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A SEMIÓTICA E O
SENTIDO NA MÚSICA
  contribuições, questões e
  perspectivas (1990-2010)

  Prof. Dr. Ricardo Nogueira de Castro Monteiro
         Universidade Anhembi Morumbi
        Laureate International Universities
A presente comunicação visa oferecer uma visão
panorâmica de algumas das principais contribuições de
semioticistas de diferentes correntes para o estudo do
sentido na música, bem como algumas das mais
relevantes questões metodológicas e/ou conceituais com
que os pesquisadores vêm-se deparando ao longo de suas
investigações.
Discurso musical
Questões centrais

• Metalingüísticas
  • natureza da significação musical (que estados de coisas? que
     estados de alma?)

  • baixa figuratividade; verbalização problemática
  • sentido intrínseco ou extrínseco à obra musical
  • pensamento musical x Vygotsky (1896-1934)
• Metodológicas
  • diversos recortes possíveis para a percepção do discurso
  • possibilidades de acepções de temporalidade (cf. Zilberberg)
     por um viés cronológico, mnésico, rítmico e/ou cinemático
• Lingüísticas
  • hipótese de um paralelismo ou analogia entre a expressão verbal e
     musical a partir do fato de ambas se constituírem a partir de
     cadeias de signos acústicos.

• Formais
  • como superar a denotação para atingir a conotação?
  • como transcender a classificação para chegar a uma
     interpretação?

  • como superar o formalismo e chegar a uma hermenêutica?
Hénault, Anne (org.). Questions
de sémiotique. Paris: PUF, 2002.

 Sémiotique et musique (p.545)
Sémiotique et musique (p.545)
o caráter de duplicidade do representamen melódico, com seu
arranjo de entidades disjuntas e seu contimuum modulando
elevações e quedas, fez dos estudos consagrados à melodia um
cruzamento conceitual onde puderam se encontrar as duas grandes
formas de sistematização da semiótica, a saussuriana e a peirciana
(p.543).

a separação que aparece na Europa na metade dos anos 1980 entre
a teoria standard descontinuísta e a nova semiótica continuísta
encontra precisamente no corpus dos textos musicais o tipo de
objetos de estudos capaz de encorajar novas descobertas tanto
sobre as formas como se dá a experiência musical como sobre as
modulações aspectuais, modais e de acentuação (p.543).
Um enfoque semiótico sobre a história da
 musicologia, por Eero Tarasti (p.545).
  História da musicologia

    origens: regiões de língua alemã; 2a metade do século
    XIX

    criador do termo: Friedrich Chrysander, 1863.

    primeiros catedráticos: Eduard Hanslick em Viena
    (1861), com sua estética musical formalista; Wilhelm
    August Ambrose em Praga (1869), com sua
    historiografia da música
“A música indiana, por exemplo, aparecia como uma
espécie de não-cultura (Lotman et alia, 1975) que devia
ser transformada desde a raiz em cultura através da
introdução de similaridades com relação à música
européia” (p.546).

A semiótica musical se situa entre os dois pólos de
Guido Adler (histórico e sistemático), já que, por um
lado, ela busca leis universais que rejam as diversas
práticas musicais, e por outro, explora os signos e
símbolos musicais enquanto entidades estilísticas que se
transformam ao longo da história. (pg 546)
Guido Adler (1855-1941)




 austríaco - fundador da musicologia moderna
Guido Adler (1855-1941)
 aluno do grande compositor Anton Bruckner

 musicologia histórica x musicologia sistemática

 Para Adler, a principal ferramenta da
 historiografia musical seria o conceito de estilo,
 pelo qual uma obra musical poderia ser observada
 sob uma perspectiva objetiva (pg. 546).
menos interesse na obra individual e singular
do que em um certo linguajar musical que
pudesse ser reconhecido juntamente com
outras peças do mesmo período.



ênfase no sistema em detrimento da diacronia
- o que faz de Adler pioneiro com relação aos
historiadores da literatura que começariam a
falar de sistemas literários após as
proposições dos formalistas russos (Pg.546)
Para Adler, seria fundamental estudar o
"caráter expressivo" de uma composição
musical levando em conta a personalidade
do artista e a atmosfera da época (pg. 547).

Oposições dicotômicas: classicismo x
romantismo; homofonia x sinfonia; vocal x
instrumental; lírico x dramático; religioso x
profano (pg. 547).
Os Pré-semioticistas



Heinrich Schenker (1868-1935) e
   Ernst Kurth (1868-1935)
Heinrich Schenker (Áustria,
       1868-1935)
aluno (como Adler) do grande compositor Anton Bruckner

Ursatz

  Princípio de uma estrutura musical fundamental (Ursatz) que poderia
  se converter de um plano posterior (Hintergrund) para um
  intermediário (Mittelgrund) até chegar ao chamado plano frontal ou
  primeiro plano (Vordegrund) (pg. 547).

  Os acontecimentos sonoros separados por um intervalo de tempo se
  tornam significativos à medida que constituem uma Urlinie, linha de
  tensividade de uma peça (pg. 547).

  O modelo de Schenker foi constantemente acusado de dogmatismo,
  reducionismo e de reduzir sempre toda e qualquer composição à
  mesma Ursatz, nivelando assim peças dos mais diversos estilos,
Compatibilidade com a semiótica e gerativismo

   Eugene Narmour, em sua obra Beyond Schenkerism (1977),
   propõe uma abordagem semiótica para o modelo de Schenker

   Com a publicação de "A Generative Theory of Tonal
   Music" em 1985 pelo musicólogo Fred Lerdahl e pelo
   lingüista Ray Jackendorff, evidencia-se a proximidade entre o
   modelo schenkeriano e a concepção "arborescente" de Noam
   Chomsky (pg. 548).

   Leonard Bernstein, em seu "Unanswered Question" (1976),
   sugere o paralelismo estrutural entre a expressão lingüística e
   musical (pg. 548).
Ernst Kurth (Viena, 1868-Berna, 1935)
Aluno de Adler em Viena.

