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Sensibilização de pessoas não deficientes em relação à
situação de deficiência visual1
Ana Karolina Lopes Rodrigues
Jade Delamanha
Jéssica Matias de Macena
Karla Cadamuro Travagin
Graduandas do curso de Licenciatura em Educação Especial pela UFSCar
Ailton Barcelos da Costa
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial – CAPES –
UFSCar
Eixo: Deficiência Visual
Pôster
Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo identificar e avaliar quais as
reações observadas durante a realização de vivências da condição de cegueira
com pessoas videntes. O material utilizado para análise será obtido a partir das
próprias vivências das pessoas em situações de deficiência e através de
entrevistas que serão realizadas antes e depois das experiências como forma
de avaliar as mudanças nas concepções dos participantes. A pesquisa contará
com a participação de 10 pessoas, em que todas são videntes entre 18 e 30
anos de idade. Como resultados, pretende-se ter os aspectos de adaptação
através de comportamentos característicos e uso dos outros sentidos. Espera-
se que possibilitem maiores preocupações e conscientização dos videntes para
com os desafios enfrentados pelos deficientes visuais.
Palavras-chave: deficiência visual; videntes; vivências.
1
Pesquisa realizada na disciplina de Processos Investigativos I: planejamento do
trabalho científico, sob a orientação das Professoras Maria Amélia Almeida e Carolina
Severino Lopes da Costa.
ISSN 1984-2279
2256
1. Introdução e Referencial
Ao começar este trabalho, se podem destacar alguns conceitos em
relação à deficiência visual (cegueira e baixa visão).
Para isso, se pode começar com duas escalas oftalmológicas: a
acuidade visual e o campo visual. A primeira é a capacidade de distinguir
formas e detalhes, sendo medida através de uma comparação entre a
capacidade de visão de uma pessoa sem deficiência e outra com. Como por
exemplo, uma pessoa de visão normal consegue ver a 60 metros de distância o
que outra com deficiência e com o uso da lente corretiva só conseguem ver em
uma distância de 6 metros (6/60metros).
Já, a segunda escala, de campo visual, se refere ao ângulo de visão de
uma pessoa quando a mesma olha em linha reta. No caso de uma pessoa
normal, esse ângulo é de aproximadamente 160° e 170° (graus).
A partir dessas escalas e nessa conceituação a deficiência visual é
definida por Bruno & Mota (2001) apud Costa (2009, p. 54) como: cegueira é “a
perda total de visão até a ausência de projeção de luz” e baixa visão é a
alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores
isolados ou associados tais como: baixa acuidade visual significativa, redução
importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos
contrastes que interferem ou limitam o desempenho visual do indivíduo.
A conceituação apresentada pelo MEC e Seesp, em Brasil (2005) apud
Costa (2009, p. 55) é muito semelhante à descrita a cima, apenas
especificando que a acuidade visual da cegueira é menor que 20/200 pés e o
seu campo visual é inferior a 20°, no melhor olho. No caso da baixa visão,
acrescenta alguns níveis que a perda da função visual segue: “severo,
moderado ou leve, podendo ser influenciada também por fatores ambientais
inadequados.”.
Essa conceituação permite uma avaliação funcional da deficiência visual
e é muito importante na educação escolar dessas pessoas, permitindo que se
use o máximo de visão residual para aumentar o seu potencial de
aprendizagem.
ISSN 1984-2279
2257
O fato de possuírem uma mesma acuidade visual não quer dizer que
elas possuem as mesmas necessidades e a mesma percepção de mundo. Os
deficientes visuais podem se utilizar da visão que lhes resta de diferentes
formas e com diferentes intensidades para se relacionarem com o ambiente.
Como também, podem utilizar os outros sentidos (audição, tato, olfato, paladar)
conforme lhes for mais agradável.
Sendo assim, o processo de aprendizagem de pessoas cegas ocorrerá
pelos sentidos remanescentes e pelo sistema Braille, enquanto que, para as
pessoas com baixa visão (limita o desempenho) o processo educativo ocorrerá
por meios visuais com a utilização de recursos específicos.
Entretanto, outro aspecto a ser levantado aqui é que a história de
pessoas deficientes visuais varia de uma cultura para outra, refletindo os
valores e as crenças de cada sociedade. Essas formas de pensar acabam por
se materializar em práticas sociais, ditando o relacionar entre pessoas
deficientes e não deficientes. A “deficiência” é um fenômeno social, sendo que,
ser ou estar deficiente ocorre apenas perante pessoas “não deficientes”
(FRANCO; DIAS, 2005).
A história da deficiência visual, por sua vez, se entrelaça com a história
da humanidade. Nas sociedades primitivas quase não existiam pessoas cegas,
pois eram abandonadas ou mortas, na maioria das vezes, por se acreditar que
estavam possuídas por um espírito maligno, de acordo com Martínez (1991).
Ainda, de acordo com Franco e Dias (2005), durante a Idade Média, a
cegueira era vista como uma punição judicial prevista pela lei e usada também
como forma de vingança. Foi apenas com o avanço do cristianismo que o
deficiente visual - e todos os outros deficientes de maneira geral – passaram a
possuir uma alma e ser tratado como pessoa. Ou seja, ele passou a ser
considerado filho de Deus, tendo como todos os outros, o direito de ser cuidado
por alguém. Mesmo assim, não tinha muita serventia à sociedade, sendo
“encostado” por suas famílias, sendo que o avanço da inquisição, apenas
piorou a situação.
