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UNIVERSIDADE TIRADENTES




        ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA




    O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE-A-FACE
INTERMEDIADA PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING




                   Aracaju
                    2012
ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA




    O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE-A-FACE
INTERMEDIADA PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING




                    Monografia apresentada à Universidade Tiradentes como
                    um dos pré-requisitos para a obtenção do grau de
                    Bacharel em Comunicação Social – Hab. Publicidade e
                    Propaganda. ao Professor Esp. Arthur Leonardo Roeder
                    Neto para a disciplina Projetos Experimentais em
                    Publicidade e Propaganda.




          Prof. Esp. Arthur Leonardo Roeder Neto




                         Aracaju
                          2012
ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA




O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE-A-FACE
INTERMEDIADA PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING


                      Monografia apresentada à Universidade Tiradentes como
                      um dos pré-requisitos para a obtenção do grau de
                      Bacharel em Comunicação Social – Hab. Publicidade e
                      Propaganda. ao Professor Esp. Arthur Leonardo Roeder
                      Neto para a disciplina Projetos Experimentais em
                      Publicidade e Propaganda.




               Aprovada em: _____/_____/_____.

                     Banca Examinadora

  ________________________________________________________
              Prof. Esp. Arthur Leonardo Roeder Neto
                    Universidade Tiradentes – SE

  ________________________________________________________
              Prof. Esp. Cristiano Leal de Barros Lima
                    Universidade Tiradentes – SE

  ________________________________________________________
              Prof. Me. Polyana Bittencourt Andrade
                   Universidade Tiradentes – SE
DEDICATÓRIA

À Dona Lourdinha, por acreditar sempre.
AGRADECIMENTOS


       A todos os que contribuíram, direta ou indiretamente, para que este trabalho fosse
concluído. Em especial:
       À família, pelo apoio nas madrugadas e aos amigos pela torcida constante. Ao meu
orientador Leo Roeder, pelos incentivos, por apostar no projeto e descobrir este universo junto
comigo. À minha co-orientadora “buena onda” Mônica T. Deda, pelo apoio e
acompanhamento constante, mesmo a 4.323 km de distância.
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar o uso da rede social virtual Couchsurfing no
incentivo ao resgate da interação face a face. O site, popularmente conhecido e difundido por
promover o intercâmbio da hospitalidade, propõe a conexão entre viajantes e moradores
locais. A pesquisa foi realizada por meio de um levantamento bibliográfico para a construção
do referencial teórico capaz de auxiliar na compreensão do objeto seguida de uma pesquisa
quali-quantitativa com aplicação de questionário online no grupo Aracaju-SE, foco específico
deste projeto. Espera-se que esta análise incentive o diálogo sobre comunicação digital e
contribua para estudos futuros.

PALAVRAS-CHAVE: Interação mediada; Interação face a                  face; Redes Sociais;
Couchsurfing.
ABSTRACT

This academic research aims at analyzing the use of the virtual social network Couchsurfing
for the purpose of bringing back the face to face interactions. The website, popularly known
and spread for promoting the exchange of hospitality, makes it possible that travelers and
locals connect to each other. The study was conducted based on a bibliographic research in
order to build a theoretical reference capable of helping us understand our object followed by
a quali-quantitative research with the application of an online survey published on the
community Aracaju-SE, this study’s specific object. Hopefully, this project will be able to
stimulate the debate about digital communication and to contribute to future studies.

KEYWORDS:        Mediated    interaction;   Face   to   face   interaction;   Social Networks;
Couchsurfing.
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Tela inicial do Couchsurfing.............................................................. 38

FIGURA 2: Ícones de identificação e qualificação dos usuários............................40

FIGURA 3: Disponibilidade do couch....................................................................40

FIGURA 4: Referências trocadas entre usuários.....................................................42

FIGURA 5: Ranking contendo número do de usuários do CS por país..................43

FIGURA 6: Línguas faladas no CS.........................................................................44
LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Características das interações – Thompson, 2011, p. 123.................................19

TABELA 2: Idiomas mais frequentes falados pelos couchsurfers brasileiros.......................46

TABELA 3: Disponibilidade dos usuários no CS Brasil.......................................................46

TABELA 4: Perfil do gênero dos couchsurfers brasileiros...................................................47

TABELA 5: Média de idade entre os couchsurfers brasileiros.............................................47

TABELA 6: Cidades brasileiras presentes no Couchsurfing...............................................48

TABELA 7: Gênero dos usuários encontrados no Couchsurfing em Sergipe.....................49

TABELA8: Média da idade dos couchsurfers em Sergipe..................................................49

TABELA 9: Sexo dos couchsurfers que responderam ao questionário...........................................53

TABELA 10: Faixa etária dos usurários que responderam ao questionário....................................53

TABELA 11: Tempo de participação no CS pelos respondentes ao questionário...........................54

TABELA 12: Forma como os usuários declaram na pesquisa sua participação no CS...................54

TABELA 13: Como os entrevistados qualificam a experiência no Couchsurfing...........................55

TABELA 14: Referente aos contatos do CS....................................................................................55

TABELA 15: Análise dos laços dos entrevistados criados dentro do CS........................................56

TABELA 16: Referente ao número de pessoas hospedadas pela amostragem................................56

TABELA 17: Referente ao número de vezes que os usuários entrevistados usaram

‘couchs’.................................................................................................................................57

TABELA 18: A experiência proporcionada pelo CS é mais percebida pelos usuários no

ambiente off-line que no ambiente digital............................................................................58
SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ..................................................................................................................11

2- INTERAÇÃO......................................................................................................................16

2.1- Interação face a face..........................................................................................................16

2.2- Interação mediada..............................................................................................................18

2.3- Interação mediada por computador...................................................................................20



3- A SOCIEDADE EM REDE

3.1- O que é rede?.....................................................................................................................26

3.2- Rede Social (face a face)...................................................................................................26

3.3- Rede Social mediada..........................................................................................................26

3.3.1- Web 2.0...........................................................................................................................28

3.3.2- Rede Social na Internet...................................................................................................28

3.3.3- Sites de Redes Sociais.....................................................................................................34




4- COUCHSURFING..............................................................................................................36

4.1. Couchsurfing, um breve histórico e panorama..................................................................36

4.2- Couchsurfing no mundo....................................................................................................42

4.3- Couchsurfing no Brasil......................................................................................................45

4.4- Couchsurfing em Aracaju..................................................................................................48
5- O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE A FACE INTERMEDIADO PELA REDE
SOCIAL COUCHSURFING..................................................................................................51

5.1- Procedimentos metodológicos...........................................................................................51

5.2- Caracterização geral dos dados..........................................................................................52




6- CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................60




7- REFERÊNCIAS..................................................................................................................63




APÊNDICE A (questionário em anexo)................................................................................65




APÊNDICE B (pré-projeto)...................................................................................................68
I. INTRODUÇÃO

       Toda sociedade, independente do seu tempo histórico particular e da sua localização

geográfica específica é necessariamente dinâmica, cada uma com suas características

específicas. Porém, a sociedade (global) contemporânea, com todas as suas interconexões que

extrapolam os mais variados limites espaço-temporais de uma forma talvez nunca imaginada

antes, passa pelas transformações mais diversas de uma maneira e numa velocidade

estonteantes em todos os campos das relações e do conhecimento humanos.

       Neste processo de transformação, a tecnologia, em todas as suas facetas e

possibilidades de aplicação possuem um papel fundamental como força motriz destas

mudanças. É assim que a incorporação cada vez mais constante de equipamentos como TVs,

computadores, celulares, além do próprio ambiente virtual proporcionado pela Internet, no

cotidiano da população acaba provocando mudanças consideráveis em seus hábitos sociais,

culturais e econômicos.

              A revolução tecnológica deu origem ao informacionalismo, tornando-se assim a base
              material desta nova sociedade, em que os valores da liberdade individual e da
              comunicação aberta tornaram-se supremos. No informacionalismo, as tecnologias
              assumem um papel de destaque em todos os segmentos sociais, permitindo o
              entendimento da nova estrutura social – sociedade em rede – e consequentemente, de
              uma nova economia, na qual a tecnologia da informação é considerada uma
              ferramenta indispensável na manipulação da informação e construção do
              conhecimento pelos indivíduos, pois ‘a geração, processamento e transmissão de
              informação torna-se a principal fonte de produtividade e poder’ (CASTELLS, 1999, p.
              21).


       Desta maneira, o avanço da tecnologia e o desenvolvimento de novas ferramentas

possibilitaram uma reflexão do contexto social e das suas limitações. Dentro desta realidade, o

conhecimento individual e centralizado já não é suficiente, e se caracteriza como defasado.

Assim, é possível observar o quanto o compartilhamento do conhecimento desterritorializa a

sociedade por meio dos aparatos tecnológicos que transpõem as barreiras geográficas e

temporais. Ou seja, não é mais preciso estar presente fisicamente para construir um diálogo,
                                                                                              11
participar de um evento ou debate e assistir a um seminário, de modo que a sociedade

contemporânea de compartilhamento da informação acaba redefinindo os métodos e espaços

anteriormente destinados ao aprendizado, como escolas e instituições, deixando, por exemplo,

de ser os únicos espaços de formação intelectual dos cidadãos.

                A finalidade dos sistemas educacionais em pleno século XXI será pois tentar garantir
                a primazia da construção do conhecimento, numa sociedade onde o fluxo de
                informação é vasto e abundante, e em que o papel do professor não deve ser mais o de
                um mero transmissor de conhecimento, mas o de um mediador da aprendizagem. Uma
                aprendizagem que não acontece necessariamente nas instituições escolares, mas, pelo
                contrário, ultrapassa os muros da escola, podendo efectuar-se nos mais diversos
                contextos informais por meio de conexões na rede global. Não queremos apregoar a
                extinção da escola, pois ela será sempre uma instituição de ponta na produção e
                institucionalização do conhecimento, mas, alertar para que precisa estar aberta por
                forma a entender os novos contextos em que pode ser estimulada a construção
                colaborativa do saber (ILLICH, 1985; SIEMENS, 2003) (COUTINHO e LISBÔA,
                2011, p.6).


        Desta forma, o aprendizado ganha um caráter horizontal, criativo, que não obedece a

um prazo estipulado, por exemplo, e que segue constante por toda a vida. Segundo Crawford

(1983, apud Coutinho e Lisbôa, 2011, p.6), um dos primeiros autores a referir o conceito de

Sociedade da Informação (SI) foi o economista Fritz Machlup, na obra publicada em 1962,

The Production and Distribution of Knowledge in the United States 1. No entanto, o

desenvolvimento do conceito deve-se a Peter Drucker, que, em 1966, no bestseller The Age of

Discontinuity2, fala pela primeira vez numa sociedade pós-industrial em que o poder da

economia – que, segundo o autor, teria evoluído da agricultura para a indústria e desta para os

serviços – estava agora assente num novo bem precioso: a informação.

        A Sociedade de Informação, portanto, se caracteriza pelo uso da tecnologia como fator

que impulsiona o compartilhamento da informação e assegura a comunicação entre

indivíduos. Neste contexto, os meios de comunicação eletrônicos, como televisão, rádio,

telefone, computador, além das inúmeras possibilidades trazidas pela Internet, são

1 ‘A produção e distribuição do conhecimento nos Estados Unidos’.
2 ‘Uma Era de Descontinuidade’.
                                                                                                 12
instrumentos utilizados para acelerar e difundir o conteúdo. A intenção é de que um grande

número de pessoas seja alcançado, e, uma vez recebida a informação, que ela tenha o poder de

capacitar a população a construir uma opinião crítica acerca dos temas sugeridos e possa, a

partir daí, transformar a sociedade em que vive.

       A democratização da informação na sociedade contemporânea foi sensivelmente

percebida com a acessibilidade da Web 2.0, quando a difusão do conteúdo passou a dar-se

através de grupos hospedados em Redes Sociais e comunidades digitais, oferecendo, assim,

uma espécie de ‘segunda opinião’, uma alternativa à versão das mídias de massa tradicionais,

como rádio, jornais e TV. Segundo Primo (2007), a Web 2.0 é a segunda geração de serviços

online, e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e

organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os

participantes do processo.

       É neste cenário favorável ao questionamento e à formação da opinião crítica que as

Redes Sociais se tornaram canais de debate e planejamento de verdadeiros levantes políticos

contemporâneos, mobilizados por grupos da sociedade civil e organizados a partir de

ferramentas hospedadas na Internet. Exemplos desses movimentos são a Primavera Árabe,

iniciada na Tunísia, o Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, e os Indignados da Espanha.

              Manifestações de insatisfação social que marcaram o ano de 2011 como Occupy Wall
              Street, nos Estados Unidos, Indignados, na Espanha, os protestos de estudantes no
              Chile, o motim de jovens na Inglaterra e o Movimento 15 de Outubro – organizado
              pelas redes sociais e que suscitou mobilizações em mais de mil cidades de 85 países
              na referida data – apresentam características típicas dos movimentos sociais
              contemporâneos. A utilização de redes de diálogos e troca de informações contínuas
              cria sinergia para que essas manifestações não sejam atos isolados, mas trabalhos
              conjuntos que encontram apoio mútuo pela utilização da Internet. (DI FÁTIMA, 2012,
              p.1).


       Assim como os movimentos citados, o objeto de estudo específico deste projeto (a

rede social Couchsurfing) também pode de alguma forma ser inserido no contexto de

                                                                                              13
agrupamentos de pessoas dispostas a propor uma quebra dos padrões sociais, culturais ou

econômicos impostos, ao estabelecer uma forma bastante distinta de relações sociais. Este

trabalho pretende, portanto, fazer uma análise de como o Couchsurfing, apesar de estar

hospedada no ambiente digital, proporcionando em grande medida um resgate da

comunicação face a face.

                 Durante a maior parte da história humana, a grande maioria das interações sociais
                 foram face-a-face. Os indivíduos se relacionavam entre si principalmente na
                 aproximação e no intercâmbio de formas simbólicas, ou se ocupavam de outros tipos
                 de ação dentro de um ambiente físico compartilhado. As tradições orais dependiam
                 para sobreviver de um contínuo processo de renovação, através de histórias contadas e
                 atividades relatadas, em contextos de interação face-a-face. (THOMPSON, 2011,
                 p.119).


           Já no universo digital, ou seja, mediado por computador, há a quebra de barreiras

geográficas e temporais; porém, esta sofre rupturas possibilitadas por questões próprias do

ambiente digital, como a dispersão provocada pelo bombardeio de informações e referências e

a limitação da comunicação, por conta da ausência de possibilidades de linguagens

complexas, como a gestual e a sonora, em prol de uma grande predominância da expressão

escrita.

                 Interações mediadas também implicam um certo estreitamento na possibilidade de
                 deixas simbólicas disponíveis aos participantes. A comunicação por meio de carta, por
                 exemplo, priva os participantes de deixas associadas à presença física (gestos,
                 expressões faciais, entonação, etc.), enquanto outras dicas simbólicas (associadas à
                 escrita) são acentuadas [...] Ao estreitar o leque de deixas simbólicas, as interações
                 mediadas fornecem aos participantes poucos dispositivos simbólicos para a redução da
                 ambiguidade na comunicação. Por isso as interações mediadas têm um caráter mais
                 aberto do que as interações face a face. Estreitando as possibilidades de deixas
                 simbólicas, os indivíduos têm que se valer de seus próprios recursos para interpretar as
                 mensagens transmitidas. (THOMPSON, 2011, p. 121).


           No que se refere ao Couchsurfing, apesar de se tratar de uma rede social digital

intermediada por computador, a sua grande proposta é a de conectar, no mundo off-line,

viajantes de todo o mundo a moradores locais e à cultura que visitam. O processo de ser

acolhido por um anfitrião local de forma gratuita, por exemplo, qualifica uma experiência cuja
                                                                                                      14
moeda de troca é o intercâmbio cultural, o compartilhamento de vivências e o aprendizado de

algo novo. No estado de Sergipe, o grupo mais expressivo é o Aracaju-SE – o foco específico

aqui –, que foi criado em 2008 e possui atualmente 685 membros 3.

          Além de várias características de usabilidade semelhantes a outras redes populares,

como Orkut e Facebook, o Couchsurfing desenvolveu também mecanismos de validação para

garantir que o encontro entre desconhecidos de todo o mundo pudesse dar-se de maneira

segura para todos. Recomendações, avaliações positivas, negativas e neutras, e um sistema de

verificação que confirma identidade e endereço do usuário, são algumas dessas medidas que

colaboram na escolha do hóspede/anfitrião e reforçam o capital social dos participantes.

Segundo Putnam (2000, p.19, apud Recuero, 2009, p.45), o conceito de capital social “refere-

se à conexão entre indivíduos – redes sociais e normas de reciprocidade e confiança que

emergem dela”, e está intimamente ligado à ideia de virtude cívica, de moralidade e de seu

fortalecimento através de relações recíprocas. Mas antes de chegar no caso específico do

Couchsurfing é preciso discutir alguns conceitos que ajudarão na compreensão desse

fenômeno.




3
    Dados de novembro de 2012.

                                                                                          15
II. INTERAÇÃO

2.1.   Interação face a face

       O homem é naturalmente um ser comunicativo. Para que o padrão de interação face-a-

face se aplique, é preciso que existam dois interlocutores dispostos a uma interação e focados

na conversação. De acordo com Orecchioni (2006, p. 7 apud Lins, p.26) a comunicação verbal

segue algumas características: a) alocução: um destinatário fisicamente distinto do falante; b)

interlocução: troca de palavras com intencionalidade, em que se alternam os papeis do

emissor e do receptor; c) interação: troca comunicativa entre os interactantes, criando redes

de influências mútuas.

               Para que a atividade verbal seja considerada conversação, é preciso que existam dois
               interlocutores e que os participantes estejam voltados cognitiva e visualmente para
               esta atividade. Dentro do exercício de linguagem, o comum é que a fala circule e que
               os papeis de emissor e receptor se alternem, permitindo que os falantes se
               intercambiem constantemente, cada qual em seu turno. A interação participa do
               exercício de conversação à medida que os diálogos dos participantes exercem
               influência uns sobre os outros, mutuamente. O discurso é construído a partir do
               estímulo que a fala do interlocutor A provoca no interlocutor B, e vice-versa. “É
               importante observar que a Conversação é considerada, a partir da ótica da Análise da
               Conversação, como uma atividade linguística estruturalmente organizada e sempre
               ocorre em um contexto ou circunstância em que os interactantes estejam engajados”
               (cf. MARCUSCHI, 2001, p.17, apud ARTAXERXES, 2011, p.60).

       A conversação face-a-face se caracteriza por ocorrer em um eixo temporal simultâneo,

de modo que necessariamente acaba compartilhando códigos sociais comuns, como olhares,

movimentos, sorrisos e conjuntos gestuais. Para que haja um intercâmbio comunicativo, não

basta somente que os interlocutores discursem alternadamente. É importante que exista

engajamento entre eles. Há gestos e sinais que auxiliam na identificação deste engajamento: é

o que se pode chamar de “validação interlocutória”. “Os cumprimentos, apresentações e

outros rituais “confirmativos” desempenham, nesse sentido, um papel evidente. Mas a

validação interlocutória se efetua, sobretudo, por outros meios mais discretos e, no entanto,

fundamentais” ( ORECCHIONI, 2006, p. 8).

                                                                                                16
Segundo Orecchioni (2006), o emissor pode indicar que está falando com alguém de

forma direcionada normalmente por meio da orientação do corpo ou pela direção do olhar,

além de determinadas formas de tratamento e da presença de “captadores”, tais como o

“hein”, “né”, “sabe”, “você vê”, “digamos”, “vou te dizer”, “nem te conto” etc. O falante

pode ainda recorrer a procedimentos fáticos para se assegurar de que o seu destinatário

recebeu a mensagem corretamente, como o aumento da intensidade vocal, ou então das

retomadas ou reformulações. O receptor também se utiliza de sinais que servem para

confirmar ao falante que acompanha o seu discurso comunicativo. Um franzir de

sobrancelhas, sorriso, ligeira mudança de postura, recursos vocais (“humm”, “anram”), ou

verbais (“sim”, “certo”), são denominados reguladores, e servem para nortear o falante de que

a mensagem está sendo captada e compreendida.

