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Mesmo em período ditatorial, lembranças positivas marcaram Copa de 1970
A Seleção do Brasil de 1970 em campo
A nove dias do começo da Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, o
maior conforto para acompanhar as partidas de futebol do campeonato
alavanca as vendas de aparelhos de TV, principalmente, para a já
consolidada nova classe média. Mestre em Educação, o professor Sergio
Bonato tinha 14 anos quando viu, pela primeira vez, a Seleção do Brasil
entrar em campo numa Copa do Mundo. Era 1970, e os jogos, no México,
eram transmitidos ao vivo pela televisão. Bonato estudava num colégio
interno só de meninos em Curitiba, Paraná. Quando a equipe do Brasil
disputava a competição com outras Seleções, o então garoto de 14 anos ia
para a frente da TV, junto a padres e aos demais 40 alunos da instituição.
Nas Copas anteriores, Bonato tinha acompanhado as partidas pelo rádio,
meio de comunicação mais difundido no país naquele momento.
“A televisão não era barata, era para poucos. As pessoas saíam de casa e
viam (os jogos) na casa do vizinho. Lembro que comprar uma TV era como
comprar um automóvel hoje em dia”, conta Bonato, que assistiu à Copa de
1970 por uma “TV em preto e branco, com umas 29 polegadas e tubo
grande”.
O consultor em marketing esportivo Luiz Leo enfatiza que a Copa do Mundo
favorece o comércio de aparelhos de televisão. Segundo ele, a venda do
equipamento cresce, principalmente, a partir das Copas de 1974 e 1978 para,
em 1982, ocorrer uma explosão do consumo.
Foto: Lemyr Martins
“A partir daí a televisão se torna num objeto doméstico, um utensílio muito
mais acessível em termo de crédito. Era o rádio, que perdeu o lugar de honra
na casa”, diz Luiz Leo, ao observar que em termos de custo, o rádio sempre
será mais acessível que o aparelho de TV pela tecnologia embutida.
O decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, o economista Luiz
Roberto Cunha, conta que o então governo, do general Emilio Médici (1969-
1974), incentivava o consumo. Ele acrescenta que a oferta de crédito direto
ao consumidor de 1970 é comparável com a dos últimos anos no país, depois
da estabilização da moeda. Isso, complementa, possibilitou que pessoas de
renda mais baixa adquirissem bens, como a televisão, por meio do
parcelamento. O jornalista esportivo Roberto Assaf afirma, no entanto, que a
transmissão pela TV em tempo real foi prejudicial por facilitar ao regime
militar a “faturar politicamente”.
“Se até 1966, bem ou mal, conseguiam fazê-lo, com os jogos ao vivo ganhou
dimensão fantástica. As pessoas se envolveram muito mais. Eu me lembro
de ficar com mais 20 (amigos) imaginando o jogo”, reforça Assaf.
Bonato concorda que, já em 1970, a Copa do Mundo despertava o interesse
da população brasileira. Ele conta que as janelas tinham bandeiras de
plástico do país e as pessoas se vestiam de verde e amarelo. Os minutos da
partida, diz, também aproximavam as pessoas e as colocavam em contato
com o país. “Era como se fosse uma guerra, e eu estava representado pela
pessoa que chutava a bola.”
Mesmo antes do início da competição, o assunto entre Bonato e os amigos já
era o futebol da Seleção. O ainda popular álbum de figurinha era um dos
passatempos do grupo, que comprava os “pacotinhos” na banca e depois
trocava figurinhas. “Comprávamos (o pacote com as figurinhas) nas bancas e
usávamos cola Tenaz. Era um grande meio de divulgação da Copa”, recorda
Bonato, que completou o álbum.
Foi a televisão, ressalva Luiz Leo, a principal responsável por atrair audiência
e, consequentemente, mais patrocínios para a Copa do Mundo. Segundo ele,
a partir dos anos 1970, cresce o número de empresas interessadas em
“pegar carona nessa paixão” ao associar os produtos que comercializam a
atributos positivos, como alegria, emoção, conquista e jovialidade. Isso
interfere, acrescenta, no papel desempenhado pelos jogadores da Seleção.
“O compromisso é com o mercado, é com o consumo. Esses caras não têm
mais identidade brasileira. Eles moram fora do país. Esses que estão aí
simbolizam pouco o ideal romântico do herói esportivo que, nos anos 1970,
representou aquela geração. E ficou na memória”, critica o consultor em
marketing esportivo.
