1. Amor, pois que é palavra essencial CarlosDrummond de Andrade
2. Introdução Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Literaturas de Língua Portuguesa, onde iremos explorar agora a Literatura Brasileira, bem como alguns aspectos da sua cultura e costumes, tais como a gastronomia e a dança (o samba) e alguns dos seus principais escritores. O escritor que iremos abordar, primeiramente, será Carlos Drummond de Andrade com o poema “Amor, pois que é palavra essencial”, contido na sua obra “Amor natural”.
16. A literatura brasileira, considerando o seu desenvolvimento baseada na língua portuguesa, faz parte do espectro cultural lusófono, sendo um desdobramento da literatura em língua portuguesa. Ela surgiu a partir da actividade literária incentivada pelo Descobrimento do Brasil durante o Século XVI. Literatura
17. Bastante ligada, de princípio, à literatura metropolitana, ela foi ganhando independência com o tempo, iniciando o processo durante o século XIX com os movimentos romântico e realista e atingido o ápice com a Semana de Arte Moderna em 1922, caracterizando-se pelo rompimento definitivo com as literaturas de outros países, formando-se, portanto, a partir do Modernismo e das suas gerações as primeiras escolas de escritores verdadeiramente independentes. Literatura
18. O parnasianismo viria a ser fortemente combatido pelos modernistas, causando grande polémica que resultaria em uma racha na cultura nacional. Os modernistas pregavam a destruição da estética anterior e praticamente assumem a liderança do movimento cultural brasileiro. São dessa época grandes nomes como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Guimarães Rosa, ClariceLispector e Cecília Meireles. Literatura
20. Carlos Drummond de Andrade Nome completo: Carlos Drummond de Andrade Nascimento: 31 de Outubro de 1902Itabira, Minas Gerais Falecimento: 17 de Agosto de 1987, Rio de Janeiro Nacionalidade: brasileira Ocupação: poeta, contista e cronista Escola/ tradição: Modernismo Nasceu em Minas Gerais, em uma cidade cuja memória viria a permear parte de sua obra, Itabira.
21. Carlos Drummond de Andrade Posteriormente, foi estudar em Belo Horizonte e Nova Friburgo com os Jesuítas no colégio Anchieta. Formado em farmácia, com Emílio Moura e outros companheiros, fundou "A Revista", para divulgar o modernismo no Brasil. Durante a maior parte da vida foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguido até seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua única filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crónicas.
22. Perfil Literário Quando se diz que Drummond foi o primeiro grande poeta a se afirmar depois das estreias modernistas, não se está a dizer que Drummond seja um modernista. De facto herda a liberdade linguística, o verso livre, o metro livre, as temáticas quotidianas. Mas vai além. "A obra de Drummond alcança um coeficiente de solidão, que o desprende do próprio solo da História, levando o leitor a uma atitude livre de referências, ou de marcas ideológicas, ou prospectivas“. No final da década de 1980, o erotismo ganha espaço na sua poesia até seu último livro.
24. Amor, pois que é palavra essencial Amor - pois que é palavra essencial comece esta canção e toda a envolva. Amor guie o meu verso, e enquanto o guia, reúna alma e desejo, membro e vulva. Quem ousará dizer que ele é só alma? Quem não sente no corpo a alma expandir-se até desabrochar em puro grito de orgasmo, num instante de infinito?
25. Amor, pois que é palavra essencial O corpo noutro corpo entrelaçado, fundido, dissolvido, volta à origem dos seres, que Platão viu completados: é um, perfeito em dois; são dois em um. Integração na cama ou já no cosmo? Onde termina o quarto e chega aos astros? Que força em nossos flancos nos transporta a essa extrema região, etérea, eterna?
26. Amor, pois que é palavra essencial Ao delicioso toque do clitóris, já tudo se transforma, num relâmpago. Em pequenino ponto desse corpo, a fonte, o fogo, o mel se concentraram. Vai a penetração rompendo nuvens e devassando sóis tão fulgurantes que nunca a vista humana os suportara, mas, varado de luz, o coito segue.
