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- Monografia de Biodanza -
CCCrrriiissstttiiiaaannneee FFFeeerrrrrraaaiiiuuuooollliii &&& TTTeeerrreeezzzaaa SSSeeerrrvvvaaa
2
ÍNDICE
Porquê escolhemos o tema ............................................ 4
Introdução ........................................................................ 5
Capítulo 1.
Complementamos nossas experiências de Concepção e
Nascimento com as definições de Ecofatores,
Protovivências e Potencial Genético ................................. 6
Capítulo 2.
Definimos Biodanza e tecemos comentários, com base em
nossas vivências pessoais, da seguinte questão: como a
Biodanza nos deu novas referências de vida, promovendo
vivências criativas e transformadoras ............................ 24
Capítulo 3.
Introduzimos os conceitos de Identidade e Integração e
tecemos comentários, com base em nossa experiência
profissional, da seguinte questão: como a Biodanza facilita
a Integração da Identidade e abre novos horizontes no
exercício da nossa profissão ........................................ 52
Capítulo 4.
A Parceria no trabalho de Facilitadoras de Biodanza .... 71
Conclusão .................................................... 80
Bibliografia citada ..................................................... 82
3
AAggrraaddeecciimmeennttooss
CCrriissttiiaannee: A meu grande amor e companheiro Rogério pelo seu
companheirismo, sabedoria, paciência e estímulo à realização deste
trabalho. Ao Criador da Biodanza, Rolando Toro, que nos brindou
com a vida. A meu querido Orientador e Facilitador Antônio Sarpe,
mestre dedicado, carinhoso e determinado que muito tem me
estimulado com sua sabedoria e determinação. A amada Maria
Adela que sempre me estimulou a acreditar no meu potencial. A
meus queridos pais e irmãos pelo seu companheirismo e carinho
constante. A amiga e mestra Sandra Regina pelo seu acolhimento e
sabedoria. A mestra Iracema Teixeira que tem me auxiliado a trilhar
meus caminhos com sabedoria e determinação. A minha parceira
Tereza pelo seu acolhimento e sabedoria. Aos nossos queridos
alunos com quem tenho aprendido tanto desde que comecei a dar
aulas. Aos colegas do Grupo III (Formação), aos companheiros do
Grupo Regular e a todos os amigos que tem me acompanhado nesta
vida maravilhosa!!
TTeerreezzaa:: Aos meus pais, por serem terrenos férteis e me darem a
vida. A Maria Adela que com afetividade ensinou-me que quanto
mais profundo finco os pés na terra, maiores e mais plenos serão os
meus vôos. A Antônio Sarpe que na sua orientação me ajudou a
descobrir a poética e uma nova concepção da minha estória. A
minha irmã Petilda, estrela guia na estrada da minha existência. Aos
meus filhos por navegarem comigo por mares bravios e calmarias,
na longa viagem da minha vida. A minha prima Vera, por assumir
com todo seu amor a minha filha Vida, no período da minha
Formação. A minha tia Elza, por proporcionar momentos preciosos
na minha vida. A Cristiane, minha parceira, e Rogério que com
carinho, cumplicidade e nutrição regaram os nossos encontros. As
amigas Rosana, Vanja e Dejane pelo carinho com minha filha Vida e
pelos incentivos que me deram para a conclusão deste trabalho. Aos
companheiros de Formação e Grupo Regular, pelo convívio na
experiência do maravilhoso. A Rolando Toro, por brindar a vida e
nos presentear com sua genialidade. Aos nossos alunos por
brindarem as nossas aulas com suas presenças, nos autorizando a
colocar em prática os frutos do nosso aprendizado.
4
Porquê escolhemos o tema
O que nos motivou a escrever sobre a Integração da Identidade foi a
nossa vivência pessoal e, consequentemente, a consciência da
importância e influência da Biodanza no nosso crescimento.
A Biodanza ecoa dentro de nós numa época que, inexoravelmente,
se deixa tomar por um esquecimento sistemático daquilo que é mais
característico no homem: a sua humanidade.
Somos seres relacionais, a nossa essência é gregária. A Biodanza
retomou e reforçou o nosso instinto, a nossa necessidade de
contato, de vínculo, e, com isso, ela tem fortalecido e facilitado a
expressão da nossa identidade.
Ressaltamos e destacamos a importância da relação por
percebermos aí um dos instrumentos fundamentais da Biodanza: o
mundo da relação. Segundo o pensador alemão Martin Buber1
,
“Toda vida atual é encontro. O Eu se realiza na relação com o Tu; é
tornando Eu que digo Tu”.
A Biodanza que, através da sua metodologia trabalha a relação Eu-
Tu, tem nos possibilitado o crescimento enquanto seres humanos-
relacionais e, dia a dia, vem nos auxiliando a desabrochar como
Facilitadoras.
1
Martin Buber, “Eu e Tu”
5
Introdução
Neste trabalho somos objeto do nosso próprio estudo. Antes de ser
uma exposição, ele é uma revelação da nossa trajetória existencial à
luz da teoria da Biodanza.
Nesta monografia relatamos como duas pessoas de origem e
formação profissional distintas se apropriam destas diferenças como
elemento favorável para a integração das suas identidades e se
unem para realizar um trabalho em conjunto.
No primeiro capítulo relatamos as nossas experiências de
Concepção e Nascimento, à luz dos conceitos de Protovivência,
Ecofatores e Potencial Genético. A Identidade se manifesta no
momento da concepção.
No segundo capítulo definimos Biodanza e tecemos comentários
com base em nossas vivências pessoais, da seguinte questão:
Como a Biodanza nos deu novas referências de vida, promovendo
vivências criativas e transformadoras.
No terceiro capítulo apresentamos os conceitos de Identidade e
Integração e tecemos comentários com base na nossa experiência
profissional, da seguinte questão: Como a Biodanza facilita a
Integração da Identidade e abre novos horizontes no exercício da
nossa profissão.
No quarto capítulo falamos sobre a parceria no trabalho de
Facilitadoras de Biodanza. Relatamos o nosso crescimento,
dificuldades superadas, afinidades, o vínculo que se fortaleceu ao
longo da nossa parceria e comentamos sobre o grupo que
facilitamos.
Contando a nossa história, revelamos o nosso profundo amor pela
vida. Um amor que desabrochou de forma intensa, após o momento
em que a Biodanza tornou-se parte das nossas vidas.
6
Capítulo 1
- Onde complementamos as nossas
experiências de Concepção e Nascimento com
as definições de Ecofatores, Protovivências e
Potencial Genético -
7
Capítulo 1
- Onde complementamos as nossas experiências de
Concepção e Nascimento com as definições de
Potencial Genético, Ecofatores e Protovivências -
1.1) A HISTÓRIA DE CRISTIANE
- A autora inicia a sua estória, introduz os conceitos de
Potencial Genético, Ecofatores e tece comentários sobre sua
estória, à luz deste conceito -
Nasci numa cidade pequena, Campos, estado
do Rio de Janeiro, em 15 de agosto de 1964.
O ambiente familiar onde nasci era de muita
preocupação e tensão. Meu pai e minha mãe
eram de origem humilde. Meu pai trabalhava
muito, chegava em casa por volta das 23:00hs.
Minha mãe ficava muito só em casa cuidando
do meu pequeno irmão e da casa.
Minha mãe sentia-se muito carente e com isso
não pode curtir o nascimento dos filhos. Ela
comenta que época de nascimento na nossa
casa era sempre de muita preocupação. Meus
pais tiveram quatro filhos – eu fui a segunda
filha.
Durante o dia, minha mãe ficava em casa
sozinha e à noite ela ia para a casa dos meus
avós, seus pais. Meus avós moravam na rua da
nossa casa.
8
O clima na casa do meu avô também não era
fácil. Meu avô tinha o temperamento muito
difícil, humores oscilantes, sempre bravo, e
minha avó sempre contornando a situação,
segurando as pontas.
Assim, minha mãe ia para a casa dos seus pais
para não ficar só em casa, para aprender com
sua mãe como cuidar de um bebê, mas lá a
situação também era tensa, desagradável.
Minha mãe se sentia muito inexperiente nos
cuidados com um bebê. Não sabia como fazê-
lo, também por isso queria a presença do meu
pai para ajudá-la, mas ele chegava em casa
tarde, sempre cansado. Quando ela pedia sua
ajuda, lhe falava das suas carências, ele não a
entendia e era grosseiro com ela.
O primeiro filho foi Luís, meu irmão mais velho.
Quando Luís tinha apenas quatro meses de
vida minha mãe soube, pelo seu médico, que
estava grávida – eu estava a caminho.
A notícia da gravidez lhe deixou muito
assustada. Nos primeiros dois meses ela teve
dificuldade em aceitar a gravidez. Passou muito
mal, teve muito enjôo. Passado os dois
primeiros meses ela se acalmou e aceitou a
idéia, sentia-se bem melhor. O restante da sua
gravidez foi tranqüila.
9
Não nasci num ambiente tranqüilo. Naquela
época minha mãe estava insegura, muito
sozinha, tinha pouca experiência com bebês e
não pode contar com o apoio do meu pai, seu
companheiro.
Meu pai trabalhava muito, queria nos dar
conforto, segurança, por isso os momentos que
passava em casa eram poucos. Com isso, com
pouco tempo de casada minha mãe viu
frustadas seus ideais do casamento:
companheirismo, diálogos, etc.
O entorno familiar é importante para o crescimento e
desenvolvimento do bebê. Mas também importante e fundamental
para o desenvolvimento do bebê é o potencial que ele herda
geneticamente, o potencial que ele traz para este mundo quando
nasce - o que Rolando chama de Potencial Genético (vide
definição abaixo).
- POTENCIAL GENÉTICO -
A Biodanza centra sua atenção na origem genética dos potenciais
humanos. Todo ser vivo cresce e se desenvolve a partir de certos
potenciais herdados geneticamente. Cada célula contém em seu
núcleo o ADN com toda informação biológica para o
desenvolvimento pleno do indivíduo, informação esta que vai se
expressando através da trama das linhas de vivência (descritas no
capítulo 2, página 31).
10
A expressão do potencial genético depende dos Ecofatores (vide
definição abaixo). Grande parte do nosso potencial, por carência de
estímulos suficientes ou por repressão, perde sua “potência”, o que
não significa que não serão desenvolvidos. Se forem estimulados
com os necessários ecofatores positivos, de maneira sistemática e
de forma recorrente (vivências de Biodanza) podem mudar a vida do
indivíduo. A Biodanza estimula especificamente a expressão dos
potenciais genéticos destinados a conservar a vida.
Defino agora o que Rolando chama de Ecofatores. De posse deste
conceito o leitor compreenderá a influência do ambiente familiar no
desenvolvimento do bebê e poderá entender como o meu ambiente
familiar influenciou no meu desenvolvimento.
- ECOFATORES -
O desenvolvimento evolutivo de cada indivíduo acontece, à medida
que seus potenciais genéticos encontram oportunidade para se
expressar através da existência. Os fatores ambientais que
determinam a expressão do potencial genético se denominam
ecofatores, que podem ser positivos, se favorecem o
desenvolvimento pleno da pessoa, ou negativos, se reprimem.
Vivemos numa cultura repressiva que nos bombardeia com todo tipo
de mandatos. Vivi, ao longo da minha infância e adolescência,
muitos destes mandatos: “Não te movas, fique quieta”, “Não se
toque, não me toque, não seja promíscua”, “Não seja curiosa, não
invente, não pergunte, siga as normas”, “Não busque refúgio, não
confie em ninguém, seja dura e independente”, “Não vá mais além,
não se deslumbre com os mistérios da vida, a vida é um grande
mecanismo e o que não sabemos agora, saberemos mais tarde.”
11
Racionalizar ou analisar a incoerência destes argumentos não basta,
eles já estão dentro de nós, já os incorporamos, estão no nosso
sistema nervoso. A única maneira de mudá-los é gerando vivências
opostas que também atuem a nível neurológico, produzindo uma
verdadeira renovação orgânica para, posteriormente, modificar a
consciência.
Os exercícios de Biodanza são estas vivências que, de maneira
sistemática e programada, atuam como poderosos ecofatores
positivos. Uma aula de Biodanza é um bombardeio de ecofatores
positivos que tem o objetivo de preencher as lacunas de amor,
carinho, vitalidade, expressividade que ficaram dentro de cada
indivíduo, ao longo de suas vidas, e que pouco a pouco são
preenchidas em cada aula de Biodanza.
- A autora continua sua história, introduz o conceito de
Protovivências e tece comentários sobre sua história, à luz
destes conceitos -
Nasci de parto normal, um parto tranqüilo, fácil.
Conta minha mãe que eu era um bebê bonito,
ia no colo de todos, quase não dava trabalho.
Quase não adoecia e minhas visitas ao
pediatra eram destinadas aos controles
normais para a saúde de um bebê.
Com um ano de idade eu me recolhi. Não
queria mais ir no colo de estranhos, nem de
parentes e amigos dos meus pais. Meu pai
tinha uma família muito grande, eram 5 irmãos,
todos com muitos filhos, as festas na nossa
família eram freqüentes.
12
Eu só queria ficar no colo da minha mãe ou do
meu pai, quando alguém estranho me
apanhava no colo eu chorava muito e só
parava quando voltava ao colo da minha mãe;
minha mãe dizia: “você parecia um bicho do
mato”.
Os ecofatores são estímulos positivos ou negativos que influenciam
no crescimento evolutivo do bebê. As protovivências também são
fatores determinantes no desenvolvimento do bebê. Veja, a seguir,
como Rolando define tal conceito:
- PROTOVIVÊNCIAS -
Durante os primeiros meses de vida o bebê desenvolve
neurologicamente padrões de resposta vivencial. Parece que a
vivência fundamental é a “vivência oceânica”, descrita por Freud e
posteriormente por Jung, de estar solto em uma totalidade sem
limites.
As protovivências são as experiências cenestésicas do bebê nos
seus primeiros seis meses de vida. O bebê, durante seu
desenvolvimento inicial, entra em um duplo processo: Cognitivo e
vivencial.
Cognitivo: Se estrutura, segundo Piaget, a aprendizagem de
tamanho, peso, quantidade, etc.
Vivencial: Paralelo a aprendizagem conceitual, se dá o
desenvolvimento vivencial que ainda não foi
estudado. O estudo genético das vivências foi iniciado
por Rolando Toro com a descrição das
Protovivências:
13
Protovivência de Vitalidade: O Movimento
O desenvolvimento do impulso vital se produz quando os pais
permitem ao bebê seus movimentos espontâneos, seus jogos e sua
autonomia.
Protovivência de Sexualidade: O Contato
Os pais devem compreender que os bebês tem sexualidade e
necessitam de contato, beijos e carícias. Quando o bebê é
acariciado, ele pode desenvolver sua sexualidade de forma plena.
Protovivências de Criatividade: Expressão e Curiosidade
O bebê começa a fazer ruídos, pequenos murmúrios, gritos
onomatopéicos, onde ele manifesta uma proto-linguaguem. Se a
mãe está atenta, ela começa a entender o que ele quer expressar.
Lentamente ele começa a desenvolver uma linguagem: o sim e o
não, as queixas, o sorriso, o canto e o diálogo. A curiosidade é parte
importante da protovivência de criatividade. Se o bebê nos primeiros
tempos aprende a desenvolver sua expressividade, desenvolve sua
criatividade.
Protovivências de Afetividade: Nutrição
O bebê bem alimentado sente o ato de nutrição como amor, recebe
continente, segurança. Se é abandonado, experimenta uma série de
transtornos que Spitz descreveu: marasmo, morte, sintomas que
aparecem mesmo quando tem higiene e alimentação. As primeiras
sensações de continente afetivo dão ao bebê segurança em si
mesmo.
Protovivências de Transcendência: Harmonia no Ambiente
O bebê não deve ser maltratado. Certas pessoas o deixam nervoso,
lhes tiram sua tranqüilidade. Os bebês devem crescer em um
ambiente harmonioso e em contato com a natureza.
As protovivências asseguram ao bebê um desenvolvimento
saudável, um crescimento pleno nas suas funções. Quando o bebê
tem estas protovivências, ele desenvolve plenamente o seu
potencial genético e pode expressá-lo ao longo da sua vida, nas
suas diferentes formas.
14
- A autora termina o relato de sua concepção,
nascimento e infância -
Minha mãe não tinha apoio do meu pai, se
sentia sobrecarregada pelas tarefas
domésticas (nossa casa era grande, tinha dois
andares), sentia-se insegura para cuidar de
mim. Seu amor, carinho, alegria e
disponibilidade para cuidar de mim eram, por
isso, também limitados.
Quando eu nasci meu irmão tinha apenas um
ano, necessitava também de muita atenção,
carinho, cuidado ... O amor que minha mãe me
deu foi o que lhe foi possível, num momento
onde ela pouco se sentia amada pelo meu pai.
Também limitada era sua motivação para
brincar comigo, para me fazer carinho, para me
transmitir amor. O ambiente em casa não era
harmonioso, tranqüilo, calmo, por isso não
cresci num clima harmonioso, mas preocupado
e tenso.
Meu pai, por sua vez, trabalhava dia e noite,
quando chegava em casa eu já dormia
profundo. Ele tomava banho, comia e dormia ...
pouca atenção e carinho ele pode me dar.
Recebi o carinho e atenção que meus pais
puderam me dar, muito limitados pelas suas
condições afetivas, existenciais, sociais e
financeiras na época.
15
Cresci carente de carícias, me sentindo pouco
vital, reprimida na minha feminilidade, não era
expressiva, comunicativa, pelo contrário, era
recolhida, tímida, esperava que as pessoas
viessem até mim, do contrário eu ficava quieta
no meu canto.
No meu ambiente familiar, os ecofatores que recebi e as
protovivências que vivenciei, deixaram lacunas muito grandes para
que eu me desenvolvesse na plenitude do meu potencial, herdado
geneticamente.
Hoje, mais esclarecida e informada pelas teorias da Biodanza e pela
leitura de outros autores, concordo com uma frase que ouvi durante
a formação em Biodanza; frase esta já vivida e sentida por mim
durante uma grande etapa de minha vida:
“ A história do homem é a história de sua repressão.”
Freud2
Minha história não foi apenas influenciada pelo meu núcleo familiar,
a cultura onde vivo também me estimulou (e o continua fazendo) de
forma positiva ou negativa.
“A desconexão dos homens da matriz
cósmica da vida tem gerado, através da
história, formas culturais destrutivas. A
dissociação corpo-alma e a repressão da
experiência paradisíaca têm conduzido a uma
profunda crise cultural em que vivemos.”
R. Toro
Esta citação do Rolando ilustra o que vivenciei na minha infância: “
... a repressão da experiência paradisíaca ...”. Anos mais tarde,
quando conheci a Biodanza, tive a oportunidade de redescobrir a
vida dentro e fora de mim.
2
Herber Marcuse, “Eros & Civilização”
16
1.2) A HISTÓRIA DE TEREZA
“A única relação saudável entre as pessoas é
a relação afetiva, através da qual os
indivíduos têm a oportunidade não só de
conhecer a si mesmo, senão essencialmente
ser si mesmo.”
“Em Biodanza cada indivíduo participa do
processo de crescimento de forma ativa e ao
mesmo tempo contribui para o processo dos
demais.”
R. Toro
Inspirada nas palavras de Rolando Toro, desenvolvo este trabalho
com base na minha história pessoal, onde relato grande parte do
meu processo de crescimento.
Fui concebida em circunstâncias difíceis,
quando o meu pai já manifestava sinais da
esquizofrenia, doença que o levou a um
hospital psiquiátrico durante 21 anos.
Segundo Rolando, cada indivíduo possui um potencial genético que
constitui o conjunto de características únicas chamado Identidade. É
no momento da fecundação quando se unem os gametas do pai e
da mãe que se dá a identidade biológica, que se expressará através
da vida (ontogênese).
17
O potencial genético determina a estrutura orgânica e os
comportamentos instintivos, dos quais derivam depois funções mais
complexas e os grupos de potencial humano que a Biodanza
estimula.
Minha mãe não aceitava a idéia do nascimento
de mais uma filha e tentou o aborto durante os
seis primeiros meses de gestação.
“A vivência fundamental da Identidade surge
com a sensação endógena de estar vivo. A
experiência primordial da Identidade é a
comovedora e intensa sensação de estar vivo,
gerando-se a si mesmo.”
R. Toro
Uma vida que pulsa dentro de um útero
materno é rejeitada por outra vida, sua mãe, e
desejada pelo pai na expectativa de ter um filho
homem, já que a primeira filha era uma menina.
“Encontramos aí a vida acontecendo como
possibilidade singular, potencialidade muitas
vezes bloqueada, reprimida, negada mas
sempre presente.”
C. Rogers
18
Minha história se inicia em um momento de
grande tensão e de sentimentos contraditórios.
Nasci de um parto fórceps. Não era homem
como meu pai desejava e tinha um defeito na
orelha. Segundo minha mãe, tal defeito não
alterou o seu sentimento de amor. Sou a
segunda filha do casamento.
Minha mãe conta que quando me tomou no
colo, quando nasci, sentiu o amor sair do seu
coração e me envolver.
Minha mãe é uma pessoa de emoções
intensas!
“Todo terreno que germina é fértil.”
Carlos Garcia2
Nasce uma poesia, fruto deste momento:
“Sementes da Vida
No sabor,
do amor
que ficou
sem saber,
o porquê
da razão,
do viver,
do parir-se,
para vir,
no sorrir,
no porvir
e sentir
a si.”
Tereza Serva
Todos comentam que fui um bebê muito lindo.
2
Carlos Garcia, “Biodanza, El Arte de Danzar la Vida”
19
Durante a infância me recordo que não gostava
de me pentear, o vestido estava sempre
desabotoado e os laços desamarrados. Tinha
os cabelos longos e despenteados, não
gostava de usar meias, nem calçar sapatos.
Cresci me sentindo diferente das outras
pessoas e com o estigma da doença do meu
pai.
“De nossa identidade brota a percepção do
diferente e a capacidade para identificar os
objetos. E na vivência de nós mesmos se
organiza nossa percepção. De nossa
identidade brotam os frutos da diversidade.”
R. Toro
Fui uma criança rebelde, minha mãe tentava
me embonecar, mas eu não aceitava.
Por mais que minha mãe falasse do amor que
tinha por mim, e de ter me amamentado por
dois anos, não a sentia próxima.
Sentia-me segura do amor da minha avó, que
me aceitava descabelada, chorona e insegura.
Durante anos moramos com a minha avó e
mais dois primos. Foi difícil quando nos
separamos deles, principalmente pelo
afastamento da minha avó.
Fui crescendo e sentia-me solitária.
