[1] O capítulo discute a sedução da narrativa em filmes e como a semiótica permite compreender seu potencial de persuasão e os valores colocados em jogo. [2] Aborda elementos da semiótica da narrativa como situações, funções mitológicas e o quadro semiótico de Greimas. [3] A análise do filme "Rei Leão" mostra a confusão entre os níveis narrativo e discursivo.
Introdução aos Estudos Linguísticos e Semióticos – apresentação parcial do livro
1. Introdução aos Estudos
Linguísticos e Semióticos
Cap. 6 e 7
“A sedução da narrativa” e “Publicidade, Identidade e Ideologia”
Adriana Tulio Baggio – GP Significações de Curitiba – 07/07/2012
2. A Sedução da Narrativa
✤ “Filmes são semióticas sincréticas. Manejam vários conjuntos
significantes – música, ruídos, falas, gestos. Para a semiótica de
Greimas e de seus seguidores, a produção cinematográfica não é uma
reunião de ‘pedaços’, mas um ‘sistema de relações’ que resulta em
um ‘todo de sentido’. Entender como esse fenômeno acontece não só
em filmes, como em outros textos sincréticos – jornalísticos, artísticos,
publicitários, por exemplo – é um desafio para os semioticistas.”
Nilton Hernandes apud CASTRO, 2011
3. ✤ Filme: a mais sincrética forma de
linguagem --> fotografia, música,
linguagem verbal e a não-verbal, os
planos [as roupas...].
✤ Análises semióticas: permitem
compreender o potencial de sedução
e persuasão [e os valores colocados
em jogo].
4. Semiótica da Narrativa
Origem: Propp (contos maravilhosos) e Greimas --> percurso gerativo do sentido.
• Nível discursivo: o nível mais aparente, onde a narrativa se concretiza e é assumida
por atores, por temas e figuras, e onde se percebe a relação entre enunciador e
enunciatário.
• Nível narrativo: onde se dá o fazer transformador do sujeito, a busca por um objeto
de valor. Posições actanciais.
• Nível fundamental: articulação dos valores mínimos do discurso.
--> Castro trata de maneira diferente o conceito de semiótica da narrativa, muitas
vezes confundindo o nível narrativo com o discursivo e associando esse termo às
propostas teóricas de outros autores.
5. ✤ [1] Situações (Doc Comparato) --> situação ou
apresentação, complicação, solução.
✤ [2] Elementos mitológicos (funções de Propp/mito do
herói de Joseph Campbell) --> 31 funções que, depois,
serão reduzidas por Greimas nas posições actanciais
na narrativa canônica (destinador/destinatário,
sujeito, objeto de valor, adjuvante, antissujeito,
antidestinador).
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7. [3] O quadro semiótico de Greimas
• Estrutura narrativa e relação entre os actantes: contrato --> competência --> performance
--> sanção.
“Para haver uma narrativa não basta uma série de fatos ordenados, tem que existir
alguma coisa que deve ser cumprida, um problema a ser resolvido, uma missão a ser
realizada.” VOLLI apud CASTRO, 2001.
• Sujeito: compete perseguir o objeto de desejo (de valor).
• Objeto: meta a ser alcançada (de base e de uso).
• Opositor ou antissujeito: impede o sujeito de alcançar seu objeto (ponto de vista).
• Doador ou destinador: possibilita ao sujeito, a partir de uma instância superior, atingir
sua meta (motiva, desperta o desejo no sujeito. Propõe o objeto de valor por
manipulação).
• Destinatário: beneficia do sucesso do sujeito (a quem é dirigida a narrativa. Exemplo:
integrantes do grupo são sujeitos, mas também são destinatários).
--> O mesmo ator do nível discursivo pode assumir mais de um papel actancial no
narrativo, e mesmo papel actancial pode ser assumido por diversos atores.
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10. ✤ Análise “Rei Leão”: confusão entre os níveis narrativo e discursivo.
- p. 86 --> macaco surge da luz = sábio dotado de algum tipo de iluminação;
- p. 87 --> protagonista erguido para o sol = divindade e reis;
- p. 87 --> travessia sobre a ponte = que simboliza passagem do tempo e inflexão da
história. Aqui há uma narrativa, uma transformação. Objeto de valor: maturidade,
crescimento. Figura: ponte de madeira;
- p. 88 --> defeito físico, cor negra = falha de caráter, vilão. Figuras do papel temático
(nível discursivo) do antissujeito (nível narrativo).
Importante: elementos não têm
significado dado de antemão (por
exemplo, preto como cor do vilão,
ou luz como sabedoria). Os
significados vêm das articulações
dentro do texto. Mas, é claro,
sempre levamos em conta seu
significado na cultura onde o
texto foi produzido.
