1) O fim da exclusividade entre bandeiras e credenciadoras de cartões trouxe mais praticidade e eficiência para lojistas e consumidores.
2) Lojistas agora podem aceitar cartões de várias operadoras em uma única máquina e negociar taxas mais baixas.
3) A expectativa é que a maior concorrência leve a uma redução dos custos repassados aos consumidores a médio prazo.
Fim da exclusividade traz mais praticidade e eficiência para comércio e consumidores
1. atualidades
26 revista abecs
Mais comodidade
e eficiênciaLojistaseconsumidores
enumeramasvantagens
dofimdaexclusividade
Texto Marcelle Souza
Fotos Zé Gabriel
om o fim da exclusividade
entre bandeiras e creden-
ciadoras de cartões, o mer-
cado já começa a sentir as
vantagens de um dos pontos mais im-
portantes do Código de Ética e Autor-
regulação da Abecs. A interoperabili-
dade entrou em vigor em 1o
de julho e
permite que o lojista aceite cartões de
várias operadoras em uma única má-
quina. Diante da mudança, clientes e
comerciantes citam a praticidade, o
estímulo à concorrência no setor e o
aumento da possibilidade de uso de
apenas um terminal como alguns dos
aspectos positivos dessa recente revo-
lução no mercado.
Até o primeiro semestre deste ano,
a maioria dos comerciantes contava
com, pelo menos, dois terminais: o da
Redecard, que só aceitava a bandeira
MasterCard, e o da Cielo, que passava
cartões Visa. Só que a exclusividade
fazia com que as duas credenciado-
ras representassem cerca de 90% das
transações com cartão no país. Desse
modo, além de pagar pelo aluguel de
2. revista abecs 27
cada uma das máquinas, o proprietário repassava de
2% a 5% do valor da compra para a credenciadora.
“Agora está mais fácil. Temos a praticidade de nego-
ciar essas taxas e podemos escolher passar o cartão
pela empresa que liberar mais rápido o dinheiro”,
afirma Luiz Carlos Galarraga, gerente da loja Aqua-
base Aquapaisagismo, em São Paulo.
Segundo Maria Inês Dolci, coordenadora institu-
cional da Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa
do Consumidor), a expectativa é a de que, com o au-
Agora está mais fácil.Temos a praticidade
de negociar essas taxas e podemos
escolher passar o cartão pela empresa
que liberar mais rápido o dinheiro”
Luiz Carlos Galarraga,gerente da loja Aquabase Aquapaisagismo
mento da concorrência, os lojistas con-
sigam alíquotas menores e repassem
essa redução aos compradores. “É im-
portante que haja mais grupos atuando
como credenciadores para estimular a
competitividade do mercado, pois só
assim haverá queda das taxas cobradas
aos consumidores”, diz.
No entanto, para o presidente da
CNDL (Confederação Nacional dos
Dirigentes Lojistas), Roque Pellizzaro
Junior, essa diminuição só deve acon-
tecer em médio prazo. “Estamos em
um período de maturação e, no pra-
zo de 12 a 18 meses, estimamos uma
redução média de 2% para os consu-
midores”, explica.
Maria Inês Dolci afirma que a re-
forma deve levar a outras discussões no
setor, como o debate sobre a prática de
cobrança de valores diferenciados no pa-
gamento com o cartão. Do outro lado,
o presidente da CNDL aguarda que o
fim da exclusividade represente uma
possibilidade real de o Brasil ter bandei-
ras domésticas, o que pode significar a
redução de custos para toda a cadeia.
Praticidade
Enquanto as associações aguardam
reflexos futuros da integração entre ban-
deiras e credenciadoras, as mudanças
reais já são percebidas no balcão dos es-
tabelecimentos. Gustavo Brusca, chef
e proprietário do restaurante Horta &
Bistrô, na capital paulista, destaca que
a alteração no sistema dos terminais foi
automática. Ele conta que já fez contato
com a credenciadora para ficar com ape-
nas uma máquina e que isso deve deixar
o sistema de cobranças mais prático.
Na lanchoneteVillas Burguer, também
No comércio,
a mudança
no setor de
cartões está
sendo bem
avaliada.
Na página
ao lado, o
chef Gustavo
Brusca, do
Horta &
Bistrô:
sistema
mais prático
3. atualidades
28 revista abecs
A mudança é boa
porque podemos
pagar um aluguel
só. Mas eu prefiro
esperar um
pouco para ficar
com apenas
uma máquina”
Christine Remor Olivo,
dona de salão de beleza
4. 29revista abecs
Estou passando os
cartões nos dois
terminais e não vi
problemas. Hoje tenho
opção. Se um dos dois
ficar sem sinal,
posso usar o outro”
Eduardo Oliveira,da Temer Importadora
em São Paulo, o gerente Reginaldo Frei-
tas garante que a mudança foi positiva.
“Está mais fácil, mais ágil. Recebemos
visitasdefuncionáriosdasempresaspara
saber se as máquinas estão funcionan-
do direito ou se temos alguma dúvida”,
diz. Para o comerciante Eduardo Oli-
veira, da Temer Importadora, também
não tem reclamações a fazer. “Estou
passando os cartões nos dois terminais e
não vi problemas. Hoje, tenho opção.
