O documento descreve a visita do escritor António Mota a uma final de um projeto sobre escrita. Ele conta a história de ter doado livros a crianças doentes em um hospital no Natal e anos depois ter reencontrado uma das crianças, já curada. Os alunos presentes escreveram histórias imaginando o que poderia ter acontecido aos outros livros doados. Dois trabalhos foram premiados, um sobre um reencontro mágico e outro sobre a companhia de um livro.
EB23 Beiriz_Olimpiadas da Escrita_2015_15_fasefinal
1. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
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A propósito de um livro e de umas crianças muito especiais…
A fase final das Olimpíadas da
Escrita (Projeto Escola da Minha Vida)
contou este ano com o escritor António
Mota que partilhou connosco uma história
comovente: há muitos anos foi solicitada a
sua participação no “Natal dos Hospitais”
numa enfermaria do IPO (Instituto
Português de Oncologia) onde se
encontravam crianças com doenças
oncológicas, ou seja com cancro.
O escritor ficou muito
impressionado, chocado mesmo com
aquelas crianças tão doentes, tão frágeis, tão pequeninas. A editora tinha enviado dez
exemplares do livro Sonhos de Natal, e António Mota, depois de contar uma das histórias
do seu livro, ofereceu-os às crianças escrevendo uma dedicatória em que dizia que o que
mais desejava era voltar um dia a vê-las, boas e saudáveis.
Passados alguns anos, numa visita a uma escola, uma rapariguinha acompanhada
pelos pais foi ter com o escritor e sem dizer nada, mostrou-lhe um livro. António Mota só
depois de ver a dedicatória que nele estava escrita é que percebeu que essa menina já
crescida tinha sido uma daquelas crianças internadas no IPO que tanto o tinham
impressionado, e que o livro um dos dez que ele tinha oferecido.
Os pais contaram então ao escritor que moravam naquela zona e que, quando
souberam que ele ia passar pela escola local, fizeram questão de o ir cumprimentar
juntamente com a filha que tinha conseguido vencer a doença, cumprindo assim o que
ele desejara na dedicatória: “tornar a vê-la passados uns anos, boa e saudável.”
Depois de contar esta história verídica o escritor lançou um desafio a todos alunos
presentes no Diana Bar: imaginar o que teria acontecido aos outros livros que ele, nesse
“Natal dos Hospitais”, oferecera às crianças doentes e contar a história de um deles.
Os textos que aqui se reproduzem são as contribuições dos alunos selecionados
para representar a nossa escola nesta fase final das Olimpíadas da Escrita.
2. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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De realçar que dois trabalhos foram distinguidos com o 1º prémio Prosa, 2º ciclo-
“Um reencontro Mágico” de Mariana Pereira do 6.º C e o 2º prémio Poesia, 3º ciclo- “Na
Companhia de um Livro” de Beatriz Souto do 7.ºA.
Em baixo reproduzem as capas da 1ª edição e da última edições do livro Sonhos de Natal.
PROSA
O Milagre- Diogo Gonçalves, 5ºB
Uma vida feliz- Diana Gomes, 6ºE
Uma menina que sonhava- Eduarda Ribeiro, 6ºE
Um reencontro mágico- Mariana Pereira, 6.º C
Memórias- Maria Alves, 7.ºA
Os dez livros perdidos- Pedro Frasco, 7ºA
A Noite de Natal- Bárbara Vasconcelos, 8.ºE
Esperança- José Pedro Agonia, 9.ºD
Do fim nasceu o início- Marta Torre, 9.ºC
POESIA
O meu livro- Lara Ferreira, 5.ºA
A minha história- Mariana Machado, 5.ºA
O livro encantado- Nicole Silva, 5.ºA
A minha vida corrente- Ana Catarina Gonçalves, 6.ºC
Vida de Livro- João Pedro Rocha, 6.ºC
Na companhia de um livro- Beatriz Souto, 7.ºA
Os segredos do mar- Daniela Maia,7.ºC
Recordação- Luís Vilar, 8.ºA
Tudo passa, nada é impossível- Catarina Monteiro, 8.ºE
Folhas Sábias- Pedro Oliveira, 11ºA
Leitores Especiais- Leonardo Torres, 11ºA
3. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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O Milagre
Hoje já sou adulto, mas conto aos meus filhos o que se passou há 20 anos atrás.
