Álvaro de Campos passou por três fases literárias distintas: inicialmente decadentista e à procura de novas sensações através do ópio, depois futurista exaltando a máquina e o progresso moderno, e finalmente pessimista e introspetivo questionando o sentido da vida. A sua escrita é caracterizada por uma linguagem excessiva com abundância de exclamações e enumerações caóticas.
1. Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
In Tabacaria, de Álvaro de Campos
2. Álvaro de Campos:
Perfil Biográfico
Nasceu em
Tavira a 15 de
Outubro de
1890 às 13.30;
“Teve uma
educação vulgar
de liceu”;
Foi para Escócia
(Glasgow), primeiro
estudar engenharia
mecânica e depois
naval;
Durante umas
férias ao
Oriente criou
“Opiário”;
Um tio Beirão,
que era padre,
ensinou-lhe
latim;
Permaneceu em
inatividade em
Lisboa.
3. Fisionomia
Alto, cerca
de 1,75m
(“um pouco
tendente a
curvar-se”)
“Cara
rapada”
Branco e
moreno,
“vagamente
de judeu
português”
Cabelo liso e
normalmente
apartado ao
lado
Usa
monóculo
4. “Criação” de Campos
Surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”.
Pessoa considera que Campos se encontra no “extremo oposto,
inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um
discípulo de Caeiro.
Aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a
“sensação das coisas como são”: procura a totalização das
sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele
próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
5. Encontro com o Mestre
Conheceu Alberto
Caeiro, numa visita ao
Ribatejo e tornou-se
seu discípulo: “O que
o mestre Caeiro me
ensinou foi a ter
clareza; equilíbrio,
organismo no delírio e
no desvairamento, e
também me ensinou a
não procurar ter
filosofia nenhuma,
mas com alma”.
Distancia-se, no
entanto, muito do
mestre ao
aproximar-se de
movimentos
modernistas como o
futurismo e o
sensacionismo,
afastando-se do
objetivismo do
mestre,
percecionando as
sensações
distanciando-se do
objeto e centrando-
-se no sujeito.
Este
subjetivismo
leva à
consciência do
absurdo,
experiência do
tédio, à
desilusão e à
fadiga.
6. Perfil Literário
Embora de estilo e tom diferente, é o heterónimo que mais se
aproxima de Pessoa ortónimo pela imaginação e imaginação.
Podemos ver isso através do temas abordados em ambos, tais
como: dor de pensar; pessimismo; nostalgia de infância (como um
paraíso perdido).
É considerado o mais versátil, nervoso e emotivo (até à histeria).
7. Perfil Literário
Apresenta uma acentuada evolução do ponto de vista poético,
atravessando 3 fases distintas.
• j1ª fase:
Decadentista
1890
• 2ª fase:
Futurista /
Sensacionista
1914
• 3ª fase:
Intimista /
pessimista
1916- 1935
8. Fase
Decadentista
Caraterísticas:
• Tédio; desencanto; náusea; cansaço;
melancolia; abatimento;
• Ausência de um sentimento para a vida;
angústia existencial;
• Procura de novas sensações;
• Estilo confessional e divagador.
9. Fase
Decadentista
É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.
(…)
Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. (…)
(…)
Qu'ria outro ópio mais forte (…)
In Opiário
Abatimento
Melancolia
Ópio é refúgio
de Campos para
ultrapassar a
ausência de
sentido de vida.
Procura de
novas sensações
10. Fase
Futurista/ Sensacionista
Caraterísticas:
• Culto de uma estética não aristotélica;
• Exaltação da civilização industrial moderna, da máquina,
da força, da velocidade, da energia e do progresso;
• Evocação da corrupção, dos escândalos, da imortalidade,
das falhas, da técnica, da pobreza;
• Atitude febril, doentia e feroz;
• Postura sadomasoquista autopunitiva;
• Vivência do presente, do instante;
• Busca incessante de novas sensações, modernas e
intensas.
11. Fase
Futurista/ Sensacionista
À dolorosa luz das grandes
lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera
para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente
desconhecida dos antigos.
(…)
E arde-me a cabeça de vos querer
cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas
sensações
(…)
Efeitos físicos nefastos
resultantes do progresso
Estética não-aristotélica:
Baseia-se na ideia de
força
Sede de novas sensações
12. Fase
Futurista/ Sensacionista
Canto, e canto o presente, e também o
passado e o futuro.
Porque o presente é todo o passado e todo
o futuro
(…)
Ah, poder exprimir-me todo como um
motor se exprime!
(…)
A maravilhosa beleza das corrupções
políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e
diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
(…)
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
(…)
Campos canta o
instante (ao contrário
de Marinetti que
cantava o futuro)
Desejo de se
materializar
Retrato da corrupção e
escândalos do seu
tempo
13. Fase
Futurista/ Sensacionista
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma atual e
próxima
Do sistema imediato do Universo!
(…)
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega
duma mulher possuída.
(…)
Alterações de constituições, guerras,
tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências(…)
(…)
In Ode Triunfal
Exalta a máquina, a
energia e a
velocidade
Atitude
sadomasoquista,
passiva e
autopunitiva
Efeitos físicos e
morais nefastos
resultantes do
progresso
14. Fase
Intimista / Pessimista
Caraterísticas:
• Retrocesso ao abatimento, ao cansaço, ao tédio, ao
desânimo, à frustração, à náusea;
• Imersão numa angústia profunda, vazia e apática
porque não é capaz de encontrar um sentido para a
vida;
• Postura introspetiva e reflexiva;
• Sofrimento derivado da sua lucidez (dor de pensar);
• Evocação da infância como o paraíso perdido;
• Perda da identidade e a fragmentação do eu.
15. Fase
Intimista / Pessimista
A única conclusão é morrer.
(…)
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
(…)
Deixem-me em paz! Não tardo, que
eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o
Silêncio quero estar sozinho!
In Lisbon Revisited
Inevitabilidade da
morte
Ambição da
inconsciência
Inevitabilidade da
morte, querendo
refugiar-se do mundo e
dos outros
16. Estrutura linguística / forma
Caraterísticas:
• Estilo esfuziante, torrencial e excessivo;
• Linguagem prosaica e técnica;
• Predomínio de exclamações, interjeições, apóstrofes,
onomatopeias, enumerações caóticas, paradoxos,
anáforas, comparações e metáforas arrojadas, etc;
• Primazia pelo presente do indicativo e do gerúndio;
• Estrofes e versos longos;
• Privilégio do verso livre e branco.
17. Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
In Tabacaria, de Álvaro de Campos
Trabalho realizado no âmbito da disciplina
de Português por:
Ana Teresa nº2, 12ºB
2013/2014