Continuum

   O modelo de Kurth se contrapõe às concepções analíticas que se
   valem da segmentação e da taxonomia, propondo uma abordagem a
   partir de um continuum, em que não seriam os significantes ou signos
   auditivos o ponto central, mas sim seu significado - entendido como a
   "energia cinética" que se manifesta através da cadeia sintagmática
   (pg. 548).

Temporalidade

   Dessa forma, Kurth se aproxima da concepção proposta por Henri
   Bergson de duas espécies de temporalidade: um "tempo espacial"
   mensurável objetivamente e um "tempo durativo" fenomenológico e
   vivenciado (pg. 548).
Significação

  O estímulo sonoro gerado pela música funcionaria sempre
  como signo de algo;

  seria fundamental abordar aquilo que é suscitado na alma
  humana ao conceber ou escutar música;

Gerativismo

  a análise deveria caminhar de uma estrutura profunda de
  invariância para a superfície do discurso(em uma
  abordagem semelhante à estruturalista e gerativista).
Boris V. Asafiev (1844-1948)
teoria da entoação - associa cada elemento musical
(intervalo, ritmo, motivo, timbre etc) a um valor emocional.

A cadeia de entoação seria regida por categorias como
“initium”, “motus” (movimento) e “terminus” (cadência)

O espírito da época tenderia a influenciar nitidamente a
entoação correspondente a cada período histórico

dominante na Europa Oriental a partir da 2a Guerra
Mundial

Assinava também como Igor Glebow
Leonard B. Meyer (1918-2007)
Modelo analítico baseado no conceito de implicação

arquétipos musicais como a simetria, eixo, acorde perfeito,
horror vacui etc determinariam parâmetros de expectativa

Assim, o começo de uma dada peça já sugeriria, ainda que não
de forma unívoca, sua continuidade e fim

Suas análises do “Tristão” de Wagner e da “Sonata do
Adeus”, de Beethoven, tornaram-se clássicas

seu modelo se aproxima do pensamento de Kurth
Susanne K. Langer (1895-1985)
Susanne K. Langer (1895-1985)

 a música não geraria efeitos de sentido
 patêmico através de índices, mas através de
 sua “expressão lógica”

 Segue a linha de Ernst Cassirer
 (1874-1945)
Semiótica Musical
Nasce no final dos anos 1950, no seio do estruturalismo e
da perspectiva apontada por Lévi-Strauss em sua
Antropologia Estrutural (1958) de que a lingüística teria
ocasionado uma “revolução coperniciana” nas ciências
humanas, levando a elas o rigor científico da fonética
estrutural e acenando com a possibilidade de um nível de
exatidão semelhante ao das ciências naturais.
Nicolas Ruwet (Bélgica,
   1932-Paris, 2001)

e a análise paradigmática
Belga, lingüista de formação, foi aluno de Lévi-Strauss, Roman
Jakobson e, no MIT, de Noam Chomsky.
Jakobson costumava dizer sobre ele: “bom em línguas, melhor
em poesia, e o melhor em cinema”.
Tornou-se posteriormente professor de Lingüística da
Universidade de Paris VIII, tendo o mérito de ter introduzido
as idéias de Jakobson e Chomsky no meio intelectual francês.
Seu método, conhecido como análise paradigmática, consiste
em determinar as unidades constituintes do discurso musical e
estudar como as mesmas se encadeiam, determinando assim
sua sintaxe.
afirmava que uma das características do discurso musical seria
seu uso peculiar da repetição e da transformação (variações) de
um dado elemento.
Assumia no discurso musical o conceito de função poética em
Jakobson, ou seja, que haveria uma equivalência entre os eixos
paradigmático e sintagmático.
qualquer elemento que fosse repetido ou variado seria
considerado como uma unidade do paradigma.
motivos idênticos como intervalos e padrões rítmicos eram
dispostos em tabelas superpostas, estruturando em um único
esquema a distribuição do material musical de uma peça
musical.
sua obra foi considerada como a primeira contribuição de
peso da lingüística para a musicologia.
propunha uma relação metodológica dialética entre obra e
estilo, seguindo daí os estudos de Charles Rosen e Leonard
Meyer.
Jean-Jacques Nattiez (1945)




Paradigma, interdiscurso e
       pragmática
Jean-Jacques Nattiez (1945)
francês, estudou com com Nicolas Ruwet e com Jean
Molino, estabelecendo-se mais tarde como professor na
Universidade de Montreal.
Nattiez, ao analisar “Syrinx”, de Debussy, conclui não ser
possível distinguir no continuum debussyiano o paradigma de
tal peça sem um conhecimento prévio da obra e estilística do
autor, dada a variabilidade do material temático na
composição.
Para Tarasti (pg. 555), isso poria em cheque o modelo
paradigmático, dado que “o ideal da análise é encontrar um
método inteiramente automático para a análise por
computador”.
Ainda segundo Tarasti, o método paradigmático apenas
responderia bem às características da música monódica,
perdendo sua eficácia, por exemplo, em uma fuga de Bach,
onde a textura não é apenas linear, mas também harmônica
(pg. 555).
O objetivo do método paradigmático seria o de se chegar a
uma gramática gerativa dos textos musicais conforme a
concepção proposta por Chomsky.
Dessa forma, se poderiam chegar a determinados princípios a
partir dos quais seria possível gerar músicas em certos estilos
sem que fosse possível as distinguir de textos autênticos (?).
Entre os que trilharam tal caminho, destacam-se o finlandês
Erkki Pekkilä, trabalhando a música folclórica de seu país, e
Lerdahl e Jackendoff , analisando o estilo de Mozart.
Segundo Tarasti (pg. 556), nem o gerativismo de Chomsky
nem o método paradigmático de Ruwet levariam em conta o
fato de que os significantes musicais se associariam a um
significado.
Ao se considerar como característica essencial da música que
ela deva apresentar tanto um significante como um
significado (Saussure), um plano de expressão quanto um do
conteúdo (Hjelmslev), que ela represente algo para alguém
(Peirce), uma semiótica musical precisará forçosamente se
debruçar sobre o problema da significação.
Nattiez desenvolve seu modelo chamando de “nível neutro” o
texto musical propriamente dito; de “poiesis” sua criação/
enunciação; e “aisthesis” sua recepção. Além disso, propõe
que se dê maior clareza aos critérios para a a análise
paradigmática, como em sua análise do coro de “Tristão e
Isolda” nas interpretações de Chéreau e Boulez.
Gino Stefani (1929)
procura desenvolver uma vertente de semiótica
musical aplicável à educação musical,
musicoterapia e animação cultural