27. Amor, pois que é palavra essencial E prossegue e se espraia de tal sorte que, além de nós, além da prórpia vida, como ativaabstração que se faz carne, a idéia de gozar está gozando. E num sofrer de gozo entre palavras, menos que isto, sons, arquejos, ais, um só espasmo em nós atinge o climax: é quando o amor morre de amor, divino.
28. Amor, pois que é palavra essencial Quantas vezes morremos um no outro, no úmido subterrâneo da vagina, nessa morte mais suave do que o sono: a pausa dos sentidos, satisfeita. Então a paz se instaura. A paz dos deuses, estendidos na cama, qual estátuas vestidas de suor, agradecendo o que a um deus acrescenta o amor terrestre.
29. Carlos Drummond de Andrade, como os modernistas, proclama a liberdade das palavras, uma libertação do idioma que autoriza modelação poética à margem das convenções usuais. Dentro das suas temáticas, neste poema podemos encontrar principalmente duas, o choque social e o amor. O choque social pela sua criação ousada de poesia, uma poesia à qual a maioria da sociedade não estava habituada a ler e a conhecer, uma poesia mais erótica, mais íntima. Tema
30. E, o amor está presente em todo o poema. Não só um amor romântico ou sentimental, mas também um amor carnal, um amor de conhecimento de si próprio e dos outros, fisicamente. Neste poema, o sujeito poético fala-nos essencialmente do conceito de amor, do que ele é, de como ele é e o prazer que ele nos dá tentando ao mesmo tempo unir o desejo e alma, amor carnal e transcendental de um forma melodiosa. Tema
31. Análise Os poemas de Drummond são extremamente carnais, corpóreos; porém, também conciliam aspectos ideais de amor, numa reunião perfeita de sentimentos. Carlos Drummond, neste texto poético é capaz de unir desejo e alma, amor carnal e transcendental de uma maneira harmónica.
32. 1ª estrofe Amor - pois que é palavra essencial comece esta canção e toda a envolva. Amor guie o meu verso, e enquanto o guia, reúna alma e desejo, membro e vulva. Na primeira estrofe o sujeito poético faz um pedido ao amor para que este comece o poema e “todo o envolva”, “juntando alma e desejo, membro e vulva”. A alma corresponde a um universo transcendente e, “desejo, membro e vulva” equivalem aos desejos carnais que o sujeito poético pretende unir à alma.
33. 2ª estrofe Quem ousará dizer que ele é só alma? Quem não sente no corpo a alma expandir-se até desabrochar em puro grito de orgasmo, num instante de infinito? “Quem ousará dizer que ele é só alma?” Nesta estrofe, pode-se comprovar exactamente isso, o amor não é só alma. Aqui a união do amor transcendente e do amor carnal é realizada: o corpo está presente na alma e a mesma, no corpo. O orgasmo é alcançado numa junção de alma e corpo e é considerado, pelo sujeito poético, como um momento de transcendência.
34. 3ª estrofe O corpo noutro corpo entrelaçado, fundido, dissolvido, volta à origem dos seres, que Platão viu completados: é um, perfeito em dois; são dois em um. Os versos desta estrofe confirmam o ideal platónico de que a alma precede o corpo e o amor pretende atingir um plano transcendente. “É um, perfeito em dois; são dois em um”, para o sujeito poético a perfeição é a união dos dois, dele e da amada.
35. 4ª estrofe Integração na cama ou já no cosmo? Onde termina o quarto e chega aos astros? Que força em nossos flancos nos transporta a essa extrema região, etérea, eterna? O amor aqui, passa para além da “cama”, o amor torna-se superior, vai para além do cosmo. Nesta estrofe o sujeito poético não consegue diferenciar a alma e o corpo, não sabe onde acaba um e começa o outro. É um momento “etéreo, eterno.”
36. 5ª estrofe Ao delicioso toque do clitóris, já tudo se transforma, num relâmpago. Em pequenino ponto desse corpo, a fonte, o fogo, o mel se concentraram. A perfeição (representada nos versos por “fonte” e “mel”) está presente num ponto do corpo que é objecto de desejo carnal – o clítoris.