Com o período renascentista veio, também, uma mudança na forma de
se enxergar a deficiência. De superstição ela passou para um conceito
ISSN 1984-2279
2258
organicista e científico. Começou a ser estudada e entendida como de cunho
patológico, ou seja, não haveria nada a se fazer que pudesse modificar aquela
condição.
Mas foi no século XVIII e XIX que esse quadro realmente começou a
mudar. A partir de estudos sobre a educação de deficientes, foi criada a
primeira escola no mundo para pessoas cegas, na França, e juntamente com
ela o sistema de leitura e escrita em relevo, o Braille.
No Brasil, entretanto, a primeira ação voltada aos deficientes visuais foi
à criação, em 1854, do Imperial Instituto de Meninos Cegos, na cidade do Rio
de Janeiro, atual Instituto Benjamin Constant (IBC). Após um período de mais
ou menos meio século, outros institutos para cegos foram criados. Porém, foi
apenas em 1993 que a deficiência visual foi incluída no alunado da Educação
Especial, passando também, a lhe ser garantido tudo aquilo previsto por lei,
como: sua integridade, a liberdade de ir e vir, a autonomia, o direito a uma
educação em sala regular, entre muitos outros (FRANCO; DIAS, 2005).
Considerando-se que a deficiência não é apenas física, mas também
social, quando o ambiente não é apropriado e as pessoas que estão em volta
criam certa resistência em acreditar, que, mesmo não enxergando a pessoa
com cegueira é capaz de realizar varias atividades do cotidiano, a vida do
deficiente se torna ainda mais complicada. Por outro lado, para o individuo que
perde a visão na fase adulta, há certa dificuldade em aceitar, e se adaptar com
a nova fase que esta vivendo.
No âmbito social busca-se, identificar as necessidades de adaptação
das pessoas que ficaram cegas na fase adulta. E, proporcionar a
conscientização social sobre as dificuldades enfrentadas pela ausência ou
baixa visão. Já, no âmbito científico, busca-se proporcionar resultados
inovadores de um trabalho ainda não realizado no Brasil.
Justamente por conta dessa série de conceitos, funções e finalidades
que a permeiam, é difícil de conseguir chegar a apenas uma definição para a
deficiência visual.
De acordo com o Instituto Benjamin Constant (IBC, 2012), deficiência
visual é a perda ou redução de capacidade de visão em ambos os olhos em
ISSN 1984-2279
2259
caráter definitivo, que não possa ser melhorada ou corrigida com o uso de
lentes, tratamento clínico ou cirúrgico. Já para Rocha (1987) apud Santos
(2004), a cegueira pode se referir a vários graus de visão residual, que não
necessariamente ocasionam uma total perda da visão, mas sim, um
comprometimento na execução de tarefas rotineiras.
Já, a baixa visão, é entendida por Santos (2004) como um
enfraquecimento visual que causa desvantagem funcional e redução no
desempenho da visão, não podendo ser corrigida por tratamentos ou óculos
convencionais.
Agora, segundo a Organização Mundial de Saúde (2007), no Brasil,
cerca de 1,6 milhão de pessoas apresentam algum tipo de deficiência visual,
sendo mais comum, a baixa visão. E pelo censo demográfico (2000), mais
especificadamente, de 34.580.721 deficientes, 16.644.842 deles são visuais.
Esses dados, porém, ainda podem ser representados por mais uma
maneira de se dividir a deficiência visual. Assim, pela sua forma de aquisição,
ela pode ser uma deficiência congênita ou adquirida. Na cegueira congênita, a
pessoa perde a visão no nascimento ou até os cinco anos de idade, segundo
Lowenfeld (1950) apud Franco (2002), não retendo nenhuma imagem essencial
para processos futuros como, por exemplo, a alfabetização. Já, na cegueira
adquirida, por algum acidente ou doença, a visão se perde depois dos cinco
anos e a pessoa guarda imagens na sua memória visual sobre o mundo.
Entretanto, como destaca Costa (2009), o conceito de deficiência visual
ainda é alvo de contrassenso entra as áreas sociais (médica, legal e
educacional) e os períodos da história, que a construíam de acordo com o
modelo de sua sociedade, suas crenças, valores e concepção de homem e
mundo.
Autores e pesquisadores brasileiros são muito influenciados pela
literatura norte-americana, inclusive os documentos oficiais. No presente
estudo optou-se por utilizar as definições expostas por Costa (2009), em seu
artigo a respeito da análise do conceito de deficiência visual. Nele, a deficiência
é dividida em três âmbitos: conceituação “legal” ou clínica, conceituação
educacional e classificação clínico-funcional.
ISSN 1984-2279
2260
Ao se fazer uma busca em bases de dados utilizando-se as palavras-
chave como deficiência visual, cegueira adquirida e experiências realizadas
com pessoas videntes, procurou-se algum estudo na literatura brasileira que
fosse igual ou similar ao tema proposto, porém, não foram encontrados
trabalhos relacionados diretamente com o tema, apenas indiretamente.