11. Narrativa no cotidiano: jornalismo e publicidade
• “Luva, símbolo do cantor”: por que a luva e
não outro símbolo? Por que não a foto dele? Luva
caída, palma para baixo ou para cima? “Abriu
mão” da própria vida? “Estrela que cai”?
• “Plano do conteúdo, a partir do nível
fundamental”: o nível fundamental traz os
valores mais básicos e essenciais do texto, em
oposição. Só se chega a eles no final da análise.
• “Nível narrativo, cantor como protagonista”:
qual o objeto de valor? A morte aqui é boa ou
ruim? É a pessoa ou o artista?
• “Preto = luto”: não era também a cor usada por
MJ?
• Luva: no conteúdo = MJ; na expressão (embaixo,
aberta, clara) = ???.
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15. Publicidade, Identidade e
Ideologia
“(...) Como ela [a representação no texto] diz o que precisa dizer, e
como oferece ao próprio destinatário uma posição com a qual pode
identificar-se? Esta última pergunta envolve o nível enunciativo do
texto: como ele convida o próprio enunciatário a olhar? Ou seja,
como é organizado o seu olhar em relação aos significados que a
imagem produz? (...) de que modo é construída a sua identidade [do
enunciatário]?” VOLLI apud CASTRO, 2011.
16. ✤ Semiose: ato de produção do discurso e o papel do enunciador.
✤ Estudos Culturais: procura entender o papel do destinatário no processo
comunicacional e também estabelecer os limites das influências mútuas entre esses dois
atores --> a semiótica dá conta disso. Pelos procedimentos usados pelo enunciador no
discurso, percebemos a identidade do enunciatário e destinatário daquela
mensagem.
✤ Conjunto social: noções de cultura e identidade; valores que precisam ser considerados
na elaboração do discurso.
✤ Carga ideológica: indutora de padrões de pensamento e comportamento --> ou,
presentifica a ideologia daquela sociedade.
17. Cultura e identidade
• Categorias discursivas construídas pelos próprios indivíduos ao longo do tempo
(Stuart Hall, 2002).
• Noção de pertencimento: identificação com determinados valores culturais.
• Valores caros às identidades (gênero, classe, etnia, nacionalidade) passam a ser nossos.
Determinam hábitos, gostos e comportamento.
18. Universo Feminino
• Ainda vivemos em sociedades predominantemente patriarcais. Conjunto de normas
e comportamentos que são imputados às mulheres e que delas se cobra e se espera.
Muitas assumem posturas psicológicas e práticas condizentes com a organização do
patriarcado.
• “(...) é de crer que muitos problemas pessoais e conjugais lhes pareçam motivados
pela relutância em viver de acordo com as normas tradicionais do comportamento
feminino.” VESTERGAARD & SCHRODER apud CASTRO, 2011.
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20. • Particularmente na publicidade, muitas das construções discursivas poderão interagir
com essa identidade assumida por boa parte do grupo feminino.
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22. • Valores femininos: romance, casamento e filhos.
• Homens: sexualidade e pragmatismo.
Diálogo entre enunciador e enunciatário (manifestação dos valores identitários).
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24. ✤ Base analítica das metanarrativas: leva em conta a divisão dos indivíduos em classes
sociais.
✤ Tecnocultura: cenário em que os apelos midiáticos parecem colocar em segundo plano a
temática das classes sociais nos haveres e fazeres.
✤ Sociedade do Signo: errônea sensação de possuir um vasto conhecimento a respeito dos
mais diversos assuntos.
✤ Identidade: imagens externas da sociedade midiatizada. Simulacros que se incorporam
aos sujeitos. Ausência de reflexão (Muniz Sodré).
✤ “Faz-de-conta” + consumismo: favorece mais o diálogo com a fantasia do que com as
questões do cotidiano e do interesse coletivo.
✤ Estar no mundo e participação nas diversas expressões socioculturais têm se tornado
paulatinamente um grande espetáculo midiático.
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26. Ideologia
• Produções retóricas: ideológicas (persuadir, convencer de uma ideia).
• Estruturalismo marxista: ideologia como luta de classes no interior das relações
econômicas pelo controle dos meios de produção na sociedade capitalista.
• Retórica (persuasão) + eficiente que dialética (reflexão).
• Bakhtin: ideologia como consequência do processo de significação, e não sua causa.
• Semiótica: ideologia como sistema de valores fundamentais, colocados em oposição,
euforizados ou disforizados de acordo com o discurso.
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28. “Os sistemas de representação constituídos por signos e códigos, avassaladoramente
presentes em nosso cotidiano, estão aí para serem apropriados por este ou aquele
indivíduo, ou ainda e mais comumente, por grupos de interesses. Estudá-los e
compreendê-los pode ser a chave para a libertação de um domínio retórico que tende
muitas vezes a mostrar-se perverso, e também para a construção de um pensamento
minimamente autônomo e verdadeiramente criativo” (HALL apud CASTRO, 2011).