Lembro-me como se fosse hoje. Estava eu internado numa cama de hospital, triste e
sozinho, sempre com a esperança de sobreviver. Mas um dia ouvi a médica a falar com os
meus pais, a dizer que poucas hipótese tinha, que viveria o máximo mais 6 meses, por
causa do cancro. As minhas esperanças quase que morreram ali todas, por completo!
Passado um tempo vim a saber que ia conhecer o meu escritor favorito, que era
António Mota. Quando ele apareceu à minha frente deu-me vontade de o abraçar. Esse
ser humano que eu tanto admirava estava agora a contar-me uma história de um livro seu
chamado “Sonhos de Natal”. E o mais brilhante foi que ele me deu o livro autografado!
Que feliz fiquei!
Passado uma semana a médica anunciou que me dava a alta pois eu tinha
recuperado completamente. Fiquei curado num instante.
Pode ser uma grande treta, mas eu acredito que foi aquela voz doce e daquele
maravilhoso escritor que me curou.
Foi um autêntico milagre!
Diogo Gonçalves, 5ºB
4. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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Uma vida feliz
Estava ali eu, a visitar, no Instituto Português de Oncologia (IPO), a minha sobrinha
Joana que sofria de cancro no estômago, quando reparei, deitada sobre a cama, numa
menina que dormia profundamente. Logo ali, naquele preciso momento, invadiu-me um
sentimento de pena, juntamente com imenso amor. Não resisti e entrei no quarto
daquela princesa, falei com a enfermeira que lá se encontrava e esta disse-me que aquela
menina tinha seis anos, se chamava Raquel, estava numa instituição, pois os pais tinham
morrido há dois anos, num acidente automóvel, sofria de cancro nos pulmões e estava
mesmo muito mal. Logo de imediato quis adotá-la e resolvi tratar de tudo o necessário
para o fazer.
Uns meses depois, depois de tudo estar tratado, adotei-a. Aquele sorriso de
menina, com aquela cara pintalgada de sardas, os olhos azuis que faziam lembrar as
ondas, e o cabelo, loiro como as searas, loiro como os desertos, loiro como o caramelo e
como o sol, o sol que trazia felicidade a todos, faziam despertar tudo de um sonho
adormecido e eram o motivo do meu orgulho. Mas nem tudo era um mar de rosas, pois a
situação da Raquel piorava, e cada vez maior era o medo de a perder.
Com a ajuda da minha família, e da minha princesa, a Raquel, fomos passando os
maus momentos. Vivíamos as duas, num pequeno apartamento no centro da cidade. Um
dia ela chegou à minha beira e mostrou-me um livro. Um simples, pequeno e colorido
livro. Silenciosamente, abriu-o e mostrou-me na primeira página, a dedicatória
autografada por um escritor muito famoso, António Mota. Com os seus lábios
encarnados, pronunciou suavemente uma série de palavras que me queriam dizer que
aquele livro era muito especial para ela, pois foi-lho oferecido por um escritor que ela
adorava, na semana anterior ao Natal, no próprio dia em que os seus pais morreram, e
lhe detetaram cancro nos pulmões, o dia mais cruel, infeliz e atribulado da sua vida.
Contou-me que sempre que olhava para aquele livro “Sonhos de Natal” se lembrava de
como quando era uma pessoa normal, sem cancro e também dos momentos vividos com
o seu pai e a sua mãe quando era pequena. Aquele livro fazia-a feliz.
5. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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Entretanto, os anos foram passado, o cancro aumentou e o medo de perder a
minha filha também. Silenciosamente, a doença manifestou-se cada vez mais
rapidamente. Raquel precisou de ser internada novamente no IPO, agora aos 13 anos:
tinham-se passado sete anos e o tempo sem parar!
Na noite daquele dia, silenciosamente entrei no quarto dela e li, de novo a
dedicatória escrita no livro: o escritor referia que a queria voltar a ver, e eu logo pensei
em ir com ela visitá- o. Raquel adorava ler e adorava aquele escritor. Decidi então levá-la,
mas infelizmente, o seu coração não resistiu, e morreu uma semana antes. Quase não
conseguia aguentar tanto sofrimento e eu chorei, chorei e chorei.
Organizei o funeral mais especial que pude para minha princesa e convidei o
escritor para declamar um poesia para ela. António Mota com todo o orgulho apareceu,
leu a mais magnífica poesia alguma vez ouvida e fê-lo com emoção.