20
Minha irmã era a preferida da minha mãe, elas
eram muito companheiras. Quando íamos
visitar meu pai no hospital, ele sentava-se no
meio das duas. Eu ficava distante e invejava.
Ansiava pelo dia do meu aniversário, pois era
certa a visita do meu pai. Ele pensava que o
aniversário era da minha irmã, mesmo assim,
ano após ano, eu o aguardava e enquanto
todos temiam a sua presença, eu ficava feliz.
Amava a minha irmã e sentia-me amada
quando ela me defendia das enfermeiras, no
colégio, quando queriam me vacinar; quando
ela me defendia dos colegas que me
chamavam de “orelhinha”; quando ela me
ajudou a vencer o meu complexo de
inferioridade por não ter uma orelha.
Eu a invejava por ser a predileta do meu pai e
da minha mãe, por ser mais inteligente, por ser
mais generosa, mais amiga de todos, por
gostar de conforto e do que era bom.
Conformava-me no lugar de rejeitada,
esforçada, criadora de caso. Sentia-me
solitária, estranha no ninho familiar.
No Natal nos uníamos: eu, minha mãe e minha
irmã, na dor da ausência do pai. Os
sentimentos que nos unia eram contraditórios.
Vale ressaltar que vínculo afetivo não é só amor, são também
vivências com sentimentos contraditórios. É tudo aquilo que nos
afeta, raiva, ressentimentos, rejeição, amor, e que compõem o
universo afetivo.
21
Vivências dialéticas não implicam uma não-vinculação. Quando
vivemos os nossos limites, impedimentos e potenciais, também
fazemos um vínculo.
“ Perdas e Ganhos
Sou feliz, por não fingir,
se dói eu grito,
se estou triste comunico,
às vezes me escondo,
ainda é difícil.
O outro não entende,
mas o que quero?
Se me entendo basta!
Dividir é difícil,
pois o que passo, o que vivo,
é só meu.
Já existiu um alguém,
que me socorreu,
até me entendeu,
só que este alguém partiu,
me deixou,
longe do seu amor,
para que eu vivesse a minha dor,
de viver,
descobrir,
o meu ser.”
Tereza Serva
Minha história não é só dores e tristezas. Minha
Tia Elza me proporcionou uma infância
dourada.
No fim do ano passava minhas férias no Rio,
tendo como vista permanente a Baía de
Guanabara e o Pão de Açúcar.
22
Assim era nosso ano: ao longo dele muita luta
e uma vida humilde, no fim do ano, como num
passe de mágica, nos transportávamos para
um mundo de conforto, mordomias, prazeres,
alegria e beleza. Nos aguardavam passeios,
lanches na Colombo, teatros, cinemas, parques
de diversões. Culminando estas férias
maravilhosas, passávamos parte dela em
Guarapari.
Nessa dialética vivi a minha infância.
“O desenvolvimento evolutivo de cada
indivíduo acontece na medida em que os
potenciais genéticos encontram oportunidade
para expressar-se através da existência. Os
fatores ambientais que determinam a
expressão do potencial genético é
denominado ecofatores. Os ecofatores
podem ser positivos ou negativos, ou seja,
positivos quando facilitam e negativos quando
bloqueiam a expressão dos potenciais.”
A Biodanza gera, mediante exercícios e
danças no decorrer da sessão, campos
específicos muito concentrados para
estimular os potenciais genéticos. Uma
sessão de Biodanza é um bombardeio de
ecofatores positivos sobre a função
integradora–adaptativa–límbico–hipotalámica.
23
A integração adaptativa é o processo em que
os potenciais genéticos, altamente
diferenciados, se expressam e se organizam
em sistemas mais complexos criando uma
rede de interações que potencializam a
Identidade.”
“ O fluxo destes potenciais serão
expressados ao longo da vida através das
cinco linhas de vivências: ”Vitalidade,
Sexualidade, Criatividade, Afetividade,
Transcendência.”
R. Toro
Os ecofatores negativos que envolveram a
minha infância, não foram impeditivos da
expressão da força e vida contida no meu
potencial genético. Com a Biodanza meus
potenciais foram estimulados, facilitando minha
expressão no mundo.
24
Capítulo 2
- Onde definimos Biodanza e tecemos
comentários, com base em nossas vivências
pessoais, da seguinte questão: como a
Biodanza nos deu novas referências de vida,
promovendo vivências criativas e
transformadoras -
25
Capítulo 2
- Onde definimos Biodanza e tecemos comentários,
com base em nossas vivências pessoais, da seguinte
questão: como a Biodanza nos deu novas referências
de vida, promovendo vivências criativas e
transformadoras -
Segundo Rolando Toro, Biodanza é:
“Um sistema de integração afetiva, renovação
orgânica e reaprendizagem das funções
originárias de vida, baseada na indução de
vivências integradoras através da música,
dança, canto e situações de encontro em
grupo.”
O objetivo principal da Biodanza é integração, integração numa
cultura que é fonte permanente de dissociação.
Um aspecto que está inserido neste objetivo principal é a integração
do homem consigo mesmo. A integração do que sente com o que
pensa e do que sente com o que faz, em outras palavras, integração
da percepção, emoção e ação.
Outra forma de integração é a integração com o semelhante. É a
capacidade de perceber que a humanidade é algo conquistado, não
recebido pronto ao nascer. Ser homem e ser humano são dois
fenômenos diferentes. Um é o fenômeno biológico, o outro é o
fenômeno afetivo. Sou homem, mas me faço humano na relação
com o outro. Martin Buber3
, pensador alemão, reforça este conceito
quando relata:
3
Martin Buber, “Eu & Tu”
26
“A nostalgia do humano, provocado por
situações de profunda crise no mundo dos
homens onde a controvérsia e cisões
imperavam, aliava-se a uma profunda
esperança no poder da relação, na força do
diálogo que faria do homem uma pessoa livre
e responsável diante de seu destino”.
O homem se humaniza na relação com seu semelhante.
E por último, a integração com a natureza, não apenas a natureza
que nos cerca, que nos é familiar, mas também o cosmos, o
universo. Aqui vivenciamos a possibilidade de nos sentir
pertencentes e inseparáveis da totalidade.
A característica fundamental do sistema Biodanza é ser um fator de
integração, que favoreça a relação entre todos os planos da
existência.
É importante ressaltar que a integração se dá nos três aspectos,
simultaneamente, quer dizer, consigo mesmo, com o outro e com o
universo, de maneira recíproca. Temos a idéia de que “antes de nos
integrarmos com o semelhante tenho que me integrar primeiro
comigo mesmo”. A integração consigo mesmo e a integração com o
outro são simultâneas. A integração consigo mesmo se dá no
encontro com o outro. Martin Buber4
comenta:
“O homem se torna EU na relação com o TU.”
“ Toda vida atual é encontro.”
4
Martin Buber, “Eu e Tu”
27
Rolando destaca:
“ Nossa proposta não consiste só em dançar,
senão em ativar, mediante a dança, potenciais
afetivos e de comunicação que nos conectem
com nós mesmos, com o semelhante e com a
natureza.”
Rolando diz que é impossível mudar o mundo sem mudar a nós
mesmos. Na Biodanza, a transformação não é uma mera
reformulação de valores, senão uma verdadeira transculturação,
uma reapredizagem a nível afetivo, uma modificação límbico-
hipotalâmica.
A Biodanza se propõe a restaurar nas pessoas, de forma intensa, a
vinculação originária da espécie com a totalidade biológica. Esse
ponto de partida é fundamental para a supervivência.
A Biodanza tem sua inspiração nas origens mais primitivas da
dança. Rolando esclarece que a dança, no seu sentido original, é um
movimento vivencial, um movimento profundo que surge das
entranhas do homem.
“ A dança é movimento de vida, é ritmo
biológico, ritmo do coração, da respiração,
impulso de vinculação com a espécie,
movimento de intimidade.”
Rolando crê numa dança orgânica, que responda a padrões de
movimento que originam vida.
“Somente se nossos movimentos restauram
seu sentido vinculante, poderemos renascer
do caos obsceno da nossa época.”
Participamos assim de uma visão diferente. Buscamos acesso a um
novo modo de viver despertando a nossa dormida sensibilidade.
28
Na Biodanza, as danças e as cerimônias de encontro despertam
vivências desconhecidas relacionadas ao êxtase e a felicidade.
Rolando enfatiza que a humanidade tem que aspirar não somente o
bem-estar, não só a elevação da qualidade de vida, mas também a
felicidade.
“A felicidade é contagiosa. Uma pessoa feliz
pode influir na felicidade de muitas outras. A
felicidade é um processo de maturidade. Cada
pessoa pode desenvolver seus potenciais de
felicidade e alcançar estados cada vez mais
refinados e intensos.”
R. Toro
29
2.1) A HISTÓRIA DE CRISTIANE
- A autora relata o momento da sua vida quando
encontrou a Biodanza e tece comentários sobre seu
“renascimento” -
Tinha recém chegado ao Brasil em Novembro
de 1994. Voltei a morar na minha antiga casa
em Copacabana. Sentia-me em pedaços, meu
casamento acabou, após 4 anos fora do Brasil
me encontrava sozinha e sem trabalho, enfim,
era um novo recomeço na minha vida.
Desde minha infância e adolescência me sentia
reprimida, meus movimentos eram bastante
limitados, curtos, tímidos. Chamava atenção
porque era bonita, meiga, gostava de agradar,
mas preferia que não me notassem.
Um mês após minha chegada ao Brasil já
estava trabalhando. Tinha então condições
financeiras para procurar ajuda. Internamente
havia também uma enorme disponibilidade
para a felicidade, um grande desejo me movia
em direção à vida.
Naquela época não sabia que estava
deprimida, a maior parte do tempo me sentia
cansada, dormia muito. Subestimava meu
potencial.
Minha sabedoria interior sempre me guiou até
bons mestres. Em Janeiro de 1995 iniciei um
tratamento homeopático com uma médica
excepcional. Ela, por sua vez, me indicou uma
excelente terapeuta, comecei a fazer terapia.
30
Ainda me lembro, como se fosse hoje, quando
durante uma consulta do tratamento
homeopático eu disse para a médica (que
depois se tornou uma grande amiga): “Eu
quero me livrar dessas correntes que me
prendem, que prendem meus movimentos, que
me impedem de me expressar, expressar o que
sinto, não agüento mais viver assim, presa,
amarrada!”
Foi quando ela me indicou a Biodanza.
Comecei então o grupo regular com a Maria
Adela, em abril de 1995; aí começou meu
renascimento, aí comecei a contactar a vida
dentro de mim.
“A Biodanza é uma cerimônia de celebração
da vida.”
R. Toro
Quando ouvi esta frase pela primeira vez,
durante uma explanação teórica numa sessão
de Biodanza, não a compreendi bem, é claro,
não sentia a vida dentro de mim, vivia
“adormecida”.
Depois de ter definido a Biodanza, descrito sua base conceitual,
relato o funcionamento de uma aula de Biodanza, para que o leitor
compreenda como se deu a minha transformação, o meu
renascimento, como pouco a pouco fui fazendo contato com a vida
dentro de mim, de forma lenta, progressiva, como trabalha a
Biodanza.
31
Os exercícios de Biodanza estão destinados a deflagrar vivências.
A indução freqüente de determinados tipos de vivência, reorganizam
as respostas frente a vida. A ação reguladora dos exercícios não se
exerce sobre o córtex cerebral, senão sobre a região límbico-
hipotalâmica, centro regulador das emoções.
Rolando classificou as vivências em 5 grandes conjuntos
expressivos do potencial humano. Os exercícios estão selecionados
para estimular a produção de vivências específicas, dentro destes 5
conjuntos de potencial:
Vivências de Vitalidade - O desenvolvimento da linha da vitalidade
se gera estimulando, mediante as danças, o sistema
neurovegetativo (simpático-parassimpático), a homeostase
(equilíbrio interno que se conserva apesar das mudanças externas),
o instinto de conservação (luta e fuga), a energia para a ação e a
resistência imunológica. Basicamente, os exercícios de vitalidade
mobilizam o “inconsciente vital” que constitui o fundo endotímico, o
humor e os estados de ânimo.
Vivências de Sexualidade – As vivências estimulam os movimentos
e sensações relacionadas ao erotismo, a identidade sexual e a
capacidade orgástica. Estas vivências permitem o despertar das
fontes do desejo e o relaxamento dos níveis de repressão sexual.
Vivências de Criatividade – Estimulam os impulsos expressivos e
de inovação, a capacidade de criar danças, a criatividade existencial
e artística.
Vivências de Afetividade – Cerimônias de encontro, rituais de
vínculo e danças de solidariedade permitem uma reeducação afetiva
e o acesso a amizade a ao amor.
32
Vivências de Transcendência – As danças na natureza, os
exercícios na água, as danças dos quatro elementos vinculam os
participantes da Biodanza com a harmonia universal, despertam a
atitude ecológica e o acesso à consciência cósmica.
As cinco linhas de vivência se relacionam entre si e se potencializam
reciprocamente.
Quando iniciei a Biodanza me sentia carente em todas as 5 linhas
acima. A sessão de Biodanza foi para mim um bombardeio de
estímulos positivos, uma possibilidade de viver a experiência do
maravilhoso, de viver a plenitude.
“O grupo de Biodanza se torna, de pronto, a
experiência do Maravilhoso, em que as
pessoas se encontram, se necessitam e
brindam com o outro o melhor de si mesmas.
Uma experiência encantadora de ternura, sob
o efeito deflagrador da música.”
R. Toro
Viver, mesmo que seja por duas horas (um grupo regular de
Biodanza acontece 1 x por semana, com duração de 2 horas), esta
realidade paradisíaca impulsiona a muitas pessoas fortes,
enamoradas pela vida, a lutar para conquistar para nossa existência,
ou de nossos filhos e netos, essa possibilidade de plenitude.
33
Nas palavras abaixo, Antonio da Costa Ciampa5
reforça a
importância do grupo, que caracteriza a Biodanza:
“Para atingir a maturidade é preciso mais que
apenas condições infra-estruturais. Como
animal simbólico, o bicho-humano sente
carência de sentido, de significado – e de
pertencer a um grupo que dê suporte e
encarne esse significado.”
O grupo de Biodanza é uma matriz de renascimento, é um
biogerador, um centro gerador de vida.
Eu sempre fui uma pessoa muito só. Tinha
dificuldades em me relacionar, tinha um baixa
estima. Para mim foi importantíssimo trabalhar
com um grupo, pertencer a um grupo, ainda
mais um grupo com estes valores – um grupo
que coloca a vida acima de tudo.
A Biodanza trabalha em cima do último fio de saúde do ser humano,
trabalha em cima da parte sã do ser. Ela trata de reforçar os
aspectos saudáveis e desenvolver as potencialidades através das
cinco linhas de vivência.
5
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina”
34
O meu encantamento com a Biodanza foi imediato. Em cada aula eu
reforçava a vida dentro de mim. Eu que me sentia sem vida,
adormecida, me apaixonei imediatamente pela Sistema Biodanza.
A sessão de Biodanza – uma cerimônia de celebração da vida - o
grupo, caloroso, receptivo, composto por pessoas que, mesmo com
características tão distintas, tinham o mesmo objetivo: necessidade
de carinho, afeto, vida plena, amor, necessidade de um significado
maior para suas vidas ... no início tudo parecia um sonho! Mas o
trabalho era real, o grupo também, e eu agarrei tal oportunidade com
unhas e dentes. Queria viver, viver com intensidade!!
“O ser humano que visceralmente se insere
numa comunidade humana é alguém, é
humano”.
A. Ciampa6
E foi assim que, progressivamente, fortalecida nas cincos linhas de
vivência acima, revivendo a experiência paradisíaca no grupo,
redescobrindo a vida dentro de mim, iniciei as primeiras mudanças
na minha vida.
“Ser é ser metamorfoseada.
A metamorfose é expressão de vida.
O que Severina nos revela é quem ela é:
alguém se transformando permanentemente.
Severina adquire consciência disso e se
reconhece como ser humano.”
A. Ciampa7
6
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e a História da Severina”
7
o mesmo livro citado acima.
35
O leitor não deve esquecer que todo processo de transformação
profunda é lento e progressivo. Em Biodanza, a assistência
freqüente às aulas vai propiciar que, mais ou menos, após 2 anos
de trabalho, se iniciem as primeiras mudanças no argumento de
vida: “Moro onde gosto? “Tenho relações afetivas saudáveis? Meu
trabalho me dá prazer?”
E comigo não foi diferente, pouco a pouco fui reestruturando os 3
argumentos de vida mencionados acima.
O local onde morava era aconchegante, bem decorado, mas a
decoração não foi escolhida por mim, queria dar um toque meu.
Assim, com autorização dos meus pais (proprietários do
apartamento), contratei um pintor e pintei todo a apartamento. Tirei o
branco das paredes e coloquei cores nelas. Joguei fora toda a
decoração velha e deixei as peças que eu tinha comprado, que tinha
a minha cara. Logo já me sentia verdadeiramente em casa, me
sentia acolhida no local onde morava.
Comecei a reestruturar as minha relações afetivas. Eu sempre fui
boazinha, tinha a preocupação em agradar a todos, sempre
simpática. Percebi então que eu não era só bondade, descobri que
era normal sentir raiva, irritação e o trabalho da Biodanza me
possibilitou expressar estes sentimentos tão distintos, e que
compõe todo ser humano. Descobri que afeto é todo sentimento que
nos afeta: amor, raiva, carinho, compreensão, inveja, etc. Descobri
que, por mais que para mim fosse difícil aceitar todas as minhas
nuances, elas existiam. E era a não aceitação destas nuances, a
minha cristalização em partes que eu gostava, que me causava
tanto sofrimento, tanta dor.
36
A passagem abaixo de A. Ciampa8
, onde ele fala da vida como uma
composição de renúncia e libertação, ilustra bem a minha fala:
“Renúncia e libertação marcam a morte
progressiva de Severina: renúncia ao filho
propriedade; libertação para amar o filho-
amigo. Outras renúncias anteriores
libertaram também. Sua renúncia ao projeto
de vingança é exemplar: liberta-a para ser
uma jovem alegre e espontânea.
Severina morreu!
Viva Severina!”
As minhas relações sociais e familiares também foram
reestruturadas por mim. Como parte do meu comportamento de
“boazinha”, estava uma total passividade. Eu não sentia ou não
conseguia perceber que cabia a mim o rumo da minha vida. Como
um rio sem rumo, era sempre levada pelas marés da vida... Foi
quando percebi que a vida era minha e só a mim cabia dar rumo
nela. Progressivamente, passei a ser autora da minha própria vida.
Antônio Ciampa9
ilustra minha fala com os 2 trechos seguintes:
“Severina explica que se sente sujeito da
própria vida. Tem uma vida que agora está
construindo.”
“O indivíduo não é algo, mas sim o que faz, o
fazer é sempre atividade no mundo, em
relação com os outros. Por isso é importante
vermos o indivíduo não mais isolado, como
coisa imediata, mas sim como relação. Aí o
personagem aparece como atividade e como
relação.”
8
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e a História da Severina”
9
o mesmo livro citado acima
37
Vivemos numa cultura sedentária, onde o movimento é automático,
robotizado, mecânico, ausente de um sentido vinculante. A Biodanza
se propõe a despertar no homem o movimento no seu sentido
vinculante, orgânico. Cito abaixo uma passagem do Rolando que
ilustra esta fala:
“Com a mais profunda humildade, vou propor
um modelo teórico abarcador, onde estejam
contidos os aspectos mais diversos do
movimento corporal, em que se incluem
fatores complexos com a atitude existencial,
a auto-estima e a função do vínculo.”
O movimento, como propõe Rolando, me fortaleceu como ser
humano, participante de uma comunidade; reforçou minha auto-
estima, e eu não mais me sentia inferior aos que me rodeavam; e,
no tocante à função de vínculo, fez crescer em mim o desejo de
formar uma família, de aumentar o meu círculo de amigos, a não
mais viver sozinha! A valorizar e a perceber a importância da
relação, do outro. A passagem abaixo do Martin Buber10
ilustra
minha fala:
“O homem se torna EU na relação com o TU.”
Foi assim que, já bastante desejosa de uma relação afetiva
saudável, companheira, atraí, durante uma Maratona de Biodanza,
meu atual marido, que, naquele momento, tinha o mesmo desejo:
viver uma relação amorosa saudável. Com ele vivo hoje uma relação
maravilhosa, que, como cada ser humano, está em constante
transformação, precisa de cuidado, dedicação, investimento,
diálogos para aparar as arestas e disponibilidade interna.
No próximo capítulo relato a minha experiência profissional –
como a Biodanza abriu novos horizontes no exercício da minha
profissão.
10
Martin Buber, “Eu e Tu”
38
2.2) A HISTÓRIA DE TEREZA
- A autora relata como a Biodanza facilitou a
Integração da sua Identidade -
A Biodanza lida com o mundo do desejo criador, com a capacidade
de se parir a si mesmo. A força de vinculação com a vida e de
ressonância permanente com o primordial, expressa desde o
momento da minha concepção, e que foi potencializada
progressivamente na Biodanza, tem orientado os meus passos em
direção ao amor, ao sagrado dom da vida.
“O desenvolvimento evolutivo do homem se
realiza na medida em que os potenciais
genéticos encontram opções para expressar-
se através da existência. Estes potenciais
podem ser obstruídos ou estimulados a
entrar em contato com o meio ambiente.
Biodanza cria campos concentrados para
permitir o desenvolvimento dos potenciais
genéticos.
A integração é o processo de crescimento em
que os potenciais genéticos altamente
diferenciados se organizam, em sistemas
cada vez mais amplos em nível orgânico e
emocional. Este processo de desenvolvimento
não é necessariamente coerente com os
padrões culturais e com a infra-estrutura de
valores. É mais uma forma de sintonização
cada vez mais perfeita com a unidade cosmo-
biológica.”
R. Toro
39
Neste processo ocorre a transtase11
e a homeostase12
,
que resultam de ecofatores positivos13
.”
Maria Lúcia Pessoa14
À luz do método da Biodanza, atualizo o meu desenvolvimento
existencial. Compartilho com os leitores momentos significativos e
reveladores do meu processo evolutivo.
Passei grande parte da minha adolescência
tentando agradar a minha mãe; solidarizava-me
com suas dificuldades. Minhas tentativas eram
em vão. Ela buscava a nutrição na minha irmã,
que desde jovem demonstrava determinação e
desejos de uma vida saudável.
No momento deste relato torno-me consciente:
a minha solidão familiar me aprisionava à
condição de vítima.
Após vários anos de Biodanza, sendo cada vez
mais estimulada no meu lado saudável, nos
meus aspectos positivos, percebo que o que
me deixava na condição de vítima era a
cumplicidade com a doença do meu pai.