Em sua obra “Competenza Musicale”, define
dois tipos de competência musical: uma popular,
outra erudita. A competência comportaria 5
níveis: a) obra; b) estilo; c) técnicas musicais; d)
práticas sociais; e) códigos gerais
Eero Tarasti (1948)




o legado greimasiano
em um primeiro momento, busca a interação entre mito e música a partir
da proposta de Lévi-Strauss em “O cru e o cozido”, acreditando poder
assim abordar e investigar o sentido musical. Emprega em seu modelo os
conceitos de:

  isotopia, entendida como:

     a) uma estrutura profunda atemporal como um quadrado semiótico a qual
     se converte em uma diacronia

     b) um Ursatz schenkeriano

     c) uma estratégia retórica e/ou estilística

     d) a tematicidade musical

     e) categorias da enunciação (ator, espaço, tempo)

  enuncividade x enunciatividade; embreagem x debreagem

  modalidades

  semas/femas
Márta Grabócz




dos classemas às isotopias
emprega o conceito de classema para definir os semas
contextuais recorrentes em um texto musical, e que se
encadeiam sintagmaticamente compondo as isotopias
aproxima seu conceito de classema à concepção de entoação
segundo Asafiev
assim, a isotopia de heroísmo seria composta pelos classemas
“agitato”, “marcha”, “recitativo”, “triunfo grandioso”,
“fanfarra militar”. Em Liszt, sua especialidade, ela identifica
como principais isotopias “sofrimento”, “pastoral”,
“religioso”, “panteísmo” (este composto por uma combinação
dos dois últimos). Se algumas obras utilizariam apenas uma
isotopia, outras, como a Sonata em Bm, poderiam apresentar
6: “busca”, “pastoral-amorosa”, “heróica”, “luta macabra”,
“religiosa” e “panteísmo”.
Robert Hatten




os signos distintivos no discurso musical
conceito de markedness/signe distictif (Troubetzkoy, Jakobson,
Shapiro) - as oposições estilísticas seriam assimétricas,
apresentando o termo marcado menor abrangência que o não-
marcado.

Ex: no estilo clássico, o acorde menor seria marcado com relação ao
maior, estabelecendo uma oposição do tipo trágico x não-trágico.

Daí decorreria a menor quantidade de peças em modo menor, e a
freqüência de títulos que as particularizariam como “Appassionata”,
“A Tempestade” etc (pg. 571).

a oposição marcado x não-marcado se homologaria a oposições
como significado musical (relacionado à sintaxe musical
propriamente dita) e significado extramusical (estados expressivos,
trajetórias dramáticas, narratividade, interpretação alegórica etc).

desenvolvimento dos conceitos de interpretante e interpretação
Críticas de Hatten
“a distinção saussuriana entre significante e significado foi criticada pelo
dualismo radical que impõe entre o veículo físico do signo e sua significação ou
seu conteúdo imaterial, como se o sistema não fosse mais que um código
prescrevendo uma referência semântica fixa para cada unidade... Nós veremos
como uma concepção peirciana entre os dois termos fornece a mediação
crucial de um intérprete implícito para explicar a semiose” (pg. 565).

A abordagem paradigmática foi criticada por ter ignorado a aquisição da
competência estilística e por não contemplar a hipótese abdutiva (Peirce)
criativa na determinação da segmentação adotada.

a crítica ao pensamento gerativista se fundaria:

   na importância conferida à hierarquização baseada em uma oposição
   primária única entre instabilidade/tensão e estabilidade/relaxamento,
   deixando de lado outras formas de função e/ou significação musical

   no estabelecimento da significação a partir da motivação dada por
   uma estrutura (pg. 567).
David Lidov (1941)




da gestualidade (Barthes) à
       significação
Lidov funda parte de seu pensamento no conceito de
gestualidade tal qual proposto por Barthes.
Barthes teria visto no gesto encarnado uma alternativa à
esterilidade formal das semiologias fundadas na estrutura
musical (p. 574).
Para Barthes, a música seria não um sistema de símbolos, mas
um campo de significação em que o referente seria o corpo, o
qual passaria à música como significante.
As “figuras corporais” constituiriam metáforas fundamentais
para a significação musical, ainda que Barthes não negue as
possibilidades de uma abordagem mais formal sobre aspectos
melódicos, rítmicos etc.
Assim, Lidov procura através do conceito de “gestos
musicais” estabelecer uma relação entre a gestualidade física
e uma lógica musical mais abstrata e formal
o gesto, nascendo sob a forma de ícone ou índice, ganharia
o estatuto de símbolo ao passar a funcionar dentro de um
sistema formal
o desenvolvimento a partir de fragmentação, inversão,
transposição etc pode - mas não necessariamente deve -
engendrar imagens de sentimentos
o movimento seria então o objeto da representação
melódica, e seu interpretante seria o comportamento
expressivo do sujeito
caráter duplo do representamen melódico: arranjo de entidades
disjuntas e continuum modulado de elevações e quedas
questão: como a música faz da emoção o seu objeto?
a emoção estaria fundada no texto a partir do gesto musical,
passando pelo conceito de sentic forms de Manfred Clynes
( http://www.rexresearch.com/clynsens/clynes.htm )
proposta da oposição fundamental do tipo descontinuidade x
continuidade para o plano de expressão musical
Naomi Cumming
     (1960-1999)




pragmática, enunciação e
    sentido musical
investigou de que forma a subjetividade do intérprete
interfere no sentido da obra
pesquisou ainda a subjetividade
  na obra - como formas de exprimir a identidade do autor
  e/ou do enunciador
  no processo de escuta - como formas de (re)construir a
  identidade do ouvinte
    escolhas
    hábitos
    empatia e/ou contágio
Contribuições da semiótica musical
      para a semiótica geral
Um dos principais efeitos de sentido que se dá normalmente no discurso
musical é justamente o de ele apresentar um sentido, ainda que não
verbalizável, ainda que alheio a uma definição de sua significação, ou à
existência de uma metalinguagem amadurecida capaz de desvendar sua
estruturação.