A então Confederação Brasileira de Desportes (CBD), atual Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), era admirada por Bonato. Em 1970, ele conta ter
desenhado o símbolo da CBD nos cadernos do internato e na blusa que
vestia para jogar futebol com os amigos.
Os jogadores de futebol Mario Sergio, à esquerda, e PC Caju, à direita, em campo
Porém, o jogador de futebol da Seleção do Brasil de 1970 e 1974 Paulo
Cezar Lima, conhecido como PC Caju, deixou de participar da Copa de 1978,
depois de discutir com o então presidente da CBD, Heleno Nunes. O ex-
futebolista conta que tinha 28 anos e era “titular absoluto”, quando pediu
melhorias para os jogadores da Seleção.
Foto: João Carlos Rangel
“Os militares mandavam no país, e ele falou que eu nunca mais jogaria lá. Aí
cheguei a escrever no Pasquim durante um ano, que era um jornal
maravilhoso, mas eu perdi uma Copa do Mundo”, conta PC Caju.
Para Assaf, os jogadores da atual Seleção não devem levantar bandeiras,
mas sim se concentrar na campeonato. O jornalista acredita que, apesar de
as manifestações serem necessárias, o futebol não é o culpado pelas
deficiências do país.
“Querem culpar o futebol por essa tragédia, mas o futebol é um esporte como
outro qualquer. A paixão é a mesma, a diferença é que deixaram o povo de
fora da Copa. Os ingressos são difíceis, e os estádios, elitizados.”
Já Luiz Leo lembra que a população de 2014, mesmo vivendo num regime
democrático, tem uma articulação de reivindicar direitos, novas conquistas, o
que não ocorria em 1970. Naquela época, o país estava num período
ditatorial e, inclusive, no governo considerado mais repressivo, o do general
Emilio Médici.
“Nos anos 1970, o Brasil vivia num modelo engessado de representação
social, porque não havia espaço para a manifestação de pensamento, e o
Estado aproveitou o esporte para convencer as pessoas de que aquilo ali era
um modelo justo de sociedade, que daria certo.”
Tanto Bonato quanto Cunha concordam que o regime militar soube aproveitar
o tricampeonato da Seleção para fazer propaganda oficial. “O regime
aproveitou a alegria do povo e usou como benefício próprio. Conseguiram
passar a ideia de que era um regime competente”, afirma Bonato.
Para Bonato, apesar de o governo não ter conseguido transmitir o discurso
de “a Copa das Copas”, a população vai às ruas torcer pelo Brasil e
comemorar os resultados. Já a forma de jogar futebol da atual Seleção não
entusiasma PC Caju. Ele acredita que tanto o esporte, quanto os torcedores
estão mais violentos. Segundo PC Caju, o técnico da Seleção de 2014, Luiz
Felipe Scolari, instiga a equipe a não deixar o adversário jogar e “dar
pancada”.
“Todos os times que ele (Luiz Felipe Scolari, o Felipão) dirigiu só pratica o
antijogo. Nessa última Copa das Confederações, o time que mais cometeu
falta na competição foi o Brasil, que antes só jogava bola. É um absurdo”,
que lembra outra novidade na Copa de 1970, a introdução dos cartões de
penalização amarelo e vermelho.
<box>
O preconceito no futebol
Negro e filho de uma ex-empregada doméstica de Minas Gerais, “analfabeta
e mal-tratada”, o ex-jogador de futebol PC Caju, conta que teve dificuldades
para encontrar espaço no futebol e na alta sociedade carioca. Passou no
teste para o time do Fluminense aos 12 anos. “Com o meu primeiro contrato
com o Botafogo, eu tirei a minha mãe da escravidão”, complementa. Ele
lembra que, naquela época, os jogadores de futebol eram vistos como
“vagabundos”. Namorou Alice Niemeyer durante um ano, mas o romance não
foi aprovado pela família do neurocirurgião Paulo Niemeyer. Nas andanças
pelo país, em 1968, lembra ter visto a placa “Proibida a entrada de negro”.
