O documento discute a importância da cultura humanística para o desenvolvimento do estudante universitário. Argumenta-se que a universidade deve proporcionar ao aluno acesso a uma ampla cultura geral por meio do questionamento crítico e da interação com professores, de forma a desenvolver sua inteligência e capacidade de pensamento autônomo. Também é essencial que o aluno siga sua vocação e se engaje ativamente no processo de aprendizagem.
3. O que é humanismo?
1.“movimento intelectual difundido na Europa durante a Renascença e
inspirado na civilização greco-romana, que valorizava um saber crítico
voltado para um maior conhecimento do homem e uma cultura capaz de
desenvolver as potencialidades da condição humana.
2. p.ext., conjunto de doutrinas fundamentadas de maneira precípua nos
interesses, potencialidades e faculdades do ser humano, sublinhando sua
capacidade para a criação e transformação da realidade natural e social,
e seu livre-arbítrio diante de pretensos poderes transcendentes, ou de
condicionamentos naturais e históricos.
3. vasta formação cultural que abrange o conhecimento das obras clássicas
e o saber científico.”
4. A “essência da universidade”
● Boaventura de Sousa Santos (2008): “O grande problema da universidade neste
domínio tem sido o fato de passar facilmente por universidade aquilo que não o é”
● Covian (1978): Essência no sentido escolástico, i.e., “o princípio primeiro de
inteligibilidade” das coisas
● Historicamente, o consagrado tripé “ENSINO-PESQUISA-EXTENSÂO” NÃO É a
razão última de ser da universidade, podendo ser realizado com excelência em
instituições que não tem os mesmos propósitos dos seus
● Na origem da Universidade (séc. XIII), a busca pelo conhecimento, constituinte de
sua meta e razão de ser, é alcançada por meio da liberdade acadêmica →
“independência de pensamento e de atitudes diante de qualquer poder que
pretendesse manipular a universidade a partir de fora” (Covian, 1978, p. 617)
5. O caráter polemista da
universidade
● “A universidade é uma comunidade PENSANTE que deve ensinar a
desenvolver o espírito CRÍTICO de seus estudantes, o próprio
julgamento (…). É um centro de CRÍTICA que deve formar
graduados capazes de pensar e criticar om independência e que
saibam transmitir à sociedade este espírito”.
● Essencial para realizar essa essência crítica é a constante interação
com as outras instituições sociais.
● É justamente em razão dessa essência polemista que se torna
necessário desenvolver CONJUNTAMENTE ensino, pesquisa e
extensão.
6. A universidade humanista
● Além de polêmica, democrática, e subversiva, a universidade deve ser
HUMANISTA → formação orientada na busca de valores humanísticos como
estruturantes do ser humano.
– “O humanismo (…) é um caminho com um ponto de partida: o homem tal qual é; e um ponto
de chegada: o homem tal qual deve ser” (Covian, 1977)
● É função e dever da universidade proporcionar ao alunato a possibilidade de
conhecer, refletir e avaliar a herança cultural que recebeu.
● Assim, o papel da universidade é ser um centro superior de cultura – o lugar
que possibilita a convivência dos mais diversos grupos sociais e de suas
expressões culturais onde, ao mesmo tempo, o desenvolvimento das
atividades de ensino, pesquisa e extensão propiciam a reflexão crítica sobre
os temas propostos e reconhecidos como significativos para a vida social e
cultural da comunidade civil.
7. A anti-universidade
● Marginalização: Da universidade com a sociedade, da sociedade com a universidade.
● Caráter empresarial: Administrativismo, mercantilização, ensino profissional.
● Poluição universitária → Burocracia impede as ações dos sujeitos da comunidade
acadêmica e tira-lhes aos poucos “sua seiva vital”
● Descapitalização do ensino público vs. ampliação do mercado universitário
(Boaventura de Souza Santos, 2008)
● Na “universidade” atual, o estudante se vê transformado num mero receptáculo de
informações que se sucedem rapidamente, não havendo tempo nem orientação para a
reflexão estimuladora do talento e da criatividade.
8. A mentalidade universitária
● Forma em que os universitários fazem uso de suas potencialidades
intelectuais através da inteligência, cultura, responsabilidade, e pela
formulação de um ideal (Covian, 1957).
● Para que o universitário aprenda a exercitar sua inteligência, a universidade
deve proporcionar-lhe o acesso a uma cultura geral básica que lhe confira a
possibilidade de analisar amplamente os problemas com que se depara.
– Luria (1979): Educação é a “assimilação da experiência de toda a humanidade
acumulada através do processo histórico-social e que é transmissível pelo processo
de ensino-aprendizagem”.
