1. Guia O ESTADO DE S.PAULO Nº315
COM
1Á16
P GS
.
Este suplemento
não pode ser vendido
separadamente
DE 19/10 A 25/10
uma vez...
De clássicos infantis a contos
eróticos, a narração de histórias
se espalha pela cidade
As contradições do 30º Panorama de Arte Brasileira. Pág. 102
2. %HermesFileInfo:-8:20071019:YYQ::
Capa NIELS ANDREAS/AE
No Centro da Cultura Judaica, Kelly Orasi encanta crianças e adultos
Baú
de histórias
Saiba como uma boa história nas mãos de um
bom contador se transformou em ótimo
programa cultural na cidade
R
egina foi professora de Ana zem parte de um movimento que vem
Luísa, que é amiga de Ilan, que crescendo, principalmente, nos últimos
conhece Kelly. Todos os dias três anos, e que estendeu seus tapetes
eles saem de casa para contar mágicos também aos adultos.
histórias. Espere, mas quem não sai de Não por acaso, dois eventos do gêne-
casa para contar histórias? No trabalho, ro acontecem simultaneamente na cida-
contamos a história de casa; em casa, a de: Te Dou Minha Palavra – Cultura
história da novela; para o marido, a histó- Oral Educação, a partir de hoje (19), no
ria dos filhos; e há milhares de anos, todo Itaú Cultural, e o 3º Festival A Arte de
mundo conta histórias. Então, o que Regi- Contar Histórias (leia mais na pág. 7),
na, Ana Luísa, Ilan e Kelly têm mesmo espalhado em 28 Bibliotecas Munici-
em comum? Todos fizeram cursos, se pais. Em ambos, palestras, oficinas, espe-
especializaram, evoluíram nesta técnica táculos e roda de contos preenchem
e prática, e hoje representam o que há de uma programação intensa, que demons-
melhor na arte da tradição oral. Eles fa- tra como a ‘contação’ está sendo valori-
8 Guia O Estado de S. Paulo 19/10/07
3. %HermesFileInfo:-9:20071019:YYQ::
Capa
zada. Identificar-se com algum persona-
gem de um conto ou conseguir visualizar
uma pessoa querida em um simples pe-
daço de pano demonstra como todas as
pessoas estão ligadas com as histórias.
No fundo, mesmo sem ser um contador
oficial, todo mundo é um pouco narra-
dor. As histórias estão dentro das pes-
soas – tanto que toda vez que gostamos
de algo que ouvimos ou conhecemos,
queremos rapidamente reproduzir os
sentimentos e os fatos. Regina Machado
Nas páginas seguintes, reproduzimos
três histórias da tradição oral, para que Diz a lenda que, certa vez, uma meni-
o leitor tenha uma idéia da riqueza que é na bem pequena precisou viver uma
construir o enredo ‘ouvindo’ uma boa história que ela não queria que fosse
narrativa. Mas acredite: ao vivo, a expe- dela. Um dia, porém, ela cresceu e
riência é muito mais intensa. decidiu inventar sua própria histó-
Nesta arte, a palavra é única para ria. Descobriu mais: que a narrativa
cada ouvinte e ninguém consegue imagi- tinha o poder de despertar novas
nar exatamente as mesmas coisas: com histórias também em quem as ouvia.
poucos elementos visuais, a voz e alguns E foi assim que, há quase três déca-
recursos gestuais são suficientes para das, a menina Regina Machado (hoje
dar todo o sabor à história. com 57 anos) tomou gosto pela arte.
(Fernanda Araujo e Em 1998, criou o primeiro grande
Thais Caramico) evento do gênero em São Paulo: ‘Ca-
ravanserai’, no Itaú Cultural. “Conto
histórias para me encontrar com as
pessoas num espaço encantado on-
de vemos juntos a beleza, às vezes
horrível, dos seres humanos”, expli-
ca a escritora e narradora, que con-
cedeu ao Guia sua história verídica
por email, já que está no Canadá em
três eventos com mestres-narrado-
res de diversos cantos do mundo.
