3. Ao longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que
gerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda
não se beneficiam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um
sistema de educação que os acolha.
Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o
exercício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.
Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias
para formular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos
tradicionalmente excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não
completaram o Ensino Fundamental.
Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta
de vagas nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que
ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,
valorizando e respeitando as experiências e os conhecimentos dos alunos.
Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o
1.º e o 2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da
abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.
A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com
a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea
de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de ativi-
dades, com sugestões para o trabalho com esses textos.
A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao con-
trário, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-
do a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento.
Bom trabalho!
Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade – Secad/MEC
Apresentação
CA_iniciais_pag3.qxd 21.01.07 14:38 Page 3
4. Sumário
TEXTO Subtema
1. Além do preço e da marcaRelicostumes 6
2. Transgênicos 8
3. Pirata musical com cara de mau Diversidades regionais 11
4. Fast-food aquece o globo Maturidade social 12
5. Mesa Brasil não tem desperdícioMiscigenação 14
6. Código de defesa do consumidor Crítica social 18
7. Os altos lucros dos maus hábitos Trabalhadores 19
8. A corrente branca Cultura suburbana 20
9. Consumerism luta dos negros 25
10. Tabaco y economia personal Ambiente de trabalho 26
11. Consumidor consciente Identidade nacional 28
12. Um desenho Ambiente de trabalho 31
CA06b_eja_iniciais.qxd 15.12.06 11:46 Page 4
5. 13. Uma visão do futuro Índios do Brasil 32
14. Saco sem fundoImigração e culinária 35
15. A pirataria ataca Direitos civis 36
16. Respeito pela (tenra) idade Origens dos trabalhadores 38
17. UísqueÍndios do Brasil 42
18. Feito em casa 44
19. Cow parade Olhos da alma 49
20. Olhos grandes Arte culinária 50
21. O mundo do trabalho: contexto e sentidoArte culinária 51
22. Do povo para o povoArte culinária 58
23. A gigante se acomoda às leis Arte culinária 62
CA06b_eja_iniciais.qxd 15.12.06 11:46 Page 5
6. N
a hora de pegar este ou aquele pro-
duto na gôndola do supermercado,
o que pesa em sua decisão? Preço
mais baixo, melhor qualidade, tradição da
marca, preferência familiar? Em geral, são
esses os fatores que costumam ser levados
em conta no instante da compra. Mas há
um fenômeno novo que desafia esse pa-
drão: são os consumidores preocupados
com o comportamento da empresa que
produziu determinado produto.
Já não são poucos os que fazem suas
escolhas se perguntando se aquela com-
panhia respeitou direitos humanos e traba-
lhistas; se sua cadeia de produção segue
normas de preservação ambiental e boas
práticas empresariais. Se é ética quando faz
publicidade. Ou até se está comprometida
com a geração de empregos.
Essa mudança nos padrões de consu-
mo, que ganhou força na segunda metade
do século 20, quando os consumidores
passaram a se organizar em grupos inde-
pendentes para defender seus direitos, já
gerou efeitos nas empresas. Não são poucas
as que adotaram um ideal conhecido como
“responsabilidade social”, que fundamenta
práticas cujo fim não é apenas o lucro.
Empresas conscientes
“O consumidor mais atento e informado
já percebe as relações de seu nível de consu-
mo e os efeitos disso no plano social, econô-
mico e ambiental. Isso torna as empresas
mais conscientes e preocupadas com os valo-
res que ela propaga com seus produtos e
marketing”, afirma Marilena Lazzarini, coor-
denadora institucional do Instituto Brasileiro
de Defesa do Consumidor (Idec), com 17
anos de trabalho e militância na área.
Foi pensando em estimular esse “con-
sumo engajado” que o Idec acaba de lançar
o Guia de Responsabilidade Social para o
Consumidor, um livreto de 22 páginas com
um painel sobre o movimento mundial de
consumidores e sua articulação do Brasil.
ALÉM DO PREÇO E DA MARCA
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)
lança guia em que defende o “consumo responsável” e
prega o boicote à empresa que prejudica meio ambiente
e não respeita direitos humanos e trabalhistas
Consumo responsável
TEXTO 1
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho6
Extraítdo do site Repórter Brasil: www.reporterbrasil.org.br
1•CA06BT01L01.qxd 19.01.07 10:41 Page 6
7. Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 7
Como exercer o “consumo responsável”
Refletir sobre seus hábitos de consu-
mo, reduzir quando possível, não
desperdiçar e dar destinação correta ao
resíduo ou ao produto pós-consumo;
Escolher marcas de empresas re-
conhecidas por suas práticas res-
ponsáveis e éticas;
Obter informações, por meio da
mídia e das associações sociais, so-
bre os impactos sociais e ambientais da
produção, do consumo e do pós-consu-
mo de produtos e serviços;
Entrar em contato com o SAC
(Serviço de Atendimento ao Con-
sumidor) das empresas por telefone ou
por escrito, para questionar sobre os
impactos e pressionar pela adoção de
práticas sustentáveis de produção e
pós-consumo;
Procurar saber se a empresa tem
um balanço social e solicitar infor-
mações a respeito;
Boicotar marcas de empresas en-
volvidas em casos de desrespeito à
legislação trabalhista, ambiental e de
consumo. Por exemplo, consulte a lista
de reclamações fundamentadas do
Procon, a fim de saber como determi-
nada empresa se comporta em relação
ao consumidor;
Participar de apoio associações de
consumidores;
Denunciar práticas contra o meio
ambiente, contra as relações de
consumo e de exploração do trabalho
infantil às autoridades competentes.
O consumidor
mais atento já
percebe as relações
de seu nível de
consumo e os
efeitos no
ambiente e na
sociedade.
1 5
6
7
8
2
3
4
Luludi / AE
1•CA06BT01L01.qxd 19.01.07 10:42 Page 7
9. A
polêmica em torno dos organismos
geneticamente modificados (OGMs),
popularmente conhecidos como trans-
gênicos, já fez história. Começou nos anos
1990, quando ocorreram as primeiras
colheitas de grãos alterados geneticamente.
O movimento de resistência surgiu em
torno da Campanha por Segurança Ali-
mentar e agregou diversas organizações
não-governamentais. Desde então, o núme-
ro de entidades envolvidas e as ações em-
preendidas se ampliaram. No Brasil, a
mobilização civil começou com a campanha
Por um Brasil Livre de Transgênicos, que
publicou cartilhas impressas e boletins ele-
trônicos, promoveu eventos e manifestações
públicas, e divulgou resultados de testes
realizados em alimentos.
Pressão multinacional
A encrenca começou em outubro de
1998, quando foi liberado o primeiro plan-
tio de soja geneticamente modificada no
país produzido pela multinacional Monsan-
to, uma das maiores empresas de biotecno-
logia do mundo. A liberação ocorreu depois
que produtores do Rio Grande do Sul
usaram sementes de países fronteiriços,
como a Argentina, onde esse tipo de cultivo
já era permitido, e pressionaram o governo
para que sua safra pudesse ser comercializa-
da. A autorização saiu, por medidas provi-
sórias, para as safras 2003/2004, 2004/
2005 e 2005/2006. A liberação definitiva,
no entanto, veio acompanhada de algumas
condições, entre elas a necessidade de o
agricultor assinar uma declaração reconhe-
cendo o uso de OGMs e comprometendo- se
a não usar os grãos gerados em uma próxi-
ma safra. Em relação à soja, é nesse pé que
as coisas se encontram em 2006, após a
aprovação e a regulamentação da Lei de
Biossegurança.
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 9
O plantio e a
comercialização
de soja transgênica
já são permitidos
no país, mas ainda
geram polêmicas.
2•CA06BT02L01.qxd 19.01.07 10:48 Page 9
10. O algodão Bollyard Evento 531, tam-
bém da Monsanto, é outro capítulo. Seu
cultivo foi liberado pela Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança (CTNBio), vincu-
lada ao Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT), também com algumas exigências.
Uma delas: 20% de algodão convencional
deve ser cultivado em áreas cercadas e isola-
das para evitar contaminação.
Níveis de tolerância
Desde 2003, vigora no Brasil o Decre-
to-Lei nº. 4.680, que exige a informação, no
rótulo, de alimentos e ingredientes que
contenham mais de 1% de componentes
transgênicos. Anteriormente era a partir de
4%. Para o Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (Idec), entretanto, a alteração
ainda não é satisfatória e tem duas recla-
mações nessa área. A primeira é que muitos
alimentos contêm menos de 1% de ingre-
dientes geneticamente modificados – e o
consumidor ignora a informação. A outra é
que produtos como bolachas, bolos, massas,
chocolates, óleos, margarinas e seus deriva-
dos, que sofrem processamento térmico
mais agressivo, têm suas proteínas destruí-
das, o que impede a detecção de organis-
mos geneticamente modificados.
“Nos supermercados não há produtos
que tragam o símbolo indicando a existên-
cia de OGMs, não porque eles não existam,
mas porque a informação desaparece quan-
do entra em fabricação, e não existe fisca-
lização”, afirma Gabriela Vuolo, coordena-
dora da área de consumidores da campanha
de transgênicos do Greenpeace. Na União
Européia, desde 2004 o limite para não
rotular um produto como geneticamente
modificado é 0,9%. Na Suíça, 0,1%. Na
Rússia e no Japão, 5%.
Texto 2 / Transgênicos
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho10
Trechos da matéria “Quanto custa o rótulo”, revista Desafios do
Desenvolvimento.
Cesta contendo os
produtos cujo teste
do Idec (Instituto
de Defesa do
Consumidor) acusou
a presença de soja
transgênica na
composição dos
alimentos vendidos
nos supermercados
do Brasil.
Foto:MonalisaLins/AE
2•CA06BT02L01.qxd 19.01.07 10:48 Page 10
11. Comparação 1997 a 2005
50% a menos de postos de trabalho direto
50% a menos de artistas contratados
3.500 pontos de vendas foram fechados
44% a menos de produtos nacionais
deixaram de ser lançados
R$ 500 milhões anuais é o que
o governo deixa de arrecadar em impostos
(considerados ICMS, PIS e Cofins)
80 mil empregos
deixaram de existir no setor (gravadoras,
fabricantes, comércio varejista, etc)
Fonte: Federação Internacional da Indústria Fonográfica
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 11
O
Relatório da Pirataria Comercial de
2005, da Federação Internacional da
Indústria Fonográfica, alerta que, a
cada três discos musicais vendidos no
mundo, um é pirata. No mercado brasileiro,
essa proporção é muito maior: o comércio
pirata supera ligeiramente o de discos ven-
didos dentro da lei. As ações de combate à
pirataria musical têm surtido efeito e as
vendas ilegais, no mundo todo, cresceram
apenas 2% em 2004, o menor nível em
cinco anos. Entretanto, há dez países onde
se considera urgente aumentar a repressão
à pirataria e o Brasil é um deles. As atenções
se voltaram para cá porque as vendas totais
de DVD musicais aumentaram 100% em
2004, o que levou o país a ser o 7º maior
mercado no mundo de DVD musical – um
mercado atraente para quem tem ou não
cara de mau.
Falsificações
TEXTO 3
PIRATAMUSICAL
Andréa Wolffenbüttel
COMCARA
DE MAU
No Brasil, o mercado
ilegal já supera o que
paga imposto
Os efeitos no setor musical
Revista Desafios do Desenvolvimento, edição 16 – 1/11/2005
3•CA06BT06L01.qxd 14.12.06 23:03 Page 11
12. S
e, como diz o ditado, “somos o que
comemos”, um estudo feito nos Esta-
dos Unidos comprova que nossos
hábitos alimentares têm relação direta
também com a “saúde” do planeta. De
acordo com a pesquisa, adotar uma dieta
vegetariana é uma forma simples de con-
sumir sem agredir o meio ambiente, en-
quanto hábitos alimentares com predom-
inância de comida industrializada e rica
em proteína animal contribuem direta-
mente para um dos problemas ambientais
que mais ameaçam o mundo: o aqueci-
mento global.
A pesquisa mostra que a produção, a
estocagem e a conservação de alimentos
enlatados, embutidos e de fast-food –
todos com processamento industrial – é
responsável por cerca de 20% da queima
de combustíveis fósseis (derivados do
petróleo) nos EUA. Assim, a dieta típica
dos norte-americanos emite gases de efeito
estufa em quantidade equivalente a um
terço da emissão de todos os carros, motos
e caminhões do país. Os transportes são
apontados como os principais causadores
do superaquecimento do planeta.