         A conversação é uma atividade prioritariamente humana, pois envolve o intercâmbio

de signos específicos que, acima de tudo, estão repletos de subjetividade. Os animais também

se comunicam, mas, neste caso, de maneira estritamente objetiva, a partir de uma interação de

estímulo-resposta que já está pré-determinada. Já no que se refere ao ser humano, se toda

comunicação envolve signos com significados específicos previamente acordados, o sentido

depende, em última instância, da interpretação que o receptor fará destes signos (BAHKTIN,

2003).

         Um discurso ou conversação é carregado de influências culturais e carrega nos

símbolos e signos desde características gestuais e de entonação até aspectos linguísticos que

caracterizam esta influência. De acordo com Marcuschi (2005, apud ARTAXERXES, 2011),

para que a interação possa ser caracterizada como face-a-face, basicamente é preciso que

contenha as seguintes características: a) que ocorra entre pelo menos dois falantes; b) que haja

pelo menos uma troca de interlocutores; c) que exista uma sequência de ações coordenadas; d)

                                                                                             17
que uma identidade temporal seja executada; e) que o envolvimento se dê numa “interação

centrada”.

          Estas características nos permitem compreender que a interação face-a-face acontece

quando os participantes estão presentes e compartilham da mesma referência espacial e

temporal, o que geralmente implica um fluxo de informações em que receptor e produtor

intercambiam papeis e que os símbolos e gestos são essenciais para orientar a compreensão da

mensagem.



2.2.       Interação mediada

          Segundo Thompson (2011, p.121), para ser considerada mediada, toda e qualquer

interação necessariamente implica o uso de um meio técnico (papel, fios elétricos, ondas

eletromagnéticas etc.) que transmitam a informação e o conteúdo simbólico específico para

indivíduos situados remotamente no espaço, no tempo, ou em ambos. Neste caso, este tipo de

interação acaba estendendo-se de maneira muito flexível no espaço e no tempo, o que a faz

diferir bastante do caráter presencial e momentâneo da interação face-a-face e extrapolá-la.



    Características Interativas            Interação Face a face                 Interação mediada


                                     Contexto de co-presença; sistema        Separação dos contextos,

           Espaço-tempo                referencial espaço-temporal          disponibilidade estendida no

                                                  comum                           tempo e espaço


                                                                           Limitação das possibilidades de
Possibilidade de deixas simbólicas   Muliplicidade de deixas simbólicas
                                                                                  deixas simbólicas


       Orientação da atividade       Orientada para outros específicos    Orientada para outros específicos




                                                                                                              18
Dialógica/ Monológica                       Dialógica                           Dialógica


             (Tabela 1: características das interações – THOMPSON, 2011, p. 123).


        Ou seja, na interação mediada é preciso, além da participação dos interlocutores, a

presença de uma mídia que transportará a mensagem para os personagens que compartilham

do diálogo. Uma das características inerentes à interação mediada é a possibilidade de

difundir a informação para indivíduos que não compartilham do mesmo referencial geográfico

ou temporal do emissor. Para que a mensagem seja claramente entendida, é imprescindível

que esta contenha informações, como localização e data, por exemplo. A interação face-a-face

permite uma interpretação subjetiva do discurso, já que existe todo um contexto cultural,

simbólico e gestual dos participantes; já na comunicação mediada, a subjetividade pode

implicar uma lacuna ou má interpretação da informação.

                 Interações mediadas também implicam um certo estreitamento na possibilidade de
                 deixas simbólicas disponíveis aos participantes. A comunicação por meio de carta, por
                 exemplo, priva os participantes de deixas associadas à presença física (gestos,
                 expressões faciais, entonação, etc.), enquanto outras dicas simbólicas (associadas à
                 escrita) são acentuadas. Similarmente, a comunicação por meio do telefone priva os
                 participantes das deixas visuais associadas à interação face a face, preservando e
                 acentuando as deixas orais. Ao estreitar o leque de deixas simbólicas, as interações
                 mediadas fornecem aos participantes poucos dispositivos simbólicos para a redução da
                 ambiguidade na comunicação. Por isso as interações mediadas têm um caráter mais
                 aberto do que as interações face a face. Estreitando as possibilidades de deixas
                 simbólicas, os indivíduos têm que se valer de seus próprios recursos para interpretas as
                 mensagens transmitidas (THOMPSON, 2011, p. 121).

        A interação mediada através de mídias populares, como rádio, televisão e cinema 4, são

identificadas como unidimensionais, pois a informação segue somente uma direção, não há

interação entre quem emite e quem recebe o discurso. É nas décadas de 20 e 30, com o

telefone, portanto, que se inicia uma nova discussão acerca de interatividade. Interatividade

4
  Estes aparatos tecnológicos são considerados ferramentas cuja capacidade midiática é de quase-interação, por
terem perfil monológico e pelo fato de sua produção ser direcionada para um número indefinido de receptores
potenciais. Elas não possuem o grau de reciprocidade interpessoal de outras formas de interação, mas ligam os
indivíduos num processo de comunicação e intercâmbio simbólicos (Thompson, 2011).

                                                                                                           19
esta que, enquanto desde os primórdios era responsável pela perpetuação de rituais culturais,

passa, a partir da chegada das novas mídias, mais simultâneas e dinâmicas, a contribuir com

as transformações sociais e a influir diretamente na forma com que o homem se coloca e se

percebe nesse contexto.



2.3.   Interação mediada por computador

       A Internet representa, nos dias de hoje, o maior sistema de comunicação desenvolvido

pelo homem. Ela integra o mundo em uma rede global de ferramentas de produção e difusão

de informação. Para Thompson (2011), o desenvolvimento de vários tipos de meios

eletrônicos nos séculos XIX e XX substituiu as interações face a face por formas de interação

e quase-interação mediadas. Na verdade, mesmo diante de um ambiente comum, o

compartilhamento de informações acontece em proporção crescente em contextos de

interação mediada mais do que em face a face.

       A interação mediada por computador através da internet se estende no espaço e tempo.

Ela possibilita a desterritorialização da conversação, reforça o potencial intercultural da

comunicação e permite a formação e manutenção de comunidades globais. É preciso observar

que, por receber o intermédio de uma máquina que depende de fatores tecnológicos e de

infraestrutura, este padrão de interação também está sujeito ao tempo de processamento e

velocidade de resposta da máquina. No entanto, como a proposta deste trabalho é ir além das

especificidades técnicas da máquina, ao focar especificamente no comportamento dos

interlocutores dentro deste cenário, desconsideraremos esses aspectos aqui.

              Quando se fala em “interatividade”, a referência imediata é sobre o potencial
              multimídia do computador e de suas capacidades de programação e automatização de
              processos. Mas ao estudar-se a interação mediada por computador em contextos que
              vão além da mera transmissão de informações (como educação a distância), tais
              discussões tecnicistas são insuficientes. Reduzir a interação a aspectos meramente
              tecnológicos, em qualquer situação interativa, é desprezar a complexidade do processo
              de interação mediada. É fechar os olhos para o que há além do computador. Seria
                                                                                                 20
como tentar jogar futebol olhando apenas para a bola, ou seja, é preciso que se estude
               não apenas a interação com o computador, mas também a interação através da
               máquina. (PRIMO, 2007, p.30).


       Ainda sobre o mesmo tema, Lévy (1999) afirma que, enquanto anteriormente a

informática voltava suas atenções mais que nada para as máquinas – programas e hardwares –

, atualmente os esforços contemporâneos giram em torno de desconstruir o computador em

benefício de um espaço de comunicação navegável e transparente, centrado na informação.

       A evolução das máquinas para uma programação independente descomplicou o uso do

computador e possibilitou o foco no espaço virtual de trabalho e de comunicação,

funcionando de forma independente de seus suportes. Isto possibilitou ao homem uma maior

liberdade para reproduzir ou recriar padrões de interação neste novo universo digital.

               O computador não é mais um centro, e sim um nó, um terminal, um componente da
               rede universal calculante. Suas funções pulverizadas infiltram cada elemento do tecno-
               cosmos. No limite, há apenas um único computador, mas é impossível traçar seus
               limites, definir seu contorno. É um computador cujo centro está em toda a parte e a
               circunferência em lugar algum, um computador hipertextual, disperso, vivo,
               fervilhante, inacabado: o ciberespaço em si (LÉVY, 1999, p.44).


       Depois de compreendidos os padrões básicos de funcionamento da máquina, o

indivíduo está apto a operar o computador, e através dele buscar as informações que lhe

interessam, partilhar conteúdos, e conectar-se a outras pessoas. Passa a ser, assim, participante

de um processo de interação mediada por computador. Para Lippman (apud PRIMO, 2011,

p.46), um sistema pode ser considerado interativo quando as seguintes propriedades estão

presentes: interruptabilidade, granulidade, degradação graciosa, previsão limitada e não

default.

       Interruptabilidade: é a capacidade de cada um dos participantes interromper o

processo. “Cada participante deve ter a possibilidade de atuar quando bem entender [...]

Porém, a interruptabilidade deve ser mais inteligente do que simplesmente trancar o fluxo de

                                                                                                  21
uma troca de informações” (LIPPMAN, apud PRIMO, 2011, p.31). Granulidade: refere-se ao

menor elemento após o qual se pode interromper. Em uma conversa, poderia ser uma frase,

uma palavra (“um-hum”, “já respondo sua pergunta”); no cinema, poderia ser uma cena, um

plano. É preciso levar em conta estas circunstâncias para que o “usuário” não creia que o

sistema interativo usado tenha “travado”. Degradação graciosa: ocorre quando o sistema não

tem a resposta para uma indagação. Nesta circunstância deve ser dada aos participantes a

possibilidade de saber quando e como podem obter a resposta que não está disponível naquele

momento. Previsão limitada: não é preciso prever todas as instâncias possíveis de ocorrência,

de modo que, se algum imprevisto ocorrer na interação, o sistema ainda tem condições de

responder. Não default: o sistema não deve forçar uma direção a ser seguida pelos seus

participantes, e é a inexistência de um padrão pré-determinado que dá liberdade aos

participantes.

       De acordo com Primo (2011), a proposição de Lippman pode ser considerada como

uma busca pela sofisticação dos sistemas informáticos. Mas o que sugere é uma simulação de

certas características da interação humana enquanto dissimula as deficiências da máquina.

Para Thompson (2011), o desenvolvimento dos meios de comunicação não somente criou

novas formas de interação, mas também fez surgir novos tipos de ação que têm qualidades e

consequências bem distintas. A característica mais geral destes novos tipos de ação é que eles

são responsivos e orientados a ações ou pessoas que se situam em contextos espaciais (e

talvez temporais) remotos. Em outras palavras, o desenvolvimento dos meios de comunicação

fez surgir novos tipos de “ação à distância” que se tornaram cada vez mais comuns no mundo

moderno.

       Ou seja, a comunicação mediada por computador ofereceu novas possibilidades de

interação. Se, por um lado, perde-se um pouco da espontaneidade da resposta e dos gestos que

                                                                                           22
complementam o diálogo, por outro, o diálogo mediado pelo computador reinventou alguns

destes gestos através de caracteres e símbolos, como emoticons5, gifs 6 etc. O diálogo mediado

por computador também permitiu que os participantes ponderassem antes de se expressar, de

construir os argumentos ou de mostrarem seus perfis verdadeiros. Muitos interlocutores,

diante da flexibilidade e ludicidade do universo digital, recriaram seus perfis para

impressionar os demais integrantes da rede, sempre numa tentativa de atender às próprias

expectativas.

        Segundo Graeml (2004), Castells (1999) também analisa o impacto que estas

mudanças de comportamento trazem para a nossa cultura, como o fato de uma pessoa se sentir

mais a vontade mandando um e-mail anônimo do que conversando sobre o mesmo assunto

pessoalmente. Para aqueles que possuem baixa autoestima ou têm dificuldade em se

expressar, por exemplo, há um estímulo adicional para se desenvolver uma identidade online

distinta da que se possui no mundo real. Para Lévy (1999), os chats dão margem a uma

relação de desvinculação com a verdade, ou mesmo de alienação social e cultural. A própria

Psicologia Corporal mostra que os indivíduos estão deixando de lado seus traços de caráter

oral, que lhes permitiam manter o contato com colegas, familiares e se relacionar socialmente

(LOWEN, 1987), para estarem cada vez mais esquizóides 7 ou núcleo psicóticas (NAVARRO,

1995), buscando o afastamento social, dando margem à fantasia e preconizando a razão no

lugar do afeto, o virtual no lugar do real, o computador no lugar da presença física.

        Embora a tecnologia também tenha permitido o agrupamento de diversos recursos

comunicacionais como sons, imagens, textos, numa tentativa de reproduzir características

presenciais e favorecer a interação e o retorno imediato de interlocutores que se encontram em

5
  Emoticon – emotion (“emoção”) + icon (“ícone”) – são caracteres tipográficos que traduzem o estado emotivo
de quem os aplica. Ex: =) ;) :(
6
  Gif:: formato de imagem que tanto pode ser usado de forma estática, ou de forma animada.
7
  Trata-se de um transtorno de personalidade em que o indivíduo apresenta pouco interesse nas relações sociais e
normalmente tende à introspecção e ao isolamento.
                                                                                                             23
territórios distintos, muitos creditam à tecnologia o enfraquecimento das relações

interpessoais, o distanciamento e o isolamento dos indivíduos que a utilizam.

        Em uma palestra realizada no TED Talks 20128 “Connected, but alone?”

(“Conectados, porém solitários?”), Sherry Turkle apresenta dados de sua pesquisa com

centenas de indivíduos que passam uma parte significativa de seus dias digitalmente

conectados, o que a leva a afirmar que esse tipo de conexão não só transforma o que o que é

feito, mas também transforma aquilo que se é, o indivíduo em sua essência. Momentos

compartilhados, seja em uma reunião de trabalho, em um jantar com amigos ou café da manhã

com a família podem ter que dividir atenções com ferramentas tecnológicas e com o acesso à

internet 24 horas por dia, esta sempre disponível seja através de aparelhos celulares,

computadores portáteis e tablets. A pesquisadora conclui, portanto, em sua tese, que apesar de

a interação mediada e os avanços tecnológicos poderem oferecer possibilidades de evolução

na ciência e medicina, muitas vezes eles acabam sendo empregados na sociedade cotidiana de

forma leviana, o que só agrava a superficialidade das relações e priva os indivíduos de

compartilhar momentos relevantes para a sua formação como cidadãos.

        Deste modo, é perceptível o caráter restritivo da interação mediada por computador.

Ou seja, se por um lado ela possibilita a formação de aldeias globais que se concatenam não

mais por padrões regionais ou culturais, mas por ideias e motivações afins, por outro, cria

verdadeiras vilas virtuais, onde os indivíduos passam mais tempo construindo seus

personagens, socializando virtualmente e vivenciando etapas essenciais da vida apenas através

do que é reproduzido na tela do computador. Este padrão condiciona e limita a capacidade dos


8
  TED – “Tecnologia, Entretenimento e Design” – é uma fundação privada sem fins lucrativos dos Estados
Unidos que tem como objetivo a disseminação de ideias relevantes à sociedade, abordando temas como ciência,
cultura, sustentabilidade etc. Os TED Talks tratam-se de ciclos de palestras que ocorrem anualmente em várias
partes do mundo, por onde já passaram milhares de palestrantes e líderes em diversas áreas. Os registros dessas
palestras em vídeos são amplamente divulgados na internet e podem ser encontradas no site da fundação:
http://www.ted.com/.
                                                                                                            24
indivíduos, que, quando expostos a uma situação presencial inesperada que exija maior

sensibilidade ou inteligência emocional, acabam sendo submetidos a um grande stress

provocado pela dificuldade de tomar decisões, justamente pelo fato de não terem tido

anteriormente uma experiência semelhante em seu histórico.




                                                                                   25
III. A SOCIEDADE EM REDE

3.1. O que é uma Rede?

       De acordo com Tanenbaum (apud SCARANO, p. 25, 2011), um conjunto de

computadores interconectados por uma tecnologia única pode ser considerado uma rede.

Anteriormente, todas as necessidades eram sanadas por um único computador, porém, hoje as

atividades são realizadas por um grande número de computadores separados, embora ligados

entre si. Uma rede de computadores pode ser de diversos tamanhos e ter capacidades de

processamento distintas, tudo vai depender das demandas que precisa atender.

       A rede existe prioritariamente para atender à necessidade da troca de informações

entre os computadores, que, por sua vez, são motivados pelos usuários. Ou seja, não há na

rede a expressão de uma vontade própria: ela necessariamente atende à vontade de quem a

utiliza. De acordo com Afonso (2009, apud SCARANO, 2011, p.27),

              As redes são responsáveis pelo compartilhamento de ideias entre pessoas que possuem
              interesses e objetivos em comum e também valores a serem compartilhados. Assim,
              um grupo de discussão é composto por indivíduos que possuem identidades
              semelhantes.


       Neste caso, a tecnologia vem transformar a forma com que os indivíduos se

relacionam, criam seus vínculos. Porém, antes de compreender como se deu a conexão e a

organização dos indivíduos através dos computadores, é preciso compreender como eles se

organizam em ruas relações face-a-face, pois é esta disposição que será reproduzida e

adaptada para a rede de computadores.



3.2. Rede Social (face a face)

       Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que o homem é necessariamente um ser

gregário, social. Deste modo, ainda nos primeiros passos do seu desenvolvimento, ele

percebeu que a vida em grupo era não apenas mais prazerosa, mas também lhe ajudava a
                                                                                              26
reforçar sua segurança e a prolongar a sua sobrevivência, por conta das facilidades

proporcionadas por um grupo organizado a partir da lógica da divisão de tarefas. É a partir da

formação desses grupos, portanto, que surgem os mais variados códigos para facilitar a

comunicação entre os indivíduos, desde gestos e desenhos, até a própria língua e, em seguida,

a sua representação escrita.

       Por conta dos naturais limites geográficos, cada grupo acabou construindo

intuitivamente seus códigos comunicacionais, uma linguagem que se atinha necessariamente à

experiência compartilhada por aquele grupo específico, e, assim, era passada para seus

descendentes através de desenhos, sons, gestos e toda a infinidade de detalhes que a interação

face-a-face permite. É a expansão dos grupos e conquista de novos territórios, por fim, que

possibilita a interação entre estas comunidades e a percepção das diferenças e das

semelhanças da comunicação desenvolvida.

       Nos dias atuais, os indivíduos continuam se agrupando, porém, cada vez mais

motivados por afinidades e interesses em comum, ao invés de simplesmente por questões de

necessidade. E como é possível identificar-se com os mais diversos assuntos e temas, neste

caso, uma pessoa pode fazer parte de diversas comunidades que, por sua vez, formam diversas

redes sociais distintas.

       Assim como os agrupamentos primitivos, as redes sociais contemporâneas carregam

em si a identidade geral e as características específicas desenvolvidas por aquele grupo, sejam

essas redes comunidades que se reúnem para torcer pelo time favorito, para a prática de

alguma atividade esportiva, ou mesmo para compartilhar dicas e receitas culinárias: cada uma

carrega em si, necessariamente, as particularidades compartilhadas por aquele grupo de

pessoas.




                                                                                            27
E foi, enfim, com a internet, que cada indivíduo pôde dar vazão a seus interesses

independentemente da sua localização geográfica, por exemplo, o que tornou possível

encontrar mais facilmente informações diversas, das mais variadas origens, assim como

pessoas das mais diferentes procedências geográficas e culturais. É também na internet,

portanto, que a sociedade, através dos indivíduos que a compõem, reproduz seus hábitos e

replica agrupamentos para a discussão de temas e troca de experiências específicas, o que dá

origem às mais distintas redes sociais virtuais.



3.3. Rede Social mediada

       As novas mídias transformaram a forma como a sociedade se comunica e se organiza.

A internet, através dos computadores, concentrou o fluxo de informações que veio a provocar,

por exemplo, a migração e a organização de grupos e comunidades que necessariamente

dependiam do contato face a face para o ciberespaço, desde os encontros semanais nos clubes

ou às rodas de conversa em casas de amigos. Entretanto, antes de compreender o

funcionamento das redes sociais virtuais, é importante traçar um panorama da evolução da

internet, e suas respectivas consequências, a partir da superação do seu modelo inicial – a Web

1.0 – para o seu formato atual, mais sofisticado, a chamada Web 2.0.



