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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                            24
              (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 3,
                       intitulado Pessoa já é rede)




                       Pessoas são portas

“Toda pessoa é uma nova porta que se abre para outros mundos”

Pessoas são portas. Abrem caminhos. Na verdade, são caminhos. Atalhos
entre clusters. Pontes. É sempre por meio de uma pessoa que podemos
interagir com quem está em outros mundos.

Isso significa que os interworlds são realmente as pessoas, não um novo
ambiente tecnológico, mas um novo ambiente social com novos recursos
tecnológicos. Esta é uma típica compreensão-fluzz: pessoa não é o
individual e sim o social. Surpreendentemente, em mundos altamente
conectados as novas internets são... as pessoas!
Não, não é somente uma imagem poética. É uma nova compreensão das
potencialidades humanas. Pessoas interagindo são seres humanos. A partir
de certo grau de interatividade, são organismos sociais, quer dizer,
superorganismos humanos.

Quando a tecnologia fornecer os meios para manter as pessoas
continuamente conectadas e para acelerar a interação, ela o fará a partir
dessa possibilidade social. Aliás, foi assim que nasceu a velha Internet:
como percebeu Castells, sua estrutura interativa só foi projetada assim
porque as pessoas que a projetaram a projetaram assim (2). E as pessoas
que projetaram a Internet só a projetaram assim – com possibilidade de
interatividade – porque havia tal possibilidade social. Da mesma forma
estão nascendo as novas internets: seja com o aperfeiçoamento dos
dispositivos móveis interativos, seja com implantes bio-eletrônicos ou
cibernéticos, enquanto a topologia da rede for mais distribuída do que
centralizada não produziremos borgs, mas gholas-sociais.

Há sempre um risco. O risco de ser borg. A fronteira entre um borg e um
ghola-social é móvel, nebulosa e quase sempre invisível. A hierarquia
produz borgs. As redes humanas distribuídas geram gholas-sociais. Mas a
maioria dos padrões de interação se configura no intervalo entre
centralização máxima e distribuição máxima.

Evitar o risco é refugiar-se na vida individual, escolhendo racionalmente as
interações, sendo seletivo nos relacionamentos, fechando-se ao outro. Esse
é o fracasso de todas as chamadas “pessoas de sucesso”. Fecham-se à
interação com o outro-imprevisível e, ao fazer isso, a despeito de serem
muito conhecidas, obstruem conexões com a nuvem que as envolvem,
desatalham clusters (ao se recusarem a servir como pontes), excluem
outras pessoas do seu espaço de vida e simultaneamente se excluem de
outros mundos, isolando-se do superorganismo humano e deixando de
contar com uma parte (justamente aquela parte inusitada, que os
marqueteiros, os políticos profissionais e os psicólogos sociais tanto
procuram e não conseguem encontrar) das imensas potencialidades do
social.

São raríssimas as pessoas de sucesso que se deixam abordar por qualquer
um do povo. Seus endereços, e-mails e telefones são mantidos em sigilo.
Seus ambientes de trabalho são protegidos por porteiros, agentes de
segurança, secretários e assessores. Seus sites e blogs são fechados à
comentários ou mediados. Sua participação nas mídias sociais é sempre
para usá-las como broadcast, para fazer relações públicas e propaganda de
si-mesmas (para ficarem mais famosas e auferirem os benefícios



                                     2
econômicos, sociais e políticos conferidos diferencialmente a quem alcançou
tal condição).

Isso acaba se manifestando no que acreditam que seja sua vida pessoal,
como indivíduos, supostamente autônomos, tão importantes que não
podem ficar vulneráveis aos paparazzi do relacionamento. Como
conseqüência começam a desenvolver aquela sociopatia mais conhecida
pelo nome de fama. Na verdade ficam doentes por defict de interatividade.

Quem não quer ser porta, não acha caminhos. O sucesso é o melhor
caminho para perder caminhos. A perda de caminhos é também uma
medida de não-rede, ou seja, uma expressão do poder. A contraparte de
querer ser muito importante é a falta de importância para a rede (e não
importa para nada se essas pessoas de sucesso têm milhares ou milhões de
followers nas mídias sociais mais freqüentadas ou se seu blog tem milhares
ou milhões de pageviews).

E o risco? Bem, nos Highly Connected Worlds a pessoa é compelida a correr
o risco, a fluir com o curso. Não pode se proteger, se sedentarizar em seu
mundo, se agarrar às coisas para tentar permanecer como é ou a ser mais-
do-mesmo (do que já é) em vez de surfar nos interworlds, navegar, ser
nômade, fluzz.

“Se não posso achar o caminho farei um”, escreveu Sêneca (3). Nos novos
mundos-fluzz, seria o caso de dizer: como não há caminho, serei um (uma
porta para outros mundos).