A pesquisa cujo tema mais se aproximou do presente estudo foi a de
Ramos (2009), que dissertou sobre a ausência de acessibilidade em situações
de lazer, neste caso, em trilhas na cidade da Florianópolis. Apesar de promover
experiências em trilhas, ele tem como participantes pessoas com cegueira, e
não, videntes (objetivo da pesquisa que será realizada). Nela, ele cita o
Decreto nº 5296/2004 que estabeleceu critérios para promover a acessibilidade
de pessoas com deficiência visual. Fala também sobre a OM (orientação e
mobilidade) que visa, por meio de aulas, promover e capacitar as pessoas com
deficiência a locomover-se a pé, independentemente de serem ambientes
conhecidos por eles ou não. Além disso, apresenta outros modos de auxilio na
locomoção e vida dos deficientes visuais, tais como a bengala (sua invenção e
utilidade). Busca mostrar, por fim, que utilizando métodos de sinalização, em
trilhas de grande movimento, é possível que a pessoa cega possa desfrutar do
lazer sem um guia vidente, sendo mais independente e exercendo o direito de
todo cidadão de ir e vir.
Realizada com dez participantes do sexo masculino e uma do sexo
feminino, tem o objetivo de criar e utilizar métodos de sinalização para trilhas,
sendo possível que a pessoa cega possa desfrutar do lazer sem um guia
vidente sendo mais independente, como qualquer outra pessoa. O pesquisador
utilizou como método de pesquisa a observação, entrevista e tabelas de
dificuldades. Após a intervenção no ambiente conseguiu alcançar seu objetivo:
os participantes conseguiram caminhar pela trilha sem ajuda, de outra pessoa
apenas usando a sinalização.
Além dessa pesquisa, o trabalho de Freire (2005), que teve como
objetivo descobrir se as pessoas que não enxergam percebem a cegueira da
mesma forma que as pessoas videntes, questionam o quanto a forma de
enxergar o mundo é diferente para cada caso. A autora tenta relacionar e
ISSN 1984-2279
2261
decifrar a relação que existe entre a cegueira e o mito da túnica de Néssus,
tomando por isso diversas opiniões e visões sobre ambas. Assim, ela coloca
que a cegueira é diferente pra cada tipo de pessoa que a enxerga, seja pelo
sentido da visão mesmo, pela audição, pelo toque, etc. Cada um tem uma
forma de enxergar a cegueira e as dificuldades enfrentadas pela ausência
própria de visão.
Grande parte das pesquisas encontradas versa sobre a perda da visão
na idade adulta. Na primeira (SANTOS, 2004), é descrito o processo de
aceitação de pessoas na idade adulta, que por algum motivo (acidente ou
doença), ficaram cegas. Ela utiliza materiais rotineiros (papel e lápis) e de
análise (entrevistas), constatando que não há uma forma homogênea de
reação, mas que, cada pessoa apresenta diferentes características que as
fazem reagir de diferentes maneiras. Já o estudo de Franco (2002) objetivou
investigar qual o significado da cegueira para pessoas que perderam a visão na
idade adulta. Utilizando-se, também, de questionários que investigam alguns
pontos desse processo de adaptação e conscientização de sua nova situação,
o autor concluiu que a cegueira significa uma limitação, uma dependência, por
conta da condição que impõe, mas, também, é uma possibilidade de mudança
e de recomeço em uma nova e surpreendente vida.
Finalmente, o trabalho de Machado (2003) destaca a questão da
orientação e mobilidade do deficiente visual, que pode ocorrer de diversas
formas, promovendo a inclusão do mesmo tanto em ambiente escolar como na
sociedade, além de, propor a sua autonomia.
Por fim, de acordo com Machado (2003), as pessoas percebem boa
parte da realidade à sua volta por meio da visão, o que não significa que as
com deficiência visual estejam impossibilitadas de conhecer e se relacionar
com o mundo. Ela deve se utilizar de outras percepções sensoriais, como a
audição que envolve as funções de eco localização, localização dos sons,
escutar seletivamente e sombra sonora; o sistema háptico ou tato ativo; a
cinestesia; a memória muscular; o sentido vestibular ou labiríntico; o olfato e o
aproveitamento máximo de qualquer grau de visão que possa ter.
ISSN 1984-2279
2262
2. Objetivos
Este estudo tem como objetivo geral, identificar aspectos da adaptação
de pessoas videntes à situação de privação do sentido da visão.
Seus objetivos específicos são:
• Descrever/Identificar pensamentos e sentimentos antes e após a
participação em vivências de simulação da condição de cegueira.
• Identificar comportamentos características do uso dos outros sentidos
como meio de captação de informações ambientais que visam adaptações à
situação de cegueira.
• Sensibilizar pessoas videntes para as dificuldades enfrentadas pelos
cegos no âmbito social.
3. Pergunta de Pesquisa
O presente estudo procurará responder a seguinte questão: como é a
adaptação de pessoas videntes à situação de privação do sentido da visão em
situações de atividades de vida diária?
4. Metodologia
4.1 Participantes
A pesquisa compreenderá dez participantes, sendo, cinco do sexo
masculino e cinco do sexo feminino, com idades entre 18 e 30 anos. A escolha
dos participantes será feita através de convites aos estudantes e professores
dos cursos de ciências exatas e biológicas da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar), que se encontram mais distantes do tema abordado.
4.2 Local
As vivências serão realizadas no campus da própria UFSCar, localizada
no interior do estado de São Paulo.
Serão utilizados alguns espaços físicos no interior da Universidade para
a realização de deslocamentos dos participantes, além de, algumas salas de
aula para atividades de vida diária (AVD).