Se um dos dois ficar sem sinal, posso usar
o outro”, defende.
Para os consumidores, o fim da ex-
clusividade também trouxe vantagens.
“Já deixei de comprar em alguns luga-
res porque não aceitavam o meu car-
tão. Agora, acredito que vai diminuir
aquela preocupação em perguntar, an-
tes de se sentar à mesa, se o restaurante
aceita ou não o meu cartão”, fala o
designer Deiverson Ribeiro. “Acho que
todo mundo ganha com isso. A velo-
cidade do atendimento é mais rápida,
além de a empresa conseguir oferecer
todas as bandeiras em um único apa-
relho. Não precisamos mais ‘escolher’
o cartão para usar nesse ou naquele lu-
gar”, afirma o advogado Jardel Mattos.
Mais eficiência
Conforme dados do relatório “Diag-
nóstico do Sistema de Pagamentos de
Varejo do Brasil”, divulgado pelo Banco
Central (BC), no último mês de junho,
foi realizada, em 2009, uma média de
823 transações de cartão de crédito por
terminal. Em relação aos cartões de dé-
bito, a média foi de 831 transações por
máquina. Esses números equivalem,
respectivamente, a pouco mais de um
terço e a, aproximadamente, um quarto
5. atualidades
30 revista abecs
Mudança de sistema
Para viabilizar a alteração
na forma de pagamento, as
credenciadoras investiram em
adaptações.“Internamente, quase
50% do nosso efetivo foi deslocado
para que fosse possível capturar
outras bandeiras”, explica o
presidente da Cielo, Rômulo Dias.
Assim, a novidade entrou em
funcionamento de modo automático,
com alteração nos softwares
utilizados pela empresa.
Segundo Dias, apenas foram
substituídos os terminais mais
antigos, que não estavam habilitados
a receber todos os cartões.
Na Cielo, além das mudanças
tecnológicas, a empresa tem se
preparado para receber novos
clientes, dispostos a reunir seu
volume de vendas em apenas uma
máquina.“Temos estratégias para
atender desde as contas menores
até as maiores, que chamamos
de ‘corporate’. Isso porque,
agora, os comerciantes têm a
possibilidade de concentrar seu
volume de vendas em um terminal,
e nós podemos negociar produtos
e serviços diferenciados”, afirma
o presidente da credenciadora.
das médias encontradas nos países desen-
volvidos. Segundo o BC, isso significa
que os dados são indicativos de que a fal-
ta de interoperabilidade entre as redes de
terminais acabava causando ineficiência
e, consequentemente, custos desneces-
sários à sociedade.
“O fim da exclusividade é um dos
fatores necessários à maior competitivi-
dade no credenciamento. Em cenário
de maior competição, os estabelecimen-
tos poderão obter melhores condições
e menores custos, a serem repassados
aos consumidores finais. É o início de
um processo para tornar a indústria de
cartões mais eficiente no país, social-
mente falando”, explica José Antonio
Marciano, chefe do Departamento de
Operações Bancárias e de Sistema de
Pagamentos do Banco Central.
Segundo pesquisa realizada pela
CNDL, 26% dos varejistas já estão
usando uma única máquina para ope-
rar cartões de diferentes bandeiras.
O levantamento baseou-se em uma
amostra de 100 lojistas do país, com
exceção dos estados de São Paulo e do
Paraná, e avaliou como os principais
interessados na mudança reagiram às
alterações em vigor desde 1o
de julho.
De acordocomopresidentedaCon-
federação, Roque Pellizzaro, o resultado
revela uma evolução positiva, mas que
ainda não é maior por precaução, já que
a mudança é recente. “A mudança é
boa, porque podemos pagar um alu-
guel só e, se não conseguimos a mesma
taxa, podemos chorar um pouco junto
às credenciadoras. Mas eu prefiro es-
perar um pouco para ficar com apenas
uma máquina”, diz Christine Remor
Olivo, dona de salão de beleza.
Segundo
a CNDL,
26% dos
varejistas
já estão
usando
uma única
máquina
para operar
cartões de
diferentes
bandeiras
6. 31revista abecs
“Esse argumento, da precaução, não se justifi-
ca. Isso porque nós temos duas principais credencia-
doras que desempenham as transações com razoabi-
lidade, da mesma forma com que realizavam quando
tinham o contrato de exclusividade”, explica Roque
Pellizzaro. Para ele, nesse momento é importante que
Está mais fácil, mais ágil. Recebemos
visitas de funcionários das empresas para
saber se as máquinas estão funcionando
direito ou se temos alguma dúvida”
Reginaldo Freitas,gerente da lanchoneteVillas Burguer
os comerciantes procurem as creden-
ciadoras para escolher qual se encaixa
melhor na realidade de cada estabeleci-
mento. “A ideia é ter novos parâmetros
para melhorar sempre o serviço presta-
do”, conclui o presidente da CNDL.
“Vemos esse momento como pro-
missor para o mercado de cartões, que
deve continuar crescendo a taxas de dois
dígitos. Aliás, a velocidade desse cresci-
mentotendeasermaiorainda.Issotudo
é benéfico para o lojista e para o merca-
do, que está mais competitivo”, afirma
Rômulo Dias, presidente da Cielo. ■