“a semiótica trabalha com os significantes; a hermenêutica, com os
significados” (Goutman, 2003:46)

não se pode postular uma ciência geral dos signos - ou uma teoria geral
da linguagem e dos signos - enquanto não se transcender com
consistência as fronteiras da linguagem verbal

cabe pois dar continuidade a uma teoria geral da linguagem e dos signos
discernindo as invariâncias entre a estrutura da linguagem musical e
aquelas das demais formas de expressão

a semiótica musical pode ainda contribuir para uma compreensão mais
profunda da oralidade, em particular do papel da entoação (acentuação e
modulação), ritmo, e timbre vocal no processo de geração de sentido
um aprofundamento da compreensão dos efeitos de sentido de
temporalidade a partir de suas peculiaridades no discurso musical pode
também trazer contribuições significativas à semiótica geral, dada a
maior concretude em seu seio da categorização proposta por Zielberberg
para seu estudo (tempo mnésico, rítmico, cinemático e cronológico)

cabe ainda investigar a relação entre a abstração do discurso musical e a
gestualidade que o produz, tomando-se o gestual como motivação
expressiva do estrutural, e o estrutural como motivação lógica do
emocional e conceitual

Para Tarasti, “outras correntes não menos importantes que se
manifestariam sobre questões de semiótica musical teriam sido
impedidas de se impor internacionalmente devido a barreiras de ordem
lingüística (pg.556)”.

o modelo de Tatit, em particular, representa uma contribuição
significativa para a semiótica geral, inclusive por constituir uma
ferramenta analítica particularmente acessível aos não-iniciados em
lingüística e/ou musicologia
Contribuições da semiótica musical
       para a musicologia
Delinear critérios consistentes para uma distinção entre os aspectos
predominantemente objetivos e subjetivos da semântica musical

Fornecer subsídios para uma maior compreensão da linguagem
musical e de sua estruturação

Redefinição das características essenciais que compõem um dado
estilo, passando a abranger não apenas um inventário de elementos
paradigmáticos, mas também procedimentos sintagmáticos que lhe
sejam peculiares

Ampliar o escopo analítico dos textos “exclusivamente” musicais,
estabelecendo critérios para sua consideração também nos textos
sincréticos em que estejam inseridos.

Estabelecer critérios consistentes e objetivos para se analisar o
processo de geração de sentido musical, como sugere Cumming, não
apenas a partir da obra em si, mas também a partir da enunciação por
parte do intérprete e da leitura por parte do interpretante/ouvinte.
Bibliografia
Adler, Guido. Der Stil in der Musik. Leipzig: Breitkopf & Härtel, 1911.

_____. Methode der Musikgeschichte. Leipzig: Breitkopf & Härtel, 1911.

Asafiev, Boris. Musical form as a process. Ohio: Ohio State University, 1977.

Barthes, Roland. “Rasch”. In: The responsibility of forms: critical essays on music, art and
representation. Berkeley: University of California Press, 1980.

Bergson, Henri. La pensée et le mouvant. Paris: PUF, 1975.

Bernstein, Leonard. The unanswered question. Six talks at Harvard. Cambridge: Harvard
University Press, 1976.

Cumming, Naomi. The sonic self: musical subjectivity and signification. Bloomington: Indiana
University Press, 2000.

Grábocz, Márta. Mophologie des oeuvres pour piano de Liszt : influence du programme sur
l’evolution des formes instrumentales. Paris: Éditions Kim, 1996.

Goutman, Ana. “Sema, Semántica, Semiótica, Semiologia, Cultura”. In: Revista mexicana de
ciencias políticas y sociales. México: UNAM, 2003.
Bibliografia
Hénault, Anne (org.). Questions de sémiotique. Paris: PUF, 2002.

Kurth, Ernst. Grundlagen des linearen Kontrapunkts. Bachs melodische Poliphonie. Berlin: Hesse,
1922.

_____. Romantische Harmonie und die Krise in Wagners “Tristan”. Zurich: Georg Olms, 1985.

Lerdahl, Fred & Jackendoff, Ray. A generative theory of tonal music. Cambridge: The MIT
Press, 1983

Lerdahl, Fred & Jackendoff, Ray. A generative theory of tonal music. Cambridge: The MIT
Press, 1983.

Lotman, Yuri et alia. “Theses on the semiotic study of cultures”. In: The te$-tale sign: a survey
of semiotics. Lisse: Peter de Ridder Press, 1975.

Narmour, Eugen. Beyond Schenkerism. The Need for Alternatives in Music Analysis. Chicago: The
University of Chicago Press, 1977.

Ruwet, Nicolas. Langage, musique, poésie. Paris: Seuil, 1972.
Bibliografia
Schenker, Heinrich. Neue musikalischeTheorien und Phantasien: Der Frete Satz. Viena: Universal
Edition, 1956.

Stefani, Gino. La competenza musicale. Bologna: CLUEB, 1982.

Tarasti, Eero. Myth and music: a semiotic approach to the aesthetics of myth in music, especia$y that
of Wagner, Sibelius and Stravinsky. Helsinque: Suomen Musikkitieteellinen, Seura, 1978.

_____. “Sur les structures élémentaires du discours musical”. In: Actes sémiotiques. Paris:
EHESS, 1983.

_____. “À la recherche des modalités musicales”. In: Parret, Hermann (ed.). Exigences et
perspectives de la sémiotique. Amsterdam: Benjamins, 1985.