● A simples formação científica e técnica não pode substituir essa
cultura humanística.
9. “Condições” da
mentalidade universitária
● Inteligência: Acima de tudo, autônoma e crítica; “A falta de
pensamento próprio permite às vezes o desenvolvimento de uma boa
memória mas não de um bom espírito crítico” (Covian, 1957)
● Cultura e responsabilidade: “O humanismo se realiza através de
uma Cultura” (Covian, 1977) → Não confundir com erudição
● Ideal: “Tende ideais elevados e pensai em alcançar grandes coisas,
porque se a vida rebaixa sempre e não se consegue senão uma parte
do que se deseja, sonhando muito alto alcançareis muito mais; as
conquistas do presente são apenas sonhos juvenis realizados”
(Bernardo A. Houssay, APUD Covian, 1957)
10. Cultura humanística
do estudante universitário
● O engajamento com a cultura dentro e fora da universidade, de forma crítica,
é essencial para o desenvolvimento do aluno universitário.
● Se, por um lado, não podemos dominar tudo, e, por outro, a super-
especialização (“erudição”) não nos torna cultos, é a sociedade que irá mediar
esse processo.
● “para tudo isso acontecer precisa-se de um meio capaz de pôr a seu alcance
este alimento que chamamos Cultura” (Covian, 1977).
● O aluno deve se encontrar preparado para fazer uso de sua capacidade
intelectual nos momentos em que se deparar com desafios que a exijam,
formando conceitos e soluções através da procura incessante da verdade.
11. O papel do “mestre”
● Novamente à origem: Universidade do século XIII não é definida como
espaço físico, mas como laços afetivos e procura comunitária da verdade
e da beleza.
● O ideal crítico da Universidade só pode ser realizado por um âmbito
concreto de relacionamentos humanos: RELAÇÃO ENTRE MESTRE E
DISCÍPULOS, EDUCADOR E EDUCANDOS
– “Isso é o que Goethe considerava personalizar o ensino, para evitar o
academicismo, porque a personalidade do professor anima o corpo morto dos
estatutos e regulamentos do mecanismo universitário” (Covian, 1977)
● Maritain (1944): O fator importante do ensino não é a arte do professor,
mas o princípio interno da atividade do aluno.
12. O “ensino ético”
● Para alcançar o objetivo de promover a cultura humanística do
estudante universitário, a Universidade deve orientar-se no respeito às
necessidades do aluno e às características que lhe são próprias.
● O papel do “mestre” é fornecer ao aluno instrumentos cognitivos e
apoio para que o aluno perceba suas capacidades, sempre evitando
moldá-lo.
● O ensino autêntico deve possuir 3 elementos:
1) Um Saber sintonizado com os tempos
2) Um Professor vocacionado
3) Um Aluno interessado em aprender
13. O papel do aluno
● Cultivar a compreensão, a verificação e o aprofundamento
dos motivos que o conduziram à universidade.
● Covian (1957): Somente o ingresso em resposta a uma
“vocação” produz um aluno autenticamente universitário.
– Dubois (1975): cada indivíduo possui diversas potencialidades,
sendo seu despertar dependente das circunstâncias encontradas
durante a vida.
– “Sinais” de que o aluno está seguindo sua vocação: alegria,
satisfação e felicidade no decorrer das atividades, sensação de
pertença.
14. As contribuições do pesquisador
à vida universitária
● O professor que realiza pesquisas expande sua ação docente para além da
ministração de aulas e da didática.
● Aulas ministradas a partir de um conhecimento vivencial, e não livresco →
Caráter analítico e crítico.
●
O estudante instruído sob tais alicerces pode desenvolver espírito crítico,
porque lhe é proporcionado um saber não-estanque, permanentemente
interrogador, e exigente de uma inteligência ativa para ser compreendido.
● A divisão da Ciência (especialização) foi concebida a fim de facilitar e
aprofundar os temas em estudo, enquanto que sua “essência permanece
sempre unificada, gestáltica” (Covian, 1975).
15. À guisa de conclusão
● “'Cultura geral'. O absurdo do termo, seu
filisteísmo, revela sua insinceridade. 'Cultura',
referida ao espírito humano humano – não ao
gado ou aos cereais –, não pode ser senão geral.
Não se é 'culto' em física ou matemática. Isso é
ser sábio em uma matéria. Ao usar essa
expressão de 'cultura geral' se declara a intenção
de que o estudante receba algum conhecimento
ornamental e vagamente educativo de seu caráter
ou de sua inteligência.” - José Ortega y Gasset