O presente trabalho propõe fomentar uma discussão acerca das potencialidades do gênero digital meme enquanto um elemento multifário capaz de auxiliar no desenvolvimento das competências linguístico-discursivas de educandos em aulas de língua portuguesa (LP) no ensino médio. Pode-se afirmar que, através da cibercultura, aspectos linguísticos, discursivos e sociais têm se materializado em diversas interações multimidiáticas que colocam em evidência o papel da tecnologia como meio de engendrar novas formas de se comunicar, significar e produzir cultura na pós-modernidade. Diante das demandas atuais que sinalizam para a importância da articulação entre tecnologia, linguagem e práticas sociais de uso da língua, em consonância com as propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM), afirmo ser necessário pensar maneiras de implementação de propostas pedagógicas de produção de texto multimodal com o intuito de valorizar as novas formas de linguagem que se proliferam no mundo contemporâneo por meio das tecnologias digitais, agregando-as às aulas de LP. Não podemos negligenciar o fato de que os nossos alunos, cada vez mais, têm feito uso de ferramentas de áudio, vídeo, tratamento de imagem, edição, etc., atuando ativamente em práticas de produção e replicação na cibercultura, como coconstrutores de sentidos em ambientes virtuais. Nesse sentido, em tempos de alunos pertencentes à Geração Digital, práticas de ensino-aprendizagem de LP devem se constituir, essencialmente, num espaço que privilegia as diversidades de linguagens, permitindo que nossos educandos se tornem protagonistas na construção de conhecimentos significativos, reconhecendo, assim, o papel que esses ocupam como produtores e consumidores de bens culturais em novas mídias.
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MEMES EM AULAS DE PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO: linguagem, produção e replicação na cibercultura
1. Carlos Fabiano de Souza
IFF |UFF|carlosfabiano.teacher@gmail.com
MEMES EM AULAS DE PORTUGUÊS NO
ENSINO MÉDIO:
LINGUAGEM, PRODUÇÃO E REPLICAÇÃO
NA CIBERCULTURA
2. Percurso de apresentação:
Os memes
- A origem do termo e a Memética
- Replicadores
- Linguagem
Produção e replicação na cibercultura
- Textos mêmicos e a Internet
- Gênero digital
Memes no ensino de LP no Ensino Médio
- Sugestões para a sala de aula
3. Os memes
A origem do termo e a Memética
Exemplos de memes são melodias, ideias, slogans, as modas no vestuário, as
maneiras de fazer potes ou de construir arcos. Tal como os genes se propagam no
pool gênico saltando de corpo para corpo através dos espermatozoides ou dos
óvulos, os memes também se propagam no pool de memes saltando de cérebro
para cérebro (DAWKINS, 2007, p.330, grifo do autor).
Um meme é uma ideia, comportamento, estilo ou uso que se espalha de pessoa
para pessoa dentro de uma cultura (BLACKMORE, 2000, p.65, tradução minha).
Um meme é uma expressão cultural que é passada adiante de uma pessoa ou
grupo para outra pessoa ou grupo (GUNDERS & BROWN, 2010, p.04, tradução
minha).
4. Os memes
A origem do termo e a Memética
A maior parte daquilo que o homem tem de pouco usual pode ser resumida numa
palavra: “cultura”. A transmissão cultural é análoga à transmissão genética, no
sentido de que, apesar de ser essencialmente conservadora, pode dar origem a uma
forma de evolução (DAWKINS, 2007, p.325).
[...] quando você imita alguma outra pessoa, algo é passado adiante. Este ‘algo’
pode então ser passado adiante novamente, e de novo, e assim ganhar vida
própria. Podemos chamar esta coisa uma ideia, uma instrução, um
comportamento, uma informação... Mas se nós vamos estudá-la precisamos dar a
ela um nome. Felizmente, há um nome. É o ‘meme’ (BLACKMORE, 1999, p.4,
tradução minha, aspas da autora).