Para ele, o racismo no futebol continua e não deve ser levado como uma
jogada de marketing, como no caso da banana jogada no campo na partida
de Barcelona versus Villareal, na Espanha, em abril deste ano. Na Copa do
Mundo de 1970, no México, porém, PC Caju não se lembra de ter sofrido
preconceito. Ele conta que o Botafogo, a base da Seleção de 1970, era muito
querido pelos mexicanos.
“Na final, o estádio inteiro estava a favor do Brasil. Já quando a gente ganhou
da Inglaterra, os mexicanos ficaram com uma felicidade enorme e passaram
a torcer para a Seleção.”
</box>
O milagre na economia refletido nos jogos da Copa de 1970
Apesar da oferta de crédito direto ao consumidor em 1970, que permitiu a
compra de bens por pessoas de renda mais baixa, a desigualdade social era
um problema maior no Brasil. O economista Luiz Roberto Cunha afirma que,
naquela época, a remuneração do capital crescia mais que a do trabalho.
“A renda do capital são lucros, juros, aluguéis. E a outra parte é em relação
ao trabalho, a salário. Então, nesse período, há uma concentração de renda,
embora seja um período em que a inflação estava se desacelerando, estava
sendo reduzida.”
Os anos 1970 e 2014 são de economias estáveis e inflações controladas.
Segundo Cunha, no governo Médici, o país ainda se beneficiava de uma
série de mudanças inseridas pelo Plano de Ação Econômica do Governo
(Paeg), lançado durante o governo Castelo Branco (1964-1967). Ele lembra,
ainda, que, em 1970, o endividamento externo ainda não era “um grande
problema” para o país.
Médici com a faixa presidencial
“Nesse período de crescimento da economia mundial, as taxas de juros
internacionais eram relativamente baixas. Elas começam a subir de forma
mais intensa a partir dos anos 1980. O início do período de endividamento
externo é no (governo) Médici, depois ele cresce muito no (governo) Geisel
(1974-1979) e aí a crise vai ser só nos 1980”, afirma Cunha, ao reforçar que
o Brasil se beneficiava com o crescimento do país.
Foto: Reprodução
A economia só voltaria a se estabilizar em 1994, ano em que foi lançado o
Plano Real. Os três pilares do pacote econômico foram a criação de um
indexador único, chamado de Unidade Real de Valor (URV), o lançamento da
moeda Real e, ainda, o equilíbrio de despesas e receitas nas contas públicas,
ou seja, gastar menos e arrecadar mais. Um dos elaboradores, o economista
e ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco, Pedro Malan,
acredita que a equipe fez diferença para combater índices acima de 1.500%
ao ano.
“André Lara Resende, Pérsio Arida e Edmar Bacha, também de uma nova
geração, tinha Gustavo Franco, que haviam estudado não só a nossa própria
experiência, mas como a de outros países, desde as hiperinflações europeias
do século passado”, destaca Malan.
Com a estabilidade da moeda, lembra Cunha, a conjuntura econômica
permitiu que políticas públicas de distribuição de renda estivessem na
agenda dos últimos governos, por meio de programas de transferência de
renda. Apesar da piora na distribuição de renda em 1970, Cunha lembra que
o desemprego estava baixo e o Produto Interno Bruto (PIB) crescia:
“Você não apenas estava ganhando uma Copa do Mundo, mas você tinha
taxas de crescimento do PIB que nunca antes na história deste país você
tinha tido crescimento tão elevado. No período de 1968 a 1973, a taxa de
crescimento real do PIB brasileiro foi, em média, de 11,7%. Nunca de fato
você repetiu isso. Você não tinha tido antes e nem teve depois”, aponta.
Já em 2014, as estimativas do governo em relação ao PIB é de crescimento
de, no mínimo, 1,9% neste ano. No entanto, o resultado do PIB do primeiro
trimestre, divulgado na sexta-feira passada (30), decepcionou e pode puxar
para baixo as apostas do mercado financeiro. Para Cunha, em 2014, o baixo
desemprego conta como ponto positivo, enquanto a inflação volta a acelerar
e “é alta para os governos dos últimos anos”. Malan concorda que a inflação
é uma preocupação e reforça que o número precisa ficar dentro do teto da
meta estipulada.
“Estaríamos acima do teto se não fosse o controle de preços de gasolina,
diesel, energia elétrica. Vai ter que se aumentar, mas enquanto estiver abaixo
de 6,5% não tem problema. As pessoas passam a incorporar como natural
que a inflação é 6,5%. Pelo menos isso, porque ainda tem uma inflação
reprimida aí”, reclama Malan, que defende que o número volte para o centro
da meta de 4,5% ao ano.

