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  • 1. Eu e o Outro no Antro da Quimera Fotografias & Palavras Jorge Delmar & Ana da Palma
  • 2. São longas as horas da sombra sorridente. Ao lado crescem seres de casca cinzenta Borbulham cores silenciosas E canta o vermelho persistente
  • 3. No espelho da bacia nasce uma libélula. Não me digas as gotas a gotas esvaziadas em que perdeste o tempo. Conta-me apenas o teu rosto invisível.
  • 4. Se fosse poeta contava a história das nuvens espalhadas na paisagem. Se fosse poeta salmodiava uma paisagem inclinada. Se fosse poeta vivia neste mundo sereno da imagem.
  • 5. Deixa as palavras no pó e nas sombras das prateleiras. Deixa as aranhas tecer fios entre palavras. Deixa a luz do mundo inclinar-se nas páginas esquecidas amontoadas.
  • 6. São verticais os sonhos de insectos e aqui na fenda do meu rosto jaz a tensão entre a imagem e o mundo e na curva isótropa do meu olhar penetras nos seus sonhos
  • 7. Gosto da carícia leve e delicada da tua sombra no meu tronco nu. Dá-me essas curvas! Inclina a tua mancha!
  • 8. A sombra do tronco imiscua-se na parede revelando microcosmos, micromundos. Por que caminhos temos andado que não nos encontrámos?
  • 9. Na parede de sombras do sobreiro o azul inacabado. Estes dias de luz oblíqua revelam segredos no Imaginário.
  • 10. Somos dois! Um de pedra e um de pele. Nunca ninguém nos viu tão nítidos entre o que fomos e o que seremos.
  • 11. Sem saber os ramos de Alecrim distante procuram o árduo caminho do calor da luz inclinada.