       3.3.1. Web 2.0

       A Internet abandona o seu modelo primário 1.0 e migra para o formato 2.0 a partir do

momento em que deixa de ser percebida como uma mera rede que conecta computadores e

passa a representar uma possibilidade significativamente maior de interação, além da maior

facilidade de uso por parte dos internautas, que neste momento já não precisava mais de

tantos conhecimentos técnicos requeridos anteriormente. Para estar no topo da pirâmide

                                                                                            28
comunicacional e ser considerado um produtor de conteúdo, portanto, não era mais necessário

ser um conhecedor da linguagem HTML e dos demais padrões técnicos de programação.

       Ou seja, na Web 2.0, as plataformas são muito mais simplificadas, de modo que o foco

se desloca para a produção, a interação e o compartilhamento acessível por parte de qualquer

indivíduo com o mínimo de conhecimento de usabilidade, por exemplo. Deste modo, as

ferramentas passam a ter uma arquitetura mais intuitiva e de acesso muito mais simplificado.

Dentro deste novo formato, portanto, a cultura e a informação que antes se restringiam aos

espaços geograficamente compartilhados passaram          também a      ser disponibilizadas

digitalmente. Museus e bibliotecas, por exemplo, demonstraram interesse em colocar suas

obras na rede para que estudantes e curiosos pudessem também vivenciar esta experiência.

       Apesar dos avanços tecnológicos, é importante mencionar que uma das maiores

diferenças entre as fases 1.0 e 2.0 é precisamente a forma com que os usuários passaram a

utilizar as ferramentas disponíveis. Para Blattmann e Silva (2007, apud SILVA, 2011), este

fenômeno coloca a Internet como um novo ambiente capaz de entender, compartilhar,

produzir e disseminar conhecimentos através do acesso e da organização de dados. Segundo

os autores, a rede trata-se de um canal onde flui grande quantidade de práticas sociais,

culturais, políticas e econômicas. Neste caso, além do armazenamento de informações, ela

possibilita uma grande interação, assim como uma enorme geração e troca de conhecimento.

       Se anteriormente a rede era gerida predominantemente por sites e grandes portais que,

de modo semelhante à mídia tradicional, expunham o conteúdo de forma estática num cenário

em que poucos produziam e os demais apenas recebiam e absorviam aquele conteúdo, a Web

2.0 permite que o fluxo de produção seja extremamente amplo e descentralizado. Neste novo

formato, a informação pode vir de qualquer parte, ser construída de forma colaborativa e,

ainda assim, manter a sua consistência.

                                                                                           29
A Web 2.0 passa a ser considerada uma nova concepção, pois passa agora a ser
              descentralizada e na qual o sujeito torna-se um ser ativo e participante sobre a criação,
              seleção e troca de conteúdo postando em um determinado site por meio de plataformas
              abertas. Nesses ambientes, os arquivos ficam disponíveis on-line e podem ser
              acessados em qualquer lugar e momento, ou seja, não existe a necessidade de gravar
              em um determinado computador os registros de uma produção ou alteração na
              estrutura de um texto. As alterações são realizadas automaticamente na própria web
              (BLATTMANN e SILVA, 2007, p. 198, apud SILVA, 2011, p.16).

       Bressan (2008, apud SILVA, 2011) defende que a Web 2.0 representa uma segunda

geração de serviços que buscam, através de aplicativos e de novas tecnologias, reformular os

conceitos, permitindo uma maior interatividade e uma grande colaboração na utilização da

internet. Foi neste cenário de livre manifestação proporcionado pela Web 2.0, portanto, que as

Redes Sociais virtuais se popularizaram cada vez mais, tornando-se, assim, verdadeiros

espaços de expressão e de organização dos usuários.



       3.3.2. Rede Social virtual

       Recuero (2009), afirma que uma rede social é definida basicamente por atores e

conexões, sendo esses atores indivíduos, instituições, grupos ou nós, ou seja, pessoas

envolvidas na rede que se analisa. As conexões, por outro lado, seriam os laços sociais

formados a partir da interação dos atores, que podem ser percebidas através dos rastros

deixados pelos interlocutores na web. “De certo modo, são as conexões o principal foco do

estudo das redes sociais, pois, é sua variação que altera as estruturas destes grupos”

(RECUERO, 2009, p. 30).

       Para compreender como se dão estas conexões, é preciso antes entender como

funciona a interação social no ciberespaço e quais os efeitos da mediação do computador

neste tipo de interação. Recuero (2009) avalia que, como não há pistas imediatas da

linguagem não verbal, por exemplo, a interpretação do contexto da interação é negociada

durante o próprio processo de comunicação.

                                                                                                    30
É tudo construído pela mediação do computador. O segundo fator relevante é a
              influência das possibilidades de comunicação das ferramentas utilizadas pelos atores.
              Há multiplicidade de ferramentas que suportam essa interação e o fato de permitirem
              que a interação permaneça mesmo depois do ator estar desconectado do ciberespaço.
              Esse fato permite, por exemplo, o aparecimento de interações assíncronas
              (RECUERO, 2009, p. 32).


       Ou seja, a interação mediada se submete a diversos processos que variam de acordo

com a ferramenta utilizada, de modo que ela pode ser ‘síncrona’ ou ‘assíncrona’. Segundo

Recuero (2009, p.32), a interação síncrona é aquela que simula uma interação em tempo real.

Isto é, trata-se das situações em que os agentes envolvidos têm uma expectativa de resposta

imediata ou quase imediata, pelo fato de ambos interlocutores estarem presentes (online,

através da mediação do computador) no mesmo momento temporal. Um exemplo deste caso

são os mais diversos tipos de chat, como o Messenger, que naturalmente priorizam a

comunicação síncrona.

       Já a interação assíncrona, não carrega uma expectativa de resposta imediata, já que

espera-se que o agente leve algum tempo para responder ao que lhe foi escrito, pelo fato

mesmo de ele não necessariamente se encontrar presente no momento temporal da interação,

como como acontece com a comunicação via e-mail ou fóruns de discussão. Porém, apesar

dessas características gerais, cada ator é extremamente independente, e, assim, pode muito

bem determinar e modificar as características das ferramentas, tornando-a síncrona ou

assíncrona, a depender do seu uso.

       Algo semelhante acontece com a intensidade das relações estabelecidas nas redes, algo

que pode ser identificado, por exemplo, através dos rastros deixados na web pelos próprios

usuários, o que acaba por revelar a força dos laços construídos durante suas interações online.

É preciso também mencionar que normalmente o que provoca uma interação virtual são

fatores bem semelhantes aos que motivam uma interação face a face, como o caráter

responsivo que estimula, define e conduz um diálogo. É assim que Fischer (1987, apud
                                                                                                31
PRIMO, 2007) afirma que uma pessoa não comunica, mas, sim, se engaja em um processo de

comunicação.

               As ações de ambos os membros de um relacionamento, a comunicação interpessoal ou
               as interações, criam o que viemos chamar de relacionamento. No mesmo sentido que o
               cliché ‘É preciso duas pessoas para dançar tango’, um relacionamento não é algo que
               você ‘faz’, mas algo em que você entra, torna-se uma parte. Você, como um
               participante individual, não define mais o relacionamento que um pingo individual
               define toda uma tempestade. Você é apenas uma parte do sistema de comunicação
               interpessoal. Suas ações, juntamente com as ações coordenadas do outro, se combinam
               para definir o relacionamento (FISCHER, 1987, p. 8, apud PRIMO, 2007, p. 83).

       É este caráter responsivo que gere as relações e a intensidade dos laços que são

criados, isto é, se serão fortes ou fracos, se vão durar muito tempo ou, inversamente, ter um

caráter passageiro. Segundo Nicolis & Prigogine (1989, apud RECUERO, 2009, p.80), os

processos dinâmicos das redes são consequência direta dos processos de interação entre os

atores. É assim que elas se estabelecem como são sistemas dinâmicos que, como tais, estão

sujeitos a processos de ordem, caos, agregação, desagregação e ruptura, processos estes – de

construção, ruptura, conflito e cooperação – que nortearão o surgimento de novos projetos,

processos, grupos e redes.

       Seguindo o pensamento de Recuero (2009, p.82), pode-se afirmar que as relações

sociais são constituídas de interações de natureza diversa. Porém, ainda com ela, a

diferenciação torna-se importante na medida em que auxilia a compreender os efeitos dessas

interações sobre a estrutura de determinadas redes sociais. Não se pode, por exemplo, deduzir

que não exista conflito em uma comunidade virtual. Mas, por outro lado, é preciso que se

compreenda que, para que a própria estrutura da comunidade exista de modo satisfatório, a

maioria das interações precisa ser cooperativa. É claro que de alguma forma o conflito e a

competição podem gerar as mais variadas mudanças, estimular a busca do equilíbrio e obrigar

que a comunidade se adapte à nova realidade. Entretanto, se o conflito suplantar a cooperação,

pode acarretar um desgaste tão forte a ponto de provocar uma ruptura na estrutura social.

                                                                                               32
A Internet pode ser um terreno fértil para a conexão de atores com ideias afins e

construção de projetos ricos em diversidade cultural e propostas inovadoras. Porém, é esse

mesmo campo livre de uma autoridade central que possibilita, por exemplo, a manifestação

anônima por parte dos usuários, o que permite muitas vezes a expressão de diversas formas de

hostilidade, de egoísmo, ou até de comentários que não façam o menor sentido. Afinal, como

afirma Kollock (1999, apud PRIMO, 2007, p. 198), o conflito é próprio do humano, de modo

que faz-se necessário frisar que comunicação não é sinônimo de transmissão inquestionável

nem de intercâmbio consensual.

       Antes de adentrar nos pormenores sobre o caráter positivo ou destrutivo das

manifestações através das Redes Sociais virtuais, é importante retomar Recuero (2009) para

ressaltar que, embora hospede atores com códigos e motivações semelhantes às que

naturalmente expressariam em qualquer ambiente, as Redes Sociais virtuais não são,

necessariamente, Redes Sociais reais, apesar de poderem auxiliar na sua construção.

               Embora os sites de redes sociais atuem como suporte para as interações que
               constituirão as redes sociais, eles não são, por si, redes sociais. Eles podem apresentá-
               las, auxiliar a percebê-las, mas é importante salientar que são, em si, apenas sistemas.
               São os atores sociais, que utilizam essas redes, que constituem essas redes
               (RECUERO, 2009, p. 103).


       Ou seja, ao dizer que “são os atores sociais, que utilizam essas redes, que constituem

essas redes”, a autora claramente reforça a ideia de que, apesar dos sites de redes sociais

serem lembrados ou referidos a partir das características de seus grupos, são os próprios atores

que as definem como tais, de modo que essas redes acabam sendo apenas sistemas que

publicam, tal qual uma vitrine ou um canal, as conexões construídas pelos usuários. Para

entender este panorama, por fim, é importante compreender o que caracterizam esses Sites de

Redes Sociais e qual o seu papel.



                                                                                                     33
3.3.3. Sites de Redes Sociais

       Segundo Recuero (2009), Sites de Redes Sociais são os espaços utilizados para a

expressão das redes sociais na Internet. Compreendendo suas características a partir da

definição de Boyd & Ellison (2007, apud RECUERO, 2009, p.102), pode-se dizer que esses

sites, em termos gerais, são sistemas que permitem a construção de uma persona através de

um perfil ou página pessoal, da mesma forma que possibilitam a interação através de

comentários e a exposição pública da rede social de cada ator.

       Recuero (2009, p.104) identifica que existem dois tipos de Sites de Redes Sociais: os

‘estruturados’ e os ‘apropriados’. Os estruturados são aqueles que têm, desde o seu

planejamento e processo de construção, a intenção de expor, publicizar as redes conectadas

aos atores. É o caso do Orkut, Facebook, Linkedin etc., sistemas que possuem perfis e espaços

específicos para a publicização da conexão dos indivíduos. Em geral, estes sites estão focados

em ampliar e complexificar as redes. Já os sites apropriados, por outro lado, tratam-se dos

sistemas que, originalmente, não eram voltados para mostrar redes sociais, mas acabaram por

ser utilizados pelos atores com esta finalidade. É o caso, por exemplo, de fotologs, weblogs,

Twitter etc. Nestes sistemas, portanto, não há espaço específico para perfil e para publicização

das conexões, já que os perfis são criados a partir dos espaços pessoais, das fotos e dos textos

publicados pelo ator.

       Apesar das semelhanças fundamentais, o que os sites apropriados e os estruturados

têm em comum e permite qualificar a ambos como redes sociais na Internet é a possibilidade

de difusão e o alcance da informação através dos atores e de suas conexões. Segundo Recuero

(2009, p.116), foi esta difusão rápida e interativa, por exemplo, que incentivou a criação de

novos canais, de novas ferramentas de publicação pessoal de imagens, textos e até vídeos.




                                                                                             34
É fácil perceber o potencial das redes sociais na Internet quando se observa a difusão

de uma informação nas mídias off-line em contraponto às mídias digitais, na medida em que a

possibilidade de compartilhamento, de manifestações as mais diversas, sem falar do próprio

alcance ilimitado, é claramente maior do que o proporcionado pelas mídias off-line. Além

disso, é preciso compreender também que as informações expostas na Internet são oriundas

do cotidiano real dos indivíduos.

              ...é preciso compreender que estudar redes sociais na Internet é estudar uma possível
              rede social que exista na vida concreta de um indivíduo, que apenas utiliza a
              comunicação mediada por computador para manter ou criar novos laços. Não se pode
              reduzir a interação unicamente ao ciberespaço, ou ao meio de interação. A
              comunicação mediada por computador corresponde a uma forma prática e muito
              utilizada para estabelecer laços sociais, mas isso não quer dizer necessariamente que
              tais laços sejam unicamente mantidos no ciberespaço (RECUERO, 2009, p. 144).

       A Internet, através da comunicação mediada e dos Sites de Redes Sociais, possibilitou

uma nova forma de organização social, de compartilhamento de informação e de produção de

conteúdo descentralizada. Por isso, é primordial conhecer um pouco mais sobre as

ferramentas que desencadearam este processo. O caso do objeto de estudo deste trabalho, por

exemplo, o site de rede social Couchsurfing, pode ser considerado como um de modelo

estruturado, pois ele já nasce com a intenção de conectar usuários com interesses em comum e

dispostos a publicizar suas conexões através das referências e dos diálogos construídos nos

fóruns. Só que, de modo um tanto distinto das outras redes sociais, esta plataforma específica

acaba tendo também um grande impacto da experiência off-line dos usuários, como será

detalhado logo em seguida.




                                                                                                35
IV. COUCHSURFING


4.1. Couchsurfing, um breve histórico e panorama

        A rede Couchsurfing9 (CS) é uma organização sem fins lucrativos que se propõe a

conectar viajantes de todo o mundo a moradores locais e à cultura que visitam. O processo de

ser acolhido por um anfitrião local de forma gratuita qualifica uma experiência cuja moeda de

troca é o intercâmbio cultural, o compartilhamento de vivências e o aprendizado de algo novo.

                O site que conta hoje com mais de um milhão de membros – número ultrapassado em
                18 de março de 2009 – foi idealizado pelo americano Casey Fenton, a partir de uma
                viagem feita por este a Islândia, quando sem hospedagem e em busca de uma
                experiência distinta do perfil de turista padrão, mandou e-mails para mais de 1500
                estudantes locais, atingindo a hospitalidade de diversos grupos dispostos a apresentar a
                Reykjavik deles. (STERN, 2009, p. 15).

        Presente em mais de 230 países, o projeto teve sua versão beta lançada em 2003, e, um

ano depois, sua versão 1.0 foi divulgada. Hospedado no site www.couchsurfing.org, o projeto

foi fundado pelos americanos Casey Fenton e Daniel Hoffer, além do francês Sebastien Le

Tuan e o brasileiro Leonardo Bassani da Silveira. Hoje, a rede conta com mais de 1,7 milhão

de usuários, e embora possua um corpo de funcionários remunerados, é mantida

principalmente por meio da colaboração de voluntários.

        De acordo com Stern (2009), outro momento relevante na história do Couchsurfing, e

que reforça a forma com que os usuários se envolvem com o projeto, deu-se no ano de 2006,

quando devido a falhas no seu sistema operacional o site saiu do ar e teve uma perda

definitiva de boa parte do seu banco de dados. Foi assim que Casey, um dos fundadores,

comunicou que o projeto, da forma como era conhecido, havia terminado, o que gerou uma

onda de apoio por parte de seus usuários, que enviaram mais de 2 mil e-mails em 24 horas




9
   O termo Couchsurfing representa a junção das palavras em inglês couch e surf, que significam,
respectivamente, ‘sofá’ e ‘surfar’, o que remete à ideia geral ‘surfar no sofá’. Já a expressão específica
coucsurfing, por fim, refere-se ao ato de ‘surfar no sofá’ de alguém.
                                                                                                       36
oferecendo-se para ajudar na reconstrução do projeto. Por conta deste apoio, portanto, o site

foi reformulado, e sua versão 2.0, que é usada até hoje, foi lançada.

                Em 2011 o Couchsurfing viria se tornar uma corporação B10. Conforme informado no
                próprio site, ‘Nos tornamos uma Corporação B* porque isso nos fornece o apoio para
                nossa missão que esperávamos encontrar no terceiro setor, enquanto nos permite que
                tenhamos a liberdade para inovação que as empresas tradicionais que visam o lucro
                desfrutam' (trad. TURBIANI, 2011, p.41).


        Atualmente, o alcance da rede Couchsurfing pode ser percebido através das estatísticas

acessíveis no próprio site. Até o dia 31 de novembro de 2012, foram contabilizados 4,8

milhões de couchsurfers (forma que os usuários desta rede se denominam), de modo a

conectar 93.355 cidades e 207 países. Até esse momento, cerca de 15,3 milhões de laços

foram criados, e milhares de experiências, divididas.

        E, no geral, é essa própria troca de experiências que mais motiva veteranos e novos

participantes a ingressarem no site. A verdade é que há diversas formas de participar do

projeto, seja surfando o sofá de alguém, hospedando, ou mesmo criando um evento, porém, a

característica geral que as une é o fato de todas terem em comum o compartilhamento, desde

os espaços divididos, o tempo ou do conhecimento de cada um, o que, quando passado

adiante, conecta novas pessoas e alimenta os laços já criados.

                A questão da construção ou reconstrução do laço social é especialmente sensível ao
                momento em que grupos humanos implodem, cancerizam-se, perdem seus pontos de
                referência e veem suas identidades se desagregar. [...] Basear o laço social na relação
                com o saber consiste em encorajar a extensão de uma civilidade desterritorializada,
                que coincide com a fonte contemporânea da força, ao mesmo tempo em que passa
                pelo mais íntimo das subjetividades (LÉVY, 1994, p. 27).


        Por ser um projeto multicultural que abrange diversas nacionalidades, o inglês é a

língua padrão usada para conectar os couchsurfers. Como nas demais redes sociais, os

usuários desta rede também possuem um vocabulário e códigos próprios. Por exemplo, o

10
  “Corporação B é um novo tipo de empresa que usa a força dos negócios para resolver problemas sociais e
ambientais.” Tradução de Turbiani (2011, p.41), retirado de www.bcorporation.net/about.

                                                                                                     37
termo couch (‘sofá’) para um couchsurfer significa hospedagem, local oferecido pelo host

(‘anfitrião’) onde o guest (‘visitante’) possa se acomodar, que, neste caso, não precisa

necessariamente ser no próprio sofá.

          Depois de ingressar no CS, o que é feito de forma gratuita, o usuário deve preencher o

perfil com suas informações pessoais, como localização, formação/educação, além de uma

imagem que o represente. Na sequência, seguem campos que requisitam uma descrição

pessoal, idade, sexo, nome, interesses pessoais – música, filmes e livros –, a forma como

participa ou colabora com o CS, com que tipo de pessoa costuma ter afinidade, locais que já

viajou e que lugares gostaria de conhecer. Essas informações permitem que os usuários

conheçam mais uns aos outros, o que de certa forma reduz a insegurança diante o

desconhecido e permite a identificação entre pessoas que nunca se viram, fortalecendo, assim,

o próprio conceito da rede, de que todos podem ter sempre algo em comum e coisas a

partilhar.