Quando me identifico como vítima – da mãe, da
irmã e da doença do pai – assumo para mim
mesma este papel e reconheço que são
registros antigos. Percebo que já não ocupo
mais este lugar.
Minha irmã tem uma participação ímpar na
minha história de vida. Ela sempre esteve
próxima e me acessorava nos assuntos
familiares, nos meus caminhares. Diria que ela
é uma peregrina da luz.
11
Transtase – ascensão a um novo nível de integração na escala evolutiva.
12
Homeostase – estado de equilíbrio intra-orgânico.
13
Ecofatores – estímulos externos (ambientais e humanos) e internos (orgânicos),
podendo ser negativos (tóxicos) ou positivos (nutritivos).
14
Maria Lúcia Pessoa, “Metodologia em Biodanza, Primeiros Passos.”
40
Estimulada pela minha irmã, iniciei a Formação
em Biodanza. Naquele momento, estava
profissionalmente muito insegura e buscava
uma capacitação para desenvolver melhor o
meu trabalho.
Procurei Maria Adela, diretora da escola do
Rio. Expus a ela as minhas expectativas, o
meu desejo em fazer a escola e as minhas
dificuldades financeiras.
Na época não sabia se conseguiria concluir o
curso. Meu desafio começou no momento que
ouvi da Maria Adela a seguinte frase:
“A Biodanza trabalha com a abundância, com
a fartura, se você não tem dinheiro
o que veio fazer aqui?”
Em circunstâncias anteriores, essas palavras
me intimidariam, mas naquele momento elas
soaram como um desafio e um estímulo para
eu seguir em frente e avançar.
“ Os desafios na Biodanza, normalmente
propostos em Minotauros15
, reforçam a
segurança em si mesmo, aumentam a
determinação e a intenção dos movimentos.”
R. Toro
15
Minotauros - Maratonas de Aprofundamento onde trabalhamos os
medos que impedem o nosso processo evolutivo.
41
Eu trabalhava como professora de Educação
Física e desenvolvia um trabalho de
consciência corporal há sete anos. Ao longo
desses sete anos nunca divulguei o meu
trabalho, mas o máximo de clientes que
consegui, ao mesmo tempo, foram três.
Precisava de recursos para pagar a escola.
Comecei a vender roupas. Quando era criança,
minha mãe também complementava o seu
salário de funcionária pública vendendo roupas,
e assim elas nos criou.
Naquele momento vender roupas foi a forma
criativa que encontrei para pagar a Escola de
Biodanza.
42
A Formação em Biodanza tem como pré-
requisito a freqüência ao grupo regular. Por
isso, ao iniciar a Escola, fui convidada a fazer
parte de um grupo regular.
O grupo em Biodanza é uma matriz de
renascimento, um “biogerador, um centro
gerador de vida.” A concentração de energia
convergente dentro do grupo produz um
potencial maior que a soma dos seus
participantes.”
R. Toro
O grupo foi para mim um ninho ecológico.
Neste ninho encontrei carinho e acolhimento, o
que hoje me permite reeditar a minha história.
Lembro-me do desconforto inicial que sentia
quando, na Maratona de “Mecanismo de Ação”,
não compreendia os fundamentos teóricos. Era
assustador não entender o que falavam. Temia
que me perguntassem algo.
43
Nessa Maratona ouvi a seguinte frase:
“A Biodanza trabalha com a parte sã dos
participantes, com seus esboços de
criatividade, com seus restos de entusiasmos,
com sua oprimida necessidade de amor, com
suas ocultas capacidades expressivas, com
sua sinceridade.”
R. Toro
Nesta fala identifiquei algo que me era familiar:
o acolhimento. Tal acolhimento se confirmava
nas minhas vivências da Biodanza. Durante as
vivências era acolhida pelo que eu era:
ignorante ou sábia.
Na Maratona de “Vitalidade”, senti a vida
pulsando dentro de mim - uma vida que
clamava por mais vida.
No grupo regular vivia um processo de
diferenciação: movimentos, danças, emoções,
encontros e desencontros, aproximação e
afastamento, identificação e repulsa ... pulsava
numa dança alquímica, ao encontro de mim
mesma, potencializada pela fusão com o outro.
“As vezes a situação do grupo tem um caráter
deflagrador, isto é, precipita um processo
crescimento. A experiência é vivida com
grande intensidade e tem um caráter de um
auto-conhecimento comovedor. Certos
aspectos da identidade que estavam ocultos
podem revelar-se subitamente.”
R. Toro
44
A composição de sentimentos antagônicos que surgem pela emoção
da música, permeiam as nossas células, integram a nossa
visceralidade e nos faz contatar os nossos desejos. Nossas ações
se integram à emoção.
“Esses exercícios e danças cumprem sua
função reguladora, atuando sobre o centro
das emoções – o Sistema Límbico
Hipotalâmico.”
M. L. Pessoa16
Durante os encontros, nas vivências da
Biodanza, vivi os conceitos e preconceitos. O
outro era um estranho: no movimento de
aproximação, no encantamento da música, no
encontro que acontecia, apesar das minhas
dificuldades ... os encontros promoviam um
encontro comigo mesma - o estranho não era o
outro, o estranho era eu.
Nas vivências do grupo regular fazia contato
com a minha dificuldade de auto-aceitação.
Aproximava-me do outro movida pela música,
pela situação de encontro. Meu passo na
direção do outro, mesmo com certo
desconforto, me aproximava dele. O estranho
também estava dentro de mim, me pertencia.
Quando comecei a aceitar o outro, me
aproximei mais de mim. Essas vivências
promoveram um encontro maior comigo
mesma.
16
Maria Lúcia Pessoa, “Metodologia em Biodanza, Primeiros Passos.”
45
“As raízes da identidade biológica se nutrem
no seio do outro. A identidade se renova em
atos permanentes de comunicação com o
estranho.”
R. Toro
Cada movimento em Biodanza tem o seu
significado real e um valor no momento:
“auto-percepção, iluminação interna,
percepção da inter-relação e
interdependência entre todas as criaturas.”
M.L. Pessoa17
A Biodanza, através do bombardeio de ecofatores positivos, ao
longo das suas aulas, facilita a expressão da Identidade e nos auxilia
a superar todas as formas de incoerência existencial.
Freqüentar o grupo regular, tendo como
facilitadora a Maria Adela, foi um grande
desafio. A todo instante ela me dava limites.
Alguns colegas chegaram a me questionar por
que eu continuava a fazer aulas com ela. Na
época não sabia a resposta, mas intuitivamente
sentia que precisava continuar com ela.
Numa certa ocasião me atrasei para uma
Maratona da Escola e, ao entrar na sala de
aula, deixei a porta aberta. Nesse momento ela
gritou com autoridade: “Feche a porta Tereza !”
17
Maria Lúcia Pessoa, “Metodologia em Biodanza, Primeiros Passos.”
46
Entrei e sentei atrás dela. Senti-me uma
criança, sendo repreendida. Não bastando, ela
continuou: “Tereza, quer levar uma porrada
sentada aí atrás da porta?” Saí rolando sem
graça e permaneci na sala. Em outros tempos
levantaria e nunca mais voltaria. Mas
reconhecia nela uma autoridade, não um
poder.
Aconteceu outra passagem com a Adela. Desta
vez foi durante a minha apresentação num
Seminário sobre a “Hipótese Gaia”. Quando
meu grupo terminou sua apresentação,
sentindo-me insegura com relação à minha
fala, fui até ela e fiz uma brincadeira. Ela,
diante de todos, disse: “Você sempre se
desqualifica!” Ela tinha razão.
Naquele instante percebi que tal posição era
nova para mim. Apresentar trabalhos, fazer
palestras, era um lugar que sempre atribuí à
minha irmã - a inteligente! A mim cabia o papel
de bobo da corte ou esforçada. Desta forma eu
me apresentava à minha família.
Cresci, aceitei como um presente aquela
advertência. As intervenções de Maria Adela
me devolviam a mim, a tudo que eu era:
limitações e potenciais. Ela me devolvia a mim,
me fortalecia.
Sua forma de ser afetiva, me dando limites,
passou a ser uma referência de respeito e
credibilidade. A minha persistência era o meu
desejo de me apropriar do que era meu: ocupar
o meu espaço no mundo!
47
Através destas experiências reconheci os meus
limites e as minhas possibilidades. Essa
postura ampliou as minhas possibilidades.
Novas referências, muitas transformações ...
tudo isso confirma o conteúdo de um princípio
filosófico em que se baseia a Biodanza: o
Princípio Biocêntrico.
“O Princípio Biocêntrico propõe a
potencialização da vida e a expressão dos
seus poderes evolutivos.”
R. Toro
Meu comportamento mudou, meu estilo de vida
também. Nascia a mulher, mãe, profissional e
amiga, mais integrada e confiante. Retomei o
lar que construí com os meus filhos. Quando
me separei deixei-os com o pai, e tal atitude me
gerou um profundo sentimento de culpa.
Em casa, quando retomei a convivência com os
meus filhos, tentava inconscientemente repor
todas as suas carências materiais e afetivas,
ocasionadas pela separação. Sentia-me
culpada pela separação, isso me impediu um
desfrute no convívio familiar.
Percebendo o ambiente tóxico, mas já
sensibilizados pela nossas transformações que
ecoavam com a vida que nascia dentro de nós,
e que queria ser nutrida, fomos buscar ajuda
numa terapia familiar.
48
Após um ano de terapia criamos um lar
ecológico, amigo, nutritivo, próspero, saudável.
Cada um comprometido com as suas
investidas profissionais e pessoais. Hoje, após
anos de grandes conflitos, estamos mais
unidos.
Relato uma experiência vivida com o facilitador
Carlos Garcia, quando participei de um trabalho
seu, que tinha como tema “Raízes”:
Ao iniciar a maratona, ele pediu que
refletíssemos sobre as condições em que
nascemos, o terreno onde fomos germinados.
Fechei os olhos e na memória vieram as
dificuldades que envolveram o meu
nascimento. Quando compartilhei tal
experiência com os demais companheiros,
senti rolarem duas lágrimas ... eu não era mais
a mesma, tinha mudado, não sentia mais pena
de mim.
Em seguida ele pediu que fizéssemos uma
roda com olhos fechados e novamente
observássemos o terreno onde fomos
germinados. Este momento foi novo para mim.
Num misto de surpresa e alegria vi um terreno
fértil, parecia o Nilo, cheio de húmus. O terreno
transformou-se numa relva verde até o
horizonte distante. Naquele instante renasci.
49
Inspirada como estou, faço um poema:
“Sementes de Amor
És raiz de uma planta que germina
alegria no jardim do meu coração,
que imerso na terra, na água, na
natureza, em mim,
brotam frutos de amor, de ternura, de
amizade,
expandindo o perfume da flor
cultivada,
aos que sensíveis ao aroma absorvem os
fluídos deste cultivo.”
Tereza Serva
Em outro episódio, numa Maratona dos “Quatro
Animais”, orientada pelo facilitador Carlos
Garcia, vivenciei mudanças significativas ... o
ser criatura e criadora crescia dentro de mim.
Numa certa vivência ele nos propôs vivenciar a
garça e, do alto de um penhasco, mergulhar
em busca do alimento para a minha vida.
Lembro-me da minha dificuldade em identificar
a nutrição para minha vida. Mesmo sem
resposta, me lancei. Ao cair no solo, senti um
amor profundo. Saí confusa desta Maratona.
Após vários dias tal amor se revelava para
mim.
50
Novamente sensibilizada, faço outro poema:
“Metamorfose
Que fazer?
Por perder a noção do limite do eu.
que já não sinto,
permito,
até admito, consinto!
Se mistura no outro,
nas coisas da natureza,
um encontro maior,
natureza global, sem igual.
Expansão de um ser.
Ser, pequena partícula do universo cósmico ao
redor.
Seu movimento harmônico contribuirá,
uma parcela limitada, porém importante desta
grande irmandade.
A Humanidade.”
Tereza Serva
“Represento uma parcela da humanidade e ao
mesmo tempo contenho uma infinitude de
humanidade (o que me faz uma totalidade).
Influencio a humanidade e sou influenciado
por ela.”
A. Ciampa18
18
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e a História da Severina.”
51
Ao terminar a parte teórica da formação de
Biodanza, minha vida profissional mudou. O
atendimento que faço no consultório tornou-se
minha maior fonte de renda. O número de
clientes aumentou consideravelmente.
Na formação de Biodanza o processo
desenvolvido é transformador. O aluno se torna
um terapeuta, um agente de saúde.
Deixei de vender roupas, não agüentava mais o
peso das sacolas. Com a minha parceira, iniciei
um grupo regular de Biodanza. Dando aulas
aprendo a cada dia, cresço na relação com ela,
com os nossos alunos, facilitadores, amigos,
filhos, enfim, cresço com a vida!
52
Capítulo 3
- Onde introduzimos os conceitos de Identidade
e Integração e tecemos comentários, com base
em nossa experiência profissional, da seguinte
questão: como a Biodanza facilita a Integração
da Identidade e abre novos horizontes no
exercício da nossa profissão -
53
Capítulo 3
- Onde definimos Identidade e Integração e tecemos
comentários, com base em nossas vivências pessoais,
da seguinte questão: como a Biodanza facilita a
Integração da Identidade e abre novos horizontes no
exercício da nossa profissão -
Para Rolando Toro falar da Identidade, numa abordagem
psicológica, não é falar de algo abstrato, trata-se de matéria do
vivente que está em permanente mudança, por isso tal abordagem
requer uma nova perspectiva.
“A Identidade é – o único e seus atributos – o
que cada pessoa é essencialmente diante de
qualquer outro sistema de realidade.”
Antonio Ciampa19
também dá sua contribuição na definição de
Identidade:
“Cada indivíduo encarna as relações sociais,
configurando uma identidade pessoal. Uma
história de vida. Um projeto de vida. Uma
vida-que-nem-sempre-é-vivida, no
emaranhado das relações sociais.”
Segundo Ciampa, a questão da identidade deve ser vista não como
questão apenas científica, nem meramente acadêmica: é sobretudo
uma questão social, uma questão política.
19
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
54
A Identidade, segundo Rolando, apresenta dois paradoxos:
“A Identidade só se faz presente através do
outro.”
“ A Identidade tem uma essência invariável,
uma vez que se transforma constantemente
devido a sua dimensão espaço-temporal.
Assim, a Identidade é sempre única e, ao
mesmo tempo, muda de aspecto com a idade.”
Tais paradoxos encontram respaldo nas teorias do Martin Buber e
Antonio Ciampa.
“O EU se realiza na relação com o TU; é
tornando EU que digo TU.
“Toda vida atual é encontro.”
M. Buber20
“Identidade é Metamorfose, e metamorfose
é vida!”
A. Ciampa21
Segundo Rolando, o primeiro dado da Identidade psicológica é a
vivência de estar vivo. A experiência primordial da Identidade é a
comovedora e intensa sensação de estar vivo, gerando-se a si
mesmo. A vivência fundamental da Identidade surge com a
sensação interna de estar vivo.
20
Martin Buber, “Eu e Tu.”
21
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e a História da Severina.”
55
3.1) A HISTÓRIA DE CRISTIANE
Descobrir a vida dentro de mim e despertar a Cristiane adormecida,
foi renascer para uma outra vida. Este foi um presente maravilhoso
que conquistei na Biodanza.
“O real movimento da identidade se traduz na
expressão morte-e-vida, uma dialética que
permite desvelar seu caráter de
metamorfose”
A. Ciampa22
Viver o prazer de ser com o outro e não mais querer estar sozinha
foi outra grande conquista minha na Biodanza.
“Viver a alegria de “ser com o outro” significa
“conviver”, é adquirir a capacidade de vínculo
afetivo; a vivência de si surge durante a
“convivência”.
“A integração da identidade é favorecida
quando, dançando em grupos, descobrimos,
progressivamente, os rituais de aproximação
– nossa identidade se revela na presença do
outro – “
Rolando Toro
O principal objetivo da Biodanza é a integração. Numa cultura onde
o homem encontra-se dissociado, fragmentado, onde seus valores
não estão organizados em função de suas reais possibilidade, mas
sim pelo cumprimento de deveres, regras, faz-se como objetivo
crucial a integração da percepção, emoção e ação do homem.
22
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
56
- Integração da Identidade -
Segundo Rolando, a vivência de constituir uma criatura única, em
ressonância e intimidade com todo vivente, é a característica
anímica da Identidade saudável. A Identidade saudável vem sempre
unida a uma percepção corporal de limites marcados, com tendência
a autonomia.
Ou seja, o indivíduo identificado tem consciência de si mesmo,
comunga e convive com os demais seres do universo, é sujeito da
sua própria vida.
Rolando enumera vários critérios de uma Identidade Integrada, mas
para que este trabalho não fique muito extenso, me limito a enfocar
um destes critérios:
“Percepção de si mesmo como criatura com
valor intrínseco.”
A Biodanza fortaleceu a minha auto-estima, e, após algum tempo
freqüentando o grupo regular, foi crescendo a percepção de mim
mesmo como criatura com valor intrínseco. Lembro-me que na
época, a cada encontro semanal, no grupo regular, me sentia
renascer para uma nova vida, uma vida de conquistas!!
“O humano é sempre “uma porta abrindo-se
em mais saídas”. O humano é vir-a-ser-
humano.
Identidade humana é vida!”
A. Ciampa23
E foi essa crescente sensação interna de vida que, se fortalecendo
cada vez mais dentro de mim, me impulsionou a iniciar uma nova
profissão, com a certeza interna de que é a força do desejo que nos
move em direção a vida, a vida quer ser vida, vida atrai mais vida!!
23
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
57
Quando comecei a Biodanza, em abril de 1995, já tinha uma grande
insatisfação profissional. Quando aos 17 anos, escolhi a minha
profissão, tinha pouca clareza do meu potencial, das minhas
habilidades, não consegui identificar qual era o meu desejo, com o
que eu gostaria de trabalhar!
Assim, a escolha da minha profissão (Secretária-Executiva) foi
pautada em algumas preferências que consegui identificar na época:
a facilidade com idiomas, a boa organização no trabalho e a rapidez
no cumprimento de tarefas.
Vim para o Rio de Janeiro, cursei a faculdade de Letras
(especialização em Secretária-Executiva), me formei e logo comecei
a trabalhar como Secretária. Ao fim de 8 anos de trabalho em tal
profissão, conheci a Biodanza. Após 2 anos freqüentando o grupo
regular, por estímulo da minha facilitadora na época, Maria Adela,
que já sabia da minha busca por uma nova profissão, iniciei a
formação em Biodanza, a profissão que no futuro me realizaria
completamente como ser humano.
Ganhando cada vez mais autonomia na minha vida, eu que, ao
longo da minha carreira sempre me destaquei como uma excelente
profissional, conquistei uma outra qualidade no trabalho de
Secretária. De secretária passiva, com um trabalho mecanizado, me
tornei ativa, passei a me inteirar mais do trabalho que fazia e com
isso fui me destacando cada vez mais nessa função.
E a minha insatisfação com o trabalho de Secretária, que sempre me
incomodou e dificultou o meu comprometimento no exercício desta
profissão, com a formação da Biodanza tinha a certeza de que não
exerceria tal função o resto da minha vida. Isso me acalmou
bastante; pude então prosseguir no meu trabalho de secretária sem
mais angústias, pelo contrário, agora eu tinha um objetivo na vida: o
trabalho de secretária me daria o sustento necessário para bancar o
meu desejo maior: me tornar uma Facilitadora de Biodanza!
58
No trabalho como Secretária pude também perceber uma mudança
nas relações. Com o fortalecimento da minha auto-estima, me tornei
mais comunicativa, mais alegre, com mais fluidez (e isso é
fundamental em tal profissão, principalmente no lidar com os
oscilantes humores da chefia).
Crescia também o meu potencial afetivo. Comecei a atrair mais e
mais pessoas junto à mim. Quando solicitava os meus pedidos, no
exercício da minha função, o fazia com um jeitinho especial e um
carinho e era quase sempre atendida. Dificilmente ouvia um “não”,
pelo contrário, minhas colegas de trabalho se surpreendiam como eu
conseguia sempre o que necessitava, com rapidez e eficiência!!
“O indivíduo isolado é uma abstração. A
identidade se concretiza na atividade social.
O mundo, criação humana, é o lugar do
homem. Uma identidade que não se realiza na
relação com o próximo é fictícia, abstrata,
falsa.”
A. Ciampa24
Freqüentando o grupo regular de Biodanza, fui cada vez mais me
apropriando de mim mesma, descobrindo minhas habilidades,
fazendo contato com o ser múltiplo, criativo e afetivo que sou.
Paralelamente, no trabalho como secretária, também ascendia
profissionalmente, fui ocupando cargos cada vez mais altos, de
maior responsabilidade e importância.
24
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
59
Termino este relato com uma frase do Antonio Ciampa25
que
sintetiza, de forma brilhante, o que tenho descoberto e vivenciado ao
longo destes anos na Biodanza, e que me tranqüiliza bastante nos
momentos difíceis da minha vida:
“A realidade sempre é movimento, é
transformação. A metamorfose acontece a
todo instante na nossa vida; quando
focalizamos um determinado momento não
estamos afirmando que só aí a metamorfose
está se dando; estamos lançando mais luz num
episódio onde é mais visível o que se está
afirmando.”
Antes de fazer Biodanza eu me sentia bastante rígida. Meus
movimentos eram limitados, eu tinha dificuldade em me desapegar
de situações e pessoas. Naquela época, ouvir uma frase como a
acima, onde o movimento aparece como um fator constante na
realidade, me assustava, eu vivia muito “cristalizada” em
determinadas situações, não conseguia sequer compreender o
significado de tal frase.
Hoje, leio tal citação com calma, com aceitação. Hoje, essa citação
faz eco dentro de mim, adquiri mais mobilidade, mais fluidez, meus
movimentos se ampliaram e acho maravilhoso que a realidade
esteja sempre em movimento!!
25
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
60
3.2) A HISTÓRIA DE TEREZA
Quando terminei a Faculdade de Educação
Física, um questionamento me inquietava:
“Onde estava a verdadeira beleza das
pessoas?” Este questionamento orientou-me
numa busca incansável, marcando toda uma
trajetória existencial, com uma ação intensa na
prática profissional.
“Através da prática vamos nos
transformando.”
A. Ciampa26
As minhas experiências de vida, somadas às
terapias que busquei nos momentos difíceis,
contribuíram para o desenvolvimento de um
trabalho diferenciado na área de Educação
Física.
A Educação Física pautava sua filosofia na
competição, na disputa. No âmbito familiar, eu
vivia a solidão e competia com a minha irmã
por não ser tão inteligente quanto ela. No
âmbito profissional desenvolvia um trabalho
comunitário, comportamental, não competitivo,
de valorização do indivíduo e de inter-relação.
