O documento discute a epistemologia genética de Piaget. Ele descreve como o conhecimento se constrói através da assimilação e acomodação em estágios de desenvolvimento, começando com esquemas sensoriomotores e evoluindo para pensamento operatório e formal. O equilíbrio entre o sujeito e o objeto é alcançado por meio da adaptação e equilibração progressiva.
2. “o conhecimento não poderia ser
concebido como algo predeterminado
nas estruturas internas do indivíduo, pois
que estas resultam de uma construção
efetiva e contínua, nem nos caracteres
preexistentes do objeto, pois que estes
só são conhecidos graças à mediação
necessária dessas estruturas; e estas
estruturas os enriquecem e enquadram
(pelo menos situando-os no conjunto
dos possíveis). “
3. Ato biológico que visa a adaptação ao
meio
Tende ao equilíbrio e à organização
Não se separa do todo do org
4. método capaz de oferecer os controles
e, sobretudo, de retornar às fontes,
portanto à gênese mesma dos
conhecimentos de que a epistemologia
tradicional apenas conhece os estados
superiores, isto é, certas resultantes. O
que se propõe a epistemologia
genética é pois pôr a descoberto as
raízes das diversas variedades de
conhecimento, desde as suas formas
mais elementares, e seguir sua evolução
até os níveis seguintes, até, inclusive, o
pensamento científico.
5. É interdisciplinar
não existem jamais conhecimentos
absolutos.
tudo é gênese: “afirmar a necessidade de
recuar à gênese não significa de modo
algum conceder um privilégio a tal ou qual
fase considerada primeira, absolutamente
falando: é, pelo contrário, lembrar a
existência de uma construção indefinida e,
sobretudo, insistir no fato de que, para
compreender suas razões e seu
mecanismo, é preciso conhecer todas as
suas fases, ou, pelo menos, o máximo
possível. “
6. “se encontrará nestas páginas a exposição de
uma epistemologia que é naturalista sem ser
positivista, que põe em evidência a atividade
do sujeito sem ser idealista, que se apóia
também no objeto sem deixar de considerá lo
como um limite (existente, portanto,
independentemente de nós, mas jamais
completamente atingido) e que, sobretudo, vê
no conhecimento uma elaboração contínua: é
este último aspecto da epistemologia genética
que suscita mais problemas e são estes que se
pretende equacionar bem assim como discutir
exaustivamente.”
7. PSICOGENESE De uma parte, o conhecimento
não procede, em suas origens, nem de um
sujeito consciente de si mesmo nem de objetos
já constituídos (do ponto de vista do sujeito) que
a ele se imporiam. O conhecimento resultaria de
interações que se produzem a meio caminho
entre os dois, dependendo, portanto, dos dois
ao mesmo tempo, mas em decorrência de uma
indiferenciação completa e não de intercâmbio
entre formas distintas. De outro lado, e, por
conseguinte, se não há, no início, nem sujeito, no
sentido epistemológico do termo, nem objetos
concebidos como tais, nem, sobretudo,
instrumentos invariantes de troca, o problema
inicial do conhecimento será pois o de elaborar
tais mediadores.”
8. Com efeito, o instrumento de troca inicial não é a
percepção, como os racionalistas demasiado
facilmente admitiram do empirismo, mas, antes, a
própria ação em sua plasticidade muito maior.
Se existe uma indiferenciação entre o sujeito e o
objeto ao ponto que o primeiro não se conhece
nem mesmo como fonte de suas ações, por que
seriam elas centradas no corpo próprio ao passo
que a atenção estaria fixada no exterior? O termo
"egocentrismo radical" de que nos valemos para
designar esta centração pode, ao invés, parecer
evocar um eu consciente (e é ainda mais o caso
do "narcisismo" freudiano ao passo que se trata de
um narcisismo sem Narciso). De fato, a
indiferenciação e a centração das ações
primitivas importam ambas em um terceiro
aspecto que lhes é geral: elas ainda não estão
coordenadas entre si.
9. BIOGENESE: AUTO-REGULACAO
ONTOGENESE REPETE A FILOGENESE
tendência intrínseca ao equilíbrio
no curso da gênese, o conhecimento
procede
Acomodacao e assimilacao
10.
11.
12. A construção do conhecimento ocorre
quando acontecem ações físicas ou
mentais sobre objetos que, provocando
o desequilíbrio, resultam em assimilação
ou, acomodação e assimilação dessas
ações e, assim, em construção de
esquemas ou conhecimento. Em outras
palavras, uma vez que a criança não
consegue assimilar o estímulo, ela tenta
fazer uma acomodação e após, uma
assimilação e o equilíbrio é, então,
alcançado.
13. Esquema:
- um arquivo de dados na nossa cabeça. Os
esquemas são análogos às fichas deste arquivo,
ou seja, são as estruturas mentais ou cognitivas
pelas quais os indivíduos intelectualmente
organizam o meio.
São estruturas que se modificam com o
desenvolvimento mental e que tornam-se mais
refinadas à medida em que a criança torna-se
mais apta a generalizar os estímulos.
- os esquemas cognitivos do adulto são derivados
dos esquemas sensório-motores da criança e, os
processos responsáveis por esses mudanças nas
estruturas cognitivas são assimilação e acomodação.
14. Assimilação:
É o processo cognitivo de colocar
(classificar) novos eventos em esquemas
existentes. É a incorporação de elementos
do meio externo (objeto,
acontecimento, ...) a um esquema ou
estrutura do sujeito.
Em outras palavras, é o processo pelo qual
o indivíduo cognitivamente capta o
ambiente e o organiza possibilitando,
assim, a ampliação de seus esquemas.