A minha princesa estará sempre no meu coração e ainda hoje releio com amor o
seu livro preferido.
Diana Gomes, 6ºE
6. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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Uma menina que sonhava
Dalila era uma menina triste. Estava internada no Instituto Português de Oncologia.
Eu era a sua colega, e vivia o dia a dia de Dalila. Esta sofria de cancro de estômago e os
pais não acreditavam na melhoria. Ela era a menina mais bonita que eu conhecera. Tinha
bochechas rosadas, um nariz perfeito e dois olhos cor de esmeralda. Seu cabelo era loiro
e brilhante como o sol no verão.
Todos os dias Dalila sonhava voltar a ser uma pessoa normal, queria comer, viver
como uma pessoa normal.
Eu estive sempre com ela, em todos os momentos. Vivia no Hospital com Dalila e todos os
dias assistia ao seu sofrimento: via-a a chorar, triste, infeliz, nunca a vi sorrir, nunca vi os
seus dentes. Não sei se eram dentes perfeitos ou se usava aparelho.
Até que chegou o dia, o dia em que o António Mota (diziam que era escritor) foi ao
IPO. Nesse dia ouvi a sua voz doce a sair dos seus lábios carnudos, e vi um milagre! Vi com
os meus olhos molhados de cadela, um sorriso maravilhoso, lindo e único na carinha de
Dalila. Foi um sorriso que marcava a diferença no mundo, no Universo! António Mota
autografou o livro “Sonhos de Natal” . Se calhar foi o dia mais feliz de Dalila.
Passado um ano Dalila, quando dormia, sonhava sempre tornar a estar com pessoa
que a fez sorrir, mas nunca conseguiu concretizar o seu sonho: Com oito anos, Dalila
deixou-me, e também deixou os pais. Dalila foi para um lugar melhor, o Céu, um sítio
onde não pensava no seu problema.
Mas não foi sozinha para o Céu, Dalila levou o seu melhor amigo, o livro “Sonhos de
Natal”, com o autógrafo do seu herói, António Mota.
Ainda hoje sinto aquelas mãos gélidas a tocar-me, a fazer-me festas. Ainda hoje
vejo os seus olhos tristes, e bonitos. Ainda hoje tenho saudades daquela menina!
Eduarda Ribeiro, 6ºE
7. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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Um reencontro mágico
Era noite de Natal. As pingas gordas da chuva deslizavam pela janela como
pequenos diamantes numa dança escorregadia, provocando um doce ruído que acariciava
as minhas letras pequeninas.
Eu estava numa estante cheia de poeira, apreciando o doce silêncio que tomava
conta da sala e observando os meus companheiros que sonhavam com as suas histórias e
sopravam pedacinhos de magia para as páginas uns dos outros.
De súbito, a porta abre-se com um ruído incomodativo e ensurdecedor, que acorda
os outros livros, e entra uma menina de cabelos castanhos como chocolate e olhos
sorridentes da cor do mar. Toca-me com as suas mãos quentes e macias, que me fazem
imensas cócegas na capa lisa, e leva-me para uma belíssima sala de jantar cheia de luzes e
magia, onde se encontrava uma família a jantar alegremente, ao som agradável do tilintar
feliz dos talheres que preenchia aquela noite.
- Mãe, vou só a casa de uma amiga emprestar-lhe o livro “Sonhos de Natal” e volto
para comermos a sobremesa - disse a rapariga.
E, por entre flocos de neve e um frio gélido e cortante, chegamos a uma enorme
casa branca. A menina, com a alegria de ver a amiga, deixa- -me cair e nem queiram saber
o que aconteceu a seguir! Passaram-se horas e horas, longas horas que pareciam não ter
fim, até que um senhor pegou em mim, pobre coitado e todo molhado, e bateu à porta da
casa onde se encontravam as duas amigas.
O que sucedeu, foi tão lindo, tão lindo, que até eu, um livro comum, me emocionei,
deixando para trás pequenas letras que escorriam sobre as minhas páginas macias.
..………….
A rapariga, passados dez anos, reencontra o escritor António Mota. Os seus olhares
cruzam-se como dois corações que se perderam pelo caminho e se redescobrem juntos,
regando as sementes que florescerão numa bonita amizade.