Era muito questionada nas instituições de
ensino, devido a esse trabalho diferenciado que
fazia.
26
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
61
“Procurar a unidade entre a subjetividade e a
objetividade faz do agir uma atividade
finalizada relacionando desejo e finalidade,
pela prática transformadora de si e do
mundo.”
A. Ciampa27
Iniciei um grupo de ginástica estética. Apesar
de ser um grupo, cada aluno tinha um trabalho
diferenciado. Identificava o indivíduo na sua
singularidade, nas suas potencialidades e
limitações. Compartilhava com meu terapeuta
alguns casos de alunos.
Ao final de três anos de análise ele me liberou
da análise, dizendo que não estava me dando
alta, pois nunca tinha entrado em baixa. Então,
ele me convidou para trabalhar com ele, disse
que o trabalho que eu realizava era muito bom,
me propôs uma parceria. Não pude aceitar pois
estava de mudança para o Rio. Suas palavras
me incentivaram muito, ele fortaleceu o meu
desejo em buscar uma melhor qualificação.
Fiz vários cursos de análise corporal da relação
do método La Pierre.
27
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
62
Nessa época meu casamento estava
desgastado. Adoeci e os médicos não
identificavam o que eu tinha. Eu só queria
dormir. Acordar era terrível. A única coisa que
me incomodava era meus filhos me verem
naquele estado. O resto me era indiferente.
Sentia saudades do tempo em que sorria, na
companhia dos amigos.
Comer, vestir, sol, chuva, tudo tinha perdido a
cor, o viço, o brilho. Após algum tempo, meu
marido me disse, de forma perversa, que o
meu mal era depressão. Como o fantasma da
loucura do meu pai me perseguia, tomei aquele
comunicado como um veredicto. A doença era
inevitável, estava louca, sem saída.
No dia seguinte reuni todas as forças que tinha
e saí. Cambaleando, abri a porta e, sem olhar
para trás, desci ladeira abaixo, me arrastando
pela praia de Copacabana.
Repeti a caminhada diariamente. Após alguns
dias, olhei e vi a imensidão do mar. O céu era
um grande teto. Eu rolava na areia, entrava na
água, sentia as bolhas de espuma do mar na
minha pele. Após um mês de apatia sentia
algo. Rolar na areia, deslizar nas águas do mar
me fazia bem.
63
Passava horas imersa na natureza, me sentia
acolhida por ela. Ela não me cobrava nada, não
esperava nada de mim, pelo contrário, cada dia
me acolhia de forma mais hospitaleira e
cúmplice. A natureza não me julgava, me
abraçava com o calor do sol. Ao me banhar nas
águas transparentes do mar, eu me purificava.
Encantava-me com o barulho do vento, dos
pássaros. O mar, que com seu toque sutil,
prazeroso, aos poucos despertava o meu
corpo, me presenteava com o perfume da sua
brisa.
Meu Deus ! Foi maravilhoso quando voltei a ver
o colorido da natureza, ela me devolveu à vida.
Eu corria, rolava na areia, mergulhava no mar,
cantava, chorava, a natureza me pariu, me
acolheu, me aceitou, sem cobranças.
Comovida, me sentia parte integrante do
universo. Vivia o êxtase do renascer, no útero
da “grande mãe”.
“Cuidar para a manifestação da vida é cuidar
do amor. Não é um caminho fácil, é preciso
sentir o coração da natureza e perceber a
profunda realidade da vida acontecendo, cada
vez mais em maior complexidade e sutileza.
É o sentir a vida, ou sentir-se vivo, que revela
a identidade como presença, como vivência
biocêntrica, expressão natural e espontânea
da vida acontecendo como singularidade,
como auto-poiesis particular (si mesmo) da
auto-poiesis universal.
64
É do sentir-se vivo que emerge a percepção
do si mesmo, de um sentimento de vida e não
de uma representação mental. Esse
sentimento surge de um processo antigo de
desdobramento da vida em sensações
corpóreas ricas de possibilidades
interativas.”
César Wagner
“A vivência fundamental da identidade surge
como a expressão endógena de estar vivo. A
vivência primordial da Identidade é a
comovedora e intensa sensação de estar vivo,
gerando-se a si mesmo.
“A vivência de estar vivo é afetada
constantemente pelo humor corporal e pelos
estímulos externos, mas sua gênesis é
visceral.”
R. Toro
65
“ A consciência de si se organiza por um caminho duplo:
a) As primeiras noções sobre o próprio corpo: A
percepção do próprio corpo evolui através das
experiências cotidianas. Tais experiências organizam
respostas distintas: o corpo como fonte prazer e o
corpo como fonte de dor e sofrimento.”
b) As primeiras noções de ser diferente: As primeiras
noções de ser diferente se dão no contato com o grupo.
A Identidade se faz presente no espelho de outras
Identidades. As primeiras noções de ser diferente
conduzem a consciência da própria singularidade e ao
ato de pensar-se a si mesmo frente ao mundo.”
R. Toro
A vivência do meu despertar para a vida
através das percepções corporais, sensório
motoras, sensitivo motoras, unidas às
experiências anteriores e às terapias
realizadas, me levaram a convidar uma amiga
psicanalista para ser minha cobaia no trabalho
de consciência corporal, que venho
desenvolvendo há onze anos.
Essa amiga que se tornou uma cliente, no
terceiro atendimento expressou o seu desejo
de continuar o trabalho. Logo a seguir ela me
encaminhou outras clientes. Ela fez o trabalho
durante oito meses. Nesse período ela
descobriu que seu casamento estava
desgastado, separou-se e mudou de terapeuta.
66
Meu trabalho de Consciência Corporal tinha o
seguinte desenvolvimento: A sessão durava
uma hora e seguia uma curva de aula de
Educação Física - ativação, percepção corporal
e relaxamento. Realizava uma leitura corporal,
considerando o corpo como mapa, como alvo
de registro de toda uma história de vida. Esse
indivíduo era analisado, não só como
expressão de potencialidade e limitações, mas
inserido num contexto familiar, num contexto
profissional e nas demais relações.
Minha sensibilidade e meu profundo respeito
pelo outro, pela sua história, me levou a ser
bastante cautelosa. Tal cautela me levou, na
ocasião, a pedir a supervisão de uma terapeuta
corporal.
Sentia a necessidade de maior conhecimento
teórico nessa abordagem com o trabalho de
Consciência Corporal. Isso me levou a iniciar
uma formação em Biossíntese, com a mesma
terapeuta que supervisionava o meu trabalho
de Consciência Corporal.
Após seis meses de formação em Biossíntese
e supervisão do trabalho de Consciência
Corporal, minha terapeuta e supervisora viajou
para o exterior por um longo período. Com isso
interrompi os dois trabalhos. Na época fiquei
insegura em dar continuidade ao meu trabalho
sem a sua supervisão. Ela me incentivou a
continuar os meus trabalhos. Tornei-me uma
autodidata, associando a esse trabalho,
métodos de anti-ginástica, meditação livre ou
induzida, exercícios respiratórios e
alongamento.
67
Durante anos desenvolvi esse trabalho. Muito
dos clientes se beneficiaram: aumentaram sua
auto estima, sua vitalidade, mais criativos nas
suas problemáticas materiais e existenciais,
mais afetivos.
Após seis anos nessa prática, senti uma
profunda insegurança quanto ao trabalho que
realizava. Sentia necessidade de uma
sistematização conceptual para fundamentar os
meus trabalhos. Reconhecia em mim um
potencial, mas a intuição, os estudos e as
experiências anteriores já não eram suficientes.
“A medida que vão ocorrendo transformações
na identidade concomitantemente ocorrem
transformações na consciência (tanto quanto
na atividade).”
A. Ciampa28
“O conteúdo vivo da experiência humana, em
todas as suas manifestações, vale mais que
qualquer sistematização conceptual.”
M. Buber29
28
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
29
Martin Buber, Eu e Tu.”
68
Eu tinha uma busca existencial. No exercício
da minha profissão tentava resolver questões
relativas à minha existência, por exemplo,
quando fazia um trabalho comunitário e vivia
uma solidão familiar. Quando no meu trabalho
de Consciência Corporal auxiliava o
crescimento dos meus clientes, mas,
internamente, existia em mim uma insatisfação
pessoal. A citação abaixo ilustra esse momento
da minha vida:
“Todos criamos, individual e coletivamente,
histórias (…), para dar sentido a existência.
(…) Elas nos dizem como esperar, sonhar e
reorganizar, ao inibir nossos sinais internos
do momento, permitindo a emergência de
outros enredos.”
S. Keleman30
Satisfazendo uma necessidade de ampliar os
meus conhecimentos teóricos, que na minha
crença iriam me dar mais segurança no
exercício da minha profissão, iniciei a
Formação de Biodanza.
“Somos sementes como a própria semente,
buscamos nutrição vínculo e crescimento.”
César Wagner
30
Stanley Keleman, “Corporificando a Experiência.”
69
Na minha concepção a Biodanza seria um
instrumento a mais que me capacitaria a
melhor sistematizar o meu trabalho. Quando
comecei a formação pensava que a Biodanza
somente me acrescentaria a nível teórico. Ao
longo da formação, e também freqüentando o
grupo regular, senti a amplitude da sua
abordagem: retomei a minha origem,
identificando questões primordiais – “A
verdadeira beleza se encontra no sagrado dom
da vida.”
“A realidade sempre é movimento, é
transformação. A metamorfose acontece a
todo instante na nossa vida; quando
focalizamos um determinado momento não
estamos afirmando que só aí a metamorfose
está se dando; estamos lançando mais luz num
episódio onde é mais visível o que se está
afirmando.”
A. Ciampa31
Minha vida transcorreu: entre mortes e
renascimentos, gestei e pari quatro vidas.
Aprendi com cada uma delas, mudei de
cidades, fiz novas relações sociais, me separei.
“A própria existência humana na sua unidade
e multiplicidade de aspectos é esta
experiência de “trânsito” no ritmo constante
das atitudes.”
M. Buber32
31
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
32
Martin Buber, “Eu e Tu.”
70
Mais integrada, após cinco anos de Biodanza,
finalizando a formação, inspiro-me nas palavras
de Buber33
:
”O homem está apto ao encontro na medida
que ele é totalidade que age.”
Atualmente, sinto-me bastante realizada no
trabalho de Consciência Corporal. Há um ano
facilito um grupo regular de Biodanza. Aprendo
com cada experiência vivida, assumo os meus
potenciais. Tenho a certeza de que o
aprendizado, o crescimento é um contínuo.
33
Martin Buber, “Eu e Tu.”
71
Capítulo 4
- Onde relatamos como duas pessoas de
origem e formação profissional distintas, se
apropriam destas diferenças como elemento
favorável para a integração das suas
identidades e se unem para realizar um trabalho
em conjunto: a parceria no trabalho como
Facilitadoras de Biodanza -
72
Capítulo 4
- Onde relatamos como duas pessoas de origem e
formação profissional distintas, se apropriam destas
diferenças como elemento favorável para a integração
das suas identidades e se unem para realizar um
trabalho em conjunto: a parceria no trabalho como
Facilitadoras de Biodanza -
Nos capítulos anteriores relatamos separadamente a nossa história,
e com ela a nossa trajetória de crescimento. Neste capítulo, como
trata-se do nosso trabalho em parceria, o texto é resultado da
comunhão dos nossos relatos, isto é, foi feito à quatro mãos!
“Biodanza, mais que uma ciência, é a poética
do encontro humano.”
R. Toro
Com este relato atualizamos o vínculo que se fortaleceu na nossa
parceria. Esperamos que tal experiência venha a contribuir para
formação de futuras parcerias.
Nossa história começa assim ...
Terminamos a Formação Teórica de Biodanza em Novembro de
1999. Ao longo da formação fizemos um forte elo de amizade.
Apesar de termos personalidades distintas, de sermos bastante
diferentes em vários aspectos, tínhamos também muitas afinidades.
73
Nos sentíamos estimadas, queridas, admiradas mutuamente nas
nossas maneiras de ser. Aprendíamos muito uma com a outra. Para
ambas era novo estar tão próximas e companheiras, com tantas
diferenças e, ao mesmo tempo com um mesmo projeto de vida: a
construção de uma vida melhor.
“Sua identidade, que se transforma, vai se
concretizando nas e pelas novas relações em
que está se enredando.”
A. Ciampa34
A dupla Maria Adela e Antônio Sarpe que, nesta mesma época,
iniciaram um trabalho em parceria, foi para nós um exemplo de
diferenças que dão certo, que se respeitam, que são cúmplices e
que somam conhecimentos e experiências. Nessa parceria víamos o
exemplo vivo da prática da Biodanza: a vinculação. Estávamos
motivadas e estimuladas por essa experiência.
Naquele momento reuníamos internamente as condições propícias
para a realização de um trabalho em conjunto: a disponibilidade e a
vontade para aceitar as nossas diferenças, estávamos fortalecidas
por novos valores de vida, de plenitude e realização, enfim, o nosso
terreno estava fértil, preparado para uma nova etapa: abrir um grupo
regular de Biodanza.
34
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
74
Na época nem imaginávamos que outro desafio estava apenas
começando: o trabalho em parceria. Uma coisa é ter relações de
amizade com pessoas de valores e personalidade distintas;
escolhemos quando queremos estar com os amigos. Outra coisa é
realizar um trabalho em parceira, viver o dia-a-dia juntas, é um
casamento!
A riqueza do nosso trabalho consistia no fato de que cada uma dava
o melhor de si na parceria: a Cris com a sua objetividade, com o seu
forte senso de limite, com a sua praticidade – a Tereza, com sua
prática de atendimento e experiência de vida, o acolhimento, o jogo
de cintura, a flexibilidade. Éramos pólos opostos: uma terra, outra ar.
A Cris sinalizava para um mundo objetivo, a Tereza era um convite
ao vôo, à expansão de novos conceitos!
Mas nem tudo era flores. Num primeiro momento as nossas
diferenças eram uma ameaça à realização do nosso trabalho. Só
com o tempo, após um processo de transformação mútua,
transformamos nossas diferenças num tesouro para ambas.
“ A Identidade se renova em atos
permanentes de comunhão com o estranho.”
R. Toro
75
O diálogo e a humildade foram ferramentas fundamentais na nossa
relação. Conversávamos sobre os nossos incômodos, diferenças,
pois eram mútuos. O que anteriormente nos incomodava,
absorvemos para um melhor desempenho profissional. Em momento
algum perdemos de vista a nossa meta: a proposta de um trabalho
em parceria e, nessa parceria, a prática real da Biodanza - a
vinculação.
“Quando somos impedidos de nos
transformar, nos tornamos réplicas do que
fomos um dia. É o trabalho da reposição que
sustenta a mesmice. Na nossa sociedade
milhões de pessoas são impedidas de se
transformar, são forçadas a se reproduzir
como réplicas de si, involuntariamente, a fim
de preservar interesses preestabelecidos,
situações convenientes.”
A. Ciampa35
“Quem vive aferrado, mesquinhamente a
defender os limites de sua Identidade, se
priva do sabor dos frutos, se esgota em si. As
raízes da Identidade se nutrem no seio do
estranho.
A identidade faz-se patente no espelho de
outras identidades. As primeiras noções de
ser diferente conduzem a consciência da
própria singularidade e ao ato de pensar-se a
si mesmo frente ao mundo.”
R. Toro
35
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
76
Tínhamos finalizado uma parte da formação – a parte teórica. Abrir
um grupo foi o início de outra etapa – o estágio, a prática de dar
aulas. Nesse momento não éramos só plenitude e coragem, também
estávamos inseguras, com alguns temores. Sabíamos que, mesmo
tendo cumprido a parte teórica da formação, sabíamos muito pouco.
Levaria algum tempo até que pudéssemos amadurecer os novos
conceitos que recebemos ao longo da formação teórica, para poder
então aplicá-los na prática. Por outro lado, sabíamos que “o estar
pronto” é algo irreal, é um estado conquistado com a prática e com a
continuidade dos estudos, das leituras, é algo que nunca se finda.
Então era hora de ponderar a nossa “alta exigência” e começar a
prática com humildade, com o pouco que sabíamos!
A Biodanza nos propiciou uma expansão da consciência, o que
nos deixou menos crítica, menos preconceituosa, mais gentil com
nós mesmas, com ações mais ligadas às nossas reais possibilidades
e menos centrada nos deveres. Nosso limite é plástico, cada vez
que o tocávamos, ampliávamos as nossas possibilidades.
Deixávamos o ideal do “ser perfeito” para sermos nós mesmas.
“Em cada momento de minha existência,
embora eu seja uma totalidade, manifesta-se
uma parte de mim como desdobramento de
múltiplas determinações a que estou sujeito;
nunca compareço frente a outro apenas como
portador de um único papel, mas como uma
personagem, como uma totalidade… parcial.”
A. Ciampa36
36
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
77
Sermos generosas e acolhedoras nas nossas limitações, facilitou a
realização do nosso trabalho.
“Assim, muda radicalmente a atitude
ocidental estruturada nos valores do “homem
sacrificial” para a do homem que busca e goza
a plenitude.”
R. Toro
Com a Biodanza percebemos o quão ilusória era a idéia de que
poderíamos viver apenas em ressonância com o “igual”, com o
semelhante. A vida é composta de diferenças, nós, seres humanos,
temos dentro de nós partes distintas, sentimentos opostos,
contraditórios.
“Ser é ser metamorfoseada.
A metamorfose é expressão de vida.”
A. Ciampa37
Temos muito mais para descobrir, metamorfosear, criar. A cada
atitude diferente do outro, abre-se um leque de outras possibilidades
que nos devolve a nossa singularidade, que podemos ampliar.
“O encontro com o outro que não sou eu, é
onde finalmente me encontro.”
Carlos Garcia38
Após um ano de trabalho crescemos bastante. Hoje, respeitamos as
nossas diferenças. Tais diferenças não mais nos limitam, pelo
contrário, nos acrescentam e ao nosso trabalho. O diferente não
representa uma perda às nossas convicções, mas sinalizam para
uma possibilidade de mudança.
37
Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
38
Carlos Garcia, “El Arte de Danzar la Vida.”
78
Através das nossas vivências pessoais, de mudanças e
crescimentos, não mais teorizamos sobre vinculação, vivemos a
vinculação. No desenvolvimento do nosso trabalho somos para os
nossos alunos um exemplo vivo do que define a Biodanza – “A
poética do encontro humano.”
A nossa parceria não foi o único fator que nos possibilitou um
crescimento. A chegada dos alunos, com as suas singularidades, foi
também um aprendizado. Cada aluno representava um manancial
de possibilidades que promovia a nossa transformação, que
sabemos que é um contínuo.
Atualmente, após um ano de trabalho, observamos nos nossos
alunos o seu crescimento. Vemos sua capacidade de se alegrarem,
comoverem, brincarem, se posicionarem. Eles expressam as suas
dificuldades, os seus desejos de transformação que brotam na
relação com o outro.
Notamos que a característica marcante do nosso grupo é o
acolhimento: eles celebram o encontro com os alunos que
temporariamente se afastaram, vibram com a chegada de novos
alunos, trazem novos alunos e se cuidam carinhosamente.
Nossos alunos, na maioria, são assíduos, comprometidos com o
trabalho. Alguns já manifestam, através dos seus movimentos em
aula e no cotidiano, uma ação mais ousada, estão mais confiantes.
Nossa parceria é a prática de um projeto de construção de um
mundo melhor. Um mundo melhor começa dentro de cada um. Ao
longo de todos esses anos que vivemos a Biodanza refizemos nosso
elo com a vida, descobrimos a vida dentro de nós e estamos cada
vez mais enamoradas por ela. O trabalho em parceria é uma
oportunidade e um forte desejo que estamos concretizando:
comungar toda a experiência paradisíaca que é a vida.
79
Terminamos nosso relato com um poema e fazemos um convite aos
nossos leitores: embarcar nesta grande viajem que é a vida!
“Lembrete
Se procurar bem, você acaba encontrando,
não a explicação duvidosa da vida,
mas a poesia inexplicável da vida.”
Carlos Drumond de Andrade39
39
Carlos Drumond de Andrade, “Corpo, Novos Poemas.”
80
Conclusão
A Biodanza contribuiu de forma eficaz e significativa nas nossas
vidas, facilitando a Integração da nossa Identidade. Rolando ressalta
vários critérios que caracterizam a Integração da Identidade. Dentre
eles, foi para nós marcante e profundo, o seguinte critério:
“Percepção de si mesmo como criatura com valor intrínseco”.
A Biodanza é uma fonte de vivências. Ela é um ninho ecológico,
fértil, nutritivo. Na Biodanza revivemos a experiência paradisíaca,
redescobrimos a vida, aprendemos a nos acolher nas nossas
dificuldades, nossos potenciais foram estimulados e ganharam
expressão ... a Biodanza nos possibilitou um novo estilo de vida.
Mais sensibilizadas, fortalecidas por novos valores de vida, nos
percebendo como criaturas com valor intrínseco, ocupamos o nosso
lugar no mundo e reestruturamos as nossa relações – familiares,
afetivas e profissionais.
Na nossa parceria nossas diferenças foram reveladas, acolhidas,
transformadas, nos devolvendo a nós mesmas. Atualmente, estamos
mais fortalecidas, não só para o desfrute das novas conquistas como
para lidarmos com os novos desafios que poderão surgir.
Nossa parceria é a prática de um projeto de construção de um
mundo melhor. É a realização de um forte desejo: comungar toda a
experiência paradisíaca que é a vida.
Fortalecidos na nossa Identidade, através da Biodanza, somos hoje
capazes de contatar os nossos desejos, nos apropriamos da nossa
vida, ocupamos o nosso espaço no mundo, acolhemos as nossas
dificuldades, celebramos as nossas vitórias ... nossa monografia é
fruto deste momento nosso, mais inteiras como estamos, mais
integradas ... ousamos e concretizamos!!
81
A inversão epistemológica (onde a aquisição do conhecimento se dá
a partir da experiência vivida e não pela cognição) proposta na
Biodanza tem estimulado a nossa ação, nutrido o nosso coração,
iluminado a nossa consciência. Nossas ações estão mais
integradas. Tal atitude nos propiciou várias mudanças no nosso
estilo de vida. Poder assumir os nossos sentimentos e permear a
nossa vida com mais amor têm nos possibilitado reeditar as nossas
histórias.
Estamos vivendo a plenitude do momento presente ..... o porvir ...?
Aguardamos confiantes!
Terminamos nosso relato com uma máxima da Biodanza:
“Não basta alcançar o bem-estar, é
necessário ter acesso à felicidade.”
R. Toro
82
Bibliografia citada
Andrade, Carlos Drumond. Corpo, Novos Poemas. Editora Record,
Rio de Janeiro, 1984.