                                     (Figura 1: Tela inicial do Couchsurfing11)

11
     Acesso em 20 Nov. 2012. Disponível em www.couchsurfing.org.

                                                                                             38
Em termos gerais, recomenda-se que o viajante leia todo o perfil do usuário que

possivelmente poderá hospedá-lo de modo a tentar encontrar pessoas com interesses em

comum. Depois disto, deve enviar um request, ou seja, um pedido de hospedagem, onde deve

constar o motivo da sua viagem, o que o estimulou a escolher aquele host em particular, e

também quantos dias pretende permanecer hospedado.

         De maneira semelhante a outras redes, como Orkut e Mercado Livre, o CS também

possui métodos próprios de avaliação ou de qualificação dos usuários. O voucher12

(representado pelas mãos dadas na figura 2), por exemplo, é uma dessas formas de

qualificação, uma maneira de atestar que aquela pessoa é de confiança e por isto, mereceu seu

voto. O CS Team Member 13 (representado pelo ícone com o planeta ao centro) é alguém que

participa e contribui diretamente com o funcionamento do CS, de modo que geralmente está

apto a tirar dúvidas e a solucionar problemas técnicos referentes ao desempenho do site. O

Ambassor (‘embaixador’) é uma pessoa que se torna referência na comunidade e é convidado

pela organização do site para executar diversas atividades específicas, como dar boas vindas a

novos integrantes, organizar eventos, tirar dúvidas gerais etc. Pioneer14 (representado na

figura 2 por um sofá e uma estrela) é o título concedido aos membros que acreditaram no

projeto desde a sua fase inicial e que decidiram, voluntariamente, fazer doações financeiras

para ajudá-lo a funcionar.




12
   O termo significa literalmente ‘atestado’, ‘certificado’ (de confiança).
13
   Literalmente, ‘Membro da Equipe do Coucsurfing’.
14
   Literalmente, ‘pioneiro’.
                                                                                           39
(Figura 2: ícones de identificação e qualificação dos usuários 15)



           Em termos gerais, há diversas formas de participar da rede: hospedando, surfando, ou

criando ou comparecendo a meetings (eventos), por exemplo. A maioria destas características

está expressa no perfil do usuário, sempre representadas por ícones específicos que sinalizam

se uma determinada pessoa está disposta a hospedar, apenar surfar, ou se se disponibiliza para

mostrar a cidade, acompanhar a um café etc. Os símbolos representados por sofás, por

exemplo, informam a disponibilidade daquele usuário: ‘sim’, ‘talvez’, ‘estou viajando’, ‘no

momento não posso, mas aceito mostrar a cidade’. Outras características, como quantos e

quais idiomas fala e compreende, além da galeria de fotos, também colaboram no momento

de selecionar um possível couch ou host.




                                    (Figura 3: disponibilidade do couch)

           Ademais, o usuário é incentivado também a disponibilizar imagens acompanhadas de

um descritivo do local onde a pessoa será hospedada, como pontos de referência específicos

da casa do host, se trata-se de um ambiente compartilhado, se o guest terá que dividir o



15
     Figura 2 e Figura 3 retiradas do site www.couchsurfing.org

                                                                                            40
alojamento com outras pessoas, tudo isso para evitar frustrações e fazer com que a experiência

seja o mais positiva possível.

       Por se tratar de uma rede que motiva desconhecidos a se encontrarem e dividirem um

espaço íntimo em suas próprias casas, a questão da segurança é comumente levantada, de

modo que dentro do site há uma área dedicada somente a este tema. Desta forma, assim como

em outras comunidades que permitem que pessoas deixem depoimentos pessoais, a exemplo

do Orkut, ou aquelas onde é possível deixar recomendações e avaliar o serviço entre negativo,

positivo e neutro, como o Mercado Livre, o Couchsurfing também desenvolveu seu próprio

método de segurança. Além do já citado voucher, existe também a possibilidade de

verificação do endereço fornecido pelo usuário, assim como as próprias referências, que, uma

vez postadas, não podem ser deletadas. De modo semelhante ao Mercado Livre, esses

depoimentos servem justamente para qualificar a experiência entre os usuários em positiva,

negativa ou neutra, o que permite a divulgação de informações gerais sobre o que foi

compartilhado em cada vivência.




                                                                                           41
(Figura 4: referências trocadas entre usuários16)


4.2. CS no Mundo

        De acordo com informações do próprio site, em um dos grandes momentos de pico do

projeto, chegou-se a alcançar, nesse período determinado, um mínimo de 15,5 mil inscrições

semanais e um máximo de 32.451. Assim, como já dito, o CS abrange atualmente

participantes de 207 países, engloba 366 línguas distintas, o que dá ao site a ‘honra’ de




16
  As referências costumam, independente da nacionalidade dos envolvidos, ser postadas em inglês para ser
acessível a maior número de usuários possível. Figura retirada do site www.couchsurfing.org
                                                                                                           42
‘abrigar’ mais países do que na própria ONU17, que conta com 193 nações membros. Em

termos geográficos, os Estados Unidos concentram o maior número de couchsurfers (21,1 %),

e é seguido por Alemanha (9,5%), França (8,6%), Canadá (4,3%), Inglaterra (4,0%), Espanha

(3,1%), Itália (3,1%), Brasil (2,7%), Austrália (2,6%) e China (2,2%).




                (Figura 5: Ranking contendo número do de usuários do CS por país18)

          Entre os 366 idiomas que circulam pelo site, o inglês, naturalmente, é a língua mais

falada, abrangendo quase 3 milhões de participantes, e seguida do francês (736.379) e o

espanhol (688.271) – como é comum que os usuários desta rede falem mais de um idioma, a

soma dos percentuais ultrapassa os 100%. Além disto, o site está disponível em 32 línguas

diferentes, possibilitando, assim, àqueles que não falam inglês, a participação na comunidade

através da sua língua materna ou qualquer outra de sua escolha.




17
     Dados retirados do site da ONU, em 31/10/2012 http://www.onu.org.br/conheca-a-onu/paises-membros/.
18
     Figura retirada do site: www.couchsurfing.org

                                                                                                      43
(Figura 6: Línguas faladas no CS19)



           No que se refere ao gênero dos participantes, 53% são homens e 47% são mulheres.

Destes, 46% disponibilizam seus couchs, 69% estão disponíveis para um café ou outra

atividade, 21% registram estar viajando no momento, 14,1% talvez possam hospedar, e 11,9%

não têm condições de fazê-lo. É interessante observar, como mostram bem esses dados, que

atualmente a maior forma de participação dos usuários se dá através de encontros mais breves,

como em um café, em algum evento específico, ou por meio da disponibilidade de sair para

mostrar a cidade. Porém, como esses dados são atualizados constantemente, o panorama muda

bastante o tempo inteiro, de modo que não é possível chegar a conclusões decisivas a este

respeito.

           Quanto à faixa etária dos participantes, a média de idade declarada pelos cadastrados é

de 28 anos. E se antes a categoria que engloba os couchsurfers 18 a 24 anos liderava o

ranking de usuários, hoje a faixa de 25 a 29 anos já a superou – os números atuais são 32,9%

e 36,7%, respectivamente. Os participantes de 30 a 34 anos somam 15%, os de 35 a 39 anos

chegam a 6%, os de 40 a 49 anos correspondem a 5%, os de 50 a 59 anos somam 2%, e os


19
     Figura 6 retirada do site: www.couchsurfing.org

                                                                                               44
que estão acima dos 60 anos não passam de 0,9%. Apesar de se tratar de um número pouco

expressivo, em junho 2010 foram contabilizados 342 usuários entre 80 e 89 anos ao redor do

mundo (Dutra, 2010, p. 37). Destes, 58,6% possuíam foto, 6,9% tinham vouching e 6,5%

eram verificados pelo site.



4.3. Couchsurfing Brasil

        O brasileiro começou a se interessar pelo Couchsurfing no mesmo ano do seu

lançamento – 2003. Apesar de ter tido uma manifestação tímida no início, com o registro de

apenas algumas dezenas de usuários, hoje esta rede tem um crescimento expressivo entre os

brasileiros. De acordo com Turbiani (2011), o total de pessoas cadastradas que residiam no

Brasil chegava a 9 mil em 201120, o que, na verdade, não garante que sejam todos brasileiros,

já que o registro é feito pelo país de residência, e não necessariamente por nacionalidade.

        Ainda de acordo com Turbiani (2011), foram encontrados couchsurfers no Brasil em

28 Estados, 1.521 cidades e que falavam 239 idiomas diferentes. Depois do português, com

92%, as línguas mais faladas são, respectivamente, o inglês (51,8%), o espanhol (25,7%), o

francês (6,9%) e o italiano (3,7%).




20
  Anteriormente, era possível identificar dados atualizados dos usuários por região, idade, sexo, disponibilidade
etc., porém, o site suspendeu a disponibilização dos dados detalhados. Deste modo, foi preciso recorrer a
pesquisas anteriores, que, apesar de não trazerem dados recentes, servem, em termos gerais, para traçar um
panorama de como se comporta o couchsurfer do Brasil em relação aos demais integrantes do mundo. Pra este
propósito, além de Turbiani (2011), utilizamos também Stern (2009).

                                                                                                              45
(Tabela 2: Idiomas mais frequentes falados pelos CSers brasileiros 21)



           Seguindo esses mesmos dados, à época, 32,9% se declararam disponíveis a receber

surfers, 32,4% acompanhariam em um café ou bebida e 8% não se disponibilizavam a

hospedar.




                         (Tabela 3: Disponibilidade dos usuários no CS Brasil)



21
     Dados que compõem a Tabela 2 e 3 retirados de Turbiani (2011).

                                                                                          46
Dentre os residentes no Brasil ativos no projeto, 55,9% são homens e 40,1% são

mulheres; além disso, 3,9% dos perfis são formados por mais de uma pessoa (casais ou

grupos específicos) e 0,2% não declararam seu gênero.




                     (Tabela 4: Perfil do gênero dos Csers brasileiros)



       A média de idade dos surfers brasileiros coincide com a média mundial, que é de 28

anos: 36% têm entre 18 a 24 anos, 34,7% têm entre 25 a 29 anos e 16% têm entre 30 a 34

anos. Os que se encontram entre os 35 e os 39 anos correspondem a 6%, os de 40 a 49

formam 4,7% do total e os que formam o grupo de 50 a 59 anos chegam a 1,7%. Por fim, os

usuários de 60 a 69 anos não passam dos 0,4%, e menos de 1% está acima dos 70 anos.




                                                                                       47
(Tabela 5: Média de idade entre os CSers brasileiros)

       Naturalmente, a maior atividade dos couchsurfers está nas capitais, sendo São Paulo a

principal delas, com quase 20% do total dos participantes brasileiros. Na sequência está o Rio

de Janeiro, com 13,2%, Belo Horizonte, com 5,1%, Curitiba, com 4,1%, Brasília, com 4,1%,

Porto Alegre, com 4%, Salvador, com 3,6%, Florianópolis, com 3,2%, Recife, com 2,4% e

Campinas, com 2,2%.




                  (Tabela 6: Cidades brasileiras presentes no Couchsurfing)




                                                                                           48
4.4. Couchsurfing Sergipe e Aracaju

           No sistema de busca disponibilizado atualmente22 pelo site foram encontrados 360

integrantes residentes em Sergipe, sendo 321 (89,17%) de Aracaju. Destes, 225 (62,5%) são

homens,132 (36,7%) são mulheres, e apenas 3 (0,8%) dividem o perfil com outras pessoas.




           (Tabela 7: Gênero dos usuários encontrados no Couchsurfing em Sergipe)



           Quanto à faixa etária, 73 (20,3%) couchsurfers sergipanos têm entre 18 A 24 anos,

167 (46,3%) têm de 25 a 30 anos, e 64 (17,8%) têm de 30 a 36 anos – outros 56 inscritos

(15,6%) não tiveram sua idade declarada.




22
     Dados obtidos em novembro de 2012 através de uma busca por cidade feita no próprio site.

                                                                                                49
(Tabela 8: Média da idade dos Couchsurfers de Sergipe)



       O Grupo Aracaju-SE foi criado em 07 de Agosto de 2008, e é o mais expressivo do

Estado, contando com 700 membros, que, na verdade, não são necessariamente couchsurfers

residentes de Aracaju, podem ser residentes de outros estados que participem do grupo

Aracaju-Se. Em 04 anos de existência, o grupo possui 13.559.983 posts, e seu caráter público

não demanda aprovação para que novas pessoas ingressem a comunidade. É aqui, portanto,

que chega-se ao foco específico deste estudo: a experiência de alguns usuários pertencentes ao

grupo Aracaju-SE.




                                                                                           50
5- O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE A FACE INTERMEDIADO PELA REDE

SOCIAL COUCHSURFING

       Serão apresentados neste capítulo os procedimentos metodológicos e os resultados

obtidos através da pesquisa realizada.



5.1- Procedimentos metodológicos

       Para verificar como o site de rede social Couchsurfing influencia no resgate dos

padrões de interação face a face, objetivo deste trabalho, foi preciso se aprofundar em

diversos conceitos. Também foram utilizados procedimentos metodológicos que permitiram

obter as respostas para os questionamentos levantados pela discussão teórica. Inicialmente, foi

feita uma pesquisa de caráter exploratório, onde foi realizada a revisão de literatura, que

compreende o levantamento e análise de dados bibliográficos, tais como livros, artigos e

monografias disponíveis nas bibliotecas da Unit, além de artigos, sites, e-books, textos, vídeos

e documentários encontrados na Internet e também em livros de acervos particulares.

       Para a abordagem empírica, aplicou-se um questionário cuja formulação visa traduzir

os objetivos de pesquisa em questionamentos específicos. O resultado obtido deve oferecer

dados suficientes para descrever as características do grupo pesquisado.

               Pode-se definir o questionário como a técnica de investigação composta por um
               conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter
               informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses,
               expectativas, aspirações, temores, comportamento presente ou passado, etc. (GIL,
               2006).

       O questionário aplicado neste trabalho foi composto por 14 questões, entre abertas e

fechadas. O questionário foi aplicado utilizando a ferramenta Google Docs (agora nomeado

Google Disco) na opção ‘formulário’ e disponibilizado online através de um link postado na

comunidade Aracaju-SE do Couchsurfing. Como já foi dito anteriormente, esse é o grupo

mais ativo do Estado, e conta com 700 membros e cerca de 8 mil postagens. O Ggupo possui
                                                                                             51
uma organização ativa que programa encontros semanais e eventos integrando outros Estados,

por exemplo. A escolha da aplicação online se deu pela possibilidade de utilizar um canal de

comunicação direto com a amostragem que se deseja coletar, que são os usuários que estão

presentes nos fóruns de discussão do próprio Couchsurfing. O questionário completo pode ser

conferido no apêndice A, ao final deste trabalho.

       Os dados coletados foram extraídos e tabulados a partir do próprio Google Docs,

sendo os gráficos mais simples gerados pelo próprio Docs, e os mais complexos, feitos com

auxílio do Excel. Naturalmente, a aplicação através da Internet infere algumas dificuldades, a

exemplo da ausência do entrevistador, o que impossibilita o esclarecimento de dúvidas

eventuais que o entrevistado possa ter durante o processo. Porém, também levando isso em

consideração, evitou-se que o questionário fosse muito longo, para que, acima de tudo, o

entrevistado não se sentisse desencorajado e abandonasse o processo.



5.2- Caracterização geral dos dados

       Por ter sido disponibilizado dentro do fórum de discussão da comunidade Aracaju-SE,

predispuseram-se a responder aqueles que têm postura mais ativa e participativa dentro da

comunidade. A pesquisa contou com a participação de 30 membros, e a escolha do grupo

Aracaju-SE se deu por uma busca da representação desta rede no Estado de Sergipe. Entre os

que responderam à pesquisa, 63% são do sexo masculino e 37% são do sexo feminino.




                                                                                           52
(Tabela 9: Sexo dos Couchsurfers que responderam ao questionário.)



       Dos pesquisados, 43% têm de 25 a 30 anos, 37% têm de 18 a 25 anos, e 5% têm de 30

a 35 anos; apenas 3% possuem acima de 40 anos, como pode ser visto no gráfico a seguir:




             (Tabela 10: Faixa etária dos usurários que responderam ao questionário)



       Quando questionados sobre há quanto eles participam da rede social Couchsurfing, o

resultado adquirido foi bem equilibrado: 27% dos usuários é integrante há 1 ou 2 anos, 23%

ingressaram há 2 ou 3 anos, e, para os que ingressaram há 6 meses, de 6 meses a 1 ano e há 3

anos, a média foi de 17% cada.



                                                                                          53
(Tabela 11: tempo de participação no CS pelos respondentes ao questionário.)



       A forma como os usuários participam do CS ficou distribuída da seguinte maneira: a

maioria, com 30%, acredita na reciprocidade de tanto surfar quanto hospedar; 23% dos

participantes são engajados apenas em receber surfers em suas residências; 17% participa

indo aos meetings semanais; 10% participou como guest, surfando alguns sofás; e 7%

normalmente se limitam a disponibilizar-se para um café ou drink.




         (Tabela 12: a forma como os usuários declaram na pesquisa sua participação n CS)




                                                                                            54
Sobre o valor percebido, ou seja, a sensação provocada pela experiência do

Couchsurfing, 93% dos entrevistados consideram positiva a experiência vivenciada por eles

nesta rede social, e os 7% restantes julgam a experiência neutra. Nenhum dos entrevistados

qualificou a experiência como negativa.




           (Tabela 13: Como os entrevistados qualificam a experiência no Couchsurfing)



       Quando questionados se a maioria dos contatos que mantêm na rede Couchsurfing

foram feitos lá mesmo ou se são provenientes do universo off-line, 77% deles afirmam que a

maioria dos amigos presentes em seus perfis foram feitos no próprio site. Apenas 23%,

portanto, afirmam que os contatos que possuem no CS são de pessoas que já conheciam

anteriormente.




                            (Tabela 14: referente aos contatos do CS)




                                                                                         55
Já as relações estabelecidas dentro do CS são avaliadas da seguinte forma: 53%

afirmam que fizeram bons amigos, considerados laços fortes conquistados nesta rede. Outros

43% afirmam que fizeram colegas, considerados laços fracos, cuja proximidade ou intimidade

não chegou a ser conquistada.




               (Tabela 15: análise dos laços dos entrevistados criados dentro do CS)



       No que se refere à quantidade de vezes que os couchsurfers chegaram a compartilhar

seu ambiente privado com outros membros, obtivemos como número mínimo 0, registrado

entre aqueles que ainda não tiveram a experiência de hospedar nenhum viajante, e, como

máximo de hospedagens, o total de 25 vezes. A média geral entre todos os participantes em

relação à quantidade de hospedagens foi 8.




             (Tabela 16, referente ao número de pessoas hospedadas pela amostragem)



       O número de vezes que estes mesmos usuários foram hospedados por outros

couchsurfers é consideravelmente menor, o que leva a crer que o perfil geral do couchsurfer

                                                                                        56
aracajuano (a partir da amostragem) refere-se muito mais ao hábito de receber viajantes do

que de viajar ou de utilizar os couchs em suas viagens a outras cidades.




  (Tabela 17, referente ao número de vezes que os usuários entrevistados usaram ‘couchs’)



       Em termos gerais, o que norteia a decisão dos couchsurfers da amostragem do grupo

Aracaju-SE sobre hospedar ou não alguém está intimamente relacionado às referências que o

guest possui: o objetivo é averiguar se elas são no geral positivas, ou se, por exemplo, esses

membros já chegaram a se envolver em alguma situação adversa para merecer referências

negativas ou neutras. O segundo fator mais relevante avaliado pelos membros entrevistados é

se o guest possui similaridades nos gostos, na filosofia de vida ou nas características

apresentadas no perfil. Em terceiro lugar, está a prioridade por hospedar pessoas do mesmo

sexo, de idade semelhante e que falem uma língua acessível.

       No que se refere, inversamente, à busca de um couch, as referências positivas

continuam sendo imprescindíveis na hora de escolher um host. Outro fator muito relevante

mencionado diversas vezes pelos membros é a localização de quem hospeda, se é próximo a

terminais de ônibus e metrô, se é de fácil acesso e bem sinalizado. O terceiro ponto mais

relevante é o de identificação com o perfil do possível host. Ter hábitos e gostos em comum

facilita a convivência e torna a experiência mais leve, prazerosa, atestam os entrevistados.

