Psicologia Hospitalar e a escuta como forma de cuidado
1. Aula III - A Psicologia Hospitalar e a
Escuta como Forma de Cuidado com a
Subjetividade
Saber ouvir,
Subjetividade e
Humanização
2. Aula III - Conteúdo Tópico
Conceito de Psicologia Hospitalar
Aspectos Subjetivos do Adoecimento
A Filosofia da Psicologia Hospitalar
Cuidados Psicológicos no Hospital
O Psicólogo no Hospital
Saber Ouvir: O caminho da empatia
Escuta e Humanização
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
“MANUAL DE PSICOLOGIA HOSPITALAR: O MAPA DA DOENÇA”, CAPÍTULO INTRODUTÓRIO,
ALFREDO SIMONETTI, DISPONÍVEL NA INTERNET E NA XEROX
SUGESTÃO CINEMATOGRÁFICA:
DOCUMENTÁRIO “SOLITÁRIO ANÔNIMO”, DE JÚLIA DINIZ, DISPONÍVEL NO YOUTUBE
3. A Psicologia Hospitalar é o
campo de entendimento &
tratamento dos aspectos
psicológicos em torno do
adoecimento.
4. Aspectos Psicológicos do
Adoecimento:
Aspectos Psicológicos é o nome que damos para as
manifestações da subjetividade humana diante da doença,
tais como sentimentos, desejos, a fala, os pensamentos e
comportamentos, as fantasias e lembranças, as crenças, os
sonhos , os conflitos, os estilos de vida e o estilo de
adoecer. Estes aspectos estão por todas as partes, como
um atmosfera a envolver a doença, como desencadeador
do processo patogênico, como fator de manutenção do
adoecimento, ou ainda, como consequência desse
adoecimento.
Neste sentido, toda doença é psicossomática, ou seja,
envolve o corpo e a “alma”.
“Psíquico”: Relativo à alma
“Somático”: Relativo ao corpo
5. Aspectos Psicológicos do
Adoecimento:
O adoecimento se dá quando um sujeito carregado de
subjetividade esbarra num “real”, de natureza patológica,
denominado “doença”, presente em seu próprio corpo,
produzindo uma infinidade de aspectos psicológicos que podem
se evidenciar no paciente, na sua família, ou na própria equipe de
profissionais.
Hoje, tanto a medicina quanto a psicologia concordam que a
doença é uma fenômeno bastante complexo, comportando várias
dimensões: biológica, psicológica e cultural.
A Psicologia Hospitalar enfatiza a parte psíquica, mas não diz
que a outra parte não é importante. Pelo contrário, perguntará
sempre qual a reação psíquica do sujeito diante desse “real” da
doença, fazendo disso seu material de trabalho.
6. Aspectos Psicológicos do
adoecimento: Perdas
O adoecimento é antes de tudo uma situação de perdas:
- perde-se saúde,
- perde-se dinheiro,
- perde-se autonomia,
- perde-se tempo
- perde-se, muitas vezes, a própria vida
- perde-se a própria imagem ( no caso das doenças
desfigurantes)
7. Aspectos Psicológicos do
Adoecimento: Ganhos
Um olhar mais atento mostra que o adoecimento algumas
vezes envolve também alguns ganhos:
- ganha-se a atenção das pessoas
- ganha-se o cuidado das pessoas
- ganha-se o direito de não trabalhar
-ganha-se autocomiseração
- ganha-se desculpas genuínas para explicar
dificuldades existenciais, profiossonais e amorosas
8. Aspectos Psicológicos do
Adoecimento:
“Adoecer é como entrar em órbita. A doença é um evento
que se instala de forma tão central na vida da pessoa
que tudo mais perde importância, ou então passa a
girar em torno dela, numa espécie de órbita que
apresenta quatro posições principais:
negação,
revolta,
depressão,
enfrentamento”
9. A Filosofia da Psicologia Hospitalar: A
escuta como essência do fazer clínico:
“Na Grécia antiga havia dois tipos de médicos, os que
cuidavam dos cidadãos gregos e os que cuidavam dos
escravos. Como os escravos eram oriundos de outras
nações, não falavam o idioma grego, os médicos que
cuidavam deles foram perdendo o hábito de conversar com
esses pacientes. Não adiantaria mesmo, e, não sendo
possível comunicação, apenas os examinavam e os
medicavam. Já os médicos que cuidavam de seus
compatriotas gregos costumavam conversar muito com
eles, e, como para conversar com as pessoas doentes é
preciso se inclinar um pouco sobre o leito, eles começaram
a ser conhecidos como os médicos que se inclinavam, do
grego, inclinare, e disso nasceu o termo atual “clínica”.
Desde então, a atitude de escuta está associada à
essência do fazer clinico, seja dos médicos, dos psicólogos
ou dos enfermeiros.
10. A Filosofia da Psicologia Hospitalar:
Humanização
A Psicologia Hospitalar vem se desenvolvendo no
âmbito de um novo paradigma epistemológico que
busca uma visão mais ampla do ser humano e
privilegia a articulação entre diferentes formas de
conhecimento. A consequência clinica mais
importante dessa visão é de que “em vez de
doenças, existem doentes” (Perestello, 1989)
Hoje em dia, o que mais se espera da medicina e da
ciência, não é o desenvolvimento tecnológico, pois
nesse campo, felizmente, estamos bem avançados.