Buber, Martin. Eu & Tu. Editora Cultrix, São Paulo, 1979.
Ciampa, Antonio da Costa. A Estória Do Severino E A História Da
Severina. Editora Brasiliense, São Paulo, 1987.
Garcia, Carlos. Biodanza – El Arte de Danzar la Vida. Chile, 1998.
Gois, C. Wagner. Vivência - Caminho à Identidade. Editora Viver,
Fortaleza, 1995.
Passos, Maria Lúcia. Metodologia Em Biodanza - Primeiros Passos.
Editoração Aretusa Albuquerque Lobato, Minas Gerais, 1996.
Stanley, Keleman. Corporificando A Experiência – Construindo uma
Vida Pessoal. Editora Summus.
Toro, Rolando. Biodanza: Ars Magna. Curso de Formación Docente
de Biodanza.
Toro, Rolando. El Grupo de Biodanza. Curso de Formación Docente
de Biodanza.
Toro, Rolando. Identidad E Integracion. Curso de Formación
Docente de Biodanza.
Toro, Rolando. La Vivencia. Curso de Formación Docente de
Biodanza.
Toro, Rolando. Mecanismos de Ação. Curso de Formación Docente
de Biodanza.
Toro, Rolando. Movimento Humano. Curso de Formación Docente
de Biodanza.
Toro, Rolando. Tomos – Vol. 1 e 2 Teoria da Biodanza – Coletânea
de Textos.

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O Ritmo e seu poder de Transformação | Bruno Martins
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Onde complementamos nossas experiências de nascimento à luz de conceitos da Biodanza

  • 1. UUmm rreellaattoo ppeessssooaall:: ccoommoo aa BBiiooddaannzzaa eessttiimmuullaa aa iinntteeggrraaççããoo ddaa iiddeennttiiddaaddee.. - Monografia de Biodanza - CCCrrriiissstttiiiaaannneee FFFeeerrrrrraaaiiiuuuooollliii &&& TTTeeerrreeezzzaaa SSSeeerrrvvvaaa
  • 2. 2 ÍNDICE Porquê escolhemos o tema ............................................ 4 Introdução ........................................................................ 5 Capítulo 1. Complementamos nossas experiências de Concepção e Nascimento com as definições de Ecofatores, Protovivências e Potencial Genético ................................. 6 Capítulo 2. Definimos Biodanza e tecemos comentários, com base em nossas vivências pessoais, da seguinte questão: como a Biodanza nos deu novas referências de vida, promovendo vivências criativas e transformadoras ............................ 24 Capítulo 3. Introduzimos os conceitos de Identidade e Integração e tecemos comentários, com base em nossa experiência profissional, da seguinte questão: como a Biodanza facilita a Integração da Identidade e abre novos horizontes no exercício da nossa profissão ........................................ 52 Capítulo 4. A Parceria no trabalho de Facilitadoras de Biodanza .... 71 Conclusão .................................................... 80 Bibliografia citada ..................................................... 82
  • 3. 3 AAggrraaddeecciimmeennttooss CCrriissttiiaannee: A meu grande amor e companheiro Rogério pelo seu companheirismo, sabedoria, paciência e estímulo à realização deste trabalho. Ao Criador da Biodanza, Rolando Toro, que nos brindou com a vida. A meu querido Orientador e Facilitador Antônio Sarpe, mestre dedicado, carinhoso e determinado que muito tem me estimulado com sua sabedoria e determinação. A amada Maria Adela que sempre me estimulou a acreditar no meu potencial. A meus queridos pais e irmãos pelo seu companheirismo e carinho constante. A amiga e mestra Sandra Regina pelo seu acolhimento e sabedoria. A mestra Iracema Teixeira que tem me auxiliado a trilhar meus caminhos com sabedoria e determinação. A minha parceira Tereza pelo seu acolhimento e sabedoria. Aos nossos queridos alunos com quem tenho aprendido tanto desde que comecei a dar aulas. Aos colegas do Grupo III (Formação), aos companheiros do Grupo Regular e a todos os amigos que tem me acompanhado nesta vida maravilhosa!! TTeerreezzaa:: Aos meus pais, por serem terrenos férteis e me darem a vida. A Maria Adela que com afetividade ensinou-me que quanto mais profundo finco os pés na terra, maiores e mais plenos serão os meus vôos. A Antônio Sarpe que na sua orientação me ajudou a descobrir a poética e uma nova concepção da minha estória. A minha irmã Petilda, estrela guia na estrada da minha existência. Aos meus filhos por navegarem comigo por mares bravios e calmarias, na longa viagem da minha vida. A minha prima Vera, por assumir com todo seu amor a minha filha Vida, no período da minha Formação. A minha tia Elza, por proporcionar momentos preciosos na minha vida. A Cristiane, minha parceira, e Rogério que com carinho, cumplicidade e nutrição regaram os nossos encontros. As amigas Rosana, Vanja e Dejane pelo carinho com minha filha Vida e pelos incentivos que me deram para a conclusão deste trabalho. Aos companheiros de Formação e Grupo Regular, pelo convívio na experiência do maravilhoso. A Rolando Toro, por brindar a vida e nos presentear com sua genialidade. Aos nossos alunos por brindarem as nossas aulas com suas presenças, nos autorizando a colocar em prática os frutos do nosso aprendizado.
  • 4. 4 Porquê escolhemos o tema O que nos motivou a escrever sobre a Integração da Identidade foi a nossa vivência pessoal e, consequentemente, a consciência da importância e influência da Biodanza no nosso crescimento. A Biodanza ecoa dentro de nós numa época que, inexoravelmente, se deixa tomar por um esquecimento sistemático daquilo que é mais característico no homem: a sua humanidade. Somos seres relacionais, a nossa essência é gregária. A Biodanza retomou e reforçou o nosso instinto, a nossa necessidade de contato, de vínculo, e, com isso, ela tem fortalecido e facilitado a expressão da nossa identidade. Ressaltamos e destacamos a importância da relação por percebermos aí um dos instrumentos fundamentais da Biodanza: o mundo da relação. Segundo o pensador alemão Martin Buber1 , “Toda vida atual é encontro. O Eu se realiza na relação com o Tu; é tornando Eu que digo Tu”. A Biodanza que, através da sua metodologia trabalha a relação Eu- Tu, tem nos possibilitado o crescimento enquanto seres humanos- relacionais e, dia a dia, vem nos auxiliando a desabrochar como Facilitadoras. 1 Martin Buber, “Eu e Tu”
  • 5. 5 Introdução Neste trabalho somos objeto do nosso próprio estudo. Antes de ser uma exposição, ele é uma revelação da nossa trajetória existencial à luz da teoria da Biodanza. Nesta monografia relatamos como duas pessoas de origem e formação profissional distintas se apropriam destas diferenças como elemento favorável para a integração das suas identidades e se unem para realizar um trabalho em conjunto. No primeiro capítulo relatamos as nossas experiências de Concepção e Nascimento, à luz dos conceitos de Protovivência, Ecofatores e Potencial Genético. A Identidade se manifesta no momento da concepção. No segundo capítulo definimos Biodanza e tecemos comentários com base em nossas vivências pessoais, da seguinte questão: Como a Biodanza nos deu novas referências de vida, promovendo vivências criativas e transformadoras. No terceiro capítulo apresentamos os conceitos de Identidade e Integração e tecemos comentários com base na nossa experiência profissional, da seguinte questão: Como a Biodanza facilita a Integração da Identidade e abre novos horizontes no exercício da nossa profissão. No quarto capítulo falamos sobre a parceria no trabalho de Facilitadoras de Biodanza. Relatamos o nosso crescimento, dificuldades superadas, afinidades, o vínculo que se fortaleceu ao longo da nossa parceria e comentamos sobre o grupo que facilitamos. Contando a nossa história, revelamos o nosso profundo amor pela vida. Um amor que desabrochou de forma intensa, após o momento em que a Biodanza tornou-se parte das nossas vidas.
  • 6. 6 Capítulo 1 - Onde complementamos as nossas experiências de Concepção e Nascimento com as definições de Ecofatores, Protovivências e Potencial Genético -
  • 7. 7 Capítulo 1 - Onde complementamos as nossas experiências de Concepção e Nascimento com as definições de Potencial Genético, Ecofatores e Protovivências - 1.1) A HISTÓRIA DE CRISTIANE - A autora inicia a sua estória, introduz os conceitos de Potencial Genético, Ecofatores e tece comentários sobre sua estória, à luz deste conceito - Nasci numa cidade pequena, Campos, estado do Rio de Janeiro, em 15 de agosto de 1964. O ambiente familiar onde nasci era de muita preocupação e tensão. Meu pai e minha mãe eram de origem humilde. Meu pai trabalhava muito, chegava em casa por volta das 23:00hs. Minha mãe ficava muito só em casa cuidando do meu pequeno irmão e da casa. Minha mãe sentia-se muito carente e com isso não pode curtir o nascimento dos filhos. Ela comenta que época de nascimento na nossa casa era sempre de muita preocupação. Meus pais tiveram quatro filhos – eu fui a segunda filha. Durante o dia, minha mãe ficava em casa sozinha e à noite ela ia para a casa dos meus avós, seus pais. Meus avós moravam na rua da nossa casa.
  • 8. 8 O clima na casa do meu avô também não era fácil. Meu avô tinha o temperamento muito difícil, humores oscilantes, sempre bravo, e minha avó sempre contornando a situação, segurando as pontas. Assim, minha mãe ia para a casa dos seus pais para não ficar só em casa, para aprender com sua mãe como cuidar de um bebê, mas lá a situação também era tensa, desagradável. Minha mãe se sentia muito inexperiente nos cuidados com um bebê. Não sabia como fazê- lo, também por isso queria a presença do meu pai para ajudá-la, mas ele chegava em casa tarde, sempre cansado. Quando ela pedia sua ajuda, lhe falava das suas carências, ele não a entendia e era grosseiro com ela. O primeiro filho foi Luís, meu irmão mais velho. Quando Luís tinha apenas quatro meses de vida minha mãe soube, pelo seu médico, que estava grávida – eu estava a caminho. A notícia da gravidez lhe deixou muito assustada. Nos primeiros dois meses ela teve dificuldade em aceitar a gravidez. Passou muito mal, teve muito enjôo. Passado os dois primeiros meses ela se acalmou e aceitou a idéia, sentia-se bem melhor. O restante da sua gravidez foi tranqüila.
  • 9. 9 Não nasci num ambiente tranqüilo. Naquela época minha mãe estava insegura, muito sozinha, tinha pouca experiência com bebês e não pode contar com o apoio do meu pai, seu companheiro. Meu pai trabalhava muito, queria nos dar conforto, segurança, por isso os momentos que passava em casa eram poucos. Com isso, com pouco tempo de casada minha mãe viu frustadas seus ideais do casamento: companheirismo, diálogos, etc. O entorno familiar é importante para o crescimento e desenvolvimento do bebê. Mas também importante e fundamental para o desenvolvimento do bebê é o potencial que ele herda geneticamente, o potencial que ele traz para este mundo quando nasce - o que Rolando chama de Potencial Genético (vide definição abaixo). - POTENCIAL GENÉTICO - A Biodanza centra sua atenção na origem genética dos potenciais humanos. Todo ser vivo cresce e se desenvolve a partir de certos potenciais herdados geneticamente. Cada célula contém em seu núcleo o ADN com toda informação biológica para o desenvolvimento pleno do indivíduo, informação esta que vai se expressando através da trama das linhas de vivência (descritas no capítulo 2, página 31).
  • 10. 10 A expressão do potencial genético depende dos Ecofatores (vide definição abaixo). Grande parte do nosso potencial, por carência de estímulos suficientes ou por repressão, perde sua “potência”, o que não significa que não serão desenvolvidos. Se forem estimulados com os necessários ecofatores positivos, de maneira sistemática e de forma recorrente (vivências de Biodanza) podem mudar a vida do indivíduo. A Biodanza estimula especificamente a expressão dos potenciais genéticos destinados a conservar a vida. Defino agora o que Rolando chama de Ecofatores. De posse deste conceito o leitor compreenderá a influência do ambiente familiar no desenvolvimento do bebê e poderá entender como o meu ambiente familiar influenciou no meu desenvolvimento. - ECOFATORES - O desenvolvimento evolutivo de cada indivíduo acontece, à medida que seus potenciais genéticos encontram oportunidade para se expressar através da existência. Os fatores ambientais que determinam a expressão do potencial genético se denominam ecofatores, que podem ser positivos, se favorecem o desenvolvimento pleno da pessoa, ou negativos, se reprimem. Vivemos numa cultura repressiva que nos bombardeia com todo tipo de mandatos. Vivi, ao longo da minha infância e adolescência, muitos destes mandatos: “Não te movas, fique quieta”, “Não se toque, não me toque, não seja promíscua”, “Não seja curiosa, não invente, não pergunte, siga as normas”, “Não busque refúgio, não confie em ninguém, seja dura e independente”, “Não vá mais além, não se deslumbre com os mistérios da vida, a vida é um grande mecanismo e o que não sabemos agora, saberemos mais tarde.”
  • 11. 11 Racionalizar ou analisar a incoerência destes argumentos não basta, eles já estão dentro de nós, já os incorporamos, estão no nosso sistema nervoso. A única maneira de mudá-los é gerando vivências opostas que também atuem a nível neurológico, produzindo uma verdadeira renovação orgânica para, posteriormente, modificar a consciência. Os exercícios de Biodanza são estas vivências que, de maneira sistemática e programada, atuam como poderosos ecofatores positivos. Uma aula de Biodanza é um bombardeio de ecofatores positivos que tem o objetivo de preencher as lacunas de amor, carinho, vitalidade, expressividade que ficaram dentro de cada indivíduo, ao longo de suas vidas, e que pouco a pouco são preenchidas em cada aula de Biodanza. - A autora continua sua história, introduz o conceito de Protovivências e tece comentários sobre sua história, à luz destes conceitos - Nasci de parto normal, um parto tranqüilo, fácil. Conta minha mãe que eu era um bebê bonito, ia no colo de todos, quase não dava trabalho. Quase não adoecia e minhas visitas ao pediatra eram destinadas aos controles normais para a saúde de um bebê. Com um ano de idade eu me recolhi. Não queria mais ir no colo de estranhos, nem de parentes e amigos dos meus pais. Meu pai tinha uma família muito grande, eram 5 irmãos, todos com muitos filhos, as festas na nossa família eram freqüentes.
  • 12. 12 Eu só queria ficar no colo da minha mãe ou do meu pai, quando alguém estranho me apanhava no colo eu chorava muito e só parava quando voltava ao colo da minha mãe; minha mãe dizia: “você parecia um bicho do mato”. Os ecofatores são estímulos positivos ou negativos que influenciam no crescimento evolutivo do bebê. As protovivências também são fatores determinantes no desenvolvimento do bebê. Veja, a seguir, como Rolando define tal conceito: - PROTOVIVÊNCIAS - Durante os primeiros meses de vida o bebê desenvolve neurologicamente padrões de resposta vivencial. Parece que a vivência fundamental é a “vivência oceânica”, descrita por Freud e posteriormente por Jung, de estar solto em uma totalidade sem limites. As protovivências são as experiências cenestésicas do bebê nos seus primeiros seis meses de vida. O bebê, durante seu desenvolvimento inicial, entra em um duplo processo: Cognitivo e vivencial. Cognitivo: Se estrutura, segundo Piaget, a aprendizagem de tamanho, peso, quantidade, etc. Vivencial: Paralelo a aprendizagem conceitual, se dá o desenvolvimento vivencial que ainda não foi estudado. O estudo genético das vivências foi iniciado por Rolando Toro com a descrição das Protovivências:
  • 13. 13 Protovivência de Vitalidade: O Movimento O desenvolvimento do impulso vital se produz quando os pais permitem ao bebê seus movimentos espontâneos, seus jogos e sua autonomia. Protovivência de Sexualidade: O Contato Os pais devem compreender que os bebês tem sexualidade e necessitam de contato, beijos e carícias. Quando o bebê é acariciado, ele pode desenvolver sua sexualidade de forma plena. Protovivências de Criatividade: Expressão e Curiosidade O bebê começa a fazer ruídos, pequenos murmúrios, gritos onomatopéicos, onde ele manifesta uma proto-linguaguem. Se a mãe está atenta, ela começa a entender o que ele quer expressar. Lentamente ele começa a desenvolver uma linguagem: o sim e o não, as queixas, o sorriso, o canto e o diálogo. A curiosidade é parte importante da protovivência de criatividade. Se o bebê nos primeiros tempos aprende a desenvolver sua expressividade, desenvolve sua criatividade. Protovivências de Afetividade: Nutrição O bebê bem alimentado sente o ato de nutrição como amor, recebe continente, segurança. Se é abandonado, experimenta uma série de transtornos que Spitz descreveu: marasmo, morte, sintomas que aparecem mesmo quando tem higiene e alimentação. As primeiras sensações de continente afetivo dão ao bebê segurança em si mesmo. Protovivências de Transcendência: Harmonia no Ambiente O bebê não deve ser maltratado. Certas pessoas o deixam nervoso, lhes tiram sua tranqüilidade. Os bebês devem crescer em um ambiente harmonioso e em contato com a natureza. As protovivências asseguram ao bebê um desenvolvimento saudável, um crescimento pleno nas suas funções. Quando o bebê tem estas protovivências, ele desenvolve plenamente o seu potencial genético e pode expressá-lo ao longo da sua vida, nas suas diferentes formas.
  • 14. 14 - A autora termina o relato de sua concepção, nascimento e infância - Minha mãe não tinha apoio do meu pai, se sentia sobrecarregada pelas tarefas domésticas (nossa casa era grande, tinha dois andares), sentia-se insegura para cuidar de mim. Seu amor, carinho, alegria e disponibilidade para cuidar de mim eram, por isso, também limitados. Quando eu nasci meu irmão tinha apenas um ano, necessitava também de muita atenção, carinho, cuidado ... O amor que minha mãe me deu foi o que lhe foi possível, num momento onde ela pouco se sentia amada pelo meu pai. Também limitada era sua motivação para brincar comigo, para me fazer carinho, para me transmitir amor. O ambiente em casa não era harmonioso, tranqüilo, calmo, por isso não cresci num clima harmonioso, mas preocupado e tenso. Meu pai, por sua vez, trabalhava dia e noite, quando chegava em casa eu já dormia profundo. Ele tomava banho, comia e dormia ... pouca atenção e carinho ele pode me dar. Recebi o carinho e atenção que meus pais puderam me dar, muito limitados pelas suas condições afetivas, existenciais, sociais e financeiras na época.
  • 15. 15 Cresci carente de carícias, me sentindo pouco vital, reprimida na minha feminilidade, não era expressiva, comunicativa, pelo contrário, era recolhida, tímida, esperava que as pessoas viessem até mim, do contrário eu ficava quieta no meu canto. No meu ambiente familiar, os ecofatores que recebi e as protovivências que vivenciei, deixaram lacunas muito grandes para que eu me desenvolvesse na plenitude do meu potencial, herdado geneticamente. Hoje, mais esclarecida e informada pelas teorias da Biodanza e pela leitura de outros autores, concordo com uma frase que ouvi durante a formação em Biodanza; frase esta já vivida e sentida por mim durante uma grande etapa de minha vida: “ A história do homem é a história de sua repressão.” Freud2 Minha história não foi apenas influenciada pelo meu núcleo familiar, a cultura onde vivo também me estimulou (e o continua fazendo) de forma positiva ou negativa. “A desconexão dos homens da matriz cósmica da vida tem gerado, através da história, formas culturais destrutivas. A dissociação corpo-alma e a repressão da experiência paradisíaca têm conduzido a uma profunda crise cultural em que vivemos.” R. Toro Esta citação do Rolando ilustra o que vivenciei na minha infância: “ ... a repressão da experiência paradisíaca ...”. Anos mais tarde, quando conheci a Biodanza, tive a oportunidade de redescobrir a vida dentro e fora de mim. 2 Herber Marcuse, “Eros & Civilização”
  • 16. 16 1.2) A HISTÓRIA DE TEREZA “A única relação saudável entre as pessoas é a relação afetiva, através da qual os indivíduos têm a oportunidade não só de conhecer a si mesmo, senão essencialmente ser si mesmo.” “Em Biodanza cada indivíduo participa do processo de crescimento de forma ativa e ao mesmo tempo contribui para o processo dos demais.” R. Toro Inspirada nas palavras de Rolando Toro, desenvolvo este trabalho com base na minha história pessoal, onde relato grande parte do meu processo de crescimento. Fui concebida em circunstâncias difíceis, quando o meu pai já manifestava sinais da esquizofrenia, doença que o levou a um hospital psiquiátrico durante 21 anos. Segundo Rolando, cada indivíduo possui um potencial genético que constitui o conjunto de características únicas chamado Identidade. É no momento da fecundação quando se unem os gametas do pai e da mãe que se dá a identidade biológica, que se expressará através da vida (ontogênese).
  • 17. 17 O potencial genético determina a estrutura orgânica e os comportamentos instintivos, dos quais derivam depois funções mais complexas e os grupos de potencial humano que a Biodanza estimula. Minha mãe não aceitava a idéia do nascimento de mais uma filha e tentou o aborto durante os seis primeiros meses de gestação. “A vivência fundamental da Identidade surge com a sensação endógena de estar vivo. A experiência primordial da Identidade é a comovedora e intensa sensação de estar vivo, gerando-se a si mesmo.” R. Toro Uma vida que pulsa dentro de um útero materno é rejeitada por outra vida, sua mãe, e desejada pelo pai na expectativa de ter um filho homem, já que a primeira filha era uma menina. “Encontramos aí a vida acontecendo como possibilidade singular, potencialidade muitas vezes bloqueada, reprimida, negada mas sempre presente.” C. Rogers
  • 18. 18 Minha história se inicia em um momento de grande tensão e de sentimentos contraditórios. Nasci de um parto fórceps. Não era homem como meu pai desejava e tinha um defeito na orelha. Segundo minha mãe, tal defeito não alterou o seu sentimento de amor. Sou a segunda filha do casamento. Minha mãe conta que quando me tomou no colo, quando nasci, sentiu o amor sair do seu coração e me envolver. Minha mãe é uma pessoa de emoções intensas! “Todo terreno que germina é fértil.” Carlos Garcia2 Nasce uma poesia, fruto deste momento: “Sementes da Vida No sabor, do amor que ficou sem saber, o porquê da razão, do viver, do parir-se, para vir, no sorrir, no porvir e sentir a si.” Tereza Serva Todos comentam que fui um bebê muito lindo. 2 Carlos Garcia, “Biodanza, El Arte de Danzar la Vida”
  • 19. 19 Durante a infância me recordo que não gostava de me pentear, o vestido estava sempre desabotoado e os laços desamarrados. Tinha os cabelos longos e despenteados, não gostava de usar meias, nem calçar sapatos. Cresci me sentindo diferente das outras pessoas e com o estigma da doença do meu pai. “De nossa identidade brota a percepção do diferente e a capacidade para identificar os objetos. E na vivência de nós mesmos se organiza nossa percepção. De nossa identidade brotam os frutos da diversidade.” R. Toro Fui uma criança rebelde, minha mãe tentava me embonecar, mas eu não aceitava. Por mais que minha mãe falasse do amor que tinha por mim, e de ter me amamentado por dois anos, não a sentia próxima. Sentia-me segura do amor da minha avó, que me aceitava descabelada, chorona e insegura. Durante anos moramos com a minha avó e mais dois primos. Foi difícil quando nos separamos deles, principalmente pelo afastamento da minha avó. Fui crescendo e sentia-me solitária.