Dieta agressiva
Os autores do estudo comparam as
diferenças entre uma dieta vegetariana e
outra composta por produtos industrializa-
dos – em relação à poluição gerada na sua
produção – às mesmas existentes entre um
carro de passeio e um jipe utilitário. Eles
alertam que a capacidade de destruição do
meio ambiente de uma dieta como a dos
norte-americanos é tão grande quanto a
do setor dos transportes. Mas ressaltam
que pequenas mudanças nos hábitos
alimentares das pessoas podem ter um
impacto positivo muito grande. “Se cada
pessoa que come dois hambúrgueres por
semana cortasse essa quantidade pela
metade, a diferença já seria substancial”,
disse um dos autores do estudo.
FAST-FOOD
AQUECE O GLOBO
Vinte por cento do combustível fóssil do planeta
é queimado pela indústria de alimentos
Hábitos alimentares
TEXTO 4
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho12
4•CA06BT10L01.qxd 19.01.07 10:50 Page 12
13. As conclusões do estudo incluem a clas-
sificação de alguns tipos de dieta conforme
a quantidade de gases de efeito estufa
emitidos em todas as etapas da produção.
Os resultados são algumas vezes surpreen-
dentes: em primeiro lugar, como a que
menos impactos traz para o equilíbrio
climático da Terra, ficou a alimentação ve-
getariana (inclui ovos e derivados de leite),
especialmente a composta de alimentos
orgânicos. Em seguida, vem a dieta com
base em carne de aves. Em terceiro lugar,
vem a alimentação industrializada típica
dos norte-americanos. Empatados na últi-
ma colocação, ficaram a carne de peixe e a
carne vermelha. A colocação dos peixes em
último na lista é explicada pelo fato de que,
em geral, a pesca e o congelamento de algu-
mas espécies envolvem muita utilização de
combustíveis derivados de petróleo.
Dessa forma, o consumidor consciente,
por meio de sua escolha alimentar, pode
contribuir para não aprofundar o proble-
ma de aquecimento da Terra e mudanças
climáticas decorrentes.
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 13
Extraído do site www.institutoakatu.org.br
4•CA06BT10L01.qxd 14.12.06 23:06 Page 13
14. A
limentação é um assunto muito
mais importante do que simples-
mente levar comida à boca. Come-
ça com a escolha dos alimentos na hora
da compra – os vegetais da safra, por exem-
plo, são sempre mais baratos e melhores
do que os que estão na entressafra –, passa
pelo jeito com que são transportados,
guardados, manipulados, preparados e só
termina na forma pela qual são ingeridos,
tirando o máximo proveito de seu poten-
cial nutritivo.
Assim, o ato de comer é o último pas-
so de uma caminhada que começa muito
distante da nossa cozinha. No Sesc,
Serviço Social do Comércio, esse jeito de
tratar os hábitos alimentares dos brasilei-
ros tem o nome de Culinária Inteligente,
um programa de alimentação que planeja
a composição dos cardápios dos restau-
rantes e lanchonetes de suas unidades,
ensina a preparar os alimentos e orienta
sobre como consumi-los de forma nutri-
cionalmente adequada.
O combate ao desperdício é um dos
principais temas tratados. É como desco-
brir um mundo novo, um outro olhar
sobre os alimentos. Por exemplo: sabe
aquele talo que costuma ir direto para o
lixo? Ou o caroço da jaca ao qual ninguém
repara? E a folha do brócolis? A casca da
banana? Enfim, o destino final disso tudo
pode deixar de ser o lixo para transfor-
mar-se em um cardápio com iguarias nun-
ca imaginadas.
O não-desperdício foi a primeira
etapa para a formação do conceito Culi-
nária Inteligente, que nada mais é que
levar em consideração todos os aspectos
da alimentação: economia, higiene, capa-
cidade nutricional, preparo, aproveita-
mento de tudo que os vegetais podem
oferecer e, claro, muito sabor.
Mesa Brasil
A semente para o aproveitamento
integral dos alimentos foi plantada há dez
anos em função de um dos maiores flage-
Hábitos alimentares
TEXTO 5
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho14
MESABRASIL
NÃOTEMDESPERDÍCIO
O desperdício é
combatido pelo Culinária
Inteligente, um programa
que une criativade
e economia na cozinha
5•CA06BT04L01.qxd 20.01.07 12:46 Page 14
15. los da realidade brasileira: a fome. Em
1994, o Sesc implantou um programa de
combate à fome e ao desperdício de
alimentos, uma das primeiras grandes inici-
ativas para mobilizar a sociedade, o Mesa
São Paulo. A idéia era simples e eficiente:
pegar o alimento onde sobra e entregá-lo
onde falta.
Em 2003, a iniciativa foi lançada
nacionalmente com o nome de Mesa
Brasil Sesc, com o objetivo de contribuir
para que parcelas carentes da comunida-
de tivessem acesso à alimentação por
meio do combate ao desperdício. O pro-
grama conta com a parceria de empresas
que doam alimentos, trabalhadores vo-
luntários e instituições sociais que se
dedicam ao atendimento de segmentos
excluídos da comunidade.
A década de experiência aperfeiçoou
o programa tornando-o ainda mais eficien-
te. Para combater o desperdício foi preci-
so, também, aprender a manusear os
alimentos para não estragá-los, capacitar
os funcionários para detectar o estado dos
produtos e as pessoas que os recebiam
para armazená-los e manipulá-los da
melhor maneira, estabelecer regras de
preparo e higiene, enfim, garantir a segu-
rança necessária ao consumo.
Os efeitos práticos dessas ações po-
dem ser sentidos rapidamente no bolso.
De acordo com o Instituto Akatu pelo
Consumo Consciente, é possível diminuir
em até 30% os gastos com comida. Além
de contribuirmos para a diminuição do
lixo orgânico, que hoje representa 65%
de todo os detritos produzidos no Brasil.
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 15
Os dados divulgados pelo Insti-
tuto Akatu atestam que o desper-
dício de comida no Brasil seria
suficiente para alimentar 8 mi-
lhões de famílias. O Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística
calcula que de 20% a 30% dos
produtos comprados para abas-
tecer uma família de classe média
acabam no lixo. Isso significa
jogar fora em torno de 500 g de
alimentos por dia. Em vinte anos,
essa perda equivale a 3.600
quilos, quantidade suficiente para
fornecer 1 kg de alimento diário
para uma criança de zero a 10
anos de idade, ou, ainda, oferecer
três refeições diárias para os 7 mil
habitantes de uma cidade duran-
te um dia.
Os números da
fome no país
Foto:NiltonFukuda/AE
Supermercado de Osasco, em São Paulo, doa
alimentos para o programa Mesa Brasil, do Sesc.
5•CA06BT04L01.qxd 19.01.07 10:55 Page 15
16. No supermercado
P Elabore uma lista com calma, assim
você evita levar alimentos que não con-
sumirá.
P Vá ao supermercado bem alimentado,
para não comprar por impulso.
P Compare os preços. Sempre.
P Observe o prazo de validade dos pro-
dutos.
P Congelados e resfriados devem ser colo-
cados por último no carrinho.
P Acúmulo de gelo sobre a embalagem
indica que o produto foi descongelado
e congelado novamente, o que o torna
impróprio ao consumo.
P Frutas e legumes da estação são mais
nutritivos e baratos.
Na panela
P O feijão pode ficar ainda mais saboroso
se ficar de molho por 6 horas. A diges-
tão é melhor e aproveitam-se mais os seus
nutrientes.
P Não use facas serrilhadas para cortar
legumes, frutas e verduras, pois isso faz
com que se percam mais nutrientes.
Na cozinha
P Não se deve deixar lixo próximo a ali-
mentos, pratos e talheres. Isso vale tam-
bém para aquela lixeirinha que fica em
cima da pia.
P Todo alimento guardado na geladeira
deve estar protegido. Assim ele não
perde os nutrientes e não absorve o
cheiro e as bactérias de produtos estra-
gados.
P Alimentos já lavados não devem ser
misturados aos que ainda não o foram.
P Não coloque em um mesmo compar-
timento alimentos preparados com os
que ainda vão ser.
Texto 5 / Hábitos alimentares
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho16
Evitar o desperdício não é
só preparar refeições na
quantidade certa ou não
jogar comida fora. Muitas
frutas, legumes e verduras
podem ser melhor aprovei-
tados do que se imagina e,
mais importante ainda, re-
sultar em pratos deliciosos.
Quem disse que a casca de
banana não serve para na-
da? E que o talo da couve é
inútil? Experimentando aqui,
mudando alguma coisinha
acolá, as culinaristas e nutri-
cionistas do Sesc São Paulo
criaram receitas saborosas
que aproveitam integralmen-
te os alimentos. À mesa!
Dicas de consumo valiosas
5•CA06BT04L01.qxd 19.01.07 10:55 Page 16
17. P O descongelamento de alimentos, se
não for no forno de microondas, deve
ser feito dentro da geladeira. O ideal é
retirá-lo do congelador e deixá-lo na
geladeira até o completo descongela-
mento.
P Após descongelado, o alimento deve
ser preparado e consumido em segui-
da. Nunca o congele novamente cru.
Só faça isso, se ele tiver sido cozido,
frito ou assado.
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 17
Bolinho de talos, folhas ou cascas
Ingredientes
• 1 xícara (chá) de talos, folhas ou cascas
bem lavadas e picadas
• 2 ovos
• 5 colheres (sopa) de farinha de trigo
• 1/2 cebola picada
• 2 colheres (sopa) de água
• sal a gosto
• óleo para fritar
Modo de preparo
Bater bem os ovos e misturar os ingre-
dientes restantes. Fritar os bolinhos às colhe-
radas em óleo quente. Escorrer em papel
absorvente. Podem ser usados talos de acel-
ga, couve, agrião, brócolis, couve-flor, folhas
de cenoura, beterraba, nabo, rabanete ou
cascas de chuchu. No caso dos talos de couve,
couve-flor e brócolis, recomenda-se fervê-los
antes do preparo. Você pode aproveitar a
água desse cozimento para outros pratos,
como arroz e sopa.
Bife de casca de banana
Ingredientes
• Cascas de 6 bananas maduras
• 3 dentes de alho
• 1 xícara de farinha de rosca
• 1 xícara de farinha de trigo
• 2 ovos
• sal a gosto
Modo de preparo
Lavar bem as bananas em água corren-
te. Cortar as pontas. Retirar as cascas na
forma de bifes, sem parti-las. Amassar o alho
e colocar numa vasilha junto com o sal. Colo-
car as cascas das bananas nesse tempero.
Bater os ovos como para omelete. Passar as
cascas das bananas na farinha de trigo, nos
ovos batidos e, por último, na farinha de
rosca, sempre nessa ordem. Fritar as cascas
em óleo bem quente, deixando dourar dos
dois lados. Servir quente.
Receitas de lamber os dedos
Extraído da revista do Sesc no
83
www.sescsp.org.br/sesc/revistas
5•CA06BT04L01.qxd 19.01.07 10:55 Page 17
18. Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:
I a proteção da vida, saúde e segurança
contra os riscos provocados por práti-
cas no fornecimento de produtos e
serviços considerados perigosos ou
nocivos;
II a educação e divulgação sobre o
consumo adequado dos produtos e
serviços, asseguradas a liberdade
de escolha e a igualdade nas con-
tratações;
III a informação adequada e clara sobre
os diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade,
características, composição, qualida-
de e preço, bem como sobre os riscos
que apresentem;
IV a proteção contra a publicidade en-
ganosa e abusiva, métodos comer-
ciais coercitivos ou desleais, bem co-
mo contra práticas e cláusulas abusi-
vas ou impostas no fornecimento de
produtos e serviços;
V a modificação das cláusulas contra-
tuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em
razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas;
VI a efetiva prevenção e reparação de
danos patrimoniais e morais, indivi-
duais, coletivos e difusos;
VII o acesso aos órgãos judiciários e
administrativos com vistas à preven-
ção ou reparação de danos patrimo-
niais e morais, individuais, coletivos
ou difusos, assegurada a proteção
jurídica, administrativa e técnica aos
necessitados;
VIII a facilitação da defesa de seus direi-
tos, inclusive com a inversão do ônus
da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for
ele hopossuficiente, segundo as re-
gras ordinárias de experiências;
IX (Vetado);
X a adequada e eficaz prestação dos
serviços públicos em geral.
CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR
Conjunto básico das
regras que protegem
o cidadão contra os
maus fornecedores
Direitos civis
TEXTO 6
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho18
6•CA06BT14L01.qxd 19.01.07 10:57 Page 18
19. Alimentação e saúde
TEXTO 7
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 19
OSALTOS
LUCROS DOS
MAUS HÁBITOS
Culpamos os pacientes
pelos maus hábitos,
mas esquecemos que
nada é casual
Paulo Bento Bandarra
A
revista Veja de 17/6/2003 abordou a
estatina, nova esperança no combate
às doenças cardíacas por sua eficácia
na queda do colesterol. Já é a droga mais
vendida no mundo. Está também sendo
usada contra diabetes, angina, osteoporose,
inflamações, Alzheimer, câncer de mama e
próstata. Sem entrar no mérito da estatina
como arma terapêutica, certamente não é a
solução para a má alimentação e a inversão
de valores da sociedade de consumo. Vive-
se para comer, não se come para viver me-
lhor. A alimentação passou a ser um produ-
to comercial, que foge de sua função
natural. Seu consumo é estimulado a toda
hora pela mídia para quem tem poder aqui-
sitivo e, portanto, já está alimentado. Então,
inventam-se guloseimas para um consumo
cada vez maior, para que o lucro se faça pre-
sente nos negócios de alimentação.
Bom para a indústria
A comida perde suas principais quali-
dades e funções para ser vendida por seus
atrativos visuais, gustativos, táteis, para que
se consuma mesmo sem necessitar. As
gorduras utilizadas são de má qualidade,
visando aumentar o lucro com produtos de
preços mais baixos. Não são alimentos
balanceados para uma alimentação saudá-
vel. Visam, principalmente, a quebra da
resistência do consumidor, induzido à inges-
tão maior. E como a concorrência existe, a
briga é para cada vez se comer mais.
Ilustração:Alcy
7•CA06BT15L01.qxd 14.12.06 23:14 Page 19
20. Texto 7 / Alimentação e saúde
Publicado no Observatório da Imprensa
20 • Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho
Os resultados já são considerados alar-
mantes, com epidemias de obesidade, hi-
pertensão, cardiopatia e diabetes – excesso
de alimentação de alguns, fome de outros,
que não participam da festa por falta de
poder aquisitivo.
A solução desses problemas pela via
medicamentosa, como adverte a reporta-
gem da Veja, é a pior possível. É tentar re-
mediar um mal com outro. Não serão os
medicamentos que solucionarão os proble-
mas advindos do tabagismo, do alcoolismo,
do excesso de comida. Aumentar gastos
com exames, medicamentos de prevenção
e recuperação, tratamentos crônicos, hospi-
talizações e cirurgias corretivas é a pior
saída para uma questão simples, de causa
totalmente conhecida, mas de difícil enfren-
tamento, pois as indústrias apostam todas
as suas fichas nesse estado de coisas, e a
mídia participa desse mercado de encanta-
mento lucrando sua parcela na promoção
da venda. Associa-se ao problema a indús-
tria de alimentos de baixa caloria, para que
se coma maior volume com menor efeito no
ganho de peso, criando ao mesmo tempo
dependência do hábito de comer demais.
É uma atitude tola medicar os maus
hábitos, pois se desperdiçam recursos que
poderiam ser aplicados em áreas mais úteis.
O New York Times de 13 de julho anunciou
a necessidade de se prescreverem estatinas
para níveis mais baixos de colesterol! (ou
seja, aumentar as vendas). Tratar pessoas
para que possam manter a ingestão excessi-
va é uma distorção absurda. Passar a vida
comendo para dar lucro à indústria de
alimentos insalubres, para depois acabar a
vida tomando remédios só é bom para a
indústria. Inclusive a midiática.
Crianças obesas sendo
atendidas no Instituto
Novere, na Vila Mariana,
em São Paulo, que
realiza um programa para
redução de ingestão
de alimentos e com
exercícios para crianças
carentes obesas.
Foto:FilipeAraújo/AE
7•CA06BT15L01.qxd 19.01.07 10:59 Page 20
21. A
o tomar um copo de leite, a gente dá
pouca atenção ao significado dessa
ação. O gostoso líquido foi produzi-
do, embalado, transportado e vendido até
chegar ao copo para ser consumido. Aliás,
o copo também foi produzido, embalado,
transportado e vendido, envolvendo um
grande número de trabalhadores de diver-
sas esferas da produção, distribuição e
comercialização, esferas que, por sua vez,
consumiram quantidades de energia e
matéria-prima.
Como então esse leite chegou até o
momento de poder ser consumido? Nas ci-
dades, provavelmente alguém foi até a
padaria comprar um litro de leite. Segura-
mente pediu a um balconista aquilo que
precisava. O balconista teve como primeira
tarefa do seu dia de trabalho guardar o lote
de leite, que chegou de madrugada, na
geladeira, para que não estragas-
se. Ele é um trabalha-
dor, funcionário do dono do estabelecimen-
to. Pode ser um empregado com registro na
Carteira de Trabalho conforme manda a lei,
ou fazer parte do contingente de trabalha-
dores que vivem relações de trabalho consi-
deradas precárias.
No momento da compra do produto,
foi necessário escolher entre marcas, ti-
pos e embalagens de leite com preços dife-
renciados, assim como tomar algumas
precauções: olhar a data de validade do
leite, como estava armazenado (com boas
condições de refrigeração), se a emba-
lagem estava intacta etc. Foi preciso confe-
rir o troco e guardar o comprovante da
operação de compra e venda do produto,
pois, com ele, o consumidor, caso lesado,
pode recorrer ao serviço de atendimento
ao consumidor da empresa fornecedora do
leite, às associações de defesa de
consumidores civis e governa-
mentais.
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 21
Hábitos alimentares
TEXTO 8
A CORRENTE BRANCA
O leite é muito mais do que o produto de fêmeas mamíferas
8•CA06BT11L01.qxd 19.01.07 11:02 Page 21
22. Texto 8 / Hábitos alimentares
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho22
No preço pago pelo produto, há tam-
bém impostos embutidos, que geram nu-
merário para que o governo forneça servi-
ços, contrate obras e fiscalize, por meio de
uma série de órgãos da administração
pública, a produção, a distribuição e a
comercialização, por exemplo, daquele lei-
te, para garantir suas condições de higiene
e qualidade, assim como verificar o cum-
primento das leis que regulam as relações
de trabalho e consumo. Essas leis, conquis-
tadas ao longo da história pelos cidadãos
organizados, partem do reconhecimento
da desigualdade de forças existente nas
relações de trabalho e consumo e visam
proteger os cidadãos contra abusos e dis-
criminações.
A renda auferida pelo proprietário da
padaria na venda do leite e de outros produ-
tos pode ser depositada ou aplicada num
banco. O banco, parte do sistema financei-
ro, reúne uma variedade de trabalhadores
com diferentes qualificações, remunerações
e direitos, sindicatos e associações profissio-
nais. Enquanto o depositante mantém seu
dinheiro no banco, a instituição financeira o
utiliza, juntamente com o depósito de milha-
res de outros clientes, em operações finan-
ceiras e de crédito, sujeitas a taxas de juros
cobradas de outras pessoas, empresas ou
organizações que solicitam dinheiro para
financiar sua produção, seus projetos e até
as suas dívidas.
É, parece que um copo de leite “escon-
de” muito leite mesmo!
Para esse leite poder ser consumido,
precisou ser transportado do laticínio até
a padaria. Uma série de trabalhadores, os
motoristas, proprietários de seus cami-
nhões ou funcionários de empresas trans-
portadoras, sujeitos a determinadas condi-
ções de salário e trabalho com seus direi-
A CADEIA PRODUTIVA DO LEITE
1 Produção 2 O transporte
8•CA06BT11L01.qxd 19.01.07 11:02 Page 22
23. Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 23
tos e sindicatos, fazem esse serviço pela
madrugada afora. Para transportar o leite
são necessários caminhões com refrigera-
ção, projetados e produzidos em grandes
fábricas nacionais ou multinacionais que
con- somem energia e matéria-prima e que,
novamente, empregam um grande número
de trabalhadores com diferentes especia-
lizações, sujeitos a diferentes formas de
organização do trabalho, salários e direi-
tos, possivelmente também organizados em
seus sindicatos ou associações profissio-
nais. Esses caminhões foram, por sua vez,
vendidos por concessionárias que, também,
reúnem trabalhadores do comércio, com
sua respectiva organização.
O laticínio, formado no Brasil inicial-
mente por cooperativas e com a presença,
atualmente, de empresas multinacionais no
setor, é a indústria do produto. É aí que o
leite será pasteurizado, homogeneizado e
embalado. Máquinas e outros instrumentos
são necessários para a realização do proces-
so, produzidas, também, por fábricas, com
o trabalho dos engenheiros, projetistas e
operários. A indústria do leite desenvolveu,
além dos leites tipos A, B, C (diferenciados
pelo seu teor de gordura entre outros
aspectos), outros tipos de leite: o leite
longa vida, o leite condensado, o leite em
pó, o leite desnatado, assim como uma
série de produtos lácteos, como bebidas
com gosto de frutas, os mais variados iogur-
tes (tradicionais, com polpas de frutas,
diets e lights), atingindo, dessa forma,
públicos diferenciados por idade e poder
aquisitivo.
Uma parte da produção do leite não
chega ao consumidor diretamente. Pães,
bolos da indústria de panificação e outros
produtos o utilizam como ingrediente. Para
que a população compre (e não só uma vez,
3 O processamento 4 A distribuição
8•CA06BT11L01.qxd 19.01.07 11:02 Page 23
24. Texto 8 / Hábitos alimentares
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho24
mas, se possível, sempre) um novo produto
lácteo desenvolvido pela indústria do laticí-
nio, é necessário que ela tome conhecimen-
to da existência da mercadoria e sinta a neces-
sidade de consumi-la. A propaganda, nas
sociedades modernas, utilizando os meios
de comunicação de massa, tem o papel de
informar e “convencer” a pessoa de que ela
“deve” comprar determinadas marcas e pro-
dutos. Este é outro setor que emprega o
trabalho de uma série de profissionais que
se dedicam ao estudo do perfil dos possíveis
consumidores do produto, para encontrar os
caminhos de seu sucesso de vendas.
Mas para que o laticínio possa dar início
a todo esse processo é necessária a matéria-
prima: o leite. Para tanto, ainda é necessária a
propriedade da terra (grandes propriedades,
pequenas propriedades cooperadas etc.), a
plantação e manutenção do pasto, o cuidado
dos animais, a cargo de trabalhadores, sujeitos
a diferentes relações de trabalho, para que se
produza esse importante e complexo líquido.
Portanto, para que tudo isso possa apare-
cer nas prateleiras, trabalhadores com habilida-
des e conhecimentos diferenciados e adequa-
dos produzem e controlam a produção. Todos
elestrabalhamparaobterremuneraçãoquelhes
permita comprar o leite e outros produtos que
consideram necessários para si e para os seus.
Pelo que se viu, o leite é muito mais que
um “líquido branco, opaco, segregado pelas
glândulas mamárias das fêmeas dos animais
mamíferos” (...)
Trecho extraído dos Parâmetros Curriculares Nacionais – Caderno
Trabalho e Consumo – MEC.
5 O varejo 6 O consumo final
8•CA06BT11L01.qxd 20.01.07 12:43 Page 24
26. TABACOY ECONOMÍA PERSONAL
Feliciano Robles Blanco
H
ola amigas y amigos: Este aporte va
especialmente dedicado a aquellas
personas que por causas familiares o
profesionales estéis en contacto con jóvenes
adolescentes que se estén iniciando en el
consumo de tabaco o ya sean fumadores
habituales, porque quizás sea un argumen-
to que les incite a no fumar en el futuro o
dejar de fumar si ya son fumadores habi-
tuales.
Yo nunca he fumado precisamente
porque un día un profesor que yo tuve de
matemáticas me hizo el razonamiento que
voy a exponerles. Así se lo he contado
muchas veces a mis alumnos y a mis hijos
y algunos me han hecho caso y no han
fumado para preservar su economía per-
sonal.
El razonamiento es el siguiente:
Actualmente una cajetilla de tabaco
vale 2,60 euros y un fumador habitual con-
sume más o menos una cajetilla diaria, así
que si decide no fumar dispone de 2,60
euros diários para gastarlo en otras cosas
que le plazca más que fumar.
Si es un poco ahorrativo y no fuma al
cabo de una semana dispondrá de un aho-
rro de 18,20 euros para gastar en algunas
cosas de cierto valor.
