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S 112 Neder JA, Nery LE, Bagatin E
J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117
Avaliação da disfunção e da incapacidade nas
pneumoconioses*
Evaluation of respiratory dysfunction and disability
JOSÉ ALBERTO NEDER1
, ERICSON BAGATIN2
, LUIZ EDUARDO NERY3
Os têrmos impairment e disability, secundários
a doença respiratória, utilizados nas publicações
da American Medical Association(1-3)
e da Ameri-
can Thoracic Society,(4-5)
traduzidos como disfun-
ção e incapacidade, referem-se a diferentes con-
ceitos que devem ser claramente entendidos. As-
sim, disfunção respiratória é definida como uma
condição puramente médica, resultante de uma
anormalidade funcional. Ela pode ser estável ou
não, temporária ou permanente. A disfunção pode
INTRODUÇÃO
* Trabalho realizado na da Disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São
Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) Brasil e na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas -
UNICAMP - Campinas (SP) Brasil.
1. Professor Adjunto Livre Docente da Disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade
Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) Brasil.
2. Professor Assistente Doutor da Área de Saúde Ocupacional do DMPS da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas - UNICAMP - Campinas (SP) Brasil.
3. Professor Adjunto Doutor e Chefe da Disciplina de Pneumologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de
Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) Brasil.
Endereço para correspondência: José Alberto Neder. Rua Professor Francisco de Castro, 54 - CEP 04050-020, São Paulo,
SP, Brasil. E-mail: sefice@pneumo.epm.br
RESUMO
A determinaçâo das conseqüências funcionais (disfunção) e do seu impacto na vida diária (incapacidade) são aspectos centrais
da avalição de pacientes com doença ocupacional respiratória. A presente revisão apresenta as bases fundamentais para o
entendimento dos instrumentos utilizados para a definição do grau de disfunção, incluindo aspectos clínicos, funcionais
pulmonares e, em algumas circunstâncias, da capacidade de exercício. Em especial, apresenta-se uma classificação multifatorial
do grau de disfunção com o intuito de nortear a concessão ou não de benefícios previdenciários em nosso meio.
Descritores: Avaliaçao da deficiência; Testes de função respiratórias; Doenças respiratórias; Doenças ocupacionais;
Exposição ocupacional; Condições de trabalho
ABSTRACT
The determination of functional consequences (dysfunction) and their impact on daily life (incapacitation) is central to
the evaluation of patients with occupational respiratory diseases. The present review addresses the fundamentals underlying
the instruments used to determine the degree of dysfunction, including clinical aspects, as well as those related to
pulmonary function and, in some circumstances, exercise tolerance. In particular, a multifactorial system of classifying
the degree of dysfunction is presented, with the objective of informing decisions related to the awarding of retirement
benefits in Brazil.
Keywords: Disability Evaluation; Respiratory function tests; Respiratory tract diseases; Occupational diseases; Occupational
exposure; Working conditions
ter graduação variável e é habitualmente avaliada
por testes de função pulmonar (mas não exclusi-
vamente).
Em contraste, a American Thoracic Society de-
fine incapacidade como o efeito global da disfun-
ção na vida do paciente. Assim, a incapacidade
não é relacionada apenas a condições médicas,
mas envolve fatores mais complexos, tais como:
idade, sexo, dimensões corpóreas, educação, con-
dições psicológica e socioeconômica e requerimen-
J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117
Avaliação da disfunção e da incapacidade nas pneumoconioses S 113
tos energéticos da ocupação. Outro conceito de
cunho médico-administrativo é o grau de empre-
gabilidade (employability) de determinado indiví-
duo. Não raramente, o médico é chamado a opi-
nar se um indivíduo pode ou não ser empregado,
ou manter-se em determinada função. Sua opi-
nião deve considerar a capacidade do examinado
em ir e vir do trabalho, permanecer no local pelo
tempo necessário e realizar com segurança, para
si e para os colegas, as tarefas propostas pelo
empregador. Assim, se um indivíduo com uma anor-
malidade médica tem ainda a capacidade de su-
portar confortavelmente as exigências do deslo-
camento e da função, ele pode ainda ser conside-
rado empregável. Neste contexto, as informações
médicas serão utilizadas como esteio do raciocí-
nio legal, mas serão cotejadas com diversos ou-
tros aspectos socioergonômicos.
AVALIAÇÃO DA DISFUNÇÃO
Na presença de entidade nosológica ocupaci-
onal com substrato anatomofuncional estável ou
potencialmente estável - silicose, asbestose, pneu-
moconiose do trabalhador do carvão - podem ser
empregados no diagnóstico e quantificação do
dano respiratório: avaliação clínica, exame radio-
gráfico torácico, tomografia computadorizada, tes-
tes de função pulmonar e testes cardiopulmona-
res de exercício.(6-7)
Avaliação clínica
A obtenção de uma história clínica detalhada
e completa deve sempre preceder a investigação
laboratorial. Como já salientado, deve-se enfatizar
a história ocupacional, ambiental, mórbida pregres-
sa e atual, dos hábitos de lazer e tabágica.
Os principais sintomas respiratórios - dispnéia,
tosse, expectoração, sibilância - devem ser cuida-
dosamente inquiridos, observando-se a relação
temporal com a história de exposições ocupacio-
nais ou não. Idealmente, todos os sintomas deve-
riam ser objetivamente graduados por esquema
classificatório específico. Para a dispnéia, tal con-
duta é essencial (Tabela 1).
O exame físico deve ser geral, com avaliação
pormenorizada dos sinais associados à possível
doença respiratória subjacente. Especificamente,
deve-se atentar para o padrão respiratório e pos-
turas corporais peculiares, utilização da muscula-
tória ventilatória acessória e respiração com lábi-
os semicerrados. Todos os ruídos adventícios de-
verão ser descritos, localizados topograficamente,
quantificados e situados quanto à fase do ciclo
respiratório. De fundamental importância, ainda, é
a procura de sinais não torácicos ou sistêmicos
que indiquem patologia pulmonar avançada, os
quais modificarão substancialmente a graduação
da disfunção: cianose ou pletora, baqueteamento
digital, dilatação venosa jugular, edema de mem-
bros inferiores e asteríxis.