  • 20. 20 Minha irmã era a preferida da minha mãe, elas eram muito companheiras. Quando íamos visitar meu pai no hospital, ele sentava-se no meio das duas. Eu ficava distante e invejava. Ansiava pelo dia do meu aniversário, pois era certa a visita do meu pai. Ele pensava que o aniversário era da minha irmã, mesmo assim, ano após ano, eu o aguardava e enquanto todos temiam a sua presença, eu ficava feliz. Amava a minha irmã e sentia-me amada quando ela me defendia das enfermeiras, no colégio, quando queriam me vacinar; quando ela me defendia dos colegas que me chamavam de “orelhinha”; quando ela me ajudou a vencer o meu complexo de inferioridade por não ter uma orelha. Eu a invejava por ser a predileta do meu pai e da minha mãe, por ser mais inteligente, por ser mais generosa, mais amiga de todos, por gostar de conforto e do que era bom. Conformava-me no lugar de rejeitada, esforçada, criadora de caso. Sentia-me solitária, estranha no ninho familiar. No Natal nos uníamos: eu, minha mãe e minha irmã, na dor da ausência do pai. Os sentimentos que nos unia eram contraditórios. Vale ressaltar que vínculo afetivo não é só amor, são também vivências com sentimentos contraditórios. É tudo aquilo que nos afeta, raiva, ressentimentos, rejeição, amor, e que compõem o universo afetivo.
  • 21. 21 Vivências dialéticas não implicam uma não-vinculação. Quando vivemos os nossos limites, impedimentos e potenciais, também fazemos um vínculo. “ Perdas e Ganhos Sou feliz, por não fingir, se dói eu grito, se estou triste comunico, às vezes me escondo, ainda é difícil. O outro não entende, mas o que quero? Se me entendo basta! Dividir é difícil, pois o que passo, o que vivo, é só meu. Já existiu um alguém, que me socorreu, até me entendeu, só que este alguém partiu, me deixou, longe do seu amor, para que eu vivesse a minha dor, de viver, descobrir, o meu ser.” Tereza Serva Minha história não é só dores e tristezas. Minha Tia Elza me proporcionou uma infância dourada. No fim do ano passava minhas férias no Rio, tendo como vista permanente a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar.
  • 22. 22 Assim era nosso ano: ao longo dele muita luta e uma vida humilde, no fim do ano, como num passe de mágica, nos transportávamos para um mundo de conforto, mordomias, prazeres, alegria e beleza. Nos aguardavam passeios, lanches na Colombo, teatros, cinemas, parques de diversões. Culminando estas férias maravilhosas, passávamos parte dela em Guarapari. Nessa dialética vivi a minha infância. “O desenvolvimento evolutivo de cada indivíduo acontece na medida em que os potenciais genéticos encontram oportunidade para expressar-se através da existência. Os fatores ambientais que determinam a expressão do potencial genético é denominado ecofatores. Os ecofatores podem ser positivos ou negativos, ou seja, positivos quando facilitam e negativos quando bloqueiam a expressão dos potenciais.” A Biodanza gera, mediante exercícios e danças no decorrer da sessão, campos específicos muito concentrados para estimular os potenciais genéticos. Uma sessão de Biodanza é um bombardeio de ecofatores positivos sobre a função integradora–adaptativa–límbico–hipotalámica.
  • 23. 23 A integração adaptativa é o processo em que os potenciais genéticos, altamente diferenciados, se expressam e se organizam em sistemas mais complexos criando uma rede de interações que potencializam a Identidade.” “ O fluxo destes potenciais serão expressados ao longo da vida através das cinco linhas de vivências: ”Vitalidade, Sexualidade, Criatividade, Afetividade, Transcendência.” R. Toro Os ecofatores negativos que envolveram a minha infância, não foram impeditivos da expressão da força e vida contida no meu potencial genético. Com a Biodanza meus potenciais foram estimulados, facilitando minha expressão no mundo.
  • 24. 24 Capítulo 2 - Onde definimos Biodanza e tecemos comentários, com base em nossas vivências pessoais, da seguinte questão: como a Biodanza nos deu novas referências de vida, promovendo vivências criativas e transformadoras -
  • 25. 25 Capítulo 2 - Onde definimos Biodanza e tecemos comentários, com base em nossas vivências pessoais, da seguinte questão: como a Biodanza nos deu novas referências de vida, promovendo vivências criativas e transformadoras - Segundo Rolando Toro, Biodanza é: “Um sistema de integração afetiva, renovação orgânica e reaprendizagem das funções originárias de vida, baseada na indução de vivências integradoras através da música, dança, canto e situações de encontro em grupo.” O objetivo principal da Biodanza é integração, integração numa cultura que é fonte permanente de dissociação. Um aspecto que está inserido neste objetivo principal é a integração do homem consigo mesmo. A integração do que sente com o que pensa e do que sente com o que faz, em outras palavras, integração da percepção, emoção e ação. Outra forma de integração é a integração com o semelhante. É a capacidade de perceber que a humanidade é algo conquistado, não recebido pronto ao nascer. Ser homem e ser humano são dois fenômenos diferentes. Um é o fenômeno biológico, o outro é o fenômeno afetivo. Sou homem, mas me faço humano na relação com o outro. Martin Buber3 , pensador alemão, reforça este conceito quando relata: 3 Martin Buber, “Eu & Tu”
  • 26. 26 “A nostalgia do humano, provocado por situações de profunda crise no mundo dos homens onde a controvérsia e cisões imperavam, aliava-se a uma profunda esperança no poder da relação, na força do diálogo que faria do homem uma pessoa livre e responsável diante de seu destino”. O homem se humaniza na relação com seu semelhante. E por último, a integração com a natureza, não apenas a natureza que nos cerca, que nos é familiar, mas também o cosmos, o universo. Aqui vivenciamos a possibilidade de nos sentir pertencentes e inseparáveis da totalidade. A característica fundamental do sistema Biodanza é ser um fator de integração, que favoreça a relação entre todos os planos da existência. É importante ressaltar que a integração se dá nos três aspectos, simultaneamente, quer dizer, consigo mesmo, com o outro e com o universo, de maneira recíproca. Temos a idéia de que “antes de nos integrarmos com o semelhante tenho que me integrar primeiro comigo mesmo”. A integração consigo mesmo e a integração com o outro são simultâneas. A integração consigo mesmo se dá no encontro com o outro. Martin Buber4 comenta: “O homem se torna EU na relação com o TU.” “ Toda vida atual é encontro.” 4 Martin Buber, “Eu e Tu”
  • 27. 27 Rolando destaca: “ Nossa proposta não consiste só em dançar, senão em ativar, mediante a dança, potenciais afetivos e de comunicação que nos conectem com nós mesmos, com o semelhante e com a natureza.” Rolando diz que é impossível mudar o mundo sem mudar a nós mesmos. Na Biodanza, a transformação não é uma mera reformulação de valores, senão uma verdadeira transculturação, uma reapredizagem a nível afetivo, uma modificação límbico- hipotalâmica. A Biodanza se propõe a restaurar nas pessoas, de forma intensa, a vinculação originária da espécie com a totalidade biológica. Esse ponto de partida é fundamental para a supervivência. A Biodanza tem sua inspiração nas origens mais primitivas da dança. Rolando esclarece que a dança, no seu sentido original, é um movimento vivencial, um movimento profundo que surge das entranhas do homem. “ A dança é movimento de vida, é ritmo biológico, ritmo do coração, da respiração, impulso de vinculação com a espécie, movimento de intimidade.” Rolando crê numa dança orgânica, que responda a padrões de movimento que originam vida. “Somente se nossos movimentos restauram seu sentido vinculante, poderemos renascer do caos obsceno da nossa época.” Participamos assim de uma visão diferente. Buscamos acesso a um novo modo de viver despertando a nossa dormida sensibilidade.
  • 28. 28 Na Biodanza, as danças e as cerimônias de encontro despertam vivências desconhecidas relacionadas ao êxtase e a felicidade. Rolando enfatiza que a humanidade tem que aspirar não somente o bem-estar, não só a elevação da qualidade de vida, mas também a felicidade. “A felicidade é contagiosa. Uma pessoa feliz pode influir na felicidade de muitas outras. A felicidade é um processo de maturidade. Cada pessoa pode desenvolver seus potenciais de felicidade e alcançar estados cada vez mais refinados e intensos.” R. Toro
  • 29. 29 2.1) A HISTÓRIA DE CRISTIANE - A autora relata o momento da sua vida quando encontrou a Biodanza e tece comentários sobre seu “renascimento” - Tinha recém chegado ao Brasil em Novembro de 1994. Voltei a morar na minha antiga casa em Copacabana. Sentia-me em pedaços, meu casamento acabou, após 4 anos fora do Brasil me encontrava sozinha e sem trabalho, enfim, era um novo recomeço na minha vida. Desde minha infância e adolescência me sentia reprimida, meus movimentos eram bastante limitados, curtos, tímidos. Chamava atenção porque era bonita, meiga, gostava de agradar, mas preferia que não me notassem. Um mês após minha chegada ao Brasil já estava trabalhando. Tinha então condições financeiras para procurar ajuda. Internamente havia também uma enorme disponibilidade para a felicidade, um grande desejo me movia em direção à vida. Naquela época não sabia que estava deprimida, a maior parte do tempo me sentia cansada, dormia muito. Subestimava meu potencial. Minha sabedoria interior sempre me guiou até bons mestres. Em Janeiro de 1995 iniciei um tratamento homeopático com uma médica excepcional. Ela, por sua vez, me indicou uma excelente terapeuta, comecei a fazer terapia.
  • 30. 30 Ainda me lembro, como se fosse hoje, quando durante uma consulta do tratamento homeopático eu disse para a médica (que depois se tornou uma grande amiga): “Eu quero me livrar dessas correntes que me prendem, que prendem meus movimentos, que me impedem de me expressar, expressar o que sinto, não agüento mais viver assim, presa, amarrada!” Foi quando ela me indicou a Biodanza. Comecei então o grupo regular com a Maria Adela, em abril de 1995; aí começou meu renascimento, aí comecei a contactar a vida dentro de mim. “A Biodanza é uma cerimônia de celebração da vida.” R. Toro Quando ouvi esta frase pela primeira vez, durante uma explanação teórica numa sessão de Biodanza, não a compreendi bem, é claro, não sentia a vida dentro de mim, vivia “adormecida”. Depois de ter definido a Biodanza, descrito sua base conceitual, relato o funcionamento de uma aula de Biodanza, para que o leitor compreenda como se deu a minha transformação, o meu renascimento, como pouco a pouco fui fazendo contato com a vida dentro de mim, de forma lenta, progressiva, como trabalha a Biodanza.
  • 31. 31 Os exercícios de Biodanza estão destinados a deflagrar vivências. A indução freqüente de determinados tipos de vivência, reorganizam as respostas frente a vida. A ação reguladora dos exercícios não se exerce sobre o córtex cerebral, senão sobre a região límbico- hipotalâmica, centro regulador das emoções. Rolando classificou as vivências em 5 grandes conjuntos expressivos do potencial humano. Os exercícios estão selecionados para estimular a produção de vivências específicas, dentro destes 5 conjuntos de potencial: Vivências de Vitalidade - O desenvolvimento da linha da vitalidade se gera estimulando, mediante as danças, o sistema neurovegetativo (simpático-parassimpático), a homeostase (equilíbrio interno que se conserva apesar das mudanças externas), o instinto de conservação (luta e fuga), a energia para a ação e a resistência imunológica. Basicamente, os exercícios de vitalidade mobilizam o “inconsciente vital” que constitui o fundo endotímico, o humor e os estados de ânimo. Vivências de Sexualidade – As vivências estimulam os movimentos e sensações relacionadas ao erotismo, a identidade sexual e a capacidade orgástica. Estas vivências permitem o despertar das fontes do desejo e o relaxamento dos níveis de repressão sexual. Vivências de Criatividade – Estimulam os impulsos expressivos e de inovação, a capacidade de criar danças, a criatividade existencial e artística. Vivências de Afetividade – Cerimônias de encontro, rituais de vínculo e danças de solidariedade permitem uma reeducação afetiva e o acesso a amizade a ao amor.
  • 32. 32 Vivências de Transcendência – As danças na natureza, os exercícios na água, as danças dos quatro elementos vinculam os participantes da Biodanza com a harmonia universal, despertam a atitude ecológica e o acesso à consciência cósmica. As cinco linhas de vivência se relacionam entre si e se potencializam reciprocamente. Quando iniciei a Biodanza me sentia carente em todas as 5 linhas acima. A sessão de Biodanza foi para mim um bombardeio de estímulos positivos, uma possibilidade de viver a experiência do maravilhoso, de viver a plenitude. “O grupo de Biodanza se torna, de pronto, a experiência do Maravilhoso, em que as pessoas se encontram, se necessitam e brindam com o outro o melhor de si mesmas. Uma experiência encantadora de ternura, sob o efeito deflagrador da música.” R. Toro Viver, mesmo que seja por duas horas (um grupo regular de Biodanza acontece 1 x por semana, com duração de 2 horas), esta realidade paradisíaca impulsiona a muitas pessoas fortes, enamoradas pela vida, a lutar para conquistar para nossa existência, ou de nossos filhos e netos, essa possibilidade de plenitude.
  • 33. 33 Nas palavras abaixo, Antonio da Costa Ciampa5 reforça a importância do grupo, que caracteriza a Biodanza: “Para atingir a maturidade é preciso mais que apenas condições infra-estruturais. Como animal simbólico, o bicho-humano sente carência de sentido, de significado – e de pertencer a um grupo que dê suporte e encarne esse significado.” O grupo de Biodanza é uma matriz de renascimento, é um biogerador, um centro gerador de vida. Eu sempre fui uma pessoa muito só. Tinha dificuldades em me relacionar, tinha um baixa estima. Para mim foi importantíssimo trabalhar com um grupo, pertencer a um grupo, ainda mais um grupo com estes valores – um grupo que coloca a vida acima de tudo. A Biodanza trabalha em cima do último fio de saúde do ser humano, trabalha em cima da parte sã do ser. Ela trata de reforçar os aspectos saudáveis e desenvolver as potencialidades através das cinco linhas de vivência. 5 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina”
  • 34. 34 O meu encantamento com a Biodanza foi imediato. Em cada aula eu reforçava a vida dentro de mim. Eu que me sentia sem vida, adormecida, me apaixonei imediatamente pela Sistema Biodanza. A sessão de Biodanza – uma cerimônia de celebração da vida - o grupo, caloroso, receptivo, composto por pessoas que, mesmo com características tão distintas, tinham o mesmo objetivo: necessidade de carinho, afeto, vida plena, amor, necessidade de um significado maior para suas vidas ... no início tudo parecia um sonho! Mas o trabalho era real, o grupo também, e eu agarrei tal oportunidade com unhas e dentes. Queria viver, viver com intensidade!! “O ser humano que visceralmente se insere numa comunidade humana é alguém, é humano”. A. Ciampa6 E foi assim que, progressivamente, fortalecida nas cincos linhas de vivência acima, revivendo a experiência paradisíaca no grupo, redescobrindo a vida dentro de mim, iniciei as primeiras mudanças na minha vida. “Ser é ser metamorfoseada. A metamorfose é expressão de vida. O que Severina nos revela é quem ela é: alguém se transformando permanentemente. Severina adquire consciência disso e se reconhece como ser humano.” A. Ciampa7 6 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e a História da Severina” 7 o mesmo livro citado acima.
  • 35. 35 O leitor não deve esquecer que todo processo de transformação profunda é lento e progressivo. Em Biodanza, a assistência freqüente às aulas vai propiciar que, mais ou menos, após 2 anos de trabalho, se iniciem as primeiras mudanças no argumento de vida: “Moro onde gosto? “Tenho relações afetivas saudáveis? Meu trabalho me dá prazer?” E comigo não foi diferente, pouco a pouco fui reestruturando os 3 argumentos de vida mencionados acima. O local onde morava era aconchegante, bem decorado, mas a decoração não foi escolhida por mim, queria dar um toque meu. Assim, com autorização dos meus pais (proprietários do apartamento), contratei um pintor e pintei todo a apartamento. Tirei o branco das paredes e coloquei cores nelas. Joguei fora toda a decoração velha e deixei as peças que eu tinha comprado, que tinha a minha cara. Logo já me sentia verdadeiramente em casa, me sentia acolhida no local onde morava. Comecei a reestruturar as minha relações afetivas. Eu sempre fui boazinha, tinha a preocupação em agradar a todos, sempre simpática. Percebi então que eu não era só bondade, descobri que era normal sentir raiva, irritação e o trabalho da Biodanza me possibilitou expressar estes sentimentos tão distintos, e que compõe todo ser humano. Descobri que afeto é todo sentimento que nos afeta: amor, raiva, carinho, compreensão, inveja, etc. Descobri que, por mais que para mim fosse difícil aceitar todas as minhas nuances, elas existiam. E era a não aceitação destas nuances, a minha cristalização em partes que eu gostava, que me causava tanto sofrimento, tanta dor.
  • 36. 36 A passagem abaixo de A. Ciampa8 , onde ele fala da vida como uma composição de renúncia e libertação, ilustra bem a minha fala: “Renúncia e libertação marcam a morte progressiva de Severina: renúncia ao filho propriedade; libertação para amar o filho- amigo. Outras renúncias anteriores libertaram também. Sua renúncia ao projeto de vingança é exemplar: liberta-a para ser uma jovem alegre e espontânea. Severina morreu! Viva Severina!” As minhas relações sociais e familiares também foram reestruturadas por mim. Como parte do meu comportamento de “boazinha”, estava uma total passividade. Eu não sentia ou não conseguia perceber que cabia a mim o rumo da minha vida. Como um rio sem rumo, era sempre levada pelas marés da vida... Foi quando percebi que a vida era minha e só a mim cabia dar rumo nela. Progressivamente, passei a ser autora da minha própria vida. Antônio Ciampa9 ilustra minha fala com os 2 trechos seguintes: “Severina explica que se sente sujeito da própria vida. Tem uma vida que agora está construindo.” “O indivíduo não é algo, mas sim o que faz, o fazer é sempre atividade no mundo, em relação com os outros. Por isso é importante vermos o indivíduo não mais isolado, como coisa imediata, mas sim como relação. Aí o personagem aparece como atividade e como relação.” 8 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e a História da Severina” 9 o mesmo livro citado acima
  • 37. 37 Vivemos numa cultura sedentária, onde o movimento é automático, robotizado, mecânico, ausente de um sentido vinculante. A Biodanza se propõe a despertar no homem o movimento no seu sentido vinculante, orgânico. Cito abaixo uma passagem do Rolando que ilustra esta fala: “Com a mais profunda humildade, vou propor um modelo teórico abarcador, onde estejam contidos os aspectos mais diversos do movimento corporal, em que se incluem fatores complexos com a atitude existencial, a auto-estima e a função do vínculo.” O movimento, como propõe Rolando, me fortaleceu como ser humano, participante de uma comunidade; reforçou minha auto- estima, e eu não mais me sentia inferior aos que me rodeavam; e, no tocante à função de vínculo, fez crescer em mim o desejo de formar uma família, de aumentar o meu círculo de amigos, a não mais viver sozinha! A valorizar e a perceber a importância da relação, do outro. A passagem abaixo do Martin Buber10 ilustra minha fala: “O homem se torna EU na relação com o TU.” Foi assim que, já bastante desejosa de uma relação afetiva saudável, companheira, atraí, durante uma Maratona de Biodanza, meu atual marido, que, naquele momento, tinha o mesmo desejo: viver uma relação amorosa saudável. Com ele vivo hoje uma relação maravilhosa, que, como cada ser humano, está em constante transformação, precisa de cuidado, dedicação, investimento, diálogos para aparar as arestas e disponibilidade interna. No próximo capítulo relato a minha experiência profissional – como a Biodanza abriu novos horizontes no exercício da minha profissão. 10 Martin Buber, “Eu e Tu”
  • 38. 38 2.2) A HISTÓRIA DE TEREZA - A autora relata como a Biodanza facilitou a Integração da sua Identidade - A Biodanza lida com o mundo do desejo criador, com a capacidade de se parir a si mesmo. A força de vinculação com a vida e de ressonância permanente com o primordial, expressa desde o momento da minha concepção, e que foi potencializada progressivamente na Biodanza, tem orientado os meus passos em direção ao amor, ao sagrado dom da vida. “O desenvolvimento evolutivo do homem se realiza na medida em que os potenciais genéticos encontram opções para expressar- se através da existência. Estes potenciais podem ser obstruídos ou estimulados a entrar em contato com o meio ambiente. Biodanza cria campos concentrados para permitir o desenvolvimento dos potenciais genéticos. A integração é o processo de crescimento em que os potenciais genéticos altamente diferenciados se organizam, em sistemas cada vez mais amplos em nível orgânico e emocional. Este processo de desenvolvimento não é necessariamente coerente com os padrões culturais e com a infra-estrutura de valores. É mais uma forma de sintonização cada vez mais perfeita com a unidade cosmo- biológica.” R. Toro
  • 39. 39 Neste processo ocorre a transtase11 e a homeostase12 , que resultam de ecofatores positivos13 .” Maria Lúcia Pessoa14 À luz do método da Biodanza, atualizo o meu desenvolvimento existencial. Compartilho com os leitores momentos significativos e reveladores do meu processo evolutivo. Passei grande parte da minha adolescência tentando agradar a minha mãe; solidarizava-me com suas dificuldades. Minhas tentativas eram em vão. Ela buscava a nutrição na minha irmã, que desde jovem demonstrava determinação e desejos de uma vida saudável. No momento deste relato torno-me consciente: a minha solidão familiar me aprisionava à condição de vítima. Após vários anos de Biodanza, sendo cada vez mais estimulada no meu lado saudável, nos meus aspectos positivos, percebo que o que me deixava na condição de vítima era a cumplicidade com a doença do meu pai. Quando me identifico como vítima – da mãe, da irmã e da doença do pai – assumo para mim mesma este papel e reconheço que são registros antigos. Percebo que já não ocupo mais este lugar. Minha irmã tem uma participação ímpar na minha história de vida. Ela sempre esteve próxima e me acessorava nos assuntos familiares, nos meus caminhares. Diria que ela é uma peregrina da luz. 11 Transtase – ascensão a um novo nível de integração na escala evolutiva. 12 Homeostase – estado de equilíbrio intra-orgânico. 13 Ecofatores – estímulos externos (ambientais e humanos) e internos (orgânicos), podendo ser negativos (tóxicos) ou positivos (nutritivos). 14 Maria Lúcia Pessoa, “Metodologia em Biodanza, Primeiros Passos.”