5. Os memes
Os memes como replicadores
LONGEVIDADE FIDELIDADE FECUNDIDADE ALCANCE
Persistentes Replicadores Epidêmicos Globais
Voláteis Metamórficos Fecundos Locais
- Miméticos - -
LONGEVIDADE FIDELIDADE FECUNDIDADE
(RECUERO, 2006, online)
6. Produção e replicação na cibercultura
Os memes e a Internet
Fonte: http://bobagento.com/wp-content/uploads/2012/05/3.jpg
Meme: Tema de hoje
7. Produção e replicação na cibercultura
Os memes e a Internet
Fonte: http://bobagento.com/wp-content/uploads/2012/05/5.jpg
Meme: Tema de hoje
8. Produção e replicação na cibercultura
Os memes e a Internet
Metamórficos
- Alto poder de recombinação e
mutação.
- Apresentam-se em um contexto
de debate.
- A informação não é simplesmente
repetida, mas discutida,
transformada e recombinada.
- Estímulo à interação.
- Agrega opiniões quando
propagado.
9. Produção e replicação na cibercultura
Os memes e a Internet
Fonte: http://geradormemes.com/media/created/zd4pvn.jpg
Meme: Chapolin Sincero
10. Produção e replicação na cibercultura
Os memes e a Internet
Fonte:
http://geradormemes.com/medi
a/created/xeehk0.jpg
Fonte:
http://geradormemes.com/m
edia/created/tkjace.jpg
Meme: Ted Engraçado Meme: Hitler
11. Produção e replicação na cibercultura
Os memes e a Internet
Miméticos
- Personalização.
- Manutenção da estrutura e da
ordem estabelecida.
- Adaptam-se aos locais de
propagação.
- A essência do meme permanece
inalterada.
- Manifestação de opinião como
complemento do meme original.
12. Os memes e a Internet
Fonte: Desenvolvido por mim, a partir do modelo básico de replicação em agentes
cognitivos descrito por Castelfranchi (2001, p. 4)
O jogo do curtir e do compartilhar
13. Os memes e a Internet
[...] o gênero é essencialmente flexível e variável, tal
como seu componente crucial, a linguagem. Pois,
assim como a língua varia, também os gêneros variam,
adaptam-se, renovam-se e multiplicam-se. Em suma,
hoje, a tendência é observar os gêneros pelo seu lado
dinâmico, processual, social, interativo, cognitivo,
evitando a classificação e a postura estruturais
(MARCUSCHI, 2011, p.19).
A concepção de um gênero digital
14. Os memes e a Internet
[...] a maioria dos componentes mêmicos veiculados na
Internet apresenta-se sob a forma de fragmentos textuais,
cabendo neste trabalho referenciá-los como textos
mêmicos. Enquanto textos, estes atuam como meio de
comunicação, transmissão de conhecimento e, sobretudo,
difusores de formações ideológicas. Ao serem mêmicos,
evidencia-se o caráter replicador destes componentes que
são passados de indivíduo para indivíduo em ambiente
virtual por questões de filiação e adesão aos sentidos
expressos pelo conteúdo destes (SOUZA, 2013, p.134).
A concepção de um gênero digital
15. Os memes e a Internet
devem ser visto na relação com as práticas
sociais, os aspectos cognitivos, os interesses, as
relações de poder, as tecnologias, as atividades
discursivas e no interior da cultura. Eles
mudam, fundem-se, misturam-se para manter
sua identidade funcional com inovação
organizacional (MARCUSCHI, 2011, p.19).
Sendo assim, parafraseando Marcuschi (2011), eles
A concepção de um gênero digital
16. Contextualizando as escolhas:
Enunciados
“... o papel da disciplina Língua Portuguesa é o de possibilitar, por procedimentos
sistemáticos, o desenvolvimento das ações de produção de linguagem em diferentes
situações de interação...”;
“... conviver, de forma não só crítica mas também lúdica, com situações de produção
e leitura de textos...”;
“... se é pelas atividades de linguagem que o homem se constitui sujeito, só por
intermédio delas é que tem condições de refletir sobre si mesmo”;
“... as práticas de linguagem a serem tomadas no espaço da escola não se restringem
à palavra escrita nem se filiam apenas aos padrões socioculturais hegemônicos”;
“... a língua é uma das formas de manifestação da linguagem, é um entre os sistemas
semióticos construídos histórica e socialmente pelo homem.”