Si en vez de gastarlo en una semana
decide guardarlo un mes, podrá disponer
de un ahorro de 72,80 euros, que ya le per-
mitirá gastarlo en algo significativo.
Pero si decide seguir ahorrando du-
rante un año, ya juntará un montante de
873,60 euros con lo que podrá darse algún
gusto interesante e inolvidable.
Os perigos do fumo
TEXTO 10
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho26
10•CA06B_espanhol.qxd 15.12.06 12:06 Page 26
27. 8.736
en 10 años y se
podrá comprar un
coche nuevo
La economía personal
(en valores aproximados)
873,60 euros
72,80 euros
18,20 euros
en una semana en un mes en 1 año
Pero si tiene la fuerza de voluntad de
seguir ahorrando y lo guarda durante 10
años, ya tendrá un montante de 8.736
euros que si lo ha tenido en un banco fijo
con el capital ahorrado y los intereses gene-
rados ya se podrá comprar un coche nuevo.
Por lo cual si la vida de un coche apro-
ximadamente es de diez años, significa que
con el ahorro que tiene por no fumar cada
diez que vaya viviendo podrá ir compran-
do un coche nuevo a expensas del ahorro
generado por no ser fumador.
Este cálculo es fácil de comprender y
realizar por cualquier adolescente y a veces
este razonamiento les resulta más convin-
cente.
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 27
GLOSARIO
Ahorrar. economizar, poupar
Ahorrativo. econômico
Aporte. contribuição
Cajetilla. maço de cigarro
Coche. carro
Dejar. deixar
Fumador. fumante
Hijos. filhos
Hizo. fez (passado do verbo hacer)
Inolvidable. inesquecível
Intereses. juros
Quizás. talvez
Razonamiento. raciocínio
Tabaco. fumo, cigarro
10•CA06B_espanhol.qxd 15.12.06 12:06 Page 27
28. Recebi uma tarefa
Que faço com amor
Falar sobre o direito
De todo consumidor
Seja pobre, seja rico
Não pague “mico”
Aprenda a dar valor
O direito é amplo
Garante a Constituição
De quem compra à vista
Ou mesmo a prestação
Produto com garantia
Pro uso ter serventia
É dever e obrigação
Por isso vamos falar
Nesse livrinho rimado
Os passos que devemos
Dia-a-dia com cuidado
Seguir para comprar
Pra melhor utilizar
Nosso dinheiro suado
Primeiro fique sabendo
Quem é o consumidor
É aquele que compra
E utiliza do credor
Bens e outros produtos
Pagando os tributos
Dentro do real valor
E quem é o fornecedor?
Respondo com certeza
Aquele que te vende
E passa com clareza
Todas as informações
As normas e instruções
Sem usar de “esperteza”
A relação de consumo
Explico sem temor
É aquele que ocorre
Entre o consumidor
Que compra seus bens
Em lojas ou armazéns
E o seu fornecedor
CONSUMIDOR
CONSCIENTE
Cordel
bem-humorado
fala sobre
direitos civis
Defesa do consumidor
TEXTO 11
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho28
Domingos Alves E. Neto – Cabo BM
11•CA06BT08L01.qxd 14.12.06 23:44 Page 28
29. Também nos serviços
Pagos e utilizados
Seja em órgãos públicos
Ou nos privatizados
Reforma ou pintura
Conserto ou costura
O que for “Acordado”
Ocorrendo problemas
Alterando a relação
Procure seus direitos
Exija retificação
Não havendo “acerto”
Ficando no: “prometo”
Faça a reclamação
Percebido o defeito
Sendo de fabricação
Trinta dias é o prazo
Para a sua correção
Não foi corrigido?
Pode ser exigido
A troca ou restituição
Também são trinta dias
Pra exercer o direito
Se produto não durável
Vier já com defeito
Se durável, aumenta
Neste caso, pra noventa
Da Lei tire proveito
Caso alguém envie
Sem a sua solicitação
Produto ou serviço
Será demonstração
Não pode ter cobrança
Mantenha na lembrança
Você não tem obrigação
Se for cartão de crédito
Não caia em tentação
Quebre, ligue, reclame
Não faça utilização
Porque se uso for feito
Ficará como aceito
Não terá outra opção
Compras por telefone
Ou reembolso postal
Vendas porta a porta
Não são de todo mal
Vindo a se arrepender
Sete dias pra devolver
De volta o valor total
O colégio não pode
Documentos reter
Se pai de aluno
Prestação dever
Deve sim, negociar
Só pode desligar
Ao ano letivo vencer
Outro caso abusivo
É oferta condicionada
Sendo muito conhecida
Como venda casada
“Empréstimo com seguro”
Saia de cima do muro
Denuncie a palhaçada
Se por algum motivo
Sua conta atrasar
Não seja enganado
Vou logo te avisar
A multa é dois por cento
Não aceite outro aumento
No direito você está
Tem outra coisa ainda,
Na hora da cobrança
O código não permite
Que passem insegurança
Ameaçar o consumidor
À humilhação o expor
Ou agir com ignorância
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 29
Ilustrações:Alcy
11•CA06BT08L01.qxd 19.01.07 11:03 Page 29
30. Caso alguém lhe cobre
Um valor indevido
Você terá o direito
E dinheiro devolvido
Em dobro do valor
E pra dar mais sabor
Ainda vem corrigido
A propaganda deve ser
Totalmente correta
Não se pode induzir
A não ter mente aberta
A comprar gato por lebre
Nem farinha para febre
Pois a multa é certa
Na hora da entrega
A euforia é total
Saiba como agir
Com lógica racional
Confira a mercadoria
Peça termo de garantia
Exija a nota fiscal
Pois são os documentos
Em caso de reclamação
Verifique a embalagem
Se não tem violação
Se tiver algo errado
Estando tudo violado
Faça a devolução
Foram só algumas dicas
O Código é mais completo
Procure informações
Leia e fique esperto
Consumidor consciente
Cidadania presente
O canal está aberto
O Procon Assembléia
Está à disposição
Faça uma visita
Dê sua opinião
A casa é do povo
Vou dizer de novo
Me garanta satisfação
Existem outros órgãos
Ligados à defesa
De você consumidor
Digo com certeza
Procure pro seu bem
O DECON ou o IPEM
Aqui em Fortaleza
Texto 11 / Defesa do consumidor
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho30
11•CA06BT08L01.qxd 14.12.06 23:45 Page 30
31. Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 31
Consumismo
UMDESENHO Guto Lacaz
TEXTO 12
Publicado na revista Caros Amigos
12•CA06BT17L01.qxd 15.12.06 12:11 Page 31
32. Transgênicos
TEXTO 13
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho32
Alberto Ororubá
UMA
VISÃO DO
FUTURO IIUma projeção bem humorada da
trajetória atual da humanidade
13•CA06BT03L01.qxd 15.12.06 12:14 Page 32
33. O
s alimentos geneticamente modifica-
dos (os transgênicos) foram substituí-
dos pelos geneticamente constituídos.
Quer dizer, nada mais é natural. E tem mais,
é possível escolher o sabor entre 250 opções,
para qualquer tipo de alimento.
Muitos alimentos já vêm com remédios
embutidos contra a maioria das doenças. Vaci-
na não existe mais. Antes da concepção, o pai
da criança toma uma vacina múltipla, contra
1.600 tipos de enfermidades, e pronto!
Além dos alimentos super-light, sem
calorias e sem sabor, chega uma novidade;
o ultra-light. Este último, em forma de com-
primidos, além de não alimentar, é ideal
para quem quer perder peso. Funciona
assim: a pessoa chega na farmácia e pede
“Me dá um comprimido de 1 mês de exercí-
cios!”. Isso é a mesma coisa que correr por 3
horas, 5 dias por semana, durante um mês.
Tudo isso sem cansar e de efeito quase
imediato. É incrível!
Um dos exemplos práticos da modifica-
ção genética dos alimentos foi a inclusão do
gene do inhame nos grãos de arroz. Resul-
tado, grãos de arroz com até 5 quilos cada.
Um único pé de arroz dos pequenos produz
agora 1 tonelada de alimento.
Os animais e insetos também foram
modificados geneticamente, não pelo ho-
mem, mas pelos alimentos transgênicos.
Também o foram os vírus e as bactérias,
mas isso é outro assunto.
As pessoas podem escolher a aparência
e sexo dos seus filhos antes do nascimento.
Então é comum, em algumas cidades, en-
contrarmos centenas de pessoas iguais em
homenagem a alguém famoso.
Sei de um caso em que a personalidade
mais importante e admirada do lugar era um
personagem de um desenho animado japo-
nês chamada BarataMon. Assim se originou
a primeira geração de baratas humanas.
Tinham uma nítida vantagem sobre os de-
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 33
Experiência em
laboratório testa
nova técnica
de reconstituição
de tecidos.
Foto:AFPPHOTO
13•CA06BT03L01.qxd 19.01.07 11:06 Page 33
34. mais humanos; comiam de tudo e com isso
não havia fome na comunidade. Mas, na
cidade, os chinelos estavam proibidos.
A polícia local bem que tentou, mas
nunca conseguiu deter o avanço do tráfico
de drogas naquele lugar. Resultado: o índi-
ce de pessoas viciadas em detefon crescia a
cada ano.
Alguns ratos geneticamente modifica-
dos, que foram treinados em laboratórios
secretos de pesquisa para aprenderem a ler
(a idéia era usar esses animais inteligentes
em espionagem industrial e na guerra),
finalmente se rebelaram e fugiram para as
montanhas de lixo. Nasceu assim uma nova
raça – a dos ratos falantes. Com o tempo,
aprenderam a andar com duas pernas ape-
nas e passaram a conviver normalmente
com os humanos.
E, da união dos humanos com os ratos
nasceu o RatoMon, uma mistura de homem
com rato. Nas cidades onde eram maioria,
não existiam gatos. Por algum motivo que
não sabiam explicar direito, não os supor-
tavam.
Um cientista muito famoso, estudioso
da evolução das espécies, chamado Charles
Ratwin, chegou à conclusão de que o ho-
mem, na verdade, descendia do rato. Disse
isso baseado numa descoberta arqueológica
fantástica.
Foi assim: na África central, um pesqui-
sador, ao cair acidentalmente numa caverna,
encontrou um fóssil de rato com 2 metros de
altura que segurava na mão uma mamadei-
ra decorada com a fotografia de uma crian-
ça. Conclusão: O fóssil era de uma rata, que
dera à luz uma criança humana e a estava
alimentando quando aconteceu a catástrofe:
um cometa recheado de Racumin colidiu
com a Terra e exterminou 90% da popula-
ção de ratos, até então os dominantes do
planeta.
Daí a expressão de dúvida ainda muito
comum hoje em dia: “Você é um homem ou
um rato?”
Texto 13 / Transgênicos
• Consumo, Qualidade de Vida e Trabalho34
GLOSSÁRIO
Transgênico. termo usado para designar
alimentos que tiveram sua estrutura
alterada por engenharia genética para
ganhar características desejáveis.
Racumin. espécie de veneno para ratos.
Light. termo usado para designar
alimentos com pouco valor calórico.
Detefon. espécie de veneno comercial
multiuso.
O autor é desenhista e pensador e nas horas livres tenta escrever
alguma coisa sobre o futuro do planeta. Sua fonte de inspiração são
as pessoas e como elas vivem atualmente.
Extraído do sitededicas.uol.com.br/conto_leitor12b.htm
13•CA06BT03L01.qxd 19.01.07 11:06 Page 34
35. Direitos do consumidor
TEXTO 14
O consumidor consciente
sabe quanto pode gastar sem
comprometer o seu orçamento.
Não foi isso que aconteceu em janeiro de 2006,
quando o volume de cheques sem fundos cresceu quase 25%.
SACO SEM
FUNDO
C
omparando com o mês de janeiro de
2005, quando 15 cheques a cada mil
foram devolvidos, o índice de 19
cheques devolvidos em janeiro de 2006
revela que o consumidor brasileiro está gas-
tando mais do que pode pagar.
Esse alto índice reflete uma má admi-
nistração das finanças pessoais. Muito disso
é reflexo das compras de Natal, feitas na
base do crediário, quando a dívida contraí-
da no ano anterior precisa ser paga no
início do ano seguinte. Isso engessa o orça-
mento e compromete o pagamento de
outras despesas comuns nessa época do
ano, como IPTU, IPVA e despesas escolares.
Antes de contrair dívidas, é recomenda-
do ao consumidor avaliar os riscos de com-
prometer uma grande parte do orçamento
com o pagamento de juros – no Brasil prati-
ca-se uma das maiores taxas do mundo. Na
medida do possível, deve-se comprar à vista.