       Quando questionados sobre o impacto do Couchsurfing nas interações e atividades e

de que forma eles qualificariam suas experiências oriundas desta rede, se mais significativas

na atmosfera online ou na off-line, mais de 80% afirmaram que o impacto do Couchsurfing
                                                                                               57
consiste em, apesar de ser uma ferramenta digital, oferecer uma experiência off-line aos

indivíduos, seja no que diz respeito à promoção dos encontros, às possibilidades de

intercâmbios culturais, e à conexão e aproximação das pessoas. Tudo isso, portanto, culmina

em uma experiência muito mais simbólica e expressiva, na esfera off-line, do que poderia

ocorrer online.

       Do total de entrevistados, pouco mais de 10% afirmaram participar mais ativamente

dos fóruns e comunidades online, por exemplo, mas justificaram essa ‘exceção à regra’ pelo

fato de não terem tempo suficiente para se dedicar mais aos encontros presenciais, devido à

correria do dia a dia. Os outros 10% restantes afirmaram que conseguem ter uma experiência

significativa tanto na esfera virtual como na presencial oferecidas por esta rede.




         .

    (Tabela 18: A experiência proporcionada pelo CS é mais percebida pelos usuários no
                           ambiente off-line que no ambiente digital)



       Os Couchsurfers do grupo estudado costumam alimentar as suas relações construídas

por intermédio desta rede mantendo contato também através de outras redes sociais, como

Facebook, Twitter, ou mesmo através de e-mail ou telefone. Mais de 50% afirmaram se

                                                                                         58
O resgate da interação face-a-face intermediada pela rede social Couchsurfing
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O resgate da interação face-a-face intermediada pela rede social Couchsurfing