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G2 - Edição em Jornalismo Impresso 2014.1

  • 1. Mesmo em período ditatorial, lembranças positivas marcaram Copa de 1970 A Seleção do Brasil de 1970 em campo A nove dias do começo da Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, o maior conforto para acompanhar as partidas de futebol do campeonato alavanca as vendas de aparelhos de TV, principalmente, para a já consolidada nova classe média. Mestre em Educação, o professor Sergio Bonato tinha 14 anos quando viu, pela primeira vez, a Seleção do Brasil entrar em campo numa Copa do Mundo. Era 1970, e os jogos, no México, eram transmitidos ao vivo pela televisão. Bonato estudava num colégio interno só de meninos em Curitiba, Paraná. Quando a equipe do Brasil disputava a competição com outras Seleções, o então garoto de 14 anos ia para a frente da TV, junto a padres e aos demais 40 alunos da instituição. Nas Copas anteriores, Bonato tinha acompanhado as partidas pelo rádio, meio de comunicação mais difundido no país naquele momento. “A televisão não era barata, era para poucos. As pessoas saíam de casa e viam (os jogos) na casa do vizinho. Lembro que comprar uma TV era como comprar um automóvel hoje em dia”, conta Bonato, que assistiu à Copa de 1970 por uma “TV em preto e branco, com umas 29 polegadas e tubo grande”. O consultor em marketing esportivo Luiz Leo enfatiza que a Copa do Mundo favorece o comércio de aparelhos de televisão. Segundo ele, a venda do equipamento cresce, principalmente, a partir das Copas de 1974 e 1978 para, em 1982, ocorrer uma explosão do consumo. Foto: Lemyr Martins
  • 2. “A partir daí a televisão se torna num objeto doméstico, um utensílio muito mais acessível em termo de crédito. Era o rádio, que perdeu o lugar de honra na casa”, diz Luiz Leo, ao observar que em termos de custo, o rádio sempre será mais acessível que o aparelho de TV pela tecnologia embutida. O decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, o economista Luiz Roberto Cunha, conta que o então governo, do general Emilio Médici (1969- 1974), incentivava o consumo. Ele acrescenta que a oferta de crédito direto ao consumidor de 1970 é comparável com a dos últimos anos no país, depois da estabilização da moeda. Isso, complementa, possibilitou que pessoas de renda mais baixa adquirissem bens, como a televisão, por meio do parcelamento. O jornalista esportivo Roberto Assaf afirma, no entanto, que a transmissão pela TV em tempo real foi prejudicial por facilitar ao regime militar a “faturar politicamente”. “Se até 1966, bem ou mal, conseguiam fazê-lo, com os jogos ao vivo ganhou dimensão fantástica. As pessoas se envolveram muito mais. Eu me lembro de ficar com mais 20 (amigos) imaginando o jogo”, reforça Assaf. Bonato concorda que, já em 1970, a Copa do Mundo despertava o interesse da população brasileira. Ele conta que as janelas tinham bandeiras de plástico do país e as pessoas se vestiam de verde e amarelo. Os minutos da partida, diz, também aproximavam as pessoas e as colocavam em contato com o país. “Era como se fosse uma guerra, e eu estava representado pela pessoa que chutava a bola.” Mesmo antes do início da competição, o assunto entre Bonato e os amigos já era o futebol da Seleção. O ainda popular álbum de figurinha era um dos passatempos do grupo, que comprava os “pacotinhos” na banca e depois trocava figurinhas. “Comprávamos (o pacote com as figurinhas) nas bancas e usávamos cola Tenaz. Era um grande meio de divulgação da Copa”, recorda Bonato, que completou o álbum.