Radiograma
No estabelecimento diagnóstico e prognóstico
de pneumopatias ocupacionais por poeiras mine-
rais é crucial a leitura do radiograma de tórax se-
guindo os radiogramas padrão da Classificação
Internacional de Radiografias das Pneumoconioses.(8)
Embora apenas nos casos com maior acometimento
radiográfico exista uma discreta correlação entre
os achados clínicos, radiológicos e funcionais res-
piratórios, a uniformização da linguagem interob-
servador é fundamental para a quantificação do
dano anatômico e o seguimento longitudinal.
A avaliação radiológica de outros aspectos como
hiperinsuflação pulmonar, diminuição da vasculari-
zação, presença de bolhas, achatamento diafrag-
mático, espessamento pleural, anormalidades car-
díacas direitas, alterações esqueléticas torácicas
(principalmente cifoescoliose avançada) podem su-
gerir comprometimento respiratório significativo.
Tomografia computadorizada de alta resolução
do tórax
Nos últimos anos, tem sido utilizada com mai-
or frequência a tomografia computadorizada e,
principalmente, a tomografia computadorizada de
alta resolução no diagnóstico das alterações pleu-
ropulmonares associadas ao asbesto. Embora a baixa
disponibilidade e o custo elevado ainda limitem o
uso da tomografia computadorizada de alta resolu-
ção e cortes finos no diagnóstico, trata-se de um
exame praticamente indispensável na detecção das
imagens intersticiais iniciais, no diagnóstico das
anormalidades pleurais e na investigação de pro-
váveis neoplasias de pleura e pulmão. Neste con-
texto, a tomografia helicoidal apresenta clara van-
tagem em relação às técnicas tradicionais. Ela deve
ser obrigatoriamente realizada em decúbito ven-
tral, sendo identificados na asbestose: espessamento
S 114 Neder JA, Nery LE, Bagatin E
J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117
dos septos interlobulares, bandas que se esten-
dem da pleura ao parênquima, pontos e linhas
subpleurais e, nos estágios mais avançados, anor-
malidades císticas tipo faveolamento e bronquio-
lectasias de tração (sinais de alta predição de fi-
brose intersticial). Estas alterações são habitual-
mente localizadas nas regiões periféricas e poste-
riores dos lobos inferiores. Vários trabalhos, inclu-
sive em nosso meio, têm constatado a maior sen-
sibilidade da tomografia computadorizada de alta
resolução em relação ao radiograma de tórax na
identificação das alterações intersticiais. Por ou-
tro lado, num número expressivo de indivíduos
com alterações radiológicas (1/0 ou mais), a to-
mografia computadorizada de alta resolução não
mostrou comprometimento intersticial pulmonar, o
que confirma a maior especificidade deste exame.(9)
Testes funcionais respiratórios
A espirometria constitui o teste de maior impor-
tância prática para o estudo do desempenho venti-
latório toracopulmonar. Destaca-se a importância
de variáveis simples e reprodutíveis, obtidas a par-
tir da manobra expiratória forçada: capacidade vi-
tal forçada, volume expiratório forçado no primeiro
segundo e a relação entre eles. No propósito de
graduar a disfunção, não se recomenda a utiliza-
ção de outros parâmetros espirométricos de maior
variabilidade inter e intrapessoal e padronização
ainda deficiente, como os fluxos meso e tele-expi-
ratórios. Os critérios de aceitabilidade e reproduti-
bilidade das curvas, análise dos resultados, valores
de referência e demais aspectos técnicos devem
seguir rigorosamente as recomendações das Dire-
trizes para Testes de Função Pulmonar da Sociedade
Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.(10)
Deve-se
atentar para o fato de que o diagnóstico de dis-
túrbio restritivo baseia-se na redução da capaci-
dade pulmonar total (CPT). A redução isolada da
capacidade vital forçada (CVF) não é patognomô-
nica de distúrbio restritivo, já que diversas condi-
ções podem reduzi-la, inclusive a obstrução das
Grau Ι ΙΙ ΙΙΙ ΙV
Variável Sem disfunção Disfunção leve Disfunção moderada Disfunção acentuada
a) Sintoma Andando rápido Andando no plano Andando devagar
Dispnéia Ausente no plano ou subindo com pessoa da mesma no plano 100 metros
ladeira devagar idade ou subindo o lance esforços menores ou
de escada mesmo no repouso
b) Mecânica ventilatória
*% CVF ** > LI nl # 60 - LI nl 51 - 59 < 50
%VEF1
*** > LI nl # 60 - LI nl 41 – 59 < 40
VEF1
/CVF (%) > LI nl # 60 - LI nl 41- 59 < 40
% CPT ** > 80 70 - 79 61 - 69 < 60
c) Troca gasosa
*% DL
CO > 70 60 – 69 41 – 59 < 40
PaO2
(mmHg) > LI nl # 60 - LI nl 55 - 59 < 55
d) Exercício
*VO2
máx > 80 # 60 – 79 41 - 59 < 40 ou < 1 L/min
(% previsto)
VO2
máx > 25 20 – 24 16 - 19 < 15 ou < 1 L/min
(mL/min/kg ou L/min)
Modificada da American Medical Association, 1984, 1988, 1993; American Thoracic Society, 1982, 1986; Nery, Neder, Bagatin,
1994. * Os valores previstos da normalidade seguem as normas da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
** São as variáveis fundamentais para a graduação do distúrbio restritivo(ver o texto); *** É a variável fundamental para a graduação
do distúrbio obstrutivo; # LI nl: Limite inferior da normalidade - limite inferior do intervalo de confiança de 95% (X - 1,64 x desvio-
padrão); NOTA: Graduar de acordo com o teste mais alterado; CVF: capacidade vital forçada; VEF1
: volume expiratório forçado no
primeiro segundo; CPT: capacidade pulmonar total; DLCO: capacidade de difusão pulmonar para o monóxido de carbono; SaO2
:
saturação arterial de oxihemoglobina; PaO2
: pressão parcial de oxigênio no sangue arterial; VO2
máx: consumo máximo de oxigênio.