17. Contextualizando as escolhas:
Linguagem, Código e suas tecnologias
Estudo dos gêneros digitais (impacto e função social, suporte textual,
caracterização dos interlocutores, recursos linguísticos).
18. Memes no ensino de LP no EM
Sugestões para a sala de aula
Texto 1 – Meme: Bode Gaiato
- Identificar as marcas linguísticas que
singularizam as variedades linguísticas sociais,
regionais e de registro.
- Relacionar as variedades linguísticas a
situações específicas de uso social.
- Reconhecer os usos da norma padrão da língua
portuguesa nas diferentes situações de
comunicação.
20. Memes no ensino de LP no EM
Texto 2 – Meme: Tweet Print*
Sugestões para a sala de aula
- Reconhecer recursos verbais e não verbais
utilizados.
- Relacionar opiniões, temas, assuntos e recursos
linguísticos.
- Inferir quais são os objetivos de seu produtor e
quem é seu público alvo (através da análise dos
procedimentos argumentativos utilizados).
- Reconhecer no texto estratégias argumentativas
empregadas para o convencimento do público.
23. Considerações finais
A partir dos exemplos utilizados para análise, espera-se
que o professor de LP sinta-se sensibilizado a buscar
maneiras de implementação de propostas pedagógicas de
produção de texto multimodal, os quais fazem parte da
realidade cotidiana de alunos da Geração Digital, com o
intuito de valorizar as novas formas de linguagem que se
proliferam no mundo contemporâneo, por meio das
tecnologias digitais, concebendo os educandos como
protagonistas na construção de conhecimentos
significativos; reconhecendo, assim, o papel que eles
ocupam como produtores e consumidores de bens culturais
em novas mídias.
24. Referências bibliográficas
ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
BLACKMORE, S. The meme machine. Oxford: Oxford University Press, 1999.
______________. The power of memes. Scientific American, New York, v.283, p.64-73, October, 2000.
CASTELFRANCHI, C. Towards a cognitive memetics: socio-cognitive mechanisms for memes selection and
spreading. Journal of Memetics – Evolutionary Models of Information Transmission, v.5, p.1-21, 2001. Disponível
em: <http://cfpm.org/jomemit/2001/vol5/castelfranchi_c.html>. Acesso em: 21 de janeiro de 2012.
DAWKINS, R. O gene egoísta. Tradução de Rejane Rubino. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
FIORIN, J. L. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 1998.
GUNDERS, J. & BROWN, D. The complete idiot’s guide to memes. New York: Alpha, 2010.
HEYLIGHEN, F. Memetics. In: RECUERO, R. C. Memes em weblogs: proposta de uma taxonomia. Conexões nas
Redes Midiáticas. Revista FAMECOS, Porto Alegre, n.32, p.23-31, abr.2007.
LÉVY, P. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI, A. M.,
GAYDECZKA, B., BRITO, K. S. (Orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2011.
____________. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L. A. & XAVIER,
A. C. (Orgs.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. São Paulo: Cortez, 2010.
25. Referências bibliográficas
RECUERO, R. C. Memes em weblogs: proposta de uma taxonomia. Conexões nas Redes Midiáticas. Revista
FAMECOS, Porto Alegre, n.32, p.23-31, abr.2007.
ROJO, R. H. R. & MOURA, E. (Orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.
SOUZA, C. F. Memes: formações discursivas que ecoam no ciberespaço. VÉRTICES, Campos dos Goytacazes/RJ,
v.15, n.1, p.127-148, jan./abr.2013.