ISSN 1984-2279
2263
4.3 Materiais e Instrumentos
Na referente pesquisa, serão utilizados na pesquisa alguns materiais
como: tampões e vendas para os olhos, bengalas, produtos descartáveis (copo
e prato), guardanapos, alimentos, televisão, DVD, filmes com áudio-descrição,
papel e caneta para as anotações e máquina fotográfica.
Para enriquecer a coleta de dados, os instrumentos utilizados serão:
Dois questionários, sendo, o primeiro antes das experiências e o segundo após
todas as etapas terem sido realizadas, além, da observação constante das
pesquisadoras.
4.4 Procedimentos de Coleta de Dados
O processo de coleta de dados será feito através das próprias vivências.
Os participantes, farão um trajeto de locomoção e deslocamento, previamente
combinado, que irá do prédio de Aulas Teóricas 8 (AT8) até o Restaurante
Universitário (RU). Nesse trajeto, passarão por rampas, escadas, pisos táteis,
elevações de terreno, asfalto e gramado. Estará o tempo todo sendo
auxiliados, e quando necessário, orientados.
Serão realizadas também, experiências isoladas em salas de aula.
Nelas, serão vivenciadas AVDs envolvendo alimentação e lazer. Na questão da
alimentação, os participantes serão colocados em uma sala com algumas
mesas, onde se terá alguns salgados e bebidas para observar como reagem e
essa situação e o que farão para se alimentarem. Já no quesito do lazer,
assistirão a um filme com e sem áudio descrição, além de interagirem entre si.
Será utilizado também, para promover uma coleta mais ampla, dois
questionários semiestruturados.
4.5 Procedimentos de Análise de Dados
A análise de dados da pesquisa se dará pela análise das questões
respondidas pelos participantes, pela observação das experiências de
“cegueira simulada” e pelo aprofundamento que os membros da pesquisa farão
sobre a deficiência visual como forma de conhecer mais essa vivência, tais
ISSN 1984-2279
2264
como suas convergências e divergências. Além disso, a análise abordará
quaisquer tipos de comentário ou especulação que venham a ser feitos durante
as situações de experiência. Sendo assim, conterá dados qualitativos e
quantitativos.
5. Resultados
Como resultado da pesquisa, que se encontra ainda em fase de coleta
de dados, atingiu-se parcialmente o objetivo geral, através de um levantamento
dos aspectos da adaptação de pessoas videntes à situação de privação do
sentido da visão. Estão sendo identificados na literatura os principais
comportamentos que caracterizam o uso dos outros sentidos como meio de
captação de informações ambientais que visam adaptações na situação de
cegueira, bem como a descrição do comportamento das pessoas em situação
de simulação da condição de cegueira, nas vivências.
O estudo também está permitindo, no âmbito social, uma maior
conscientização das pessoas participantes para as dificuldades enfrentadas
nessas adaptações, e como pequenas mudanças no ambiente podem ser
muito úteis.
6. Conclusão
Como conclusão provisória, se tira que, foram encontradas dificuldades
em se fazer o levantamento da literatura referente aos principais
comportamentos que caracterizam o uso dos outros sentidos como meio de
captação de informações ambientais que visam adaptações na situação de
cegueira, bem como na descrição do comportamento das pessoas em situação
de simulação da condição de cegueira, nas vivências.
Quanto à pesquisa empírica em si, houve um atraso devido à greve da
instituição escolhida para fazê-la, mas tudo está encaminhado e dentro do
previsto.
Assim, se pode concluir que os objetivos do trabalho foram parcialmente
atingidos.
ISSN 1984-2279
2265
Referências
• COSTA, A. B. et al. Deficiência Visual/Cegueira: definições,
caracterizações e atendimento educacional. São Carlos: Centro de Educação e
Ciências Humanas, 20011. 54p. Trabalho de Pós-graduação em Educação
Especial.
• COSTA, C. S. L. et al. Análise do conceito de deficiência visual:
Considerações para a prática de professores. In: COSTA, M. P. R. Educação
Especial: aspectos conceituais e emergentes. São Carlos: EdUFSCar, 2009. p.
47-62.
• FRANCO, J. R. O significado da cegueira para pessoas que
perderam a visão na idade adulta. 2002. 109 f. Dissertação (Mestrado em
Educação Especial)- Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade
Federal de São Carlos, São Carlos, 2002.
• FRANCO, J.R; DIAS, T. R. S. A pessoa cega no processo histórico: um
breve percurso. Revista Benjamin Constant, p. 1-7, 2005.
• FREIRE, I. M. A experiência com a cegueira. Nossos Meios RBC, 10f,
Agosto/2005.
• LEWIS, V. Development and Disability. Oxford, U.K: Blackwell
Publishing, 2. ed., 2003.
• MACHADO, E. V. et al. Orientação e Mobilidade: conhecimentos
básicos para a inclusão do deficiente visual. Brasília: MEC, SEESP, 2003.
• Martínez, J. M. Los Ciegos en la Historia. TOMO I. ONCE, MADRID, 1991.
• Números da cegueira no Brasil Disponível em:
<http://www.ibc.gov.br/index.php?itemid=10062> Acessado em 12/05/2012-
Instituto Benjamim Constant
• ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAUDE. Classificacao estatistica
internacional de doenças e problemas relacionados à saude: CID-10. São
Paulo: EDUSP, 2007.