Quer contar uma história? resolver o problema: o silêncio e a repe-
tição de palavras. Por exemplo, faça
Não há fórmulas mágicas para contar uma pausa, mude sua expressão e deixe
histórias, mas alguns elementos aju- o ouvinte ainda mais curioso (enquanto
dam no sucesso da narrativa: as palavras não vêm);
3escolha uma história que você goste e 3respire de acordo com o ritmo da his-
tenha vontade de compartilhar com tória e não esqueça de envolver as pes-
outras pessoas; soas com o olhar;
3conheça bem a narrativa (não impor- 3permita que os ouvintes possam ima-
ta se você viveu, ouviu ou leu a história); ginar sua narrativa. Cuidado com adjeti-
3não tenha a intenção didática de apli- vos e muitos detalhes que cansem;
car uma lição de moral, pois o que vale é 3seja um bom ouvinte, leia bastante e
o prazer de provocar a reflexão; encontre seu próprio estilo. A simplici-
3deu branco? Duas técnicas podem dade ainda é o melhor recurso.
19/10/07 O Estado de S. Paulo Guia 9
4. %HermesFileInfo:-10:20071019:YYQ::
Capa Histórias pela
cidade
Bumba-Meu-Boi e Outras
Histórias Com Stela Barbieri,
no projeto semanal ‘Histórias
Contadas’. Sesc Santana. Av.
Luiz Dumont Villares, 579,
Santana, 6971-8700. Ama-
nhã (20), 16h. Grátis.
Contação de Histórias em
Inglês Com Sosô Uribe e seus
‘big books’. Livraria da Vila –
Ilan Brenman
Lorena. Al. Lorena, 1.731,
Jd. Paulista, 3062- 1063.
Dom. (21), 16h/17h. Grátis.
Eu sou: escritor, com 13 livros publi-
cados, doutorando em Educação, e
Degustação de Histórias –
Noite Erótica e Noite
formador de professores (e de quem
Árabe Com Ilan Brenman e a quiser aprender a contar histórias)
chef de cozinha Carole Crema.
‘Noite Erótica’. Livraria da Tenho: 34 anos
Vila – Casa do Saber. Conto histórias desde: 1991
R. Dr. Mário Ferraz, 414,
3073-0513. 6ª (19), 19h45. Gosto de: contos da tradição oral
R$ 45. ‘Noite Árabe’. Livra-
ria da Vila – Vila Madalena.
universal
R. Fradique Coutinho, 915, Utilizo recursos como: gestos con-
3814- 5811. 5ª (25), 19h45.
R$ 40. Inscrição antecipada.
tidos, leve mudança na voz, olhares
expressivos e, principalmente, uma
No Fundo do Mar Com Lu
Martinez. Livraria da Vila –
boa história
Lorena. Al. Lorena, 1.731, Minha história preferida é: ‘A Do-
3062- 1063. Amanhã (20),
16h/18h. Grátis.
bradura do Samurai’, de minha pró-
pria autoria (para crianças)
Histórias e Destinos Ilan
Brenman sugere narrativas a Qual o seu segredo para conquistar o públi-
partir de cartas de tarô. Mas,
não se engane, ele não virou P: co com uma boa história?
vidente. Livraria da Vila –
Vila Madalena. R. Fradique
Coutinho, 915, 3814- 5811.
Dia 26, 20h/21h. Grátis.
R: A simplicidade: o corpo desaparece para a
história aparecer. Meu trabalho encanta pois
é simples e as pessoas descobrem que também são
capazes de fazer isso.
As Irmãs e o Polvo Aventu- Já deu ‘um branco’? O que você faz quando
ras no mar, narradas pela
autora Karin Pati, com partici-
P: isto acontece?
pação do músico Kenura Livra-
riaSobrado.Av. Moema,493,
Moema,5052-3540.Ama-
R: Sabe o caipira que enrola o cigarro e lenta-
mente conta a história? Acha que ele é bobo?
A pausa é a técnica do cara para buscar novos ele-
nhã(20), 17h.Grátis.
mentos. Outro recurso é a repetição: ‘Começou a
Sipurim Em ‘Histórias e Poe- correr, a correr, a correr’. É repetir até lembrar.
mas de Ninar e Sylvia Orthof’,
Célia Gomes e a cantora Tânia
Marílis contam, entre outras P: Como você lida com os contratempos que
acontecem entre os ouvintes?
coisas, sobre um dente que
cai. Centro de Cultura Judai-
ca. R. Oscar Freire, 2.500,
R: Uma vez, um menino grudou na minha perna
e começou a berrar: ‘Você não vai contar his-
tória’. Balancei a perna com o menino perdurado,
Sumaré, 3065-4333. Dom.
(21), 11h. Grátis (ingresso 1h olhei para o público e gritei: ‘Cadê a mãe desse meni-
antes). E, prepare-se, dia no?’ E então surgiu ali uma nova história.