TABELA 1
Classificação de disfunção no repouso e no exercício para doenças
respiratórias com anormalidade funcional estável
J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117
Avaliação da disfunção e da incapacidade nas pneumoconioses S 115
vias aéreas. Na indisponibilidade da medida da CPT
(preferencialmente por pletismografia corporal), a
CVF pode ser utilizada, com reservas, para definir
distúrbio restritivo.
A capacidade de difusão pulmonar para o mo-
nóxido de carbono traz informações sensíveis a
respeito da integridade anatomofuncional da tro-
ca gasosa através da membrana alveolocapilar. Em
nosso meio, embora poucos serviços disponham
deste teste, é de importância fundamental a avali-
ação da capacidade de difusão pulmonar para o
monóxido de carbono na identificação e grada-
ção da disfunção e incapacidade das pneumoco-
nioses. Caso sua mensuração seja disponível, a
técnica de respiração única deverá ser preferida, e
ser realizada com rígidos padrões técnicos e após
no mínimo oito horas sem o uso do tabaco.(11)
As determinações das pressões parciais de oxi-
gênio e de dióxido de carbono no sangue arterial
periférico apresentam considerável variabilidade
interindividual. Elas podem estar ainda preserva-
das na vigência de comprometimento anatomo-
funcional, apresentando menor correlação com a
tolerância ao exercício do que o volume expirató-
rio forçado no primeiro segundo. Embora menos
sensíveis, alterações significativas da pressão par-
cial de oxigênio no sangue arterial ou da pressão
parcial de dióxido de carbono no sangue arterial
são específicas de comprometimento ventilatório
ou das trocas gasosas em pacientes com disfun-
ção fixa por pneumoconioses. A medida não inva-
siva da saturação de oxihemoglobina deve ser en-
carada apenas como uma estimativa da oxigena-
ção sanguínea, devendo seus resultados serem
confirmados com a aferição invasiva da pressão
parcial de oxigênio no sangue arterial.
Teste de exercício cardiopulmonar
O teste de exercício cardiopulmonar, com a
determinação direta das respostas ventilatórias,
cardiovasculares e metabólicas, é um procedimento
sensível para avaliacão e quantificação objetiva da
limitação funcional. Uma redução da tolerância ao
exercício aeróbio é definida quando o consumo
de oxigênio no pico de uma atividade limitada por
sintomas (VO2
max) encontra-se abaixo do limite
inferior da normalidade para indivíduos de mesma
etnia, sexo, idade, altura, massa muscular e nível
de atividade física regular.
O teste de exercício cardiopulmonar é indicado
para os casos nos quais a queixa de dispnéia é des-
proporcional à disfunção pulmonar aferida no re-
pouso, e nos indivíduos que exercem atividades com
esforço sustentado de grau moderado ou com picos
de esforço intenso. Pode ainda ser utilizado para
avaliar a tolerância ao esforço do indivíduo no de-
sempenho do seu trabalho, numa análise comparati-
va com o requerimento energético de várias ativida-
des recreacionais, domésticas e ocupacionais.(12)
A
gasometria arterial no exercício, mesmo em indiví-
duos com testes de repouso normais, pode revelar,
precocemente, alterações nas trocas gasosas.
Para uma correta interpretação do teste de exer-
cício cardiopulmonar, devemos considerar os se-
guintes aspectos: certificar-se da presença de re-
lação causal entre a disfunção aeróbia e a doença
respiratória em questão; definir-se o grau de per-
da funcional aeróbia, numa análise comparativa
com os valores previstos de VO2
max para indiví-
duos de mesmo sexo, idade, dimensão corpórea e
nível de atividade física habitual (porcentagem do
VO2
max previsto); determinar-se o grau de capa-
cidade aeróbia remanescente, num enfoque com-
parativo com as prováveis demandas ocupacionais
ou da vida diária (VO2
máx, L/min ou mL/min/kg);
nos indivíduos idosos e com peso acima do espe-
rado para a altura, a expressão em mL/min/kg deve
ser evitada, já que tende a subestimar grosseira-
mente a capacidade atual de exercício.(13)
Outros exames
De acordo com situações clínicas específicas,
outros exames opcionais poderão ser empregados,
tanto no contexto diagnóstico, quanto da avalia-
ção da disfunção: eletrocardiograma, ecocardio-
grama, estudo hemodinâmico, exames hematoló-
gicos e bioquímicos, exame polissonográfico e/ou
monitorização noturna da oximetria, entre outros.
Estes exames poderão ser úteis para a comprova-
ção de distúrbios sugeridos pela avaliação clínica
e documentação objetiva de achados que possam
influenciar na graduação da disfunção.