  • 3. Foi a televisão, ressalva Luiz Leo, a principal responsável por atrair audiência e, consequentemente, mais patrocínios para a Copa do Mundo. Segundo ele, a partir dos anos 1970, cresce o número de empresas interessadas em “pegar carona nessa paixão” ao associar os produtos que comercializam a atributos positivos, como alegria, emoção, conquista e jovialidade. Isso interfere, acrescenta, no papel desempenhado pelos jogadores da Seleção. “O compromisso é com o mercado, é com o consumo. Esses caras não têm mais identidade brasileira. Eles moram fora do país. Esses que estão aí simbolizam pouco o ideal romântico do herói esportivo que, nos anos 1970, representou aquela geração. E ficou na memória”, critica o consultor em marketing esportivo. A então Confederação Brasileira de Desportes (CBD), atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF), era admirada por Bonato. Em 1970, ele conta ter desenhado o símbolo da CBD nos cadernos do internato e na blusa que vestia para jogar futebol com os amigos. Os jogadores de futebol Mario Sergio, à esquerda, e PC Caju, à direita, em campo Porém, o jogador de futebol da Seleção do Brasil de 1970 e 1974 Paulo Cezar Lima, conhecido como PC Caju, deixou de participar da Copa de 1978, depois de discutir com o então presidente da CBD, Heleno Nunes. O ex- futebolista conta que tinha 28 anos e era “titular absoluto”, quando pediu melhorias para os jogadores da Seleção. Foto: João Carlos Rangel
  • 4. “Os militares mandavam no país, e ele falou que eu nunca mais jogaria lá. Aí cheguei a escrever no Pasquim durante um ano, que era um jornal maravilhoso, mas eu perdi uma Copa do Mundo”, conta PC Caju. Para Assaf, os jogadores da atual Seleção não devem levantar bandeiras, mas sim se concentrar na campeonato. O jornalista acredita que, apesar de as manifestações serem necessárias, o futebol não é o culpado pelas deficiências do país. “Querem culpar o futebol por essa tragédia, mas o futebol é um esporte como outro qualquer. A paixão é a mesma, a diferença é que deixaram o povo de fora da Copa. Os ingressos são difíceis, e os estádios, elitizados.” Já Luiz Leo lembra que a população de 2014, mesmo vivendo num regime democrático, tem uma articulação de reivindicar direitos, novas conquistas, o que não ocorria em 1970. Naquela época, o país estava num período ditatorial e, inclusive, no governo considerado mais repressivo, o do general Emilio Médici. “Nos anos 1970, o Brasil vivia num modelo engessado de representação social, porque não havia espaço para a manifestação de pensamento, e o Estado aproveitou o esporte para convencer as pessoas de que aquilo ali era um modelo justo de sociedade, que daria certo.” Tanto Bonato quanto Cunha concordam que o regime militar soube aproveitar o tricampeonato da Seleção para fazer propaganda oficial. “O regime aproveitou a alegria do povo e usou como benefício próprio. Conseguiram passar a ideia de que era um regime competente”, afirma Bonato. Para Bonato, apesar de o governo não ter conseguido transmitir o discurso de “a Copa das Copas”, a população vai às ruas torcer pelo Brasil e comemorar os resultados. Já a forma de jogar futebol da atual Seleção não entusiasma PC Caju. Ele acredita que tanto o esporte, quanto os torcedores
  • 5. estão mais violentos. Segundo PC Caju, o técnico da Seleção de 2014, Luiz Felipe Scolari, instiga a equipe a não deixar o adversário jogar e “dar pancada”. “Todos os times que ele (Luiz Felipe Scolari, o Felipão) dirigiu só pratica o antijogo. Nessa última Copa das Confederações, o time que mais cometeu falta na competição foi o Brasil, que antes só jogava bola. É um absurdo”, que lembra outra novidade na Copa de 1970, a introdução dos cartões de penalização amarelo e vermelho. <box> O preconceito no futebol Negro e filho de uma ex-empregada doméstica de Minas Gerais, “analfabeta e mal-tratada”, o ex-jogador de futebol PC Caju, conta que teve dificuldades para encontrar espaço no futebol e na alta sociedade carioca. Passou no teste para o time do Fluminense aos 12 anos. “Com o meu primeiro contrato com o Botafogo, eu tirei a minha mãe da escravidão”, complementa. Ele lembra que, naquela época, os jogadores de futebol eram vistos como “vagabundos”. Namorou Alice Niemeyer durante um ano, mas o romance não foi aprovado pela família do neurocirurgião Paulo Niemeyer. Nas andanças pelo país, em 1968, lembra ter visto a placa “Proibida a entrada de negro”. Para ele, o racismo no futebol continua e não deve ser levado como uma jogada de marketing, como no caso da banana jogada no campo na partida de Barcelona versus Villareal, na Espanha, em abril deste ano. Na Copa do Mundo de 1970, no México, porém, PC Caju não se lembra de ter sofrido preconceito. Ele conta que o Botafogo, a base da Seleção de 1970, era muito querido pelos mexicanos. “Na final, o estádio inteiro estava a favor do Brasil. Já quando a gente ganhou da Inglaterra, os mexicanos ficaram com uma felicidade enorme e passaram a torcer para a Seleção.” </box>