27, Ana Luísa Lacombe con-
ta ‘A Árvore Generosa’.
10 Guia O Estado de S. Paulo 19/10/07
5. %HermesFileInfo:-11:20071019:YYQ::
‘O Imperador e a Águia’
Capa
Lenda asiática, narrada por Ilan Brenman.
Entre parênteses, entenda como ele contou
Há muito, muito tempo, existia um
graaaande imperador chamado
Gêngis Khan. Um dia, saiu para caçar
com escravos, amigos e a águia que
ele amaaaava (pausa e olhar terno)
Após um dia inteiro caçando, o
imperador pára e pensa (pausa e cara
de quem está pensando): quero ficar
sozinho. A águia entende (respira),
levanta vôo e vai embora
Gêngis Khan percebe que esqueceu água
(tom preocupado). Começa a correr e avista uma
rocha. Pega seu copo (pausa), gota por gota, e
leva à boca. De repente, aparece a águia
(assustado) e derruba o copo (estalo com a mão)
Pela segunda vez, ele aproxima o copo
MARCOS MENDES/AE
e a águia, com um vôo rasante, derruba
o copo. Com o coração cheio de raiva
(bravo), ele fala: ‘Da próxima vez te
mato’ (pausa). Eu juro!
Desta vez, o imperador pega o copo
com uma mão e com a outra esconde
um punhal. Com um vôo rasante, a águia
derruba o copo, mas ele consegue pegá-la
pelo pescoço (mais ligeiro) e cravar o pu-
nhal em seu peito
A águia cai (pausa). Sangue pelo chão
(tom de suspenso). ‘Eu te falei’ (apon-
ta para ela com ódio, voz agressiva).
Ainda com sede, pensa: ‘A água que
escorre pela rocha deve vir de cima
Então, o imperador dá a volta
(tom sereno e tranqüilo), sobe na
montanha, e lá avista...
O fim da história você só vai conferir no livro ‘As Narrativas Preferidas de
um Contador de Histórias, de Ilan Brenman, Ed. DCL (R$ 25,90).
19/10/07 O Estado de S. Paulo Guia 11
6. %HermesFileInfo:-12:20071019:YYQ::
Capa Contações
de palco
Ana Luísa Lacombe
Tem Gato na Tuba
Eu sou: atriz, autora do livro ‘Acen-
Braguinha sem marchinhas. der um Fogo - O Jogo do Teatro na
Histórias do compositor cario-
ca, da antiga coleção disqui-
Escola’ e cantora (mas só em peças
nhos. Dir. Hugo Possolo. musicais)
Espaço Parlapatões.
Pça. Roosevelt, 158, Conso-
Tenho: 44 anos
lação, 3258-4449. Sáb. e Conto histórias desde: 2002
dom., 16h. R$ 20. Até 4/11.
Gosto de: contos populares e até
mitos indígenas, mas prefiro textos
orientais
Utilizo recursos como: lixo reapro-
veitável, tecidos, violão e, às vezes,
pandeiro
Minhas histórias preferidas são:
‘Taibele e seu Demônio’, de Isaac
A Batalha dos Encantados Bashevis Singer, e o conto tibetano
A escolha certeira de um
ótimo conto africano já vale o ‘O Quadro de Pano’
ingresso para conferir a
disputa entre os Orixás. Em uma roda de amigos, você sempre é a
Dir. Péricles Rággio.
CCSP. R. Vergueiro, 1.000,
P: que conta mais histórias?
Paraíso, 3383-3422. Sáb. e
dom., 16h. R$ 10. Até 28/10. R: Talvez. Na verdade, quem sempre espera que
eu conte alguma história é minha família.
Então costumo preparar algum texto para as fes-
tas de fim de ano, casamentos e outros encontros.
No geral, só falo quando percebo que as pessoas
estão dispostas a ouvir o que eu tenho a dizer. Se
isto acontece, começo a falar e de repente já estou
gesticulando e imitando vozes. Caso contrário, fico
na minha, pois é muito chato ter de convencer al-
guém a ouvir o que você tem para falar.
Por que a narração de história tem se torna-
Quem Conta Estrela
Conta Estória
P: do cada vez mais comum?
Dança, brinquedos e brincadei-
ras a serviço de lendas indíge-
nas. Dir. Tadashi Kawano.