Mas o consumidor não é o único “cul-
pado” pela alta taxa de inadimplência. Os
comerciantes que não fazem os procedi-
mentos de análise de crédito para auto-
rizar a compra também têm sua parcela de
responsabilidade.
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 35
Extraído do site www.akatu.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?
infoid=1334&sid=10&tpl=view%5Ftipo4%2Ehtm
14•CA06BT09L01.qxd 15.12.06 12:17 Page 35
36. “F
aixa de Gaza” (em referência à
conflituosa região do Oriente Mé-
dio, onde se enfrentam judeus e
palestinos) é como os cariocas chamam um
determinado trecho da avenida Rio Branco
– uma referência bem-humorada e um
tanto mórbida – aos constantes enfrenta-
mentos entre o comércio ambulante ilegal
e a Guarda Municipal.
Pelo local, passam diariamente mais de
500 mil pessoas, potenciais consumidores
dos produtos oferecidos. A área é o local
de maior concentração de camelôs por
metro quadrado do Rio. Ali, vendem-se
livremente produtos pirateados como CDs,
DVDs, relógios, camisas, cigarros, tênis e
sapatos.
Segundo dados da Secretaria de Gover-
no do município, cerca de mil camelôs
ilegais atuam no centro da cidade e o
número aumenta para até 1,3 mil pouco
antes do Natal. Além desses, existe ainda o
chamado comércio ambulante legal, auto-
rizado pela prefeitura, formado por mais
de dois mil camelôs cadastrados pela Secre-
taria de Governo. Eles são proibidos de
vender mercadorias falsificadas ou contra-
bandeadas, mas, apesar da formalidade, é
fácil achar produtos pirateados entre os
No Rio, comércio ilegal
transforma centro da
cidade em zona de guerra
Comércio ilegal
TEXTO 15
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho36
A PIRATARIAATACA
15•CA06BT05L01.qxd 19.01.07 11:09 Page 36
37. ambulantes legalizados. Os camelôs que
vendem produtos piratas transformaram o
centro do Rio num território demarcado,
com uma estrutura parecida com a do tráfi-
co de drogas. Eles são arredios e violentos.
A maioria é jovem, entre 19 e 25 anos de
idade, e reside na Baixada Fluminense.
Cada ambulante tem o seu ponto de venda,
que não pode ser ocupado por outro, sob
pena de gerar uma guerra entre eles. Um
dos camelôs diz ter plena consciência de
que vende camisas pirateadas de marcas
famosas, mas alega precisar da “camelo-
tagem” para sobreviver. “Não tenho estudo
(primeiro grau incompleto), e ninguém me
dá emprego”, justifica.
Abordagem esportiva
As mercadorias pirateadas são vendi-
das abertamente, bem à frente dos olhos
dos policiais militares que fazem a seguran-
ça do centro da cidade. Nesse comércio
ilegal, é possível comprar desde um relógio
“Rolex” por R$ 9,99 a uma camisa “Lacos-
te” por R$ 15. Nas lonas montadas pelos
ambulantes, também podem ser encontra-
dos um pacote de quatro CDs de sucessos
atuais por R$ 10, DVDs de filmes por R$ 5
e tênis da “Nike” por R$ 25. A poucos quilô-
metros dali, no Maracanã, uma barraca
instalada no principal portão de entrada do
Estádio Mário Filho vende camisas de
clubes de futebol, todas pirateadas. A cami-
sa da seleção brasileira, a mais procurada
pelos turistas que visitam o estádio, custa,
em média, R$ 40.
O comércio formal do centro da cida-
de é o mais prejudicado com ação dos
camelôs, pois é obrigado a fechar suas lojas
nos momentos de conflito com a polícia; a
concorrência desleal dos produtos falsifica-
dos causa perdas ao setor de mais de 1
bilhão de reais por ano.
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 37
Foto: Daniela Conti / Ag. O Dia / AE
Pirataria de CD's
na avenida Rio
Branco, centro
da cidade do
Rio de Janeiro.
Extraído de www.radiobras.gov.br/especiais/Piratariapirataria_mat5.htm
15•CA06BT05L01.qxd 19.01.07 11:09 Page 37
38. RESPEITO PELA
(TENRA) IDADE
Televisão
TEXTO 16
• Consumo, Qualidade de Vida e Trabalho38
Debate sobre publicidade dirigida a crianças constata que vulnerabilidade
infantil parte da idéia de que o consumismo traz a felicidade. Vários
países restringem esse tipo de anúncios, o que não ocorre no Brasil.
16•CA06BT07L01.qxd 15.12.06 12:24 Page 38
39. Consumo, Qualidade de Vida e Trabalho • 39
ESPECIALISTAS QUEREM QUE
A PROPAGANDA INFANTIL
SEJA REGULAMENTADA
Fernanda Sucupira
A
s crianças brasileiras estão entre as
que mais assistem à televisão no
mundo todo. Enquanto elas perma-
necem em média três horas e meia por dia
diante da televisão, as alemãs não ficam
mais do que uma hora e meia. Conside-
rando que esse meio de comunicação chega
a 98% dos lares brasileiros, pode-se ter
idéia do papel da televisão na formação das
crianças. A publicidade televisiva, por meio
de comerciais e merchandising, as influên-
cia no comportamento e no modo de pen-
sar, resultando no crescente consumismo
apresentado nos últimos tempos. Este foi o
principal assunto discutido durante o I
Fórum Internacional Criança e Consumo,
no qual especialistas defenderam que a
propaganda destinada a crianças seja regu-
lamentada no Brasil, a exemplo de outros
países.
Longa tramitação
Desde 2001, está em tramitação na
Câmara dos Deputados, um projeto de lei
de autoria do deputado Luiz Carlos Hauly
(PSDB-PR) que altera o Código de Defesa
do Consumidor, proibindo a publicidade de
produtos infantis. A Campanha “Quem
financia baixaria é contra a cidadania”,
organizada pela Comissão de Direitos Hu-
manos da Câmara em parceria com organi-
zações da sociedade civil, colocou essa ques-
tão como prioritária e realizou, em 2005,
audiências públicas com o objetivo de cons-
truir coletivamente uma proposta, a partir
do projeto de lei.
Regulamentação
Após amplo debate com a sociedade
civil, a deputada federal Maria do Carmo
Lara (PT-MG), relatora da proposta na
Comissão de Defesa do Consumidor, con-
clui que a grande maioria é favorável à
regulamentação desse tipo de propaganda
e não à proibição total. O coordenador da
campanha, o deputado federal Orlando
Fantazzini (PSOL-SP) considera que a medi-
da provocaria uma pressão imensa das em-
presas anunciantes e de marketing. Por isso,
o grupo optou por, em vez de apresentar um
projeto proibindo, dar o primeiro passo que
é a regulamentação.
16•CA06BT07L01.qxd 15.12.06 12:24 Page 39
40. O substitutivo da deputada Maria do
Carmo vai propor que toda propaganda
direcionada a crianças e adolescentes só
possa ser exibida após as 22 horas, quando
supostamente pais ou responsáveis estão
em casa e vão poder analisar se o brinque-
do, vestuário ou alimento anun-
ciado é indispensável ou não
para a formação de seus filhos.
A decisão dos produtos a serem
consumidos ficariam, assim, a
cargo deles e não das crianças,
muito mais vulneráveis aos
apelos da publicidade. Esse seria
apenas o primeiro passo a cami-
nho da proibição total.
O que acontece nos outros países
Diversas pesquisas mos-
tram que nos primeiros anos de
vida a criança não sabe sequer
distinguir entre o que são os
programas das emissoras de
televisão e as propagandas. Só
por volta dos doze anos ela tem
capacidade de entender perfei-
tamente o objetivo comercial da publici-
dade, ou seja, que a intenção do anunci-
ante é vender o seu produto. Por conta
disso, em janeiro de 2005, a Suécia proi-
biu completamente a propaganda para
crianças na TV, após realizar um plebisci-
to, com mais de 80% das pessoas favorá-
veis à medida.
Em diversos outros países já existe
legislação rigorosa que regulamenta essa
questão, impondo limites e horários para
esses comerciais serem veiculados. A
Inglaterra, por exemplo, determina que a
publicidade deve ser dirigida aos pais e
limita o preço do que pode
ou não ser anunciado, impe-
dindo a veiculação de propa-
ganda de produtos conside-
rados muito caros. Além
disso, toda a publicidade in-
fantil inglesa é examinada e
classificada previamente.
Em alguns países, como
na Alemanha, crianças não
podem apresentar publicida-
de de produtos sobre os quais
elas não teriam conhecimen-
to ou que não seriam do
natural interesse delas, como
anúncios de instituições ban-
cárias. Na Espanha, entre
outros países, artistas ou per-
sonagens de TV, como de de-
senhos animados e apresen-
tadores de programas infantis, não
podem participar de peças publicitárias
por causa da influência que exercem
sobre as crianças. O merchandising em
programas infantis é vetado em diversos
países e em outros essas atrações televisi-
vas não podem ser interrompidos por
anúncios publicitários.
Texto 16 / Televisão
• Consumo, Qualidade de Vida e Trabalho40
98% dos lares
brasileiros têm
televisão
3h30
é o tempo que as
crianças brasileiras
ficam na frente
da televisão
Na Alemanha, esse
tempo é de 1h30
16•CA06BT07L01.qxd 19.01.07 11:13 Page 40
41. Vulnerabilidade infantil
Segundo a psicanalista infantil Ana
Olmos, a televisão e a publicidade em si
não são prejudiciais à criança, os efeitos
provocados por elas dependem, na verda-
de, do uso que se faz delas. “Por trás das
propagandas existe a idéia de que se você
comprar tal produto vai se completar, se
incluir, fazer parte do grupo das pessoas
felizes, ricas e bonitas”, analisa.
Em certos lugares, a regulamentação não
se restringe à publicidade televisiva, mas atin-
ge também as embalagens dos produtos – que
na Suécia devem ser neutras – e incluem a
proibição do estímulo ao consumo excessivo
de alimentos. É vetada a publicidade de
produtos com brinquedos embutidos e figu-
rinhas para colecionar, como fazem no Brasil
alguns fabricantes de chocolates, cereais e
lanches de redes de fast-food, o que prati-
camente força o consumo infantil. Os
alimentos gordurosos ou doces consumidos
em excesso podem levar a problemas nutri-
cionais sérios como o sobrepeso e a obesi-
dade, que vêm crescendo entre crianças e
adolescentes brasileiros.
Consumo, Qualidade de Vida e Trabalho • 41
Fonte P Agência Carta Maior
www.cartamaior.uol.com.br
A propaganda
intensiva na televisão
voltada para o
público infantil
influencia a lista
de compras
da família.
Foto: Vidal Cavalcante / AE
16•CA06BT07L01.qxd 19.01.07 11:14 Page 41
42. • Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho42
Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha
mulher me disse para despejar todas na pia, porque senão...
– Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humil-
demente. E comecei a desempenhar, com religiosa obediência,
a minha ingrata tarefa.
Tirei a rolha da primeira garrafa e despejei o seu conteúdo
na pia, com exceção de um copo, que bebi.
Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma
maneira, com exceção de um copo, que virei.
Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque
na pia, com exceção de um copo, que empinei.
Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa,
que bebi.
Apanhei a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e
bebi a garrafa, por exceção.
Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a gar-
rafa, com exceção da rolha.
Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa,
arrolhei o copo e bebi por exceção.
Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que
escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã
cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acor-
do com as ordens da minha mulher, a quem não gosto
de contrariar, pelo mau gênio que tem.
Uma forma
simples de
complicar
qualquer
raciocínio
Os perigos do álcool
TEXTO 17
17•CA06BT12L01.qxd 15.12.06 12:28 Page 42
43. Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 43
Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei
direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram
exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma
vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu
noventa e três, o que confere, já que todas as coisas no
momento estão ao contrário.
Para maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez,
contando todas as pias, rolhas, banheiros, copos, casas e
garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho que não vão
chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca.
Extraído do livro Máximas e Mínimas do Barão de Itararé, Editora Record –
Rio de Janeiro, 1985, pág. 28 e seguintes, uma coletânea organizada por
Afonso Félix de Sousa.