  • 40. 40 Estimulada pela minha irmã, iniciei a Formação em Biodanza. Naquele momento, estava profissionalmente muito insegura e buscava uma capacitação para desenvolver melhor o meu trabalho. Procurei Maria Adela, diretora da escola do Rio. Expus a ela as minhas expectativas, o meu desejo em fazer a escola e as minhas dificuldades financeiras. Na época não sabia se conseguiria concluir o curso. Meu desafio começou no momento que ouvi da Maria Adela a seguinte frase: “A Biodanza trabalha com a abundância, com a fartura, se você não tem dinheiro o que veio fazer aqui?” Em circunstâncias anteriores, essas palavras me intimidariam, mas naquele momento elas soaram como um desafio e um estímulo para eu seguir em frente e avançar. “ Os desafios na Biodanza, normalmente propostos em Minotauros15 , reforçam a segurança em si mesmo, aumentam a determinação e a intenção dos movimentos.” R. Toro 15 Minotauros - Maratonas de Aprofundamento onde trabalhamos os medos que impedem o nosso processo evolutivo.
  • 41. 41 Eu trabalhava como professora de Educação Física e desenvolvia um trabalho de consciência corporal há sete anos. Ao longo desses sete anos nunca divulguei o meu trabalho, mas o máximo de clientes que consegui, ao mesmo tempo, foram três. Precisava de recursos para pagar a escola. Comecei a vender roupas. Quando era criança, minha mãe também complementava o seu salário de funcionária pública vendendo roupas, e assim elas nos criou. Naquele momento vender roupas foi a forma criativa que encontrei para pagar a Escola de Biodanza.
  • 42. 42 A Formação em Biodanza tem como pré- requisito a freqüência ao grupo regular. Por isso, ao iniciar a Escola, fui convidada a fazer parte de um grupo regular. O grupo em Biodanza é uma matriz de renascimento, um “biogerador, um centro gerador de vida.” A concentração de energia convergente dentro do grupo produz um potencial maior que a soma dos seus participantes.” R. Toro O grupo foi para mim um ninho ecológico. Neste ninho encontrei carinho e acolhimento, o que hoje me permite reeditar a minha história. Lembro-me do desconforto inicial que sentia quando, na Maratona de “Mecanismo de Ação”, não compreendia os fundamentos teóricos. Era assustador não entender o que falavam. Temia que me perguntassem algo.
  • 43. 43 Nessa Maratona ouvi a seguinte frase: “A Biodanza trabalha com a parte sã dos participantes, com seus esboços de criatividade, com seus restos de entusiasmos, com sua oprimida necessidade de amor, com suas ocultas capacidades expressivas, com sua sinceridade.” R. Toro Nesta fala identifiquei algo que me era familiar: o acolhimento. Tal acolhimento se confirmava nas minhas vivências da Biodanza. Durante as vivências era acolhida pelo que eu era: ignorante ou sábia. Na Maratona de “Vitalidade”, senti a vida pulsando dentro de mim - uma vida que clamava por mais vida. No grupo regular vivia um processo de diferenciação: movimentos, danças, emoções, encontros e desencontros, aproximação e afastamento, identificação e repulsa ... pulsava numa dança alquímica, ao encontro de mim mesma, potencializada pela fusão com o outro. “As vezes a situação do grupo tem um caráter deflagrador, isto é, precipita um processo crescimento. A experiência é vivida com grande intensidade e tem um caráter de um auto-conhecimento comovedor. Certos aspectos da identidade que estavam ocultos podem revelar-se subitamente.” R. Toro
  • 44. 44 A composição de sentimentos antagônicos que surgem pela emoção da música, permeiam as nossas células, integram a nossa visceralidade e nos faz contatar os nossos desejos. Nossas ações se integram à emoção. “Esses exercícios e danças cumprem sua função reguladora, atuando sobre o centro das emoções – o Sistema Límbico Hipotalâmico.” M. L. Pessoa16 Durante os encontros, nas vivências da Biodanza, vivi os conceitos e preconceitos. O outro era um estranho: no movimento de aproximação, no encantamento da música, no encontro que acontecia, apesar das minhas dificuldades ... os encontros promoviam um encontro comigo mesma - o estranho não era o outro, o estranho era eu. Nas vivências do grupo regular fazia contato com a minha dificuldade de auto-aceitação. Aproximava-me do outro movida pela música, pela situação de encontro. Meu passo na direção do outro, mesmo com certo desconforto, me aproximava dele. O estranho também estava dentro de mim, me pertencia. Quando comecei a aceitar o outro, me aproximei mais de mim. Essas vivências promoveram um encontro maior comigo mesma. 16 Maria Lúcia Pessoa, “Metodologia em Biodanza, Primeiros Passos.”
  • 45. 45 “As raízes da identidade biológica se nutrem no seio do outro. A identidade se renova em atos permanentes de comunicação com o estranho.” R. Toro Cada movimento em Biodanza tem o seu significado real e um valor no momento: “auto-percepção, iluminação interna, percepção da inter-relação e interdependência entre todas as criaturas.” M.L. Pessoa17 A Biodanza, através do bombardeio de ecofatores positivos, ao longo das suas aulas, facilita a expressão da Identidade e nos auxilia a superar todas as formas de incoerência existencial. Freqüentar o grupo regular, tendo como facilitadora a Maria Adela, foi um grande desafio. A todo instante ela me dava limites. Alguns colegas chegaram a me questionar por que eu continuava a fazer aulas com ela. Na época não sabia a resposta, mas intuitivamente sentia que precisava continuar com ela. Numa certa ocasião me atrasei para uma Maratona da Escola e, ao entrar na sala de aula, deixei a porta aberta. Nesse momento ela gritou com autoridade: “Feche a porta Tereza !” 17 Maria Lúcia Pessoa, “Metodologia em Biodanza, Primeiros Passos.”
  • 46. 46 Entrei e sentei atrás dela. Senti-me uma criança, sendo repreendida. Não bastando, ela continuou: “Tereza, quer levar uma porrada sentada aí atrás da porta?” Saí rolando sem graça e permaneci na sala. Em outros tempos levantaria e nunca mais voltaria. Mas reconhecia nela uma autoridade, não um poder. Aconteceu outra passagem com a Adela. Desta vez foi durante a minha apresentação num Seminário sobre a “Hipótese Gaia”. Quando meu grupo terminou sua apresentação, sentindo-me insegura com relação à minha fala, fui até ela e fiz uma brincadeira. Ela, diante de todos, disse: “Você sempre se desqualifica!” Ela tinha razão. Naquele instante percebi que tal posição era nova para mim. Apresentar trabalhos, fazer palestras, era um lugar que sempre atribuí à minha irmã - a inteligente! A mim cabia o papel de bobo da corte ou esforçada. Desta forma eu me apresentava à minha família. Cresci, aceitei como um presente aquela advertência. As intervenções de Maria Adela me devolviam a mim, a tudo que eu era: limitações e potenciais. Ela me devolvia a mim, me fortalecia. Sua forma de ser afetiva, me dando limites, passou a ser uma referência de respeito e credibilidade. A minha persistência era o meu desejo de me apropriar do que era meu: ocupar o meu espaço no mundo!
  • 47. 47 Através destas experiências reconheci os meus limites e as minhas possibilidades. Essa postura ampliou as minhas possibilidades. Novas referências, muitas transformações ... tudo isso confirma o conteúdo de um princípio filosófico em que se baseia a Biodanza: o Princípio Biocêntrico. “O Princípio Biocêntrico propõe a potencialização da vida e a expressão dos seus poderes evolutivos.” R. Toro Meu comportamento mudou, meu estilo de vida também. Nascia a mulher, mãe, profissional e amiga, mais integrada e confiante. Retomei o lar que construí com os meus filhos. Quando me separei deixei-os com o pai, e tal atitude me gerou um profundo sentimento de culpa. Em casa, quando retomei a convivência com os meus filhos, tentava inconscientemente repor todas as suas carências materiais e afetivas, ocasionadas pela separação. Sentia-me culpada pela separação, isso me impediu um desfrute no convívio familiar. Percebendo o ambiente tóxico, mas já sensibilizados pela nossas transformações que ecoavam com a vida que nascia dentro de nós, e que queria ser nutrida, fomos buscar ajuda numa terapia familiar.
  • 48. 48 Após um ano de terapia criamos um lar ecológico, amigo, nutritivo, próspero, saudável. Cada um comprometido com as suas investidas profissionais e pessoais. Hoje, após anos de grandes conflitos, estamos mais unidos. Relato uma experiência vivida com o facilitador Carlos Garcia, quando participei de um trabalho seu, que tinha como tema “Raízes”: Ao iniciar a maratona, ele pediu que refletíssemos sobre as condições em que nascemos, o terreno onde fomos germinados. Fechei os olhos e na memória vieram as dificuldades que envolveram o meu nascimento. Quando compartilhei tal experiência com os demais companheiros, senti rolarem duas lágrimas ... eu não era mais a mesma, tinha mudado, não sentia mais pena de mim. Em seguida ele pediu que fizéssemos uma roda com olhos fechados e novamente observássemos o terreno onde fomos germinados. Este momento foi novo para mim. Num misto de surpresa e alegria vi um terreno fértil, parecia o Nilo, cheio de húmus. O terreno transformou-se numa relva verde até o horizonte distante. Naquele instante renasci.
  • 49. 49 Inspirada como estou, faço um poema: “Sementes de Amor És raiz de uma planta que germina alegria no jardim do meu coração, que imerso na terra, na água, na natureza, em mim, brotam frutos de amor, de ternura, de amizade, expandindo o perfume da flor cultivada, aos que sensíveis ao aroma absorvem os fluídos deste cultivo.” Tereza Serva Em outro episódio, numa Maratona dos “Quatro Animais”, orientada pelo facilitador Carlos Garcia, vivenciei mudanças significativas ... o ser criatura e criadora crescia dentro de mim. Numa certa vivência ele nos propôs vivenciar a garça e, do alto de um penhasco, mergulhar em busca do alimento para a minha vida. Lembro-me da minha dificuldade em identificar a nutrição para minha vida. Mesmo sem resposta, me lancei. Ao cair no solo, senti um amor profundo. Saí confusa desta Maratona. Após vários dias tal amor se revelava para mim.
  • 50. 50 Novamente sensibilizada, faço outro poema: “Metamorfose Que fazer? Por perder a noção do limite do eu. que já não sinto, permito, até admito, consinto! Se mistura no outro, nas coisas da natureza, um encontro maior, natureza global, sem igual. Expansão de um ser. Ser, pequena partícula do universo cósmico ao redor. Seu movimento harmônico contribuirá, uma parcela limitada, porém importante desta grande irmandade. A Humanidade.” Tereza Serva “Represento uma parcela da humanidade e ao mesmo tempo contenho uma infinitude de humanidade (o que me faz uma totalidade). Influencio a humanidade e sou influenciado por ela.” A. Ciampa18 18 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e a História da Severina.”
  • 51. 51 Ao terminar a parte teórica da formação de Biodanza, minha vida profissional mudou. O atendimento que faço no consultório tornou-se minha maior fonte de renda. O número de clientes aumentou consideravelmente. Na formação de Biodanza o processo desenvolvido é transformador. O aluno se torna um terapeuta, um agente de saúde. Deixei de vender roupas, não agüentava mais o peso das sacolas. Com a minha parceira, iniciei um grupo regular de Biodanza. Dando aulas aprendo a cada dia, cresço na relação com ela, com os nossos alunos, facilitadores, amigos, filhos, enfim, cresço com a vida!
  • 52. 52 Capítulo 3 - Onde introduzimos os conceitos de Identidade e Integração e tecemos comentários, com base em nossa experiência profissional, da seguinte questão: como a Biodanza facilita a Integração da Identidade e abre novos horizontes no exercício da nossa profissão -
  • 53. 53 Capítulo 3 - Onde definimos Identidade e Integração e tecemos comentários, com base em nossas vivências pessoais, da seguinte questão: como a Biodanza facilita a Integração da Identidade e abre novos horizontes no exercício da nossa profissão - Para Rolando Toro falar da Identidade, numa abordagem psicológica, não é falar de algo abstrato, trata-se de matéria do vivente que está em permanente mudança, por isso tal abordagem requer uma nova perspectiva. “A Identidade é – o único e seus atributos – o que cada pessoa é essencialmente diante de qualquer outro sistema de realidade.” Antonio Ciampa19 também dá sua contribuição na definição de Identidade: “Cada indivíduo encarna as relações sociais, configurando uma identidade pessoal. Uma história de vida. Um projeto de vida. Uma vida-que-nem-sempre-é-vivida, no emaranhado das relações sociais.” Segundo Ciampa, a questão da identidade deve ser vista não como questão apenas científica, nem meramente acadêmica: é sobretudo uma questão social, uma questão política. 19 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
  • 54. 54 A Identidade, segundo Rolando, apresenta dois paradoxos: “A Identidade só se faz presente através do outro.” “ A Identidade tem uma essência invariável, uma vez que se transforma constantemente devido a sua dimensão espaço-temporal. Assim, a Identidade é sempre única e, ao mesmo tempo, muda de aspecto com a idade.” Tais paradoxos encontram respaldo nas teorias do Martin Buber e Antonio Ciampa. “O EU se realiza na relação com o TU; é tornando EU que digo TU. “Toda vida atual é encontro.” M. Buber20 “Identidade é Metamorfose, e metamorfose é vida!” A. Ciampa21 Segundo Rolando, o primeiro dado da Identidade psicológica é a vivência de estar vivo. A experiência primordial da Identidade é a comovedora e intensa sensação de estar vivo, gerando-se a si mesmo. A vivência fundamental da Identidade surge com a sensação interna de estar vivo. 20 Martin Buber, “Eu e Tu.” 21 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e a História da Severina.”
  • 55. 55 3.1) A HISTÓRIA DE CRISTIANE Descobrir a vida dentro de mim e despertar a Cristiane adormecida, foi renascer para uma outra vida. Este foi um presente maravilhoso que conquistei na Biodanza. “O real movimento da identidade se traduz na expressão morte-e-vida, uma dialética que permite desvelar seu caráter de metamorfose” A. Ciampa22 Viver o prazer de ser com o outro e não mais querer estar sozinha foi outra grande conquista minha na Biodanza. “Viver a alegria de “ser com o outro” significa “conviver”, é adquirir a capacidade de vínculo afetivo; a vivência de si surge durante a “convivência”. “A integração da identidade é favorecida quando, dançando em grupos, descobrimos, progressivamente, os rituais de aproximação – nossa identidade se revela na presença do outro – “ Rolando Toro O principal objetivo da Biodanza é a integração. Numa cultura onde o homem encontra-se dissociado, fragmentado, onde seus valores não estão organizados em função de suas reais possibilidade, mas sim pelo cumprimento de deveres, regras, faz-se como objetivo crucial a integração da percepção, emoção e ação do homem. 22 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
  • 56. 56 - Integração da Identidade - Segundo Rolando, a vivência de constituir uma criatura única, em ressonância e intimidade com todo vivente, é a característica anímica da Identidade saudável. A Identidade saudável vem sempre unida a uma percepção corporal de limites marcados, com tendência a autonomia. Ou seja, o indivíduo identificado tem consciência de si mesmo, comunga e convive com os demais seres do universo, é sujeito da sua própria vida. Rolando enumera vários critérios de uma Identidade Integrada, mas para que este trabalho não fique muito extenso, me limito a enfocar um destes critérios: “Percepção de si mesmo como criatura com valor intrínseco.” A Biodanza fortaleceu a minha auto-estima, e, após algum tempo freqüentando o grupo regular, foi crescendo a percepção de mim mesmo como criatura com valor intrínseco. Lembro-me que na época, a cada encontro semanal, no grupo regular, me sentia renascer para uma nova vida, uma vida de conquistas!! “O humano é sempre “uma porta abrindo-se em mais saídas”. O humano é vir-a-ser- humano. Identidade humana é vida!” A. Ciampa23 E foi essa crescente sensação interna de vida que, se fortalecendo cada vez mais dentro de mim, me impulsionou a iniciar uma nova profissão, com a certeza interna de que é a força do desejo que nos move em direção a vida, a vida quer ser vida, vida atrai mais vida!! 23 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
  • 57. 57 Quando comecei a Biodanza, em abril de 1995, já tinha uma grande insatisfação profissional. Quando aos 17 anos, escolhi a minha profissão, tinha pouca clareza do meu potencial, das minhas habilidades, não consegui identificar qual era o meu desejo, com o que eu gostaria de trabalhar! Assim, a escolha da minha profissão (Secretária-Executiva) foi pautada em algumas preferências que consegui identificar na época: a facilidade com idiomas, a boa organização no trabalho e a rapidez no cumprimento de tarefas. Vim para o Rio de Janeiro, cursei a faculdade de Letras (especialização em Secretária-Executiva), me formei e logo comecei a trabalhar como Secretária. Ao fim de 8 anos de trabalho em tal profissão, conheci a Biodanza. Após 2 anos freqüentando o grupo regular, por estímulo da minha facilitadora na época, Maria Adela, que já sabia da minha busca por uma nova profissão, iniciei a formação em Biodanza, a profissão que no futuro me realizaria completamente como ser humano. Ganhando cada vez mais autonomia na minha vida, eu que, ao longo da minha carreira sempre me destaquei como uma excelente profissional, conquistei uma outra qualidade no trabalho de Secretária. De secretária passiva, com um trabalho mecanizado, me tornei ativa, passei a me inteirar mais do trabalho que fazia e com isso fui me destacando cada vez mais nessa função. E a minha insatisfação com o trabalho de Secretária, que sempre me incomodou e dificultou o meu comprometimento no exercício desta profissão, com a formação da Biodanza tinha a certeza de que não exerceria tal função o resto da minha vida. Isso me acalmou bastante; pude então prosseguir no meu trabalho de secretária sem mais angústias, pelo contrário, agora eu tinha um objetivo na vida: o trabalho de secretária me daria o sustento necessário para bancar o meu desejo maior: me tornar uma Facilitadora de Biodanza!
  • 58. 58 No trabalho como Secretária pude também perceber uma mudança nas relações. Com o fortalecimento da minha auto-estima, me tornei mais comunicativa, mais alegre, com mais fluidez (e isso é fundamental em tal profissão, principalmente no lidar com os oscilantes humores da chefia). Crescia também o meu potencial afetivo. Comecei a atrair mais e mais pessoas junto à mim. Quando solicitava os meus pedidos, no exercício da minha função, o fazia com um jeitinho especial e um carinho e era quase sempre atendida. Dificilmente ouvia um “não”, pelo contrário, minhas colegas de trabalho se surpreendiam como eu conseguia sempre o que necessitava, com rapidez e eficiência!! “O indivíduo isolado é uma abstração. A identidade se concretiza na atividade social. O mundo, criação humana, é o lugar do homem. Uma identidade que não se realiza na relação com o próximo é fictícia, abstrata, falsa.” A. Ciampa24 Freqüentando o grupo regular de Biodanza, fui cada vez mais me apropriando de mim mesma, descobrindo minhas habilidades, fazendo contato com o ser múltiplo, criativo e afetivo que sou. Paralelamente, no trabalho como secretária, também ascendia profissionalmente, fui ocupando cargos cada vez mais altos, de maior responsabilidade e importância. 24 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
  • 59. 59 Termino este relato com uma frase do Antonio Ciampa25 que sintetiza, de forma brilhante, o que tenho descoberto e vivenciado ao longo destes anos na Biodanza, e que me tranqüiliza bastante nos momentos difíceis da minha vida: “A realidade sempre é movimento, é transformação. A metamorfose acontece a todo instante na nossa vida; quando focalizamos um determinado momento não estamos afirmando que só aí a metamorfose está se dando; estamos lançando mais luz num episódio onde é mais visível o que se está afirmando.” Antes de fazer Biodanza eu me sentia bastante rígida. Meus movimentos eram limitados, eu tinha dificuldade em me desapegar de situações e pessoas. Naquela época, ouvir uma frase como a acima, onde o movimento aparece como um fator constante na realidade, me assustava, eu vivia muito “cristalizada” em determinadas situações, não conseguia sequer compreender o significado de tal frase. Hoje, leio tal citação com calma, com aceitação. Hoje, essa citação faz eco dentro de mim, adquiri mais mobilidade, mais fluidez, meus movimentos se ampliaram e acho maravilhoso que a realidade esteja sempre em movimento!! 25 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
  • 60. 60 3.2) A HISTÓRIA DE TEREZA Quando terminei a Faculdade de Educação Física, um questionamento me inquietava: “Onde estava a verdadeira beleza das pessoas?” Este questionamento orientou-me numa busca incansável, marcando toda uma trajetória existencial, com uma ação intensa na prática profissional. “Através da prática vamos nos transformando.” A. Ciampa26 As minhas experiências de vida, somadas às terapias que busquei nos momentos difíceis, contribuíram para o desenvolvimento de um trabalho diferenciado na área de Educação Física. A Educação Física pautava sua filosofia na competição, na disputa. No âmbito familiar, eu vivia a solidão e competia com a minha irmã por não ser tão inteligente quanto ela. No âmbito profissional desenvolvia um trabalho comunitário, comportamental, não competitivo, de valorização do indivíduo e de inter-relação. Era muito questionada nas instituições de ensino, devido a esse trabalho diferenciado que fazia. 26 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
  • 61. 61 “Procurar a unidade entre a subjetividade e a objetividade faz do agir uma atividade finalizada relacionando desejo e finalidade, pela prática transformadora de si e do mundo.” A. Ciampa27 Iniciei um grupo de ginástica estética. Apesar de ser um grupo, cada aluno tinha um trabalho diferenciado. Identificava o indivíduo na sua singularidade, nas suas potencialidades e limitações. Compartilhava com meu terapeuta alguns casos de alunos. Ao final de três anos de análise ele me liberou da análise, dizendo que não estava me dando alta, pois nunca tinha entrado em baixa. Então, ele me convidou para trabalhar com ele, disse que o trabalho que eu realizava era muito bom, me propôs uma parceria. Não pude aceitar pois estava de mudança para o Rio. Suas palavras me incentivaram muito, ele fortaleceu o meu desejo em buscar uma melhor qualificação. Fiz vários cursos de análise corporal da relação do método La Pierre. 27 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
  • 62. 62 Nessa época meu casamento estava desgastado. Adoeci e os médicos não identificavam o que eu tinha. Eu só queria dormir. Acordar era terrível. A única coisa que me incomodava era meus filhos me verem naquele estado. O resto me era indiferente. Sentia saudades do tempo em que sorria, na companhia dos amigos. Comer, vestir, sol, chuva, tudo tinha perdido a cor, o viço, o brilho. Após algum tempo, meu marido me disse, de forma perversa, que o meu mal era depressão. Como o fantasma da loucura do meu pai me perseguia, tomei aquele comunicado como um veredicto. A doença era inevitável, estava louca, sem saída. No dia seguinte reuni todas as forças que tinha e saí. Cambaleando, abri a porta e, sem olhar para trás, desci ladeira abaixo, me arrastando pela praia de Copacabana. Repeti a caminhada diariamente. Após alguns dias, olhei e vi a imensidão do mar. O céu era um grande teto. Eu rolava na areia, entrava na água, sentia as bolhas de espuma do mar na minha pele. Após um mês de apatia sentia algo. Rolar na areia, deslizar nas águas do mar me fazia bem.