Mariana Pereira, 6.º C
8. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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Memórias
Relembro-me de quando me encontrei com um autor português pela primeira vez.
O seu nome era António Mota! Grande Escritor! Tinha seis anos de idade quando o
conheci e sei de cor e salteado tudo o que aconteceu.
Já estava debaixo daquele teto fazia dois meses. Conhecia aquele local como a
palma da minha mão direita. Que bem me senti quando o meu autor favorito entrou pela
porta do quarto cento e vinte e seis. O meu coração quase parou quando me apercebi
que podia falar (eu, uma miúdo normal e humilde) com o meu ídolo.
Havia uma expressão carinhosa naquele homem que, todavia, parecia chocado.
Parecia que tinha visto um fantasma, digamos. A enfermeira avisara-me que ia ter uma
visita especial. Eu e todos os outros.
Aproximou-se da mesa e pegou no primeiro livro que aí se encontrava. E contou-
nos uma história! Uma linda história que ainda hoje guardo na memória.
Infelizmente, o tempo depressa acabou. António se é que o posso tratar assim, foi à sua
vida deixando-nos apenas com as suas dedicatórias e escrita.
Ainda hoje guardo o livro, o livro que me faz sorrir. E leio, várias vezes seguidas,
tudo o que me escreveu na dedicatória, porque me faz lembrar o dia em que conheci o
grande autor português, António Mota.
“Sonhos de Natal” está hoje na minha estante de livros para que nada me impeça
de voltar a relembrar aquele momento.
Maria Alves, 7.ºA
9. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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Os dez livros perdidos
Há uns valentes anos atrás, um homem, ou melhor dizendo, um escritor chamado
António Mota, ofereceu vários livros, a crianças que sofriam de cancro.
Mais tarde, quando ia no seu tão utilizado comboio, que também pode ser
considerado o seu “local de trabalho”, lembrou-se dessas pobres crianças:
─ O…que…Mas afinal, onde será que estão os livros que lhes dei? – perguntou-se a
si próprio, lembrando-se das dedicatórias que nessas pequenas páginas tinha escrito.
Talvez passado um…dois…ou até se calhar três anos, decidiu viajar pelo mundo,
para os encontrar. Depois de ter ido a todos os países, ilhas, continentes, ainda lhe faltava
descobrir um livro. Pensando bem, ainda lhe faltava um país. Esse país era Portugal, onde
ele passou aquele tempo todo, depois de ter entregado os livros.
“Vasculhou”, “vasculhou” … era como se tivesse a procurar na caixa de brinquedos
que tinha na sua infância. Até que um dia, numa pequena numa pequena vila do
Alentejo, um pequeno rapazinho estrangeiro chamado James Voach. Esta criança era
diferente das outras. Tinha uma capacidade inimaginável para escrever.
Descobriu que era ele que tinha o último livro pois perguntara-lhe:
─ Quem te ensinou a escrever?
─ Ninguém, os meus pais morreram quando eu era pequeno!
─ Então como é que sabes escrever tão bem? – perguntou António Mota.
- “Tava” no IPO porque eu “tive” cancro, quando era pequeno, e nessa altura
recebi um livro… o título era…era “Sonhos de Natal” e baseei-me nesse livro, li-o várias
vezes e ainda continuo a gostar de o ler!
─ Quem escreveu esse livro fui eu e já estava há anos à procura dele! Até cheguei
ao ponto de percorrer o mundo todo, pois gostava de saber o que acham do livro! E já vi
que todos o adoraram!
Passado mais alguns meses decidiu partir, desejando-lhe sorte para a escrita e
muita saúde.
Desde então, este nobre escritor, António Mota, viveu feliz para sempre, pois sabia
que os livros que tinha outrora entregado estavam em boas mãos.
Pedro Frasco, 7ºA
10. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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A Noite de Natal
Quando as portas do elevador se abriram, todos aqueles meninos, todos aqueles
que tinham algo em comum, o cancro, ficaram felizes e entusiasmados com a visita de
António Mota. Mas apenas uma rapariga sobressaia. Uma rapariga tímida, baixa e de
cabelos compridos.
Na hora de entregar os livros ela recusou lê-lo e deixou-o num canto, dizendo que o
queria guardar para o ler no dia certo.
Passaram-se dias, meses e até anos, e aquela rapariga não pegou no livro, ele
continuara naquele canto, numa estante já degradada.