_____. “Le rôle du temps dans le discours musical”. In: Arrivé, Michel & Coquet, Jean-
Claude (eds.). Sémiotique en jeu. À partir et autour de l’oeuvre de Algirdas Julien Greimas.
Limoges: PULIM, 1987.

_____. Sémiotique musicale. Limoges: PULIM, 1996.
Contatos


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Prof. Dr. Ricardo Nogueira de Castro Monteiro
       Universidade Anhembi Morumbi
      Laureate International Universities

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A semiotica e o sentido na musica

  • 1. A SEMIÓTICA E O SENTIDO NA MÚSICA contribuições, questões e perspectivas (1990-2010) Prof. Dr. Ricardo Nogueira de Castro Monteiro Universidade Anhembi Morumbi Laureate International Universities
  • 2. A presente comunicação visa oferecer uma visão panorâmica de algumas das principais contribuições de semioticistas de diferentes correntes para o estudo do sentido na música, bem como algumas das mais relevantes questões metodológicas e/ou conceituais com que os pesquisadores vêm-se deparando ao longo de suas investigações.
  • 3. Discurso musical Questões centrais • Metalingüísticas • natureza da significação musical (que estados de coisas? que estados de alma?) • baixa figuratividade; verbalização problemática • sentido intrínseco ou extrínseco à obra musical • pensamento musical x Vygotsky (1896-1934) • Metodológicas • diversos recortes possíveis para a percepção do discurso • possibilidades de acepções de temporalidade (cf. Zilberberg) por um viés cronológico, mnésico, rítmico e/ou cinemático
  • 4. • Lingüísticas • hipótese de um paralelismo ou analogia entre a expressão verbal e musical a partir do fato de ambas se constituírem a partir de cadeias de signos acústicos. • Formais • como superar a denotação para atingir a conotação? • como transcender a classificação para chegar a uma interpretação? • como superar o formalismo e chegar a uma hermenêutica?
  • 5. Hénault, Anne (org.). Questions de sémiotique. Paris: PUF, 2002. Sémiotique et musique (p.545)
  • 6. Sémiotique et musique (p.545) o caráter de duplicidade do representamen melódico, com seu arranjo de entidades disjuntas e seu contimuum modulando elevações e quedas, fez dos estudos consagrados à melodia um cruzamento conceitual onde puderam se encontrar as duas grandes formas de sistematização da semiótica, a saussuriana e a peirciana (p.543). a separação que aparece na Europa na metade dos anos 1980 entre a teoria standard descontinuísta e a nova semiótica continuísta encontra precisamente no corpus dos textos musicais o tipo de objetos de estudos capaz de encorajar novas descobertas tanto sobre as formas como se dá a experiência musical como sobre as modulações aspectuais, modais e de acentuação (p.543).
  • 7. Um enfoque semiótico sobre a história da musicologia, por Eero Tarasti (p.545). História da musicologia origens: regiões de língua alemã; 2a metade do século XIX criador do termo: Friedrich Chrysander, 1863. primeiros catedráticos: Eduard Hanslick em Viena (1861), com sua estética musical formalista; Wilhelm August Ambrose em Praga (1869), com sua historiografia da música
  • 8. “A música indiana, por exemplo, aparecia como uma espécie de não-cultura (Lotman et alia, 1975) que devia ser transformada desde a raiz em cultura através da introdução de similaridades com relação à música européia” (p.546). A semiótica musical se situa entre os dois pólos de Guido Adler (histórico e sistemático), já que, por um lado, ela busca leis universais que rejam as diversas práticas musicais, e por outro, explora os signos e símbolos musicais enquanto entidades estilísticas que se transformam ao longo da história. (pg 546)
  • 9. Guido Adler (1855-1941) austríaco - fundador da musicologia moderna
  • 10. Guido Adler (1855-1941) aluno do grande compositor Anton Bruckner musicologia histórica x musicologia sistemática Para Adler, a principal ferramenta da historiografia musical seria o conceito de estilo, pelo qual uma obra musical poderia ser observada sob uma perspectiva objetiva (pg. 546).
  • 11. menos interesse na obra individual e singular do que em um certo linguajar musical que pudesse ser reconhecido juntamente com outras peças do mesmo período. ênfase no sistema em detrimento da diacronia - o que faz de Adler pioneiro com relação aos historiadores da literatura que começariam a falar de sistemas literários após as proposições dos formalistas russos (Pg.546)
  • 12. Para Adler, seria fundamental estudar o "caráter expressivo" de uma composição musical levando em conta a personalidade do artista e a atmosfera da época (pg. 547). Oposições dicotômicas: classicismo x romantismo; homofonia x sinfonia; vocal x instrumental; lírico x dramático; religioso x profano (pg. 547).
  • 13. Os Pré-semioticistas Heinrich Schenker (1868-1935) e Ernst Kurth (1868-1935)
  • 15. aluno (como Adler) do grande compositor Anton Bruckner Ursatz Princípio de uma estrutura musical fundamental (Ursatz) que poderia se converter de um plano posterior (Hintergrund) para um intermediário (Mittelgrund) até chegar ao chamado plano frontal ou primeiro plano (Vordegrund) (pg. 547). Os acontecimentos sonoros separados por um intervalo de tempo se tornam significativos à medida que constituem uma Urlinie, linha de tensividade de uma peça (pg. 547). O modelo de Schenker foi constantemente acusado de dogmatismo, reducionismo e de reduzir sempre toda e qualquer composição à mesma Ursatz, nivelando assim peças dos mais diversos estilos,
  • 16. Compatibilidade com a semiótica e gerativismo Eugene Narmour, em sua obra Beyond Schenkerism (1977), propõe uma abordagem semiótica para o modelo de Schenker Com a publicação de "A Generative Theory of Tonal Music" em 1985 pelo musicólogo Fred Lerdahl e pelo lingüista Ray Jackendorff, evidencia-se a proximidade entre o modelo schenkeriano e a concepção "arborescente" de Noam Chomsky (pg. 548). Leonard Bernstein, em seu "Unanswered Question" (1976), sugere o paralelismo estrutural entre a expressão lingüística e musical (pg. 548).