                                    3
Notas

(2) CASTELLS, Manoel (2001). A Galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os
negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

(3) Trata-se de uma tradução forçada do provérbio “Viam aut aut faciam inveniam”
cuja localização não foi possível determinar. Cf. a bibliografia de SENECA, Lucius
Annaeus (c. 3 a. E. C. – 65) em:

<http://www.egs.edu/library/lucius-annaeus-seneca/biography/>




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  • 2. Não, não é somente uma imagem poética. É uma nova compreensão das potencialidades humanas. Pessoas interagindo são seres humanos. A partir de certo grau de interatividade, são organismos sociais, quer dizer, superorganismos humanos. Quando a tecnologia fornecer os meios para manter as pessoas continuamente conectadas e para acelerar a interação, ela o fará a partir dessa possibilidade social. Aliás, foi assim que nasceu a velha Internet: como percebeu Castells, sua estrutura interativa só foi projetada assim porque as pessoas que a projetaram a projetaram assim (2). E as pessoas que projetaram a Internet só a projetaram assim – com possibilidade de interatividade – porque havia tal possibilidade social. Da mesma forma estão nascendo as novas internets: seja com o aperfeiçoamento dos dispositivos móveis interativos, seja com implantes bio-eletrônicos ou cibernéticos, enquanto a topologia da rede for mais distribuída do que centralizada não produziremos borgs, mas gholas-sociais. Há sempre um risco. O risco de ser borg. A fronteira entre um borg e um ghola-social é móvel, nebulosa e quase sempre invisível. A hierarquia produz borgs. As redes humanas distribuídas geram gholas-sociais. Mas a maioria dos padrões de interação se configura no intervalo entre centralização máxima e distribuição máxima. Evitar o risco é refugiar-se na vida individual, escolhendo racionalmente as interações, sendo seletivo nos relacionamentos, fechando-se ao outro. Esse é o fracasso de todas as chamadas “pessoas de sucesso”. Fecham-se à interação com o outro-imprevisível e, ao fazer isso, a despeito de serem muito conhecidas, obstruem conexões com a nuvem que as envolvem, desatalham clusters (ao se recusarem a servir como pontes), excluem outras pessoas do seu espaço de vida e simultaneamente se excluem de outros mundos, isolando-se do superorganismo humano e deixando de contar com uma parte (justamente aquela parte inusitada, que os marqueteiros, os políticos profissionais e os psicólogos sociais tanto procuram e não conseguem encontrar) das imensas potencialidades do social. São raríssimas as pessoas de sucesso que se deixam abordar por qualquer um do povo. Seus endereços, e-mails e telefones são mantidos em sigilo. Seus ambientes de trabalho são protegidos por porteiros, agentes de segurança, secretários e assessores. Seus sites e blogs são fechados à comentários ou mediados. Sua participação nas mídias sociais é sempre para usá-las como broadcast, para fazer relações públicas e propaganda de si-mesmas (para ficarem mais famosas e auferirem os benefícios 2
  • 3. econômicos, sociais e políticos conferidos diferencialmente a quem alcançou tal condição). Isso acaba se manifestando no que acreditam que seja sua vida pessoal, como indivíduos, supostamente autônomos, tão importantes que não podem ficar vulneráveis aos paparazzi do relacionamento. Como conseqüência começam a desenvolver aquela sociopatia mais conhecida pelo nome de fama. Na verdade ficam doentes por defict de interatividade. Quem não quer ser porta, não acha caminhos. O sucesso é o melhor caminho para perder caminhos. A perda de caminhos é também uma medida de não-rede, ou seja, uma expressão do poder. A contraparte de querer ser muito importante é a falta de importância para a rede (e não importa para nada se essas pessoas de sucesso têm milhares ou milhões de followers nas mídias sociais mais freqüentadas ou se seu blog tem milhares ou milhões de pageviews). E o risco? Bem, nos Highly Connected Worlds a pessoa é compelida a correr o risco, a fluir com o curso. Não pode se proteger, se sedentarizar em seu mundo, se agarrar às coisas para tentar permanecer como é ou a ser mais- do-mesmo (do que já é) em vez de surfar nos interworlds, navegar, ser nômade, fluzz. “Se não posso achar o caminho farei um”, escreveu Sêneca (3). Nos novos mundos-fluzz, seria o caso de dizer: como não há caminho, serei um (uma porta para outros mundos). 3
  • 4. Notas (2) CASTELLS, Manoel (2001). A Galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. (3) Trata-se de uma tradução forçada do provérbio “Viam aut aut faciam inveniam” cuja localização não foi possível determinar. Cf. a bibliografia de SENECA, Lucius Annaeus (c. 3 a. E. C. – 65) em: <http://www.egs.edu/library/lucius-annaeus-seneca/biography/> 4