• RAMOS, J. J. C. Acessibilidade para a pessoa com cegueira em
trilhas. 2009. 102f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial)- Centro de
Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São
Carlos, 2009.
ISSN 1984-2279
2266
• SANTOS, F. D. A aceitação e o enfrentamento da cegueira na idade
adulta. 2004. 141 p. Dissertação (Mestrado em Educação Especial)- Centro de
Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São
Carlos, 2004.
ISSN 1984-2279
2267

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Sensibilização sobre deficiência visual

  • 1. Sensibilização de pessoas não deficientes em relação à situação de deficiência visual1 Ana Karolina Lopes Rodrigues Jade Delamanha Jéssica Matias de Macena Karla Cadamuro Travagin Graduandas do curso de Licenciatura em Educação Especial pela UFSCar Ailton Barcelos da Costa Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial – CAPES – UFSCar Eixo: Deficiência Visual Pôster Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo identificar e avaliar quais as reações observadas durante a realização de vivências da condição de cegueira com pessoas videntes. O material utilizado para análise será obtido a partir das próprias vivências das pessoas em situações de deficiência e através de entrevistas que serão realizadas antes e depois das experiências como forma de avaliar as mudanças nas concepções dos participantes. A pesquisa contará com a participação de 10 pessoas, em que todas são videntes entre 18 e 30 anos de idade. Como resultados, pretende-se ter os aspectos de adaptação através de comportamentos característicos e uso dos outros sentidos. Espera- se que possibilitem maiores preocupações e conscientização dos videntes para com os desafios enfrentados pelos deficientes visuais. Palavras-chave: deficiência visual; videntes; vivências. 1 Pesquisa realizada na disciplina de Processos Investigativos I: planejamento do trabalho científico, sob a orientação das Professoras Maria Amélia Almeida e Carolina Severino Lopes da Costa. ISSN 1984-2279 2256
  • 2. 1. Introdução e Referencial Ao começar este trabalho, se podem destacar alguns conceitos em relação à deficiência visual (cegueira e baixa visão). Para isso, se pode começar com duas escalas oftalmológicas: a acuidade visual e o campo visual. A primeira é a capacidade de distinguir formas e detalhes, sendo medida através de uma comparação entre a capacidade de visão de uma pessoa sem deficiência e outra com. Como por exemplo, uma pessoa de visão normal consegue ver a 60 metros de distância o que outra com deficiência e com o uso da lente corretiva só conseguem ver em uma distância de 6 metros (6/60metros). Já, a segunda escala, de campo visual, se refere ao ângulo de visão de uma pessoa quando a mesma olha em linha reta. No caso de uma pessoa normal, esse ângulo é de aproximadamente 160° e 170° (graus). A partir dessas escalas e nessa conceituação a deficiência visual é definida por Bruno & Mota (2001) apud Costa (2009, p. 54) como: cegueira é “a perda total de visão até a ausência de projeção de luz” e baixa visão é a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores isolados ou associados tais como: baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos contrastes que interferem ou limitam o desempenho visual do indivíduo. A conceituação apresentada pelo MEC e Seesp, em Brasil (2005) apud Costa (2009, p. 55) é muito semelhante à descrita a cima, apenas especificando que a acuidade visual da cegueira é menor que 20/200 pés e o seu campo visual é inferior a 20°, no melhor olho. No caso da baixa visão, acrescenta alguns níveis que a perda da função visual segue: “severo, moderado ou leve, podendo ser influenciada também por fatores ambientais inadequados.”. Essa conceituação permite uma avaliação funcional da deficiência visual e é muito importante na educação escolar dessas pessoas, permitindo que se use o máximo de visão residual para aumentar o seu potencial de aprendizagem. ISSN 1984-2279 2257
  • 3. O fato de possuírem uma mesma acuidade visual não quer dizer que elas possuem as mesmas necessidades e a mesma percepção de mundo. Os deficientes visuais podem se utilizar da visão que lhes resta de diferentes formas e com diferentes intensidades para se relacionarem com o ambiente. Como também, podem utilizar os outros sentidos (audição, tato, olfato, paladar) conforme lhes for mais agradável. Sendo assim, o processo de aprendizagem de pessoas cegas ocorrerá pelos sentidos remanescentes e pelo sistema Braille, enquanto que, para as pessoas com baixa visão (limita o desempenho) o processo educativo ocorrerá por meios visuais com a utilização de recursos específicos. Entretanto, outro aspecto a ser levantado aqui é que a história de pessoas deficientes visuais varia de uma cultura para outra, refletindo os valores e as crenças de cada sociedade. Essas formas de pensar acabam por se materializar em práticas sociais, ditando o relacionar entre pessoas deficientes e não deficientes. A “deficiência” é um fenômeno social, sendo que, ser ou estar deficiente ocorre apenas perante pessoas “não deficientes” (FRANCO; DIAS, 2005). A história da deficiência visual, por sua vez, se entrelaça com a história da humanidade. Nas sociedades primitivas quase não existiam pessoas cegas, pois eram abandonadas ou mortas, na maioria das vezes, por se acreditar que estavam possuídas por um espírito maligno, de acordo com Martínez (1991). Ainda, de acordo com Franco e Dias (2005), durante a Idade Média, a cegueira era vista como uma punição judicial prevista pela lei e usada também como forma de vingança. Foi apenas com o avanço do cristianismo que o deficiente visual - e todos os outros deficientes de maneira geral – passaram a possuir uma alma e ser tratado como pessoa. Ou seja, ele passou a ser considerado filho de Deus, tendo como todos os outros, o direito de ser cuidado por alguém. Mesmo assim, não tinha muita serventia à sociedade, sendo “encostado” por suas famílias, sendo que o avanço da inquisição, apenas piorou a situação. Com o período renascentista veio, também, uma mudança na forma de se enxergar a deficiência. De superstição ela passou para um conceito ISSN 1984-2279 2258