  • 17. Ernst Kurth (Viena, 1868-Berna, 1935)
  • 18. Aluno de Adler em Viena. Continuum O modelo de Kurth se contrapõe às concepções analíticas que se valem da segmentação e da taxonomia, propondo uma abordagem a partir de um continuum, em que não seriam os significantes ou signos auditivos o ponto central, mas sim seu significado - entendido como a "energia cinética" que se manifesta através da cadeia sintagmática (pg. 548). Temporalidade Dessa forma, Kurth se aproxima da concepção proposta por Henri Bergson de duas espécies de temporalidade: um "tempo espacial" mensurável objetivamente e um "tempo durativo" fenomenológico e vivenciado (pg. 548).
  • 19. Significação O estímulo sonoro gerado pela música funcionaria sempre como signo de algo; seria fundamental abordar aquilo que é suscitado na alma humana ao conceber ou escutar música; Gerativismo a análise deveria caminhar de uma estrutura profunda de invariância para a superfície do discurso(em uma abordagem semelhante à estruturalista e gerativista).
  • 20. Boris V. Asafiev (1844-1948)
  • 21. teoria da entoação - associa cada elemento musical (intervalo, ritmo, motivo, timbre etc) a um valor emocional. A cadeia de entoação seria regida por categorias como “initium”, “motus” (movimento) e “terminus” (cadência) O espírito da época tenderia a influenciar nitidamente a entoação correspondente a cada período histórico dominante na Europa Oriental a partir da 2a Guerra Mundial Assinava também como Igor Glebow
  • 22. Leonard B. Meyer (1918-2007)
  • 23. Modelo analítico baseado no conceito de implicação arquétipos musicais como a simetria, eixo, acorde perfeito, horror vacui etc determinariam parâmetros de expectativa Assim, o começo de uma dada peça já sugeriria, ainda que não de forma unívoca, sua continuidade e fim Suas análises do “Tristão” de Wagner e da “Sonata do Adeus”, de Beethoven, tornaram-se clássicas seu modelo se aproxima do pensamento de Kurth
  • 24. Susanne K. Langer (1895-1985)
  • 25. Susanne K. Langer (1895-1985) a música não geraria efeitos de sentido patêmico através de índices, mas através de sua “expressão lógica” Segue a linha de Ernst Cassirer (1874-1945)
  • 27. Nasce no final dos anos 1950, no seio do estruturalismo e da perspectiva apontada por Lévi-Strauss em sua Antropologia Estrutural (1958) de que a lingüística teria ocasionado uma “revolução coperniciana” nas ciências humanas, levando a elas o rigor científico da fonética estrutural e acenando com a possibilidade de um nível de exatidão semelhante ao das ciências naturais.
  • 28. Nicolas Ruwet (Bélgica, 1932-Paris, 2001) e a análise paradigmática
  • 29. Belga, lingüista de formação, foi aluno de Lévi-Strauss, Roman Jakobson e, no MIT, de Noam Chomsky. Jakobson costumava dizer sobre ele: “bom em línguas, melhor em poesia, e o melhor em cinema”. Tornou-se posteriormente professor de Lingüística da Universidade de Paris VIII, tendo o mérito de ter introduzido as idéias de Jakobson e Chomsky no meio intelectual francês. Seu método, conhecido como análise paradigmática, consiste em determinar as unidades constituintes do discurso musical e estudar como as mesmas se encadeiam, determinando assim sua sintaxe. afirmava que uma das características do discurso musical seria seu uso peculiar da repetição e da transformação (variações) de um dado elemento.
  • 30. Assumia no discurso musical o conceito de função poética em Jakobson, ou seja, que haveria uma equivalência entre os eixos paradigmático e sintagmático. qualquer elemento que fosse repetido ou variado seria considerado como uma unidade do paradigma. motivos idênticos como intervalos e padrões rítmicos eram dispostos em tabelas superpostas, estruturando em um único esquema a distribuição do material musical de uma peça musical. sua obra foi considerada como a primeira contribuição de peso da lingüística para a musicologia. propunha uma relação metodológica dialética entre obra e estilo, seguindo daí os estudos de Charles Rosen e Leonard Meyer.
  • 31. Jean-Jacques Nattiez (1945) Paradigma, interdiscurso e pragmática
  • 32. Jean-Jacques Nattiez (1945) francês, estudou com com Nicolas Ruwet e com Jean Molino, estabelecendo-se mais tarde como professor na Universidade de Montreal. Nattiez, ao analisar “Syrinx”, de Debussy, conclui não ser possível distinguir no continuum debussyiano o paradigma de tal peça sem um conhecimento prévio da obra e estilística do autor, dada a variabilidade do material temático na composição. Para Tarasti (pg. 555), isso poria em cheque o modelo paradigmático, dado que “o ideal da análise é encontrar um método inteiramente automático para a análise por computador”.
  • 33. Ainda segundo Tarasti, o método paradigmático apenas responderia bem às características da música monódica, perdendo sua eficácia, por exemplo, em uma fuga de Bach, onde a textura não é apenas linear, mas também harmônica (pg. 555). O objetivo do método paradigmático seria o de se chegar a uma gramática gerativa dos textos musicais conforme a concepção proposta por Chomsky. Dessa forma, se poderiam chegar a determinados princípios a partir dos quais seria possível gerar músicas em certos estilos sem que fosse possível as distinguir de textos autênticos (?). Entre os que trilharam tal caminho, destacam-se o finlandês Erkki Pekkilä, trabalhando a música folclórica de seu país, e Lerdahl e Jackendoff , analisando o estilo de Mozart.
  • 34. Segundo Tarasti (pg. 556), nem o gerativismo de Chomsky nem o método paradigmático de Ruwet levariam em conta o fato de que os significantes musicais se associariam a um significado. Ao se considerar como característica essencial da música que ela deva apresentar tanto um significante como um significado (Saussure), um plano de expressão quanto um do conteúdo (Hjelmslev), que ela represente algo para alguém (Peirce), uma semiótica musical precisará forçosamente se debruçar sobre o problema da significação. Nattiez desenvolve seu modelo chamando de “nível neutro” o texto musical propriamente dito; de “poiesis” sua criação/ enunciação; e “aisthesis” sua recepção. Além disso, propõe que se dê maior clareza aos critérios para a a análise paradigmática, como em sua análise do coro de “Tristão e Isolda” nas interpretações de Chéreau e Boulez.