Mais tarde os pais de Joana, que era o seu nome, estavam a passar uma fase
complicada na sua vida, para além do cancro. A sua família estava simplesmente a
degradar-se aos poucos. Após o divórcio dos pais, ela vai viver com a sua mãe.
Foram morar para Lisboa, e com ela levou o seu livro “Sonhos de Natal”.
Mudou de escola, onde toda a gente a olhava de lado, gozando com ela… Joana
passa a refugiar-se num canto, sozinha, onde ninguém a conseguia ver nem ouvir.
Quando chegou a época Natalícia, a mãe de Joana foi a um jantar de Natal com os
seus colegas de trabalho. Joana estava sozinha e tinha agora 18 anos. Encontrou o livro
encostado a outros livros. Sem nada para fazer, pegou nele. Disse para si mesma: “Este é
o momento.” Começou a lê-lo. Cada palavra que lia fazia lembrar-lhe os momentos felizes
que tinha antes de tudo isto. E para ela, tudo o que aconteceu até agora não mudava
nada, pois este momento de leitura substituía todos estes momentos maus e de dor.
Bárbara Vasconcelos, 8.ºE
11. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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Esperança
Olá, o meu nome é Custódio, hoje irão conhecer a história da minha vida, uma vida
que traz consigo sentimentos profundos desde o desespero à esperança. Visto isto, vou
contá-lo.
Neste momento, tenho 34 anos e moro em Florença, Itália, apesar de ser
português. Sou dono de uma das mais renomeadas pastelarias, a pastelaria Mona Lisa.
Sou casado e tenho um filho, sendo o nome da minha bela esposa Carla e o nome do meu
valente “principezinho” Andrea. Nunca estive melhor na vida, porém, esta nem sempre
foi um mar de rosas.
Quando fiz 13 anos de idade, os meus pais, ambos juízes respeitados, deram uma
festa surpresa da qual nunca me irei esquecer. Ainda me lembro daquele momento, o
momento em que a minha vida mudou. Estava eu a preparar-me para cortar a primeira
fatia do meu bolo de aniversário, quando, subitamente, senti-me a desvanecer, cai e
“apaguei-me” completamente. Acordei, num quarto frio e vazio de um hospital, no qual
nunca antes tinha posto os meus pés; ainda me lembro do que visualizei, quando abri os
olhos, os meus pais a chorarem, derramando lágrimas sem parar… Eles abraçaram-me e
melancolicamente me anunciaram:
- “Filho, tu tens leucemia!”
Comecei a chorar. Após esse dia, passaram-se sete meses. Era dia de Natal e nesse
dia recebi um livro magnífico chamado “Sonhos de Natal” escrito por António Mota, um
escritor formidável, do qual nunca me irei esquecer. Este senhor leu-nos a história que ele
próprio escrevera. Após ouvir esta história, ouve uma explosão de luz, fogo e esperança
na minha mente. Este livro contava uma história de amor, que me fez agarrar-me
novamente à vida.
Passaram-se dois anos até sair do IPO, assim se chamava o hospital --e consegui
restabelecer a minha vida, levando sempre comigo o maravilhoso livro “Sonhos de Natal”.
Hoje, aqui estou e entrego-vos a seguinte mensagem: “Nunca desistam!”
José Pedro Agonia, 9.ºD
12. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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Do fim nasceu o início
Naquele momento, parecia o fim. Afinal o que é que umas meras folhas iriam
mudar no meu destino, há muito traçado por alguém sem amor pela vida e por si próprio,
por alguém sem dó nem piedade de me tirar do lugar onde um dia iria ascender e mudar
o destino de outros tantos como eu? Não sei, mas um dia hei de obter resposta, pensava
eu na minha humilde opinião.
Andava revoltado e sempre que o maldito livro me aparecia na frente, o diabo
apoderava-se de mim como se na paz de alma que me caracterizava surgisse o lado negro
e obscuro de “Adamastor”. Um dia, sem esperar, lancei-o ao ar e este abriu-se na página
mais bonita da minha vida. Era rugosa, suave e pequena mas de conteúdo grande e
robusto. No seu interior estava a chave. “Trabalha o fundo”.
Vieram-me à cabeça palavras, ideias, viagens, sonhos que se tinham afirmado no
meio de cancros “pedregulhos” e hospitais “corais”. Ressuscitei.