  • 1. UNIVERSIDADE TIRADENTES ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE-A-FACE INTERMEDIADA PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING Aracaju 2012
  • 2. ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE-A-FACE INTERMEDIADA PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING Monografia apresentada à Universidade Tiradentes como um dos pré-requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social – Hab. Publicidade e Propaganda. ao Professor Esp. Arthur Leonardo Roeder Neto para a disciplina Projetos Experimentais em Publicidade e Propaganda. Prof. Esp. Arthur Leonardo Roeder Neto Aracaju 2012
  • 3. ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE-A-FACE INTERMEDIADA PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING Monografia apresentada à Universidade Tiradentes como um dos pré-requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social – Hab. Publicidade e Propaganda. ao Professor Esp. Arthur Leonardo Roeder Neto para a disciplina Projetos Experimentais em Publicidade e Propaganda. Aprovada em: _____/_____/_____. Banca Examinadora ________________________________________________________ Prof. Esp. Arthur Leonardo Roeder Neto Universidade Tiradentes – SE ________________________________________________________ Prof. Esp. Cristiano Leal de Barros Lima Universidade Tiradentes – SE ________________________________________________________ Prof. Me. Polyana Bittencourt Andrade Universidade Tiradentes – SE
  • 4. DEDICATÓRIA À Dona Lourdinha, por acreditar sempre.
  • 5. AGRADECIMENTOS A todos os que contribuíram, direta ou indiretamente, para que este trabalho fosse concluído. Em especial: À família, pelo apoio nas madrugadas e aos amigos pela torcida constante. Ao meu orientador Leo Roeder, pelos incentivos, por apostar no projeto e descobrir este universo junto comigo. À minha co-orientadora “buena onda” Mônica T. Deda, pelo apoio e acompanhamento constante, mesmo a 4.323 km de distância.
  • 6. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo analisar o uso da rede social virtual Couchsurfing no incentivo ao resgate da interação face a face. O site, popularmente conhecido e difundido por promover o intercâmbio da hospitalidade, propõe a conexão entre viajantes e moradores locais. A pesquisa foi realizada por meio de um levantamento bibliográfico para a construção do referencial teórico capaz de auxiliar na compreensão do objeto seguida de uma pesquisa quali-quantitativa com aplicação de questionário online no grupo Aracaju-SE, foco específico deste projeto. Espera-se que esta análise incentive o diálogo sobre comunicação digital e contribua para estudos futuros. PALAVRAS-CHAVE: Interação mediada; Interação face a face; Redes Sociais; Couchsurfing.
  • 7. ABSTRACT This academic research aims at analyzing the use of the virtual social network Couchsurfing for the purpose of bringing back the face to face interactions. The website, popularly known and spread for promoting the exchange of hospitality, makes it possible that travelers and locals connect to each other. The study was conducted based on a bibliographic research in order to build a theoretical reference capable of helping us understand our object followed by a quali-quantitative research with the application of an online survey published on the community Aracaju-SE, this study’s specific object. Hopefully, this project will be able to stimulate the debate about digital communication and to contribute to future studies. KEYWORDS: Mediated interaction; Face to face interaction; Social Networks; Couchsurfing.
  • 8.
  • 9. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Tela inicial do Couchsurfing.............................................................. 38 FIGURA 2: Ícones de identificação e qualificação dos usuários............................40 FIGURA 3: Disponibilidade do couch....................................................................40 FIGURA 4: Referências trocadas entre usuários.....................................................42 FIGURA 5: Ranking contendo número do de usuários do CS por país..................43 FIGURA 6: Línguas faladas no CS.........................................................................44
  • 10. LISTA DE TABELAS TABELA 1: Características das interações – Thompson, 2011, p. 123.................................19 TABELA 2: Idiomas mais frequentes falados pelos couchsurfers brasileiros.......................46 TABELA 3: Disponibilidade dos usuários no CS Brasil.......................................................46 TABELA 4: Perfil do gênero dos couchsurfers brasileiros...................................................47 TABELA 5: Média de idade entre os couchsurfers brasileiros.............................................47 TABELA 6: Cidades brasileiras presentes no Couchsurfing...............................................48 TABELA 7: Gênero dos usuários encontrados no Couchsurfing em Sergipe.....................49 TABELA8: Média da idade dos couchsurfers em Sergipe..................................................49 TABELA 9: Sexo dos couchsurfers que responderam ao questionário...........................................53 TABELA 10: Faixa etária dos usurários que responderam ao questionário....................................53 TABELA 11: Tempo de participação no CS pelos respondentes ao questionário...........................54 TABELA 12: Forma como os usuários declaram na pesquisa sua participação no CS...................54 TABELA 13: Como os entrevistados qualificam a experiência no Couchsurfing...........................55 TABELA 14: Referente aos contatos do CS....................................................................................55 TABELA 15: Análise dos laços dos entrevistados criados dentro do CS........................................56 TABELA 16: Referente ao número de pessoas hospedadas pela amostragem................................56 TABELA 17: Referente ao número de vezes que os usuários entrevistados usaram ‘couchs’.................................................................................................................................57 TABELA 18: A experiência proporcionada pelo CS é mais percebida pelos usuários no ambiente off-line que no ambiente digital............................................................................58
  • 11. SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO ..................................................................................................................11 2- INTERAÇÃO......................................................................................................................16 2.1- Interação face a face..........................................................................................................16 2.2- Interação mediada..............................................................................................................18 2.3- Interação mediada por computador...................................................................................20 3- A SOCIEDADE EM REDE 3.1- O que é rede?.....................................................................................................................26 3.2- Rede Social (face a face)...................................................................................................26 3.3- Rede Social mediada..........................................................................................................26 3.3.1- Web 2.0...........................................................................................................................28 3.3.2- Rede Social na Internet...................................................................................................28 3.3.3- Sites de Redes Sociais.....................................................................................................34 4- COUCHSURFING..............................................................................................................36 4.1. Couchsurfing, um breve histórico e panorama..................................................................36 4.2- Couchsurfing no mundo....................................................................................................42 4.3- Couchsurfing no Brasil......................................................................................................45 4.4- Couchsurfing em Aracaju..................................................................................................48
  • 12. 5- O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE A FACE INTERMEDIADO PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING..................................................................................................51 5.1- Procedimentos metodológicos...........................................................................................51 5.2- Caracterização geral dos dados..........................................................................................52 6- CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................60 7- REFERÊNCIAS..................................................................................................................63 APÊNDICE A (questionário em anexo)................................................................................65 APÊNDICE B (pré-projeto)...................................................................................................68
  • 13. I. INTRODUÇÃO Toda sociedade, independente do seu tempo histórico particular e da sua localização geográfica específica é necessariamente dinâmica, cada uma com suas características específicas. Porém, a sociedade (global) contemporânea, com todas as suas interconexões que extrapolam os mais variados limites espaço-temporais de uma forma talvez nunca imaginada antes, passa pelas transformações mais diversas de uma maneira e numa velocidade estonteantes em todos os campos das relações e do conhecimento humanos. Neste processo de transformação, a tecnologia, em todas as suas facetas e possibilidades de aplicação possuem um papel fundamental como força motriz destas mudanças. É assim que a incorporação cada vez mais constante de equipamentos como TVs, computadores, celulares, além do próprio ambiente virtual proporcionado pela Internet, no cotidiano da população acaba provocando mudanças consideráveis em seus hábitos sociais, culturais e econômicos. A revolução tecnológica deu origem ao informacionalismo, tornando-se assim a base material desta nova sociedade, em que os valores da liberdade individual e da comunicação aberta tornaram-se supremos. No informacionalismo, as tecnologias assumem um papel de destaque em todos os segmentos sociais, permitindo o entendimento da nova estrutura social – sociedade em rede – e consequentemente, de uma nova economia, na qual a tecnologia da informação é considerada uma ferramenta indispensável na manipulação da informação e construção do conhecimento pelos indivíduos, pois ‘a geração, processamento e transmissão de informação torna-se a principal fonte de produtividade e poder’ (CASTELLS, 1999, p. 21). Desta maneira, o avanço da tecnologia e o desenvolvimento de novas ferramentas possibilitaram uma reflexão do contexto social e das suas limitações. Dentro desta realidade, o conhecimento individual e centralizado já não é suficiente, e se caracteriza como defasado. Assim, é possível observar o quanto o compartilhamento do conhecimento desterritorializa a sociedade por meio dos aparatos tecnológicos que transpõem as barreiras geográficas e temporais. Ou seja, não é mais preciso estar presente fisicamente para construir um diálogo, 11
  • 14. participar de um evento ou debate e assistir a um seminário, de modo que a sociedade contemporânea de compartilhamento da informação acaba redefinindo os métodos e espaços anteriormente destinados ao aprendizado, como escolas e instituições, deixando, por exemplo, de ser os únicos espaços de formação intelectual dos cidadãos. A finalidade dos sistemas educacionais em pleno século XXI será pois tentar garantir a primazia da construção do conhecimento, numa sociedade onde o fluxo de informação é vasto e abundante, e em que o papel do professor não deve ser mais o de um mero transmissor de conhecimento, mas o de um mediador da aprendizagem. Uma aprendizagem que não acontece necessariamente nas instituições escolares, mas, pelo contrário, ultrapassa os muros da escola, podendo efectuar-se nos mais diversos contextos informais por meio de conexões na rede global. Não queremos apregoar a extinção da escola, pois ela será sempre uma instituição de ponta na produção e institucionalização do conhecimento, mas, alertar para que precisa estar aberta por forma a entender os novos contextos em que pode ser estimulada a construção colaborativa do saber (ILLICH, 1985; SIEMENS, 2003) (COUTINHO e LISBÔA, 2011, p.6). Desta forma, o aprendizado ganha um caráter horizontal, criativo, que não obedece a um prazo estipulado, por exemplo, e que segue constante por toda a vida. Segundo Crawford (1983, apud Coutinho e Lisbôa, 2011, p.6), um dos primeiros autores a referir o conceito de Sociedade da Informação (SI) foi o economista Fritz Machlup, na obra publicada em 1962, The Production and Distribution of Knowledge in the United States 1. No entanto, o desenvolvimento do conceito deve-se a Peter Drucker, que, em 1966, no bestseller The Age of Discontinuity2, fala pela primeira vez numa sociedade pós-industrial em que o poder da economia – que, segundo o autor, teria evoluído da agricultura para a indústria e desta para os serviços – estava agora assente num novo bem precioso: a informação. A Sociedade de Informação, portanto, se caracteriza pelo uso da tecnologia como fator que impulsiona o compartilhamento da informação e assegura a comunicação entre indivíduos. Neste contexto, os meios de comunicação eletrônicos, como televisão, rádio, telefone, computador, além das inúmeras possibilidades trazidas pela Internet, são 1 ‘A produção e distribuição do conhecimento nos Estados Unidos’. 2 ‘Uma Era de Descontinuidade’. 12
  • 15. instrumentos utilizados para acelerar e difundir o conteúdo. A intenção é de que um grande número de pessoas seja alcançado, e, uma vez recebida a informação, que ela tenha o poder de capacitar a população a construir uma opinião crítica acerca dos temas sugeridos e possa, a partir daí, transformar a sociedade em que vive. A democratização da informação na sociedade contemporânea foi sensivelmente percebida com a acessibilidade da Web 2.0, quando a difusão do conteúdo passou a dar-se através de grupos hospedados em Redes Sociais e comunidades digitais, oferecendo, assim, uma espécie de ‘segunda opinião’, uma alternativa à versão das mídias de massa tradicionais, como rádio, jornais e TV. Segundo Primo (2007), a Web 2.0 é a segunda geração de serviços online, e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo. É neste cenário favorável ao questionamento e à formação da opinião crítica que as Redes Sociais se tornaram canais de debate e planejamento de verdadeiros levantes políticos contemporâneos, mobilizados por grupos da sociedade civil e organizados a partir de ferramentas hospedadas na Internet. Exemplos desses movimentos são a Primavera Árabe, iniciada na Tunísia, o Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, e os Indignados da Espanha. Manifestações de insatisfação social que marcaram o ano de 2011 como Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, Indignados, na Espanha, os protestos de estudantes no Chile, o motim de jovens na Inglaterra e o Movimento 15 de Outubro – organizado pelas redes sociais e que suscitou mobilizações em mais de mil cidades de 85 países na referida data – apresentam características típicas dos movimentos sociais contemporâneos. A utilização de redes de diálogos e troca de informações contínuas cria sinergia para que essas manifestações não sejam atos isolados, mas trabalhos conjuntos que encontram apoio mútuo pela utilização da Internet. (DI FÁTIMA, 2012, p.1). Assim como os movimentos citados, o objeto de estudo específico deste projeto (a rede social Couchsurfing) também pode de alguma forma ser inserido no contexto de 13
  • 16. agrupamentos de pessoas dispostas a propor uma quebra dos padrões sociais, culturais ou econômicos impostos, ao estabelecer uma forma bastante distinta de relações sociais. Este trabalho pretende, portanto, fazer uma análise de como o Couchsurfing, apesar de estar hospedada no ambiente digital, proporcionando em grande medida um resgate da comunicação face a face. Durante a maior parte da história humana, a grande maioria das interações sociais foram face-a-face. Os indivíduos se relacionavam entre si principalmente na aproximação e no intercâmbio de formas simbólicas, ou se ocupavam de outros tipos de ação dentro de um ambiente físico compartilhado. As tradições orais dependiam para sobreviver de um contínuo processo de renovação, através de histórias contadas e atividades relatadas, em contextos de interação face-a-face. (THOMPSON, 2011, p.119). Já no universo digital, ou seja, mediado por computador, há a quebra de barreiras geográficas e temporais; porém, esta sofre rupturas possibilitadas por questões próprias do ambiente digital, como a dispersão provocada pelo bombardeio de informações e referências e a limitação da comunicação, por conta da ausência de possibilidades de linguagens complexas, como a gestual e a sonora, em prol de uma grande predominância da expressão escrita. Interações mediadas também implicam um certo estreitamento na possibilidade de deixas simbólicas disponíveis aos participantes. A comunicação por meio de carta, por exemplo, priva os participantes de deixas associadas à presença física (gestos, expressões faciais, entonação, etc.), enquanto outras dicas simbólicas (associadas à escrita) são acentuadas [...] Ao estreitar o leque de deixas simbólicas, as interações mediadas fornecem aos participantes poucos dispositivos simbólicos para a redução da ambiguidade na comunicação. Por isso as interações mediadas têm um caráter mais aberto do que as interações face a face. Estreitando as possibilidades de deixas simbólicas, os indivíduos têm que se valer de seus próprios recursos para interpretar as mensagens transmitidas. (THOMPSON, 2011, p. 121). No que se refere ao Couchsurfing, apesar de se tratar de uma rede social digital intermediada por computador, a sua grande proposta é a de conectar, no mundo off-line, viajantes de todo o mundo a moradores locais e à cultura que visitam. O processo de ser acolhido por um anfitrião local de forma gratuita, por exemplo, qualifica uma experiência cuja 14
  • 17. moeda de troca é o intercâmbio cultural, o compartilhamento de vivências e o aprendizado de algo novo. No estado de Sergipe, o grupo mais expressivo é o Aracaju-SE – o foco específico aqui –, que foi criado em 2008 e possui atualmente 685 membros 3. Além de várias características de usabilidade semelhantes a outras redes populares, como Orkut e Facebook, o Couchsurfing desenvolveu também mecanismos de validação para garantir que o encontro entre desconhecidos de todo o mundo pudesse dar-se de maneira segura para todos. Recomendações, avaliações positivas, negativas e neutras, e um sistema de verificação que confirma identidade e endereço do usuário, são algumas dessas medidas que colaboram na escolha do hóspede/anfitrião e reforçam o capital social dos participantes. Segundo Putnam (2000, p.19, apud Recuero, 2009, p.45), o conceito de capital social “refere- se à conexão entre indivíduos – redes sociais e normas de reciprocidade e confiança que emergem dela”, e está intimamente ligado à ideia de virtude cívica, de moralidade e de seu fortalecimento através de relações recíprocas. Mas antes de chegar no caso específico do Couchsurfing é preciso discutir alguns conceitos que ajudarão na compreensão desse fenômeno. 3 Dados de novembro de 2012. 15
  • 18. II. INTERAÇÃO 2.1. Interação face a face O homem é naturalmente um ser comunicativo. Para que o padrão de interação face-a- face se aplique, é preciso que existam dois interlocutores dispostos a uma interação e focados na conversação. De acordo com Orecchioni (2006, p. 7 apud Lins, p.26) a comunicação verbal segue algumas características: a) alocução: um destinatário fisicamente distinto do falante; b) interlocução: troca de palavras com intencionalidade, em que se alternam os papeis do emissor e do receptor; c) interação: troca comunicativa entre os interactantes, criando redes de influências mútuas. Para que a atividade verbal seja considerada conversação, é preciso que existam dois interlocutores e que os participantes estejam voltados cognitiva e visualmente para esta atividade. Dentro do exercício de linguagem, o comum é que a fala circule e que os papeis de emissor e receptor se alternem, permitindo que os falantes se intercambiem constantemente, cada qual em seu turno. A interação participa do exercício de conversação à medida que os diálogos dos participantes exercem influência uns sobre os outros, mutuamente. O discurso é construído a partir do estímulo que a fala do interlocutor A provoca no interlocutor B, e vice-versa. “É importante observar que a Conversação é considerada, a partir da ótica da Análise da Conversação, como uma atividade linguística estruturalmente organizada e sempre ocorre em um contexto ou circunstância em que os interactantes estejam engajados” (cf. MARCUSCHI, 2001, p.17, apud ARTAXERXES, 2011, p.60). A conversação face-a-face se caracteriza por ocorrer em um eixo temporal simultâneo, de modo que necessariamente acaba compartilhando códigos sociais comuns, como olhares, movimentos, sorrisos e conjuntos gestuais. Para que haja um intercâmbio comunicativo, não basta somente que os interlocutores discursem alternadamente. É importante que exista engajamento entre eles. Há gestos e sinais que auxiliam na identificação deste engajamento: é o que se pode chamar de “validação interlocutória”. “Os cumprimentos, apresentações e outros rituais “confirmativos” desempenham, nesse sentido, um papel evidente. Mas a validação interlocutória se efetua, sobretudo, por outros meios mais discretos e, no entanto, fundamentais” ( ORECCHIONI, 2006, p. 8). 16
  • 19. Segundo Orecchioni (2006), o emissor pode indicar que está falando com alguém de forma direcionada normalmente por meio da orientação do corpo ou pela direção do olhar, além de determinadas formas de tratamento e da presença de “captadores”, tais como o “hein”, “né”, “sabe”, “você vê”, “digamos”, “vou te dizer”, “nem te conto” etc. O falante pode ainda recorrer a procedimentos fáticos para se assegurar de que o seu destinatário recebeu a mensagem corretamente, como o aumento da intensidade vocal, ou então das retomadas ou reformulações. O receptor também se utiliza de sinais que servem para confirmar ao falante que acompanha o seu discurso comunicativo. Um franzir de sobrancelhas, sorriso, ligeira mudança de postura, recursos vocais (“humm”, “anram”), ou verbais (“sim”, “certo”), são denominados reguladores, e servem para nortear o falante de que a mensagem está sendo captada e compreendida. A conversação é uma atividade prioritariamente humana, pois envolve o intercâmbio de signos específicos que, acima de tudo, estão repletos de subjetividade. Os animais também se comunicam, mas, neste caso, de maneira estritamente objetiva, a partir de uma interação de estímulo-resposta que já está pré-determinada. Já no que se refere ao ser humano, se toda comunicação envolve signos com significados específicos previamente acordados, o sentido depende, em última instância, da interpretação que o receptor fará destes signos (BAHKTIN, 2003). Um discurso ou conversação é carregado de influências culturais e carrega nos símbolos e signos desde características gestuais e de entonação até aspectos linguísticos que caracterizam esta influência. De acordo com Marcuschi (2005, apud ARTAXERXES, 2011), para que a interação possa ser caracterizada como face-a-face, basicamente é preciso que contenha as seguintes características: a) que ocorra entre pelo menos dois falantes; b) que haja pelo menos uma troca de interlocutores; c) que exista uma sequência de ações coordenadas; d) 17
  • 20. que uma identidade temporal seja executada; e) que o envolvimento se dê numa “interação centrada”. Estas características nos permitem compreender que a interação face-a-face acontece quando os participantes estão presentes e compartilham da mesma referência espacial e temporal, o que geralmente implica um fluxo de informações em que receptor e produtor intercambiam papeis e que os símbolos e gestos são essenciais para orientar a compreensão da mensagem. 2.2. Interação mediada Segundo Thompson (2011, p.121), para ser considerada mediada, toda e qualquer interação necessariamente implica o uso de um meio técnico (papel, fios elétricos, ondas eletromagnéticas etc.) que transmitam a informação e o conteúdo simbólico específico para indivíduos situados remotamente no espaço, no tempo, ou em ambos. Neste caso, este tipo de interação acaba estendendo-se de maneira muito flexível no espaço e no tempo, o que a faz diferir bastante do caráter presencial e momentâneo da interação face-a-face e extrapolá-la. Características Interativas Interação Face a face Interação mediada Contexto de co-presença; sistema Separação dos contextos, Espaço-tempo referencial espaço-temporal disponibilidade estendida no comum tempo e espaço Limitação das possibilidades de Possibilidade de deixas simbólicas Muliplicidade de deixas simbólicas deixas simbólicas Orientação da atividade Orientada para outros específicos Orientada para outros específicos 18
  • 21. Dialógica/ Monológica Dialógica Dialógica (Tabela 1: características das interações – THOMPSON, 2011, p. 123). Ou seja, na interação mediada é preciso, além da participação dos interlocutores, a presença de uma mídia que transportará a mensagem para os personagens que compartilham do diálogo. Uma das características inerentes à interação mediada é a possibilidade de difundir a informação para indivíduos que não compartilham do mesmo referencial geográfico ou temporal do emissor. Para que a mensagem seja claramente entendida, é imprescindível que esta contenha informações, como localização e data, por exemplo. A interação face-a-face permite uma interpretação subjetiva do discurso, já que existe todo um contexto cultural, simbólico e gestual dos participantes; já na comunicação mediada, a subjetividade pode implicar uma lacuna ou má interpretação da informação. Interações mediadas também implicam um certo estreitamento na possibilidade de deixas simbólicas disponíveis aos participantes. A comunicação por meio de carta, por exemplo, priva os participantes de deixas associadas à presença física (gestos, expressões faciais, entonação, etc.), enquanto outras dicas simbólicas (associadas à escrita) são acentuadas. Similarmente, a comunicação por meio do telefone priva os participantes das deixas visuais associadas à interação face a face, preservando e acentuando as deixas orais. Ao estreitar o leque de deixas simbólicas, as interações mediadas fornecem aos participantes poucos dispositivos simbólicos para a redução da ambiguidade na comunicação. Por isso as interações mediadas têm um caráter mais aberto do que as interações face a face. Estreitando as possibilidades de deixas simbólicas, os indivíduos têm que se valer de seus próprios recursos para interpretas as mensagens transmitidas (THOMPSON, 2011, p. 121). A interação mediada através de mídias populares, como rádio, televisão e cinema 4, são identificadas como unidimensionais, pois a informação segue somente uma direção, não há interação entre quem emite e quem recebe o discurso. É nas décadas de 20 e 30, com o telefone, portanto, que se inicia uma nova discussão acerca de interatividade. Interatividade 4 Estes aparatos tecnológicos são considerados ferramentas cuja capacidade midiática é de quase-interação, por terem perfil monológico e pelo fato de sua produção ser direcionada para um número indefinido de receptores potenciais. Elas não possuem o grau de reciprocidade interpessoal de outras formas de interação, mas ligam os indivíduos num processo de comunicação e intercâmbio simbólicos (Thompson, 2011). 19