  • 36. procura desenvolver uma vertente de semiótica musical aplicável à educação musical, musicoterapia e animação cultural Em sua obra “Competenza Musicale”, define dois tipos de competência musical: uma popular, outra erudita. A competência comportaria 5 níveis: a) obra; b) estilo; c) técnicas musicais; d) práticas sociais; e) códigos gerais
  • 37. Eero Tarasti (1948) o legado greimasiano
  • 38. em um primeiro momento, busca a interação entre mito e música a partir da proposta de Lévi-Strauss em “O cru e o cozido”, acreditando poder assim abordar e investigar o sentido musical. Emprega em seu modelo os conceitos de: isotopia, entendida como: a) uma estrutura profunda atemporal como um quadrado semiótico a qual se converte em uma diacronia b) um Ursatz schenkeriano c) uma estratégia retórica e/ou estilística d) a tematicidade musical e) categorias da enunciação (ator, espaço, tempo) enuncividade x enunciatividade; embreagem x debreagem modalidades semas/femas
  • 40. emprega o conceito de classema para definir os semas contextuais recorrentes em um texto musical, e que se encadeiam sintagmaticamente compondo as isotopias aproxima seu conceito de classema à concepção de entoação segundo Asafiev assim, a isotopia de heroísmo seria composta pelos classemas “agitato”, “marcha”, “recitativo”, “triunfo grandioso”, “fanfarra militar”. Em Liszt, sua especialidade, ela identifica como principais isotopias “sofrimento”, “pastoral”, “religioso”, “panteísmo” (este composto por uma combinação dos dois últimos). Se algumas obras utilizariam apenas uma isotopia, outras, como a Sonata em Bm, poderiam apresentar 6: “busca”, “pastoral-amorosa”, “heróica”, “luta macabra”, “religiosa” e “panteísmo”.
  • 41. Robert Hatten os signos distintivos no discurso musical
  • 42. conceito de markedness/signe distictif (Troubetzkoy, Jakobson, Shapiro) - as oposições estilísticas seriam assimétricas, apresentando o termo marcado menor abrangência que o não- marcado. Ex: no estilo clássico, o acorde menor seria marcado com relação ao maior, estabelecendo uma oposição do tipo trágico x não-trágico. Daí decorreria a menor quantidade de peças em modo menor, e a freqüência de títulos que as particularizariam como “Appassionata”, “A Tempestade” etc (pg. 571). a oposição marcado x não-marcado se homologaria a oposições como significado musical (relacionado à sintaxe musical propriamente dita) e significado extramusical (estados expressivos, trajetórias dramáticas, narratividade, interpretação alegórica etc). desenvolvimento dos conceitos de interpretante e interpretação
  • 43. Críticas de Hatten “a distinção saussuriana entre significante e significado foi criticada pelo dualismo radical que impõe entre o veículo físico do signo e sua significação ou seu conteúdo imaterial, como se o sistema não fosse mais que um código prescrevendo uma referência semântica fixa para cada unidade... Nós veremos como uma concepção peirciana entre os dois termos fornece a mediação crucial de um intérprete implícito para explicar a semiose” (pg. 565). A abordagem paradigmática foi criticada por ter ignorado a aquisição da competência estilística e por não contemplar a hipótese abdutiva (Peirce) criativa na determinação da segmentação adotada. a crítica ao pensamento gerativista se fundaria: na importância conferida à hierarquização baseada em uma oposição primária única entre instabilidade/tensão e estabilidade/relaxamento, deixando de lado outras formas de função e/ou significação musical no estabelecimento da significação a partir da motivação dada por uma estrutura (pg. 567).
  • 44. David Lidov (1941) da gestualidade (Barthes) à significação
  • 45. Lidov funda parte de seu pensamento no conceito de gestualidade tal qual proposto por Barthes. Barthes teria visto no gesto encarnado uma alternativa à esterilidade formal das semiologias fundadas na estrutura musical (p. 574). Para Barthes, a música seria não um sistema de símbolos, mas um campo de significação em que o referente seria o corpo, o qual passaria à música como significante. As “figuras corporais” constituiriam metáforas fundamentais para a significação musical, ainda que Barthes não negue as possibilidades de uma abordagem mais formal sobre aspectos melódicos, rítmicos etc.
  • 46. Assim, Lidov procura através do conceito de “gestos musicais” estabelecer uma relação entre a gestualidade física e uma lógica musical mais abstrata e formal o gesto, nascendo sob a forma de ícone ou índice, ganharia o estatuto de símbolo ao passar a funcionar dentro de um sistema formal o desenvolvimento a partir de fragmentação, inversão, transposição etc pode - mas não necessariamente deve - engendrar imagens de sentimentos o movimento seria então o objeto da representação melódica, e seu interpretante seria o comportamento expressivo do sujeito
  • 47. caráter duplo do representamen melódico: arranjo de entidades disjuntas e continuum modulado de elevações e quedas questão: como a música faz da emoção o seu objeto? a emoção estaria fundada no texto a partir do gesto musical, passando pelo conceito de sentic forms de Manfred Clynes ( http://www.rexresearch.com/clynsens/clynes.htm ) proposta da oposição fundamental do tipo descontinuidade x continuidade para o plano de expressão musical
  • 48. Naomi Cumming (1960-1999) pragmática, enunciação e sentido musical
  • 49. investigou de que forma a subjetividade do intérprete interfere no sentido da obra pesquisou ainda a subjetividade na obra - como formas de exprimir a identidade do autor e/ou do enunciador no processo de escuta - como formas de (re)construir a identidade do ouvinte escolhas hábitos empatia e/ou contágio