O brasão da Casa de Itararé
Apparício Torelli, Barão de Itararé, o
Brando, (1895/1971), “campeão olímpico da
paz”, “marechal-almirante e brigadeiro do ar
condicionado”, “cantor lírico”, “andarilho da
liberdade”, “cientista emérito”, “político inquie-
to”, “artista matemático, diplomata, poeta, pin-
tor, romancista e bookmaker”, como se definia,
era gaúcho e é um dos maiores humoristas de
todos os tempos. Dele disse Jorge Amado: “Mais
que um pseudônimo, o Barão de Itararé foi um
personagem vivo e atuante, uma espécie de Dom
Quixote nacional, malandro, generoso, e gozador,
a lutar contra as mazelas e os malfeitos”.
17•CA06BT12L01.qxd 19.01.07 11:16 Page 43
44. B
iodiesel é um combustível biodegra-
dável derivado de fontes renováveis,
que pode ser obtido por diferentes
processos tais como o craqueamento, a
esterificação ou pela transesterificação.
Esta última, mais utilizada, consiste numa
reação química de óleos vegetais ou de
gorduras animais com o álcool comum
(etanol) ou o metanol, estimulada por um
catalisador. Desse processo também se
extrai a glicerina, empregada para fabrica-
ção de sabonetes e diversos outros cosmé-
ticos. Há dezenas de espécies vegetais no
Brasil das quais se pode produzir o biodie-
sel, tais como mamona, dendê (palma),
girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso
e soja, entre outras.
Biodiesel: conceito e funções
O biodiesel substitui total ou parcialmen-
te o óleo diesel de petróleo em motores ciclo-
diesel automotivos (de caminhões, tratores,
camionetas, automóveis, etc.) ou estacioná-
Os combustíveis
renováveis podem
gerar um novo país
Desenvolvimento sustentável
TEXTO 18
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho44
FEITO EM CASA
Funcionário mostra mamona seca, na
usina de beneficiamento de óleo da
Fazenda Normal, no distrito de
Uruque, em Quixeramobim, CE.
Foto: Jarbas de Oliveira /AE
18•CA06BT20L01.qxd 19.01.07 11:18 Page 44
45. rios (geradores de eletricidade, calor, etc.).
Pode ser usado puro ou misturado ao diesel
em diversas proporções. A mistura de 2% de
biodiesel ao diesel de petróleo é chamada de
B2 e assim sucessivamente, até o biodiesel
puro, denominado B100.
Surgimento do biodiesel
O biodiesel já vem
sendo pesquisado e já é
conhecido desde o início
do século passado, prin-
cipalmente na Europa. É
interessante notar que,
segundo registros histó-
ricos, o Dr. Rudolf Diesel
desenvolveu o motor die-
sel, em 1895, tendo leva-
do sua invenção à mos-
tra mundial em Paris,
em 1900, usando óleo
de amendoim como com-
bustível. Em 1911, teria
afirmado que “o motor
diesel pode ser alimenta-
do com óleos vegetais e
ajudará consideravelmente o desenvolvi-
mento da agricultura dos países que o
usarão”. O que estamos buscando fazer no
Brasil é muito semelhante a isso, inicial-
mente com ênfase na agricultura familiar
das regiões mais carentes, como o Nordes-
te, o Norte e o Semi-Árido brasileiro.
Experiência brasileira em biodiesel
O Brasil já foi detentor de uma patente
para fabricação de biodiesel, registrada a
partir de estudos, pesquisas e testes desen-
volvidos na Universidade Federal do Ceará,
nos anos de 1970. Essa patente acabou
expirando, sem que o País adotasse o biodie-
sel, mas a experiência ficou e se consolidou
ao longo do tempo. Progres-
sos crescentes vêm sendo
feitos em diversas universi-
dades, institutos de pesqui-
sa de diversos Estados, ha-
vendo grande diversidade
de tecnologias disponíveis
no País. Existem também
empresas que já produzem
biodiesel para diversas fi-
nalidades. Pode-se dizer
que o Brasil já dispõe de
conhecimento tecnológico
suficiente para iniciar e
impulsionar a produção de
biodiesel em escala comer-
cial, embora deva conti-
nuar avançando nas pes-
quisas e testes sobre esse combustível de
fontes renováveis, como aliás se deve avan-
çar em todas as áreas tecnológicas, de
forma a ampliar a competitividade do pro-
duto. Em resumo, é só usar e aperfeiçoar o
que já temos.
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 45
100kg de
óleo vegetal 10kg
de álcool
100kg de biodiesel
REAÇÃO
A FÓRMULA
10kg de glicerina
(matéria-prima
do sabonete)
18•CA06BT20L01.qxd 19.01.07 11:18 Page 45
46. Vantagens do biodiesel para o Brasil
Esse combustível renovável permite a
economia de divisas com a importação de
petróleo e óleo diesel e também reduz a
poluição ambiental, além de gerar alterna-
tivas de empregos em áreas geográficas
menos atraentes para outras atividades
econômicas e, assim, pro-
mover a inclusão social. A
disponibilização de ener-
gia elétrica para comuni-
dades isoladas, hoje de
elevado custo em função
dos preços do diesel, tam-
bém deve ser inserida co-
mo forma de inclusão,
que permite outras, como
a digital, o acesso a bens,
serviços, informação, à
cidadania e assim por
diante. Há que se conside-
rar ainda uma vantagem
estratégica que a maioria
dos países importadores de petróleo vem
inserindo em suas prioridades: trata-se da
redução da dependência das importações
de petróleo, a chamada “petrodependên-
cia”. Deve-se enfatizar também que a intro-
dução do biodiesel aumentará a participa-
ção de fontes limpas e renováveis em nossa
matriz energética, somando-se principalmen-
te à hidroeletricidade e ao álcool e colocan-
do o Brasil numa posição ainda mais privile-
giada nesse aspecto, no cenário internacio-
nal. A médio prazo, o biodiesel pode tor-
nar-se importante fonte de divisas para o
País, somando-se ao álcool.
Benefícios ambientais do biodiesel
Reduzir a poluição ambiental é hoje um
objetivo mundial. Todo dia
tomamos conhecimento de
estudos e notícias indican-
do os males do efeito estu-
fa. O uso de combustíveis
de origem fóssil tem sido
apontado como o principal
responsável por isso. A
Comunidade Européia, os
Estados Unidos, Argentina
e diversos outros países
vêm estimulando a substi-
tuição do petróleo por
combustíveis de fontes
renováveis, incluindo prin-
cipalmente o biodiesel,
diante de sua expressiva capacidade de redu-
ção da emissão de diversos gases causadores
do efeito estufa, a exemplo do gás carbônico
e enxofre. Melhorar as condições ambientais,
sobretudo nos grandes centros metropolita-
nos, também significa evitar gastos dos
governos e dos cidadãos no combate aos
males da poluição, estimados em cerca de
R$ 900 milhões anuais. Além disso, a produ-
ção de biodiesel possibilita pleitear financia-
Texto 18 / Desenvolvimento sustentável
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho46
O MAIOR PRODUTOR
A Alemanha é responsável
por mais da metade da
produção européia de
combustíveis e já conta
com centenas de postos
que vendem o biodiesel
puro (B100)
responsável
por mais da metade da
produção européia de
combustíveis e já conta
com centenas de postos
que vendem o biodiesel
puro (B100)
O total produzido na
Europa passa de
1 bilhão de
litros/ano
O total produzido na
Europa passa de
1 bilhão de
litros/ano
30% é o aumento
(período de 1998 a 2002)
30% é o aumento
(período de 1998 a 2002)
Em 2010, os países da
União Européia deverão
usar pelo menos 5%
de combustíveis
renováveis
Em 2010, os países da
União Européia deverão
usar pelo menos 5%
de combustíveis
renováveis
18•CA06BT20L01.qxd 15.12.06 13:29 Page 46
47. mentos internacionais em condições favore-
cidas, no mercado de créditos de carbono,
sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL), previsto no Protocolo de Kyoto.
Matérias-primas brasileiras para
produção de biodiesel
Empregar uma única matéria-prima
para produzir biodiesel num país com a
diversidade do Brasil seria um grande equí-
voco. Na Europa se usa predominantemen-
te a colza, por falta de alternativas, embora
se fabrique biodiesel também com óleos
residuais de fritura e resíduos gordurosos.
Em nosso caso temos dezenas de alternati-
vas, como o demonstram experiências reali-
zadas em diversos estados com mamona,
dendê, soja, girassol, pinhão manso, baba-
çu, amendoim, pequi, etc. Cada cultura
desenvolve-se melhor dependendo das con-
dições de solo, clima, altitude e assim por
diante. A mamona é importante para o
Semi-Árido, por se tratar de uma oleagino-
sa com alto teor de óleo, adaptada às condi-
ções vigentes naquela região e para cujo
cultivo já se detêm conhecimentos agronô-
micos suficientes. Além disso, o agricultor
familiar nordestino já conhece a mamona.
O dendê será, muito provavelmente, a prin-
cipal matéria-prima na região Norte.
Às vezes se comenta que o Brasil não
vai produzir biodiesel de soja, por exem-
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 47
Aparelho biodigestor
que filtra o óleo da
mamona antes
de trasformá-lo em
biodiesel na empresa
em Campinas,
interior de São Paulo
Foto:EpitácioPessoa/AE
18•CA06BT20L01.qxd 19.01.07 11:21 Page 47
48. plo. Na verdade, o objetivo do Governo
Federal com o PNPB é promover a inclusão
social e, nessa perspectiva, tudo indica que
as melhores alternativas para viabilizar
esse objetivo nas regiões mais carentes do
País são a mamona, no Semi-Árido, e o
dendê, na região Norte, produzidos pela
agricultura familiar. Diante disso, será dado
tratamento diferenciado a esses segmentos
e os estados também deverão fazê-lo, não
apenas na esfera do ICMS, mas de outras
iniciativas e incentivos. Em Pernambuco,
por exemplo, já se cogita criar um pólo rici-
noquímico na região do Araripe, mas há
vários outros exemplos. Entretanto, uma
vez lançadas as bases do PNPB, como se
está fazendo agora, todas as matérias-
primas e rotas tecnológicas são candidatas
em potencial. Isso vai depender das deci-
sões empresariais, do mercado e da renta-
bilidade das diferentes alternativas. Ao
Governo não cabe fazer as escolhas, mas
sim estimular as alternativas que mais
contribuam para gerar empregos e renda,
ou seja, promover a inclusão social. Mas
não há dúvida de que a soja, tanto direta-
mente como mediante a utilização dos resí-
duos da fabricação de óleo e torta, será
uma alternativa importante para a produ-
ção de biodiesel no Brasil, sobretudo nas
regiões com maior aptidão para o desen-
volvimento dessa cultura.
Tecnologias de Produção do Biodiesel
Existem processos alternativos para
produção de biodiesel, tais como o craquea-
mento, a esterificação ou a transesterifica-
ção, que pode ser etílica, mediante o uso do
álcool comum (etanol) ou metílica, com o
emprego do metanol. Embora a transesteri-
ficação etílica deva ser o processo mais utili-
zado, em face da disponibilidade do álcool,
ao Governo não cabe recomendar tecnolo-
gias ou rotas tecnológicas, como se diz tecni-
camente, porque essas devem ser adaptadas
a cada realidade. Diante de nossas dimen-
sões continentais e diversidade, não precisa-
mos e não devemos optar por uma única
rota. O papel do Governo é o de estimular o
desenvolvimento tecnológico na área do
biodiesel, como já vem fazendo, por meio
de convênios entre o Ministério da Ciência e
Tecnologia e fundações estaduais de ampa-
ro à pesquisa, para permitir que possamos
produzir esse novo combustível a custos
cada vez menores. É preciso estimular o que
usualmente se chama de curva de aprendi-
zado, permitindo que nosso biodiesel seja
cada vez mais competitivo, como ocorreu
com o álcool, por exemplo, e com inúmeros
outros produtos.
Texto 18 / Desenvolvimento sustentável
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho48
Extraído do site www.biodiesel.gov.br/
18•CA06BT20L01.qxd 19.01.07 11:21 Page 48
49. Cultura social
TEXTO 19
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 49
C O W PA R A D EEsculturas de vacas de R$ 35 mil são alvo de pichações
M
al foi aberta a exposição de
rua da Cow Parade, conse-
qüência de protestos ocorri-
dos no ano passado que reivindica-
vam recursos para artistas da cidade,
e três vacas já foram alvos de picha-
ções em BH. O evento continua a
receber críticas pela for-
ma de condução da ex-
posição que depende de
35 mil reais para produ-
ção de cada Vaca, sendo
necessário o patrocínio de
empresas que muitas vezes se
utilizam do artifício para criar
“vacas outdoors”, que vincu-
lam publicidade maquiada de
“arte”.