Olhei a vida com outros olhos e atirei-me de cabeça. No alto do meu voo único
encorajei doentes, ajudei, trabalhei e investi tudo na cura desta maldita doença. E
advinham agora onde me encontro, no paraíso! Refugiei-me no riso e fiz da minha vida
uma piada, daquelas de rir e pedir mais. E o livro? Onde ficou? Nas mãos de tantos outros
sábios que, como António Mota, aparecem, por acaso, e mudam vidas.
Marta Torre, 9.ºC
13. Olimpíadas da Escrita com António Mota
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O meu livro
Recebi um livro,
Não parecia emocionante
nem interessante,
Aos poucos e poucos
fui descobrindo,
todos os seus segredos,
os seus desejos…
Tenho cancro,
e este livro
ajudou-me a perceber
que toda a minha vida
não gira à volta da doença,
que tenho pessoas que me amam,
e isso nunca vai mudar.
Passeio com ele,
brinco com ele,
falo com ele,
desabafo com ele…
Ele é a única esperança,
que tenho neste momento.
Desde que o recebi
a minha vida mudou completamente,
Como se começasse tudo de novo,
como se nascesse novamente.
Com ele sinto-me normal,
sinto-me alegre,
sinto-me feliz,
sinto que essa maldita doença,
nunca se apoderou de mim.
Lara Ferreira, 5.ºA
14. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
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A minha história
Num dia de verão
estava eu todo relaxado,
pega em mim uma mão
e fico logo assustado.
“Para onde me levam?”pensei eu
mas posso agora dizer-vos
foi a coisa melhor
que me aconteceu.
Quando abriram as portas do elevador
fiquei chocado com o que vi.
Esse momento marcou-me de tal maneira,
que nunca mais o esqueci.
Pousaram-me nos braços de uma menina
com um enorme sorriso na cara,
mal lhe toquei senti
que algo se mudara.
Começou a folhear-me,
com interesse de me ler.
Todos os dias, todas as noites
pegava em mim para se entreter.
Surgiu uma doença
que se começou a agravar.
Nunca desisti da minha companheira,
com esperança de a poder voltar a
abraçar.
Enfim, não valeu o esforço
ela acabou por morrer.
Que tristeza a minha
não ter ninguém para me proteger.
Mariana Machado, 5.ºA
15. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
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O livro encantado
O livro encantado não é um simples livro
Chamado “Sonhos de Natal”.
Este livro passou de mão em mão,
De geração em geração.
E não deixa de palpitar no meu coração.
Vou contar- vos o crescimento deste livro.
Onde passou, o que viveu, o que sofreu…
É o melhor livro do mundo,
Até sei onde ele nasceu!
Veio de um escritório
Mas não um escritório normal.
Nasceu num escritório que torna a vida
mais fácil, especial e mágica.
O escritor perdeu-o num parque.
O livro voou, voou e até ao hospital
chegou.
Os meninos sorriram na presença do livro
Seu companheiro, seu amigo!
Suas vidas mudaram para sempre,
Ficaram mais fortes e mais vivos!
Esqueceram-se das doenças,
Na presença de um só livro.
Um dia, o livro desapareceu,
E os meninos tristes ficaram.
Seus desejos tinham sido realizados
Mas, naquele momento,
o mundo dos sonhos evaporou-se.
Dez folhas saíram do livro
E a África ele chegou!
Um menino o encontrou
E com ele ficou!
Passado dois dias,
o menino foi brincar para o rio
O livro escorregou,
E no rio caiu:
Nele navegando dias a fio.
Até que chegou às minhas mãos.
Só tinha uma folha, toda amachucada,
Falava sobre o amor,
Adoro essa folha, minha folha tão especial!
Hoje guardo-a com amor,
Num cofre de prata.
Minha querida folha,
Minha folha amachucada!
Escrevi outro livro,
Que se tornou famoso!
Agora sou escritora,
graças a esse livro encantando.
Nicole Silva, 5.ºA
16. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
16
A minha vida corrente
Portas se abrem.
Quem será?
Uma silhueta misteriosa,
em mim pega.
Flores brotando,
nas páginas em pó
já não estou tão só
Folheia, as minhas
páginas sem fim.
E de repente, algo
se desenha no seu belo rosto.