R: Com certeza por causa da necessidade em
ter mais contato com as pessoas e com as
coisas simples. Em uma sessão de contos, o olhar
Teatro Cacilda Becker (212 do ator para a platéia e a forma como a história
lug.). R. Tito, 295, Lapa,
3864-4513. Sáb. e dom., entra na imaginação de cada um é muito importan-
16h. R$ 10. Até 28/10. te. É algo que se perdeu com o tempo.
12 Guia O Estado de S. Paulo 19/10/07
7. %HermesFileInfo:-13:20071019:YYQ::
‘Foi o Ovo? Uma Ova!’
Capa
História de Sylvia Orthof, narrada Ana Luísa La-
combe. Entre parênteses, entenda como ela contou
Um dia, gorda galinha, chamada
Sinhá Penosa, teve um ovo, muito novo, de
nome Claro Gemão (aumenta o tom da voz e
valoriza õ ‘ão’), meio metido a machão
(expressão irônica na hora de falar ‘machão’) Esse ovo, vê se pode (indignação), nasceu
usando bigode! (em um ovo de isopor, ela
desenha olhos e bigode). Ainda recém-nas-
cido, com ares de galo (peito estufado
para falar do ovo)...
...berrava o desordeiro: ‘Sou o rei do galinheiro.
Falo, grito, não me calo, o ‘vovo’ nasceu primeiro!
(com voz irritantemente estridente, de um ovo que
nem sabe falar ‘ovo’ (diz ‘vovo’), mas já se acha o
valente). Então ele se gabava e repetia: ‘O ovo nas-
ceu primeiro (com voz mais irritante ainda), falo,
grito, não me calo, eu canto igual ao galo (cocori-
cóóóó), vejam só, ouçam meu cocoricóóóó
Veio o galo e sua crista (peito estufado
e passos largos): ‘Sou o rei do galinheiro, pal-
madas... pra que te quero? Já chega de lero-le-
ro, vou bater no teu traseiro, pra ver quem
nasceu primeiro! (pausa, voz grossa, porém
suave, quase rouca)
MARCOS MENDES/AE
A galinha senta em cima do tal ovo esgoelado
(sobrancelhas levantadas e pausa): ‘Insisto e
repito que o ovo nasceu primeiro! Sou o rei do
galinheiro (grito ardido como nunca). Mas é
noite lá no terreiro, todos dormem num só
ronco... (pausa). De repente (suspense)...
eis um estalo! A casca do ovo quebra (crec)
E sai um pinto pelado, muito do esganiçado,
dizendo: ‘Antes de ser a galinha, minha
velha foi o ovo! (agora com voz mais firme,
porém não menos irritante)
Passa sol e passa lua, passa o relógio maluco com seu
passarinho cuco. Foi o ovo, foi a galinha (mexe o corpo
de um lado para o outro, como um pêndulo de um relógio
e a voz repete em tom de reflexão). Foi a galinha, foi o
ovo, foi o ovo, foi a galinha, ou a galinha, ou o ovo? Quem
foi que nasceu primeiro? (olhar fixo para o ouvinte)
Ouça o fim da história ao vivo na Biblioteca Álvares de Azevedo (Pça. Joa-
quim José da Nova, s/nº, Vila Maria, 6954-2813. 4ª (24), 13h) ou na Bibliote-
ca José Paulo Paes (Lgo. do Rosário, 20, Penha, 2295-9624. 5ª, 16h). Grátis.
19/10/07 O Estado de S. Paulo Guia 13
8. %HermesFileInfo:-14:20071019:YYQ::
Capa Kelly Orasi
Se você é tímida, como conse-
P: gue viver contando histórias
para os outros?
R: Só falo sobre o que tenho neces-
sidade de contar, alguma histó-
ria que eu gosto muito ou, às vezes,
presenciei. Nesse momento a timi-
dez fica de lado, pois sinto que estou
compartilhando algo com as pes-
Eu sou: atriz, manipulado- soas e ainda conseguindo dizer coi-
ra de bonecos e filha de sas que nas minhas próprias pala-
vras não teriam nenhum efeito.
contador de causos Um bom contador de
Tenho: 36 anos
Conto histórias desde:
P: histórias é sempre lembrado
pelas pessoas?
1998
Gosto de: contos de fa- R: Nem sempre. O que acontece
é que boas histórias sempre
são lembradas por quem as ouve.
das, populares, mitos indí- Eu costumava contar histórias no
genas e fábulas. condomínio em que eu morava, e
Utilizo recursos como: um dia encontrei duas crianças de lá
tecidos, objetos domésti- que não me reconheceram. Mas
cos e violão quando a mãe dessas meninas disse
Minhas histórias prefe- quem eu era, na hora elas começa-
ram a reproduzir o texto todo que
ridas são: Cinderela e ou- eu tinha contado, lembrando de to-
tros contos de fadas (os dos os detalhes. Foi quando eu per-
originais, e não as versões cebi que aquilo era o que realmente
de Walt Disney) importava.