CLASSIFICAÇÕES DE DISFUNÇÃO
As tentativas de graduar a disfunção respirató-
ria em classes de progressiva gravidade remontam
ao início do século passado. Entretanto, apenas em
1982 a American Thoracic Society propôs um es-
quema classificatório de ampla aceitação desenvol-
S 116 Neder JA, Nery LE, Bagatin E
J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117
vido para caracterizar disfunção grave, baseado na
espirometria, na capacidade de difusão pulmonar
ao monóxido de carbono e na avaliação da capaci-
dade de exercício.(4)
Assim, a disfunção foi definida
espirometricamente como grave quando a capaci-
dade vital forçada fosse inferior a 50% do previsto
e o volume expiratório forçado no primeiro segun-
do e a relação entre ele e a capacidade vital força-
da estivessem abaixo de 40% do previsto. Adicio-
nalmente, valores de capacidade de difusão pul-
monar para o monóxido de carbono menores do
que 40% do previsto eram indicativos de disfunção
respiratória grave. Nos casos em que a espirometria
e/ou a capacidade de difusão pulmonar para o
monóxido de carbono estavam alterados, mas sem
disfunção grave (ou seja, indivíduos com distúrbio
ventilatório leve a moderado) era indicado o teste
de exercício. Na avaliação cardiorrespiratória no
exercício aeróbio, foram considerados como suges-
tivos de disfunção grave os valores de VO2
máx abaixo
de 15 ml/min/kg, ou caso 30% a 40% do VO2
max
obtido fosse insuficiente para o indivíduo suprir as
demandas enegético-metabólicas de uma jornada
diária de oito horas.
Em 1984, 1988 e 1993 a American Medical
Association(1-3)
e em 1986 a American Thoracic
Society(5)
introduziram o conceito de graus inter-
mediários de disfuncão causada por doenças res-
piratórias. As classificações são similares e utili-
zam variáveis espirométricas, o VO2
máx e a capa-
cidade de difusão pulmonar para o monóxido de
carbono para definir graus leve, moderado e acen-
tuado de comprometimento. A classificação da
American Medical Association, além de introduzir
a graduação da dispnéia, considera, na análise
espirométrica, o limite inferior da normalidade
como correspondente ao limite inferior do inter-
valo de confiança de 95% do valor previsto.
Baseando-se nestas referências clássicas, e na
experiência com a avaliação funcional no repouso
e exercício de pacientes com pneumoconiose, pro-
pomos uma classificação de disfunção respirató-
ria que incorpora os avanços obtidos nessa área.
Desta forma, como explicitado na Tabela 1, os
achados clínicos, funcionais pulmonares de repou-
so e, ocasionalmente, de exercício, servirão de base
para a graduação da perda funcional.
Na análise do VO2
máx, quando o objetivo for
orientar a concessão de benefício previdenciário,
a perda funcional (VO2
máx, porcentagem do pre-
visto) deve ser preferida em relação à capacidade
remanescente (VO2
máx em valores absolutos ou
corrigidos para o peso total nos eutróficos ou peso
magro nos indivíduos em sobrepeso). Em situa-
ções de admissão, afastamento e recolocacão ocu-
pacional, ambas devem ser analisadas.
A presença das seguintes condições indica sem-
pre disfunção acentuada, independentemente da
graduação sugerida pela classificação: cor pulmo-
nale; síndrome neoplásica de qualquer origem; hi-
poxemia arterial no repouso - pressão parcial de oxi-
gênio no sangue arterial < 60 mmHg ou saturação
arterial de oxihemoglobina < 90%, se associadas ao
cor pulmonale, hipertensão pulmonar ou poliglobu-
lia, e pressão parcial de oxigênio no sangue arterial
de repouso ou exercício < 55 mmHg ou saturação
arterial de oxihemoglobina < 88%, independente-
mente de outros achados; obstrução permanente de
vias aéreas superiores, associada à hipercapnia.
A presença de distúrbio respiratório do sono
deve ser cuidadosamente avaliada, e requer estu-
do polissonográfico para a precisa quantificação
da disfunção. Deve-se observer se a terapia clíni-
ca e/ou cirúrgica foi aplicada em toda sua exten-
são, antes de definir dano funcional permanente.
Deve-se atentar também para condições ocupaci-
onais especiais, que podem elevar o grau de dis-
função, como o uso de protetores respiratórios ou
trabalho em ambiente poluído, de um paciente com
disfunção respiratória já diagnosticada.
Admitindo-se que, mesmo nas condições ditas
fixas, a disfunção no repouso e exercício pode
modificar-se longitudinalmente (com ou sem in-
tervenção terapêutica), aconselha-se a repetição
das medidas avaliadoras em intervalo variável de
meses a anos, dependendo da doença de base e
quadros intercorrentes.
REFERÊNCIAS
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In: American Medical Association. Guides to the
evaluation of permanent impairment. 2nd ed. Chicago:
AMA: 1984. p. 85-101.
2. American Medical Association. The respiratory system.
In: American Medical Association. Guides to the
evaluation of permanent impairment. 3rd ed. Chicago:
AMA; 1988. p. 107-18.
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In: American Medical Association. Guides to the
evaluation of permanent impairment. 4th ed. Chicago:
American Medical Association; 1993. p. 115-29.
J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117
Avaliação da disfunção e da incapacidade nas pneumoconioses S 117
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Respir Dis. 1986;133(6):1205-9.
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da incapacidade secundária a pneumopatias
ocupacionais. J Pneumol. 1994;20(4 n. esp):182-92.
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incapacidade e dos aspectos legais da doença
ocupacional respiratória. In: Cukier A, Nakatani J,
Morrone N, editors. Atualização e reciclagem. 2a ed.
São Paulo: Atheneu; 1998. p.57-67.
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Geneva: Occupational Safety and Health Sciences; 1980.
(Occupational Safety of Health Services, 22).
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Terra-Filho M, et al. Thin-section CT abnormalities
and pulmonary gas exchange impairment in workers
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2002;28(supl 3):S1-82.
11. Neder JA, Andreoni S, Peres C, Nery LE. Reference values
for lung function tests. III. Carbon monoxide diffusing
capacity (transfer factor). Braz J Med Biol Res.
1999;32(6):729-37.
12. Neder JA, Nery LE. Fisiologia do exercício: teoria e
prática. São Paulo: Artes Médicas; 2003
13. Neder JA, Nery LE, Bagatin E, Lucas SR, Ancao MS, Sue
DY. Differences between remaining ability and loss of
capacity in maximum aerobic impairment. Braz J Med
Biol Res. 1998;31(5):639-46.