  • 6. O milagre na economia refletido nos jogos da Copa de 1970 Apesar da oferta de crédito direto ao consumidor em 1970, que permitiu a compra de bens por pessoas de renda mais baixa, a desigualdade social era um problema maior no Brasil. O economista Luiz Roberto Cunha afirma que, naquela época, a remuneração do capital crescia mais que a do trabalho. “A renda do capital são lucros, juros, aluguéis. E a outra parte é em relação ao trabalho, a salário. Então, nesse período, há uma concentração de renda, embora seja um período em que a inflação estava se desacelerando, estava sendo reduzida.” Os anos 1970 e 2014 são de economias estáveis e inflações controladas. Segundo Cunha, no governo Médici, o país ainda se beneficiava de uma série de mudanças inseridas pelo Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), lançado durante o governo Castelo Branco (1964-1967). Ele lembra, ainda, que, em 1970, o endividamento externo ainda não era “um grande problema” para o país. Médici com a faixa presidencial “Nesse período de crescimento da economia mundial, as taxas de juros internacionais eram relativamente baixas. Elas começam a subir de forma mais intensa a partir dos anos 1980. O início do período de endividamento externo é no (governo) Médici, depois ele cresce muito no (governo) Geisel (1974-1979) e aí a crise vai ser só nos 1980”, afirma Cunha, ao reforçar que o Brasil se beneficiava com o crescimento do país. Foto: Reprodução
  • 7. A economia só voltaria a se estabilizar em 1994, ano em que foi lançado o Plano Real. Os três pilares do pacote econômico foram a criação de um indexador único, chamado de Unidade Real de Valor (URV), o lançamento da moeda Real e, ainda, o equilíbrio de despesas e receitas nas contas públicas, ou seja, gastar menos e arrecadar mais. Um dos elaboradores, o economista e ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco, Pedro Malan, acredita que a equipe fez diferença para combater índices acima de 1.500% ao ano. “André Lara Resende, Pérsio Arida e Edmar Bacha, também de uma nova geração, tinha Gustavo Franco, que haviam estudado não só a nossa própria experiência, mas como a de outros países, desde as hiperinflações europeias do século passado”, destaca Malan. Com a estabilidade da moeda, lembra Cunha, a conjuntura econômica permitiu que políticas públicas de distribuição de renda estivessem na agenda dos últimos governos, por meio de programas de transferência de renda. Apesar da piora na distribuição de renda em 1970, Cunha lembra que o desemprego estava baixo e o Produto Interno Bruto (PIB) crescia: “Você não apenas estava ganhando uma Copa do Mundo, mas você tinha taxas de crescimento do PIB que nunca antes na história deste país você tinha tido crescimento tão elevado. No período de 1968 a 1973, a taxa de crescimento real do PIB brasileiro foi, em média, de 11,7%. Nunca de fato você repetiu isso. Você não tinha tido antes e nem teve depois”, aponta. Já em 2014, as estimativas do governo em relação ao PIB é de crescimento de, no mínimo, 1,9% neste ano. No entanto, o resultado do PIB do primeiro trimestre, divulgado na sexta-feira passada (30), decepcionou e pode puxar para baixo as apostas do mercado financeiro. Para Cunha, em 2014, o baixo desemprego conta como ponto positivo, enquanto a inflação volta a acelerar e “é alta para os governos dos últimos anos”. Malan concorda que a inflação
  • 8. é uma preocupação e reforça que o número precisa ficar dentro do teto da meta estipulada. “Estaríamos acima do teto se não fosse o controle de preços de gasolina, diesel, energia elétrica. Vai ter que se aumentar, mas enquanto estiver abaixo de 6,5% não tem problema. As pessoas passam a incorporar como natural que a inflação é 6,5%. Pelo menos isso, porque ainda tem uma inflação reprimida aí”, reclama Malan, que defende que o número volte para o centro da meta de 4,5% ao ano.