A Vaca apelidada de “Cowbur-
guer”, patrocinada pelo Grupo Ali-
menta e Picanha Fine recebeu a frase
“Seja Vegetariano” e riscos sobre os
olhos. Não por coincidência, a vaca
Cowburguer, originalmente, é uma
referência ao hambúrguer comercia-
lizado pelos próprios patrocinadores,
que fizeram questão de aplicar um
código de barras sobre o lombo da
escultura para batizá-la como um
produto de propriedade registrado.
Outras duas vacas, a Vaca Ouro, do
Grupo Poro, patrocinada pela Belgo
Bekaert Arames e a Vaca Mazoca, de
um aluno da FUMEC, receberam res-
pectivamente as pichações de “Com-
pre minha dor” e “Coma
Carne Fetish”.
Outro ponto crucial
é o fato de que os
maiores patrocinado-
res da Cow Parade são
do ramo de laticínios e
derivados. Em Belo Ho-
rizonte o patrocínio é da
Itambé, empresa que utiliza
o modo industrial de produção de
leite, que causa grande sofrimento
aos animais. O filme “A Carne é Fra-
ca” se tornou popular por transpare-
cer essa realidade velada da indús-
tria. Hoje a mesma indústria se
utiliza da “arte” para tornar ainda
mais obscuro o dia-a-dia angustiante
em que esses animais vivem.
Foto:BiancaBueno
Extraído do site prod.midiaindependente.org/pt/blue//2006/
07/358425.shtml
19•CA06BT13L01.qxd 19.01.07 11:24 Page 49
50. • Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho50
A
humanidade caminha para um beco
sem saída. Se o atual ritmo de explo-
ração do planeta continuar, em um
século não haverá fontes de água ou de
energia, reservas de ar puro nem terras para
agricultura em quantidade suficiente para a
preservação da vida.
Hoje, mesmo com metade da huma-
nidade situada abaixo da linha de pobreza,
já se consome 20% a mais do que a Terra
consegue renovar. Se a população do mun-
do passasse a consumir como os america-
nos, seriam necessários mais três planetas
iguais a este para garantir produtos e servi-
ços básicos como água, energia e alimen-
tos para todo mundo.
Como, evidentemente, é impossível ar-
ranjar mais três Terras, nem os americanos
poderão continuar com o mesmo modelo
de consumo, nem a população mundial
poderá adotá-lo. A única saída é todos
adotarmos padrões de produção e de con-
sumo sustentáveis. Para os países ricos, isso
significa, por exemplo, procurar fontes de
energia menos poluidoras, diminuir a pro-
dução de lixo e reciclar o máximo possível,
além de repensar sobre quais produtos e
bens são realmente necessários para alcan-
çar o bem-estar. Aos países em desenvolvi-
mento, que têm todo o direito a crescer
economicamente, cabe o desafio de não
repetir o modelo predatório e buscar alter-
nativas para gerar riquezas sem destruir
florestas ou contaminar fontes de água.
Nesse processo, o consumidor cons-
ciente tem um papel fundamental. Nas suas
escolhas cotidianas, seja na forma como
consome recursos naturais, produtos e ser-
viços, seja pela escolha das empresas das
quais vai comprar em função de sua res-
ponsabilidade social, pode ajudar a cons-
truir uma sociedade mais sustentável e justa.
OLHOS
GRANDES
Se toda a humanidade
consumisse com a avidez
americana, a Terra teria
de ser duas vezes maior
Consumo consciente
TEXTO 20
Extraído do site www.akatu.org.br
Foto: Sérgio Castro / AE
Alunos do
colégio Santo
Inácio, no Rio
de Janeiro,
jogam garrafas
plásticas no
saco de coleta
de reciclagem.
20•CA06BT16L01.qxd 15.12.06 13:51 Page 50
51. Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 51
O MUNDO DOTRABALHO:
CONTEXTO E SENTIDO
Organização da produção
TEXTO 21
Uma visão sobre o que fez e o que faz o trabalhador brasileiro
Foto: Sebastião Salgado
21•CA06BT18L01.qxd 15.12.06 02:01 Page 51
52. Texto 21 / Organização da produção
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho52
O que é?
A palavra trabalho deriva do latim
tripalium, objeto de três paus aguçados
utilizado na agricultura e também como
instrumento de tortura. Mas ao trabalho
associamos a transformação da natureza em
produtos ou serviços, portanto em elemen-
tos de cultura. O trabalho é, desse modo, o
esforço realizado, e também a capacidade
de reflexão, criação e coordenação.
Ao longo da história,
o trabalho assumiu múlti-
plas formas. Um impor-
tante pensador sobre esse
assunto foi Karl Marx.
Para esse autor, o trabalho,
fruto da relação do ho-
mem com a natureza, e do
homem com o próprio ho-
mem, é o que nos distin-
gue dos animais e move a
História.
Mas o trabalho no mun-
do capitalista assumiu uma
forma muito específica: o emprego assalaria-
do. Como isso acontece? Quais as conse-
qüências desse modelo?
Trabalho e salário
Nas sociedades européias, depois da
Idade Média, a idéia do trabalho regular se
impõe aos poucos. É o início do Capitalismo.
Essa nova concepção vai além da atividade
agrícola marcada pelos ciclos da natureza.
À medida que se aprofundam as rela-
ções típicas da sociedade capitalista, ocorre
a valorização do capital, com a transforma-
ção de insumos em produtos, em mercado-
rias e em lucros.
Os donos do capital se apropriam dos
meios de produção, o que significa que eles
compram, com salários, a força de trabalho
daqueles que passam a viver desse trabalho.
As longas jornadas são definidas pelo
capital e perdem a relação
natural com o movimen-
to da Terra, com as esta-
ções do ano ou clima. O
tempo pertence ao capi-
tal, que exige trabalho.
As pequenas oficinas
onde se produziam os ar-
tefatos vão perdendo es-
paço para o surgimento
das fábricas. As guildas
ou as corporações de ofí-
cio, que reuniam mestres
e artesãos, começam a tomar a forma dos
primeiros sindicatos. Mas o que é essa novi-
dade chamada “fábrica”?
Fábrica é o lugar onde os trabalhado-
res eram reunidos para executar diferentes
tarefas para produzir uma mercadoria. Das
oficinas às fábricas chega-se à manufatura,
e logo aos sistemas de máquinas, à auto-
mação, às grandes fábricas capazes de
produzir algo complexo do seu início até a
operação final sob o comando do capitalis-
“O aumento brutal da
produção, o progressivo
refinamento dessa
produção, levaram
a um limite: o mundo
superdesenvolvido,
que produz apenas
para a parte da
humanidade que
pode consumir…”.
21•CA06BT18L01.qxd 19.01.07 11:33 Page 52
53. Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 53
ta, representado pelo capataz ou feitor. É o
longo processo da Revolução Industrial,
iniciada na Inglaterra no século XVII
Ao surgimento da fábrica, corresponde
o aparecimento dos sindicatos em defesa
dos interesses da classe trabalhadora e em
busca pela justiça na produção capitalista.
Trabalho e emprego
Para que os trabalhadores vendessem
seu trabalho em troca de salário, foi preci-
so destruir formas autônomas de sobrevi-
vência, criar leis que obrigassem pessoas
livres a trabalhar, reprimir todos aqueles
vistos pela elite dominante como vagabun-
dos e indignos. Desse modo, o trabalho no
mundo capitalista ganhou cada vez mais a
forma de emprego assalariado e sua ausên-
cia recebeu o nome de desemprego.
As palavras emprego e desemprego só
passam a ter existência no vocabulário euro-
peu a partir do final do século XIX. Até então,
aqueles que conseguiam prover a própria
existência eram identificados como trabalha-
dores (no sentido genérico), ou como profis-
sionais pertencentes a alguma “corporação”
de ofício (com sua estrutura de mestres, ofici-
ais e respectivos liceus de artes e ofícios). Já
os que não alcançavam tal intento, necessi-
tando de algum tipo de assistência ou peram-
bulando pelas ruas em busca de alimento,
eram rigorosamente identificados e tratados
pelas leis da época como pobres, vagabun-
dos, incapazes, inválidos ou vadios.
Pouco a pouco se separam dois grupos
de pobres: de um lado, aqueles sem víncu-
los com o mundo do trabalho ou com
vínculos esporádicos e intermitentes; fica-
vam à mercê da assistência social ou da
caridade; de outro, os pobres trabalhado-
res regulares que podiam encontrar-se
temporariamente sem trabalho. Identifica-
dos como desempregados, nesse caso, terão
acesso aos direitos sociais – indenização,
seguro-desemprego, assistência médica etc.
– garantidos pelo Estado.
Produção e consumo
Se parte dos trabalhadores foi forçada
a entrar na relação de trabalho assalariada,
não foi sem resistência que os trabalhado-
res nela permaneceram. Assim, empresas e
estados precisaram construir estratégias
para controlar os trabalhadores e assegu-
rar a produção e o consumo das mercado-
rias. De nada adiantaria produzir se não
fosse possível vender, e nas primeiras déca-
das do século XX, constrói-se um modelo
de organização do trabalho conhecido
como taylorismo-fordismo.
Em primeiro lugar emerge o tayloris-
mo: cada movimento do trabalhador será
rigorosamente controlado por uma gerên-
cia que o vigia permanentemente. O fordis-
mo acentua essas mudanças por meio da
linha de montagem: a cada trabalhador
caberia apenas uma tarefa, a ser executada
em seu posto de trabalho, em um tempo
21•CA06BT18L01.qxd 19.01.07 11:33 Page 53
54. Texto 21 / Organização da produção
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho54
determinado, por exemplo, enquanto a es-
teira rolante passa. Não sem razão, o movi-
mento operário vai posicionar-se fortemen-
te contrário a essa intensa disciplina.
O fordismo está associado a uma nova
dinâmica do modo capitalista: produção em
quantidade, custos baixos, grandes fábricas
que produzem tudo. Começam os tempos
da produção e do consumo em massa. Tal
dinâmica predominará no século XX, parti-
cularmente entre a Segunda Guerra Mun-
dial e meados dos anos 1970, nos países
desenvolvidos.
Grande parte desses países viverá um
período marcado pelo crescimento econô-
mico: emprego e direitos sociais garanti-
dos aos trabalhadores, aumentando a
renda e o consumo nas diversas classes
sociais. Adolescentes e jovens pobres
conseguem utilizar parte de sua renda para
consumo próprio, contribuindo para a
construção de mercado e cultura juvenis.
Alguns fatores – ampliação da escolari-
dade obrigatória para oito anos e novos
padrões de comportamento, incluindo
menor autoridade e controle paternos, além
de maior disponibilidade de renda para
consumo – foram fundamentais para que a
categoria juventude ganhasse força, expan-
dindo-se para além dos jovens estudantes
das classes média e alta, bem como dos
considerados “delinqüentes”. Vários pesqui-
sadores chamam atenção para o apareci-
mento dos grupos juvenis reunidos em
torno da diversão e do consumo, com esti-
los próprios de vestuário e comportamento,
e também para manifestações juvenis
contrárias à própria sociedade de consumo.
Crise no Trabalho
Parte considerável das mudanças no
mundo do trabalho toma corpo a partir da
segunda metade dos anos 1960. Elas estão
relacionadas com a crise financeira norte-
americana do período; a relativa saturação
do mercado consumidor nos países cen-
trais; a elevação dos preços do petróleo nos
anos 1970; as lutas operárias contra o
trabalho repetitivo das fábricas; o sucesso
crescente da indústria japonesa na compe-
tição internacional.
Ao aprofundar-se a crítica ao padrão
taylorista-fordista, novos modelos ganham
espaço: por um lado, os grupos semi-autô-
nomos adotados principalmente por fábri-
cas suecas como a Volvo, daí o nome “volvo-
ísmo”, por outro, o modelo da indústria
japonesa, particularmente nas fábricas da
Toyota (“modelo japonês” e “toyotismo”):
equipes flexíveis e polivalentes.
Para quem está inserido no mundo do
trabalho, algo mudou: a rotina das fábricas
não é tão rígida; a chefia por vezes deixa a
opressão ostensiva; o trabalho daqueles que
lidam com a produção industrial é menos
mecânico; o objeto e a ferramenta distan-
ciam-se das mãos do trabalhador, que lida
agora com o monitoramento de símbolos e
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55. Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 55
mensagens dos sistemas computadorizados;
a disputa é mais intensa, a qualificação
profissional surge como uma exigência
maior e a educação formal transforma-se
em critério de seleção.