37. 6ª estrofe Vai a penetração rompendo nuvens e devassando sóis tão fulgurantes que nunca a vista humana os suportara, mas, varado de luz, o coito segue. O que leva o eu lírico à dimensão transcendente é o desejo carnal que o conduz às “nuvens” e “sóis”, símbolos de um universo ideal. O corpo é o veículo para a transcendência, portanto, mais uma vez, o poema distancia-se dos ideias platónicos.
38. 7ª estrofe E prossegue e se espraia de tal sorte que, além de nós, além da prórpia vida, como ativaabstração que se faz carne, a idéia de gozar está gozando. Nesta estrofe o poema trata do orgasmo e faz menção à ideia do plano transcendente da alma “além da própria vida”. Drummond inclui a relação carnal e trata-a “como ativaabstração”, usando-a, também, como veículo para a transcendência; enquanto o orgasmo, realizado no plano de ideias, concretiza-se somente pelo facto do sujeito lírico pensar na ideia de gozar : “a ideia de gozar está gozando”
39. 8ª estrofe E num sofrer de gozo entre palavras, menos que isto, sons, arquejos, ais, um só espasmo em nós atinge o climax: é quando o amor morre de amor, divino. A morte é uma condição necessária para a libertação da alma. O poeta retoma esta ideia e coloca que o universo divino é alcançado através do orgasmo. O amor transcende para um plano ideal por meio da sua própria morte: “é quando o amor morre de amor, divino”. A ideia de morrer para alcançar a libertação da alma, portanto, purificação, é platónica, porém, não por meios carnais, como faz o eu lírico.
40. 9ª estrofe Quantas vezes morremos um no outro, no úmido subterrâneo da vagina, nessa morte mais suave do que o sono: a pausa dos sentidos, satisfeita. Nota-se que o sujeito poético apresenta-se em estado de gozo, tomado para ele como um momento sublime. A morte purifica e torna-se “mais suave que o sono”, numa atmosfera onírica, onde ocorre “a pausa dos sentidos”, de tamanha satisfação que o momento proporciona.
41. 10ª estrofe Então a paz se instaura. A paz dos deuses, estendidos na cama, qual estátuas vestidas de suor, agradecendo o que a um deus acrescenta o amor terrestre. Os deuses são seres supremos , imortais. Após o orgasmo, o eu poético atinge uma dimensão divina, comparando-se a um deus. No último verso, pode-se notar o jogo entre alma e corpo na figura de “deus” e “amor terrrestre”. Para o sujeito lírico o orgasmo é um momento de transferência da alma para um outro plano, uma obra divina “o que a um deus acrescenta o amor terrestre”. Essa atmosfera somente é alcançada devido à união do amor carnal e do amor ideal/espiritual.
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45. Análise formal Esta composição poética é constituída por dez estrofes, constituídas cada uma por quatro versos, ou seja, são todas quadras. O esquema rimático é irregular e a métrica dos versos não segue nenhuma lógica igualmente. Apresenta uma rima pobre e um ritmo lento, bem como a utilização de várias interrogações e de um vocabulário rico e expressivo.
46. Reflexão Novamente os trabalhos que realizamos na disciplina de Literaturas de Língua Portuguesa dão-nos a conhecer mais um país (o Brasil), mais uma cultura e um grande poeta, Carlos Drummond de Andrade. No poema que o nosso grupo analisou, “Amor, pois que é palavra essencial” Drummond diferencia-se dos ideais platónicos, mostrando que o amor carnal é tão necessário quanto amor espiritual, e que somente através do corpo atinge-se a transcendência; revela-nos que os seres sensíveis e imperfeitos são capazes de amar divinamente, unindo “alma” e “vulva”. O nosso grupo não podia estar mais de acordo, pois acreditamos que pode existir um equilíbrio entre o desejo e a alma, amor carnal e transcendental e que estes se podem unir de maneira harmoniosa.
48. Conjuga as sentenças da coluna esquerda com as da coluna direita Capital do Brasil Ponto mais alto do Brasil “Amor,” Presidente 31 de Outubro de 1902 17 de Agosto de 1987, Lula da Silva Rio de Janeiro Pois que é palavra essencial Itabira, Minas Gerais Pico da Neblina Brasília