O autor expressa seu descontentamento por ter nascido no século errado e sentir que vive desconectado dos padrões sociais impostos pela sociedade. Ele questiona a necessidade de rótulos como gênero e orientação sexual e anseia por um futuro onde as pessoas possam amar sem limites e viverem livremente.
1. NASCI NO SÉCULO PASSADO
José Aniervson Souza dos Santos
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Eu nasci no século errado, só pode ser!
Vejo minha vida desconectada de “todas” as formas de agregação social que
conheço. As pessoas não se dão conta que estão, compulsoriamente,
reproduzindo um discurso e uma atitude de (falsos) moralismos e
religiosidades, sem limite. Ora, se nossa cultura tem base, entre tantos e
diversos elementos e principalmente no que concerne a doutrina cristã católica,
está na cara que somos resultado dessa imposição.
A sociedade a todo custo impõe que nós, seres humanos diversos e plurais,
nos encaixemos em diferentes padrões: de beleza, de relacionamentos, de
educação, de cultura, de religião, etc. São caixas. Essas caixas servem para
nos moldar. O molde quem dita é o capitalismo, é a heteronormatividade, é o
discurso hegemônico, é p%*¨$”# que pariu...
Chega. Cansei!
Não dá para compreender como em pleno Século XXI, depois de tanta
evolução científica e tecnológica, ainda somos encaixados nesses padrões que
apenas descaracterizam o sujeito e o aprisiona.
E se não precisássemos definir os papeis sexuais de homem e mulher?
E se esses termos nem ao menos existissem?
Tá, e se existissem, mas não fossem alvos de retaliações ou padronizações?
E se não existisse certo e errado, princípio e fim, branco e preto, céu e inferno,
deus e diabo... e todo esse binarismo que mais separa do que une?
E se não existisse motivos para violência? E se a violência não fosse motivo?
E se fôssemos todos pessoas/seres humanos ao invés de negr@s, branc@s,
homens, mulheres, heterossexuais, gays, deficientes, lésbicas, cristãos(ãs),
não-cristãos(ãs), etc.?
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Possui Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de Pernambuco – UPE e Pós-Graduação em
Juventude no Mundo Contemporâneo pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE. É
mestrando em Educação, Culturas e Identidades pela Universidade Federal Rural de Pernambuco –
UFRPE. Ativista de movimentos sociais e líder de organizações juvenis. Coordenador da Escola de
Educadores de Jovens online do Instituto de Protagonismo Juvenil – IPJ e Editor Chefe da Revista
Geração Z.
2. E se o povo não se preocupasse com a vida d@ outr@ e deixasse cada um(a)
viver sua vida como bem entende (desde que não ultrapassasse o limite da
convivência alheia)?
E se não fosse necessário criar leis, códigos de conduta, tratados, etc., pois as
pessoas se respeitariam e se amariam pelo simples fato de serem humanas?
E se o que você faz com o seu próprio corpo não dissesse respeito a terceiros?
E se não fôssemos obrigad@s a amar apenas uma pessoa de cada vez?
E se o amor (amor sem medida) fosse a única lei?
Pergunto-me como seria se eu tivesse nascido no século que era pra ter
nascido: no próximo. Como seria?
Será que eu poderia amar sem medida ou teria medida para o amor? Sim,
porque o que me incomoda mais é ter que restringir minha capacidade de
acolher o próximo; de amar sem limites; de me doar sem barreiras, de viver
fora das caixas/padrões; de acreditar em diversas forças e inclusive em
nenhuma; de não ter que adaptar meu corpo e meus cabelos; de não ter a
necessidade de mudar para ser aceito...
O que me incomoda são as regras sociais dominantes.
Então, só posso imaginar que nasci no século passado. Que o meu século de
nascença será o próximo e que, hopefully, essa galera já tenha evoluído mais...