Um sorriso de orelha a orelha
aparece, vira a página
e uma lágrima de saudade cai.
A vida corre sorridente
Parece uma corrente
Que nos leva de trás
para a frente.
O silêncio eterno
me faz recordar
a bela vida que tive.
As lágrimas, que
em cima das minhas folhas caíram,
os risos que me deram
vontade de rir
A bela vida que vivi
e a bela vida que tenho.
Ana Catarina Gonçalves, 6.ºC
17. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
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Vida de Livro
Pó, solidão e pó
são o que me resta
nesta prateleira tão só.
Recordo agora com saudade
as amigas que ela lia.
Quando chegou a minha vez,
tanta ansiedade sentia.
Sempre a avançar com cuidado
para aquele colo encantado,
desde há muito temido
e por outro lado adorado.
Ao olhar para aqueles olhos
indefesos e brilhantes,
que me fizeram perceber,
que existem muitas estantes.
De lado se põem
todo o tipo de coisas.
Pessoas e livros
fizeram-me perceber
que sem coração
é só nascer e morrer.
João Pedro Rocha, 6.ºC
18. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
18
Na companhia de um livro
Era difícil permanecer quieto,
Mas “lá” ainda era pior.
Semanas a fio debaixo daquele
melancólico teto.
Preso a uma cama de hospital…
Preso entre quatro paredes sufocantes…
Gostava que tudo fosse como dantes…
Tinha uma vida normal,
Era só eu, o Leonardo,
Nada de sobrenatural.
Mas esta doença veio para estragar.
É, por causa dela vim cá parar!
Houve um dia, um dia que-
Sempre me hei de lembrar…
A minha mãe estava a meu lado,
E dizia-me que sempre iria estar.
Avisaram-me de uma surpresa.
De muito não estava a esperar,
Uma pequena…
Uma simples visita, talvez?
E daí, vi-o entrar,
Um homem baixinho.
Ao ouvir o seu nome
Dos seus livros me fui lembrar.
António Mota aproximou-se
E claro reparei no seu olhar!
“Ele está com pena de mim!”
Não parava de pensar.
Sentou-se e leu-me um livro.
Agradeci. Pousou-o na mesa de cabeceira,
Despediu-se com um sorriso
e foi-se embora,
Numa passada ligeira.
O livro permaneceu a meu lado.
Li-o, mais do que uma vez
As palavras já me saíam da boca, de cor…
Passavam-se dias e semanas,
Passavam-se meses e anos.
Felizmente melhorei,
A minha doença deixou-me descansar!
Há três meses, dezanove anos completei.
Mas há mais uma coisa que não contei.
Por mais estranho que pareça,
Continuo a ler aquele livro!
Acho que só me safei
Graças a ele…
E se alguém me perguntar
“o que é feito do livro?”
Responderei sem medo:
“O livro está na minha mesa de cabeceira,
Não é brincadeira!”
Beatriz Souto, 7.ºA
19. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
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Os segredos do mar
Passaram muitos anos
e António deu-se a recordar
aquela imagem constrangedora
que no IPO viu passar.
Ele sentiu-se a tremer
nem sabia como havia de falar
estar entre aquela miudagem doente,
era difícil de se concentrar
para as histórias narrar.
Mas ele gostou de com eles partilhar
a sua nova obra de Natal
que escreveu ao sabor do mar
na areia das praias do Funchal.
António sentou-se no seu cadeirão
e pegou no papel para escrever
mas não conseguiu descansar
enquanto não tivesse notícias
de um daqueles livros
que há dez anos gostou de oferecer.
Com esperança de um dia
os voltar a enxergar
regressou ao IPO
com um sorriso daqueles,
que só ele sabe mostrar.
Quando lá chegou
viu uma jovem a chorar
perguntou-lhe o que se passava,
o que tinha acontecido,
mas ele não conseguiu se expressar.
António limpou-lhe as lágrimas
e conseguiu-a acalmar
deu-lhe um beijo no rosto
e tornou a questionar
qual a razão daquele a choramingar
Ela abraçou-o feliz
e explicou-lhe o porquê de chorar
ele ouviu-a atentamente
e logo percebeu sem hesitar.
Ela estava sorridente
e a sua pele brilhava
o escritor perguntou-lhe
onde o seu livro estava
A jovem respondeu-lhe
que o tinha perdido
e ele sorriu encantado.