CONTANDO E APRENDENDO
PALESTRAS, OFICINAS E HISTÓRIAS
Mitos, fadas e heróis estão espalhados ria, às 11h; e ‘Era Uma Vez...e Não Eram
pela cidade. Não por acaso, o mês das Duas e Nem Três’, de As Meninas do
crianças é comemorado com o 3º Festi- Conto, às 17h. A programação continua
val A Arte de Contar Histórias, em 28 em novembro com ‘As Velhas Fiandei-
bibliotecas (www.bibliotecas.sp.gov. ras’, também das ‘Meninas’, no dia 3, às
br ou 3334-0001, ramal 2436), e tam- 11h, e com ‘Moio de Pavio’, de Regina
bém no Itaú Cultural (Av. Paulista, Machado, no dia 4, às 17h.
149, 2168-1700) com o Te Dou Minha Bibliotecas – Hoje (19), na Bibliote-
Palavra. Confira alguns destaques. ca Monteiro Lobato (R. General Jar-
Itaú Cultural – Na 3ª (23), às 19h30, dim,485, V.Buarque, 3256-4122) have-
Ilan Brenman fala sobre o mito de con- rá Cia. Prosa dos Ventos com ‘As Melho-
tar histórias. No dia 27, às 11h, o Grupo res Histórias de Todo o Mundo’, e ama-
Faz e Conta – de Ana Luísa Lacombe – nhã, na Raimundo Menezes (Av. Nor-
mergulha nas lendas da natureza. No destina, 780, São Miguel Paulista,
dia 28 haverá ‘O Rei que Ficou Cego’, do 6297-4053), a Cia. do Bafafá com ‘Reci-
grupo Os Tapetes Contadores de Histó- clando Histórias’, às 13h.
14 Guia O Estado de S. Paulo 19/10/07
9. %HermesFileInfo:-15:20071019:YYQ::
‘A Festa no Céu’
Capa
História popular, narrada por Kelly Orasi.
Entre parênteses, entenda como ela contou
(Aquecimento da voz como se fosse entrar
ao vivo em um programa de rádio) Certa vez,
(pausa) haveria uma festa láááá no céu. E
claro que para se ir a uma festa como essa,
era necessário saber? (pergunta para o ou-
vinte responder) Voar!
MARCOS MENDES/AE
Na época não existia balão, nem avião.
Então o sapo, o mais festeiro do pedaço,
bolou um plano. Vocês acham que eu vou
perder uma festa dessa? É ruim, hein?!
(com voz grossa, andando para os lados
com as pernas abertas e um certo tom
de... malandragem)
Então ele se escondeu na viola do urubu, que
vôooouuuu... (uuuu) rumo ao céu. Animados,
todos cantavam: ‘Não te esqueças, meu
amor, que quem mais te amou fui eu...’ (voz
de galã de cinema para a letra de Diana)
Empolgado, o sapo saiu do violão, dançou forró com a
dona marreca, um tango com a dona garça, apresentou o
desfile de fantasias das araras... Comeu, bebeu, namorou
e se divertiu a valer (incisiva para mostrar que ele apro-
veitou meeeesmo antes de voltar para dentro da viola)
Sabe como é que é, né? (pausa para indignação).
O sapo exagerou um pouco nas coxinhas e encheu a
pança de refrigerante quente. Ele ‘tava’ dentro da viola
quando (suspense) de repente (mais suspense) o urubu
ouviu um barulho estranho (pum)... e mais outro (pum,
pum)... e mais outro (pum, pum, pum)
Desconfiado, o urubu sacudiu o violão e o
sapo caiu no chão com o corpo todo amassado
(braços abertos, caretas, olhos esbugalhados
para mostrar que ele se esborrachou). Mas não
pense que o sapo perdeu seu espírito festivo, não.
Muito pelo contrário (balança a cabeça de um
lado para o outro). Mesmo com toda sua feiúra, o
sapo se enfiou em outra viola e...
O fim da história você vai saber no Itaú Cultural
(Av. Paulista, 149, 2168-1700. 27/10, 17h).
19/10/07 O Estado de S. Paulo Guia 15