fim do Regime Militar.
Em março de 1974, toma posse como presidente escolhido pelo alto comando
militar e aprovado pela ARENA – Aliança Renovadora Nacional- (partido de apoio ao
governo), o General Ernesto Geisel. Segundo o próprio presidente e o grupo que o
apoiava, era o momento de promover de forma gradual, lenta e segura, a abertura
política e a volta da democracia.
Neste período o país estava mergulhado em uma crise econômica sem
precedentes, graças à política econômica imposta pelos governos militares de
favorecimento de multinacionais, contenção da inflação com a redução de salários
dos trabalhadores, diminuição de créditos. E por fim, no governo de Emílio
Garrastazu Médici o chamado “milagre brasileiro”, que se caracterizou pelo aumento
de produção industrial, crescimento das exportações, e empréstimos de capital
estrangeiro utilizados na construção de obras faraônicas (rodovia Transamazônica,
ponte Rio – Niterói).
As primeiras medidas tomadas pelo então presidente Ernesto Geisel, no
cumprimento de sua política democratizante, foi a diminuição da censura aos meios
de comunicação e permissão para a realização de eleições livres para o poder
legislativo.
Porém, estas medidas desagradaram os militares de linha dura, que deram
início a atentados e assassinatos de líderes de oposição em nome da “segurança
nacional”. O governo para conter a violência teve que agir com rigor afastando o
general comandante do II Exército. No entanto, com o aumento da oposição,
retrocedeu no processo de abertura, que só foi retomado no governo do General
João Batista de Oliveira Figueiredo (1979 -1985).
No governo de João B. de O. Figueiredo, o Brasil viveu uma das piores crises
econômicas de sua história, ocasionando uma crescente pressão da sociedade pela
volta da democracia. O presidente havia assumido o compromisso de realizar a
“abertura política” e instaurar a democracia. Diante disso os sindicatos se
fortaleciam. Começam as greves dos trabalhadores contra o arrocho salarial, dentre
elas as greves dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo, tendo como líder Luís
Inácio Lula da Silva.
Os efeitos desta luta pela democracia foram: a anistia, que permitiu a volta
dos exilados políticos; fim do bipartidarismo, que possibilitou a criação de novos
partidos e o movimento “Diretas já”, cujo objetivo era a aprovação, pelo Congresso
Nacional, da emenda proposta pelo deputado Dante de Oliveira, que restabelecia
eleições diretas para presidente, pondo fim ao Colégio Eleitoral.
28. 27
Apesar de toda campanha pelas diretas, as artimanhas da elite ligada aos
militares impediram que esta ocorresse. Porém, o “sonho” de milhares de brasileiros
que pediam pela volta da democracia começava a virar realidade. Em novembro de
1984, foi eleito presidente pelo Congresso Nacional o civil Tancredo de Neves,
contudo, veio a falecer antes de sua posse. Quem assumiu foi o vice-presidente
José Sarney.
Chico Buarque e as novas composições.
Com a abertura política e a liberação gradual da censura, as composições de
Chico Buarque passam a tratar de temas considerados tabus, como a prostituição,
presentes nas canções “Viver do Amor” e “Mambordel”; a bissexualidade em “Geni e
o Zepelin” e o lesbianismo em “Mar e Lua”.
(...) O amor, eu bem sei
Já provei
E é um veneno medonho (...)
(Viver do Amor, 1977, 1978).
No final da década de 1970, constata-se, nas canções feitas para a peça “Opera
do Malandro”, que Chico Buarque intensifica a crítica aos valores impostos pela
sociedade burguesa, à mentira e a dissimulação em todos os níveis sociais. Neste
trabalho a linguagem do artista aproxima-se da pornografia. É a forma irônica que
ele encontra do desprezo pela política institucionalizada, pelos políticos e seus
valores. Na canção “Meu Amor”, constata-se que o amor físico, erótico, ganha
destaque em oposição ao romantismo. Em “Casamento dos pequenos burgueses”,
Chico Buarque mostra a deteriorização de muitos relacionamentos sustentados
pelas aparências, por conveniência.
(...) Ele tem um caso secreto
Ela diz que não sai dos trilhos
Vão dizer sob o mesmo teto
Até casarem os filhos (...)
(Casamento dos pequenos burgueses, 1979).
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Constata-se, portanto, que Chico Buarque compõe de acordo com o tempo, o
momento: o retorno utópico, a variante utópica e a vertente crítica são formas de
resistência.
Com a democratização do país, as letras das canções de Chico Buarque deixam
de lado a crítica social e podem, enfim, falar de sentimentos.
Atividades para os alunos:
1) Pesquisar e trazer para análise da turma, músicas atuais que expressem os
problemas políticos e sociais do Brasil contemporâneo.
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2) Dentre as canções de Chico Buarque apresentadas, escolha uma e crie uma
paródia que traga em sua letra o contexto histórico da época. Esta paródia deverá
ser apresentada à turma.
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