A moça não o compreendeu
pensou que ele ia ralhar
e levou-a até ao mar.
Eles foram passear
e António viu ao longe
algo a voar.
Aproximou-se daquele mistério
e o espanto foi total
ali estava o livro, autografado
em plena noite de Natal.
Daniela Maia,7.ºC
20. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
20
Recordação
Tenho hoje 30 anos
mas ainda me recordo
daquele dia no hospital
que salvou a minha vida,
pelo menos assim acredito
que foi a história que me salvou
O escritor me deu fé
E a esperança retornou.
Daquela voz ainda me lembro
Era doce e macia
e com aquele sotaque
eu até me ria.
O livro até hoje
ainda o tenho
comprei uma caixa
para o guardar junto do
livro do Pedro Seromenho.
Hoje conto aos meus filhos,
como eu sobrevivi
com a ajuda daquele livro
a doença perdi.
Se me perguntarem um desejo
já sei qual pedir
reencontrar o António Mota
para ele me ver a sorrir.
Hoje sou saudável
a doença já não me assombra
o livro ainda o leio
para não esquecer António Mota.
É o que estou a dizer
pode parecer uma anedota
mas eu acredito
que sobrevivi graças ao livro
“Sonhos de Natal!”
Luís Vilar, 8.ºA
21. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
21
Tudo passa, nada é impossível
Estava a doer,
A doer demasiado,
Só me lembro de chegar lá,
E…
Acordei,
Encontrava-me numa cama de hospital,
Disseram-me que tinha cancro.
Chorei, chorei muito,
Eu ia morrer,
Não podia ser possível.
Automaticamente desisti de tudo,
Desisti de viver,
Desisti de lutar pela vida.
Um dia, um dia especial,
No dia de Natal,
A minha Mãe deu-me um livro.
Não o iria… ler.
Estava aborrecida, farta daquela cama,
Olhei para o lado e ali estava ele.
Decidi pegar no livro,
Abri-o e comecei a lê-lo,
Do nada,
Os dias começaram a fazer sentido,
Tinham finalmente cor.
Decidi que iria lutar contra aquele cancro,
Não iria desistir,
Não iria deixar que ele vencesse.
E a cada dia que passava, estava cada vez
melhor.
Agora estou aqui,
Viva, livre de cancro,
Feliz e junta de pessoas que amo.
Catarina Monteiro, 8.ºE
22. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
22
Folhas Sábias
Naquele dia, um livro chegou
às mãos de uma frágil criança,
já sem cabelo nem forças
a quem a esperança já faltava.
Diziam que seria impossível
Que lutar era inútil
Mas ela tudo ignorou,
e contra a corrente remou.
Enfim, ficou bem
derrotou o terrível monstro,
que contido nela estava
e que acabou por ser vencido.
O rapaz sempre com o livro anda
olha para ele comovido,
já a chorar sobre aquelas velhas folhas
e lê o que lá escrito está:
“Deus proteger-te-á, nunca te esqueças.”
O rapaz, fez-se homem e casou
Tem dois filhos e ainda lhes conta
De como o funeral antecipado tinha,
Quando pequeno e inocente era…
Fica aqui a lição,
de não desistir em caso algum.
Basta acreditar e, mais tarde,
poder contar com o coração cheio
a história de quem o medo superou
e, por fim a alegria alcançou…
Pedro Oliveira, 11ºA
23. Olimpíadas da Escrita com António Mota
2014-1015
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Leitores Especiais
Onde estará, onde estará?
Longínquo deve estar
Imaginei em dez anos te ver
Voaste com o meu pensar
Revivi o que é sofrer
Onde estará, onde estará?
Natal que não vou esquecer
Ao de cima o meu medo ergueu
Tanta gente jovem a sofrer
E eu sem nada poder fazer
Onde estará, onde estará?
O meu livro, o encantei
Só to quis oferecer
O meu amor te mostrei
Para que o possas receber
Onde estará, onde estará?
Uma coisa quero que percebas
Amar é o oposto de sofrer
Por isso nunca penses no que carregas
Mas pensa no que és por ser…
Onde estará, onde estará?
Dei-te esse livro não como carga
Faz uso dele para o teu sonho
Ele vai-te guiar como um anjo da guarda
Até no teu pesadelo mais medonho.
Leonardo Torres, 11ºA