  • 22. esta que, enquanto desde os primórdios era responsável pela perpetuação de rituais culturais, passa, a partir da chegada das novas mídias, mais simultâneas e dinâmicas, a contribuir com as transformações sociais e a influir diretamente na forma com que o homem se coloca e se percebe nesse contexto. 2.3. Interação mediada por computador A Internet representa, nos dias de hoje, o maior sistema de comunicação desenvolvido pelo homem. Ela integra o mundo em uma rede global de ferramentas de produção e difusão de informação. Para Thompson (2011), o desenvolvimento de vários tipos de meios eletrônicos nos séculos XIX e XX substituiu as interações face a face por formas de interação e quase-interação mediadas. Na verdade, mesmo diante de um ambiente comum, o compartilhamento de informações acontece em proporção crescente em contextos de interação mediada mais do que em face a face. A interação mediada por computador através da internet se estende no espaço e tempo. Ela possibilita a desterritorialização da conversação, reforça o potencial intercultural da comunicação e permite a formação e manutenção de comunidades globais. É preciso observar que, por receber o intermédio de uma máquina que depende de fatores tecnológicos e de infraestrutura, este padrão de interação também está sujeito ao tempo de processamento e velocidade de resposta da máquina. No entanto, como a proposta deste trabalho é ir além das especificidades técnicas da máquina, ao focar especificamente no comportamento dos interlocutores dentro deste cenário, desconsideraremos esses aspectos aqui. Quando se fala em “interatividade”, a referência imediata é sobre o potencial multimídia do computador e de suas capacidades de programação e automatização de processos. Mas ao estudar-se a interação mediada por computador em contextos que vão além da mera transmissão de informações (como educação a distância), tais discussões tecnicistas são insuficientes. Reduzir a interação a aspectos meramente tecnológicos, em qualquer situação interativa, é desprezar a complexidade do processo de interação mediada. É fechar os olhos para o que há além do computador. Seria 20
  • 23. como tentar jogar futebol olhando apenas para a bola, ou seja, é preciso que se estude não apenas a interação com o computador, mas também a interação através da máquina. (PRIMO, 2007, p.30). Ainda sobre o mesmo tema, Lévy (1999) afirma que, enquanto anteriormente a informática voltava suas atenções mais que nada para as máquinas – programas e hardwares – , atualmente os esforços contemporâneos giram em torno de desconstruir o computador em benefício de um espaço de comunicação navegável e transparente, centrado na informação. A evolução das máquinas para uma programação independente descomplicou o uso do computador e possibilitou o foco no espaço virtual de trabalho e de comunicação, funcionando de forma independente de seus suportes. Isto possibilitou ao homem uma maior liberdade para reproduzir ou recriar padrões de interação neste novo universo digital. O computador não é mais um centro, e sim um nó, um terminal, um componente da rede universal calculante. Suas funções pulverizadas infiltram cada elemento do tecno- cosmos. No limite, há apenas um único computador, mas é impossível traçar seus limites, definir seu contorno. É um computador cujo centro está em toda a parte e a circunferência em lugar algum, um computador hipertextual, disperso, vivo, fervilhante, inacabado: o ciberespaço em si (LÉVY, 1999, p.44). Depois de compreendidos os padrões básicos de funcionamento da máquina, o indivíduo está apto a operar o computador, e através dele buscar as informações que lhe interessam, partilhar conteúdos, e conectar-se a outras pessoas. Passa a ser, assim, participante de um processo de interação mediada por computador. Para Lippman (apud PRIMO, 2011, p.46), um sistema pode ser considerado interativo quando as seguintes propriedades estão presentes: interruptabilidade, granulidade, degradação graciosa, previsão limitada e não default. Interruptabilidade: é a capacidade de cada um dos participantes interromper o processo. “Cada participante deve ter a possibilidade de atuar quando bem entender [...] Porém, a interruptabilidade deve ser mais inteligente do que simplesmente trancar o fluxo de 21
  • 24. uma troca de informações” (LIPPMAN, apud PRIMO, 2011, p.31). Granulidade: refere-se ao menor elemento após o qual se pode interromper. Em uma conversa, poderia ser uma frase, uma palavra (“um-hum”, “já respondo sua pergunta”); no cinema, poderia ser uma cena, um plano. É preciso levar em conta estas circunstâncias para que o “usuário” não creia que o sistema interativo usado tenha “travado”. Degradação graciosa: ocorre quando o sistema não tem a resposta para uma indagação. Nesta circunstância deve ser dada aos participantes a possibilidade de saber quando e como podem obter a resposta que não está disponível naquele momento. Previsão limitada: não é preciso prever todas as instâncias possíveis de ocorrência, de modo que, se algum imprevisto ocorrer na interação, o sistema ainda tem condições de responder. Não default: o sistema não deve forçar uma direção a ser seguida pelos seus participantes, e é a inexistência de um padrão pré-determinado que dá liberdade aos participantes. De acordo com Primo (2011), a proposição de Lippman pode ser considerada como uma busca pela sofisticação dos sistemas informáticos. Mas o que sugere é uma simulação de certas características da interação humana enquanto dissimula as deficiências da máquina. Para Thompson (2011), o desenvolvimento dos meios de comunicação não somente criou novas formas de interação, mas também fez surgir novos tipos de ação que têm qualidades e consequências bem distintas. A característica mais geral destes novos tipos de ação é que eles são responsivos e orientados a ações ou pessoas que se situam em contextos espaciais (e talvez temporais) remotos. Em outras palavras, o desenvolvimento dos meios de comunicação fez surgir novos tipos de “ação à distância” que se tornaram cada vez mais comuns no mundo moderno. Ou seja, a comunicação mediada por computador ofereceu novas possibilidades de interação. Se, por um lado, perde-se um pouco da espontaneidade da resposta e dos gestos que 22
  • 25. complementam o diálogo, por outro, o diálogo mediado pelo computador reinventou alguns destes gestos através de caracteres e símbolos, como emoticons5, gifs 6 etc. O diálogo mediado por computador também permitiu que os participantes ponderassem antes de se expressar, de construir os argumentos ou de mostrarem seus perfis verdadeiros. Muitos interlocutores, diante da flexibilidade e ludicidade do universo digital, recriaram seus perfis para impressionar os demais integrantes da rede, sempre numa tentativa de atender às próprias expectativas. Segundo Graeml (2004), Castells (1999) também analisa o impacto que estas mudanças de comportamento trazem para a nossa cultura, como o fato de uma pessoa se sentir mais a vontade mandando um e-mail anônimo do que conversando sobre o mesmo assunto pessoalmente. Para aqueles que possuem baixa autoestima ou têm dificuldade em se expressar, por exemplo, há um estímulo adicional para se desenvolver uma identidade online distinta da que se possui no mundo real. Para Lévy (1999), os chats dão margem a uma relação de desvinculação com a verdade, ou mesmo de alienação social e cultural. A própria Psicologia Corporal mostra que os indivíduos estão deixando de lado seus traços de caráter oral, que lhes permitiam manter o contato com colegas, familiares e se relacionar socialmente (LOWEN, 1987), para estarem cada vez mais esquizóides 7 ou núcleo psicóticas (NAVARRO, 1995), buscando o afastamento social, dando margem à fantasia e preconizando a razão no lugar do afeto, o virtual no lugar do real, o computador no lugar da presença física. Embora a tecnologia também tenha permitido o agrupamento de diversos recursos comunicacionais como sons, imagens, textos, numa tentativa de reproduzir características presenciais e favorecer a interação e o retorno imediato de interlocutores que se encontram em 5 Emoticon – emotion (“emoção”) + icon (“ícone”) – são caracteres tipográficos que traduzem o estado emotivo de quem os aplica. Ex: =) ;) :( 6 Gif:: formato de imagem que tanto pode ser usado de forma estática, ou de forma animada. 7 Trata-se de um transtorno de personalidade em que o indivíduo apresenta pouco interesse nas relações sociais e normalmente tende à introspecção e ao isolamento. 23
  • 26. territórios distintos, muitos creditam à tecnologia o enfraquecimento das relações interpessoais, o distanciamento e o isolamento dos indivíduos que a utilizam. Em uma palestra realizada no TED Talks 20128 “Connected, but alone?” (“Conectados, porém solitários?”), Sherry Turkle apresenta dados de sua pesquisa com centenas de indivíduos que passam uma parte significativa de seus dias digitalmente conectados, o que a leva a afirmar que esse tipo de conexão não só transforma o que o que é feito, mas também transforma aquilo que se é, o indivíduo em sua essência. Momentos compartilhados, seja em uma reunião de trabalho, em um jantar com amigos ou café da manhã com a família podem ter que dividir atenções com ferramentas tecnológicas e com o acesso à internet 24 horas por dia, esta sempre disponível seja através de aparelhos celulares, computadores portáteis e tablets. A pesquisadora conclui, portanto, em sua tese, que apesar de a interação mediada e os avanços tecnológicos poderem oferecer possibilidades de evolução na ciência e medicina, muitas vezes eles acabam sendo empregados na sociedade cotidiana de forma leviana, o que só agrava a superficialidade das relações e priva os indivíduos de compartilhar momentos relevantes para a sua formação como cidadãos. Deste modo, é perceptível o caráter restritivo da interação mediada por computador. Ou seja, se por um lado ela possibilita a formação de aldeias globais que se concatenam não mais por padrões regionais ou culturais, mas por ideias e motivações afins, por outro, cria verdadeiras vilas virtuais, onde os indivíduos passam mais tempo construindo seus personagens, socializando virtualmente e vivenciando etapas essenciais da vida apenas através do que é reproduzido na tela do computador. Este padrão condiciona e limita a capacidade dos 8 TED – “Tecnologia, Entretenimento e Design” – é uma fundação privada sem fins lucrativos dos Estados Unidos que tem como objetivo a disseminação de ideias relevantes à sociedade, abordando temas como ciência, cultura, sustentabilidade etc. Os TED Talks tratam-se de ciclos de palestras que ocorrem anualmente em várias partes do mundo, por onde já passaram milhares de palestrantes e líderes em diversas áreas. Os registros dessas palestras em vídeos são amplamente divulgados na internet e podem ser encontradas no site da fundação: http://www.ted.com/. 24
  • 27. indivíduos, que, quando expostos a uma situação presencial inesperada que exija maior sensibilidade ou inteligência emocional, acabam sendo submetidos a um grande stress provocado pela dificuldade de tomar decisões, justamente pelo fato de não terem tido anteriormente uma experiência semelhante em seu histórico. 25
  • 28. III. A SOCIEDADE EM REDE 3.1. O que é uma Rede? De acordo com Tanenbaum (apud SCARANO, p. 25, 2011), um conjunto de computadores interconectados por uma tecnologia única pode ser considerado uma rede. Anteriormente, todas as necessidades eram sanadas por um único computador, porém, hoje as atividades são realizadas por um grande número de computadores separados, embora ligados entre si. Uma rede de computadores pode ser de diversos tamanhos e ter capacidades de processamento distintas, tudo vai depender das demandas que precisa atender. A rede existe prioritariamente para atender à necessidade da troca de informações entre os computadores, que, por sua vez, são motivados pelos usuários. Ou seja, não há na rede a expressão de uma vontade própria: ela necessariamente atende à vontade de quem a utiliza. De acordo com Afonso (2009, apud SCARANO, 2011, p.27), As redes são responsáveis pelo compartilhamento de ideias entre pessoas que possuem interesses e objetivos em comum e também valores a serem compartilhados. Assim, um grupo de discussão é composto por indivíduos que possuem identidades semelhantes. Neste caso, a tecnologia vem transformar a forma com que os indivíduos se relacionam, criam seus vínculos. Porém, antes de compreender como se deu a conexão e a organização dos indivíduos através dos computadores, é preciso compreender como eles se organizam em ruas relações face-a-face, pois é esta disposição que será reproduzida e adaptada para a rede de computadores. 3.2. Rede Social (face a face) Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que o homem é necessariamente um ser gregário, social. Deste modo, ainda nos primeiros passos do seu desenvolvimento, ele percebeu que a vida em grupo era não apenas mais prazerosa, mas também lhe ajudava a 26
  • 29. reforçar sua segurança e a prolongar a sua sobrevivência, por conta das facilidades proporcionadas por um grupo organizado a partir da lógica da divisão de tarefas. É a partir da formação desses grupos, portanto, que surgem os mais variados códigos para facilitar a comunicação entre os indivíduos, desde gestos e desenhos, até a própria língua e, em seguida, a sua representação escrita. Por conta dos naturais limites geográficos, cada grupo acabou construindo intuitivamente seus códigos comunicacionais, uma linguagem que se atinha necessariamente à experiência compartilhada por aquele grupo específico, e, assim, era passada para seus descendentes através de desenhos, sons, gestos e toda a infinidade de detalhes que a interação face-a-face permite. É a expansão dos grupos e conquista de novos territórios, por fim, que possibilita a interação entre estas comunidades e a percepção das diferenças e das semelhanças da comunicação desenvolvida. Nos dias atuais, os indivíduos continuam se agrupando, porém, cada vez mais motivados por afinidades e interesses em comum, ao invés de simplesmente por questões de necessidade. E como é possível identificar-se com os mais diversos assuntos e temas, neste caso, uma pessoa pode fazer parte de diversas comunidades que, por sua vez, formam diversas redes sociais distintas. Assim como os agrupamentos primitivos, as redes sociais contemporâneas carregam em si a identidade geral e as características específicas desenvolvidas por aquele grupo, sejam essas redes comunidades que se reúnem para torcer pelo time favorito, para a prática de alguma atividade esportiva, ou mesmo para compartilhar dicas e receitas culinárias: cada uma carrega em si, necessariamente, as particularidades compartilhadas por aquele grupo de pessoas. 27
  • 30. E foi, enfim, com a internet, que cada indivíduo pôde dar vazão a seus interesses independentemente da sua localização geográfica, por exemplo, o que tornou possível encontrar mais facilmente informações diversas, das mais variadas origens, assim como pessoas das mais diferentes procedências geográficas e culturais. É também na internet, portanto, que a sociedade, através dos indivíduos que a compõem, reproduz seus hábitos e replica agrupamentos para a discussão de temas e troca de experiências específicas, o que dá origem às mais distintas redes sociais virtuais. 3.3. Rede Social mediada As novas mídias transformaram a forma como a sociedade se comunica e se organiza. A internet, através dos computadores, concentrou o fluxo de informações que veio a provocar, por exemplo, a migração e a organização de grupos e comunidades que necessariamente dependiam do contato face a face para o ciberespaço, desde os encontros semanais nos clubes ou às rodas de conversa em casas de amigos. Entretanto, antes de compreender o funcionamento das redes sociais virtuais, é importante traçar um panorama da evolução da internet, e suas respectivas consequências, a partir da superação do seu modelo inicial – a Web 1.0 – para o seu formato atual, mais sofisticado, a chamada Web 2.0. 3.3.1. Web 2.0 A Internet abandona o seu modelo primário 1.0 e migra para o formato 2.0 a partir do momento em que deixa de ser percebida como uma mera rede que conecta computadores e passa a representar uma possibilidade significativamente maior de interação, além da maior facilidade de uso por parte dos internautas, que neste momento já não precisava mais de tantos conhecimentos técnicos requeridos anteriormente. Para estar no topo da pirâmide 28
  • 31. comunicacional e ser considerado um produtor de conteúdo, portanto, não era mais necessário ser um conhecedor da linguagem HTML e dos demais padrões técnicos de programação. Ou seja, na Web 2.0, as plataformas são muito mais simplificadas, de modo que o foco se desloca para a produção, a interação e o compartilhamento acessível por parte de qualquer indivíduo com o mínimo de conhecimento de usabilidade, por exemplo. Deste modo, as ferramentas passam a ter uma arquitetura mais intuitiva e de acesso muito mais simplificado. Dentro deste novo formato, portanto, a cultura e a informação que antes se restringiam aos espaços geograficamente compartilhados passaram também a ser disponibilizadas digitalmente. Museus e bibliotecas, por exemplo, demonstraram interesse em colocar suas obras na rede para que estudantes e curiosos pudessem também vivenciar esta experiência. Apesar dos avanços tecnológicos, é importante mencionar que uma das maiores diferenças entre as fases 1.0 e 2.0 é precisamente a forma com que os usuários passaram a utilizar as ferramentas disponíveis. Para Blattmann e Silva (2007, apud SILVA, 2011), este fenômeno coloca a Internet como um novo ambiente capaz de entender, compartilhar, produzir e disseminar conhecimentos através do acesso e da organização de dados. Segundo os autores, a rede trata-se de um canal onde flui grande quantidade de práticas sociais, culturais, políticas e econômicas. Neste caso, além do armazenamento de informações, ela possibilita uma grande interação, assim como uma enorme geração e troca de conhecimento. Se anteriormente a rede era gerida predominantemente por sites e grandes portais que, de modo semelhante à mídia tradicional, expunham o conteúdo de forma estática num cenário em que poucos produziam e os demais apenas recebiam e absorviam aquele conteúdo, a Web 2.0 permite que o fluxo de produção seja extremamente amplo e descentralizado. Neste novo formato, a informação pode vir de qualquer parte, ser construída de forma colaborativa e, ainda assim, manter a sua consistência. 29
  • 32. A Web 2.0 passa a ser considerada uma nova concepção, pois passa agora a ser descentralizada e na qual o sujeito torna-se um ser ativo e participante sobre a criação, seleção e troca de conteúdo postando em um determinado site por meio de plataformas abertas. Nesses ambientes, os arquivos ficam disponíveis on-line e podem ser acessados em qualquer lugar e momento, ou seja, não existe a necessidade de gravar em um determinado computador os registros de uma produção ou alteração na estrutura de um texto. As alterações são realizadas automaticamente na própria web (BLATTMANN e SILVA, 2007, p. 198, apud SILVA, 2011, p.16). Bressan (2008, apud SILVA, 2011) defende que a Web 2.0 representa uma segunda geração de serviços que buscam, através de aplicativos e de novas tecnologias, reformular os conceitos, permitindo uma maior interatividade e uma grande colaboração na utilização da internet. Foi neste cenário de livre manifestação proporcionado pela Web 2.0, portanto, que as Redes Sociais virtuais se popularizaram cada vez mais, tornando-se, assim, verdadeiros espaços de expressão e de organização dos usuários. 3.3.2. Rede Social virtual Recuero (2009), afirma que uma rede social é definida basicamente por atores e conexões, sendo esses atores indivíduos, instituições, grupos ou nós, ou seja, pessoas envolvidas na rede que se analisa. As conexões, por outro lado, seriam os laços sociais formados a partir da interação dos atores, que podem ser percebidas através dos rastros deixados pelos interlocutores na web. “De certo modo, são as conexões o principal foco do estudo das redes sociais, pois, é sua variação que altera as estruturas destes grupos” (RECUERO, 2009, p. 30). Para compreender como se dão estas conexões, é preciso antes entender como funciona a interação social no ciberespaço e quais os efeitos da mediação do computador neste tipo de interação. Recuero (2009) avalia que, como não há pistas imediatas da linguagem não verbal, por exemplo, a interpretação do contexto da interação é negociada durante o próprio processo de comunicação. 30
  • 33. É tudo construído pela mediação do computador. O segundo fator relevante é a influência das possibilidades de comunicação das ferramentas utilizadas pelos atores. Há multiplicidade de ferramentas que suportam essa interação e o fato de permitirem que a interação permaneça mesmo depois do ator estar desconectado do ciberespaço. Esse fato permite, por exemplo, o aparecimento de interações assíncronas (RECUERO, 2009, p. 32). Ou seja, a interação mediada se submete a diversos processos que variam de acordo com a ferramenta utilizada, de modo que ela pode ser ‘síncrona’ ou ‘assíncrona’. Segundo Recuero (2009, p.32), a interação síncrona é aquela que simula uma interação em tempo real. Isto é, trata-se das situações em que os agentes envolvidos têm uma expectativa de resposta imediata ou quase imediata, pelo fato de ambos interlocutores estarem presentes (online, através da mediação do computador) no mesmo momento temporal. Um exemplo deste caso são os mais diversos tipos de chat, como o Messenger, que naturalmente priorizam a comunicação síncrona. Já a interação assíncrona, não carrega uma expectativa de resposta imediata, já que espera-se que o agente leve algum tempo para responder ao que lhe foi escrito, pelo fato mesmo de ele não necessariamente se encontrar presente no momento temporal da interação, como como acontece com a comunicação via e-mail ou fóruns de discussão. Porém, apesar dessas características gerais, cada ator é extremamente independente, e, assim, pode muito bem determinar e modificar as características das ferramentas, tornando-a síncrona ou assíncrona, a depender do seu uso. Algo semelhante acontece com a intensidade das relações estabelecidas nas redes, algo que pode ser identificado, por exemplo, através dos rastros deixados na web pelos próprios usuários, o que acaba por revelar a força dos laços construídos durante suas interações online. É preciso também mencionar que normalmente o que provoca uma interação virtual são fatores bem semelhantes aos que motivam uma interação face a face, como o caráter responsivo que estimula, define e conduz um diálogo. É assim que Fischer (1987, apud 31
  • 34. PRIMO, 2007) afirma que uma pessoa não comunica, mas, sim, se engaja em um processo de comunicação. As ações de ambos os membros de um relacionamento, a comunicação interpessoal ou as interações, criam o que viemos chamar de relacionamento. No mesmo sentido que o cliché ‘É preciso duas pessoas para dançar tango’, um relacionamento não é algo que você ‘faz’, mas algo em que você entra, torna-se uma parte. Você, como um participante individual, não define mais o relacionamento que um pingo individual define toda uma tempestade. Você é apenas uma parte do sistema de comunicação interpessoal. Suas ações, juntamente com as ações coordenadas do outro, se combinam para definir o relacionamento (FISCHER, 1987, p. 8, apud PRIMO, 2007, p. 83). É este caráter responsivo que gere as relações e a intensidade dos laços que são criados, isto é, se serão fortes ou fracos, se vão durar muito tempo ou, inversamente, ter um caráter passageiro. Segundo Nicolis & Prigogine (1989, apud RECUERO, 2009, p.80), os processos dinâmicos das redes são consequência direta dos processos de interação entre os atores. É assim que elas se estabelecem como são sistemas dinâmicos que, como tais, estão sujeitos a processos de ordem, caos, agregação, desagregação e ruptura, processos estes – de construção, ruptura, conflito e cooperação – que nortearão o surgimento de novos projetos, processos, grupos e redes. Seguindo o pensamento de Recuero (2009, p.82), pode-se afirmar que as relações sociais são constituídas de interações de natureza diversa. Porém, ainda com ela, a diferenciação torna-se importante na medida em que auxilia a compreender os efeitos dessas interações sobre a estrutura de determinadas redes sociais. Não se pode, por exemplo, deduzir que não exista conflito em uma comunidade virtual. Mas, por outro lado, é preciso que se compreenda que, para que a própria estrutura da comunidade exista de modo satisfatório, a maioria das interações precisa ser cooperativa. É claro que de alguma forma o conflito e a competição podem gerar as mais variadas mudanças, estimular a busca do equilíbrio e obrigar que a comunidade se adapte à nova realidade. Entretanto, se o conflito suplantar a cooperação, pode acarretar um desgaste tão forte a ponto de provocar uma ruptura na estrutura social. 32
  • 35. A Internet pode ser um terreno fértil para a conexão de atores com ideias afins e construção de projetos ricos em diversidade cultural e propostas inovadoras. Porém, é esse mesmo campo livre de uma autoridade central que possibilita, por exemplo, a manifestação anônima por parte dos usuários, o que permite muitas vezes a expressão de diversas formas de hostilidade, de egoísmo, ou até de comentários que não façam o menor sentido. Afinal, como afirma Kollock (1999, apud PRIMO, 2007, p. 198), o conflito é próprio do humano, de modo que faz-se necessário frisar que comunicação não é sinônimo de transmissão inquestionável nem de intercâmbio consensual. Antes de adentrar nos pormenores sobre o caráter positivo ou destrutivo das manifestações através das Redes Sociais virtuais, é importante retomar Recuero (2009) para ressaltar que, embora hospede atores com códigos e motivações semelhantes às que naturalmente expressariam em qualquer ambiente, as Redes Sociais virtuais não são, necessariamente, Redes Sociais reais, apesar de poderem auxiliar na sua construção. Embora os sites de redes sociais atuem como suporte para as interações que constituirão as redes sociais, eles não são, por si, redes sociais. Eles podem apresentá- las, auxiliar a percebê-las, mas é importante salientar que são, em si, apenas sistemas. São os atores sociais, que utilizam essas redes, que constituem essas redes (RECUERO, 2009, p. 103). Ou seja, ao dizer que “são os atores sociais, que utilizam essas redes, que constituem essas redes”, a autora claramente reforça a ideia de que, apesar dos sites de redes sociais serem lembrados ou referidos a partir das características de seus grupos, são os próprios atores que as definem como tais, de modo que essas redes acabam sendo apenas sistemas que publicam, tal qual uma vitrine ou um canal, as conexões construídas pelos usuários. Para entender este panorama, por fim, é importante compreender o que caracterizam esses Sites de Redes Sociais e qual o seu papel. 33
  • 36. 3.3.3. Sites de Redes Sociais Segundo Recuero (2009), Sites de Redes Sociais são os espaços utilizados para a expressão das redes sociais na Internet. Compreendendo suas características a partir da definição de Boyd & Ellison (2007, apud RECUERO, 2009, p.102), pode-se dizer que esses sites, em termos gerais, são sistemas que permitem a construção de uma persona através de um perfil ou página pessoal, da mesma forma que possibilitam a interação através de comentários e a exposição pública da rede social de cada ator. Recuero (2009, p.104) identifica que existem dois tipos de Sites de Redes Sociais: os ‘estruturados’ e os ‘apropriados’. Os estruturados são aqueles que têm, desde o seu planejamento e processo de construção, a intenção de expor, publicizar as redes conectadas aos atores. É o caso do Orkut, Facebook, Linkedin etc., sistemas que possuem perfis e espaços específicos para a publicização da conexão dos indivíduos. Em geral, estes sites estão focados em ampliar e complexificar as redes. Já os sites apropriados, por outro lado, tratam-se dos sistemas que, originalmente, não eram voltados para mostrar redes sociais, mas acabaram por ser utilizados pelos atores com esta finalidade. É o caso, por exemplo, de fotologs, weblogs, Twitter etc. Nestes sistemas, portanto, não há espaço específico para perfil e para publicização das conexões, já que os perfis são criados a partir dos espaços pessoais, das fotos e dos textos publicados pelo ator. Apesar das semelhanças fundamentais, o que os sites apropriados e os estruturados têm em comum e permite qualificar a ambos como redes sociais na Internet é a possibilidade de difusão e o alcance da informação através dos atores e de suas conexões. Segundo Recuero (2009, p.116), foi esta difusão rápida e interativa, por exemplo, que incentivou a criação de novos canais, de novas ferramentas de publicação pessoal de imagens, textos e até vídeos. 34
