1. PÁGINA 2 - ABRIL DE 2008 ECONOMIA
Comércio informal predomina na região EDITORIAL
Subprefeitura quer implantar projeto para regulamentar a atividade de ambulantes Universo
Dayane Tedesco Sapopemba
Jéferson Roz
Karina Paulon Nas páginas que seguem, con-
templamos as histórias e a identi-
O comércio de bairro é tradicio- dade de uma das vias públicas mais
nal em São Paulo. Na maior Aveni- extensas da América do Sul: a
da da América Latina também não Avenida Sapopemba e seus quase
poderia ser diferente. A compra e 45 km de asfalto, numa ponta (ex-
venda de produtos e a intensa cir- tremo leste de São Paulo), ou de
culação de consumidores acontecem terra batida, na outra (divisa com
diariamente em larga escala e sem o município de Ribeirão Pires).
qualquer tipo de interrupção. A origem do nome Sapopemba
A Avenida Sapopemba é fre- é indígena e foi adaptado para a
qüentada, em sua maioria, por linguagem popular. “Sapopema”,
moradores da própria região. Com- de fato, é como os indígenas bati-
preendida em cerca de 45 km da zavam o conjunto de raízes desen-
Zona Leste, sendo a maior da cida- volvidas em muitas árvores, forman-
de por sua extensão. Exemplo des- do em torno delas partes achata-
ta grandiosidade é o número de das. As plantas se espalhavam pela
imóveis que ultrapassa os 16 mil. região leste da cidade.
Ao percorrê-la, diversos bairros A Avenida Sapopemba se cons-
se unem e os comércios formam trói como personagem multifaceta-
centros de compras que, somados, da. São muitas as questões da co-
representam a economia da região. munidade a serem discutidas. A co-
Segundo dados do IBGE, de 2004, SEM IMPOSTOS - Comerciantes regulares reclamam da concorrência com os ambulantes meçar pelo meio ambiente. Uma das
a atividade econômica na área chega reportagens desta edição do jornal-
a mais de 5 mil estabelecimentos, ação foi o reconhecimento do espa- tos e nada”, afirma o ambulante de movimentação de pessoas durante laboratório Cidadão, produzido
formais e informais, como comér- ço público. Em maio do ano passa- roupas e acessórios Sebastião Perei- todos os dias da semana. O cabelei- por estudantes do curso de Jornalis-
cio, indústria e serviços, e gera, di- do, foram levantados os números ra, 62 anos. Ele diz ter essa ativida- reiro Adilson Bezerra, 33 anos, que mo da Unicsul, do campus São
reita e indiretamente, mais de 40 mil de camelôs: são cerca de 300 ambu- de como única fonte de renda. trabalha há mais de oito anos no Miguel, aborda a atividade do Ater-
empregos. Esse movimento é atri- lantes, sendo apenas 130 cadastra- Uma das metas da subprefeitu- local, afirma ser consumidor na re- ro São João, no Parque São Rafael.
buído à diversidade de produtos, dos com Termo Permissão de Uso ra é a implantação de sistemas mo- gião pela facilidade. “É bom traba- O lixão vem agredindo o ambiente e
praticidade em comprar e preços (TPU). Na segunda ação, três me- biliários urbanos, que seriam bo- lhar aqui. Os clientes são bons con- a saúde dos moradores vizinhos por
mais acessíveis. ses depois, o recadastramento acon- xes de alvenaria ou padronizados. sumidores e, com isso, aumentam causa do mau cheiro. São apresen-
Na Avenida, teceu em uma reu- “O problema é que não temos es- as ofertas. O que precisa mudar no tadas informações que ajudam a re-
os consumidores nião. Dos 130 am- paços públicos disponíveis para comércio da Avenida é o trânsito fletir sobre as melhorias que o lixão
circulam por su- Segundo dados do bulantes, somente transferir os comerciantes de rua. caótico, a falta de estacionamento e trouxe, ou não, desde que foi im-
permercados, pa- IBGE, a Avenida 65 compareceram Buscamos parcerias com o setor a segurança.” plantado em 1992.
darias, perfuma- Sapopemba abriga por estarem de privado para utilizar galpões e fa- Em relação aos lojistas, a maio- A falta de lazer na região é
rias, lojas de calça- 5 mil estabelecimentos acordo. Os outros zermos como ocorreu no Largo da ria não tem reclamações, a não ser sintomática ao longo da própria
dos e roupas e ou- que geram cerca de 65 não foram à Concórdia, com os shoppings po- em datas festivas que surgem con- avenida ou nos bairros do entorno.