  • 50. Contribuições da semiótica musical para a semiótica geral
  • 51. Um dos principais efeitos de sentido que se dá normalmente no discurso musical é justamente o de ele apresentar um sentido, ainda que não verbalizável, ainda que alheio a uma definição de sua significação, ou à existência de uma metalinguagem amadurecida capaz de desvendar sua estruturação. “a semiótica trabalha com os significantes; a hermenêutica, com os significados” (Goutman, 2003:46) não se pode postular uma ciência geral dos signos - ou uma teoria geral da linguagem e dos signos - enquanto não se transcender com consistência as fronteiras da linguagem verbal cabe pois dar continuidade a uma teoria geral da linguagem e dos signos discernindo as invariâncias entre a estrutura da linguagem musical e aquelas das demais formas de expressão a semiótica musical pode ainda contribuir para uma compreensão mais profunda da oralidade, em particular do papel da entoação (acentuação e modulação), ritmo, e timbre vocal no processo de geração de sentido
  • 52. um aprofundamento da compreensão dos efeitos de sentido de temporalidade a partir de suas peculiaridades no discurso musical pode também trazer contribuições significativas à semiótica geral, dada a maior concretude em seu seio da categorização proposta por Zielberberg para seu estudo (tempo mnésico, rítmico, cinemático e cronológico) cabe ainda investigar a relação entre a abstração do discurso musical e a gestualidade que o produz, tomando-se o gestual como motivação expressiva do estrutural, e o estrutural como motivação lógica do emocional e conceitual Para Tarasti, “outras correntes não menos importantes que se manifestariam sobre questões de semiótica musical teriam sido impedidas de se impor internacionalmente devido a barreiras de ordem lingüística (pg.556)”. o modelo de Tatit, em particular, representa uma contribuição significativa para a semiótica geral, inclusive por constituir uma ferramenta analítica particularmente acessível aos não-iniciados em lingüística e/ou musicologia
  • 53. Contribuições da semiótica musical para a musicologia
  • 54. Delinear critérios consistentes para uma distinção entre os aspectos predominantemente objetivos e subjetivos da semântica musical Fornecer subsídios para uma maior compreensão da linguagem musical e de sua estruturação Redefinição das características essenciais que compõem um dado estilo, passando a abranger não apenas um inventário de elementos paradigmáticos, mas também procedimentos sintagmáticos que lhe sejam peculiares Ampliar o escopo analítico dos textos “exclusivamente” musicais, estabelecendo critérios para sua consideração também nos textos sincréticos em que estejam inseridos. Estabelecer critérios consistentes e objetivos para se analisar o processo de geração de sentido musical, como sugere Cumming, não apenas a partir da obra em si, mas também a partir da enunciação por parte do intérprete e da leitura por parte do interpretante/ouvinte.
  • 55. Bibliografia Adler, Guido. Der Stil in der Musik. Leipzig: Breitkopf & Härtel, 1911. _____. Methode der Musikgeschichte. Leipzig: Breitkopf & Härtel, 1911. Asafiev, Boris. Musical form as a process. Ohio: Ohio State University, 1977. Barthes, Roland. “Rasch”. In: The responsibility of forms: critical essays on music, art and representation. Berkeley: University of California Press, 1980. Bergson, Henri. La pensée et le mouvant. Paris: PUF, 1975. Bernstein, Leonard. The unanswered question. Six talks at Harvard. Cambridge: Harvard University Press, 1976. Cumming, Naomi. The sonic self: musical subjectivity and signification. Bloomington: Indiana University Press, 2000. Grábocz, Márta. Mophologie des oeuvres pour piano de Liszt : influence du programme sur l’evolution des formes instrumentales. Paris: Éditions Kim, 1996. Goutman, Ana. “Sema, Semántica, Semiótica, Semiologia, Cultura”. In: Revista mexicana de ciencias políticas y sociales. México: UNAM, 2003.
  • 56. Bibliografia Hénault, Anne (org.). Questions de sémiotique. Paris: PUF, 2002. Kurth, Ernst. Grundlagen des linearen Kontrapunkts. Bachs melodische Poliphonie. Berlin: Hesse, 1922. _____. Romantische Harmonie und die Krise in Wagners “Tristan”. Zurich: Georg Olms, 1985. Lerdahl, Fred & Jackendoff, Ray. A generative theory of tonal music. Cambridge: The MIT Press, 1983 Lerdahl, Fred & Jackendoff, Ray. A generative theory of tonal music. Cambridge: The MIT Press, 1983. Lotman, Yuri et alia. “Theses on the semiotic study of cultures”. In: The te$-tale sign: a survey of semiotics. Lisse: Peter de Ridder Press, 1975. Narmour, Eugen. Beyond Schenkerism. The Need for Alternatives in Music Analysis. Chicago: The University of Chicago Press, 1977. Ruwet, Nicolas. Langage, musique, poésie. Paris: Seuil, 1972.
  • 57. Bibliografia Schenker, Heinrich. Neue musikalischeTheorien und Phantasien: Der Frete Satz. Viena: Universal Edition, 1956. Stefani, Gino. La competenza musicale. Bologna: CLUEB, 1982. Tarasti, Eero. Myth and music: a semiotic approach to the aesthetics of myth in music, especia$y that of Wagner, Sibelius and Stravinsky. Helsinque: Suomen Musikkitieteellinen, Seura, 1978. _____. “Sur les structures élémentaires du discours musical”. In: Actes sémiotiques. Paris: EHESS, 1983. _____. “À la recherche des modalités musicales”. In: Parret, Hermann (ed.). Exigences et perspectives de la sémiotique. Amsterdam: Benjamins, 1985. _____. “Le rôle du temps dans le discours musical”. In: Arrivé, Michel & Coquet, Jean- Claude (eds.). Sémiotique en jeu. À partir et autour de l’oeuvre de Algirdas Julien Greimas. Limoges: PULIM, 1987. _____. Sémiotique musicale. Limoges: PULIM, 1996.
  • 58. Contatos castromonteiro@me.com Prof. Dr. Ricardo Nogueira de Castro Monteiro Universidade Anhembi Morumbi Laureate International Universities

Notas do Editor

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