  • 37. É fácil perceber o potencial das redes sociais na Internet quando se observa a difusão de uma informação nas mídias off-line em contraponto às mídias digitais, na medida em que a possibilidade de compartilhamento, de manifestações as mais diversas, sem falar do próprio alcance ilimitado, é claramente maior do que o proporcionado pelas mídias off-line. Além disso, é preciso compreender também que as informações expostas na Internet são oriundas do cotidiano real dos indivíduos. ...é preciso compreender que estudar redes sociais na Internet é estudar uma possível rede social que exista na vida concreta de um indivíduo, que apenas utiliza a comunicação mediada por computador para manter ou criar novos laços. Não se pode reduzir a interação unicamente ao ciberespaço, ou ao meio de interação. A comunicação mediada por computador corresponde a uma forma prática e muito utilizada para estabelecer laços sociais, mas isso não quer dizer necessariamente que tais laços sejam unicamente mantidos no ciberespaço (RECUERO, 2009, p. 144). A Internet, através da comunicação mediada e dos Sites de Redes Sociais, possibilitou uma nova forma de organização social, de compartilhamento de informação e de produção de conteúdo descentralizada. Por isso, é primordial conhecer um pouco mais sobre as ferramentas que desencadearam este processo. O caso do objeto de estudo deste trabalho, por exemplo, o site de rede social Couchsurfing, pode ser considerado como um de modelo estruturado, pois ele já nasce com a intenção de conectar usuários com interesses em comum e dispostos a publicizar suas conexões através das referências e dos diálogos construídos nos fóruns. Só que, de modo um tanto distinto das outras redes sociais, esta plataforma específica acaba tendo também um grande impacto da experiência off-line dos usuários, como será detalhado logo em seguida. 35
  • 38. IV. COUCHSURFING 4.1. Couchsurfing, um breve histórico e panorama A rede Couchsurfing9 (CS) é uma organização sem fins lucrativos que se propõe a conectar viajantes de todo o mundo a moradores locais e à cultura que visitam. O processo de ser acolhido por um anfitrião local de forma gratuita qualifica uma experiência cuja moeda de troca é o intercâmbio cultural, o compartilhamento de vivências e o aprendizado de algo novo. O site que conta hoje com mais de um milhão de membros – número ultrapassado em 18 de março de 2009 – foi idealizado pelo americano Casey Fenton, a partir de uma viagem feita por este a Islândia, quando sem hospedagem e em busca de uma experiência distinta do perfil de turista padrão, mandou e-mails para mais de 1500 estudantes locais, atingindo a hospitalidade de diversos grupos dispostos a apresentar a Reykjavik deles. (STERN, 2009, p. 15). Presente em mais de 230 países, o projeto teve sua versão beta lançada em 2003, e, um ano depois, sua versão 1.0 foi divulgada. Hospedado no site www.couchsurfing.org, o projeto foi fundado pelos americanos Casey Fenton e Daniel Hoffer, além do francês Sebastien Le Tuan e o brasileiro Leonardo Bassani da Silveira. Hoje, a rede conta com mais de 1,7 milhão de usuários, e embora possua um corpo de funcionários remunerados, é mantida principalmente por meio da colaboração de voluntários. De acordo com Stern (2009), outro momento relevante na história do Couchsurfing, e que reforça a forma com que os usuários se envolvem com o projeto, deu-se no ano de 2006, quando devido a falhas no seu sistema operacional o site saiu do ar e teve uma perda definitiva de boa parte do seu banco de dados. Foi assim que Casey, um dos fundadores, comunicou que o projeto, da forma como era conhecido, havia terminado, o que gerou uma onda de apoio por parte de seus usuários, que enviaram mais de 2 mil e-mails em 24 horas 9 O termo Couchsurfing representa a junção das palavras em inglês couch e surf, que significam, respectivamente, ‘sofá’ e ‘surfar’, o que remete à ideia geral ‘surfar no sofá’. Já a expressão específica coucsurfing, por fim, refere-se ao ato de ‘surfar no sofá’ de alguém. 36
  • 39. oferecendo-se para ajudar na reconstrução do projeto. Por conta deste apoio, portanto, o site foi reformulado, e sua versão 2.0, que é usada até hoje, foi lançada. Em 2011 o Couchsurfing viria se tornar uma corporação B10. Conforme informado no próprio site, ‘Nos tornamos uma Corporação B* porque isso nos fornece o apoio para nossa missão que esperávamos encontrar no terceiro setor, enquanto nos permite que tenhamos a liberdade para inovação que as empresas tradicionais que visam o lucro desfrutam' (trad. TURBIANI, 2011, p.41). Atualmente, o alcance da rede Couchsurfing pode ser percebido através das estatísticas acessíveis no próprio site. Até o dia 31 de novembro de 2012, foram contabilizados 4,8 milhões de couchsurfers (forma que os usuários desta rede se denominam), de modo a conectar 93.355 cidades e 207 países. Até esse momento, cerca de 15,3 milhões de laços foram criados, e milhares de experiências, divididas. E, no geral, é essa própria troca de experiências que mais motiva veteranos e novos participantes a ingressarem no site. A verdade é que há diversas formas de participar do projeto, seja surfando o sofá de alguém, hospedando, ou mesmo criando um evento, porém, a característica geral que as une é o fato de todas terem em comum o compartilhamento, desde os espaços divididos, o tempo ou do conhecimento de cada um, o que, quando passado adiante, conecta novas pessoas e alimenta os laços já criados. A questão da construção ou reconstrução do laço social é especialmente sensível ao momento em que grupos humanos implodem, cancerizam-se, perdem seus pontos de referência e veem suas identidades se desagregar. [...] Basear o laço social na relação com o saber consiste em encorajar a extensão de uma civilidade desterritorializada, que coincide com a fonte contemporânea da força, ao mesmo tempo em que passa pelo mais íntimo das subjetividades (LÉVY, 1994, p. 27). Por ser um projeto multicultural que abrange diversas nacionalidades, o inglês é a língua padrão usada para conectar os couchsurfers. Como nas demais redes sociais, os usuários desta rede também possuem um vocabulário e códigos próprios. Por exemplo, o 10 “Corporação B é um novo tipo de empresa que usa a força dos negócios para resolver problemas sociais e ambientais.” Tradução de Turbiani (2011, p.41), retirado de www.bcorporation.net/about. 37
  • 40. termo couch (‘sofá’) para um couchsurfer significa hospedagem, local oferecido pelo host (‘anfitrião’) onde o guest (‘visitante’) possa se acomodar, que, neste caso, não precisa necessariamente ser no próprio sofá. Depois de ingressar no CS, o que é feito de forma gratuita, o usuário deve preencher o perfil com suas informações pessoais, como localização, formação/educação, além de uma imagem que o represente. Na sequência, seguem campos que requisitam uma descrição pessoal, idade, sexo, nome, interesses pessoais – música, filmes e livros –, a forma como participa ou colabora com o CS, com que tipo de pessoa costuma ter afinidade, locais que já viajou e que lugares gostaria de conhecer. Essas informações permitem que os usuários conheçam mais uns aos outros, o que de certa forma reduz a insegurança diante o desconhecido e permite a identificação entre pessoas que nunca se viram, fortalecendo, assim, o próprio conceito da rede, de que todos podem ter sempre algo em comum e coisas a partilhar. (Figura 1: Tela inicial do Couchsurfing11) 11 Acesso em 20 Nov. 2012. Disponível em www.couchsurfing.org. 38
  • 41. Em termos gerais, recomenda-se que o viajante leia todo o perfil do usuário que possivelmente poderá hospedá-lo de modo a tentar encontrar pessoas com interesses em comum. Depois disto, deve enviar um request, ou seja, um pedido de hospedagem, onde deve constar o motivo da sua viagem, o que o estimulou a escolher aquele host em particular, e também quantos dias pretende permanecer hospedado. De maneira semelhante a outras redes, como Orkut e Mercado Livre, o CS também possui métodos próprios de avaliação ou de qualificação dos usuários. O voucher12 (representado pelas mãos dadas na figura 2), por exemplo, é uma dessas formas de qualificação, uma maneira de atestar que aquela pessoa é de confiança e por isto, mereceu seu voto. O CS Team Member 13 (representado pelo ícone com o planeta ao centro) é alguém que participa e contribui diretamente com o funcionamento do CS, de modo que geralmente está apto a tirar dúvidas e a solucionar problemas técnicos referentes ao desempenho do site. O Ambassor (‘embaixador’) é uma pessoa que se torna referência na comunidade e é convidado pela organização do site para executar diversas atividades específicas, como dar boas vindas a novos integrantes, organizar eventos, tirar dúvidas gerais etc. Pioneer14 (representado na figura 2 por um sofá e uma estrela) é o título concedido aos membros que acreditaram no projeto desde a sua fase inicial e que decidiram, voluntariamente, fazer doações financeiras para ajudá-lo a funcionar. 12 O termo significa literalmente ‘atestado’, ‘certificado’ (de confiança). 13 Literalmente, ‘Membro da Equipe do Coucsurfing’. 14 Literalmente, ‘pioneiro’. 39
  • 42. (Figura 2: ícones de identificação e qualificação dos usuários 15) Em termos gerais, há diversas formas de participar da rede: hospedando, surfando, ou criando ou comparecendo a meetings (eventos), por exemplo. A maioria destas características está expressa no perfil do usuário, sempre representadas por ícones específicos que sinalizam se uma determinada pessoa está disposta a hospedar, apenar surfar, ou se se disponibiliza para mostrar a cidade, acompanhar a um café etc. Os símbolos representados por sofás, por exemplo, informam a disponibilidade daquele usuário: ‘sim’, ‘talvez’, ‘estou viajando’, ‘no momento não posso, mas aceito mostrar a cidade’. Outras características, como quantos e quais idiomas fala e compreende, além da galeria de fotos, também colaboram no momento de selecionar um possível couch ou host. (Figura 3: disponibilidade do couch) Ademais, o usuário é incentivado também a disponibilizar imagens acompanhadas de um descritivo do local onde a pessoa será hospedada, como pontos de referência específicos da casa do host, se trata-se de um ambiente compartilhado, se o guest terá que dividir o 15 Figura 2 e Figura 3 retiradas do site www.couchsurfing.org 40
  • 43. alojamento com outras pessoas, tudo isso para evitar frustrações e fazer com que a experiência seja o mais positiva possível. Por se tratar de uma rede que motiva desconhecidos a se encontrarem e dividirem um espaço íntimo em suas próprias casas, a questão da segurança é comumente levantada, de modo que dentro do site há uma área dedicada somente a este tema. Desta forma, assim como em outras comunidades que permitem que pessoas deixem depoimentos pessoais, a exemplo do Orkut, ou aquelas onde é possível deixar recomendações e avaliar o serviço entre negativo, positivo e neutro, como o Mercado Livre, o Couchsurfing também desenvolveu seu próprio método de segurança. Além do já citado voucher, existe também a possibilidade de verificação do endereço fornecido pelo usuário, assim como as próprias referências, que, uma vez postadas, não podem ser deletadas. De modo semelhante ao Mercado Livre, esses depoimentos servem justamente para qualificar a experiência entre os usuários em positiva, negativa ou neutra, o que permite a divulgação de informações gerais sobre o que foi compartilhado em cada vivência. 41
  • 44. (Figura 4: referências trocadas entre usuários16) 4.2. CS no Mundo De acordo com informações do próprio site, em um dos grandes momentos de pico do projeto, chegou-se a alcançar, nesse período determinado, um mínimo de 15,5 mil inscrições semanais e um máximo de 32.451. Assim, como já dito, o CS abrange atualmente participantes de 207 países, engloba 366 línguas distintas, o que dá ao site a ‘honra’ de 16 As referências costumam, independente da nacionalidade dos envolvidos, ser postadas em inglês para ser acessível a maior número de usuários possível. Figura retirada do site www.couchsurfing.org 42
  • 45. ‘abrigar’ mais países do que na própria ONU17, que conta com 193 nações membros. Em termos geográficos, os Estados Unidos concentram o maior número de couchsurfers (21,1 %), e é seguido por Alemanha (9,5%), França (8,6%), Canadá (4,3%), Inglaterra (4,0%), Espanha (3,1%), Itália (3,1%), Brasil (2,7%), Austrália (2,6%) e China (2,2%). (Figura 5: Ranking contendo número do de usuários do CS por país18) Entre os 366 idiomas que circulam pelo site, o inglês, naturalmente, é a língua mais falada, abrangendo quase 3 milhões de participantes, e seguida do francês (736.379) e o espanhol (688.271) – como é comum que os usuários desta rede falem mais de um idioma, a soma dos percentuais ultrapassa os 100%. Além disto, o site está disponível em 32 línguas diferentes, possibilitando, assim, àqueles que não falam inglês, a participação na comunidade através da sua língua materna ou qualquer outra de sua escolha. 17 Dados retirados do site da ONU, em 31/10/2012 http://www.onu.org.br/conheca-a-onu/paises-membros/. 18 Figura retirada do site: www.couchsurfing.org 43
  • 46. (Figura 6: Línguas faladas no CS19) No que se refere ao gênero dos participantes, 53% são homens e 47% são mulheres. Destes, 46% disponibilizam seus couchs, 69% estão disponíveis para um café ou outra atividade, 21% registram estar viajando no momento, 14,1% talvez possam hospedar, e 11,9% não têm condições de fazê-lo. É interessante observar, como mostram bem esses dados, que atualmente a maior forma de participação dos usuários se dá através de encontros mais breves, como em um café, em algum evento específico, ou por meio da disponibilidade de sair para mostrar a cidade. Porém, como esses dados são atualizados constantemente, o panorama muda bastante o tempo inteiro, de modo que não é possível chegar a conclusões decisivas a este respeito. Quanto à faixa etária dos participantes, a média de idade declarada pelos cadastrados é de 28 anos. E se antes a categoria que engloba os couchsurfers 18 a 24 anos liderava o ranking de usuários, hoje a faixa de 25 a 29 anos já a superou – os números atuais são 32,9% e 36,7%, respectivamente. Os participantes de 30 a 34 anos somam 15%, os de 35 a 39 anos chegam a 6%, os de 40 a 49 anos correspondem a 5%, os de 50 a 59 anos somam 2%, e os 19 Figura 6 retirada do site: www.couchsurfing.org 44
  • 47. que estão acima dos 60 anos não passam de 0,9%. Apesar de se tratar de um número pouco expressivo, em junho 2010 foram contabilizados 342 usuários entre 80 e 89 anos ao redor do mundo (Dutra, 2010, p. 37). Destes, 58,6% possuíam foto, 6,9% tinham vouching e 6,5% eram verificados pelo site. 4.3. Couchsurfing Brasil O brasileiro começou a se interessar pelo Couchsurfing no mesmo ano do seu lançamento – 2003. Apesar de ter tido uma manifestação tímida no início, com o registro de apenas algumas dezenas de usuários, hoje esta rede tem um crescimento expressivo entre os brasileiros. De acordo com Turbiani (2011), o total de pessoas cadastradas que residiam no Brasil chegava a 9 mil em 201120, o que, na verdade, não garante que sejam todos brasileiros, já que o registro é feito pelo país de residência, e não necessariamente por nacionalidade. Ainda de acordo com Turbiani (2011), foram encontrados couchsurfers no Brasil em 28 Estados, 1.521 cidades e que falavam 239 idiomas diferentes. Depois do português, com 92%, as línguas mais faladas são, respectivamente, o inglês (51,8%), o espanhol (25,7%), o francês (6,9%) e o italiano (3,7%). 20 Anteriormente, era possível identificar dados atualizados dos usuários por região, idade, sexo, disponibilidade etc., porém, o site suspendeu a disponibilização dos dados detalhados. Deste modo, foi preciso recorrer a pesquisas anteriores, que, apesar de não trazerem dados recentes, servem, em termos gerais, para traçar um panorama de como se comporta o couchsurfer do Brasil em relação aos demais integrantes do mundo. Pra este propósito, além de Turbiani (2011), utilizamos também Stern (2009). 45
  • 48. (Tabela 2: Idiomas mais frequentes falados pelos CSers brasileiros 21) Seguindo esses mesmos dados, à época, 32,9% se declararam disponíveis a receber surfers, 32,4% acompanhariam em um café ou bebida e 8% não se disponibilizavam a hospedar. (Tabela 3: Disponibilidade dos usuários no CS Brasil) 21 Dados que compõem a Tabela 2 e 3 retirados de Turbiani (2011). 46
  • 49. Dentre os residentes no Brasil ativos no projeto, 55,9% são homens e 40,1% são mulheres; além disso, 3,9% dos perfis são formados por mais de uma pessoa (casais ou grupos específicos) e 0,2% não declararam seu gênero. (Tabela 4: Perfil do gênero dos Csers brasileiros) A média de idade dos surfers brasileiros coincide com a média mundial, que é de 28 anos: 36% têm entre 18 a 24 anos, 34,7% têm entre 25 a 29 anos e 16% têm entre 30 a 34 anos. Os que se encontram entre os 35 e os 39 anos correspondem a 6%, os de 40 a 49 formam 4,7% do total e os que formam o grupo de 50 a 59 anos chegam a 1,7%. Por fim, os usuários de 60 a 69 anos não passam dos 0,4%, e menos de 1% está acima dos 70 anos. 47
  • 50. (Tabela 5: Média de idade entre os CSers brasileiros) Naturalmente, a maior atividade dos couchsurfers está nas capitais, sendo São Paulo a principal delas, com quase 20% do total dos participantes brasileiros. Na sequência está o Rio de Janeiro, com 13,2%, Belo Horizonte, com 5,1%, Curitiba, com 4,1%, Brasília, com 4,1%, Porto Alegre, com 4%, Salvador, com 3,6%, Florianópolis, com 3,2%, Recife, com 2,4% e Campinas, com 2,2%. (Tabela 6: Cidades brasileiras presentes no Couchsurfing) 48
  • 51. 4.4. Couchsurfing Sergipe e Aracaju No sistema de busca disponibilizado atualmente22 pelo site foram encontrados 360 integrantes residentes em Sergipe, sendo 321 (89,17%) de Aracaju. Destes, 225 (62,5%) são homens,132 (36,7%) são mulheres, e apenas 3 (0,8%) dividem o perfil com outras pessoas. (Tabela 7: Gênero dos usuários encontrados no Couchsurfing em Sergipe) Quanto à faixa etária, 73 (20,3%) couchsurfers sergipanos têm entre 18 A 24 anos, 167 (46,3%) têm de 25 a 30 anos, e 64 (17,8%) têm de 30 a 36 anos – outros 56 inscritos (15,6%) não tiveram sua idade declarada. 22 Dados obtidos em novembro de 2012 através de uma busca por cidade feita no próprio site. 49
  • 52. (Tabela 8: Média da idade dos Couchsurfers de Sergipe) O Grupo Aracaju-SE foi criado em 07 de Agosto de 2008, e é o mais expressivo do Estado, contando com 700 membros, que, na verdade, não são necessariamente couchsurfers residentes de Aracaju, podem ser residentes de outros estados que participem do grupo Aracaju-Se. Em 04 anos de existência, o grupo possui 13.559.983 posts, e seu caráter público não demanda aprovação para que novas pessoas ingressem a comunidade. É aqui, portanto, que chega-se ao foco específico deste estudo: a experiência de alguns usuários pertencentes ao grupo Aracaju-SE. 50
  • 53. 5- O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE A FACE INTERMEDIADO PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING Serão apresentados neste capítulo os procedimentos metodológicos e os resultados obtidos através da pesquisa realizada. 5.1- Procedimentos metodológicos Para verificar como o site de rede social Couchsurfing influencia no resgate dos padrões de interação face a face, objetivo deste trabalho, foi preciso se aprofundar em diversos conceitos. Também foram utilizados procedimentos metodológicos que permitiram obter as respostas para os questionamentos levantados pela discussão teórica. Inicialmente, foi feita uma pesquisa de caráter exploratório, onde foi realizada a revisão de literatura, que compreende o levantamento e análise de dados bibliográficos, tais como livros, artigos e monografias disponíveis nas bibliotecas da Unit, além de artigos, sites, e-books, textos, vídeos e documentários encontrados na Internet e também em livros de acervos particulares. Para a abordagem empírica, aplicou-se um questionário cuja formulação visa traduzir os objetivos de pesquisa em questionamentos específicos. O resultado obtido deve oferecer dados suficientes para descrever as características do grupo pesquisado. Pode-se definir o questionário como a técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores, comportamento presente ou passado, etc. (GIL, 2006). O questionário aplicado neste trabalho foi composto por 14 questões, entre abertas e fechadas. O questionário foi aplicado utilizando a ferramenta Google Docs (agora nomeado Google Disco) na opção ‘formulário’ e disponibilizado online através de um link postado na comunidade Aracaju-SE do Couchsurfing. Como já foi dito anteriormente, esse é o grupo mais ativo do Estado, e conta com 700 membros e cerca de 8 mil postagens. O Ggupo possui 51
  • 54. uma organização ativa que programa encontros semanais e eventos integrando outros Estados, por exemplo. A escolha da aplicação online se deu pela possibilidade de utilizar um canal de comunicação direto com a amostragem que se deseja coletar, que são os usuários que estão presentes nos fóruns de discussão do próprio Couchsurfing. O questionário completo pode ser conferido no apêndice A, ao final deste trabalho. Os dados coletados foram extraídos e tabulados a partir do próprio Google Docs, sendo os gráficos mais simples gerados pelo próprio Docs, e os mais complexos, feitos com auxílio do Excel. Naturalmente, a aplicação através da Internet infere algumas dificuldades, a exemplo da ausência do entrevistador, o que impossibilita o esclarecimento de dúvidas eventuais que o entrevistado possa ter durante o processo. Porém, também levando isso em consideração, evitou-se que o questionário fosse muito longo, para que, acima de tudo, o entrevistado não se sentisse desencorajado e abandonasse o processo. 5.2- Caracterização geral dos dados Por ter sido disponibilizado dentro do fórum de discussão da comunidade Aracaju-SE, predispuseram-se a responder aqueles que têm postura mais ativa e participativa dentro da comunidade. A pesquisa contou com a participação de 30 membros, e a escolha do grupo Aracaju-SE se deu por uma busca da representação desta rede no Estado de Sergipe. Entre os que responderam à pesquisa, 63% são do sexo masculino e 37% são do sexo feminino. 52
  • 55. (Tabela 9: Sexo dos Couchsurfers que responderam ao questionário.) Dos pesquisados, 43% têm de 25 a 30 anos, 37% têm de 18 a 25 anos, e 5% têm de 30 a 35 anos; apenas 3% possuem acima de 40 anos, como pode ser visto no gráfico a seguir: (Tabela 10: Faixa etária dos usurários que responderam ao questionário) Quando questionados sobre há quanto eles participam da rede social Couchsurfing, o resultado adquirido foi bem equilibrado: 27% dos usuários é integrante há 1 ou 2 anos, 23% ingressaram há 2 ou 3 anos, e, para os que ingressaram há 6 meses, de 6 meses a 1 ano e há 3 anos, a média foi de 17% cada. 53
  • 56. (Tabela 11: tempo de participação no CS pelos respondentes ao questionário.) A forma como os usuários participam do CS ficou distribuída da seguinte maneira: a maioria, com 30%, acredita na reciprocidade de tanto surfar quanto hospedar; 23% dos participantes são engajados apenas em receber surfers em suas residências; 17% participa indo aos meetings semanais; 10% participou como guest, surfando alguns sofás; e 7% normalmente se limitam a disponibilizar-se para um café ou drink. (Tabela 12: a forma como os usuários declaram na pesquisa sua participação n CS) 54
  • 57. Sobre o valor percebido, ou seja, a sensação provocada pela experiência do Couchsurfing, 93% dos entrevistados consideram positiva a experiência vivenciada por eles nesta rede social, e os 7% restantes julgam a experiência neutra. Nenhum dos entrevistados qualificou a experiência como negativa. (Tabela 13: Como os entrevistados qualificam a experiência no Couchsurfing) Quando questionados se a maioria dos contatos que mantêm na rede Couchsurfing foram feitos lá mesmo ou se são provenientes do universo off-line, 77% deles afirmam que a maioria dos amigos presentes em seus perfis foram feitos no próprio site. Apenas 23%, portanto, afirmam que os contatos que possuem no CS são de pessoas que já conheciam anteriormente. (Tabela 14: referente aos contatos do CS) 55
  • 58. Já as relações estabelecidas dentro do CS são avaliadas da seguinte forma: 53% afirmam que fizeram bons amigos, considerados laços fortes conquistados nesta rede. Outros 43% afirmam que fizeram colegas, considerados laços fracos, cuja proximidade ou intimidade não chegou a ser conquistada. (Tabela 15: análise dos laços dos entrevistados criados dentro do CS) No que se refere à quantidade de vezes que os couchsurfers chegaram a compartilhar seu ambiente privado com outros membros, obtivemos como número mínimo 0, registrado entre aqueles que ainda não tiveram a experiência de hospedar nenhum viajante, e, como máximo de hospedagens, o total de 25 vezes. A média geral entre todos os participantes em relação à quantidade de hospedagens foi 8. (Tabela 16, referente ao número de pessoas hospedadas pela amostragem) O número de vezes que estes mesmos usuários foram hospedados por outros couchsurfers é consideravelmente menor, o que leva a crer que o perfil geral do couchsurfer 56
  • 59. aracajuano (a partir da amostragem) refere-se muito mais ao hábito de receber viajantes do que de viajar ou de utilizar os couchs em suas viagens a outras cidades. (Tabela 17, referente ao número de vezes que os usuários entrevistados usaram ‘couchs’) Em termos gerais, o que norteia a decisão dos couchsurfers da amostragem do grupo Aracaju-SE sobre hospedar ou não alguém está intimamente relacionado às referências que o guest possui: o objetivo é averiguar se elas são no geral positivas, ou se, por exemplo, esses membros já chegaram a se envolver em alguma situação adversa para merecer referências negativas ou neutras. O segundo fator mais relevante avaliado pelos membros entrevistados é se o guest possui similaridades nos gostos, na filosofia de vida ou nas características apresentadas no perfil. Em terceiro lugar, está a prioridade por hospedar pessoas do mesmo sexo, de idade semelhante e que falem uma língua acessível. No que se refere, inversamente, à busca de um couch, as referências positivas continuam sendo imprescindíveis na hora de escolher um host. Outro fator muito relevante mencionado diversas vezes pelos membros é a localização de quem hospeda, se é próximo a terminais de ônibus e metrô, se é de fácil acesso e bem sinalizado. O terceiro ponto mais relevante é o de identificação com o perfil do possível host. Ter hábitos e gostos em comum facilita a convivência e torna a experiência mais leve, prazerosa, atestam os entrevistados. Quando questionados sobre o impacto do Couchsurfing nas interações e atividades e de que forma eles qualificariam suas experiências oriundas desta rede, se mais significativas na atmosfera online ou na off-line, mais de 80% afirmaram que o impacto do Couchsurfing 57
  • 60. consiste em, apesar de ser uma ferramenta digital, oferecer uma experiência off-line aos indivíduos, seja no que diz respeito à promoção dos encontros, às possibilidades de intercâmbios culturais, e à conexão e aproximação das pessoas. Tudo isso, portanto, culmina em uma experiência muito mais simbólica e expressiva, na esfera off-line, do que poderia ocorrer online. Do total de entrevistados, pouco mais de 10% afirmaram participar mais ativamente dos fóruns e comunidades online, por exemplo, mas justificaram essa ‘exceção à regra’ pelo fato de não terem tempo suficiente para se dedicar mais aos encontros presenciais, devido à correria do dia a dia. Os outros 10% restantes afirmaram que conseguem ter uma experiência significativa tanto na esfera virtual como na presencial oferecidas por esta rede. . (Tabela 18: A experiência proporcionada pelo CS é mais percebida pelos usuários no ambiente off-line que no ambiente digital) Os Couchsurfers do grupo estudado costumam alimentar as suas relações construídas por intermédio desta rede mantendo contato também através de outras redes sociais, como Facebook, Twitter, ou mesmo através de e-mail ou telefone. Mais de 50% afirmaram se 58