  • 4. organicista e científico. Começou a ser estudada e entendida como de cunho patológico, ou seja, não haveria nada a se fazer que pudesse modificar aquela condição. Mas foi no século XVIII e XIX que esse quadro realmente começou a mudar. A partir de estudos sobre a educação de deficientes, foi criada a primeira escola no mundo para pessoas cegas, na França, e juntamente com ela o sistema de leitura e escrita em relevo, o Braille. No Brasil, entretanto, a primeira ação voltada aos deficientes visuais foi à criação, em 1854, do Imperial Instituto de Meninos Cegos, na cidade do Rio de Janeiro, atual Instituto Benjamin Constant (IBC). Após um período de mais ou menos meio século, outros institutos para cegos foram criados. Porém, foi apenas em 1993 que a deficiência visual foi incluída no alunado da Educação Especial, passando também, a lhe ser garantido tudo aquilo previsto por lei, como: sua integridade, a liberdade de ir e vir, a autonomia, o direito a uma educação em sala regular, entre muitos outros (FRANCO; DIAS, 2005). Considerando-se que a deficiência não é apenas física, mas também social, quando o ambiente não é apropriado e as pessoas que estão em volta criam certa resistência em acreditar, que, mesmo não enxergando a pessoa com cegueira é capaz de realizar varias atividades do cotidiano, a vida do deficiente se torna ainda mais complicada. Por outro lado, para o individuo que perde a visão na fase adulta, há certa dificuldade em aceitar, e se adaptar com a nova fase que esta vivendo. No âmbito social busca-se, identificar as necessidades de adaptação das pessoas que ficaram cegas na fase adulta. E, proporcionar a conscientização social sobre as dificuldades enfrentadas pela ausência ou baixa visão. Já, no âmbito científico, busca-se proporcionar resultados inovadores de um trabalho ainda não realizado no Brasil. Justamente por conta dessa série de conceitos, funções e finalidades que a permeiam, é difícil de conseguir chegar a apenas uma definição para a deficiência visual. De acordo com o Instituto Benjamin Constant (IBC, 2012), deficiência visual é a perda ou redução de capacidade de visão em ambos os olhos em ISSN 1984-2279 2259
  • 5. caráter definitivo, que não possa ser melhorada ou corrigida com o uso de lentes, tratamento clínico ou cirúrgico. Já para Rocha (1987) apud Santos (2004), a cegueira pode se referir a vários graus de visão residual, que não necessariamente ocasionam uma total perda da visão, mas sim, um comprometimento na execução de tarefas rotineiras. Já, a baixa visão, é entendida por Santos (2004) como um enfraquecimento visual que causa desvantagem funcional e redução no desempenho da visão, não podendo ser corrigida por tratamentos ou óculos convencionais. Agora, segundo a Organização Mundial de Saúde (2007), no Brasil, cerca de 1,6 milhão de pessoas apresentam algum tipo de deficiência visual, sendo mais comum, a baixa visão. E pelo censo demográfico (2000), mais especificadamente, de 34.580.721 deficientes, 16.644.842 deles são visuais. Esses dados, porém, ainda podem ser representados por mais uma maneira de se dividir a deficiência visual. Assim, pela sua forma de aquisição, ela pode ser uma deficiência congênita ou adquirida. Na cegueira congênita, a pessoa perde a visão no nascimento ou até os cinco anos de idade, segundo Lowenfeld (1950) apud Franco (2002), não retendo nenhuma imagem essencial para processos futuros como, por exemplo, a alfabetização. Já, na cegueira adquirida, por algum acidente ou doença, a visão se perde depois dos cinco anos e a pessoa guarda imagens na sua memória visual sobre o mundo. Entretanto, como destaca Costa (2009), o conceito de deficiência visual ainda é alvo de contrassenso entra as áreas sociais (médica, legal e educacional) e os períodos da história, que a construíam de acordo com o modelo de sua sociedade, suas crenças, valores e concepção de homem e mundo. Autores e pesquisadores brasileiros são muito influenciados pela literatura norte-americana, inclusive os documentos oficiais. No presente estudo optou-se por utilizar as definições expostas por Costa (2009), em seu artigo a respeito da análise do conceito de deficiência visual. Nele, a deficiência é dividida em três âmbitos: conceituação “legal” ou clínica, conceituação educacional e classificação clínico-funcional. ISSN 1984-2279 2260
