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lidade cultural do fado, do
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ca encontra-se reconhecida no
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versal. Surgem desconcertan-
tes expressões como “feiras do
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rais, como os Açores, expõem-
-se aos enxames dos low cost.
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de natureza estão na moda!
Aos agentes culturais exige-se
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Se por um lado o turismo
implica, inevitavelmente, um
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mónio (sobretudo natural),
por outro, o turismo poderá
ser trabalhado como garante
do próprio Património. Não se
tratando de uma natural rela-
ção simbiótica, o Património e
o turismo podem conviver em
harmónica valorização mútua.
A fórmula do equilíbrio deve-
rá residir na sustentabilidade!
Entretanto, a montante, há
que promover o conhecimen-
to profundo e a investigação
sistemática, a única via para a
estabilidade da partilha – dig-
nificar no presente um passa-
do com futuro.
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de gestão patrimonial
em Vila do Bispo
No Algarve, a região de Vila
do Bispo ainda preserva deter-
minadas áreas intocadas pela
ação humana, que, por tão
genuínas e raras, são por isso
bastante procuradas por visi-
tantes de todo mundo, nelas
reconhecendo a pureza da ori-
ginal autenticidade da Nature-
za. Porém, quando se trata de
turismodenatureza,enquanto
recurso dificilmente renovável,
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laçãoestratégica,maisumavez
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mente arqueológicos, histó-
ricos e etnográficos, muitos
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ciável monumentalidade.
As paisagens constituem-se
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tares. A sua integrada leitura
permitir-nos-á partilhá-las, de
modo sustentável e sem pre-
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tamentos nelas implantados:
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mo constitui o principal gera-
dor económico, o “fim último”
da esmagadora maioria das
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desenvolvidas entre São Vicen-
te e o Guadiana. Numa região
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ção turística, e no âmbito de
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na-se essencial o profundo
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les existentes. A montante, a
investigação permitirá deli-
near os trilhos mais equili-
brados, minimizando o ine-
vitável impacto da fruição
turística e da partilha de um
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sem perda da sua natural es-
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tureza, hoteleiras e de restau-
ração, os técnicos municipais,
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dades tradicionais, os novos e
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tentável ‘exploração’ socio-
económica dos recursos pa-
trimoniais presentes neste
precioso recanto do mundo,
tido como naturalmente ex-
cecional, e por isso mesmo
cada vez mais procurado!
Ricardo Soares
Arqueólogo na Câmara
de Vila do Bispo
http://vila-do-bispo-arqueologi-
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Recursos Patrimoniais versus Sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo (Ricardo Soares, Cultura Sul,79, 2015)

  • 1. www.issuu.com/postaldoalgarve 8.072 EXEMPLARES Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO ABRIL 2015 n.º 79 d.r. Recursos patrimoniais versus sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo p. 10 FNAC: cada vez mais um pólo cultural p. 5 Panorâmica: d.r. Americanah, uma obra de Chimamanda Ngozi Adichie p. 4 d.r. Grande ecrã: 59 anos de cinema em Faro p. 3 Espaço Alfa: A paixão pelos retratos a preto e branco d.r. p. 7 d.r. Letras e Leituras: HerbertoHelder, in memoriam p. 11 d.r. Da minha biblioteca:
  • 2. 10.04.2015 10 Cultura.Sul Recursos patrimoniais versus sustentabilidade: o caso de Vila do Bispo Espaço ao Património No âmbito da minha ati- vidade enquanto arqueólo- go da Câmara Municipal de Vila do Bispo, partilho aqui algumas genéricas reflexões sobre o vastíssimo e particu- larmente atual tema da “ges- tão patrimonial”. Em boa verdade, trata-se de um depoimento estrita- mente pessoal, num modo de pensamentos “em voz alta”, com o qual apenas pretendo partilhar um certo “estado de alma” e algumas positivas experiências profissionais e sociais a barlavento, no ter- ritório da ‘sagrada finisterra vicentina’. Tempos de euforia turística e de feiras do património! Se por um lado atravessa- mos tempos particularmente difíceis – a crónica desculpa para uma ‘cultural’ carência de investimento na Cultura –, por outro, definem-se no horizon- te alguns sinais de positivas re- ações, nem sempre genuínas, mas ainda assim assinaláveis. Apregoa-se a racionalização dos recursos disponíveis e o investimento low budget, a va- lorização dos recursos endó- genos, o envolvimento social e a integração comunitária, a implementação de mode- los de gestão partilhada e de cooperação intermunicipal, a abertura à iniciativa privada... enfim! Todavia, reincide-se na perigosa tendência de se olhar o Património numa perspeti- va meramente económica, en- quanto recurso financeiro. Com isto, o Património lá vai dando “um ar da sua gra- ça”, surgindo amiúde ‘empa- cotado’, como oferta turística, sendo parcamente alimentado a migalhas, na expectativa da criação de uma salvadora, mas raramente profícua, “galinha dos ovos de ouro”... “só para inglês ver”! Material