O que mais se quer é a humanização da
medicina.
11. Psicologia Hospitalar e Humanização
A contribuição mais importante da psicologia para
a humanização do hospital é que ela abre espaço para
a subjetividade do paciente. Lembrando que, embora o
psicólogo seja um especialista na subjetividade
humana, cuidar dos aspectos subjetivos do
adoecimento do paciente não é uma tarefa exclusiva
deste profissional. Sigmund Freud, por exemplo,
costumava definir “cuidados psicológicos” como o
cuidado que qualquer indivíduo presta ao outro a partir
de sua simples presença como pessoa. Nesse sentido,
para cuidar de uma pessoa, basta apenas ser outra
pessoa.
12. Psicologia e Medicina: Um contraste
No terreno da subjetividade, a relação entre Psicologia e
Medicina é de uma antinomia radical: enquanto uma faz da
subjetividade o seu foco, a segunda, a medicina científica, exclui a
subjetividade de seu campo epistêmico de uma forma sistemática,
tendo como ideal uma suposta visão objetiva do adoecimento.
Acaba por excluir a subjetividade tanto do paciente como do
médico. O problema dessa visão objetiva, é que o excluído na
teoria sempre retorna com toda a força na prática da clínica
médica: “onde assistimos, na relação concreta, médico-paciente,
uma verdadeira enxurrada de emoções, sentimentos, fantasias e
desejos – de ambos - que, por não terem amparo teórico, são
negados e escamoteados, mas nem por isso deixam de
influir”(Moretto, 2001).
Agir como se não a subjetividade não existisse não a faz
desaparecer.
13. Psicologia e Humanização
A Psicologia Hospitalar está interessada mesmo em dar voz à
subjetividade do paciente, restituindo-lhe o lugar de sujeito que a
medicina lhe afasta (Moretto, 2001).
É importante lembrar que a psicologia não estabelece uma meta ideal
para o paciente alcançar, mas apenas aciona o processo de
elaboração simbólica do adoecimento. Ela se propõe a ajudar o
paciente a fazer o processo de elaboração simbólica do
adoecimento. Ela se propõe a ajudar o paciente a fazer a travessia da
experiência do adoecimento, mas não diz onde essa travessia vai dar,
e não diz porque não pode, não diz porque não sabe. O destino do
sintoma depende de muitas variáveis, do real biológico, do
inconsciente, das circunstâncias, etc.
O Psicólogo Hospitalar (ou outros profissionais cuidadores)
devem participar dessa travessia como ouvintes privilegiados,
não como guias.
14. O Valor da Escuta
Há um aforismo hipocrático que diz:
“curar sempre que possível, aliviar quase sempre, consolar sempre”
A medicina tentou por muitos séculos esvaziar o paciente de sua subjetividade,
e a psicologia se especializou em mergulhar nessa mesma subjetividade,
acreditando que “mais fácil do que secar o mar, é aprender a navegar”.
A Psicologia não se interessa pelo real da doença, disso se ocupam os
médicos. A Psicologia se interessa pelo significado que o paciente confere à
doença, pelo sentido e pelo impacto que essa doença traz à sua vida como um
todo.
Suprimidos os sintomas e eliminadas as causas da doença, ainda permanecem a
angústia, o trauma, as desilusões os medos, as consequências reais e
imaginárias, ou seja, as marcas da doença. Mesmo no trabalho bem sucedido de
cura, muitas coisas ficam, resistem, tanto no curado como no doente. A P.H
quer tratar dessas marcas.
15. Mas, o psicólogo só conversa?
Sim, o psicólogo trabalha apenas com a palavra, mas,
ocorre que a “conversa” oferecida pelo psicólogo não é um
“só isso”, pelo contrário, é muito “mais que isso”, ela
aponta para um “além disso” embutido nas palavras.
Paciente e psicólogo conversam e essa tal conversa é a
porta de entrada para um mundo de significados e sentidos.
O que interessa o psicólogo não é a doença em si, mas a
relação que o doente tem com seu sintoma, o que o
paciente faz com a sua doença, o significado que ele
confere, e a isso, só se chega pela linguagem, pelas
palavras.
E, mesmo quando o paciente encontra-se impossibilitado de
falar, existem signos não verbais com valor de palavra, como
gestos, olhares, a escrita, e mesmo o silêncio. E quem não fala
é falado.
16. Quem ouve o paciente?
No hospital, geralmente, há muita gente querendo dizer
ao paciente o que ele deve fazer, querendo estimulá-lo,
aconselhá-lo, mas não há ninguém querendo escutá-lo.
Ocorre que é muito angustiante ouvir o que uma pessoa
doente tem a dizer, são temores, dores, revoltas, fantasias,
expectativas que mobilizam muitas emoções no ouvinte.
Diante disso, a maioria dos profissionais, a família e os
amigos, por não suportarem ver o paciente angustiado, não
conseguem lhes prestar esse serviço e querem logo apagar,
negar, destruir, ou mesmo encobrir a angústia. Mas a
angústia não se resolve, ela se dissolve em palavras.