  • 63. 63 Passava horas imersa na natureza, me sentia acolhida por ela. Ela não me cobrava nada, não esperava nada de mim, pelo contrário, cada dia me acolhia de forma mais hospitaleira e cúmplice. A natureza não me julgava, me abraçava com o calor do sol. Ao me banhar nas águas transparentes do mar, eu me purificava. Encantava-me com o barulho do vento, dos pássaros. O mar, que com seu toque sutil, prazeroso, aos poucos despertava o meu corpo, me presenteava com o perfume da sua brisa. Meu Deus ! Foi maravilhoso quando voltei a ver o colorido da natureza, ela me devolveu à vida. Eu corria, rolava na areia, mergulhava no mar, cantava, chorava, a natureza me pariu, me acolheu, me aceitou, sem cobranças. Comovida, me sentia parte integrante do universo. Vivia o êxtase do renascer, no útero da “grande mãe”. “Cuidar para a manifestação da vida é cuidar do amor. Não é um caminho fácil, é preciso sentir o coração da natureza e perceber a profunda realidade da vida acontecendo, cada vez mais em maior complexidade e sutileza. É o sentir a vida, ou sentir-se vivo, que revela a identidade como presença, como vivência biocêntrica, expressão natural e espontânea da vida acontecendo como singularidade, como auto-poiesis particular (si mesmo) da auto-poiesis universal.
  • 64. 64 É do sentir-se vivo que emerge a percepção do si mesmo, de um sentimento de vida e não de uma representação mental. Esse sentimento surge de um processo antigo de desdobramento da vida em sensações corpóreas ricas de possibilidades interativas.” César Wagner “A vivência fundamental da identidade surge como a expressão endógena de estar vivo. A vivência primordial da Identidade é a comovedora e intensa sensação de estar vivo, gerando-se a si mesmo. “A vivência de estar vivo é afetada constantemente pelo humor corporal e pelos estímulos externos, mas sua gênesis é visceral.” R. Toro
  • 65. 65 “ A consciência de si se organiza por um caminho duplo: a) As primeiras noções sobre o próprio corpo: A percepção do próprio corpo evolui através das experiências cotidianas. Tais experiências organizam respostas distintas: o corpo como fonte prazer e o corpo como fonte de dor e sofrimento.” b) As primeiras noções de ser diferente: As primeiras noções de ser diferente se dão no contato com o grupo. A Identidade se faz presente no espelho de outras Identidades. As primeiras noções de ser diferente conduzem a consciência da própria singularidade e ao ato de pensar-se a si mesmo frente ao mundo.” R. Toro A vivência do meu despertar para a vida através das percepções corporais, sensório motoras, sensitivo motoras, unidas às experiências anteriores e às terapias realizadas, me levaram a convidar uma amiga psicanalista para ser minha cobaia no trabalho de consciência corporal, que venho desenvolvendo há onze anos. Essa amiga que se tornou uma cliente, no terceiro atendimento expressou o seu desejo de continuar o trabalho. Logo a seguir ela me encaminhou outras clientes. Ela fez o trabalho durante oito meses. Nesse período ela descobriu que seu casamento estava desgastado, separou-se e mudou de terapeuta.
  • 66. 66 Meu trabalho de Consciência Corporal tinha o seguinte desenvolvimento: A sessão durava uma hora e seguia uma curva de aula de Educação Física - ativação, percepção corporal e relaxamento. Realizava uma leitura corporal, considerando o corpo como mapa, como alvo de registro de toda uma história de vida. Esse indivíduo era analisado, não só como expressão de potencialidade e limitações, mas inserido num contexto familiar, num contexto profissional e nas demais relações. Minha sensibilidade e meu profundo respeito pelo outro, pela sua história, me levou a ser bastante cautelosa. Tal cautela me levou, na ocasião, a pedir a supervisão de uma terapeuta corporal. Sentia a necessidade de maior conhecimento teórico nessa abordagem com o trabalho de Consciência Corporal. Isso me levou a iniciar uma formação em Biossíntese, com a mesma terapeuta que supervisionava o meu trabalho de Consciência Corporal. Após seis meses de formação em Biossíntese e supervisão do trabalho de Consciência Corporal, minha terapeuta e supervisora viajou para o exterior por um longo período. Com isso interrompi os dois trabalhos. Na época fiquei insegura em dar continuidade ao meu trabalho sem a sua supervisão. Ela me incentivou a continuar os meus trabalhos. Tornei-me uma autodidata, associando a esse trabalho, métodos de anti-ginástica, meditação livre ou induzida, exercícios respiratórios e alongamento.
  • 67. 67 Durante anos desenvolvi esse trabalho. Muito dos clientes se beneficiaram: aumentaram sua auto estima, sua vitalidade, mais criativos nas suas problemáticas materiais e existenciais, mais afetivos. Após seis anos nessa prática, senti uma profunda insegurança quanto ao trabalho que realizava. Sentia necessidade de uma sistematização conceptual para fundamentar os meus trabalhos. Reconhecia em mim um potencial, mas a intuição, os estudos e as experiências anteriores já não eram suficientes. “A medida que vão ocorrendo transformações na identidade concomitantemente ocorrem transformações na consciência (tanto quanto na atividade).” A. Ciampa28 “O conteúdo vivo da experiência humana, em todas as suas manifestações, vale mais que qualquer sistematização conceptual.” M. Buber29 28 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.” 29 Martin Buber, Eu e Tu.”
  • 68. 68 Eu tinha uma busca existencial. No exercício da minha profissão tentava resolver questões relativas à minha existência, por exemplo, quando fazia um trabalho comunitário e vivia uma solidão familiar. Quando no meu trabalho de Consciência Corporal auxiliava o crescimento dos meus clientes, mas, internamente, existia em mim uma insatisfação pessoal. A citação abaixo ilustra esse momento da minha vida: “Todos criamos, individual e coletivamente, histórias (…), para dar sentido a existência. (…) Elas nos dizem como esperar, sonhar e reorganizar, ao inibir nossos sinais internos do momento, permitindo a emergência de outros enredos.” S. Keleman30 Satisfazendo uma necessidade de ampliar os meus conhecimentos teóricos, que na minha crença iriam me dar mais segurança no exercício da minha profissão, iniciei a Formação de Biodanza. “Somos sementes como a própria semente, buscamos nutrição vínculo e crescimento.” César Wagner 30 Stanley Keleman, “Corporificando a Experiência.”
  • 69. 69 Na minha concepção a Biodanza seria um instrumento a mais que me capacitaria a melhor sistematizar o meu trabalho. Quando comecei a formação pensava que a Biodanza somente me acrescentaria a nível teórico. Ao longo da formação, e também freqüentando o grupo regular, senti a amplitude da sua abordagem: retomei a minha origem, identificando questões primordiais – “A verdadeira beleza se encontra no sagrado dom da vida.” “A realidade sempre é movimento, é transformação. A metamorfose acontece a todo instante na nossa vida; quando focalizamos um determinado momento não estamos afirmando que só aí a metamorfose está se dando; estamos lançando mais luz num episódio onde é mais visível o que se está afirmando.” A. Ciampa31 Minha vida transcorreu: entre mortes e renascimentos, gestei e pari quatro vidas. Aprendi com cada uma delas, mudei de cidades, fiz novas relações sociais, me separei. “A própria existência humana na sua unidade e multiplicidade de aspectos é esta experiência de “trânsito” no ritmo constante das atitudes.” M. Buber32 31 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.” 32 Martin Buber, “Eu e Tu.”
  • 70. 70 Mais integrada, após cinco anos de Biodanza, finalizando a formação, inspiro-me nas palavras de Buber33 : ”O homem está apto ao encontro na medida que ele é totalidade que age.” Atualmente, sinto-me bastante realizada no trabalho de Consciência Corporal. Há um ano facilito um grupo regular de Biodanza. Aprendo com cada experiência vivida, assumo os meus potenciais. Tenho a certeza de que o aprendizado, o crescimento é um contínuo. 33 Martin Buber, “Eu e Tu.”
  • 71. 71 Capítulo 4 - Onde relatamos como duas pessoas de origem e formação profissional distintas, se apropriam destas diferenças como elemento favorável para a integração das suas identidades e se unem para realizar um trabalho em conjunto: a parceria no trabalho como Facilitadoras de Biodanza -
  • 72. 72 Capítulo 4 - Onde relatamos como duas pessoas de origem e formação profissional distintas, se apropriam destas diferenças como elemento favorável para a integração das suas identidades e se unem para realizar um trabalho em conjunto: a parceria no trabalho como Facilitadoras de Biodanza - Nos capítulos anteriores relatamos separadamente a nossa história, e com ela a nossa trajetória de crescimento. Neste capítulo, como trata-se do nosso trabalho em parceria, o texto é resultado da comunhão dos nossos relatos, isto é, foi feito à quatro mãos! “Biodanza, mais que uma ciência, é a poética do encontro humano.” R. Toro Com este relato atualizamos o vínculo que se fortaleceu na nossa parceria. Esperamos que tal experiência venha a contribuir para formação de futuras parcerias. Nossa história começa assim ... Terminamos a Formação Teórica de Biodanza em Novembro de 1999. Ao longo da formação fizemos um forte elo de amizade. Apesar de termos personalidades distintas, de sermos bastante diferentes em vários aspectos, tínhamos também muitas afinidades.
  • 73. 73 Nos sentíamos estimadas, queridas, admiradas mutuamente nas nossas maneiras de ser. Aprendíamos muito uma com a outra. Para ambas era novo estar tão próximas e companheiras, com tantas diferenças e, ao mesmo tempo com um mesmo projeto de vida: a construção de uma vida melhor. “Sua identidade, que se transforma, vai se concretizando nas e pelas novas relações em que está se enredando.” A. Ciampa34 A dupla Maria Adela e Antônio Sarpe que, nesta mesma época, iniciaram um trabalho em parceria, foi para nós um exemplo de diferenças que dão certo, que se respeitam, que são cúmplices e que somam conhecimentos e experiências. Nessa parceria víamos o exemplo vivo da prática da Biodanza: a vinculação. Estávamos motivadas e estimuladas por essa experiência. Naquele momento reuníamos internamente as condições propícias para a realização de um trabalho em conjunto: a disponibilidade e a vontade para aceitar as nossas diferenças, estávamos fortalecidas por novos valores de vida, de plenitude e realização, enfim, o nosso terreno estava fértil, preparado para uma nova etapa: abrir um grupo regular de Biodanza. 34 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
  • 74. 74 Na época nem imaginávamos que outro desafio estava apenas começando: o trabalho em parceria. Uma coisa é ter relações de amizade com pessoas de valores e personalidade distintas; escolhemos quando queremos estar com os amigos. Outra coisa é realizar um trabalho em parceira, viver o dia-a-dia juntas, é um casamento! A riqueza do nosso trabalho consistia no fato de que cada uma dava o melhor de si na parceria: a Cris com a sua objetividade, com o seu forte senso de limite, com a sua praticidade – a Tereza, com sua prática de atendimento e experiência de vida, o acolhimento, o jogo de cintura, a flexibilidade. Éramos pólos opostos: uma terra, outra ar. A Cris sinalizava para um mundo objetivo, a Tereza era um convite ao vôo, à expansão de novos conceitos! Mas nem tudo era flores. Num primeiro momento as nossas diferenças eram uma ameaça à realização do nosso trabalho. Só com o tempo, após um processo de transformação mútua, transformamos nossas diferenças num tesouro para ambas. “ A Identidade se renova em atos permanentes de comunhão com o estranho.” R. Toro
  • 75. 75 O diálogo e a humildade foram ferramentas fundamentais na nossa relação. Conversávamos sobre os nossos incômodos, diferenças, pois eram mútuos. O que anteriormente nos incomodava, absorvemos para um melhor desempenho profissional. Em momento algum perdemos de vista a nossa meta: a proposta de um trabalho em parceria e, nessa parceria, a prática real da Biodanza - a vinculação. “Quando somos impedidos de nos transformar, nos tornamos réplicas do que fomos um dia. É o trabalho da reposição que sustenta a mesmice. Na nossa sociedade milhões de pessoas são impedidas de se transformar, são forçadas a se reproduzir como réplicas de si, involuntariamente, a fim de preservar interesses preestabelecidos, situações convenientes.” A. Ciampa35 “Quem vive aferrado, mesquinhamente a defender os limites de sua Identidade, se priva do sabor dos frutos, se esgota em si. As raízes da Identidade se nutrem no seio do estranho. A identidade faz-se patente no espelho de outras identidades. As primeiras noções de ser diferente conduzem a consciência da própria singularidade e ao ato de pensar-se a si mesmo frente ao mundo.” R. Toro 35 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
  • 76. 76 Tínhamos finalizado uma parte da formação – a parte teórica. Abrir um grupo foi o início de outra etapa – o estágio, a prática de dar aulas. Nesse momento não éramos só plenitude e coragem, também estávamos inseguras, com alguns temores. Sabíamos que, mesmo tendo cumprido a parte teórica da formação, sabíamos muito pouco. Levaria algum tempo até que pudéssemos amadurecer os novos conceitos que recebemos ao longo da formação teórica, para poder então aplicá-los na prática. Por outro lado, sabíamos que “o estar pronto” é algo irreal, é um estado conquistado com a prática e com a continuidade dos estudos, das leituras, é algo que nunca se finda. Então era hora de ponderar a nossa “alta exigência” e começar a prática com humildade, com o pouco que sabíamos! A Biodanza nos propiciou uma expansão da consciência, o que nos deixou menos crítica, menos preconceituosa, mais gentil com nós mesmas, com ações mais ligadas às nossas reais possibilidades e menos centrada nos deveres. Nosso limite é plástico, cada vez que o tocávamos, ampliávamos as nossas possibilidades. Deixávamos o ideal do “ser perfeito” para sermos nós mesmas. “Em cada momento de minha existência, embora eu seja uma totalidade, manifesta-se uma parte de mim como desdobramento de múltiplas determinações a que estou sujeito; nunca compareço frente a outro apenas como portador de um único papel, mas como uma personagem, como uma totalidade… parcial.” A. Ciampa36 36 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.”
  • 77. 77 Sermos generosas e acolhedoras nas nossas limitações, facilitou a realização do nosso trabalho. “Assim, muda radicalmente a atitude ocidental estruturada nos valores do “homem sacrificial” para a do homem que busca e goza a plenitude.” R. Toro Com a Biodanza percebemos o quão ilusória era a idéia de que poderíamos viver apenas em ressonância com o “igual”, com o semelhante. A vida é composta de diferenças, nós, seres humanos, temos dentro de nós partes distintas, sentimentos opostos, contraditórios. “Ser é ser metamorfoseada. A metamorfose é expressão de vida.” A. Ciampa37 Temos muito mais para descobrir, metamorfosear, criar. A cada atitude diferente do outro, abre-se um leque de outras possibilidades que nos devolve a nossa singularidade, que podemos ampliar. “O encontro com o outro que não sou eu, é onde finalmente me encontro.” Carlos Garcia38 Após um ano de trabalho crescemos bastante. Hoje, respeitamos as nossas diferenças. Tais diferenças não mais nos limitam, pelo contrário, nos acrescentam e ao nosso trabalho. O diferente não representa uma perda às nossas convicções, mas sinalizam para uma possibilidade de mudança. 37 Antônio da Costa Ciampa, “A Estória do Severino e A História da Severina.” 38 Carlos Garcia, “El Arte de Danzar la Vida.”
  • 78. 78 Através das nossas vivências pessoais, de mudanças e crescimentos, não mais teorizamos sobre vinculação, vivemos a vinculação. No desenvolvimento do nosso trabalho somos para os nossos alunos um exemplo vivo do que define a Biodanza – “A poética do encontro humano.” A nossa parceria não foi o único fator que nos possibilitou um crescimento. A chegada dos alunos, com as suas singularidades, foi também um aprendizado. Cada aluno representava um manancial de possibilidades que promovia a nossa transformação, que sabemos que é um contínuo. Atualmente, após um ano de trabalho, observamos nos nossos alunos o seu crescimento. Vemos sua capacidade de se alegrarem, comoverem, brincarem, se posicionarem. Eles expressam as suas dificuldades, os seus desejos de transformação que brotam na relação com o outro. Notamos que a característica marcante do nosso grupo é o acolhimento: eles celebram o encontro com os alunos que temporariamente se afastaram, vibram com a chegada de novos alunos, trazem novos alunos e se cuidam carinhosamente. Nossos alunos, na maioria, são assíduos, comprometidos com o trabalho. Alguns já manifestam, através dos seus movimentos em aula e no cotidiano, uma ação mais ousada, estão mais confiantes. Nossa parceria é a prática de um projeto de construção de um mundo melhor. Um mundo melhor começa dentro de cada um. Ao longo de todos esses anos que vivemos a Biodanza refizemos nosso elo com a vida, descobrimos a vida dentro de nós e estamos cada vez mais enamoradas por ela. O trabalho em parceria é uma oportunidade e um forte desejo que estamos concretizando: comungar toda a experiência paradisíaca que é a vida.
  • 79. 79 Terminamos nosso relato com um poema e fazemos um convite aos nossos leitores: embarcar nesta grande viajem que é a vida! “Lembrete Se procurar bem, você acaba encontrando, não a explicação duvidosa da vida, mas a poesia inexplicável da vida.” Carlos Drumond de Andrade39 39 Carlos Drumond de Andrade, “Corpo, Novos Poemas.”
  • 80. 80 Conclusão A Biodanza contribuiu de forma eficaz e significativa nas nossas vidas, facilitando a Integração da nossa Identidade. Rolando ressalta vários critérios que caracterizam a Integração da Identidade. Dentre eles, foi para nós marcante e profundo, o seguinte critério: “Percepção de si mesmo como criatura com valor intrínseco”. A Biodanza é uma fonte de vivências. Ela é um ninho ecológico, fértil, nutritivo. Na Biodanza revivemos a experiência paradisíaca, redescobrimos a vida, aprendemos a nos acolher nas nossas dificuldades, nossos potenciais foram estimulados e ganharam expressão ... a Biodanza nos possibilitou um novo estilo de vida. Mais sensibilizadas, fortalecidas por novos valores de vida, nos percebendo como criaturas com valor intrínseco, ocupamos o nosso lugar no mundo e reestruturamos as nossa relações – familiares, afetivas e profissionais. Na nossa parceria nossas diferenças foram reveladas, acolhidas, transformadas, nos devolvendo a nós mesmas. Atualmente, estamos mais fortalecidas, não só para o desfrute das novas conquistas como para lidarmos com os novos desafios que poderão surgir. Nossa parceria é a prática de um projeto de construção de um mundo melhor. É a realização de um forte desejo: comungar toda a experiência paradisíaca que é a vida. Fortalecidos na nossa Identidade, através da Biodanza, somos hoje capazes de contatar os nossos desejos, nos apropriamos da nossa vida, ocupamos o nosso espaço no mundo, acolhemos as nossas dificuldades, celebramos as nossas vitórias ... nossa monografia é fruto deste momento nosso, mais inteiras como estamos, mais integradas ... ousamos e concretizamos!!
  • 81. 81 A inversão epistemológica (onde a aquisição do conhecimento se dá a partir da experiência vivida e não pela cognição) proposta na Biodanza tem estimulado a nossa ação, nutrido o nosso coração, iluminado a nossa consciência. Nossas ações estão mais integradas. Tal atitude nos propiciou várias mudanças no nosso estilo de vida. Poder assumir os nossos sentimentos e permear a nossa vida com mais amor têm nos possibilitado reeditar as nossas histórias. Estamos vivendo a plenitude do momento presente ..... o porvir ...? Aguardamos confiantes! Terminamos nosso relato com uma máxima da Biodanza: “Não basta alcançar o bem-estar, é necessário ter acesso à felicidade.” R. Toro
  • 82. 82 Bibliografia citada Andrade, Carlos Drumond. Corpo, Novos Poemas. Editora Record, Rio de Janeiro, 1984. Buber, Martin. Eu & Tu. Editora Cultrix, São Paulo, 1979. Ciampa, Antonio da Costa. A Estória Do Severino E A História Da Severina. Editora Brasiliense, São Paulo, 1987. Garcia, Carlos. Biodanza – El Arte de Danzar la Vida. Chile, 1998. Gois, C. Wagner. Vivência - Caminho à Identidade. Editora Viver, Fortaleza, 1995. Passos, Maria Lúcia. Metodologia Em Biodanza - Primeiros Passos. Editoração Aretusa Albuquerque Lobato, Minas Gerais, 1996. Stanley, Keleman. Corporificando A Experiência – Construindo uma Vida Pessoal. Editora Summus. Toro, Rolando. Biodanza: Ars Magna. Curso de Formación Docente de Biodanza. Toro, Rolando. El Grupo de Biodanza. Curso de Formación Docente de Biodanza. Toro, Rolando. Identidad E Integracion. Curso de Formación Docente de Biodanza. Toro, Rolando. La Vivencia. Curso de Formación Docente de Biodanza. Toro, Rolando. Mecanismos de Ação. Curso de Formación Docente de Biodanza. Toro, Rolando. Movimento Humano. Curso de Formación Docente de Biodanza. Toro, Rolando. Tomos – Vol. 1 e 2 Teoria da Biodanza – Coletânea de Textos.