O Brasil revela, no entanto, que essas
mudanças não são uniformes. Hoje, convi-
vemos com um trabalho que se aproxima
da escravidão, e trabalho extremamente
qualificado, entre os tempos de suor e gra-
xa e uma nova “era do conhecimento” que
não chegou aos quatro cantos do planeta.
O emprego estável, o vínculo dura-
douro, a carreira realizada em um per-
curso de um ou de poucos empregos, pare-
ce inexistir para a maior parte da popula-
ção. A identidade com o empregador e com
a própria profissão parecem situações de
uma época que já se foi. O desemprego
atinge patamares elevadíssimos em todo o
mundo, que parecem não ceder. As diferen-
tes situações convivem conjuntamente, ou
seja, uma minoria com emprego estável e
direitos garantidos, muitos desempregados
e outros que vão em busca de alternativas.
O trabalho passa a ser criação própria
para alguns (auto-emprego, cooperativas),
ou retoma sua condição de “fora-da-lei”, com
oficinas clandestinas, profusão de produtos
denominados “piratas”, ou imensa rede de
atividades ilegais como opção de acesso a
alguma renda. É a paradoxal economia
“informal” que movimenta cifras grandiosas,
ocupa milhões de trabalhadores expulsos da
agricultura e da indústria. Como é possível
falar de trabalho assalariado no país em que
Foto: Sebastião Salgado
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56. Texto 21 / Organização da produção
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho56
a escravidão foi a forma de trabalho domi-
nante até o final do século XIX?
A rigor, no Brasil, a relação assalaria-
da não se generaliza como nos países
centrais. O período pós-abolição da escra-
vidão é marcado pela política de ampla
imigração de trabalhadores que fugiam da
crise em seus países de origem: italianos,
espanhóis, japoneses, alemães e tantos
outros, para o labor das fazendas, incipien-
tes oficinas e fábricas, ou ainda para os
serviços na cidade.
Com os imigrantes surgem as primei-
ras sociedades de socorro mútuo de traba-
lhadores, os primeiros sindicatos e confe-
derações, as primeiras greves gerais, de
1907 e 1917. A crise social que se desenro-
la ao longo das três primeiras décadas do
século XX é decorrente de diferentes mode-
los econômicos pretendidos, a vocação
agrícola contra o sonho industrial.
Desenvolvimento da indústria no Brasil
A chegada de Getúlio Vargas ao poder
executivo significa uma ruptura com o pe-
ríodo precedente: apesar das condições de
tutela impostas à organização sindical,
entre as décadas de 1930 e 1940, contradi-
toriamente, o país passa a contar com uma
legislação trabalhista – parte dela ainda
hoje em vigor na CLT (Consolidação das
Leis do Trabalho). Começava a era do em-
prego formal, da carteira de trabalho assi-
nada e da previdência social, incorporando
massas de trabalhadores integradas ao
processo de industrialização, que ganha
impulso após a Segunda Guerra Mundial.
Dos anos 1940 aos anos 1980, o Brasil
cresce intensamente, e as migrações, agora
internas, suprem a necessidade de traba-
lhadores de uma indústria que não pára de
se expandir. É o momento das grandes side-
rúrgicas, da indústria automobilística, da
petroquímica e dos mais diversos setores
produtivos que substituem a incipiente
base fabril do início do século XX (produ-
tos têxteis ou bens de consumo).
Distribuição de renda e crise
O perfil e a trajetória histórica da distri-
buição de renda no Brasil certamente limitam
a capacidade de consumo, e, por conseguin-
te, a aquisição de bens e serviços pelo cida-
dão comum. Embora apresente uma das
maiores populações do planeta, a renda
vergonhosamente concentrada é uma imensa
barreira ao crescimento econômico, por causa
da reduzida demanda familiar. Se o trabalho
caracterizado pelo emprego formal era fonte
de direitos e caminho seguro de acesso à
renda e, portanto, ao consumo, os “bicos” ou
o não-trabalho associados ao desemprego são
portas fechadas nesse caminho.
No final do século XX, despreparado, o
país abre as portas e é inundado pelas
importações. Somem-se a isso a crise fiscal
do Estado, incapaz de sustentar investi-
mentos com a subtração dos juros da dívi-
21•CA06BT18L01.qxd 19.01.07 11:33 Page 56
57. Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 57
da, e a reestruturação das empresas em bus-
ca de novas condições para competir. O
resultado é o desaparecimento de milhões
de empregos na economia brasileira, espe-
cialmente na indústria. A sensação predo-
minante é de insegurança.
A carteira de trabalho assinada passa a
ser um sonho, objeto de desejo e de vene-
ração. Agora, é o chamado mercado informal
que dá as cartas, um trabalho incerto e inse-
guro, literalmente temporário. Não é ainda o
fim dos empregos, mas é o tempo do desem-
prego como epidemia social e econômica.
Esse desemprego não atinge igualmen-
te a todos os indivíduos. Ele toca, princi-
palmente, as mulheres, os afrodescenden-
tes, os jovens. Ao longo dos anos 1990, os
jovens passam a encontrar cada vez mais
dificuldades para ingressar e permanecer
no mercado de trabalho: houve diminuição
do número de jovens ocupados e da sua
participação na população ocupada.
Para além dos números, o desempre-
go juvenil provoca outros debates. Algu-
mas pesquisas tornam evidente que o
trabalho dos jovens (sobretudo das mulhe-
res) é fundamental para a construção da
autonomia e da condição juvenil; a possi-
bilidade de consumo é um meio de cons-
trução das identidades. Mas nos tempos
bicudos do desemprego começa-se a ques-
tionar se os jovens não deveriam apenas
estudar. Mas muitos jovens, mesmo os
mais pobres, começam a reclamar pelo
direito à escolha, pelo direito à educação e
também ao trabalho.
Extraído do site www.educarede.org.br
Texto original: Maria Carla Corrochano e Luís Paulo Bresciani
Foto: Sebastião Salgado
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58. Serviços públicos
TEXTO 22
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho58
DO POVO
PARA
O POVOServiço Público é aquele
que é instituído, mantido e
executado pelo Estado, com
o objetivo de atender aos seus
próprios interesses e de satisfazer
às necessidades coletivas
22•CA06BT19L01.qxd 19.01.07 11:36 Page 58
59. A
Concessão Pública é contrato bila-
teral onde os contratantes assumem
obrigações recíprocas e que não po-
dem as partes, impunemente, deixar de
cumprir. A Concessão quase sempre é ou-
torgada com privilégio de exploração de
monopólio e nesta hipótese, principalmen-
te, deve ser examinado com cuidado o
cumprimento das obrigações e o respeito
às tarifas.
Água
No caso da água, o poder concedente
é o município, mas as tarifas são fixadas
pelo concessionário, que se submete ape-
nas ao poder público estadual, que é o seu
acionista majoritário.
A tarifa de água não é fixada em razão
do seu custo em cada um dos municípios,
mas, diferentemente, é fixada em razão dos
interesses políticos regionais ou simples-
mente com base na capacidade econômico
financeira de determinadas regiões.
É notório que em algumas comunida-
des as tarifas não remuneram o verdadei-
ro custo da água, mas é também notório
que em algumas comunidades a tarifa é
extraordinariamente elevada para com-
pensar o déficit de algumas regiões.
Poderíamos até imaginar que seria
justo que alguns consumidores mais ricos
pagassem mais para que outros, mais po-
bres, pagassem menos. Mas não é este
modelo correto da distribuição da renda,
pois os nivelamentos não são em relação
aos consumidores, pobres ou ricos, mas em
razão da renda regional, que não exclui a
existência de consumidores muito pobres
em comunidades ricas e consumidores
ricos em comunidades pobres.
E mais, nas relações de consumo, o
correto é que se pague o justo valor pelo
produto que consome e não o valor ideal
mensurado por interesses políticos, pela
estatística ou pelos números da economia.
Os investimentos e a cobertura do défi-
cit regional não são obrigações do consu-
midor de serviços públicos essenciais, e sim
responsabilidade governamental ampara-
da pelas dotações orçamentárias.
As tarifas de esgotos são cobradas do
consumidor sem que efetivamente sejam
prestadas. É que a concessionária apenas
coleta o esgoto, sem efetivamente tratá-lo
para manter o equilíbrio do meio ambien-
te. Entretanto, a tarifa de esgotos chega a
custar ao consumidor um valor equivalen-
te a 100% do valor da água consumida.
Ainda assim, em muitos casos o esgoto
coletado em um determinado local é cana-
lizado para os rios, já mortos, poluindo e
levando doenças a milhares de pessoas
esquecidas de que pagaram caro para o trata-
mento do esgoto, mas têm de suportá-lo
como castigo por ter sua cidadania ignorada.
Ora, o certo é que o consumidor de
serviços públicos no Brasil ainda tem muito
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 59
22•CA06BT19L01.qxd 19.01.07 11:36 Page 59
60. Texto 22 / Serviços públicos
• Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho60
que aprender e exigir; somente depois des-
se avanço e da consciência cidadã é que
poderemos avaliar a perfeição e eficiência
dos concessionários e a responsabilidade e
capacidade dos dirigentes dos poderes
concedentes.
Energia Elétrica
O fornecimento de energia elétrica no
Brasil não é diferente do setor de água e
esgotos ou de telefonia. Embora tenhamos
o privilégio de ter uma das melhores
companhias de eletricidade do Brasil, não
podemos desconhecer que os seus vícios
são muitos, e o maior pecado é a ausência
de organismos que acompanhem e fisca-
lizem a qualidade e regularidade da ener-
gia bem como a justa tarifa.
As oscilações de tensão são fatores
determinantes na duração e conservação
dos nossos equipamentos e instalações elé-
tricas e dos eletrodomésticos.
Não se pode aceitar ainda o silêncio
das concessionárias de energia elétrica
quando é sabido que os industriais e os dis-
tribuidores deixam de fornecer no merca-
do lâmpadas incandescentes próprias e
recomendadas para a tensão nominal da
energia distribuída, quando é lógico, há
ônus para o consumidor em razão da dura-
bilidade das lâmpadas e com relação ao
consumo de energia.
Na verdade, as concessionárias pedem
redução no consumo de energia em deter-
minados momentos de alta demanda, mas
se calam quando o aumento de consumo
se projeta para a maioria do tempo quan-
do há abundância de energia.
Telecomunicações
Seria ótimo para o consumidor saber
que o sistema de telecomunicações cres-
ceu mais que qualquer outro segmento
empresarial no Brasil, que é uma das ativi-
dades mais rentáveis do mundo e que ca-
minhamos para um processo de privatiza-
ção que já é, de longe, o mais disputado
do planeta.
Mas a vontade de fazer crescer este seg-
mento de forma desenfreada, sem respeito
ao assinante e em absoluto alheamento ao
cidadão, criou-se uma série de “pseudo”
serviços, meros apelos sexuais, absoluta-
mente imorais, destinados principalmente
aos menores e aos serviçais, que onerariam
a conta do assinante sem que este pudesse
ter conhecimento do seu prejuízo.
Isso tudo à revelia da lei e dos assinan-
tes, como justificativa apenas a ambição
pelos lucros políticos e a voracidade pelos
lucros financeiros.
Enfim, o assinante que nada sabe, des-
cobre que a concessionária dos serviços de
telecomunicações assinou um contrato com
terceiros, comprometendo-se a chantagear
o assinante com a cobrança de dívidas de
terceiros nas contas de serviços telefônicos.
22•CA06BT19L01.qxd 15.12.06 13:40 Page 60
61. E isso sem que o consumidor autorizasse
formalmente.
Enquanto isso, a televisão e demais
veículos de comunicação despejam uma
campanha publicitária dirigida exatamente
aos não-assinantes de linhas telefônicas,
estimulando-os a contrair dívida em nome
do titular.
É uma aberração que não tem prece-
dentes na história e que, espera-se, a justi-
ça venha corrigir de forma exemplar, até
como forma de desestimular a exploração
animalesca do sexo dirigido a menores e a
doentes mentais.
Enfim, o que a sociedade espera dos
serviços públicos e dos concessionários é
que finalmente se descubra que os serviços
públicos se destinam ao cidadão e nunca
contra o cidadão.
Qualidade de Vida, Consumo e Trabalho • 61
Extraído do site www.consumidorbrasil.com.br
Foto: Jonne Roriz/AE
Terezinha, 51, anda 3 quadras com o balde para pegar
água limpa, na vila Ecológica em Porto Alegre, RS.
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