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Avaliação da disfunção e da incapacidade nas pneumoconioses

  • 1. S 112 Neder JA, Nery LE, Bagatin E J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117 Avaliação da disfunção e da incapacidade nas pneumoconioses* Evaluation of respiratory dysfunction and disability JOSÉ ALBERTO NEDER1 , ERICSON BAGATIN2 , LUIZ EDUARDO NERY3 Os têrmos impairment e disability, secundários a doença respiratória, utilizados nas publicações da American Medical Association(1-3) e da Ameri- can Thoracic Society,(4-5) traduzidos como disfun- ção e incapacidade, referem-se a diferentes con- ceitos que devem ser claramente entendidos. As- sim, disfunção respiratória é definida como uma condição puramente médica, resultante de uma anormalidade funcional. Ela pode ser estável ou não, temporária ou permanente. A disfunção pode INTRODUÇÃO * Trabalho realizado na da Disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) Brasil e na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Campinas (SP) Brasil. 1. Professor Adjunto Livre Docente da Disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) Brasil. 2. Professor Assistente Doutor da Área de Saúde Ocupacional do DMPS da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - Campinas (SP) Brasil. 3. Professor Adjunto Doutor e Chefe da Disciplina de Pneumologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - São Paulo (SP) Brasil. Endereço para correspondência: José Alberto Neder. Rua Professor Francisco de Castro, 54 - CEP 04050-020, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: sefice@pneumo.epm.br RESUMO A determinaçâo das conseqüências funcionais (disfunção) e do seu impacto na vida diária (incapacidade) são aspectos centrais da avalição de pacientes com doença ocupacional respiratória. A presente revisão apresenta as bases fundamentais para o entendimento dos instrumentos utilizados para a definição do grau de disfunção, incluindo aspectos clínicos, funcionais pulmonares e, em algumas circunstâncias, da capacidade de exercício. Em especial, apresenta-se uma classificação multifatorial do grau de disfunção com o intuito de nortear a concessão ou não de benefícios previdenciários em nosso meio. Descritores: Avaliaçao da deficiência; Testes de função respiratórias; Doenças respiratórias; Doenças ocupacionais; Exposição ocupacional; Condições de trabalho ABSTRACT The determination of functional consequences (dysfunction) and their impact on daily life (incapacitation) is central to the evaluation of patients with occupational respiratory diseases. The present review addresses the fundamentals underlying the instruments used to determine the degree of dysfunction, including clinical aspects, as well as those related to pulmonary function and, in some circumstances, exercise tolerance. In particular, a multifactorial system of classifying the degree of dysfunction is presented, with the objective of informing decisions related to the awarding of retirement benefits in Brazil. Keywords: Disability Evaluation; Respiratory function tests; Respiratory tract diseases; Occupational diseases; Occupational exposure; Working conditions ter graduação variável e é habitualmente avaliada por testes de função pulmonar (mas não exclusi- vamente). Em contraste, a American Thoracic Society de- fine incapacidade como o efeito global da disfun- ção na vida do paciente. Assim, a incapacidade não é relacionada apenas a condições médicas, mas envolve fatores mais complexos, tais como: idade, sexo, dimensões corpóreas, educação, con- dições psicológica e socioeconômica e requerimen-
  • 2. J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117 Avaliação da disfunção e da incapacidade nas pneumoconioses S 113 tos energéticos da ocupação. Outro conceito de cunho médico-administrativo é o grau de empre- gabilidade (employability) de determinado indiví- duo. Não raramente, o médico é chamado a opi- nar se um indivíduo pode ou não ser empregado, ou manter-se em determinada função. Sua opi- nião deve considerar a capacidade do examinado em ir e vir do trabalho, permanecer no local pelo tempo necessário e realizar com segurança, para si e para os colegas, as tarefas propostas pelo empregador. Assim, se um indivíduo com uma anor- malidade médica tem ainda a capacidade de su- portar confortavelmente as exigências do deslo- camento e da função, ele pode ainda ser conside- rado empregável. Neste contexto, as informações médicas serão utilizadas como esteio do raciocí- nio legal, mas serão cotejadas com diversos ou- tros aspectos socioergonômicos. AVALIAÇÃO DA DISFUNÇÃO Na presença de entidade nosológica ocupaci- onal com substrato anatomofuncional estável ou potencialmente estável - silicose, asbestose, pneu- moconiose do trabalhador do carvão - podem ser empregados no diagnóstico e quantificação do dano respiratório: avaliação clínica, exame radio- gráfico torácico, tomografia computadorizada, tes- tes de função pulmonar e testes cardiopulmona- res de exercício.(6-7) Avaliação clínica A obtenção de uma história clínica detalhada e completa deve sempre preceder a investigação laboratorial. Como já salientado, deve-se enfatizar a história ocupacional, ambiental, mórbida pregres- sa e atual, dos hábitos de lazer e tabágica. Os principais sintomas respiratórios - dispnéia, tosse, expectoração, sibilância - devem ser cuida- dosamente inquiridos, observando-se a relação temporal com a história de exposições ocupacio- nais ou não. Idealmente, todos os sintomas deve- riam ser objetivamente graduados por esquema classificatório específico. Para a dispnéia, tal con- duta é essencial (Tabela 1). O exame físico deve ser geral, com avaliação pormenorizada dos sinais associados à possível doença respiratória subjacente. Especificamente, deve-se atentar para o padrão respiratório e pos- turas corporais peculiares, utilização da muscula- tória ventilatória acessória e respiração com lábi- os semicerrados. Todos os ruídos adventícios de- verão ser descritos, localizados topograficamente, quantificados e situados quanto à fase do ciclo respiratório. De fundamental importância, ainda, é a procura de sinais não torácicos ou sistêmicos que indiquem patologia pulmonar avançada, os quais modificarão substancialmente a graduação da disfunção: cianose ou pletora, baqueteamento digital, dilatação venosa jugular, edema de mem- bros inferiores e asteríxis. Radiograma No estabelecimento diagnóstico e prognóstico de pneumopatias ocupacionais por poeiras mine- rais é crucial a leitura do radiograma de tórax se- guindo os radiogramas padrão da Classificação Internacional de Radiografias das Pneumoconioses.