Na assimilação o indivíduo usa as estruturas
que já possui.
15. Acomodação:
É a modificação de um esquema ou de uma
estrutura em função das particularidades do
objeto a ser assimilado.
A acomodação pode ser de duas formas,
visto que se pode ter duas alternativas:
Criar um novo esquema no qual se possa
encaixar o novo estímulo, ou
Modificar um já existente de modo que o
estímulo possa ser incluído nele.
Após ter havido a acomodação, a criança
tenta novamente encaixar o estímulo no
esquema e aí ocorre a assimilação.
Por isso, a acomodação não é determinada
pelo objeto e sim pela atividade do sujeito
sobre este, para tentar assimilá-lo.
O balanço entre assimilação e
acomodação é chamado de adaptação.
16. Equilibração:
É o processo da passagem de uma
situação de menor equilíbrio para uma
de maior equilíbrio. Uma fonte de
desequilíbrio ocorre quando se espera
que uma situação ocorra de
determinada maneira, e esta não
acontece.
17. é o mecanismo de adaptação do organismo a
uma situação nova e, como tal, implica a
construção contínua de novas estruturas. Esta
adaptação refere-se ao mundo exterior, como
toda adaptação biológica. Desta forma, os
indivíduos se desenvolvem intelectualmente a
partir de exercícios e estímulos oferecidos pelo
meio que os cercam. A inteligência humana
pode ser exercitada, buscando um
aperfeiçoamento de potencialidades, que
evolui "desde o nível mais primitivo da
existência, caracterizado por trocas bioquímicas
até o nível das trocas simbólicas" (Ramozzi-
Chiarottino apud Chiabai: 1990: 3).
18. Não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem
estrutura” (Piaget).
A estrutura de maturação do indivíduo sofre um
processo genético e a gênese depende de uma
estrutura de maturação.
o indivíduo só recebe um determinado conhecimento
se estiver preparado para recebê-lo.
dois pólos da atividade inteligente: assimilação e
acomodação. É assimilação na medida em que
incorpora a seus quadros todo o dado da experiência
ou ëstruturação por incorporação da realidade exterior
a formas devidas à atividade do sujeito (Piaget, 1982). É
acomodação na medida em que a estrutura se
modifica em função do meio, de suas variações. A
adaptação intelectual constitui-se então em um
"equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador
e uma acomodação complementar" (Piaget, 1982).
19. O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no
período intra-uterino e vai até aos 15 ou 16
anos. Piaget diz que a embriologia humana
evolui também após o nascimento, criando
estruturas cada vez mais complexas. A
construção da inteligência dá-se portanto
em etapas sucessivas, com complexidades
crescentes, encadeadas umas às outras. A
isto Piaget chamou de “construtivismo
sequencial”.
A seguir os períodos em que se dá este
desenvolvimento motor, verbal e mental.
20. Período Sensório-Motor - do nascimento aos 2 anos,
aproximadamente.
A ausência da função semiótica é a principal
característica deste período. A inteligência trabalha
• .
através das percepções (simbólico) e das ações
(motor) através dos deslocamentos do próprio corpo.
É uma inteligência iminentemente prática. Sua
linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à
palavra-frase ("água" para dizer que quer beber água)
já que não representa mentalmente o objeto e as
ações. Sua conduta social, neste período, é de
isolamento e indiferenciação (o mundo é ele).
21. dos 2 anos aos 4 anos
surge a função semiótica que permite o surgimento da linguagem,
do desenho, da imitação, da dramatização, etc.. Podendo criar
imagens mentais na ausência do objeto ou da ação é o período da
fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. Com a capacidade de
• .
formar imagens mentais pode transformar o objeto numa satisfação
de seu prazer (uma caixa de fósforo em carrinho, por exemplo). O
indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos ("o carro do papai foi
'dormir' na garagem"). A linguagem está a nível de monólogo
coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem que respondam
as argumentações dos outros. Sua socialização é vivida de forma
isolada, mas dentro do coletivo. Não há liderança e os pares são
constantemente trocados.
22. 4 anos aos 7 anos, aproximadamente.
Já existe um desejo de explicação dos fenômenos. É a
“idade dos porquês”, pois o indíviduo pergunta o tempo
todo. Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar a
• fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento continua
.
centrado no seu próprio ponto de vista. Já é capaz de
organizar coleções e conjuntos sem no entanto incluir
conjuntos menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto
de flores, por exemplo). Quanto à linguagem não mantém
uma conversação longa mas já é capaz de adaptar sua
resposta às palavras do companheiro.
Os Períodos Simbólico e Intuitivo são também
comumente apresentados como Período Pré-Operatório.
23. Período Operatório Concreto - dos 7 anos aos 11 anos,
aproximadamente.
É o período em que o indivíduo consolida as conservações de
número, substância, volume e peso. Já é capaz de ordenar
elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos,
• .
organizando então o mundo de forma lógica ou operatória. Sua
organização social é a de bando, podendo participar de grupos
maiores, chefiando e admitindo a chefia. Já podem compreender
regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer compromissos. A
conversação torna-se possível (já é uma linguagem socializada),
sem que no entanto possam discutrir diferentes pontos de vista
para que cheguem a uma conclusão comum.
24. dos 11 anos em diante.
É o ápice do desenvolvimento da inteligência e
corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo
ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para
• .
calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em
proveito de interesses orientados para o futuro. É,
finalmente, a “abertura para todos os possíveis”. A partir
desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que
permite que a linguagem se dê a nível de discussão para se
chegar a uma conclusão. Sua organização grupal pode
estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.