ou imaterial, o Pa- trimónio, enquanto legado de autenticidade natural e de identidade cultural, apre- senta-se, na prática, como um conceito demasiadamen- te abstrato, tendencialmente confundido com o património de ordem económica, quanti- ficável em valor, traduzível em retorno financeiro. Os tradicionais paradigmas civilizacionais e as clássicas po- laridades dos fluxos de viagens intercontinentais alteram-se globalmente. O velho conti- nente europeu apresenta-se hoje como um atraente novo mundo de (re)descobertas, massivamente procurado pelo seu longo passado, por um certo ‘exotismo’ cultural e pela aventura intercivilizacional. Ao sabor da mesma corren- te, Portugal vive uma verda- deira euforia turística, fruto do reconhecimento e procu- ra internacional de atraentes valores culturais de históricas cidades como Lisboa, Porto, Coimbra, Évora… A imateria- lidade cultural do fado, do cante e da dieta mediterrâni- ca encontra-se reconhecida no ‘panteão’ do Património Uni- versal. Surgem desconcertan- tes expressões como “feiras do património”. Santuários natu- rais, como os Açores, expõem- -se aos enxames dos low cost. O turismo cultural e o turismo de natureza estão na moda! Aos agentes culturais exige-se um certo “toque de Midas”, ou seja, a alquímica capacidade de transformar o Património em receita financeira. Se por um lado o turismo implica, inevitavelmente, um destrutivo impacto no Patri- mónio (sobretudo natural), por outro, o turismo poderá ser trabalhado como garante do próprio Património. Não se tratando de uma natural rela- ção simbiótica, o Património e o turismo podem conviver em harmónica valorização mútua. A fórmula do equilíbrio deve- rá residir na sustentabilidade! Entretanto, a montante, há que promover o conhecimen- to profundo e a investigação sistemática, a única via para a estabilidade da partilha – dig- nificar no presente um passa- do com futuro. Boas práticas de gestão patrimonial em Vila do Bispo No Algarve, a região de Vila do Bispo ainda preserva deter- minadas áreas intocadas pela ação humana, que, por tão genuínas e raras, são por isso bastante procuradas por visi- tantes de todo mundo, nelas reconhecendo a pureza da ori- ginal autenticidade da Nature- za. Porém, quando se trata de turismodenatureza,enquanto recurso dificilmente renovável, impõe-se uma decisiva formu- laçãoestratégica,maisumavez assente na sustentabilidade! Do ponto de vista cultural, as paisagens de Vila do Bispo também revelam interessan- tes e diversificados discursos antropogénicos, designada- mente arqueológicos, histó- ricos e etnográficos, muitos dos quais revestidos de apre- ciável monumentalidade. As paisagens constituem-se como palcos de realidades tão distintas como complemen- tares. A sua integrada leitura permitir-nos-á partilhá-las, de modo sustentável e sem pre- juízo para os diversos apon- tamentos nelas implantados: a biodiversidade, a geologia, as marcas paleontológicas, os vestígios arqueológicos, os monumentos históricos, os re- cursos do mar, as terras culti- vadas... a Cultura! O potencial do património vilabispense encontra-se am- plamente reconhecido e a sua procura já é uma indomada realidade. No sentido de uma prudente partilha de todo este complexo paisagístico, urge a sua aquilatada leitura e o seu efetivoconhecimento.Importa ordenar e educar a sua fruição, sob o risco da sua irreversível perda e vulgarização enquan- to extensão de uma região há muito descaracterizada. Num território substan- cialmente dependente do turismo, o estratégico desen- volvimento de diferenciados produtos de natureza e de cultura, pela sua diversidade, qualidade e latente potencia- lidade, permitirá uma alterna- tiva oferta aos habituais fluxos da sazonalidade. A mais desafiante missão do projeto autárquico que te- nho vindo a integrar, consiste na promoção de estratégias com impacto socioeconómi- co, orientadas pelo reconhe- cimento de diferenciadores fatores de identidade local, potenciáveis como vantagens competitivas. Na região algarvia, o turis- mo constitui o principal gera- dor económico, o “fim último” da esmagadora maioria das atividades público-privadas desenvolvidas entre São Vicen- te e o Guadiana. Numa região estigmatizada pela massifica- ção turística, e no âmbito de um mercado extremamente competitivo, a fórmula do ‘su- cesso’ reside, necessariamente, na qualidade e na diferencia- ção da oferta. Posto isto, e em suma, tor- na-se essencial o profundo conhecimento dos territórios e das diversas realidades ne- les existentes. A montante, a investigação permitirá deli- near os trilhos mais equili- brados, minimizando o ine- vitável impacto da fruição turística e da partilha de um inestimável bem comum, promovendo-o tal como é, sem perda da sua natural es- sência diferenciadora. O Concelho de Vila do Bis- po, território extremo, peri- férico e de baixa densidade, tem vindo a cultivar a apro- ximação, o diálogo e a cola- boração entre as tutelas do ambiente, da cultura e do turismo, as universidades, a comunidade científica, as empresas de turismo de na- tureza, hoteleiras e de restau- ração, os técnicos municipais, a comunidade local, as ativi- dades tradicionais, os novos e os mais velhos, o público em geral, a sociedade… Só assim faz sentido, só assim será possível a sus- tentável ‘exploração’ socio- económica dos recursos pa- trimoniais presentes neste precioso recanto do mundo, tido como naturalmente ex- cecional, e por isso mesmo cada vez mais procurado! Ricardo Soares Arqueólogo na Câmara de Vila do Bispo http://vila-do-bispo-arqueologi- ca.blogspot.pt/ O Passado no Presente – estratégias de comunicação arqueológica fotos: ricardo soares O trilho certo dos Homens do Futuro – educação e sensibilização patrimonial