(8) Embora apenas nos casos com maior acometimento radiográfico exista uma discreta correlação entre os achados clínicos, radiológicos e funcionais res- piratórios, a uniformização da linguagem interob- servador é fundamental para a quantificação do dano anatômico e o seguimento longitudinal. A avaliação radiológica de outros aspectos como hiperinsuflação pulmonar, diminuição da vasculari- zação, presença de bolhas, achatamento diafrag- mático, espessamento pleural, anormalidades car- díacas direitas, alterações esqueléticas torácicas (principalmente cifoescoliose avançada) podem su- gerir comprometimento respiratório significativo. Tomografia computadorizada de alta resolução do tórax Nos últimos anos, tem sido utilizada com mai- or frequência a tomografia computadorizada e, principalmente, a tomografia computadorizada de alta resolução no diagnóstico das alterações pleu- ropulmonares associadas ao asbesto. Embora a baixa disponibilidade e o custo elevado ainda limitem o uso da tomografia computadorizada de alta resolu- ção e cortes finos no diagnóstico, trata-se de um exame praticamente indispensável na detecção das imagens intersticiais iniciais, no diagnóstico das anormalidades pleurais e na investigação de pro- váveis neoplasias de pleura e pulmão. Neste con- texto, a tomografia helicoidal apresenta clara van- tagem em relação às técnicas tradicionais. Ela deve ser obrigatoriamente realizada em decúbito ven- tral, sendo identificados na asbestose: espessamento
  • 3. S 114 Neder JA, Nery LE, Bagatin E J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117 dos septos interlobulares, bandas que se esten- dem da pleura ao parênquima, pontos e linhas subpleurais e, nos estágios mais avançados, anor- malidades císticas tipo faveolamento e bronquio- lectasias de tração (sinais de alta predição de fi- brose intersticial). Estas alterações são habitual- mente localizadas nas regiões periféricas e poste- riores dos lobos inferiores. Vários trabalhos, inclu- sive em nosso meio, têm constatado a maior sen- sibilidade da tomografia computadorizada de alta resolução em relação ao radiograma de tórax na identificação das alterações intersticiais. Por ou- tro lado, num número expressivo de indivíduos com alterações radiológicas (1/0 ou mais), a to- mografia computadorizada de alta resolução não mostrou comprometimento intersticial pulmonar, o que confirma a maior especificidade deste exame.(9) Testes funcionais respiratórios A espirometria constitui o teste de maior impor- tância prática para o estudo do desempenho venti- latório toracopulmonar. Destaca-se a importância de variáveis simples e reprodutíveis, obtidas a par- tir da manobra expiratória forçada: capacidade vi- tal forçada, volume expiratório forçado no primeiro segundo e a relação entre eles. No propósito de graduar a disfunção, não se recomenda a utiliza- ção de outros parâmetros espirométricos de maior variabilidade inter e intrapessoal e padronização ainda deficiente, como os fluxos meso e tele-expi- ratórios. Os critérios de aceitabilidade e reproduti- bilidade das curvas, análise dos resultados, valores de referência e demais aspectos técnicos devem seguir rigorosamente as recomendações das Dire- trizes para Testes de Função Pulmonar da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.(10) Deve-se atentar para o fato de que o diagnóstico de dis- túrbio restritivo baseia-se na redução da capaci- dade pulmonar total (CPT). A redução isolada da capacidade vital forçada (CVF) não é patognomô- nica de distúrbio restritivo, já que diversas condi- ções podem reduzi-la, inclusive a obstrução das Grau Ι ΙΙ ΙΙΙ ΙV Variável Sem disfunção Disfunção leve Disfunção moderada Disfunção acentuada a) Sintoma Andando rápido Andando no plano Andando devagar Dispnéia Ausente no plano ou subindo com pessoa da mesma no plano 100 metros ladeira devagar idade ou subindo o lance esforços menores ou de escada mesmo no repouso b) Mecânica ventilatória *% CVF ** > LI nl # 60 - LI nl 51 - 59 < 50 %VEF1 *** > LI nl # 60 - LI nl 41 – 59 < 40 VEF1 /CVF (%) > LI nl # 60 - LI nl 41- 59 < 40 % CPT ** > 80 70 - 79 61 - 69 < 60 c) Troca gasosa *% DL CO > 70 60 – 69 41 – 59 < 40 PaO2 (mmHg) > LI nl # 60 - LI nl 55 - 59 < 55 d) Exercício *VO2 máx > 80 # 60 – 79 41 - 59 < 40 ou < 1 L/min (% previsto) VO2 máx > 25 20 – 24 16 - 19 < 15 ou < 1 L/min (mL/min/kg ou L/min) Modificada da American Medical Association, 1984, 1988, 1993; American Thoracic Society, 1982, 1986; Nery, Neder, Bagatin, 1994. * Os valores previstos da normalidade seguem as normas da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. ** São as variáveis fundamentais para a graduação do distúrbio restritivo(ver o texto); *** É a variável fundamental para a graduação do distúrbio obstrutivo; # LI nl: Limite inferior da normalidade - limite inferior do intervalo de confiança de 95% (X - 1,64 x desvio- padrão); NOTA: Graduar de acordo com o teste mais alterado; CVF: capacidade vital forçada; VEF1 : volume expiratório forçado no primeiro segundo; CPT: capacidade pulmonar total; DLCO: capacidade de difusão pulmonar para o monóxido de carbono; SaO2 : saturação arterial de oxihemoglobina; PaO2 : pressão parcial de oxigênio no sangue arterial; VO2 máx: consumo máximo de oxigênio. TABELA 1 Classificação de disfunção no repouso e no exercício para doenças respiratórias com anormalidade funcional estável