  • 6. Ao se fazer uma busca em bases de dados utilizando-se as palavras- chave como deficiência visual, cegueira adquirida e experiências realizadas com pessoas videntes, procurou-se algum estudo na literatura brasileira que fosse igual ou similar ao tema proposto, porém, não foram encontrados trabalhos relacionados diretamente com o tema, apenas indiretamente. A pesquisa cujo tema mais se aproximou do presente estudo foi a de Ramos (2009), que dissertou sobre a ausência de acessibilidade em situações de lazer, neste caso, em trilhas na cidade da Florianópolis. Apesar de promover experiências em trilhas, ele tem como participantes pessoas com cegueira, e não, videntes (objetivo da pesquisa que será realizada). Nela, ele cita o Decreto nº 5296/2004 que estabeleceu critérios para promover a acessibilidade de pessoas com deficiência visual. Fala também sobre a OM (orientação e mobilidade) que visa, por meio de aulas, promover e capacitar as pessoas com deficiência a locomover-se a pé, independentemente de serem ambientes conhecidos por eles ou não. Além disso, apresenta outros modos de auxilio na locomoção e vida dos deficientes visuais, tais como a bengala (sua invenção e utilidade). Busca mostrar, por fim, que utilizando métodos de sinalização, em trilhas de grande movimento, é possível que a pessoa cega possa desfrutar do lazer sem um guia vidente, sendo mais independente e exercendo o direito de todo cidadão de ir e vir. Realizada com dez participantes do sexo masculino e uma do sexo feminino, tem o objetivo de criar e utilizar métodos de sinalização para trilhas, sendo possível que a pessoa cega possa desfrutar do lazer sem um guia vidente sendo mais independente, como qualquer outra pessoa. O pesquisador utilizou como método de pesquisa a observação, entrevista e tabelas de dificuldades. Após a intervenção no ambiente conseguiu alcançar seu objetivo: os participantes conseguiram caminhar pela trilha sem ajuda, de outra pessoa apenas usando a sinalização. Além dessa pesquisa, o trabalho de Freire (2005), que teve como objetivo descobrir se as pessoas que não enxergam percebem a cegueira da mesma forma que as pessoas videntes, questionam o quanto a forma de enxergar o mundo é diferente para cada caso. A autora tenta relacionar e ISSN 1984-2279 2261
  • 7. decifrar a relação que existe entre a cegueira e o mito da túnica de Néssus, tomando por isso diversas opiniões e visões sobre ambas. Assim, ela coloca que a cegueira é diferente pra cada tipo de pessoa que a enxerga, seja pelo sentido da visão mesmo, pela audição, pelo toque, etc. Cada um tem uma forma de enxergar a cegueira e as dificuldades enfrentadas pela ausência própria de visão. Grande parte das pesquisas encontradas versa sobre a perda da visão na idade adulta. Na primeira (SANTOS, 2004), é descrito o processo de aceitação de pessoas na idade adulta, que por algum motivo (acidente ou doença), ficaram cegas. Ela utiliza materiais rotineiros (papel e lápis) e de análise (entrevistas), constatando que não há uma forma homogênea de reação, mas que, cada pessoa apresenta diferentes características que as fazem reagir de diferentes maneiras. Já o estudo de Franco (2002) objetivou investigar qual o significado da cegueira para pessoas que perderam a visão na idade adulta. Utilizando-se, também, de questionários que investigam alguns pontos desse processo de adaptação e conscientização de sua nova situação, o autor concluiu que a cegueira significa uma limitação, uma dependência, por conta da condição que impõe, mas, também, é uma possibilidade de mudança e de recomeço em uma nova e surpreendente vida. Finalmente, o trabalho de Machado (2003) destaca a questão da orientação e mobilidade do deficiente visual, que pode ocorrer de diversas formas, promovendo a inclusão do mesmo tanto em ambiente escolar como na sociedade, além de, propor a sua autonomia. Por fim, de acordo com Machado (2003), as pessoas percebem boa parte da realidade à sua volta por meio da visão, o que não significa que as com deficiência visual estejam impossibilitadas de conhecer e se relacionar com o mundo. Ela deve se utilizar de outras percepções sensoriais, como a audição que envolve as funções de eco localização, localização dos sons, escutar seletivamente e sombra sonora; o sistema háptico ou tato ativo; a cinestesia; a memória muscular; o sentido vestibular ou labiríntico; o olfato e o aproveitamento máximo de qualquer grau de visão que possa ter. ISSN 1984-2279 2262
  • 8. 2. Objetivos Este estudo tem como objetivo geral, identificar aspectos da adaptação de pessoas videntes à situação de privação do sentido da visão. Seus objetivos específicos são: • Descrever/Identificar pensamentos e sentimentos antes e após a participação em vivências de simulação da condição de cegueira. • Identificar comportamentos características do uso dos outros sentidos como meio de captação de informações ambientais que visam adaptações à situação de cegueira. • Sensibilizar pessoas videntes para as dificuldades enfrentadas pelos cegos no âmbito social. 3. Pergunta de Pesquisa O presente estudo procurará responder a seguinte questão: como é a adaptação de pessoas videntes à situação de privação do sentido da visão em situações de atividades de vida diária? 4. Metodologia 4.1 Participantes A pesquisa compreenderá dez participantes, sendo, cinco do sexo masculino e cinco do sexo feminino, com idades entre 18 e 30 anos. A escolha dos participantes será feita através de convites aos estudantes e professores dos cursos de ciências exatas e biológicas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que se encontram mais distantes do tema abordado. 4.2 Local As vivências serão realizadas no campus da própria UFSCar, localizada no interior do estado de São Paulo. Serão utilizados alguns espaços físicos no interior da Universidade para a realização de deslocamentos dos participantes, além de, algumas salas de aula para atividades de vida diária (AVD). ISSN 1984-2279 2263