tros tantos estabe- 40 mil empregos. subprefeitura mes- pulares”, diz Resende, 48 anos. correntes informais que contrariam Por que existem tantas áreas co-
lecimentos. Há mo tendo o TPU. Os consumidores preferem alguns comerciantes. Os preços são merciais em detrimento de poucos
ainda residências A terceira etapa do comprar na Aveni- menores e os came- centros de esportes e lazer ou de
que improvisam comércios ou pres- processo vai incluir a legalização. Em da Sapopemba lôs fazem a abor- espaços para a expressão cultural?
tam serviços com o propósito de média, segundo o coordenador de pela proximidade, A Prefeitura levantou dagem na rua, ao Falta de mobilização das comuni-
aumentar a renda familiar. Planejamento e Desenvolvimento, preços diferencia- o número de camelôs, contrário do co- dades? Insensibilidade dos governos
Muitos estabelecimentos estão Dagoberto Resende, mais de 170 dos e variedade de cerca de 300, merciante Euflô- de turno?
irregulares por falta de alvará da Pre- ambulantes têm atividades irregu- produtos. Alguns dos quais somente nio Juy, 62 anos, O comércio informal só faz
feitura. Os ambulantes também lares na Avenida. chegam a cami- 130 possuem o Termo que está na Aveni- crescer nos últimos anos, fenôme-
compartilham deste espaço. Em Os ambulantes da Praça Tor- nhar mais de dez Permissão de Uso. da há mais de 20 no que expõe a disputa com os lo-
vários pontos, eles ocupam, de for- quato Plaza, no bairro do Jardim minutos. “Venho anos: “Pago alu- jistas regularizados por um espaço
ma irregular, praças, calçadas e prin- Grimaldi, por exemplo, tiveram neste mercado guel do estabeleci- nas calçadas. Em tempos de acir-
cipalmente prédios públicos, como suas barracas retiradas pela subpre- porque o preço é bom. Comprei mento que chega em torno de R$ rada disputa por oportunidades de
hospitais e escolas devido à movi- feitura. Foram inúmeros os cadas- um pote de maionese, pois perto 2.000, enquanto os camelôs não pre- trabalho com registro em carteira,
mentação do público. tros desde a inauguração, em 1998. da minha casa é mais caro”, diz o cisam pagar para trabalhar.” o problema dos ambulantes tornou-
A regional da subprefeitura da Porém, não houve decisão quanto auxiliar administrativo Paulo Ro- O importante para todos que se calejado devido, entre outros
Vila Prudente/Sapopemba preten- à regularização. “Aguardo até hoje berto, 43 anos, que mora no bairro consomem na Avenida é ficar aten- motivos, à substituição da mão-de-
de regularizar a situação dos comer- minha autorização. Inscrevi-me em distante do Grimaldi. to aos serviços prestados e merca- obra braçal pela tecnológica.
ciantes e impedir as vendas de mer- 2000 e depois nas outras duas ve- Já os comerciantes gostam de dorias vendidas. Pela quantidade de Também focamos os transpor-
cadorias ilegais (piratas). A primeira zes, com as cópias dos documen- trabalhar na Avenida por causa da pessoas que circulam, há ambulan- tes locais com suas linhas de ôni-
tes que, com o propósito de con- bus e os taxistas que contam his-
quistar clientes, utilizam produtos tórias curiosas do cotidiano. Fomos
que não lhes caberiam ao seu co- até o Mercado Municipal colher
mércio. Há ainda aqueles que ven- relatos de veteranos comerciantes
Reitora Jornal-laboratório do Curso de dem produtos terceirizados, sem que testemunharam o crescimento
Sueli Cristina Marquesi Comunicação Social (Jornalismo)
Pró-reitor de Graduação procedência legal. Um exemplo é o do bairro, para bem e para mal. E
da Universidade Cruzeiro do Sul
Carlos Augusto Baptista de Andrade Ano IX - Número 30 - Abril de 2008 pão, que deveria ser feito na pada- levantamos ainda algumas “surpre-
Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa
Luiz Henrique Amaral
Tiragem: 5 mil exemplares ria, mas é encontrado em estabele- sas” relativas à Sapopemba, como
Telefone para contato: 6137-5706
Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários cimentos sem autorização ao lon- a existência de um curioso ossário
Jorge Alexandre Onoda Pessanha Professores-orientadores go da Avenida. Fica a reflexão: se o numa igreja.
Coordenador do Curso de Comunicação Social Cecília Luedemann, Dirceu Roque de Sousa,
Carlos Barros Monteiro Flávia Serralvo, Luciana Rosa e Valmir Santos. pão é alimento, torna-se também Boa leitura.
uma questão de saúde pública.