  • 4. J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117 Avaliação da disfunção e da incapacidade nas pneumoconioses S 115 vias aéreas. Na indisponibilidade da medida da CPT (preferencialmente por pletismografia corporal), a CVF pode ser utilizada, com reservas, para definir distúrbio restritivo. A capacidade de difusão pulmonar para o mo- nóxido de carbono traz informações sensíveis a respeito da integridade anatomofuncional da tro- ca gasosa através da membrana alveolocapilar. Em nosso meio, embora poucos serviços disponham deste teste, é de importância fundamental a avali- ação da capacidade de difusão pulmonar para o monóxido de carbono na identificação e grada- ção da disfunção e incapacidade das pneumoco- nioses. Caso sua mensuração seja disponível, a técnica de respiração única deverá ser preferida, e ser realizada com rígidos padrões técnicos e após no mínimo oito horas sem o uso do tabaco.(11) As determinações das pressões parciais de oxi- gênio e de dióxido de carbono no sangue arterial periférico apresentam considerável variabilidade interindividual. Elas podem estar ainda preserva- das na vigência de comprometimento anatomo- funcional, apresentando menor correlação com a tolerância ao exercício do que o volume expirató- rio forçado no primeiro segundo. Embora menos sensíveis, alterações significativas da pressão par- cial de oxigênio no sangue arterial ou da pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial são específicas de comprometimento ventilatório ou das trocas gasosas em pacientes com disfun- ção fixa por pneumoconioses. A medida não inva- siva da saturação de oxihemoglobina deve ser en- carada apenas como uma estimativa da oxigena- ção sanguínea, devendo seus resultados serem confirmados com a aferição invasiva da pressão parcial de oxigênio no sangue arterial. Teste de exercício cardiopulmonar O teste de exercício cardiopulmonar, com a determinação direta das respostas ventilatórias, cardiovasculares e metabólicas, é um procedimento sensível para avaliacão e quantificação objetiva da limitação funcional. Uma redução da tolerância ao exercício aeróbio é definida quando o consumo de oxigênio no pico de uma atividade limitada por sintomas (VO2 max) encontra-se abaixo do limite inferior da normalidade para indivíduos de mesma etnia, sexo, idade, altura, massa muscular e nível de atividade física regular. O teste de exercício cardiopulmonar é indicado para os casos nos quais a queixa de dispnéia é des- proporcional à disfunção pulmonar aferida no re- pouso, e nos indivíduos que exercem atividades com esforço sustentado de grau moderado ou com picos de esforço intenso. Pode ainda ser utilizado para avaliar a tolerância ao esforço do indivíduo no de- sempenho do seu trabalho, numa análise comparati- va com o requerimento energético de várias ativida- des recreacionais, domésticas e ocupacionais.(12) A gasometria arterial no exercício, mesmo em indiví- duos com testes de repouso normais, pode revelar, precocemente, alterações nas trocas gasosas. Para uma correta interpretação do teste de exer- cício cardiopulmonar, devemos considerar os se- guintes aspectos: certificar-se da presença de re- lação causal entre a disfunção aeróbia e a doença respiratória em questão; definir-se o grau de per- da funcional aeróbia, numa análise comparativa com os valores previstos de VO2 max para indiví- duos de mesmo sexo, idade, dimensão corpórea e nível de atividade física habitual (porcentagem do VO2 max previsto); determinar-se o grau de capa- cidade aeróbia remanescente, num enfoque com- parativo com as prováveis demandas ocupacionais ou da vida diária (VO2 máx, L/min ou mL/min/kg); nos indivíduos idosos e com peso acima do espe- rado para a altura, a expressão em mL/min/kg deve ser evitada, já que tende a subestimar grosseira- mente a capacidade atual de exercício.(13) Outros exames De acordo com situações clínicas específicas, outros exames opcionais poderão ser empregados, tanto no contexto diagnóstico, quanto da avalia- ção da disfunção: eletrocardiograma, ecocardio- grama, estudo hemodinâmico, exames hematoló- gicos e bioquímicos, exame polissonográfico e/ou monitorização noturna da oximetria, entre outros. Estes exames poderão ser úteis para a comprova- ção de distúrbios sugeridos pela avaliação clínica e documentação objetiva de achados que possam influenciar na graduação da disfunção. CLASSIFICAÇÕES DE DISFUNÇÃO As tentativas de graduar a disfunção respirató- ria em classes de progressiva gravidade remontam ao início do século passado. Entretanto, apenas em 1982 a American Thoracic Society propôs um es- quema classificatório de ampla aceitação desenvol-