  • 9. 4.3 Materiais e Instrumentos Na referente pesquisa, serão utilizados na pesquisa alguns materiais como: tampões e vendas para os olhos, bengalas, produtos descartáveis (copo e prato), guardanapos, alimentos, televisão, DVD, filmes com áudio-descrição, papel e caneta para as anotações e máquina fotográfica. Para enriquecer a coleta de dados, os instrumentos utilizados serão: Dois questionários, sendo, o primeiro antes das experiências e o segundo após todas as etapas terem sido realizadas, além, da observação constante das pesquisadoras. 4.4 Procedimentos de Coleta de Dados O processo de coleta de dados será feito através das próprias vivências. Os participantes, farão um trajeto de locomoção e deslocamento, previamente combinado, que irá do prédio de Aulas Teóricas 8 (AT8) até o Restaurante Universitário (RU). Nesse trajeto, passarão por rampas, escadas, pisos táteis, elevações de terreno, asfalto e gramado. Estará o tempo todo sendo auxiliados, e quando necessário, orientados. Serão realizadas também, experiências isoladas em salas de aula. Nelas, serão vivenciadas AVDs envolvendo alimentação e lazer. Na questão da alimentação, os participantes serão colocados em uma sala com algumas mesas, onde se terá alguns salgados e bebidas para observar como reagem e essa situação e o que farão para se alimentarem. Já no quesito do lazer, assistirão a um filme com e sem áudio descrição, além de interagirem entre si. Será utilizado também, para promover uma coleta mais ampla, dois questionários semiestruturados. 4.5 Procedimentos de Análise de Dados A análise de dados da pesquisa se dará pela análise das questões respondidas pelos participantes, pela observação das experiências de “cegueira simulada” e pelo aprofundamento que os membros da pesquisa farão sobre a deficiência visual como forma de conhecer mais essa vivência, tais ISSN 1984-2279 2264
  • 10. como suas convergências e divergências. Além disso, a análise abordará quaisquer tipos de comentário ou especulação que venham a ser feitos durante as situações de experiência. Sendo assim, conterá dados qualitativos e quantitativos. 5. Resultados Como resultado da pesquisa, que se encontra ainda em fase de coleta de dados, atingiu-se parcialmente o objetivo geral, através de um levantamento dos aspectos da adaptação de pessoas videntes à situação de privação do sentido da visão. Estão sendo identificados na literatura os principais comportamentos que caracterizam o uso dos outros sentidos como meio de captação de informações ambientais que visam adaptações na situação de cegueira, bem como a descrição do comportamento das pessoas em situação de simulação da condição de cegueira, nas vivências. O estudo também está permitindo, no âmbito social, uma maior conscientização das pessoas participantes para as dificuldades enfrentadas nessas adaptações, e como pequenas mudanças no ambiente podem ser muito úteis. 6. Conclusão Como conclusão provisória, se tira que, foram encontradas dificuldades em se fazer o levantamento da literatura referente aos principais comportamentos que caracterizam o uso dos outros sentidos como meio de captação de informações ambientais que visam adaptações na situação de cegueira, bem como na descrição do comportamento das pessoas em situação de simulação da condição de cegueira, nas vivências. Quanto à pesquisa empírica em si, houve um atraso devido à greve da instituição escolhida para fazê-la, mas tudo está encaminhado e dentro do previsto. Assim, se pode concluir que os objetivos do trabalho foram parcialmente atingidos. ISSN 1984-2279 2265
  • 11. Referências • COSTA, A. B. et al. Deficiência Visual/Cegueira: definições, caracterizações e atendimento educacional. São Carlos: Centro de Educação e Ciências Humanas, 20011. 54p. Trabalho de Pós-graduação em Educação Especial. • COSTA, C. S. L. et al. Análise do conceito de deficiência visual: Considerações para a prática de professores. In: COSTA, M. P. R. Educação Especial: aspectos conceituais e emergentes. São Carlos: EdUFSCar, 2009. p. 47-62. • FRANCO, J. R. O significado da cegueira para pessoas que perderam a visão na idade adulta. 2002. 109 f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial)- Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2002. • FRANCO, J.R; DIAS, T. R. S. A pessoa cega no processo histórico: um breve percurso. Revista Benjamin Constant, p. 1-7, 2005. • FREIRE, I. M. A experiência com a cegueira. Nossos Meios RBC, 10f, Agosto/2005. • LEWIS, V. Development and Disability. Oxford, U.K: Blackwell Publishing, 2. ed., 2003. • MACHADO, E. V. et al. Orientação e Mobilidade: conhecimentos básicos para a inclusão do deficiente visual. Brasília: MEC, SEESP, 2003. • Martínez, J. M. Los Ciegos en la Historia. TOMO I. ONCE, MADRID, 1991. • Números da cegueira no Brasil Disponível em: <http://www.ibc.gov.br/index.php?itemid=10062> Acessado em 12/05/2012- Instituto Benjamim Constant • ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAUDE. Classificacao estatistica internacional de doenças e problemas relacionados à saude: CID-10. São Paulo: EDUSP, 2007. • RAMOS, J. J. C. Acessibilidade para a pessoa com cegueira em trilhas. 2009. 102f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial)- Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2009. ISSN 1984-2279 2266
  • 12. • SANTOS, F. D. A aceitação e o enfrentamento da cegueira na idade adulta. 2004. 141 p. Dissertação (Mestrado em Educação Especial)- Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2004. ISSN 1984-2279 2267