  • 5. S 116 Neder JA, Nery LE, Bagatin E J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117 vido para caracterizar disfunção grave, baseado na espirometria, na capacidade de difusão pulmonar ao monóxido de carbono e na avaliação da capaci- dade de exercício.(4) Assim, a disfunção foi definida espirometricamente como grave quando a capaci- dade vital forçada fosse inferior a 50% do previsto e o volume expiratório forçado no primeiro segun- do e a relação entre ele e a capacidade vital força- da estivessem abaixo de 40% do previsto. Adicio- nalmente, valores de capacidade de difusão pul- monar para o monóxido de carbono menores do que 40% do previsto eram indicativos de disfunção respiratória grave. Nos casos em que a espirometria e/ou a capacidade de difusão pulmonar para o monóxido de carbono estavam alterados, mas sem disfunção grave (ou seja, indivíduos com distúrbio ventilatório leve a moderado) era indicado o teste de exercício. Na avaliação cardiorrespiratória no exercício aeróbio, foram considerados como suges- tivos de disfunção grave os valores de VO2 máx abaixo de 15 ml/min/kg, ou caso 30% a 40% do VO2 max obtido fosse insuficiente para o indivíduo suprir as demandas enegético-metabólicas de uma jornada diária de oito horas. Em 1984, 1988 e 1993 a American Medical Association(1-3) e em 1986 a American Thoracic Society(5) introduziram o conceito de graus inter- mediários de disfuncão causada por doenças res- piratórias. As classificações são similares e utili- zam variáveis espirométricas, o VO2 máx e a capa- cidade de difusão pulmonar para o monóxido de carbono para definir graus leve, moderado e acen- tuado de comprometimento. A classificação da American Medical Association, além de introduzir a graduação da dispnéia, considera, na análise espirométrica, o limite inferior da normalidade como correspondente ao limite inferior do inter- valo de confiança de 95% do valor previsto. Baseando-se nestas referências clássicas, e na experiência com a avaliação funcional no repouso e exercício de pacientes com pneumoconiose, pro- pomos uma classificação de disfunção respirató- ria que incorpora os avanços obtidos nessa área. Desta forma, como explicitado na Tabela 1, os achados clínicos, funcionais pulmonares de repou- so e, ocasionalmente, de exercício, servirão de base para a graduação da perda funcional. Na análise do VO2 máx, quando o objetivo for orientar a concessão de benefício previdenciário, a perda funcional (VO2 máx, porcentagem do pre- visto) deve ser preferida em relação à capacidade remanescente (VO2 máx em valores absolutos ou corrigidos para o peso total nos eutróficos ou peso magro nos indivíduos em sobrepeso). Em situa- ções de admissão, afastamento e recolocacão ocu- pacional, ambas devem ser analisadas. A presença das seguintes condições indica sem- pre disfunção acentuada, independentemente da graduação sugerida pela classificação: cor pulmo- nale; síndrome neoplásica de qualquer origem; hi- poxemia arterial no repouso - pressão parcial de oxi- gênio no sangue arterial < 60 mmHg ou saturação arterial de oxihemoglobina < 90%, se associadas ao cor pulmonale, hipertensão pulmonar ou poliglobu- lia, e pressão parcial de oxigênio no sangue arterial de repouso ou exercício < 55 mmHg ou saturação arterial de oxihemoglobina < 88%, independente- mente de outros achados; obstrução permanente de vias aéreas superiores, associada à hipercapnia. A presença de distúrbio respiratório do sono deve ser cuidadosamente avaliada, e requer estu- do polissonográfico para a precisa quantificação da disfunção. Deve-se observer se a terapia clíni- ca e/ou cirúrgica foi aplicada em toda sua exten- são, antes de definir dano funcional permanente. Deve-se atentar também para condições ocupaci- onais especiais, que podem elevar o grau de dis- função, como o uso de protetores respiratórios ou trabalho em ambiente poluído, de um paciente com disfunção respiratória já diagnosticada. Admitindo-se que, mesmo nas condições ditas fixas, a disfunção no repouso e exercício pode modificar-se longitudinalmente (com ou sem in- tervenção terapêutica), aconselha-se a repetição das medidas avaliadoras em intervalo variável de meses a anos, dependendo da doença de base e quadros intercorrentes. REFERÊNCIAS 1. American Medical Association. The respiratory system. In: American Medical Association. Guides to the evaluation of permanent impairment. 2nd ed. Chicago: AMA: 1984. p. 85-101. 2. American Medical Association. The respiratory system. In: American Medical Association. Guides to the evaluation of permanent impairment. 3rd ed. Chicago: AMA; 1988. p. 107-18. 3. American Medical Association. The respiratory system. In: American Medical Association. Guides to the evaluation of permanent impairment. 4th ed. Chicago: American Medical Association; 1993. p. 115-29.
  • 6. J Bras Pneumol. 2006;32(Supl 2):S112-S117 Avaliação da disfunção e da incapacidade nas pneumoconioses S 117 4. American Thoracic Society, medical section of the American Lung Association. Evaluation of impairment/ disability secondary to respiratory disease. Am Rev Respir Dis. 1982;126(5):945-51. 5. American Thoracic Society. Evaluation of impairment/ disability secondary to respiratory disorders. Am Rev Respir Dis. 1986;133(6):1205-9. 6. Nery LE, Neder JA, Bagatin E. Avaliação da disfunção e da incapacidade secundária a pneumopatias ocupacionais. J Pneumol. 1994;20(4 n. esp):182-92. 7. Neder JA, Nery LE, Bagatin E. Avaliação da disfunção, incapacidade e dos aspectos legais da doença ocupacional respiratória. In: Cukier A, Nakatani J, Morrone N, editors. Atualização e reciclagem. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 1998. p.57-67. 8. International Labour Office. Guidelines for the use of ILO international classification of radiographs of pneumoconiosis. Geneva: Occupational Safety and Health Sciences; 1980. (Occupational Safety of Health Services, 22). 9. Sette A, Neder JA, Nery LE, Kavakama J, Rodrigues RT, Terra-Filho M, et al. Thin-section CT abnormalities and pulmonary gas exchange impairment in workers exposed to asbestos. Radiology. 2004;232(1):66-74. 10. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Diretrizes para testes de função pulmonar. J Pneumol. 2002;28(supl 3):S1-82. 11. Neder JA, Andreoni S, Peres C, Nery LE. Reference values for lung function tests. III. Carbon monoxide diffusing capacity (transfer factor). Braz J Med Biol Res. 1999;32(6):729-37. 12. Neder JA, Nery LE. Fisiologia do exercício: teoria e prática. São Paulo: Artes Médicas; 2003 13. Neder JA, Nery LE, Bagatin E, Lucas SR, Ancao MS, Sue DY. Differences between remaining ability and loss of capacity in maximum aerobic impairment. Braz J Med Biol Res. 1998;31(5):639-46.